Para ele, Bolsonaro está muito mais próximo do diabo do que Deus. Teólogo diz que distorções bíblicas são a base do fundamentalismo religioso e são responsáveis pela imagem de um Deus opressor e moralista
O pastor e teólogo Ariovaldo Ramos, convidado do programa Um Tom de resistência, na TV 247, condenou a política genocida de Jair Bolsonaro, a qual ele classifica como anticristã, e criticou duramente os líderes religiosos cristãos que usam o nome de Deus para dar sustentação política a um governo que tem a barbárie como ideologia. Ele definiu que “quem acredita nesse governo não tem nada a ver com Deus”.
O programa desta semana abordou o tema cristianismo e resistência. Coordenador nacional da Frente de Evangélicos Pelo Estado de Direito e crítico ferrenho da teologia da prosperidade, o pastor associou a ideologia neopentecostal ao capitalismo. “A teologia da prosperidade é charlatã, desde o princípio. É uma pregação que nasce para sustentar o capitalismo. Não tem base bíblica”, afirmou.
Perguntado se a Bíblia poderia apresentar contradições ou adulterações textuais produzidas pelo homem, o pastor descartou essa possibilidade afirmando que “a Bíblia é um livro de fé. A literatura bíblica é sapiencial que está na esfera da mística e da revelação. Tudo o que foi revelado está escrito lá. Mas tudo que está escrito não é do jeito que a gente aprendeu a ler”. Ele acrescentou que distorções bíblicas são a base do fundamentalismo religioso e são responsáveis pela imagem de um Deus opressor e moralista.
A banalização da “unção” de Deus sobre líderes religiosos e políticos foi outro tema discutido na entrevista. Primeiro, o pastor explicou que “ungido” é o título de Cristo. “A palavra ‘cristo’ significa ungido. Então, na fé cristã só tem um ser humano ungido. Jesus Cristo e ninguém mais. Todos os outros estão aqui para proclamar a unção do cristo e não para assumi-la”, explicou. Ele também negou que Deus possa ter qualquer interferência na política ungindo alguém para ocupar um cargo público. “Deus não unge ninguém para ser presidente, nem para ser pastor ou padre. Deus só ungiu Jesus. Tudo o mais, são decisões humanas”.
Sobre o atual governo, que foi eleito sobre o mote da defesa da família, da fé cristã e de Deus acima de tudo, pastor Ariovaldo considera que Jair Bolsonaro está muito mais próximo do diabo do que Deus. “Em 500 e poucos dias de governo, ele já mentiu mais de 1.500 vezes. Ou seja, ele mente mais de duas vezes por dia. Não dá para relacionar a mentira com Deus. Mentira é coisa do diabo”, disse o pastor.