COMBATE À FOME | “O QUE NOS LEVOU A SAIR DO MAPA DA FOME JÁ FOI DESTRUÍDO”, DIZ EX-MINISTRA DE DILMA

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COMBATE À FOME |
Para Campello, apesar de não parecer, há um claro projeto em curso no país que avança rapidamente. / Pedro Aguiar

Tereza Campello alerta que está em curso um projeto de desconstrução da proteção social no Brasil

Cris Rodrigues | São Paulo (SP) – “É dramática a situação.” Assim a ex-ministra Tereza Campello define os primeiros oito meses de governo de Jair Bolsonaro (PSL). Titular da pasta do Desenvolvimento Social e Combate à Fome durante os governos Dilma Rousseff, a economista avalia que está em curso um processo de desmonte da estrutura de proteção social no Brasil.

Para ela, os ataques aos direitos trabalhistas e à aposentadoria efetivados desde o golpe de 2016 deixam a população pobre mais vulnerável. “As pessoas acham que não existe um projeto em curso, mas existe. O problema é que não é um projeto de construção de uma nação soberana”, afirma.

Em entrevista ao Brasil de Fato, a ex-ministra comenta o avanço da fome e da pobreza, que foram negados por Bolsonaro em julho, quando ele disse que “passar fome no Brasil é uma grande mentira”. “Você passa 15 anos tentando combater a pobreza e rapidamente, três anos depois do golpe, a pobreza está aí de volta nos patamares de 2006”, lamenta.

Para Campello, é justamente nos momentos de crise que o país deveria investir mais nas áreas sociais, como saúde, educação e assistência social, para atender à população mais pobre. Por isso, critica os cortes do governo, especialmente na Educação, e a emenda constitucional que desde 2016 prevê um teto de gastos nessas áreas por 20 anos.

Brasil de Fato: O governo Bolsonaro é a antítese do governo Dilma, do qual você foi ministra. Como você avalia esses primeiros oito meses de governo?

Tereza Campello: Do ponto de vista de quem está preocupado com o país, com construir a nação, é uma tragédia. Eu acho, no entanto, que a gente não pode confundir essa quantidade de despautérios que o presidente fala – por exemplo ofendendo a mulher do presidente francês – com a ideia de que não existe um projeto em curso. É difícil entender, porque quando você fala em projeto geralmente se pensa em um projeto de desenvolvimento. A gente olha e acha que não existe um projeto em curso, mas existe, e ele avança rapidamente.

O problema é que não é um projeto de construção de uma nação soberana, de construção da cidadania, de um país para o seu povo. É um projeto de desconstrução do patrimônio nacional, dos ativos que esse país tem, tanto dos ativos naturais – da riqueza natural, de minérios, do petróleo, da biodiversidade –, como do patrimônio que foi construído às custas do próprio esforço do povo trabalhador. É um projeto de desconstrução do Estado de bem-estar social, que ainda era pequeno.

Então, parece que não é um projeto, mas ele avançou muito, com a desconstrução da legislação trabalhista no Brasil, com o projeto que está em curso de desmonte do sistema de aposentadoria, do SUS, da rede de educação. A situação é dramática.

IFrame

O presidente chegou a dizer que não existe fome no Brasil, justamente em um momento de desemprego elevado e de aumento da pobreza, que já atinge 21% da população, segundo o Banco Mundial. Já se fala inclusive em volta do Brasil ao Mapa da Fome da ONU. Como você avalia essa postura do presidente diante desse cenário?

Esse governo questiona todos os dados e evidências científicas, tudo que é sólido desmancha no ar. Não tem desmatamento, não tem fome… E usa as redes sociais e o WhatsApp para se contrapor a evidências científicas.

A gente passou 500 anos com a população em situação de fome, era uma marca do país, e isso não acontecia porque o Brasil não tinha comida, acontecia apesar de o Brasil ser um grande produtor de alimentos. Nada justificava a população no Brasil viver desnutrida, ter um alto índice de mortalidade infantil causado por desnutrição, mortalidade materna…

O governo Lula colocou a fome como a sua principal agenda, e isso foi um dos principais elementos que nos permitiram sair do Mapa da Fome, em 2014, segundo a própria ONU. O Brasil tinha alimento, mas o povo não tinha renda para acessá-lo. Como você gera renda e cria essa possibilidade de acesso? Criação de 21 milhões de empregos, construção de uma política de salário mínimo, Bolsa Família, inclusão produtiva, fortalecimento da agricultura familiar, merenda escolar, participação da sociedade civil no Consea [Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional].

Tudo isso foi por terra. O combate à fome saiu do nome do Ministério, saiu da agenda, o Consea foi destruído, as políticas de segurança alimentar e nutricional foram eliminadas da agenda e a população pobre saiu do orçamento. E este ano nós vamos ver o aumento de novo da pobreza. Os dados do IBGE mostram que a pobreza no Brasil caiu de 42 milhões de pessoas em 2003 para 14 milhões em 2013. Hoje nós já estamos voltando para um patamar de 22 milhões.

Todos os fatores que levaram o Brasil a sair do Mapa da Fome já foram desconstituídos, então é óbvio que o Brasil está voltando ao Mapa da Fome. Você passa 15 anos tentando combater a pobreza e rapidamente, em três anos depois do golpe, a pobreza está aí de volta nos patamares de 2006. Realmente, é dramática a situação.

Mesmo depois desses anos todos de programas sociais, ainda existe muito preconceito, principalmente com o Bolsa Família. O que você diria para as pessoas que criticam o programa?

Eu acho que, antes de falar sobre o Bolsa Família e sobre as evidências científicas que nós temos mostrado o impacto dele, é importante entender que o que vinha sendo construído no Brasil era uma política complexa, uma ampla rede de proteção social.

Você tinha no Brasil uma rede de proteção baseada em políticas contributivas, uma ampla rede de aposentadoria, seguro desemprego, e você tinha a política de assistência social para o idoso ou à pessoa com deficiência pobre, pelo BPC [Benefício de Prestação Continuada]. Mas as famílias pobres ainda na ativa, com filhos, não tinham cobertura nenhuma. O Bolsa Família vem complementar essa rede.

Agora eles estão acabando com a aposentadoria e com o BPC, e o Bolsa Família não vai segurar isso. Nós vamos ter, nos próximos 10, 20 anos, o impacto do que está sendo essa desorganização da rede de proteção social. Só para ter uma ideia, hoje nós temos em torno de 5 milhões de famílias que não têm nenhuma outra renda, em que os filhos e netos sobrevivem porque o avô ou a avó é aposentado.

Tem muita gente que fala que o Bolsa Família leva as pessoas a pararem de trabalhar. Em média, o benefício é R$ 180 por família; ninguém deixa de trabalhar e ganhar um salário mínimo para ganhar esse valor. Só que ele permite que a família mantenha um padrão alimentar mínimo, que permitiu reduzir em mais de 60% a mortalidade infantil causada por desnutrição e em 48% a mortalidade infantil causada por diarreia.

Hoje a gente tem como comprovar que reduziu hanseníase, tuberculose, mortalidade materna. Nós temos milhares de artigos científicos publicados em revistas internacionais mostrando o impacto de políticas de transferência de renda, o impacto que isso tem na desnutrição. Inclusive eu acho que o Bolsa Família é uma prova importante para a gente se contrapor a esse debate de austeridade fiscal. Cortar a política social, no médio e no longo prazo, é ineficiente. Cortar o Bolsa Família, a aposentadoria e gastos sociais implica em aumento em gastos em saúde.

No caso da educação, vai implicar em perdas para o país, porque reduz produtividade, nós vamos ter uma mão de obra menos qualificada. Esse corte nos gastos sociais que está sendo implantado no Brasil, no médio e no longo prazo, vai ter um custo fiscal altíssimo para o país. Não é eficiente cortar política social.

E educação parece que não é exatamente a prioridade desse governo. Qual é o impacto desse ataque à educação, especialmente ao ensino superior, para o futuro do país e para um projeto de desenvolvimento?

O Brasil fez uma opção ao aceitar a emenda constitucional que estabeleceu um teto nos gastos sociais. Você congela os gastos na educação, na saúde e na assistência social por 20 anos independentemente do que acontecer com o orçamento, do que acontecer no país, e justamente quando a população mais precisa.

É exatamente no momento de crise, em que o desemprego aumenta, que a população mais precisa de suporte na saúde, na educação, na assistência social, e o governo congelou. Qual o impacto disso? É ter um país que se empobrece. O impacto vai ser altíssimo para quem planejava ter um país desenvolvido. O Brasil está voltando, do ponto de vista da sua capacidade produtiva, a ser um país como era na década de 1970: produtor rural, exportador de commodities e importador de produtos industrializados. Estão destruindo a nossa indústria e a capacidade de retomar a indústria, porque não vamos ter trabalhador qualificado. Por isso que eu estava dizendo, isso não é um projeto de país do ponto de vista de quem está pensando em projeto de desenvolvimento. Mas é um projeto para quem está interessado em rapinar o país. O que está acontecendo é uma rapinagem, uma pilhagem, uma pirataria.

A gente vive um momento extremamente grave de ataque ao meio ambiente. As queimadas na Amazônia viraram notícia mundial e mobilizaram até a cúpula do G-7. Como você vê esse projeto de destruição ambiental e como isso afeta a vida das pessoas?

Por mais que a gente tivesse todo um desafio do ponto de vista ambiental, o sinal que o governo dava era de preservar a diversidade. Agora qual é o sinal que o governo dá? Está autorizado qualquer coisa. É por isso que o desmatamento disparou.

Em oito meses do governo Bolsonaro o desmatamento aumentou 80%, nós estamos voltando ao mesmo patamar de 2003, com um ritmo de desmatamento que, ao que tudo indica, coloca em risco a capacidade da Amazônia de se reconstituir. É muito perigoso, é uma tragédia, e a gente continua vendo uma omissão.

Eu acho importante a comunidade internacional não dizer que a Amazônia não é brasileira, porque a Amazônia é nossa, e a gente não pode confundir o alerta internacional sobre o risco que a gente vive com a ideia de que a Amazônia é um bem internacional e que portanto pode deixar de ser brasileiro. É nossa obrigação como brasileiros questionar o que está acontecendo duramente, reverter esse processo, inclusive para preservar a Amazônia como sendo nossa.

O governo Bolsonaro está totalmente alinhado aos Estados Unidos, mas, na crise ambiental envolvendo a Amazônia, o Trump fez um tweet elogiando o presidente francês, Emmanuel Macron, que estava em uma disputa direta com Bolsonaro. Você agora vive fora do país, na Inglaterra. Como o mundo está enxergando o Brasil nesse momento? Qual é o papel do país nessa disputa?

Eu vivi um período em que, quando a gente viajava, era um orgulho ser brasileiro. Você chegava nos lugares e mostrava o seu passaporte e já se abria aquele sorriso. O Brasil se destacava por ter alterado a postura de combate à pobreza, esse ambiente de se colocar como protagonista no debate das mudanças climáticas. Hoje as pessoas não falam mal do Brasil porque existe um carinho muito grande pelo povo, pela cultura, mas elas falam “nossa, que horror o que está acontecendo”. . Todo mundo conhecia o Lula como sendo a pessoa que conseguiu liderar o país no combate à fome, reconheceu a presidenta Dilma como a primeira mulher na Presidência.

Agora é desastroso. Existe um processo de compreensão do que está acontecendo. Hoje as pessoas conseguem entender que o que estava em jogo no Brasil com o golpe que derrubou Dilma era reimplantar um projeto neoliberal e acabar com o protagonismo que o Brasil pretendia como novo player internacional, criando o Brics, se aliando à Rússia, à China, à África do Sul e à Índia. E isso incomodou grandes e poderosos. Eu acho que hoje isso passa a ser compreendido internacionalmente, permitindo inclusive que a gente se reposicione como esquerda dentro do Brasil e consiga explicar para a população o que de fato estava em jogo e o que de fato aconteceu.

Geralmente o começo de um governo é um período que chamam de lua de mel, mas não houve uma melhora nesses primeiros oito meses de governo Bolsonaro e o país continua em crise. Quais são as perspectivas que você vê para a economia do Brasil?

Nenhum dos movimentos feitos por esse governo poderá ter impacto em indicadores econômicos. Para quem achava que a mudança na CLT ia ajudar a retomada da economia, não aconteceu. O que eles estão fazendo é a destruição da rede de proteção social. Todos os sinais são de piora na nossa economia.

Mesmo do ponto de vista do agronegócio, nós estamos destruindo as nossas pontes internacionais, porque a nossa produção vai ser marcada como uma produção que cresce à base do desmatamento e da destruição da biodiversidade, e vai nos levar a perder crescentemente valor econômico.

O desemprego vai continuar aumentando e a perda da renda da população com o aviltamento de salários só vai levar a perder capacidade de mercado interno. Se a população não vai ter como comprar, se aumenta o desemprego e reduz a renda, o que vai mover a economia? Internacionalmente não vai mover e internamente também não.

Eu acho que os sinais são muito graves. E esse é um governo de uma lua de mel marcada pelo ódio. Não teve lua de mel, teve lua de fel. Só é destilado ódio, ódio, ódio, jogando brasileiros contra brasileiros. Isso não vai levar a lugar nenhum, nem do ponto de vista econômico nem do ponto de vista social, infelizmente.

Edição: Luiz Felipe Albuquerque

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SOLIDARIEDADE | NOBEL DA PAZ DE 1980 REAFIRMA QUE LULA MERECE RECEBER O PRÊMIO DESTE ANO

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SOLIDARIEDADE | NOBEL DA PAZ DE 1980 REAFIRMA QUE LULA MERECE RECEBER O PRÊMIO DESTE ANO
Todas as quintas-feiras, Lula recebe, em Curitiba (PR), a visita de amigos e companheiros de militância / Foto: Ricardo Stuckert

Em visita ao ex-presidente, Adolfo Pérez Esquivel e o jornalista Ignácio Ramonet denunciaram prisão política do petista

Emilly Dulce | Brasil de Fato | São Paulo (SP) – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu nesta quinta-feira (12) a visita de duas personalidades internacionais: o argentino agraciado com o Prêmio Nobel da Paz (1980), Adolfo Pérez Esquivel, e o jornalista e sociólogo espanhol Ignacio Ramonet. Após o diálogo particular, os ativistas comunicaram as impressões da visita e os recados de Lula.

Em frente à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba (PR), os intelectuais foram recebidos com festa pelos militantes da Vigília Lula Livre. Esquivel e Ramonet enfatizaram as injustiças contra o ex-presidente que, apesar de tudo – relataram –, segue firme, consciente e disposto, mas também muito preocupado com os rumos do Brasil e da América Latina frente ao avanço do conservadorismo.

Eleições na Argentina, defesa da Amazônia, soberania nacional, mobilização popular e a chamada Vaza Jato foram alguns dos assuntos discutidos com o petista.

A mensagem enviada pelo ex-presidente, segundo Ramonet, é de amor e solidariedade para todo o povo brasileiro. Na avaliação do sociólogo, “Lula é o preso político mais importante e célebre do mundo” e, por isso, a sociedade deve seguir mobilizada em torno de sua causa. Esquivel seguiu na mesma linha.

“Há um eixo fundamental que é: [Lula] quer que reconheçam sua inocência. Ele não é nenhum delinquente, quer sair e ter a cabeça erguida diante de seu povo e do mundo”, afirmou o argentino.

Com a prisão do ex-presidente, em abril de 2018, Esquivel iniciou uma campanha internacional para que Lula seja premiado com o Nobel da Paz. A decisão é gerenciada pelo Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU).

“Dentro de um mês será designado o Prêmio Nobel da Paz. Ainda não sabemos o que pode acontecer, mas seria muito importante que ele seja outorgado ao Lula. Seria o primeiro Prêmio Nobel do Brasil”, argumentou.

Destaque na luta pelos direitos humanos na América Latina, Esquivel qualificou Lula como um “homem que trabalhou pelo povo brasileiro e latino-americano, pela paz e unidade das pátrias”. No encontro, o argentino entregou ao ex-presidente 15 mil cartas, “uma gota d’água das milhões de pessoas que apoiam Lula no Brasil, na América Latina e, obviamente, no mundo”, definiu Ramonet.

Em entrevista ao Brasil de Fato, o sociólogo afirmou que não basta gritar “Lula livre”, mas compreender o pano fundo e a trama judicial que colocaram um inocente no cárcere. Segundo Ramonet, umas das mensagens de Lula é que as revelações do The Intercept Brasil precisam ser mais difundidas por seus apoiadores, já que parte da mídia comercial tem boicotado ou sequer falado das mensagens divulgadas.

“Uma parte da justiça brasileira, em particular os juízes que o acusaram, não vai desistir da intenção de mantê-lo preso. Por conseguinte, não foi demonstrada nenhuma culpabilidade dele até agora. Lula é inocente, tem a força da inocência e pensa que é mais livre dentro dessa prisão do que seus próprios juízes, que têm a consciência evidentemente marcada pelo fato de tê-lo acusado sendo inocente. Quiseram retirá-lo da vida política para que não fosse um oponente aos políticos conservadores”, argumentou Ramonet.

“Lula é um homem que tem a estatura de [Nelson] Mandela ou [Mahatma] Gandhi na história. Não se pode imaginar Mandela ou Gandhi na prisão. Ele [Lula] tem a estatura dos mais importantes presidentes da América Latina. É o melhor presidente da história do Brasil, não sou eu que estou dizendo isso, são os historiadores. É um homem que já está na história. Como se pode tirá-lo da história para colocá-lo na prisão? É ridículo, uma tristeza”, finalizou.

Edição: Rodrigo Chagas

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POR QUAL ESTATAL VOCÊ DEVE LUTAR SEGUNDO SEU SIGNO?

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POR QUAL ESTATAL VOCÊ DEVE LUTAR SEGUNDO SEU SIGNO?

“Consta nos astros, nos búzios, eu li num anúncio…”

Reconta Aí – O signo não mente: para preservar o patrimônio público todo mundo tem que ir à luta! E o momento é agora.

Áries

Áries é filho de Marte, o deus da guerra. Por isso você vai lutar contra a privatização de programas estratégicos na defesa da soberania do Brasil. Estará nas primeiras fileiras dos atos contra a privatização da: Amazônia Azul Tecnologias de Defesa S.A. , Indústria de Material Bélico do Brasil , Indústrias Nucleares do Brasil S.A.

Touro

Touro é terra, e quer trabalho e pão pra todo mundo. Se for taurino ou taurina, organize-se para defender a segurança alimentar de brasileiras e brasileiros. Estão em risco a Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB, CEASAMINAS, CEAGESP e CASEMG.

Gêmeos

Geminianos são falantes, comunicativos e, geralmente, são dois em um. Por isso você terá que se desdobrar na luta para salvar do liberalismo econômicos os Correios e a EBC.

Câncer

Sensíveis e amorosos, os cancerianos não vão aceitar de jeito nenhum a privatização dos Bancos Públicos. Se você é canceriano sabe muito bem que os bancos públicos são responsáveis pelo desenvolvimento social e econômico do Brasil. Sabemos que você se emociona ao ouvir as histórias de superação que os bancários têm pra contar. Mas, nem por isso, deixará de ir pra rua com camisetas da Caixa, do Banco do Brasil, do Banco do Nordeste, do Banco da Amazônia, do Banco do Espírito Santo , Banco de Brasília e do Banrisul!

Leão

Os leoninos são vaidosos e precisam de luz pra mostrar o quanto são brilhantes. Assim, vão armar a juba contra as privatizações do setor energético. Se você é leonino vai se juntar aos servidores, vai rugir contra as privatizações da ELETRONORTE, ELETROSUL, ELETROPAR, ELETROBRAS, ELETROACRE e BVENERGIA.

Virgem

É organizadinho e gosta de ver tudo certo, nos mínimos detalhes. Não vai deixar, de jeito nenhum, as empresas gestoras do Estado brasileiro na mão de empresas privadas. Se você é virginiano vai pintar o rosto meticulosamente, e vai organizar o jogral na manifestação contra a privatização da DATAPREV e do SERPRO.

Libra

Librianos são ponderados, razoáveis e justos. Por isso, jamais se omitirão quando o governo tentar privatizar empresas que farão o Brasil lucrar no futuro. Você vai de mãos dadas contra a privatização da Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP, Nuclebrás Equipamentos Pesados S.A. – NUCLEP e Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada S.A. – CEITEC.

Escorpião

Escorpianos são profundos e por isso não querem ver os minérios brasileiros explorados por estrangeiros. Por isso você vai se juntar com os petroleiros na defesa da Petrobras e do Pré-sal!

Sagitário

Se tem gente que gosta de botar o pé na estrada é o sagitariano. Cabeça boa e curiosidade pra descobrir que o mundo só funcionam se houver transporte público de qualidade. Por isso você vai botar a mochila nas costas e rodar o Brasil defendendo a Companhia Brasileira de Trens Urbanos – CBTU.

Capricórnio

Metódico e sério, o capricorniano vai à luta! E como todo signo de terra, ele gosta de dinheiro. Por isso, não há dúvida alguma que se depender de você, a Casa da Moeda jamais será vendida! Você vai se juntar aos moedeiros e defender um dos maiores parques gráficos da América Latina!

Aquário

A cabeça dos aquarianos está anos-luz à frente do presente. Então você não vai ter dúvida alguma de se juntar a cientistas e quilombolas e lutar contra a cessão da Base de Alcântara!

Peixes

Piscianos são o signo de água, da emoção pura, assim como as águas do Brasil já foram! Você não vai entregar de mão beijada as maiores hidrelétricas do país e vai nadar contra a corrente para salvar dos tubarões a CHESF e FURNAS.

 

POLÍTICA | EMPRESAS PÚBLICAS DE SANEAMENTO ENTRAM NA MIRA DO SETOR PRIVADO

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POLÍTICA | EMPRESAS PÚBLICAS DE SANEAMENTO ENTRAM NA MIRA DO SETOR PRIVADO
FOTO: ARQUIVO/AGÊNCIA BRASIL

Em tramitação na Câmara dos Deputados, novo marco regulatório quer abrir gestão de companhias estatais para investidores

Carta Capital – Victor Ohana | VICTOR OHANA – Dentre os 71 milhões de domicílios que existem no Brasil, 47,1 milhões possuem escoamento do esgoto. Ou seja, quase 24 milhões de casas não possuem o serviço. Para 12 milhões de residências falta coleta de lixo e, em 10 milhões, não há distribuição de água. As informações são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD), divulgada em 2018.

Diante do panorama excludente do saneamento básico, o Congresso Nacional aposta em colocar a solução dos problemas nas mãos dos empresários. Em 21 de agosto, a Câmara dos Deputados inaugurou uma comissão especial para discutir o novo marco regulatório do saneamento, que altera lei sobre o tema, em vigor desde 2007. Hoje, o serviço de tratamento de água, esgoto e coleta de lixo é oferecido majoritariamente por companhias estatais. A ideia é abrir caminho para a exploração dessas atividades pela iniciativa privada.

Segundo o relator da proposta na Câmara, o deputado federal Geninho Zuliani (DEM-SP), a meta é ter o projeto finalizado na primeira quinzena de outubro. A matéria precisa ser aprovada em plenário. O parlamentar trabalha com o texto já apresentado pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).

A entrega ao setor privado, porém, já está em curso no País. Em 2018, o então presidente Michel Temer (MDB) lançou medida provisória com teor semelhante, mas caducou. Foi na gestão dele que se deu andamento à privatização da Companhia Estadual de Águas e Esgotos no Rio de Janeiro (Cedae), gigante do saneamento no Rio de Janeiro. Em São Paulo, o governo de João Doria (PSDB) apontou para 2020 como o ano da privatização da Companhia de Saneamento Básico do Estado (Sabesp). O governo mineiro, de Romeu Zema (Novo), também quer apresentar proposta de privatização da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) como projeto para o ano que vem.

No Rio Grande do Sul, de Eduardo Leite (PSDB), a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) anunciou edital com a maior parceria público-privada (PPP) da história do estado. A empresa vencedora deve receber 9,5 bilhões de reais de pagamento da Corsan, ao longo de 35 anos de contrato. No Rio Grande do Norte, também há previsão de abertura do capital privado da Companhia de Águas e Esgotos (Caern), conforme declaração da governadora Fátima Bezerra (PT) a CartaCapital: “Não vamos privatizar a nossa companhia de águas, no entanto, está em estudo uma parceria público-privada que abriria a capitalização da Caern, mas sem o estado perder o controle acionário”.

Ideia sobre eficiência do setor privado é falácia, diz Federação

A Federação Nacional dos Urbanitários (FNU), que reúne 41 entidades no ramo de saneamento, meio ambiente, gás e energia, é contrária ao projeto em tramitação na Câmara. A organização defende, em primeiro lugar, que a política macroeconômica do Estado favoreça investimentos em empresas públicas, estratégia enfraquecida após o congelamento de gastos imposto pela aprovação da Emenda à Constituição nº 95. A FNU também pede a retomada do Conselho Nacional das Cidades, extinto pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) em decreto de abril. Outra proposta é reverter impostos de PIS/Cofins para um fundo nacional de universalização do saneamento.

Entrevistado por CartaCapital, o assessor de saneamento da Federação e mestre em Planejamento e Gestão do Território pela Universidade Federal do ABC, Edson Aparecido, considera um equívoco responsabilizar a Lei Nacional do Saneamento pela falta de universalização e argumenta que, na lógica do lucro, não há garantias de que áreas mais pobres, como as rurais, sejam de fato atendidas.

“A possibilidade de ter um avanço do saneamento exatamente nas áreas que hoje são mais rentáveis, nas áreas onde você já tem um índice elevado de atendimento, é muito mais provável do que a garantia de que o setor privado vá atuar onde precisa atuar, que é nas áreas mais pobres, nas periferias das cidades e nas rurais, onde efetivamente mora a população que tem menos condição de pagar. Por óbvio, a lógica do lucro vai dificultar o acesso das pessoas mais pobres aos serviços”, comenta Aparecido.

Na avaliação do especialista, também secretário executivo no Observatório Nacional dos Direitos à Água e ao Saneamento (Ondas), o setor privado diz que vai resolver o problema dos investimentos, mas, na verdade, vai buscar recursos na Caixa Econômica Federal e no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Os fundos oriundos genuinamente das empresas serão pequenos, ele considera.

O movimento de privatizações de empresas de saneamento já data dos anos 1990, explica Aparecido. O especialista cita o caso da empresa Águas de Manaus, na capital do estado do Amazonas, privatizada nos anos 2000. Um ranking divulgado este ano pelo Instituto Trata Brasil coloca o município como o terceiro pior entre as 100 maiores cidades brasileiras. Segundo a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, a tarifa aumentou e o tratamento de esgoto cobre somente 10% das moradias. O Estado, então, voltou a colocar recursos para que não haja colapso no atendimento.

“Manaus é um bom exemplo de que é uma falácia essa ideia de que o setor privado é mais eficiente que o setor público. Você ainda tem 600 mil pessoas na capital sem água. O setor privado coleta apenas 30% dos esgotos e só 10% recebem algum tipo de tratamento”, argumenta. “O setor privado sempre esteve presente na atuação do saneamento, seja nas obras, na elaboração de projetos. O que eles querem agora é controlar a gestão das empresas, o setor comercial, de contratações, cuidar da gestão como um todo.”

Projeto não estimulará investimentos, afirma especialista

Engenheiro civil e ex-secretário de Saneamento do Ministério das Cidades entre 2003 e 2007, Abelardo de Oliveira Filho também criticou o projeto, em audiência pública realizada na Câmara, em 3 de setembro. Ele cita o estudo do Instituto Transnacional (TNI), que aponta a tendência mundial de reestatização de serviços públicos de fornecimento de água e esgoto.

Referenciado também pelo relator Organização das Nações Unidas (ONU), o brasileiro Leo Heller, o levantamento aponta que, nas últimas duas décadas, houve ao menos 180 casos de reestatização do fornecimento de água e esgoto em 35 países, como França, Alemanha, Argentina, Bolívia e Moçambique. O fracasso internacional da entrega do saneamento ao setor privado se deu principalmente por falhas das empresas em atingir metas de universalização, problemas com transparência e dificuldade de monitoramento do serviço pelo setor público.

“O projeto não vai resolver os problemas de saneamento básico no País, ao contrário, vai desestruturar completamente o setor, destruindo tudo o que foi conquistado nos últimos 15 anos”, afirma Oliveira Filho. “Destrói as empresas públicas estaduais de saneamento básico e institucionaliza o monopólio privado do setor na prestação dos serviços públicos. Não vai estimular os investimentos, ao contrário, levará à precarização na maior parte dos municípios. A expectativa de aportes elevadíssimos de recursos privados carece de sustentação em fatos e dados.”

“Você não vai ter ampliação do investimento em regiões remotas porque não vai ser o interesse das empresas”, diz parlamentar.

Para deputado do PSOL, proposta é “mentirosa”

Para o deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ), a proposta na Câmara é “mentirosa”. O parlamentar é um dos 28 titulares que compõem a comissão especial. Braga afirma que um dos piores impactos do novo marco regulatório será o aumento nas contas de água. Ele cita o caso de sua cidade natal, Nova Friburgo, que teve a sua companhia de água privatizada e, segundo o parlamentar, resultou no aumento das tarifas. Ele diz que acredita nas condições de barrar o projeto, pela mobilização popular.

“As empresas privadas avaliam o bem água como uma mercadoria que precisa ser explorada. A partir dessa avaliação, elas visam maximizar seus lucros e não dar atendimento a regiões remotas onde investimentos maiores precisariam ser realizados”, diz. “A proposta dele [do relator Geninho Zuliani] é mentirosa, você não vai ter ampliação significativa do investimento em regiões remotas porque esse não vai ser interesse das empresas. Primeiro, porque elas não vão querer ampliar a realização de investimentos. Segundo, que ela não quer fazer em áreas remotas porque depois elas terão que dar manutenção ao investimento realizado.”

Procurada, a empresa Águas de Nova Friburgo afirma que o reajuste tarifário está previsto no contrato de concessão firmado em 2009. Segundo a companhia, “o reajuste é baseado em uma fórmula paramétrica, que reflete as variações dos principais insumos da concessionária, como a tarifa de energia elétrica, por exemplo, que subiu, em 2019, cerca de 10%”. A empresa afirma que, antigamente, a cidade não contava com coleta e tratamento de esgoto. Hoje, diz nota, 99% da população tem água tratada e 95%, esgoto tratado.

No entanto, em 2018, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) recebeu uma série de denúncias sobre irregularidades na coleta de esgoto pela empresa. De acordo com as denúncias, disse a Alerj, a companhia usaria a rede pluvial no lugar de uma rede específica. Segundo a Comissão de Defesa do Meio Ambiente (CDMA) da Casa, a utilização da rede pluvial é um grave descumprimento do contrato de concessão. A Alerj e a Câmara Municipal de Nova Friburgo foram questionadas sobre a resolução dos casos, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria.


O DEPUTADO FEDERAL GENINHO ZULIANI (DEM-SP), RELATOR DA PROPOSTA. (FOTO: LUIS MACEDO/CÂMARA DOS DEPUTADOS)

Relator: declaração de Braga é “irresponsável”

Ouvido por CartaCapital, o deputado Geninho Zuliani (DEM-SP), relator do projeto, classificou a avaliação de Glauber Braga como “precoce e irresponsável”.

“Eu não sei de onde que o deputado tirou essas informações, é muito precoce e irresponsável a declaração de que vai haver aumento. Porque, no fundo, as agências reguladoras funcionam para isso. A taxa de água e esgoto tem que ser justa e módica. Então, afirmar isso, nessa altura do campeonato, sem o relatório pronto, é, no mínimo, irresponsável”, diz Zuliani. “A situação que está, com 100 milhões de brasileiros sem acesso a esgoto, talvez não preocupe a ele, mas preocupa muito a mim.”

Segundo o parlamentar, a classificação do sistema tarifário é um dos pontos mais controversos, pois há casas que não têm hidrômetro e, portanto, municípios que não têm como medir o consumo acabam aplicando taxas mínimas ou dispensando a cobrança. Ele pediu um levantamento a entidades para investigar esses casos. Zuliani argumenta que, para universalizar o saneamento básico, é preciso investir 600 bilhões de reais. A ideia é basear o projeto em três pilares: investimento, concorrência e regulação.

“Esse dinheiro todo que nós precisamos só pode vir do mercado financeiro, do setor privado, de financiamentos, isso é um fato. Sobre a concorrência, é ela que traz o melhor preço, a qualidade e a eficiência. E no caso da regulação, não existe bom contrato de concessão, nem de programa, nem de terceirização ou PPP, se não tiver uma agência reguladora que vai fiscalizar os contratos e tomar decisões sobre a questão tarifária.”

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EDUCAÇÃO | MIGUEL ARROYO: ESCOLAS MILITARIZADAS CRIMINALIZAM INFÂNCIAS POPULARES

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EDUCAÇÃO | MIGUEL ARROYO: ESCOLAS MILITARIZADAS CRIMINALIZAM INFÂNCIAS POPULARES

Para o sociólogo e educador espanhol, governo aposta em discurso de medo, exceção e ameaça para questionar as escolas públicas

Carta Capital | Ana Luiza Basilio | ANA LUIZA BASILIO – O anúncio do Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares apresentado pelo governo Bolsonaro no início do mês se apoia em duas narrativas principais: a de que, sob gestão dos militares, as escolas conseguirão resolver a questão da violência – motivo pelo qual o plano considera aplicar a militarização em territórios mais vulneráveis – e ainda produzir melhores resultados educacionais, a partir de mais regras e disciplinas no ambiente escolar.

As justificativas não convencem o sociólogo e educador espanhol Miguel Arroyo, que vê o modelo com preocupação. Para ele, há perguntas anteriores que devem ser feitas antes de substituir educadores e gestores educacionais por militares e levar a lógica da militarização a esses espaços. “Por que há violência nas escolas e qual ideal de educação temos?”, questiona.

Em entrevista a CartaCapital, o educador explica o modelo de escolas militarizadas como parte integrante de uma política vigente de “criminalização dos mais pobres”, que questiona as estruturas democráticas, sobretudo as escolas, a partir de um discurso de medo, exceção e ameaça.

CartaCapital: Como o senhor avalia a narrativa de que a militarização das escolas resolverá a questão da violência dos territórios mais vulneráveis?

Miguel Arroyo: Em relação à violência, eu destacaria o seguinte: quais escolas serão militarizadas? Não serão as privadas, mas as públicas, locais que recebem as infâncias populares das favelas, dos campos. Digo isso para que pensemos: que infâncias estão sendo pensadas como violentas? Estamos em um momento no qual se busca a criminalização das infâncias e adolescências populares, bem como dos movimentos sociais de luta por terra, teto, transporte, o que eu chamo de política criminalizante dos pobres. E isso me soa de uma brutalidade assustadora. Portanto, o que ao meu ver legitima a criação das escolas militarizadas é o discurso de que as infâncias são criminosas, mas não todas, só as populares, ou se criminaliza quem está na escolas privadas? Esse é um alerta político muito sério, mas que não acontece de agora.

Nós já vínhamos há uns dois, três anos, pressionando pelo rebaixamento da idade penal. E a ideia que sustenta essa tese é a mesma, a de que as infâncias e as adolescências são violentas. Então, em vez de entregá-las às escolas públicas, aos educadores e educadoras, se defendia encaminhá-las à justiça penal, um jeito de tirar esses estudantes da escola e colocá-los na prisão.

A novidade agora é que não vamos mais tirá-los das escolas, mas colocar as próprias unidades sob o controle da justiça penal, sob a lógica policial, militar, o que eu vejo com extrema gravidade. A ideia da militarização representa a condenação da infância e seu controle pela polícia. Preferem isso a colocar uma questão fundamental: por que há violência nas escolas?

Não são as infâncias que são violentas. Elas são sim violentadas pela sociedade, pela pobreza, pelas favelas, pelas desigualdades sociais, de raça, gênero e isso chega às escolas. Mas preferem ocultar isso, a olhar com seriedade. As infâncias são vítimas de violência e respondem da mesma maneira às violações que sofrem.

CC: Do ponto de vista da política educacional e do direito à educação, o que a militarização das escolas representa?

MA: Está se decretando a falência da escola pública e não só dela enquanto instituição, mas também dos educadores e dos gestores educacionais formados para atuar na área. Ao substituí-los por militares, damos um recado claro: vocês fracassaram. E isso é muito sério. A tentativa é de desconstruir toda a luta por uma educação pública de qualidade, tal como podemos ver com os ataques direcionado às universidades federais, às Ciências Humanas. Na visão dos conservadores, a escola pública foi longe demais e precisa ser combatida. E quando se destrói a ideia da escola pública, rui juntamente a ideia do Estado público, de direitos, de cidadanias. É uma radicalidade terrível.

Outra questão que destaco ainda sobre o direito à educação é a tentativa de validar a chamada educação familiar, no bojo da destruição do Estado. Veja, o que se diz é que quem deve educar é a família ou que, caso ela não tenha condições, que seja o Estado militar. Nesse contexto, a criança não é pensada como cidadã, como um sujeito de direitos que tem, entre eles, a garantia a uma educação pública de qualidade fornecida pelo Estado.

E essa lógica será perpetrada pela escola militarizada, porque lá as crianças não são cidadãs. O militar não é símbolo do Estado cidadão, mas da soberania da pátria, da regra, da disciplina, do controle, da ordem. Todo Estado militarizado é anti cidadania, ou seja, não se afirma enquanto símbolo dos direitos cidadãos.

CC: O senhor acredita que esse modelo, baseado em regras rígidas, pode impactar no desenvolvimento das crianças e adolescentes?

MA: Uma das formas das infâncias e adolescências se afirmarem é por meio de seus corpos. Eu costumo dizer que não temos corpos, somos corpos. Trazemos nele a marca do nosso tempo, o corpo é a marca de cada tempo, da identidade. O que eu quero dizer com isso é que quando o menino usa boné, ou quando meninos e meninas optam por usar adereços ou até por um tipo de corte de cabelo eles estão simbolizando suas identidades, os corpos passam a ser afirmação de identidade, entende? E aí vem a escola militar e diz: basta! Não existe cabelo, corpo, nada. Isso é terrível, porque não reconhece as mudanças e as lutas que se acumulam na infância, adolescência e juventude.

Até o século passado, tínhamos uma visão limitada sobre essas etapas da vida, agindo com crianças, adolescentes e jovens como se não tivessem direito à fala. A palavra infância, aliás, no seu sentido etimológico denota um sentido negativo, não-falante. A adolescência chamávamos de ‘aborrescência’ e a juventude era vista como uma fase preparatória para a vida adulta. Mas isso mudou radicalmente. Hoje a infância tem voz, a adolescência é o tempo da afirmação, da orientação sexual, das experiências que culminam, por exemplo, em tantos movimentos organizados pela juventude. E se estamos diante de novos tempos para esses indivíduos, a educação também deve ser outra. Ao tentar destruir identidades de corpos, raça, gênero, se destrói a identidade humana e isso não é pedagógico.

CC: Ainda assim, há famílias que endossam o modelo da militarização, justamente por acreditarem na solução da violência. Como o senhor vê esse movimento?

MA: Essa alternativa é validada à medida em que se cria e se fortalece a política de estado de medo, exceção e ameaça. Imagine só uma mãe que precisa trabalhar e deixar o filho na escola, claro que ela vai querer segurança. A questão é que se criou um clima de que a escola não dá conta de seu papel e isso é totalmente intencional e político, faz com que essas mulheres não confiem mais nas escolas e cedam à proposta da militarização. Veja, o caminho democrático é sempre melhor, mas quando se cria a ideia de que na democracia não há segurança, acabamos flertando com as regras, com as posturas ditatoriais e isso também chega às escolas.

CC: Outro ponto defendido pelo governo é a possibilidade das escolas militarizadas produzirem melhores resultados. Qual a análise do senhor?

MA: Quais resultados? As escolas militares têm bons resultados para formar militares, mas não são os melhores exemplos para formar cidadãos com valores de democracia, de igualdade, valores políticos. Eu me formei em uma escola militar na Espanha, na época do general Francisco Franco, e eu não aprendi nada disso, mas sim a marchar, bater continência, a ter meu corpo militarizado. Essa é a boa educação que queremos? Temos que nos colocar essa pergunta. Os resultados serão bons de acordo com o que temos como ideal, entende? E o que vejo é uma luta por uma educação para a cidadania, pautada em valores, em respeito aos outros, fraterna e participativa.

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GLENN PUBLICA VÍDEO E DIZ QUE DINHEIRO NAS CONTAS DE DAVID MIRANDA É DELE E TEM ORIGEM

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GLENN PUBLICA VÍDEO E DIZ QUE DINHEIRO NAS CONTAS DE DAVID MIRANDA É DELE E TEM ORIGEM

Brasil247 – Ele acusa diretamente O Globo e o Ministério Público de terem feito um expediente para fazer com que eles se assemelhem a Flávio Bolsonaro e a Fabrício Queiroz. Segundo Glenn, o dinheiro se refere à remuneração anual de mais de meio milhão de dólares que recebe, entre pagamentos da entidade mantenedora do The Intercept, nos EUA, e de direitos autorais de vários best-sellers que escreveu.

Por Fernando Brito, editor do Tijolaço – O jornalista Gleen Greenwald publicou um vídeo dizendo que vai mostrar todas as provas de que o dinheiro que entrou na conta de seu marido David Miranda, vem do que ele ganha – e já avisa que é muito – e pode ser comprovado.

Ele acusa diretamente O Globo e o Ministério Público de terem feito um expediente para fazer com que eles se assemelhem a Flávio Bolsonaro e a Fabrício Queiroz.

Ele se refere à remuneração anual de mais de meio milhão de dólares que recebe, entre pagamentos da entidade mantenedora do The Intercept, nos EUA, e de direitos autorais de vários best-sellers que escreveu.

O dinheiro, diz ele, é transferido para a conta de David no Brasil. “Eu não vejo a hora de o juiz analisar todas as evidências”.

Assista o vídeo e veja como o jogo sujo do MP tem tudo para tornar-se um imenso “tiro no pé”.

CONTRAPONTO | DEPUTADOS PREPARAM RELATÓRIO PARA ONU SOBRE VIOLAÇÃO DE DIREITOS NO BRASIL DESDE 2017

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CONTRAPONTO | DEPUTADOS PREPARAM RELATÓRIO PARA ONU SOBRE VIOLAÇÃO DE DIREITOS NO BRASIL DESDE 2017
Câmara do Conselho de Direitos Humanos em Genebra, na Suíça / Foto: Elma Okic/ONU

Documento abordará temas como aumento da desigualdade, violência no campo e crise ambiental

Cristiane Sampaio | Brasil de Fato | Brasília (DF) – Parlamentares da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados estarão em Genebra, na Suíça, entre os dias 16 e 20 deste mês, para apresentar um relatório sobre violações de direitos no Brasil. O documento será entregue durante a Revisão Periódica Universal (RPU) da Organização das Nações Unidas (ONU), ocasião em que os Estados-membros avaliam uns aos outros e emitem uma série de recomendações para os governos para garantir o acesso a direitos.

O relatório foi produzido a partir de audiências públicas que ouviram diferentes segmentos sociais e especialistas na área de direitos humanos. Segundo o presidente da CDHM, Helder Salomão (PT-ES), a ideia de ir a Genebra é fazer um contraponto à presidência de Jair Bolsonaro (PSL).

O último ciclo de revisão relativo ao Brasil, ocorrido em 2017, resultou em 246 recomendações. O país havia se comprometido a apresentar este ano um relatório de meio período sobre o que foi cumprido, mas o governo Bolsonaro comunicou à CDHM que não irá entregar o documento.

“Isso não impede que a sociedade civil e a Comissão de Direitos Humanos apresentem. Acho que o governo avaliou o que é menos desgastante para ele neste momento, porque a situação do Brasil está crítica. As críticas foram muitas durante as audiências e a sociedade brasileira. As entidades nacionais e internacionais que acompanham o que acontece no Brasil estão com muita preocupação”, enfatiza Salomão.

O relatório, que está em fase de finalização, tratará de 25 subtemas da área de direitos humanos. Entre eles, estão o aumento da desigualdade social, a violência no campo, a situação do sistema carcerário, a violência contra a mulher e os ataques ao meio ambiente.

Integrante da CDHM, a deputada Erika Kokay (PT-DF) afirma que também serão abordados pontos como ajuste fiscal, extinção dos mecanismos de controle e participação social, saúde mental e HIV/Aids, genocídio da juventude negra e libertação do ex-presidente Lula (PT).

“Esperamos que a ONU possa se utilizar dos instrumentos que lhe são pertinentes para dizer que há uma preocupação e que há necessidade de impor uma correção dos rumos que está tomando o Brasil”, acrescenta.

A agenda dos parlamentares da CDHM na Suíça ainda não foi fechada, mas deverá incluir também outras iniciativas, como, por exemplo, uma reunião com a relatoria especial sobre os direitos dos povos indígenas na ONU, Victoria Tauli-Corpuz.

 

Edição: Daniel Giovanaz

DEPOIS DE JEAN WYLLYS EM HARVARD, MÁRCIA TIBURI É A NOVA PROFESSORA DA UNIVERSIDADE PARIS 8

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DEPOIS DE JEAN WYLLYS EM HARVARD, MÁRCIA TIBURI É A NOVA PROFESSORA DA UNIVERSIDADE PARIS 8

Revista Fórum  Marcia |Tiburi (Foto: Divulgação) – Márcia Tiburi, que deixou o Brasil após ameaças de morte, dará aulas de “capitalização do ridículo na política mundial” e usará como exemplo os governos Donald Trump, nos EUA, e Jair Bolsonaro.

A escritora e filósofa Márcia Tiburi, que deixou o Brasil por ameaças de morte após entrar na disputa para governador no Rio em 2018, é a mais nova professora da Universidade Paris 8, instituição pública francesa ligada à Université Paris Lumières, associação que é referência em ensino de pesquisa e cultura no mundo. A informação foi divulgada dias após Jean Wyllys, que também deixou o Brasil sob ameaças, anunciar que dará aulas em Harvard.

Márcia Tiburi dará aulas de “capitalização do ridículo na política mundial”. “Evidentemente vou usar o caso do [presidente americano Donald] Trump e [do presidente Jair] Bolsonaro, os exemplos mais radicais”, disse à Mônia Bergamo, na edição desta quinta-feira (12) da Folha de S.Paulo. As aulas começam em setembro.

Casa invadida
Mária Tiburi deixou o Brasil tempos depois de ter a casa invadida em dezembro do ano passado. Em entrevista em maio, ela disse sofrer ameaças de morte e não poder mais ir na esquina. “Eu amo o meu país, nunca pensei em sair do Brasil na minha vida, é muito triste e difícil ter que sair do meu país por não me sentir segura e não poder fazer mais o meu trabalho”, disse à época.

Em março, da prisão, o ex-presidente Lula enviou Carta à Márcia Tiburi. “É a coragem e o pensamento que nos fazem livres”, escreveu Lula.

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PESQUISA MOSTRA QUE TRUMP PERDE PARA QUALQUER UM DOS CANDIDATOS DEMOCRATAS NAS ELEIÇÕES 2020

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PESQUISA MOSTRA QUE TRUMP PERDE PARA QUALQUER UM DOS CANDIDATOS DEMOCRATAS NAS ELEIÇÕES 2020
Bolsonaro, durante Reunião bilateral com Trump (Foto: Alan Santos / PR)

Revista Fórum | (Reprodução/ABCNews) – Principal aposta democrata, Joe Biden aumentou de 14 para 16 pontos a vantagem sobre Trump desde a pesquisa anterior, realizada em Julho. O democrata tem 54% das intenções de votos, contra 38% do republicano.

Candidato à reeleição nas eleições 2020 nos EUA, o republicano Donald Trump fica atrás de todos os candidatos democratas em pesquisa realizada pela Langer Research Associates, divulgada nesta quarta-feira (11) pela rede ABCNews.

Principal candidato democrata, Joe Biden aumentou de 14 para 16 pontos a vantagem sobre Trump desde a pesquisa anterior, realizada em Julho. Biden tem 54% das intenções de votos, contra 38% de Trump.

Bernie Sanders dobrou, de seis para 12 pontos, a diferença em uma eleição contra Trump. Caso a eleição fosse hoje, Sanders teria 53% dos votos contra 40% do republicano.

A Langer Research Associates ainda testou outros três nomes democratas – Elizabeth Warren, Kamala Harris e Pete Buttigieg – nas simulações. Todos vencem Trump com diferenças de 11, 10 e 6 pontos, respectivamente.

(Reprodução/ABCNews)

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MINISTRO DO MEIO AMBIENTE VAI SE REUNIR NOS EUA COM GRUPO QUE REJEITA AQUECIMENTO GLOBAL

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MINISTRO DO MEIO AMBIENTE VAI SE REUNIR NOS EUA COM GRUPO QUE REJEITA AQUECIMENTO GLOBAL

Folha Uol | Patrícia Campos Mello –  Um dia antes de milhares de jovens tomarem as ruas de Nova York para protestar contra a inação dos governos frente às mudanças climáticas, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, deve se reunir em Washington com representantes de um dos principais grupos de opositores do consenso científico a respeito do aquecimento global.

Na agenda preliminar do ministro do Meio Ambiente, obtida pela Folha, consta uma reunião com representantes do Competitive Enterprise Institute (CEI) na sede da Agência de Proteção Ambiental dos EUA, em Washington, na quinta-feira da semana que vem (19).

O CEI se descreve como uma entidade que “questiona o alarmismo sobre o aquecimento global” e “opõe-se ao Acordo do Clima de Paris, protocolo de Kyoto” e a regulação para reduzir a emissão de gases do efeito estufa.

Em uma de suas últimas ações, o instituto fez uma petição à Nasa pedindo que a agência espacial tire de seu website um texto dizendo que 97% dos cientistas concordam que os humanos são responsáveis pelo aquecimento global.

No dia seguinte ao encontro de Salles agendados com o CEI, começa em Nova York a Climate Week, maior foro de discussões sobre medidas para combater as mudanças climáticas.

Além de protestos organizados por jovens como a ativista Greta Thunberg, sueca de 16 anos que velejou da Europa até Nova York, acontece a Cúpula da ONU para Ação Climática, dia 23, às margens da Assembleia geral da ONU. O presidente Jair Bolsonaro (PSL) deve fazer o discurso de abertura da assembleia, no dia 24, seguindo a praxe —a assembleia é sempre inaugurada pelo discurso do presidente do Brasil.

O diretor de ambiente do CEI, Myron Ebell, que deve participar da reunião com Salles, é chamado pela imprensa de “o inimigo número 1 da comunidade das mudanças climáticas” —algo que o próprio instituto cita na biografia de Ebell. Em julho, o Itamaraty já havia enviado um diplomata para participar de uma conferência com Ebell e outros lobistas contrários às ações ambientais.

Na agenda de Salles constam também, no mesmo dia, reunião com o administrador da Agência de Proteção Ambiental, Andrew Wheeler, almoço com o presidente da US Chamber of Commerce e entrevistas para a Bloomberg e Reuters.

Procurada por telefone e e-mail, a assessoria do ministério não retornou a pedidos de informação da reportagem.

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