Ora, quando se diz que “as Forças Armadas não aceitam a tomada de Poder por outro Poder ao arrepio das leis”, é preciso indagar: a que instância cabe a arbitragem do que é e do que não é legal? Segundo a Constituição, essa atribuição é do Poder Judiciário. Segundo a nota, não! Esse arbítrio seria das Forças Armadas.
Ao afirmar o repúdio a “julgamentos políticos”, hipótese, então, em que as Forças Armadas não cumpririam “ordens absurdas”, deve-se fazer a pergunta óbvia: quem decide se um julgamento é ou não político? Ora, segundo a nota, também essa decisão seria… das Forças Armadas.
Assim, a nota sustenta que os militares só cumprem decisões que consideram razoáveis, venham de onde vierem, e só aceitam sentenças judiciais com as quais concordem.
As palavras fazem sentido: Bolsonaro, Mourão e Azevedo e Silva estão dizendo que as Forças Armadas atuam como juízes dos juízes e dos demais Poderes. Logo, volta a conversa mole, estúpida e falaciosa de que constituem o Poder Moderador.
E de que instrumento dispõem para fazer valer essa autoridade que a Constituição não lhes dá? Ora, elas têm armas.
O trio deixa para a história uma nota inequivocamente golpista e ameaçadora, que reitera o afirmação de Luiz Eduardo Ramos em entrevista à “Veja”: não haverá golpe — desde que o TSE vote direito…