REITOR NOMEADO POR BOLSONARO USA “MÉTODOS DE ADMINISTRAÇÃO EM JESUS” EM DISCIPLINA

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REITOR NOMEADO POR BOLSONARO USA “MÉTODOS DE ADMINISTRAÇÃO EM JESUS” EM DISCIPLINA
Marcelo Recktenvald, escolhido por Jair Bolsonaro como reitor da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) (Reprodução/Facebook)

O curso de 30 horas, que o reitor nomeado sem ser o mais votado oferece, ainda tem na bibliografia o livro “Administração segundo a Bíblia”.

Revista Fórum – Marcelo Recktenvald, escolhido por Jair Bolsonaro como reitor da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), foi professor, nos anos de 2013 e 2014, da disciplina optativa “Espiritualidade e Liderança”, dentro do curso de Administração. A aula, que tinha como objetivo “aprofundar os conhecimentos de liderança e coaching a partir de uma perspectiva da realidade”, tem como referência básica títulos como Jesus Coach, da autora Laurie Beth Jones. As informações são de Ana Luiza Basílio, no site da Carta Capital.

Recktenvald, que era o terceiro colocado na lista tríplice encaminhada ao Ministério da Educação, vai comandar a universidade federal que tem em Chapecó (SC) seu campus principal, com outros quatro campi no Sudoeste do Paraná, Oeste de Santa Catarina e Noroeste do Rio Grande do Sul.

Jesus coaching

Bolsonarista, cristão conservador, defensor da família e pastor batista, o novo reitor baseia seus métodos administrativos em obras que remetem a relatos bíblicos para revelar que os princípios utilizados pelo filho de Deus com seus colaboradores prenunciavam o que dois mil anos mais tarde passariam a ser conhecidos como life coaching.

Em seu curso, a lista de leituras inclui ainda Os métodos de administração de Jesus, de Bob Briner, Administração Segundo a Bíblia: métodos de gestão que não envelhecem, de Steve Marr, Espiritualidade no ambiente de trabalho: dimensões, reflexões e desafios, de Anselmo Ferreira Vasconcelos, e Uma Vida com Propósitos, de Rick Warren.

Agradecimentos

Pelas redes sociais, Marcelo agradeceu “a comunidade regional” pelo feito e disse “aos apoiadores que desejavam uma mudança na gestão da UFFS – liberta da hegemonia ideológica há anos dominante no ensino superior”.

 

https://www.facebook.com/novauffs/photos/a.274720090079759/360198054865295/?type=3&eid=ARBcoUrTexbuajZGqHhS3FTXx_-HzlQuFFf25teQKIdmnsXdfMXc0k6yzYBi8kgWGcYIo7DWJP7-kXYo&__xts__%5B0%5D=68.ARBnczXJocOAbEc6oJ-cMkyvzf4KsCVsbBUIPZnH087fOIHojPEMqBO1PdJlTegj59FE1e2BPk5c0VsB5Q1uDEP9MNt3bAaxMpKwBEfJJ1LoYDNk5sWPhPicVHha9d4Nzl6ZduE-h9VtqcGLHx5U9V6ZBdImITUaoqtuoF2d7exAirdQ4574LCR8WxAMymEaODzzQY0orKxn-oQGwGWTMsDGka5nNxXKgDjN8UAl_i3uDAPJ0cONKZu2HsE49mWT8vkn3XcMiLK9rI2t9urvCnA4JsJ-XP1-DUbp1W70h98_hYvHX9PHuIfuEDkA-pB3Igm0Q3eYX_O5zoOk_c7kEJ33&__tn__=EEHH-R

 

DESMONTE DO CONHECIMENTO | TRÊS ANOS DE GOVERNOS DEVASTADORES PARA A PESQUISA E A CIÊNCIA

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DESMONTE DO CONHECIMENTO | TRÊS ANOS DE GOVERNOS DEVASTADORES PARA A PESQUISA E A CIÊNCIA
A produção do conhecimento, fonte de emancipação de um povo, não está nos planos de quem deu o golpe

Cortes nos recursos, que tem sido intensificado, traz insegurança e preocupação aos pesquisadores. Carreiras e todo o trabalho científico estão em risco

RBA | Publicado por Rodrigo Gomes – São Paulo – O golpe de 2016, que resultou no impeachment da então presidenta Dilma Rousseff (PT), foi especialmente devastador para a pesquisa e a ciência.

Dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) mostram que o país vivia uma importante expansão do orçamento voltado ao desenvolvimento da ciência e à formação de mestres e doutores desde 2004.

No entanto, a partir do governo de Michel Temer (MDB), teve início uma escalada de cortes nos recursos. A preocupação e insegurança são grandes entre os aos pesquisadores brasileiros e também nos centros de pesquisa, diante  da possibilidade de interrupção de muitos trabalhos. Na ciência, que avança a cada dia com novas descobertas, pesquisa interrompida é praticamente sinônimo de pesquisa perdida.

No caso do CNPq, a redução do orçamento vem desde o golpe e chegou ao limite este ano, deixando o órgão deficitário em R$ 330 milhões. Foram suspensas 4.500 novas bolsas. E cerca de 84 mil bolsistas estão sem saber o que vão fazer a partir deste mês. Se nada for revertido, não haverá continuidade do pagamento de bolsas para pesquisa em andamento.

Na Capes, este ano, o corte de 3.474 bolsas de estudo para estudantes de mestrado, doutorado e pós-doutorado levou pesquisadores que atuavam em dedicação exclusiva – por exigência da própria agência – a trabalhar como garçons e vendedores para se sustentar. E ver suas pesquisas abandonadas.

Criado para promover o intercâmbio de pesquisadores brasileiros em diversas universidades estrangeiras, o programa Ciência sem Fronteiras, foi criado em 2013. O orçamento inicial era de R$ 1,2 bilhão. Dois anos depois já contava com R$ 3,2 bilhões. Com o golpe foi severamente esvaziado, até praticamente acabar.

Ao todo foram distribuídas 64 mil bolsas para graduação, 26 para doutorado e pós, 7 mil para desenvolvimento tecnológico, entre outras áreas. Hoje é apenas 0,22% disso: R$ 7 milhões. Dos mais de 100 bolsista que o Brasil chegou a mandar para o exterior, restam 5 mil.

Cenário devastador

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EDUCAÇÃO | EM MORADIA DA USP, ESTUDANTES CONVIVEM COM RISCO DIÁRIO DE INCÊNDIOS E EXPLOSÕES

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EDUCAÇÃO | EM MORADIA DA USP, ESTUDANTES CONVIVEM COM RISCO DIÁRIO DE INCÊNDIOS E EXPLOSÕES
O morador Wagner Rodolfo esquenta água em uma das cozinhas coletivas do bloco F / Marcelo Cruz

Abandono e precariedade tomam conta do Crusp, que abriga 2 mil alunos e está há mais de 20 anos sem reformas

Marcos Hermanson | Brasil de Fato | São Paulo (SP) – Estamos em uma das cozinhas coletivas do bloco B do Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo (Crusp). O cheiro de gás é forte. Uma fita plástica preta e amarela remenda precariamente a tubulação de gás que fica sob um fogareiro enferrujado. Na parede, um aviso:

ATENÇÃO USUÁRIOS PERIGO! NÃO ABRA O REGISTRO: o encanamento de gás está com um vazamento, pode ocorrer risco de incêndio ou explosão.

A cena ilustra bem as condições sob as quais vivem os quase 2 mil moradores da residência estudantil da Cidade Universitária, maior campus da USP, na Zona Oeste da cidade.

Há 32 lavadoras de roupa destinadas ao uso coletivo. Nenhuma funciona. Em pelos menos um bloco inteiro, os alunos passaram o inverno tomando banho gelado porque o aquecimento de água também está com problemas. Na maioria das cozinhas coletivas faltam torneiras, enquanto fogões e fogareiros não servem para preparar uma refeição simples.

As Infiltrações e o mofo dominam boa parte das paredes dos corredores, às vezes entrando em contato com fios expostos ou caixas de luz. Como consequência da entrada da água, o teto tem buracos e, no período de chuvas, a água entra nos apartamentos.

Com os serviços coletivos em estado de falência, muitos moradores infringem as regras da administração do Crusp e instalam chuveiros elétricos, fogões e lavadoras domésticas em seus apartamentos.

O problema é que os prédios não foram desenhados para comportar uma demanda de energia dessa magnitude, o que gera um risco considerável de incêndios por curto-circuito.

 

Vai explodir

Questionada se teria medo de alguma catástrofe, Janaína Rodrigues, diretora da Associação de Moradores (AmorCrusp), diz ter “pavor e certeza”.

“Em algum momento vai acontecer alguma coisa drástica. Em algum momento aquele pingo de água vai cair em uma caixa de luz que já está com fios expostos e vai explodir”, completa ela.

Os funcionários da manutenção são apenas seis. Eles reclamam da escassez de material e afirmam que suas demandas são ignoradas pela administração predial, de responsabilidade da Superintendência de Assistência Social da USP (SAS).

“Uma hora vai acontecer uma desgraça”, resume um deles, falando sobre os entulhos que se acumulam nos corredores e podem dificultar a fuga dos moradores no caso de um incêndio. Em outubro de 2017, um apartamento do Bloco G pegou fogo e até hoje as causas não foram esclarecidas.

“O Crusp é um centro residencial dentro da USP feito para estudantes precarizados, com situação de vulnerabilidade socioeconômica, em busca de permanência estudantil, mas a precarização está afetando a vida das pessoas no ponto delas decidirem que é melhor não ter a universidade do que viver da maneira como estão vivendo”, afirma Janaína.

Para ela, o que ocorre ali sequer pode ser classificado como descaso ou abandono. Seria uma “política efetiva” para que os estudantes deixem a universidade. Questionada pela reportagem, a SAS não quis revelar o orçamento aplicado em obras de manutenção ou reforma, mas diz que gasta “adequadamente” a verba.

“Essa situação de precariedade vai enlouquecendo as pessoas”

As condições da infraestrutura e o isolamento em relação à cidade criam um clima favorável ao adoecimento psicológico, segundo estudantes ouvidos pelo Brasil de Fato.

Wagner Rodolfo, morador do bloco F, relembra que, em julho, um morador tentou o suicídio pulando do sexto andar. “Eu acho engraçado que aqui no Crusp tenha uma clínica odontológica, mas não tenha uma clínica psiquiátrica. Já ouvi, do apartamento, pessoas gritando que não aguentam mais. Tem casos de alunos que surtam e ficam vagando pelos corredores”, conta ele.

Wagner e Ticiana Oliveira, moradora do bloco G, não se conhecem, mas ela diz algo muito semelhante: “Se você vai no posto de saúde aqui perto, os grupos de atenção psiquiátrica são todos de moradores do Crusp. Aqui perto fica a Faculdade de Psicologia da USP. Por que cargas d’água eles ainda não têm um convênio para fazer oficinas, laboratórios, terapias para ajudar a saúde mental dos graduandos?”, pergunta ela. “A gente sabe de vários casos de suicídios aqui: dentro dos laboratórios, de cima dos prédios… Pouquíssimos pós-graduandos ainda não fizeram uso de remédio tarja preta”, completa Ticiana, que é doutoranda em Integração da América Latina.

“A gente tem pessoas com tratamento psiquiátrico aos montes, inclusive porque essa situação de precariedade vai enlouquecendo as pessoas”, resume Janaína, do AmorCrusp.

História e importância

A construção do condomínio que viria a se transformar no Crusp foi finalizada no ano de 1963. Os prédios serviram como Vila Olímpica dos Jogos Pan-Americanos realizados em São Paulo no mesmo ano. A ideia era entregar a vila aos estudantes após os jogos, mas isso só aconteceria a partir de 1964, quando um grupo de 13 alunos ocupou as dependências do conjunto.

Em 1968, após a promulgação do AI-5 e o recrudescimento da ditadura, os militares invadiram as moradias e expulsaram os estudantes. O conjunto só voltaria a ser reocupado dez anos depois, em 1979, com a abertura política.

Hoje o Crusp conta com oito blocos – um deles conquistado após uma greve estudantil, em 2007 – e 1577 moradores, sem contar com os que vivem ali “clandestinamente”. A renda média dos moradores é de meio a um salário mínimo, e eles permanecem ali por aproximadamente seis anos, segundo a SAS.

A despeito dos problemas, os moradores entrevistados pelo Brasil de Fatosão unânimes em afirmar a importância do Crusp.

“Seria impossível. Eu falo por mim. Se eu não estivesse morando aqui, eu não teria a menor condição de fazer um doutorado”, diz Ticiana.

Sentado ao seu lado está Rogério Mauê. Ele é mestrando em arquitetura e morador do alojamento temporário do mesmo bloco. Natural do Pará, diz que o Crusp “tem vários problemas, que devem ser solucionados, mas têm alunos aqui que só podem fazer pesquisa ou estudar tendo essa moradia. É a forma das pessoas alcançarem um diploma”.

Aluno de Educação Física e morador do bloco F, Pedro Rodrigues conta que, antes de viver no Crusp, ele gastava em média três ou quatro horas no transporte público todos os dias: “Era bem desgastante acordar cinco da manhã, chegar na aula às 8h, ficar aqui até 17h, jantar e ir embora. Depois chegar em casa às 21h, fazer as lições, ler os textos, se preparar e dormir cedo porque cinco horas você tá de pé de novo”.

Reformas “em breve”

Brasil de Fato solicitou entrevista com Fábio Guerrini, professor de engenharia e superintendente da SAS. O objetivo era questioná-lo sobre o abandono da moradia estudantil e saber se existem reformas planejadas para os blocos.

A SAS respondeu que não seria possível marcar o encontro pois o orgão “ainda está em tratativas com a reitoria” da universidade. Disse também que os problemas estruturais são causados pela “ação do tempo” e por “atos de vandalismo”, e que as últimas reformas ocorreram há mais de 20 anos.

A Superintendência informa que uma reforma está programada para “breve”, e que esta deve priorizar ações contra “infiltrações nas paredes dos apartamentos, adequações da rede elétrica e instalação de cabeamento para sinal de wi-fi”.

Edição: João Paulo Soares

MEMÓRIA | REGINALDO MORAES, PRESENTE!

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MEMÓRIA | REGINALDO MORAES, PRESENTE!

A Fundação Perseu Abramo, seus funcionários, funcionárias e colaboradores lamentam a triste notícia desta segunda-feira, 26 de agosto: a perda do companheiro Reginaldo Carmelo de Moraes, aos 68 anos.

Fundação Perseu Abrano – Régis, como era conhecido, era doutor em Filosofia pela USP e professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), da Unicamp, pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos (INCT-Ineu) e colaborador de longa data da Fundação Perseu Abramo. Era colunista do Brasil Debate.

Publicou pela Editora Unesp “O peso do Estado na pátria do mercado” (2013), “As cidades cercam os campos” (2008, em coautoria com Maitá de Paula e Silva e Carlos Henrique Goulart Árabe), “Estado, desenvolvimento e globalização” (2006) e “Educação superior nos Estados Unidos” (2015).

Pela Fundação Perseu Abramo, Reginaldo publicou os livros “Bloco de Esquerda e Podemos: dois experimentos de organização na nova esquerda europeia” (2016), e “Rural, Agrário, Nação: reflexões sobre políticas e processos de desenvolvimento na era da globalização” (2015). Clique nos títulos para acessar os livros.

Também pela FPA e em coautoria com Marcio Pochmann, publicou “Capitalismo, Classe Trabalhadora e Luta Política no Início do Século XXI” (2017) e lançaria nos próximos meses “Os ricos e poderosos”, ainda no prelo.

Pelo seu perfil do Facebook é possível conhecer um pouco mais sobre ele: “Neste espaço procuramos evitar manifestações de intolerância e apologia a violações de direitos humanos. Essas coisas já têm muito espaço na imprensa do país, não precisam deste recanto para se propagarem. Portanto, cortes ou bloqueios não são resultados de ‘problemas pessoais’. São escolhas. Se a sua praia é outra, siga em frente, mas não comigo”.

O velório do Reginaldo será na terça-feira, das 8h ao meio dia, no Cemitério do Araçá (Av. Dr. Arnaldo, 300). Segue depois para o crematório de Vila Alpina.

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ALUNOS E PROFESSORES DO CEFET-RJ FAZEM BARREIRA HUMANA EM PROTESTO CONTRA INTERVENTOR BOLSONARISTA

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ALUNOS E PROFESSORES DO CEFET-RJ FAZEM BARREIRA HUMANA EM PROTESTO CONTRA INTERVENTOR BOLSONARISTA
Foto: Divulgação

O ato representa descontentamento com a nomeação de Maurício Aires Vieira, assessor do ministro Abraham Weintraub, para ocupar o cargo de Diretor-Geral

Revista Fórum – Uma barreira humana formada por alunos e professores do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet) do Rio de Janeiro foi formada na manhã desta segunda-feira (19), com o objetivo de ocupar a sala da direção geral da instituição. O ato é em protesto contra a nomeação de Maurício Aires Vieira, para ocupar o cargo de Diretor-Geral no Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet).

Vieira é assessor de Abraham Weintraub, ministro de Jair Bolsonaro, em uma clara manobra intervencionista. A indicação foge ao padrão da instituição, que escolhe seus diretores por meio de debate e eleição interna.

“Estamos todos na sala da direção geral. Nosso diretor, Mauricio Motta, eleito por nós, vai entregar o cargo e o interventor está chegando. Está bem tumultuado. É bonito ver a reação, mas ao mesmo tempo muito triste ver essa situação”, conta à Fórum a coordenadora de física do Centro Federal, Elika Takimoto.

“Ninguém conhece esse professor, ele é assessor direto do ministro da Educação, não tem ligação direta com o Cefet. Creio que não conhece os nossos problemas aqui, as nossas demandas, não conhece a história do nosso Cefet”, completa. Maurício Vieira era vice-reitor da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) antes de assumir o cargo de assessor da Secretaria Executiva do Ministério da Educação, em maio deste ano, onde ficou por cerca de três meses.

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RS: ESTUDANTE DE NOVO HAMBURGO VAI REPRESENTAR O BRASIL NA WORLDSKILLS, MAIOR COMPETIÇÃO DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DO MUNDO

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RS: ESTUDANTE DE NOVO HAMBURGO VAI REPRESENTAR O BRASIL NA WORLDSKILLS, MAIOR COMPETIÇÃO DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DO MUNDO

Torneio será disputado em Kazan, na Rússia, entre os dias 22 e 27 de agosto. Gabrielli Kretschmer, de 18 anos, vai competir na modalidade de Logística Internacional

Agência do Rádio | Repórter João Paulo Machado – A jovem Gabrielli Kretschmer, de 18 anos, será uma das 63 representantes do Brasil na WorldSkills, maior competição de educação profissional do mundo. Ela é estudante do SENAI de Novo Hamburgo desde 2016, quando começou o curso de assistente administrativa. Atualmente, estuda Logística Internacional no Instituto SENAI de Tecnologia em Calçado e Logística, no município da região metropolitana de Porto Alegre.

A modalidade de Logística Internacional foi incluída pela primeira vez na competição em 2019 e é uma simulação que envolve diversos aspectos do transporte de cargas de um país para outro, desde a embalagem de produtos até conhecer as legislações existentes em portos. A jovem recebe instruções e precisa realizar atividades em inglês. Segundo ela, a área contém todos os princípios do comércio exterior, setor em que pretende atuar.

“A gente tem que levar a carga de um lugar, de algum país para outro, fazendo um processo da porta de um cliente até a porta de outro cliente. É algo que as pessoas não veem muito no dia a dia, mas que acontece o tempo inteiro. São navios de carga, modais aéreos, rodoviários. A gente trabalha com todo tipo de modais, documentações, embalagens e legislações para fazer desembaraço aduaneiro em cada porto e em cada aeroporto”, conta.

Gabrielli integra a delegação brasileira que disputa o torneio na Rússia a partir desta semana e se junta a estudantes de outros 10 estados e do Distrito Federal. Além dela, outros oito gaúchos competem nas modalidades Tecnologia de Mídia Impressa; Instalações Elétricas Prediais; Robótica Móvel; Cabeleireiro; Cozinha; Jardinagem e Paisagismo; e Manutenção Industrial.

Estreante na competição, a jovem gaúcha disse não temer os desafios que vai enfrentar em um país bem diferente do Brasil. “Eu estou com um conjunto de sentimentos que envolve desde a ansiedade de conhecer o lugar até em como vai ser a prova. Mas eu me sinto muito preparada e confiante para oferecer o meu melhor”, projeta Gabrielli.
Preparação

Os jovens que vão representar o Brasil em Kazan passaram por treinamento que começou em janeiro e durou seis meses. Todos os integrantes realizaram atividades voltadas para a preparação física, técnica e emocional, de acordo com sua modalidade.

Segundo Marcelo Mendonça, líder de equipe da delegação brasileira, a WorldSkills é uma oportunidade para que os jovens brasileiros possam mostrar sua capacidade e passem por experiências que se assemelham ao que é exigido no mercado de trabalho.

“Eles se dando bem em uma competição internacional dessas já é uma grande porta aberta para eles entrarem na indústria ou na área de serviço. Então a gente motiva muito e eles sabem que o momento é esse. Estão muito empolgados e ansiosos para a competição”, pontua.

Realizada a cada dois anos, há mais de seis décadas, a WorldSkills é a maior competição de educação profissional do mundo. Neste ano, o torneio será disputado entre os dias 22 e 27 de agosto em Kazan, na Rússia. Jovens de até 25 anos de países das Américas, Europa, Ásia, África e Pacífico Sul disputam modalidades relacionadas a profissões técnicas da indústria e do setor de serviços. Os competidores precisam demonstrar habilidades individuais e coletivas para responder aos desafios de suas ocupações dentro de padrões internacionais de qualidade.

A melhor participação brasileira na história do campeonato foi em São Paulo, em 2015, com 27 medalhas conquistadas, resultado que rendeu o 1º lugar geral. Em 2017, em Abu Dhabi, a delegação manteve o país no pódio, quando terminou em segundo lugar geral com 15 medalhas.

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UNE QUER DERROTAR FUTURE-SE NAS RUAS E NO CONGRESSO

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UNE QUER DERROTAR FUTURE-SE NAS RUAS E NO CONGRESSO

Brasília: estudantes protestam contra os cortes na Educação e a reforma da Previdência durante o último Congresso da UNE / Sérgio Lima / AFP

Entidade condena viés privatizante” do programa do governo Bolsonaro; greve geral da Educação está marcada para o dia 13

Marcos Hermanson | Brasil de Fato | São Paulo (SP) – A União Nacional dos Estudantes (UNE) detona em agosto uma uma agenda de mobilizações sociais e institucionais para impedir que o governo federal consiga implantar nas universidades o programa Future-se, iniciativa de caráter privatista lançada no mês passado pelo Ministério d Educação (MEC).

Para o presidente da UNE, Iago Montalvão, não há como melhorar o projeto governista.

“A essência dele já ataca a universidade pública, em especial no que diz respeito às organizações sociais (OSs)”, argumenta Montalvão, que é aluno de economia da Universidade de São Paulo.

“O mais importante para nós seria derrotar no Congresso, porque, se a legislação passa, o governo pode começar a pressionar os reitores, fazer chantagem, e até indicar reitores para conseguir implementar o projeto”, diz o presidente Montalvão.

Ele lembra que algumas universidades já estão mobilizando assembleias e reuniões de seus conselhos superiores, e afirma que a UNE pretende seguir nas ruas:

“A nossa estratégia é, primeiro, manter a mobilização nas ruas pela reversão dos cortes [no orçamento federal da Educação], mas também vamos organizar a mobilização junto aos parlamentares e movimentos sociais, sindicatos de professores, associação de reitores. Tudo isso faz parte do processo de organização”, diz ele.

Dúvidas

Apresentado no dia 17 de julho pelo ministro da Educação Abraham Weintraub e ainda cercado de dúvidas, o programa prevê que as OSs poderão atuar na administração direta das universidades, inclusive na gestão de recursos e de pessoal.

Segundo texto publicado no site do MEC, um comitê gestor vai “definir o critério para aceitação das certificações, para fins de participação no processo eleitoral dos reitores”. Para alguns, isso significa que as OSs poderiam até atuar na escolha de reitores e pró-reitores, uma questão que o governo ainda não esclareceu.

Aderindo ao Future-se, as instituições federais também poderiam “emprestar” professores para atuarem nas OSs e ceder a ocupação ou vender o nome de prédios (naming righs) para essas instituições, como já é feito em estádios de futebol.

O anúncio do Future-se gerou reações negativas por parte de reitores e associações de docentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes), e agora será pauta de uma Greve Geral da Educação, convocada para o dia 13 de agosto por entidades do setor, entre elas a UNE.

Perigo

Gabryel Henrici, aluno de história na UFRJ e 1º vice-presidente da UNE, classifica o Future-se como um projeto “perigoso” que pode acabar com a autonomia universitária.

“Você entrega o patrimônio físico, científico, cria um fundo à disposição dos grandes bancos privados e empresas de capital privado e coloca em risco o próprio caráter público das universidades”, afirma.

Para Henrici, o governo cai em contradição ao cortar verbas das universidades e depois apresentar uma “solução” que prevê a captação de recursos privados.

Ele também defende que a pressão no Congresso será importante, mas considera que esta não é a luta fundamental

“Nós precisamos ganhar a sociedade para defender esse projeto de universidade pública com o qual eles tanto querem acabar. Essa pressão é fundamental, porque se só pautar na correlação de forças do Congresso, a tendência é que a gente perca”, conclui ele.

No último domingo, a UNE e outras 186 entidades estudantis lançaram nota contra o Future-se, em que classificam o projeto como uma tentativa velada de privatizar o ensino público.

O texto acusa o governo de “perseguição ideológica e disseminação de ódio e mentiras contra as universidades, institutos federais, escolas, professores e estudantes”.

Confira abaixo o documento na íntegra:

Nota da União Nacional dos Estudantes (UNE), das Uniões Estaduais dos Estudantes (UEEs) e dos diretórios centrais dos estudantes sobre o programa “Future-se”

A cada dia que passa tem ficado mais nítido para a população brasileira que o Governo Bolsonaro tem colocado a Educação no centro de seus ataques. Desde o início do ano nenhuma proposta concreta de política pública para o avanço da educação e a solução dos problemas nessa área foi proposto, pelo contrário, há uma perseguição ideológica, a disseminação de ódio e mentiras contra as universidades, institutos federais, escolas, professores e estudantes, e verbas foram cortadas, tanto do ensino superior quanto do básico.

Mas foi também, a partir do setor da educação, especialmente dos estudantes, que se levantaram as principais manifestações de oposição às medidas do governo e sobretudo em defesa da nossa educação, de mais investimentos, de maior cuidado com nossas instituições, e de um projeto educacional que possa garantir um futuro de desenvolvimento social a nossa nação com formação de qualidade, ciência e tecnologia para um país soberano.

É nesse cenário que recebemos com grande indignação e repudiamos a proposta do programa “Future-se” apresentado pelo Ministério da Educação no último dia 17 de Julho, estamos elaborando estudos mais apurados e detalhados acerca de todos os pontos desse projeto, mas inicialmente podemos destacar alguns motivos em geral que nos levam a essa posição:

1- O governo nem sequer dá respostas sobre o problema imediato das universidades e institutos federais e quer criar um programa para o futuro (qual futuro?). Ao apresentar esse projeto, o MEC pretende jogar para as universidades e institutos federais a responsabilidade de captação via setor privado, reduzindo as responsabilidades do financiamento público, em um momento que essas instituições sofreram um corte de 30% em seu orçamento e correm sérios riscos de terem suas atividades paralisadas no próximo semestre, além de diversas pesquisas que já estão paradas por falta de bolsas para que os estudantes continuem trabalhando.

2- O programa “Future-se” foi construído sem nenhum debate prévio com os setores que compõem a universidade: estudantes, professores, técnico-administrativos, reitores e pró-reitores. Fala-se em discussões com especialistas e empresários, mas em nenhum lugar se explícita quem são. Isso demonstra a que interesses servem a implementação desse projeto, certamente não são os da educação e do povo brasileiro. A criação da consulta virtual é, portanto, uma mera formalidade para apresentar um caráter democrático, mas que é notoriamente uma ferramenta superficial e insuficiente para esse debate, inclusive porque não se explica como será a análise das opiniões coletadas.

3- Não há transparência no debate público do projeto. Na apresentação feita aos reitores, à imprensa e também no documento disponível para a consulta pública, faltam alguns elementos importantes que constam na minuta do projeto de lei do “Future-se” e outros que o próprio ministro só expôs depois através de entrevistas à imprensa, como por exemplo a possibilidade de contratação de professores sem concurso público e por regime da CLT.

4- Um dos principais elementos omitidos é referente às responsabilidades das Organizações Sociais. O que não fica claro nas apresentações do MEC e no documento do “Future-se” é como as OSs poderão exercer atividades fim nas universidades, como contratação de professores, e gestão nas áreas de ensino, pesquisa e extensão, e não só na gestão de serviços como energia, água, limpeza, etc. como se apontava inicialmente. Essa é a principal característica de uma verdadeira terceirização com rumo à privatização da universidade pública brasileira, pois cria uma verdadeira organização paralela dentro das instituições que atende a outros interesses, é o fim da autonomia universitária.

5- A proposta de captação própria é uma entrega das universidades à uma dependência do setor privado e uma desresponsabilização do governo de financiamento público à educação superior. Isso também significa retirar a autonomia didático-científica e administrativa das universidades, para ficarem cada vez mais à mercê de interesses privados que buscarão retornos de seus investimentos, acabando com a base de financiamento público da universidade. O que pode reduzir as áreas de pesquisa, ensino e extensão somente àquelas que agradem mais aos mercados que tenham interesse em financiar determinadas universidades.

6- É o fim da expansão das universidades e pode significar o desaparecimento das federais no interior. Justamente porque uma dependência do setor privado irá forçar a concentração dessas instituições próximas dos grandes centros industriais e financeiros, criando inclusive grandes distorções regionais.

Por fim, entendemos que esse projeto se apresenta com uma máscara de muitas complexidades, entupida de conceitos empresariais, mas vazio de qualquer citação à projetos pedagógicos, categorias científicas e outros elementos fundamentais para uma universidade forte e que sirva ao povo brasileiro. Mas primeiro, por ignorância, repete uma série de atividades que já existem nessas instituições, como os reitores tem insistido, e em segundo propõe descaradamente, embora o ministério tente esconder, um projeto liberal e privatizante para a universidade brasileira, que inverte a lógica que seguimos em toda história da educação brasileira e que tem feito, com investimento público, das nossas universidades federais as melhores do país, responsáveis por grande parte da pesquisa brasileira e referências no mundo todo.

Seguiremos exigindo a devolução imediata das verbas da nossa educação e em defesa da universidade pública e gratuita, com garantia do tripé do ensino, pesquisa e extensão e que tenha um profundo enraizamento com a sociedade na garantia de melhorias para o nosso povo e a soberania do nosso país.

Veja aqui a lista de entidades que assinam.

Edição: João Paulo Soares

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EXISTE OU NÃO UMA MANEIRA CORRETA PARA LIMPAR O BUMBUM? MÉDICO RESPONDE

Uma das questões mais enigmáticas (e silenciosas) da saúde foi respondida por um gastroenterologista americano. Saiba se você está fazendo certo

Você sabe como  limpar o bumbum? Ok, parece uma pergunta idiota, já que você provavelmente está limpando o seu por mais tempo do que você foi capaz de escrever seu próprio nome. Mas se todo mundo faz da forma certa, então por que algumas pessoas já se depararam com calcinhas sujas?

papel higiênico

Se você teve um incidente embaraçoso com essas marcas, é hora de reavaliar sua técnica para a limpeza “debaixo”.

Afinal, existe uma forma certa de limpar o bumbum?

Joel Krachman, chefe de gastroenterologia do AtlantiCare Regional Medical Center, de Nova Jersey (EUA), diz que não há  regras rígidas e rápidas  quando se trata de limpar o bumbum – exceto que não se deve fazer isso com rapidez.

Para cima ou para baixo, papel dobrado ou amontoado… Todos os métodos são válidos. No entanto, ele diz, “algumas pessoas limpam tão vigorosamente que irritam a área anal”. Isso, por sua vez, pode causar condições dolorosas como hemorróidas ou abscessos anais. Quando isso acontece, ele recomenda o uso de lenços umedecidos.

Na verdade, um número crescente de pessoas desistiu do papel higiênico para adotar os  lenços umedecidos . Contudo, se você optar por este tipo de limpeza, certifique-se de dar uma boa olhada nos ingredientes.

Isso porque muitas marcas populares contêm o conservante metilisotiazolinona (MI). “Trata-se de um ingrediente que pode causar reação alérgica em muitas pessoas”, diz o farmacologista Joe Graedon, co-fundador do site de defesa do consumidor The People’s Pharmacy (EUA).

Mas limpar o bumbum com toalhas úmidas é muito mais eficaz do que com papel?

Ryan Meegan, um dos co-criadores da marca de lenços Dude Wipes (EUA), usa essa analogia para explicar: “Se você se sujasse de chocolate no braço ou na mão, não usaria apenas um papel seco, certo?” ele diz. “Você usaria um papel úmido ou lenço umidecido para ter certeza de que absorve toda a substância.” Então, a resposta é sim!

 

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PROFESSORES TEMEM QUE ENEM DIGITAL PREJUDIQUE ESTUDANTES DO CAMPO E DE BAIXA RENDA

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PROFESSORES TEMEM QUE ENEM DIGITAL PREJUDIQUE ESTUDANTES DO CAMPO E DE BAIXA RENDA

Na avaliação de educadora, alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) serão afetados negativamente / Foto: Valdir Rocha

Medida anunciada pelo Ministério da Educação esbarra na falta de inclusão digital vivida pelas escolas públicas do país

Mayara Paixão | Brasil de Fato | São Paulo (SP) – Desde que o Ministério da Educação (MEC), comandado por Abraham Weintraub, divulgou que o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), principal porta de ingresso para as universidades públicas, passará a ser realizado pelo computador nos próximos anos, muitas dúvidas e poucas respostas pairam entre a sociedade e o governo federal.

A medida, publicada no início do mês de julho, promete que, já em 2020, 50 mil estudantes de 15 capitais brasileiras realizarão a prova de forma digital. Em 2026, todos prestarão o ENEM neste modelo e a prova em papel será deixada para trás. No entanto, a mudança parece ignorar a ampla falta de acesso à tecnologia vivida pelas escolas públicas brasileiras.

Na capital do Piauí, Teresina, os professores do Instituto Federal têm conversado nos corredores sobre como preparar os mais de quatro mil alunos de ensino médio para o novo modelo da prova. A instituição, criada em 2008, é um dos poucos aparelhos públicos do estado que conta com acesso à tecnologia, ainda que muito falte para aprimorar.

O professor de biologia e chefe do departamento de formação de professores do campus Teresina Central, Ivanaldo Ribeiro de Moura, durante seis anos dividiu sua rotina vendo as diferenças entre o campo e a cidade piauenses.

“Eu era professor na capital, de escolas particulares, e do estado na zona rural no período noturno. Percebia que lá precisava evoluir muito no aspecto tecnológico de acesso dos alunos a computadores e ao uso das máquinas modernas”, relata.

Ele se diz preocupado com as desvantagens que esse modelo de prova pode acarretar para os estudantes do meio rural caso o cenário desigual não mude nos próximos anos. “Imagine a população que vive na zona rural, não tem muito acesso ás máquinas, e tanto faz se é um público mais jovem e mais adulto, terá dificuldade de realizar essa prova diante de uma tela de computador. Possivelmente, ele vai ter dificuldades e vai sair em desvantagem ao aluno que vive na zona urbana e estuda em escolas particulares bem estruturadas.”

Os números justificam a preocupação do educador. Segundo levantamento divulgado pelo Comitê Gestor da Internet (CGI), em 2018, 43% das escolas rurais do país não possuíam sequer um computador com acesso à internet para uso dos alunos.

A realidade preocupa ainda mais os professores quando acompanhada da informação divulgada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) de que não serão comprados novos equipamentos para a realização do Enem digital.

Quem é que ganha?

Outro grupo afetado por essa realidade são os alunos maiores de 18 anos do Ensino de Jovens e Adultos (EJA), pessoas que não completaram o Ensino Médio e agora estudam para conseguir o diploma que os permite concorrer a uma vaga no ensino superior.

Anelise da Silva é professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e acompanha a EJA. Segundo ela, o Enem digital também ignora a geografia do país e a realidade desses estudantes.

“O que a gente vê o tempo todo é que você chaga no lugar e não consegue acessar [a internet] ou porque o equipamento existe mas está estragado, ou porque tem uma parte do equipamento e não tem a outra ou porque, pasme: você tem as duas partes do equipamento, mas não tem luz elétrica. Isso é algo que acontece e não é nos rincões, mas também na região metropolitana de Belo Horizonte”, descreve Silva.

A professora avalia que é preciso fomentar o uso de equipamentos digitais, mas com responsabilidade. No caso da nova medida e das poucas explicações dadas pelo governo, os estudantes da Educação de Jovens e Adultos seriam atingidos negativamente.

“Como é que os idosos, as pessoas em situação de rua, os caminhoneiros, que estão no trabalho o tempo todo, as pessoas de ocupações urbanas e rurais, os moradores do norte de Minas, que andam quilômetros depois de um dia inteiro de trabalho para chegar na escola da cidade, porque a que tinha no campo foi fechada; como terão condições de acessar o Enem digital?”, questiona. “Fico pensando que quando o governo federal pensou a proposta, ele não pensou em para quem ofertar, mas talvez em quem lucra com ela”, completa Silva.

A reportagem contatou o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que respondeu que não haverá compra de equipamentos para o Enem digital. O instituto afirma que irá “contratar uma empresa aplicadora da prova, que atuará nas unidades de ensino ou com a locação de lugares que tenham infraestrutura.” Desde a sua criação, em 1998, a prova do ENEM tem sido aplicada em papel.

Edição: Rodrigo Chagas e Katarine Flor

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BACO EXU DO BLUES, O HOMEM QUE COLOCOU O RAP BAIANO NO 1º PLANO

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BACO EXU DO BLUES, O HOMEM QUE COLOCOU O RAP BAIANO NO 1º PLANO

PEDRO ALEXANDRE SANCHES – CARTA CAPITAL – O rapper achava que era um rebelde sem causa, mas descobriu depois que tinha várias causas. Um garotinho negro afirma que quer ser médico quando crescer. Um jovem negro corre a toda a velocidade, ofegante, aparentemente fugindo de algo ou de alguém. Entra a voz do jovem rapper baiano Baco Exu do Blues, de 23 anos, que fala em nome de todo um gênero musical, o blues: “Eu sou o primeiro ritmo a formar pretos ricos/ o primeiro ritmo que tornou pretos livres”. Baco Exu do Blues, codinome de Diogo Moncorvo, assume nessas palavras ser o blues (a tristeza?) em pessoa. O curta-metragem Bluesman desenvolve-se por dez minutos, complexo e cheio de alçapões em música e imagem.

O vídeo convenceu o júri do Festival Internacional de Criatividade Cannes Lions, que deu ao rapper o grande prêmio na categoria entretenimento para música, empatado com o vídeo de This Is America, de Childish Gambino, uma cortante discussão sobre o racismo nos Estados Unidos. O jovem artista baiano, autor de versos como tá tudo confuso como meus sonhos eróticos com a Beyoncé/ me desculpa, Jay-Z, queria ser você/ minha vida tá chata, quero enriquecer (de Me Desculpa Jay-Z), ganhou justamente o prêmio que poderia ter sido do casal de estrelas negras formado por Beyoncé e Jay-Z, que concorria com o vídeo de Apeshit, gravado no Museu do Louvre, em Paris. Bluesman é uma cortante discussão sobre o racismo no Brasil. “Esta é a primeira fresta a se abrir”, avalia Baco, enquanto almoça carne no restaurante Sujinho, no Centro de São Paulo, onde tem morado ultimamente. “Você pode conseguir aumentar essa fresta ou deixar ela aí e daqui a pouco ela se fechar”, divaga o jovem que afirma almejar fama e reconhecimento mundiais.

Assista a Bluesman aqui:

VÍDEO:

Diogo é filho de um Brasil que alargou horizontes nas duas primeiras décadas do século XXI e hoje vê a funkeira Anitta fazer sucesso internacional, inclusive participando de uma canção pop no disco de Madonna, e tem filmes nacionais como A Vida Invisível de Eurídice Gusmão (de Karim Aïnouz) e Bacurau (de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles) premiados na mesma cidade europeia onde Baco triunfou. Ele não estava presente, porque não tem passaporte e nunca saiu do Brasil. Quer fazer sucesso mundial em português. Diz que seu diferencial é ter nascido numa família de classe média, de mãe branca professora de literatura e pai negro professor de tai chi chuan (que morreu quando ele tinha 7 anos).

Baco Exu conta que sempre encontra pessoas que veneravam seu pai: “Sempre foi muito isso, em todos os encontros que eu tinha com quem conheceu meu pai. Eram encontros que me pesavam até as costas, porque era como se eu fosse filho do ser humano mais fantástico e correto do mundo, e na época eu não era nada, era só um garoto perdido. Era como se as pessoas me comparassem a essa imagem intocável do cara que salvava vidas e que entregava a vida para os outros de diversas formas”.

A memória pesou-lhe nas costas, mas se fez referencial também. “A autoridade máxima dentro da casa, tanto para as pessoas da família quanto para os discípulos de fora, era um homem negro.” As coisas mudaram quando Diogo começou a frequentar colégios particulares (foi expulso de vários) e viu-se como único ou um dos únicos negros em meio a uma população branca. “Mudou o ambiente e eu sofria de diversos lados, de diversas formas, e não entendia por que estava sofrendo. Digo que acabei virando rebelde sem causa. Mas existia uma causa. Eu só não entendia qual era.” E complementa, apontando o encontro da causa da rebeldia: “Por que eu era tão expulso? Eu não era o problema, mas estava num ambiente onde não era aceito, então, obviamente, os problemas iam cair  em mim. Era a falta de conseguir me comunicar, tá ligado? Eu tentava me comunicar e me embolava. Tinha coisas importantes pra falar, queria que as pessoas entendessem, e as pessoas não entendiam, e eu ficava indignado. E aí comecei a escrever”.

Na reflexão sobre esse difícil lugar no mundo nasceu, primeiro, o poeta, influenciado pela mãe e, em seguida, o rapper, que em 2016 atraiu atenções com um rap provocativo em dupla com o pernambucano Diomedes Chinaski, chamado Sulicídio, em que os parceiros criticavam a supremacia dos rappers do eixo Rio-São Paulo e exigiam respeito aos rappers do Nordeste. A canção rendeu também atenção negativa, devido aos versos homofóbicos pelos quais Baco logo pediu desculpas. Apesar dos percalços, foi um passo a mais para o reconhecimento de toda uma leva de rappersfora do eixo, que hoje somam pernambucanos, baianos (como O Quadro e Larissa Luz), cearenses (Don L, Nego Gallo), mineiros (Djonga) etc.

Filho de mãe branca e pai negro, professores, Baco é agora reverenciado mundialmente

Em 2017, Baco debutou com o álbum Esú, ainda mais provocativo que Sulicídio. O título, Esú, estabelece conexão direta entre Exu e Jesus, na reivindicação de um Jesus Cristo negro que contemple mais que a sempre contemplada sociedade branca. Entre as faixas do disco misturaram-se referências à literatura (Capitães da Areia) e ao cinema (A Pele Que Habito), que o segundo álbum, Bluesman (2018), ampliaria em raps denominados Minotauro de Borges ou Girassóis de Van Gogh. A essa altura, o público de Baco já era uma multidão, em shows sempre lotados nos quais a plateia canta em uníssono seus intrincados versos.

Baco Exu do Blues diferenciou-se dos rappers que o antecederam por encontrar terreno fértil para compreender os porquês do racismo, do machismo, da homofobia. Eu sou dos poucos que não escondem o que sentem, canta em Bluesman. “Quando você fala de racismo, fala de masculinidade tóxica de uma forma visceral. Ela destrói você de diversas formas, nos seus relacionamentos. Eu chutaria que a masculinidade tóxica, para o homem negro, é páreo a páreo com os motivos de depressão, juntamente com o racismo. Por ter depressão e por ter depressão dentro de um relacionamento, fui entendendo isso pouco a pouco, e como me atingia.”

VÍDEO:

Eis outro diferencial do jovem artista: ele gosta de falar abertamente sobre suas dificuldades psicológicas. “Eu vejo como uma parte da minha vida. A depressão é tipo um amigo que você não tem certeza se é seu amigo. Você pensa: esse cara pode me passar a perna qualquer dia, mas é aquela pessoa que é muito próxima e, se passar a perna em você, vai te derrubar de verdade. É uma coisa que me faz escrever muito. Quando tenho minhas crises, meu Deus do céu, viro o poeta maior do mundo”. O encadeamento lógico leva a outras conclusões de grande monta: “Todo jovem negro sofre racismo quando é criança. Se teve um gatilho para a depressão, muito provavelmente a gente já sabe qual foi o motivo desse gatilho.” Toda pessoa negra sofre de depressão, ele acredita.

A fonte do sucesso é outro elemento de incessante indagação para Diogo. Eu sou o preto mais odiado que você vai ver, canta em Kanye West da Bahia (2018). “O dinheiro não legitima a gente. Essa falsa sensação de que o dinheiro compra o respeito das pessoas brancas é mentira”, afirma. “Vai chegar um momento que você não é querido nem pelos seus nem pelos outros. Para os brancos, você está no lugar deles, e as pessoas brancas não querem que você esteja ali. E os negros vão olhar pra você e dizer: ‘Ah, ele agora só está no lugar de branco, ele perdeu a essência dele’. Todo mundo quer chegar no lugar onde você está, e você não mostrar que está mal. E qual é a forma mais prática de você mostrar pras pessoas que não sente a dor? Tendo tênis caro, roupa boa, saindo pra festa cara que todo mundo queria ir. Se você vê, a gente está numa corrida de rato numa rodinha de hamster.”

Minotauro de Borges incide em cheio sobre essas reflexões: Negro correndo da polícia com tênis caro/ tipo Usain Bolt de Puma não paro/ correndo mais que os carros/ eu não fui feito do barro/ pisando no céu enquanto eles se perguntam, ‘como esse negro não cai?’/ dizem que o céu é o limite/ eles se perguntam: ‘por que esse negro não cai?’ 

Diogo segue em frente, equilibrando-se entre os sentimentos negativos e os positivos. No vídeo premiado de Bluesman, o jovem negro corre sem parar, ao longo de 11 minutos. Em nossos pensamentos racistas, nos induzimos a pensar que ele foge da polícia. Na cena final vem a revelação: estava atrasado para a aula de música. Eles querem um preto com arma pra cima/ num clipe na favela gritando ‘cocaína’/ querem que nossa pele seja a pele do crime, canta Bluesman. Baco Exu do Blues entrega o contrário do que o racismo e a depressão esperam dele.

 

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