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Protesto ocorre em frente à sede da empresa transnacional alemã no bairro do Socorro, em São Paulo / Foto: Brasil de Fato
Ação faz parte de mobilização mundial em defesa do clima, da Amazônia e contra os agrotóxicos
Lu Sudré | Brasil de Fato | São Paulo (SP) – Mais de 200 mulheres sem-terra protestam em frente à sede nacional da empresa Bayer, no bairro do Socorro, zona sul de São Paulo (SP), na manhã desta sexta-feira (20). A ação faz parte da Greve Global pelo Clima, mobilização mundial que pede ações de combate às mudanças climáticas e em defesa do meio ambiente.
As integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) denunciam uma “política antiambiental” implementada por Jair Bolsonaro (PSL), que liberou 325 agrotóxicos em apenas nove meses. Segundo elas, as posturas do presidente favorecem o monopólio e o faturamento de empresas multinacionais como a Bayer, que produz agrotóxicos por meio de sua divisão agrícola CropScience.
Em 2018, a empresa alemã concluiu a compra da agroquímica Monsanto por US$ 66 bilhões (o equivalente a R$ 275 bilhões), tornando-se assim o maior grupo de agrotóxicos e transgênicos do mundo. As vendas da empresa totalizaram 39,5 bilhões de euros no mesmo ano.
As sem-terra alertam que, apesar da tentativa da Bayer de se desvincular da Monsanto, alvo de críticas e protestos contundentes de ativistas ambientais nas últimas décadas – a exemplo do Dia Mundial de Luta Contra a Monsanto –, a Bayer preservou os produtos tóxicos da empresa americano.
Entre eles, o RoundUp, nome comercial do glifosato, um dos venenos mais nocivos ao meio ambiente e aos seres humanos. A substância foi considerada “provavelmente cancerígena” pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2015.
Histórico
Em agosto de 2018, o ex-jardineiro Dewayne Johnson ganhou um processo contra a Monsanto em San Francisco, nos Estados Unidos, por ter desenvolvido um tipo de câncer devido ao uso contínuo do RondUp.
A empresa, que já havia iniciado processo de venda para a Bayer, também perdeu outras duas vezes na Justiça após processos de um aposentado e de um casal que também desenvolveram câncer devido ao uso do veneno. Desde então, o número de processos contra a agroquímica só cresce e já são 18,4 mil somente nos EUA.
Apesar disso, no primeiro trimestre deste ano, a Bayer Monsanto teve um aumento de 45% em seu lucro líquido. Segundo o indicador financeiro Ebtida, o equivalente a U$ 4,67 bilhões.
Enquanto o Brasil aprova agrotóxicos em ritmo acelerado, mesmo a Alemanha, país de origem da Bayer, anunciou no começo do mês de setembro que pretende proibir o uso do componente glifosato a partir do fim de 2023.
Veneno
Neste contexto de estímulo à produção e à comercialização de agrotóxicos, a perspectiva brasileira é sombria: o contato direto com venenos agrícolas foi apontado como razão da morte de 700 pessoas por ano na última década, segundo informações do DataSUS.
De 2008 a 2017, por exemplo, a soma de óbitos devido a efeitos tóxicos, envenenamento ou exposição ambiental, autointoxicação intencional, entre outros fatores, chegou a 7.267. Mais de 70% das mortes foram registradas nas regiões Nordeste e Sudeste do Brasil.
Destruição
As queimadas na Amazônia também estão no centro dos protestos da Greve Mundial do Clima, que ocorrem nesta sexta-feira (20). Somente no mês de agosto, a região amazônica foi degradada por 30.901 focos ativos de fogo, um aumento de 196% em relação a julho.
No mesmo período, foram mais de 51 mil focos de incêndio em todo o país, um aumento de 128% em relação a agosto de 2018. Conforme análise disponibilizada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), perseguido por Bolsonaro, estes são os maiores números registrados desde 2010.
Semanas após o início das queimadas, é inegável que a origem das chamas se deram devido à ação predatória de ruralistas em regiões fronteiriças ao território amazônico. Diversos autores das queimadas sinalizam que foram estimulados por discursos de Bolsonaro.
Em busca de expansão das áreas de pastagem ou para plantações de soja, os produtores organizaram o Dia do Fogo, em 10 de agosto. Neste dia, em Novo Progresso, no Pará, aconteceram 124 focos de queimadas. No dia seguinte, foram 203 casos, que se espalharam por outras regiões nos dias seguintes. Várias cidades, mesmo na região sudeste do país, foram cobertas por densas nuvens de fumaça.
Bancada ruralista
Em nota, o MST classifica Bolsonaro como “patrono do veneno” e denuncia que a acelerada liberação de agrotóxicos “demonstra total descaso com a saúde da população e a preservação do meio ambiente”.
“Vale ressaltar que empresas como Bayer, Basf, BRF, JBS, Bunge, Syngenta e Cargill compõem as associações do agronegócio brasileiras, cujos recursos custeiam o Instituto Pensar Agro (IPA), por sua vez o motor logístico da FPA [Frente Parlamentar Agropecuária], o principal braço da bancada ruralista”, frisa o texto.
Publicada em maio deste ano, reportagem do De Olho Nos Ruralistas, observatório do agronegócio no Brasil, mostrou que, além de ser líder mundial na comercialização de sementes transgênicas e pesticidas, a alemã Bayer também é responsável pelo financiamento de entidades como Sindirações, Sindiveg, Sindan, Andef e Abag, que compõem o IPA.
“Nosso compromisso é com a terra, com a defesa da saúde e com a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. A Bayer Monsanto é veneno. A Bayer Monsanto é morte”, enfatiza o MST. Confira nota na íntegra.
A reportagem do Brasil de Fato entrou em contato com a assessoria de imprensa da Bayer para receber posicionamento sobre o protesto das mulheres sem-terra, mas ainda não obteve retorno.
Mulheres sem-terra formaram uma pilha humana para representar o projeto de envenenamento da população causado pelo agronegócio e por multinacionais como a Bayer (Foto: Brasil de Fato)
Edição: Vivian Fernandes
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