GOVERNO AVALIA REVER REPASSE DO MINHA CASA E DO SISTEMA S

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GOVERNO AVALIA REVER REPASSE DO MINHA CASA E DO SISTEMA S

O assunto foi discutido em reunião da Junta de Execução Orçamentária, que avaliou um conjunto de medidas para reduzir despesas obrigatórias.

noticias.r7.com – Diante de um cenário dramático de necessidade de corte de despesas em 2020, o governo avalia suspender novas contratações do programa Minha Casa Minha Vida e redirecionar recursos do Sistema S para bancar alguns gastos do Orçamento.

O assunto foi discutido em reunião da Junta de Execução Orçamentária (JEO), que avaliou um conjunto de medidas para reduzir despesas obrigatórias (como salários, aposentadorias e pensões) e abrir espaço no teto de gastos (dispositivo previsto na Constituição que impede o crescimento das despesas acima da inflação) na proposta de Orçamento de 2020.

Leia também: Bolsonaro comemora PIB e diz que Brasil está “saindo do buraco”

Com essa diminuição das despesas obrigatórias, o governo poderia aumentar os chamados gastos discricionários (aqueles que são tradicionalmente contingenciados e que incluem custeio da máquina e investimentos).

A suspensão das novas contratações do Minha Casa, Minha Vida por um período pode garantir uma economia de despesas de R$ 2 bilhões. No caso do sistema S, além do corte dos recursos anunciado no início do governo Bolsonaro, o que está em discussão é repassar uma parcela da arrecadação para bancar alguns grupos de despesas, principalmente aquelas voltadas para qualificação.

As duas propostas, porém, enfrentam fortes resistências e não há definição. Uma das preocupações no caso do sistema S é com o risco de transformação de uma espécie de “orçamento paralelo”.

Como o Orçamento de 2020 tem de ser enviado nesta sexta-feira, 30, ao Congresso, o mais provável é que o projeto não conte ainda com o impacto das medidas que estão sendo estudadas – boa parte delas depende de medidas legais que precisam de ser aprovadas pelo Congresso. A ideia é que as ações sejam apresentadas ao longo das negociações com o Congresso.

Na reta final da elaboração da proposta orçamentária para 2020, o governo prepara medidas para reduzir as despesas obrigatórias em mais de R$ 10 bilhões. Mas o valor ainda é insuficiente, e a equipe econômica busca saídas para conseguir cerca de R$ 15 bilhões adicionais para as chamadas despesas discricionárias.

A maior parte das medidas deve ser feita via medida provisória, que tem vigência imediata, segundo apurou a reportagem. Uma reunião foi realizada no início da noite desta quarta-feira (28), no Palácio do Planalto para tentar definir as ações adicionais e fechar as contas do ano que vem.

Entre as medidas, o governo quer propor o congelamento das progressões de servidores públicos civis nas carreiras do Executivo para economizar cerca de R$ 2 bilhões.

Outra medida é o fim do adicional de 10% da multa rescisória sobre o FGTS pago pelas empresas. Hoje, as empresas pagam 50% de multa nas demissões, 40% ficam com o trabalhador e os outros 10% vão para os cofres da União, que repassa os recursos para a administração do fundo. Por ano, esses 10% correspondem a R$ 5,4 bilhões pagos pelas empresas, dinheiro que passa pelo Orçamento e consome espaço do teto de gastos.

A situação é tão dramática que não há mais cortes que possam ser feitos “só com a caneta” do presidente Jair Bolsonaro para adequar o Orçamento de 2020 ao teto de gastos e desafogar os ministérios, segundo uma fonte da área econômica.

Qualquer iniciativa que resulte em alívio nas despesas obrigatórias precisará ser feita por meio de lei.

O quadro é de dificuldades mesmo depois de os técnicos terem decidido incluir nas contas o cenário de aprovação da reforma da Previdência – o que resulta em economia de R$ 10 bilhões a R$ 12 bilhões nos gastos previdenciários. É a primeira vez que o governo decide incluir os efeitos da reforma no Orçamento. Sem isso, a situação estaria ainda mais apertada. O governo reservou cerca de R$ 89 bilhões até agora para as despesas discricionárias.

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UM SOLUÇO | PIB DE 0,4% MOSTRA UM BRASIL SEM FÔLEGO PARA CRIAR EMPREGOS

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UM SOLUÇO | PIB DE 0,4% MOSTRA UM BRASIL SEM FÔLEGO PARA CRIAR EMPREGOS
Construção civil: “Estamos olhando os dados e o que parece é que esse crescimento do investimento está ligado a um crescimento na construção civil”, diz economista

Resultado do 2º trimestre foi puxado por investimentos, mas não há sinais da retomada da demanda, o que seria fundamental para garantir os postos de trabalho.

Publicado por Helder Lima, da RBA – São Paulo – O governo comemora o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, de 0,4% em relação ao trimestre anterior, conforme divulgado hoje (29) pelo IBGE. “É o melhor resultado em seis anos para o período”, celebrou no Twitter o presidente Jair Bolsonaro. “Crescimento do PIB demonstra que crescimento pelo investimento é o caminho certo, a confiança está de volta”, disse o ministro da Casa Civil Onyx Lorenzoni.

Mas do ponto de vista dos trabalhadores há o que comemorar?

“Esse resultado só pode ser comemorado por um ponto de vista: é que não se confirmou a tragédia. Não é um resultado bom, não é animador. Ele não reflete a recuperação do emprego e da renda. Não é capaz de colocar o país em uma trajetória sustentável de crescimento. Mas havia a possibilidade de o país ter entrado novamente em recessão e isso do ponto de vista da confiança poderia ser muito negativo. Então, a boa notícia é que o país não entrou novamente em recessão”, disse à RBA o economista da Unicamp, Guilherme Mello.

Para o economista, o PIB continua sendo uma notícia bastante preocupante porque confirma uma trajetória de crescimento baixa, uma quase estagnação da economia, que é exatamente o cenário que se repete desde 2017. “São três anos praticamente no fundo do poço, porque o país teve uma recessão forte em 2015 e 2016 e desde então não voltou a crescer, o que é um caso raríssimo na história”, avaliou.

Geralmente, os países crescem mais rápido quando saem da recessão, porque têm capacidade ociosa na atividade econômica, trabalhador desempregado e a sua base de comparação é baixa. “Qualquer crescimento aparece como destaque”, comenta Mello.

O professor lembra que em 2009, com a crise global, o PIB caiu 0,6%, mas em 2010 cresceu mais de 7%, ou seja, a recuperação foi muito rápida. “E no caso brasileiro, desde 2017, o que esse dado confirma é que nós seguimos em uma trajetória muito débil, incapaz de recuperar os níveis de PIB pré-crise, mais os níveis de emprego e de salário”.

“O que chama atenção olhando para esse dado é que a demanda não cresce”, destaca ainda o economista. “O consumo das famílias basicamente não cresce – que é o principal motor do PIB, que evolui 0,3%, portanto, quase estagnado; e a demanda externa, que ativa a exportação, também não cresce, mas cai. Outro componente de demanda que é o consumo do governo também cai. Então, não tem componentes de demanda no crescimento do PIB nesse caso”, explica Guilherme Mello.

O PIB cresceu por dois fatores principais. Em primeiro lugar, tem um crescimento razoável do investimento no segundo trimestre em relação ao primeiro. “Estamos olhando os dados e o que parece é que esse crescimento do investimento está ligado a um crescimento na construção civil – não em infraestrutura, mas no setor imobiliário, em particular para pessoas de renda mais alta”.

Isso pode ser um efeito na classe média mais alta, que com os juros um pouco mais baixos, e como havia uma aposta no governo, “foram lá e se endividaram e compraram os imóveis. Isso deu uma animada no setor de construção civil. E é curioso porque o emprego na construção civil cresce muito pouco”, analisa Mello.

Outra fator a puxar o investimento é que em maio, aparentemente houve uma grande importação de bens de capital – máquinas e equipamentos. “Mas ainda não temos a clareza do que isso quer dizer, ainda estamos analisando, para ver quais os setores exatamente realizaram essas importações. Isso pode indicar o que a gente chama de um mini-ciclo, um soluço, como aconteceu em 2017 e em outros momentos, que o empresário aproveita o momento em que o câmbio está mais valorizado  e mais estável para importar um bem de capital, mas não para ampliar a capacidade produtiva. Troca o bem de capital velho, que já está lá há muito tempo, desgastado”.

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PNAD CONTÍNUA | DESEMPREGO CAI PARA 11,8%, MAS 12,6 MILHÕES AINDA BUSCAM TRABALHO

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PNAD CONTÍNUA | DESEMPREGO CAI PARA 11,8%, MAS 12,6 MILHÕES AINDA BUSCAM TRABALHO
Desemprego cai em julho, mas informalidade bate recorde – Foto: Pedro Vidal/Agência IBGE Notícias

Editoria: Estatísticas Sociais | Adriana Saraiva – A taxa de desocupação caiu de 12,5% para 11,8% na passagem do trimestre encerrado em abril para o terminado em julho, com menos 609 mil pessoas desocupadas. Mesmo com a queda de 4,6% nesse período, no país ainda tem 12,6 milhões pessoas em busca de trabalho. Esses são os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgada hoje pelo IBGE.

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua mensal

“A elevação de 1,2 milhão de pessoas no contingente de ocupados, com redução significativa da pressão sobre o mercado de trabalho (menos 609 mil pessoas desocupadas), provocou essa retração considerável na taxa”, explica o gerente da PNAD Contínua, Cimar Azeredo.

Trabalho sem carteira assinada bate recorde

No entanto, a melhora na taxa de desemprego está relacionada ao aumento do trabalho informal. No trimestre encerrado em julho, o total de empregados do setor privado sem carteira de trabalho assinada atingiu 11,7 milhões de pessoas, o maior contingente da série histórica iniciada em 2012. O aumento em relação ao trimestre anterior foi de 3,9%, o que representa 441 mil pessoas nessa categoria. Já em relação ao trimestre encerrado em julho do ano passado, a elevação foi de 5,6%, um adicional de 619 mil pessoas.

Outro fator relacionado à informalidade são os trabalhadores por conta própria, que também atingiram o maior patamar da série: 24,2 milhões de pessoas. O crescimento registrado foi de 1,4% na comparação com o trimestre anterior (fevereiro a abril de 2019), significando mais 343 mil pessoas neste contingente. Em relação ao ano anterior, o indicador também apresentou elevação (5,2%), um adicional estimado de 1,2 milhão de pessoas.

“Desde o início da crise econômica a inserção por conta própria vem sendo ampliada em função da falta de oportunidade no mercado formal. Um dos sinais de recuperação do mercado de trabalho, dada experiências em crises anteriores, é a redução desta forma de inserção, que atingiu o nível mais alto neste trimestre”, explicou.

No trimestre, havia aproximadamente 28,1 milhões de pessoas subutilizadas no país. Esse grupo apresentou estabilidade frente ao trimestre anterior e na comparação com o trimestre encerrado em julho de 2018, um aumento de 703 mil pessoas subutilizadas.

AO ACUSAR SEM PROVAS, BOLSONARO MIRA ONGS, CUBANOS E OPOSITORES DA DITADURA

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AO ACUSAR SEM PROVAS, BOLSONARO MIRA ONGS, CUBANOS E OPOSITORES DA DITADURA

Noticias Uol | Bernardo Barbosa Do UOL, em São Paulo – Desde que assumiu o cargo, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) já fez acusações públicas sem provas contra ONGs (organizações não governamentais) na Amazônia, cubanos que atuaram no programa Mais Médicos, sobre dados de desmatamento e opositores da ditadura militar (1964-1985).

Na semana passada, em meio à crise internacional provocada pelo avanço das queimadas na Amazônia, Bolsonaro declarou que a “maior suspeita” sobre a origem dos focos de incêndios recaía sobre as ONGs. Também sem detalhar por quais motivos, o presidente afirmou ter “suspeita” de que produtores rurais estariam “tacando fogo”.

“Quer que eu culpe os índios? Quer que eu culpe os marcianos? É, no meu entender, um indício fortíssimo que é esse pessoal de ONG que perdeu a teta deles, é simples”, afirmou.

O presidente admitiu não ter provas do que falava sobre as ONGs. Perguntado sobre a ausência de evidências, respondeu: “Não se tem prova disso. Ninguém escreve isso ‘eu vou queimar lá'”.

Dias antes, o presidente fez outra acusação em que refutou a necessidade de provas. Foi quando afirmou que a contratação de cubanos no programa Mais Médicos tinha como objetivo criar “células de guerrilha”.

“O PT botou no Brasil cerca de 10 mil fantasiados de médicos aqui dentro, em locais pobres, para fazer células de guerrilhas e doutrinação. Tanto é que, quando eu cheguei, eles foram embora porque eu ia pegá-los”, declarou.

Questionado sobre provas de que os cubanos eram guerrilheiros, Bolsonaro não respondeu. “Precisa ter prova disso daí? Você acha que está escrito isso aí em algum lugar?”, disse.
Número “real” de desmatamento não apareceu

Após classificar publicamente como “mentirosos” os dados sobre o desmatamento na Amazônia, nem presidente nem nenhum integrante do seu governo apresentou qualquer número diferente. As informações criticadas por Bolsonaro são oriundas de monitoramento via satélite feito pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que mostrou avanço no desmatamento em 2019.

“A questão do Inpe, eu tenho a convicção que os dados são mentirosos, e nós vamos chamar aqui o presidente do Inpe para conversar sobre isso, e ponto final nessa questão”, disse o presidente no dia 19 de julho.

No dia 1º de agosto, o governo chegou a organizar uma apresentação para apresentar seus argumentos para questionar os dados do Inpe, mas não mostrou qual seria a real situação do desmatamento na Amazônia.

O episódio culminou na demissão do então diretor do Inpe, Ricardo Galvão, que veio a público defender o trabalho do instituto e criticar a postura do presidente. O Inpe monitora o desmatamento da Amazônia desde 1988.

Opositores da ditadura

Pessoas que têm alguma ligação com a oposição à ditadura militar, período abertamente defendido por Bolsonaro, também já foram alvo de acusações do presidente sem evidências.

Em um dos casos de maior repercussão, Bolsonaro afirmou que sabia como Fernando Santa Cruz — pai do presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz — tinha desaparecido na ditadura.

Apesar de o atestado de óbito de Fernando informar que ele foi assassinado por integrantes do Estado depois de ter sido preso, Bolsonaro insinuou que ele teria sido vítima de “justiçamento” dentro da própria esquerda.

“Obtive essas informações com quem conversei na época, ora bolas. Eu conversava com muita gente na fronteira”, disse o presidente ao explicar suas declarações. A versão de Bolsonaro contraria os documentos sobre Fernando produzidos pela própria ditadura.

Felipe Santa Cruz cobrou explicações de Bolsonaro no STF (Supremo Tribunal Federal). O presidente respondeu que limitou-se a expor sua “convicção pessoal em função de conversas que circulavam à época”.

Bolsonaro também enviou uma resposta ao Supremo depois que a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) entrou com pedido de explicações sobre uma fala do presidente.

Em discurso nos Estados Unidos em maio, Bolsonaro sugeriu que Dilma participou de ações armadas na ditadura que resultaram na morte do militar americano Charles Chandler.

“Agora, quem até há pouco ocupava o governo teve em sua história suas mãos manchadas de sangue na luta armada, matando inclusive um capitão”, disse o presidente.

Ao STF, Bolsonaro afirmou que foi “genérico” na declaração e que não fez referência a Dilma.

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“NÃO HOUVE NADA DE ERRADO NO CASO BENDINE NEM NOS DEMAIS”, DIZ DELTAN SOBRE STF ANULAR SENTENÇA DA LAVA JATO

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Notícias Uol | Nathan Lopes Do UOL, em São Paulo – Coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, o procurador Deltan Dallagnol apoiou o posicionamento da PGR (Procuradoria-Geral da República) de que réus que possuem acordo de colaboração com o MPF (Ministério Público Federal) podem se manifestar ao mesmo tempo que os que não possuem.

Coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, o procurador Deltan Dallagnol apoiou o posicionamento da PGR (Procuradoria-Geral da República) de que réus que possuem acordo de colaboração com o MPF (Ministério Público Federal) podem se manifestar ao mesmo tempo que os que não possuem.

Na última terça-feira (27), a Segunda Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) apresentou um entendimento diferente e anulou uma sentença contra o ex-presidente da Petrobras e do Banco do Brasil Aldemir Bendine na Operação Lava Jato.

Ontem, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, enviou manifestação ao STF em que aponta que o CPP (Código de Processo Penal) permite que as alegações dos réus sejam simultâneas e que essa é a praxe no país.

“A procuradora-geral está defendendo perante o STF que não houve nada de errado nem no caso Bendine nem nos demais”, escreveu Dallagnol em sua página no Twitter.

A decisão da Segunda Turma do STF já tem sido usada por outros condenados na Lava Jato para que suas sentenças sejam revistas. É o caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que, inclusive, já recebeu, nesse sentido, uma decisão favorável do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF.

Para Dallagnol, “ao anular o caso envolvendo Bendine, o STF abriu a possibilidade de uma série de condenações da Lava Jato serem anuladas”.

Ontem, um colega de Dallagnol na força-tarefa do MPF no Paraná, o procurador Roberson Pozzobon, também defendeu a posição de Dodge. “Impertinente, assim, a anulação de sentenças da Lava Jato e de outras operações”.

A manifestação da PGR foi em um recurso envolvendo um ex-diretor da Engevix, Gerson Almada, que também pediu a anulação de sua pena junto ao STF usando os mesmos argumentos de Bendine. A ação está sob relatoria do ministro Ricardo Lewandowski, que não tem prazo para respondê-la.

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A AGONIA DA LAVA JATO

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A AGONIA DA LAVA JATO

Com mensagens vazadas e derrota no STF, operação sofre sequência inédita de abalos

Bernardo Barbosa Do UOL, em São Paulo | Fernando Frazão/ Agência Brasil – Em seu quinto ano, a Operação Lava Jato enfrenta uma sequência de reveses sem precedentes na história de uma investigação que parecia imparável e chegou a colocar dois ex-presidentes da República na cadeia — Luiz Inácio Lula da Silva (PT), condenado e ainda preso, e Michel Temer (MDB), detido duas vezes e depois solto por ordem judicial.

A mais recente derrota veio na terça, quando a Segunda Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) anulou a condenação de Aldemir Bendine, ex-presidente da Petrobras. Os ministros entenderam que Bendine teve seu direito à defesa cerceado por não ter prazo para rebater acusações feitas por delatores que respondiam ao mesmo processo.

Com isso, abriu-se a porta para uma nova forma de questionar condenações ocorridas na operação. A decisão do Supremo também traz consigo o simbolismo de ter sido a primeira vez em que a Corte anulou uma sentença dada na Lava Jato pelo então juiz e hoje ministro da Justiça, Sergio Moro.

O julgamento do caso de Bendine engrossa uma linha do tempo que inclui um frustrado fundo anticorrupção; o poder para a Justiça Eleitoral julgar casos de crimes comuns ligados a crimes eleitorais; a aprovação da lei contra o abuso de autoridade; e a avalanche de diálogos de procuradores da Lava Jato noticiados pelo site The Intercept Brasil e outros veículos de imprensa, entre eles o UOL, que revelam interações potencialmente ilegais.

Apesar das turbulências do momento, a Lava Jato continua na ativa. A 64ª fase da operação ocorreu no dia 23. A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, recentemente assinou portaria estendendo a força-tarefa da operação no MPF (Ministério Público Federal) em Curitiba por mais um ano. Há também forças-tarefas no Rio e em São Paulo.


Diego Herculano/NurPhoto/Getty Images Diego Herculano/NurPhoto/Getty Images

A atual fase de abalos à Lava Jato começou em março, quando veio a público um acordo selado entre a força-tarefa de Curitiba e a Petrobras, com aval da Justiça Federal do Paraná, que originou um fundo de R$ 2,5 bilhões oriundos de uma multa paga pela estatal nos EUA.

Segundo o acordo, metade do valor seria destinado ao ressarcimento de acionistas da Petrobras no Brasil; a outra iria para uma fundação anticorrupção cujo comitê gestor seria indicado por organizações escolhidas pelo MPF.

A própria chefe do MPF, Raquel Dodge, decidiu entrar com uma ação no STF pedindo a suspensão do acordo. Para ela, os integrantes da Lava Jato em Curitiba extrapolaram suas atribuições constitucionais e “assumiram compromissos administrativos e financeiros pelo Ministério Público Federal, falando pela própria instituição sem poderes para tanto”.

A reação levou a própria força-tarefa a recuar e anunciar que buscaria o diálogo com outros órgãos públicos sobre a destinação do dinheiro. Não foi o suficiente para segurar a pressão. Respondendo à ação aberta por Dodge, o ministro Alexandre de Moraes suspendeu o acordo.

Este mês, os R$ 2,5 bilhões voltaram ao noticiário. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pediu ao Supremo para que o dinheiro seja destinado ao meio ambiente — incluindo o combate a queimadas — e à educação. Ainda não houve decisão sobre o caso.


STF / Secretaria de Comunicação STF / Secretaria de Comunicação

Ainda em março, a Lava Jato sofreu outro baque vindo do STF. A Corte decidiu, por maioria de votos, que casos de crimes comuns ligados a delitos eleitorais — o que ocorre em vários processos da operação — devem ser julgados pela Justiça Eleitoral.

Naquele momento, procuradores da Lava Jato vinham defendendo publicamente a separação dos processos entre crimes eleitorais, como caixa 2 de campanha, e crimes comuns, como corrupção e lavagem de dinheiro. Para eles, a Justiça Eleitoral não tem estrutura para tratar destes casos.

“Hoje, começou a se fechar a janela de combate à corrupção política que se abriu há cinco anos, no início da Lava Jato”, publicou Deltan Dallagnol em seu Twitter no dia em que o STF julgava o caso.

Para outro procurador da força-tarefa, Roberson Pozzobon, o Supremo “passou uma mensagem de esperança para poderosos criminosos de colarinho branco.”

Os ministros do STF que deram os votos vencedores defenderam que a lei prevê a tramitação destes casos no ramo mais especializado do Judiciário — no caso, a Justiça Eleitoral.

Fátima Meira/Futura Press/Estadão Conteúdo

Fátima Meira/Futura Press/Estadão Conteúdo Fátima Meira/Futura Press/Estadão Conteúdo

Antes de o primeiro semestre do ano chegar ao fim, aqueles que viraram símbolos da Lava Jato — Deltan Dallagnol e Sergio Moro — passaram a se ver sob um escrutínio público até então inédito para a operação e seus envolvidos.

Na noite do dia 9 de junho, um domingo, o The Intercept Brasil começou a publicar reportagens com base em mensagens privadas trocadas por Moro e Dallagnol, assim como por outros procuradores da força-tarefa.

Logo de cara, veio a público um diálogo no qual Moro orienta investigações da Lava Jato em mensagens trocadas com Dallagnol. A lei brasileira é clara ao dizer que um juiz não pode trocar informações ou orientar qualquer uma das partes de um processo, seja defesa ou acusação — neste caso, representada pelo Ministério Público.

Esta semana, em parceria com o Intercept, o UOL noticiou que procuradores da Lava Jato ironizaram a morte da ex-primeira-dama Marisa Letícia, que era casada com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o luto do político.

Moro e os procuradores da Lava Jato em Curitiba negam ter cometido irregularidades e evitam confirmar a veracidade das mensagens. Para eles, o conteúdo foi obtido por meio de hackeamentos e pode ter sido alterado.

Em entrevista publicada ontem pela BBC Brasil, Dallagnol disse não se lembrar das declarações sobre Lula, nem saber se elas de fato ocorreram. Mesmo assim, respondeu as críticas ao comportamento dos procuradores.

“As pessoas têm que entender que essas conversas são conversas que você teria na mesa de casa com a família, são pessoas que estão trabalhando há cinco anos juntas, são amigas. São conversas que você tem com o círculo de intimidade, conversas que você fica à vontade para falar até alguma besteira, uma bobagem, para ser até certo modo irresponsável”, disse.

No entanto, horas após o UOL e o Intercept noticiarem as conversas sobre Marisa e Lula, a procuradora Jerusa Viecili pediu desculpas pelas mensagens — o que confirma a veracidade da conversa.

Protegido pela Constituição, que garante à imprensa o sigilo das suas fontes, o Intercept nunca disse de que forma obteve as mensagens, nem quem as enviou. A Polícia Federal prendeu quatro pessoas em julho sob suspeita de invasão das contas do aplicativo Telegram usadas pelos procuradores — uma delas, Walter Delgatti Filho, afirma ter cometido o crime.


Carlos Moura/ STF Carlos Moura/ STF

A Lava Jato também se viu atingida pela decisão do presidente do STF, Dias Toffoli, de restringir o uso de informações do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras). O órgão, que monitora transações financeiras e ajuda a descobrir o caminho do dinheiro, elaborou relatórios de inteligência cruciais para as investigações da operação.

Durante o recesso de julho do Supremo, Toffoli atendeu pedido do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) — filho mais velho do presidente — e decidiu suspender todas as investigações que usam dados do Coaf sem prévia autorização da Justiça. A investigação sobre Flávio no MP-RJ (Ministério Público do Rio) teve início com informações compartilhadas pelo órgão.

“A referida decisão contraria recomendações internacionais de conferir maior amplitude à ação das unidades de inteligência financeira, como o Coaf, inclusive em sua interação com os órgãos públicos para prevenir e reprimir a lavagem de dinheiro”, disseram em nota as forças-tarefas da Lava Jato e da operação Greenfield.

Antes da decisão de Toffoli, Moro já tinha perdido, por decisão do Congresso, o comando do Coaf para o Ministério da Economia. Este mês, Bolsonaro assinou medida provisória que leva o conselho para o Banco Central sob o nome de UIF (Unidade de Inteligência Financeira) e abre brecha para indicações políticas no órgão.


Pedro Ladeira/Folhapress/ Pedro Ladeira/Folhapress Pedro Ladeira/Folhapress

Em paralelo ao avanço das reportagens que jogaram luz nos bastidores da Lava Jato, o Congresso Nacional aprovou o projeto de lei contra o abuso de autoridade — mais uma iniciativa vista como uma ameaça pelos integrantes da operação.

O texto aprovado pelos deputados e senadores tem a premissa de que só existe abuso de autoridade quando as condutas previstas na lei são “praticadas pelo agente com a finalidade específica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal.”

O projeto prevê, por exemplo, pena de prisão para um juiz que não deferir um habeas corpus “quando manifestamente cabível”; obter provas por meios ilícitos ou usá-las contra alguém; ou divulgar gravações “sem relação com a prova que se pretenda produzir, expondo a intimidade” do investigado.

Para a Lava Jato, o projeto “intimida a atuação combativa dos agentes públicos, ao permitir que investigados e réus os acusem por crimes indefinidos, o que enfraquece a independência das Instituições e, assim, o combate à corrupção e à criminalidade.”

Para entrar em vigor, a lei precisa ser sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL).

Há menos de um ano, em outubro, procuradores da Lava Jato em Curitiba demonstravam esperança com o resultado das eleições para o Senado, quando novatos conquistaram 24 das 32 cadeiras de senadores que tentavam a reeleição. Reportagem do UOL em parceria com o Intercept mostrou que alguns integrantes da força-tarefa cogitaram até articular o impeachment de Gilmar Mendes, ministro do STF e notório crítico da operação.

Em entrevista à GloboNews, o ex-procurador Carlos Eduardo dos Santos Lima, que integrou a força-tarefa de Curitiba, admitiu inclusive que “lavajatistas” apoiaram Bolsonaro no segundo turno, em oposição a Fernando Haddad (PT), diante da visão de que o PT “tinha o objetivo claro de destruir a Lava Jato”.

No entanto, o respaldo político e institucional à operação sob um governo que tem em seu ministério um símbolo da Lava Jato ainda não aconteceu.

O primeiro ato de Sergio Moro como ministro da Justiça, ainda em fevereiro foi a apresentação de seu “projeto anticrime”, que teve trechos elogiados por Deltan Dallagnol, mas o texto pouco avançou no Congresso. Nem a Lava Jato, nem Moro tiveram força política para conter os movimentos que afetaram o Coaf.

Este mês, no Facebook, Bolsonaro respondeu a uma usuária que pedia a indicação de Deltan Dallagnol para a PGR (Procuradoria-Geral da República) com um post no qual o procurador é chamado de “esquerdista tipo PSOL”. Junto com a frase, havia imagens de posts de Dallagnol em que o procurador reproduzia reportagens sobre a investigação de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, e do esquema dos candidatos laranjas do PSL.

O desgaste da Lava Jato não parece perto do fim. As reportagens com base nas mensagens vazadas do Telegram dos procuradores continuam sendo publicadas — até hoje não se sabe ao certo o tamanho do conteúdo vazado, nem quais são todos os assuntos tratados nas conversas.

Em paralelo, a PGR teme um efeito cascata após a decisão do STF no caso de Aldemir Bendine. A força-tarefa da Lava Jato em Curitiba contabilizou 32 sentenças que podem ser anuladas com base no entendimento da Corte. Advogados criminalistas consideram o caso como um “divisor de águas” na operação.

A decisão da Segunda Turma do Supremo sobre Bendine ainda vai passar pelo plenário da Corte. O julgamento não tem data para acontecer.

EQUIPE DO IBAMA É ALVO DE TIROS EM OPERAÇÃO PERTO DE ÁREA INDÍGENA NO PARÁ

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EQUIPE DO IBAMA É ALVO DE TIROS EM OPERAÇÃO PERTO DE ÁREA INDÍGENA NO PARÁ

Avener Prado/Folhapress – Uma equipe de fiscalização do Ibama foi alvo de tiros por parte de garimpeiros durante operação de fiscalização na sexta-feira, perto da Terra Indígena Ituna/Itatá, em Altamira, no Pará. Agentes da Polícia Federal e da Força Nacional de Segurança Pública, que davam apoio à operação, revidaram.

Ninguém ficou ferido na troca de tiros, e os garimpeiros, que se esconderam na mata com a chegada dos fiscais, não foram presos. Os agentes do Ibama destruíram duas retroescavadeiras e três motores usados no garimpo, de acordo com Hugo Loss, coordenador do Ibama responsável pela operação, acompanhada por uma equipe da Reuters.

“Eles (garimpeiros) se esconderam no mato e dispararam contra a equipe”, disse Loss à Reuters por telefone, acrescentando que o desmatamento tem aumentado significativamente na região, especialmente nessa reserva indígena que, de acordo com o coordenador, teve 10% de sua área desmatada somente neste ano.

Loss afirmou que um aumento expressivo da grilagem de terras na área indígena impulsionou a alta de desmatamento na reserva Ituna/Itatá que, segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai), é destinada a índios isolados, engloba os municípios de Altamira, Anapu e Senador José Porfírio e ocupa uma área de 142.402 hectares.

De acordo com Loss, a demarcação dessa área foi uma das condicionantes para permitir a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. A reserva é de restrição de uso, o que significa que nenhuma atividade pode ser desenvolvida na região, e a demarcação visa proteger índios isolados, cujos sinais de presença foram detectados durante a construção da usina.

O garimpo, alvo da operação com troca de tiros nesta sexta, fica a cerca de 50 km da área indígena, disse o coordenador do Ibama.

“Essa demarcação da terra (Ituna/Itatá) é feita com base em um decreto presidencial. Com a alteração toda que houve na orientação da política ambiental, criou-se uma expectativa de regularização, de desregulamentação dessa terra, de desfazimento desse decreto”, disse Loss.

“Então a grilagem aumentou muito forte lá dentro dessa expectativa. Isso causou o aumento drástico do desmatamento naquela área.”

O presidente Jair Bolsonaro, que vem sofrendo pressão internacional por causa do aumento do desmatamento e das queimadas na Amazônia, é crítico ferrenho da demarcação de terras indígenas. Segundo ele, as demarcações visam “inviabilizar” o Brasil.

Bolsonaro, que já disse várias vezes que não assinará a demarcação de nenhuma nova área indígena em seu governo, defendeu na manhã de sexta-feira a revisão das demarcações já feitas, apontando suspeitas de fraudes, sem dar detalhes.

APOIO POLICIAL

Com a pressão internacional sobre o governo brasileiro por causa da Amazônia, Bolsonaro editou um decreto de garantia da lei e da ordem para que militares das Forças Armadas ajudem no combate às queimadas na floresta. O governo também enviou a Força Nacional de Segurança Pública para auxiliar no combate ao desmatamento.

Loss disse que, com essas duas medidas, as equipes de fiscalização do Ibama voltaram a ter condições de realizar operações no Pará. De acordo com o coordenador do Ibama, a Polícia Militar do Estado não vinha oferecendo apoio às equipes.

“Desde maio, a gente não tem apoio da Polícia Militar do Estado do Pará”, disse Loss.

“Somente agora que o desmatamento e o fogo foram realmente reconhecidos como alarmantes, é que houve o decreto da GLO, e com isso a gente conseguiu condições para poder operar aqui nesta área”, afirmou. “Nesta área a gente tinha operações programadas em junho e julho, mas a gente não conseguiu executar as operações nesta área em que a gente está hoje por falta de apoio.”

Segundo o coordenador do Ibama, as autoridades paraenses alegavam que era necessário um acordo de cooperação técnica com o Ibama, que não foi assinado, para fornecer apoio às equipes.

“Mas esse acordo nunca foi necessário anteriormente. Os termos do acordo não evoluíram na negociação e assim a coisa foi ficando travada”, disse Loss.

Procurada, a Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social do Pará (Segup) negou, por meio da assessoria de imprensa, que a PM paraense tenha deixado de dar apoio às equipes de fiscalização do Ibama.

O órgão disse que, desde o início do ano, tem buscado fechar um termo de cooperação com o Ibama para dar respaldo jurídico aos policiais que dão apoio às operações, e que acordos deste tipo foram fechados com outros órgãos federais, como a Funai e o ICMBio. A secretaria ressalvou, no entanto, que a falta do termo não impediu a PM de dar apoio ao Ibama.

De acordo com nota da secretaria, nos dias 21 e 25 deste mês, as polícias civil e militar do Pará participaram, junto a outros órgãos como o Ibama, de operações que resultaram na apreensão de madeira, equipamentos usados no desmatamento, armas de fogo e na destruição de acampamentos clandestinos.

Documentos obtidos pela Reuters nesta semana mostraram que o Ibama alegou ao Ministério Público Federal (MPF) que não teve o respaldo necessário da Polícia Militar do Pará para evitar a realização no dia 10 de agosto do chamado “dia do fogo”, quando foi registrado, segundo dados oficiais, um aumento no número de focos de incêndio no sudoeste paraense.

Na ocasião, a Segup disse em nota que mantinha o apoio às equipes de fiscalização e que “somente nos sete primeiros meses de 2019, mais de 70 fiscalizações foram deflagradas com a integração entre as instituições, o que será massificado durante o segundo semestre deste ano”.

Em entrevista à Reuters nesta semana, o procurador da República, Ricardo Negrini, disse que os danos ambientais gerados pelo “dia do fogo” poderiam ter sido parcialmente evitados com um suporte policial para a ação que o Ibama pretendia fazer antes do ato.

O procurador disse ainda que, a despeito do suporte ou não da polícia nesse tipo de ação, os efetivos para operações de fiscalização de meio ambiente tanto no âmbito estadual como federal são insuficientes.

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EUA INVESTIGAM GRÁFICA QUE IMPRIMIU ENEM

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EUA INVESTIGAM GRÁFICA QUE IMPRIMIU ENEM

Folha Uol | Fábio Fabrini – A SEC, órgão que fiscaliza o mercado de capitais norte-americano, abriu investigação por supostas práticas ilícitas de representantes da gráfica que imprimia o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) que envolvem o MEC (Ministério da Educação).

A divisão da SEC encarregada das apurações, Unidade da Lei contra Práticas Corruptas Estrangeiras, enviou em abril deste ano intimação à R.R. Donnelley & Sons Company, responsável pela produção das provas de 2009 a 2018.

Na ordem, requisita documentos e informações sobre os contratos firmados com o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), ligado ao MEC.

O Enem foi impresso pela subsidiária da empresa no Brasil, que venceu concorrências para isso em 2010 e 2016, de 2009 a 2018. Em março deste ano, ela declarou falência.

A contratação em 2009 ocorreu com dispensa de licitação após o roubo da prova dentro da gráfica que imprimia o exame, a Plural — uma parceria do Grupo Folha com a Quad Graphics. Nos outros anos, o contrato foi renovado sem disputa.

Com a falência da R.R. Donnelley, a Valid, segunda colocada na licitação de 2016, foi contratada para prestar o serviço.

Pela legislação americana, a SEC pode investigar empresas com ações negociadas na Bolsa de Valores dos EUA, como a Donnelley, mesmo se as supostas irregularidades forem cometidas no exterior.

Consultado, o órgão não deu detalhes da apuração. Não respondeu qual suspeita está sob averiguação nem quem provocou as apurações.

“Não há nada que eu possa comentar. Nossas investigações não são públicas”, disse à Folha o procurador David Kagan-Kans.

Na intimação, obtida pela reportagem, o procurador informa o advogado da Donnelley, Matthew Kipp, que tenta “determinar se houve violações às leis de valores mobiliários federais” e avisa que, se a empresa não entregar os papéis pedidos voluntariamente, está sujeita a ação judicial.

A SEC requer informações produzidas a partir de 2009, primeiro ano em que Donnelley prestou serviços ao Inep.

A intimação lista 19 blocos de dados e documentos a serem entregues, incluindo a descrição de políticas e de treinamento anticorrupção dados aos funcionários e às empresas subcontratadas para prestar os serviços ao Inep.

O órgão americano pediu todos os contratos, propostas e negociações relativas às provas do Enem, além de todas as comunicações com agentes do MEC e do Inep sobre as contratações e seus aditivos.

Também mira subcontratações feitas pela Donnelley, inclusive ordens de compra, análises de preços praticados e registros de pagamentos e despesas —incluindo aquelas que possam caracterizar suborno de agentes públicos, como pagamentos de serviços de entretenimento.

A R. R. Donnelley vem sendo alvo de denúncias por parte de representantes de seus funcionários e de concorrentes.

A Gráfica Plural enviou documento à Polícia Federal e ao MPF (Ministério Público Federal) indicando que o Inep direcionou a subcontratação, pela Donnelley, de uma empresa, a Genneral Suport, para representá-la perante o instituto.

Outra suposta irregularidade apontada foi a contratação, pelo Inep, de um ex-funcionário da Donnelley para fazer auditorias na prestação de serviços da própria empresa.

A Plural também denunciou ao TCU (Tribunal de Contas da União) indícios de direcionamento das licitações vencidas pela Donnelley.

A corte concluiu que alguns itens do edital de 2016 restringiam a concorrência. Também viu indícios de conluio da empresa americana com a Valid, que assumiu a impressão do Enem, nos lances apresentados no pregão daquele ano.

Em abril, o tribunal proibiu prorrogar contratos do Enem e determinou a abertura de licitação para escolher a gráfica das provas. A Valid poderá prestar o serviço neste ano em caráter excepcional.

Pedidos de providências vieram também da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria Gráfica, que solicitou ao Ministério da Justiça investigação de eventuais fraudes em licitações vencidas pela Donnelley para o Enem.

Outro lado

Procurada pela Folha, a R. R. Donnelley não comentou a abertura da investigação.

O Inep, por sua vez, informou que não foi notificado pela SEC até a conclusão desta edição.

“Quando acionado[o Inep], todos os esclarecimentos sobre o contrato com a R.R. Donnelley & Sons Company’s serão prestados prontamente, bem como rotineiramente qualquer outro questionamento”, diz nota do instituto.

O instituto sustenta que “qualquer irregularidade detectada internamente sempre é apurada para aplicação de medidas cabíveis” e destaca que cumpriu todas as determinações feitas pelo Tribunal de Contas.

“A equipe técnica e jurídica do Inep mantém contato frequente com órgãos de controle do governo federal para garantir transparência aos contratos e iniciativas da autarquia”, diz a nota.

“Os esclarecimentos solicitados, recomendações e sugestões são acatados conforme a pertinência. O processo de contratação da gráfica para os exames educacionais segue essa diretriz.”

 

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EUA INVESTIGAM GRÁFICA QUE IMPRIMIU ENEM

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MANUELA D’ÁVILA'A DECISÃO QUE TOMEI ME HONRA', DIZ MANUELA SOBRE CONTATO COM HACKER DA LAVA JATO

Folha Uol | Fábio Fabrini – A SEC, órgão que fiscaliza o mercado de capitais norte-americano, abriu investigação por supostas práticas ilícitas de representantes da gráfica que imprimia o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) que envolvem o MEC (Ministério da Educação).

A divisão da SEC encarregada das apurações, Unidade da Lei contra Práticas Corruptas Estrangeiras, enviou em abril deste ano intimação à R.R. Donnelley & Sons Company, responsável pela produção das provas de 2009 a 2018.

Na ordem, requisita documentos e informações sobre os contratos firmados com o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), ligado ao MEC.

O Enem foi impresso pela subsidiária da empresa no Brasil, que venceu concorrências para isso em 2010 e 2016, de 2009 a 2018. Em março deste ano, ela declarou falência.

A contratação em 2009 ocorreu com dispensa de licitação após o roubo da prova dentro da gráfica que imprimia o exame, a Plural —uma parceria do Grupo Folha com a Quad Graphics. Nos outros anos, o contrato foi renovado sem disputa.

Com a falência da R.R. Donnelley, a Valid, segunda colocada na licitação de 2016, foi contratada para prestar o serviço.

Pela legislação americana, a SEC pode investigar empresas com ações negociadas na Bolsa de Valores dos EUA, como a Donnelley, mesmo se as supostas irregularidades forem cometidas no exterior.

Consultado, o órgão não deu detalhes da apuração. Não respondeu qual suspeita está sob averiguação nem quem provocou as apurações.

“Não há nada que eu possa comentar. Nossas investigações não são públicas”, disse à Folha o procurador David Kagan-Kans.

Na intimação, obtida pela reportagem, o procurador informa o advogado da Donnelley, Matthew Kipp, que tenta “determinar se houve violações às leis de valores mobiliários federais” e avisa que, se a empresa não entregar os papéis pedidos voluntariamente, está sujeita a ação judicial.

A SEC requer informações produzidas a partir de 2009, primeiro ano em que Donnelley prestou serviços ao Inep.

A intimação lista 19 blocos de dados e documentos a serem entregues, incluindo a descrição de políticas e de treinamento anticorrupção dados aos funcionários e às empresas subcontratadas para prestar os serviços ao Inep.

O órgão americano pediu todos os contratos, propostas e negociações relativas às provas do Enem, além de todas as comunicações com agentes do MEC e do Inep sobre as contratações e seus aditivos.

Também mira subcontratações feitas pela Donnelley, inclusive ordens de compra, análises de preços praticados e registros de pagamentos e despesas —incluindo aquelas que possam caracterizar suborno de agentes públicos, como pagamentos de serviços de entretenimento.

A R. R. Donnelley vem sendo alvo de denúncias por parte de representantes de seus funcionários e de concorrentes.

A Gráfica Plural enviou documento à Polícia Federal e ao MPF (Ministério Público Federal) indicando que o Inep direcionou a subcontratação, pela Donnelley, de uma empresa, a Genneral Suport, para representá-la perante o instituto.

Outra suposta irregularidade apontada foi a contratação, pelo Inep, de um ex-funcionário da Donnelley para fazer auditorias na prestação de serviços da própria empresa.

A Plural também denunciou ao TCU (Tribunal de Contas da União) indícios de direcionamento das licitações vencidas pela Donnelley.

A corte concluiu que alguns itens do edital de 2016 restringiam a concorrência. Também viu indícios de conluio da empresa americana com a Valid, que assumiu a impressão do Enem, nos lances apresentados no pregão daquele ano.

Em abril, o tribunal proibiu prorrogar contratos do Enem e determinou a abertura de licitação para escolher a gráfica das provas. A Valid poderá prestar o serviço neste ano em caráter excepcional.

Pedidos de providências vieram também da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria Gráfica, que solicitou ao Ministério da Justiça investigação de eventuais fraudes em licitações vencidas pela Donnelley para o Enem.

Outro lado

Procurada pela Folha, a R. R. Donnelley não comentou a abertura da investigação.

O Inep, por sua vez, informou que não foi notificado pela SEC até a conclusão desta edição.

“Quando acionado[o Inep], todos os esclarecimentos sobre o contrato com a R.R. Donnelley & Sons Company’s serão prestados prontamente, bem como rotineiramente qualquer outro questionamento”, diz nota do instituto.

O instituto sustenta que “qualquer irregularidade detectada internamente sempre é apurada para aplicação de medidas cabíveis” e destaca que cumpriu todas as determinações feitas pelo Tribunal de Contas.

“A equipe técnica e jurídica do Inep mantém contato frequente com órgãos de controle do governo federal para garantir transparência aos contratos e iniciativas da autarquia”, diz a nota.

“Os esclarecimentos solicitados, recomendações e sugestões são acatados conforme a pertinência. O processo de contratação da gráfica para os exames educacionais segue essa diretriz.”

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MANUELA D’ÁVILA’A DECISÃO QUE TOMEI ME HONRA’, DIZ MANUELA SOBRE CONTATO COM HACKER DA LAVA JATO

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MANUELA D’ÁVILA'A DECISÃO QUE TOMEI ME HONRA', DIZ MANUELA SOBRE CONTATO COM HACKER DA LAVA JATO

Folha Uol | Thais Arbex – Um mês depois de confirmar ter intermediado o contato do hacker Walter Delgatti Neto com o jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept Brasil, a ex-deputada Manuela d’Ávila (PC do B) disse que não foi sua a decisão de fazer parte dessa história.

Em entrevista à Folha, nesta sexta-feira (30), ela disse que sua participação “não faz uma grande diferença diante dos fatos”.

“A decisão que tomei me honra porque, hoje, o Brasil sabe a partir do trabalho do Glenn, do Intercept e de outros veículos de comunicação, o envolvimento dessas autoridades em crimes horrendos”, afirmou.

Antes de fazer a ponte, porém, a ex-parlamentar disse ter consultado seus advogados —o ex-ministro José Eduardo Cardozo e o criminalista Alberto Toron— para ter segurança jurídica.

Na quarta (28), ela esteve na sede da Polícia Federal em Brasília para entregar seu celular e, na condição de vítima e testemunha, prestar depoimento sobre seu contato com Delgatti, preso sob suspeita de hackear autoridades, como procuradores da Lava Jato.

Hoje à frente do Instituto E Se Fosse Você, de combate à fake news, ela, que foi candidata a vice-presidente na chapa de Fernando Haddad (PT) nas eleições 2018, diz: “Fui a fonte de um jornalista. Foi só o que eu fiz.”

Como foi o primeiro contato do hacker com a sra.? No Dia das Mães, em 12 de maio, no final da manhã, estava organizando um almoço na minha casa, quando recebi uma notificação do Telegram que o meu telefone havia sido invadido. Logo em seguida, recebi uma mensagem de um contato da minha agenda telefônica dizendo que precisava falar comigo urgente.

Tentei ligar, mas não consegui falar. Chegou, então, uma nova mensagem dizendo que não era aquela pessoa, mas sim outra que dispunha de muitas informações de crimes cometidos e queria me passar essas informações.

Essa pessoa saiu, então, do telefone da pessoa da minha agenda e fez contato comigo a partir de outro perfil, não telefônico, também pelo Telegram, de forma anônima e escrita.

Não sei quem é a pessoa fisicamente, não sei como é a voz dela. Ela relatou crimes de autoridades envolvidas na Operação Lava Jato, especificamente. Imediatamente liguei para os meus advogados.

Como a pessoa tinha invadido o meu telefone, achei que poderia se tratar de uma armação contra mim. Não fazia sentido na minha cabeça uma pessoa invadir meu telefone e querer me passar conteúdo. A invasão não fazia sentido naquele desenho, de a pessoa estar me oferecendo documentos. Fiquei na linha com os meus advogados, e sugeri, então, que ela fizesse contato com o Glenn.

Telefonei para o Glenn e perguntei se poderia estabelecer o contato, se tinha condições de aferir a veracidade dos documentos. A aferição da veracidade dos documentos era algo que me preocupava também, para eu ter claro que não se tratava de uma armação contra mim.

A sra. tentou saber quem era essa pessoa? Em nenhum momento. Não disse nome, não disse absolutamente nada, mas disse que não morava no Brasil, o que não se confirmou. Foi a única coisa que ela disse a respeito de si.

Em entrevista à Folha, o hacker afirmou que lhe procurou porque sabia que a sra. tinha proximidade com o Glenn Greenwald e o marido dele, o deputado David Miranda (PSOL-RJ). Há, no entanto, uma contradição nessa declaração, já que a sra. disse que foi sua a sugestão para que ele procurasse o jornalista. Para mim, o mais importante na entrevista e também em toda a operação ‘Vaza Jato’ é a relevância dos documentos que estamos tendo acesso.

Os documentos que eu entreguei para a polícia, e que a polícia fará a perícia, comprovam as informações que prestei de forma voluntária. Tenho absoluta tranquilidade em relação a isso. A minha versão, que será comprovada pela perícia voluntária, é algo irrelevante diante dos fatos. A minha participação não faz uma grande diferença.

A decisão de sugerir que ele procurasse o Glenn foi feita por orientação de seus advogados? Não. A ideia foi minha. Achava que, tecnicamente, ele era um jornalista com muitas condições de aferir a legitimidade dos documentos.

Na minha cabeça de jornalista, o Glenn preenchia um conjunto de critérios: fazer parte de uma equipe de jornalismo investigativo, não ter um editor-chefe ali todo dia [perguntando] se vai sair ou não vai sair. Alguém que tem um [prêmio] Pulitzer não queima o seu Pulitzer para dar um furo no Twitter.

Tecnicamente, ele tem muita capacidade. Sabia que qualquer um de nós jornalistas tínhamos a questão do sigilo de fonte, que estaríamos protegidos por isso, mas imaginei que, tecnicamente, ele teria plenas condições de aferir porque ele já tinha lidado com algo que essa pessoa anunciava —embora eu não tivesse conhecimento se era verdadeiro ou não— e que era similar ao caso Snowden.

Consultei meus advogados para saber se o contato era algo que eu poderia fazer. Sabia que eu tinha direito ao sigilo de fonte e o Glenn também, mas não tinha certeza se esse contato se enquadrava nisso. E eles me disseram que sim.

A sra. chegou a pedir detalhes do material que ele tinha? Ele me enviou prints, mas parou imediatamente. Ele estava preocupado em me mostrar que realmente tinha [o material]. Ele tinha muita preocupação em me dizer que não queria dinheiro. Essa preocupação explícita está manifesta nas conversas, a polícia terá condições de aferir isso. Ele também dizia que não era nem de esquerda nem de direita e que queria ajudar o Brasil.

A sra. temeu ser envolvida em um crime? Sou jornalista, né? Sabia que poderia exercer o meu direito de jornalista se tomasse a decisão de receber as informações. Não queria fazê-lo porque não me sentia tecnicamente preparada para aferir a veracidade ou não das informações.

Se eu tivesse mandato, poderia fazer na condição de deputada. Eu queria ter segurança jurídica. O meu receio era só o de poder dar passos com plena segurança jurídica.

A sra. comunicou a polícia sobre a invasão a seu celular? Não. Quando a gente recebe a notícia de que autoridades estão envolvidas em crimes, a gente não denuncia a essas mesmas autoridades os crimes em que elas podem estar envolvidas. Essa era a questão em que a invasão do meu celular estava envolvida.

Como foi o período entre o contato e a publicação da primeira reportagem pelo The Intercept Brasil? A minha maior tensão nesse período foi relacionada a minha segurança. Como eu não tinha ciência do que se tratava o conteúdo, do tipo de conversas que estavam estabelecidas, tem que ter muito foco para se manter inteiro. Já é um clima de muita violência política, já é um clima de permanente violência contra mim.

Depois da revelação de que havia intermediado o contato do hacker com o Glenn, a sra. se arrependeu? Não tenho como me arrepender porque não foi uma decisão minha fazer parte dessa história. Tenho plena consciência que a decisão que eu tomei foi a mais correta que poderia ter tomado. Tive conhecimento de crimes cometidos por autoridades do Estado brasileiro. Não sou mais deputada, mas se fosse deputada e não fizesse nada, o nome do crime seria prevaricação. Recebi uma denúncia.

Não tenho segurança, não tenho colete, não tenho carro blindado. A decisão que tomei, como jornalista e como cidadã, foi passar para o maior jornalista do mundo aferir a veracidade dos crimes que se revelam, cotidianamente, cometidos por autoridades do Estado brasileiro.

Não tomei a decisão de entrar, porque o meu celular foi invadido e recebi essas denúncias pelo meu telefone. Mas a decisão que tomei me honra, me honra porque hoje o Brasil sabe, a partir do trabalho do Glenn, do Intercept e de outros veículos de comunicação, o envolvimento dessas autoridades em crimes horrendos.

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