HISTÓRIA | DONAS DE CASA PROTAGONIZARAM A LUTA QUE LEVOU À CRIAÇÃO DO SUS

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HISTÓRIA | DONAS DE CASA PROTAGONIZARAM A LUTA QUE LEVOU À CRIAÇÃO DO SUS
Antes do SUS, crianças morriam de sarampo, catapora, paralisia infantil e outras doenças curáveis, relata liderança do movimento popular. / Foto: Reprodução/Documentário “MSZL – Um povo de luta”

Vinte e nove anos após o decreto da lei orgânica da saúde, relembre o movimento popular que conquistou sua existência

Mayara Paixão | Brasil de Fato | São Paulo (SP) – Há 29 anos, o Sistema Único de Saúde (SUS) foi instituído por meio da Lei 8.080. Em 19 de setembro de 1990, a primeira Lei Orgânica do SUS regulamentou alguns dos princípios colocados na recém-decretada Constituição Cidadã. Entre eles estavam a universalidade do acesso, o direito de participação da comunidade na gestão do sistema e o financiamento compartilhado entre União, estados e municípios.

Em um Brasil que respirava os ares da redemocratização, a lei foi interpretada como uma conquista do direito à saúde pública e de qualidade. Nos anos que se seguiram, o SUS, hoje alvo de políticas de austeridade, se torna uma referência internacional.

No aniversário da Lei 8.080, o Brasil de Fato relembra como era a realidade brasileira antes do SUS, através da voz e memória de brasileiras e brasileiros que participam do Movimento de Saúde da Zona Leste de São Paulo, um dos grupos ativos na mobilização para que o sistema público e gratuito fosse implementado.

Confira:

Em meio aos anos de chumbo

A década era 1970. A Presidência da República estava ocupada pelo general Ernesto Geisel, quarto presidente da ditadura militar brasileira (1964-1985). Os indicadores sociais marcavam números preocupantes. A mortalidade infantil, por exemplo, era de 120 óbitos para cada mil nascimentos.

A saúde, um direito básico, pouco acessível para a massa da população. O SUS ainda não existia. O atendimento gratuito só estava assegurado para aqueles e aquelas que tinham carteira assinada e contribuíam com a Previdência Social.

A parcela que não se enquadrava neste perfil tinha que recorrer a consultas pagas ou aos poucos equipamentos de saúde municipais e estaduais, nos quais apenas mulheres e crianças pequenas tinham atendimento garantido.

Em São Paulo, a situação chamou a atenção dos moradores da zona Leste do estado, em especial das donas de casa. No bairro Jardim Nordeste, localizado no distrito de Arthur Alvim, foi onde iniciou uma mobilização importante.

“Aquela época apareceu uma mortalidade infantil com o sarampo matando todo mundo, a catapora, paralisia infantil (…) As crianças já nasciam da barriga da mãe cegas ou aleijadas”. O depoimento é de Justelita dos Santos, hoje com 80 anos.

Uma das muitas nordestinas que migrou para a região no século 20 em busca de melhores condições de vida. Justelita chegou no Jardim Nordeste quando as ruas de asfalto eram poucas e o horizonte preenchido por plantações de eucalipto. Os equipamentos de saúde eram escassos. A região não contava com nenhum posto de saúde.

Enquanto os maridos trabalhavam longas horas do dia como operários das fábricas do ABC paulista, a difícil realidade levou Justelita e outras donas de casa a se organizar.


Passeata realizada pelos movimentos organizados nos bairros. | Foto: Arquivo Pessoal Claudia Afonso.

“Juntou dez donas de casa daqui do Jardim Nordeste. Nós começamos a pensar e chorar, porque não sabíamos que jeito dar naquilo. Todo dia, sentávamos as dez donas de casa para discutir o problema da saúde pública, o que podia fazer. E a gente não tinha nada, nós não sabíamos o que era saúde pública, não sabíamos como discutir os problemas”, relembra a liderança.

Com medo da repressão policial, elas se reuniam escondidas em uma pequena sala nos fundos da Paróquia Santa Luzia. Poucos meses depois da primeira reunião, as donas de casa conheceram outro grupo que viria a contribuir para a luta por mais equipamentos públicos na região, formado por médicos e jovens estudantes de medicina.

Em plena ditadura militar, os profissionais se dirigiram para a periferia da zona Leste. A ideia era conversar com a população. O objetivo era conscientizar as pessoas sobre os fatores que influenciavam no adoecimento, a falta de equipamentos públicos e a desigualdade.

Entre estes jovens estudantes estava o sul-mato-grossense Carlos Neder, estudante de medicina na Universidade de São Paulo (USP). Ativo no movimento estudantil, ele e outros colegas usavam a medicina como um instrumento popular para conscientizar o povo sobre o direito à saúde.

Eles se organizam, e nós também

O período também marcou o ressurgimento de um novo sindicalismo. As greves do ABC foram um dos fatores que influenciaram os moradores do bairro do Jardim Nordeste, formado por uma grande massa de operários.

“É interessante observar que, à medida em que foi avançando a organização da luta do operariado no ABC, havia a necessidade de uma organização em âmbito popular”, conta Carlos Neder, médico sanitarista, mestre em Saúde Pública pela Unicamp e ex-deputado estadual.

“A maioria dos operários era formada por homens e mulheres que se sentiam incumbidas de garantir a sobrevivência, educação, o mínimo necessário para que a família pudesse ter a sua subsistência garantida”, completa.

A união das donas de casa e dos jovens médicos possibilitou a descoberta de uma brecha na legislação. A lei do estado de São Paulo assegurava a existência de conselhos de saúde para fiscalizar a atuação do poder público. A população, que utilizava os serviços, estava, no entanto, excluída desses espaços. Só faziam parte figuras como delegados, padres e freiras.

“Dialogando com a população, entendíamos que as pessoas que usavam o serviço é que deveriam representar a população no conselho. E que ele deveria ser eleito de tal maneira que fosse conhecido por toda a comunidade, e a comunidade soubesse a quem recorrer quando da apresentação de uma queixa, ou uma sugestão”, explica Neder.

Iniciava-se ali uma luta para que o povo pudesse estar representado nos conselhos de Saúde.


Inauguração da unidade de saúde do Jardim Nordeste, a primeira a ser construída após pressão popular. | Foto: Arquivo Pessoal Claudia Afonso.

As representantes do povo

Era 1978. Ano em que o Brasil completava 14 anos sob o comando dos militares. Sob o olhar da repressão, da censura e de eleições indiretas, 12 donas de casa mostraram que a organização popular pode surtir efeito.

“Não havia eleição. Elas tiraram suas próprias fotografias. Fizeram as urnas em caixas de sapato. Fizeram as cédulas. Frequentavam as feiras, igrejas e locais públicos para colher votos da população para que elas fossem eleitas. E foram eleitas com uma votação consagradora de 8.146 pessoas”, relembra o sanitarista.

Após a eleição, uma grande caravana formada por 60 ônibus cheios de moradores da zona Leste tomou a frente da Secretaria de Saúde do estado. Foi sob pressão popular que as conselheiras foram reconhecidas oficialmente pelo poder público. A partir daí, os conselhos passaram a ser eleitos pelo povo.

Ao pensar no período, Justelita destaca a importância da mobilização das donas de casa. “Às vezes, o povo pensa que é o governo, o político, mas não foi, não. É um projeto feito por nós. Doze donas de casa semianalfabetas ainda por cima. Bem poucas sabiam ler e escrever”.

Oito anos depois, com a restauração da democracia, a Constituição brasileira de 1988 tomaria como base as demandas dos movimentos regionais para estabelecer o Sistema Único de Saúde (SUS), universal e gratuito.

Edição: Katarine Flor e Cecília Figueiredo

APÓS MORTE DE DELATOR, AÉCIO VOLTA AOS TTS: “TEM QUE SER ALGUÉM QUE A GENTE MATA ANTES”

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APÓS MORTE DE DELATOR, AÉCIO VOLTA AOS TTS: “TEM QUE SER ALGUÉM QUE A GENTE MATA ANTES”

Além de Aécio, outro que reapareceu entre os assuntos mais comentados foi o jornalista Diogo Mainardi, de O Antagonista, também citado na delação de Valladares

Revista Fórum – Revista Fórum – Aécio Neves (Foto: Lula Marques) – O deputado federal, Aécio Neves (PSDB-MG), foi parar nos assuntos principais do Twitter, na manhã desta quarta-feira (18), com a frase “tem que ser alguém que a gente mata antes de fazer a delação”. Os trend topics começaram a disparar depois que ex-vice-presidente da Odebrecht, Henrique Valladares, foi encontrado morto nesta terça-feira em sua residência no Rio de Janeiro.

Além de Aécio, outro que reapareceu entre os assuntos mais comentados foi o jornalista Diogo Mainardi, de O Antagonista, também citado na delação de Valladares.

Em delação premiada, Valladares acusou o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG), o PSDB, o ex-ministro Edison Lobão, o jornalista Diego Mainardi, e o empresário Alexandre Accioly, dono das academias BodyTech, de terem recebido propina da empreiteira.

As causas da morte não foram divulgadas. Valladares ocupou por vários anos a vice-presidência da empreiteira e era tido como um dos principais delatores da Lava Jato.

Em delação premiada realizada em 2017, Valladares afirmou que, pessoalmente, pagou cerca de R$ 50 milhões ao deputado federal Aécio Neves, disse que distribui dinheiro a representantes da CUT de Porto Velho e a lideranças indígenas e ainda apontou envolvimento de Diego Mainardi e de Accioly em esquema de Aécio.

A divulgação da denúncia por parte da Fórum gerou, inclusive, um processo por parte do jornalista do Antagonista, que pedia R$ 100 mil pela reprodução do conteúdo da delação. Ele também produziu um vídeo com ataques ao veículo.

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EMPRESÁRIOS JÁ DESEMBARCAM DO GOVERNO: “SLOGAN FOI BRASIL ACIMA DE TUDO. NÃO BOLSONARO ACIMA DE TUDO”

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EMPRESÁRIOS JÁ DESEMBARCAM DO GOVERNO: “SLOGAN FOI BRASIL ACIMA DE TUDO. NÃO BOLSONARO ACIMA DE TUDO”
Empresários do grupo Brasil 200 (Foto: Divulgação)

Sobrinho do dono da Riachuelo, que preside Instituto Brasil 200, diz que parte da direita está “fazendo malabarismos intelectuais para defender posturas que não são corretas”

Revista Fórum – Presidente do Instituto Brasil 200, organização formada por empresários ainda durante a campanha presidencial, Gabriel Kanner anunciou um racha no movimento e sinaliza que alguns dos empresários já estão desembarcando do apoio ao governo Jair Bolsonaro.

“O slogan da campanha presidencial foi “Brasil acima de tudo. Não Bolsonaro acima de tudo”, disse Kanner, que é sobrinho de Flávio Rocha, da Riachuelo, segundo informações da coluna de Mônica Bergamo, na edição desta quarta-feira (18) da Folha de S.Paulo.

Líder do movimento que reúne nomes como o dono da Havan, Luciano Hang, e chegou a contratar lobistas para seu escritório em Brasília para defender propostas de Bolsonaro, como a reforma da Previdência, Kanner diz que parte da direita está “fazendo malabarismos intelectuais para defender posturas que não são corretas”.

Em maio, ainda encantados com a proximidade do poder, o grupo de empresários apoiou as manifestações favoráveis a Bolsonaro. “As pautas mudaram. As manifestações serão em defesa da reforma da Previdência, da MP 870, que é a reforma administrativa, e do pacote anticrime do ministro Sérgio Moro. Nós também defendemos isso e, por isso, decidimos ir para as ruas”, disse à época Kanner.

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COM MEDO DE PROTESTOS, BOLSONARO DEVE FUGIR DA ONU

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COM MEDO DE PROTESTOS, BOLSONARO DEVE FUGIR DA ONU

O contexto internacional não é o dos mais favoráveis ao presidente, por conta das polêmicas envolvendo as queimadas e desmatamento na Amazônia

Revista Fórum – Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil – Assessores do Palácio do Planalto admitem que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) pode não comparecer ao evento na próxima semana da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, por medo das possibilidades de protestos. O contexto internacional não é o dos mais favoráveis ao presidente, por conta das polêmicas envolvendo as queimadas e desmatamento na Amazônia, assim como as intrigas com o presidente da França, Emmanuel Macron. Informação é de Jussara Soares e Gustavo Maia, do O Globo, publicada nesta terça-feira (17).

No entanto, há semanas Bolsonaro insiste em passar a ideia aos jornalistas de que estaria na ONU a todo custo. O presidente voltou a mencionar nesta segunda-feira (16) que compareceria ao evento “nem que fosse em uma cadeira de rodas”, porém, oficialmente, o Planalto alega que Bolsonaro possui restrições médicas e pode não viajar.

Na noite desta terça (17), o porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, também admitiu que a ida de Bolsonaro à ONU está “sob análise”. Segundo ele, o aval só será dado após Bolsonaro ser submetido a uma nova avaliação da equipe médica na sexta-feira pela manhã. Ainda, familiares, auxiliares e bolsonaristas fazem campanha para que o presidente não se arrisque no evento, em argumento pautado por questões de saúde.

A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) iniciou uma mobilização nas redes sociais pedindo para o presidente não participar da Assembleia Geral das Nações Unidas para, segundo ela, se recuperar com calma da cirurgia que fez. Zambelli disse que a ONU pode esperar e lançou a tag #BolsonaroFiqueCuideSe.

“A gente precisa do presidente oito anos na presidência, com saúde, cuidando do Brasil. Mas, para cuidar do Brasil, ele precisa cuidar dele primeiro. Então queria fazer uma campanha para o presidente não ir para a ONU. […] A ONU vai ter todos os outros anos. Ele se cuida, ele se prepara e vai ano que vem. […] Prioridade sua, presidente, é cuidar do Brasil e a gente precisa do senhor por oito anos”, disse a deputada em vídeo postado no Twitter, já contando com reeleição de Bolsonaro.

 

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SEGURANÇAS SUSPEITOS DE CHICOTEAREM JOVEM EM MERCADO VIRAM RÉUS EM SP

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SEGURANÇAS SUSPEITOS DE CHICOTEAREM JOVEM EM MERCADO VIRAM RÉUS EM SP

Wanderley Preite Sobrinho Do UOL, em São Paulo – O Tribunal de Justiça de São Paulo acolheu ontem a denúncia do Ministério Público e tornou réus os seguranças David de Oliveira Fernandes e Valdir Bispo, acusados de chicotear e filmar um adolescente de 17 anos em um supermercado na zona sul de São Paulo. Eles vão responder pelos crimes de tortura, cárcere privado e divulgação de nudez.

A tortura é um crime hediondo e ocorre quando alguém é submetido, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental. A pena é de dois a oito anos de reclusão. A pena para divulgação de vídeo, foto ou nudez é de reclusão de um a cinco anos, enquanto o cárcere privado pode render de um a três anos de prisão. Se eles forem condenados por todos os crimes, as penas somadas podem variar de quatro a 16 anos de prisão.

Em depoimento prestado à polícia, Santos informou que falaria apenas em juízo. Já Fernandes disse, num primeiro momento, que havia filmado a tortura; depois, recuou e mudou seu depoimento.

Na segunda-feira (16), a Justiça já havia determinado a prisão preventiva (sem prazo) dos seguranças. A defesa da dupla tem agora dez dias para apresentar por escrito uma defesa prévia. A primeira audiência foi marcada para o dia 11 de outubro.

O espancamento ocorreu numa manhã do mês de agosto dentro de uma unidade da rede de supermercados Ricoy, na zona sul da capital paulista. O vídeo da sessão de tortura parou nas redes sociais e forçou a polícia a abrir um inquérito em 2 de setembro —um mês depois do ocorrido.

A tortura

Um vídeo de 40 segundos mostra as agressões. O adolescente é chicoteado nas costas e se contorce de dor a cada novo golpe recebido. O jovem está com as calças abaixadas.

Na terceira chibatada desferida, um dos agressores ri e manda a vítima se virar. “Não quebrou nada”, diz numa referência ao fato de o espancamento não ter causado dano à estrutura óssea da vítima.

A sessão de tortura avança, e um dos agressores avisa. “Vai tomar mais uma [chibatada] para a gente não te matar. Você vai voltar?”

No boletim que relata a ocorrência, o adolescente diz que foi chicoteado porque furtou barras de chocolates do estabelecimento. Com problemas decorrentes do consumo de crack, o jovem foi acolhido em um abrigo da prefeitura da capital.

O rapaz diz que permaneceu ali por cerca de 40 minutos e que foi agredido o tempo todo. “Depois de apanhar bastante, foi liberado pelos agressores e não quis registrar boletim de ocorrência pois temia pela sua vida”, diz a polícia.

Em nota, o supermercado se disse chocado com o fato e afirmou que os seguranças, funcionários de uma empresa terceirizada, não mais prestam serviço ao supermercado.

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BRASIL | CIRO GOMES DIZ QUE PT E BOLSONARO SÃO “FACES DA MESMA MOEDA”

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BRASIL | CIRO GOMES DIZ QUE PT E BOLSONARO SÃO “FACES DA MESMA MOEDA”
Ciro Gomes: candidato do PDT em 2018 enxerga desculpas de Frota como “gesto nobre” (Andre Coelho/Bloomberg)

Além de criticar o PT e o ex-presidente Lula, Ciro também aceitou as desculpas de Frota

Por Estadão Conteúdo – Candidato à Presidência pelo PDT derrotado em 2018, o ex-ministro Ciro Gomes disse que o “campo progressista” perderá as próximas três ou quatro eleições caso o que ele chama de “burocracia do PT” mantenha uma estratégia em “nome da direção imperial” do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“O PT são vários PTs. E é importante que você entenda essa premissa para o raciocínio que vou elaborar. Esta burocracia do PT e a estratégia que essa burocracia está fazendo em nome da direção imperial do Lula é certeza da derrota do campo progressista no Brasil agora e pelas próximas três ou quatro eleições”, afirmou o ex-ministro, que veio a Belo Horizonte participar da filiação ao PDT da professora Duda Salabert, a primeira transexual a se candidatar ao Senado, nas eleições do ano passado – ela estava sem partido desde que desfiliou do PSOL.

Ele disse que os governos do PT geraram “corrupção generalizada” e crise econômica.

Como mostrou a Coluna do Estadão, cresceu entre políticos e analistas a percepção que Ciro decidiu radicalizar o discurso de defesa da democracia e romper com a “frente de esquerda”. “Agora ninguém mais vai enganar ninguém porque o que eu tinha para dar de engolir, de ter que fazer silêncio em nome da unidade, eles acabaram de liquidar.”

O ex-ministro afirmou que PT e Bolsonaro são “rigorosamente as duas faces da mesma moeda”. Ele cita que Bolsonaro, diante da queda de sua popularidade, afirma que, se errar, o “PT pode voltar”. “No mesmo dia, a Gleisi Hoffmann, que interpreta esse PT corrupto e incompetente, que é uma pau mandado do Lula, sem nenhum tipo de atitude crítica, diz que vai ser ‘nós contra o Bolsonaro’. Enquanto isso alguém ilude o (governador do Maranhão) Flávio Dino (PCdoB), alguém fala em unidade comigo, e tal.”

Sobre o pedido de desculpas do deputado Alexandre Frota (PSDB-SP), Ciro diz que não iria atribuir “relevância política a isso”, mas que vê um gesto “muito nobre”.

https://twitter.com/alefrota77/status/1173373393812566018?s=20

“Aceito as desculpas”. Frota, que saiu do PSL, disse que Ciro “tinha razão sobre Bolsonaro”.

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REDES DE SUPERMERCADOS COMPRARAM CARNES DE AUTUADOS POR TRABALHO ESCRAVO

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REDES DE SUPERMERCADOS COMPRARAM CARNES DE AUTUADOS POR TRABALHO ESCRAVO

Três grandes redes de supermercado compraram produtos de frigoríficos que possuem, entre seus fornecedores, pecuaristas flagrados usando mão de obra análoga à escravidão.

Notícias Uol – André Campos da Repórter Brasil – Tratam-se dos grupos Carrefour, Pão de Açúcar (GPA) e Cencosud, que, juntos, possuem mais de 2.000 lojas espalhadas pelo país.

Investigação da Repórter Brasil identificou três frigoríficos que vendem carne para as redes de supermercado, mas que compraram o gado de fazendas incluídas na “lista suja” do trabalho escravo —cadastro do governo federal que identifica pessoas e empresas flagradas praticando esse crime.

Carrefour, GPA e Cencosud estão entre os quatro maiores grupos varejistas do país. As três redes se comprometeram no passado a não comprar produtos de empregadores que estão na “lista suja”. Carrefour e Pão de Açúcar assinaram o Pacto Nacional Pela Erradicação do Trabalho Escravo, de 2005, enquanto a Cencosud assinou carta de compromisso no ano passado.

Das três empresas, apenas o Pão de Açúcar suspendeu seus fornecedores, segundo informou a diretoria de Sustentabilidade do GPA à Repórter Brasil.

O Carrefour afirmou que aguarda posicionamento de seu fornecedor, enquanto o Cencosud negou ter comprado carne de frigoríficos que negociam com fazendeiros incluídos na “lista suja” do trabalho escravo.

Frigotil e Frigoestrela

Os frigoríficos que deixaram de vender para as lojas do Grupo Pão de Açúcar são Frigotil e Frigoestrela.

Localizado em Timon (MA), o Frigotil comprou gado de dois pecuaristas na “lista suja” entre 2018 e 2019. A empresa respondeu à Repórter Brasil que “inibe a compra de gado nessas condições” e que analisa a contratação de uma empresa de consultoria para viabilizar um maior controle socioambiental dos fornecedores.

Corte de carne no frigorífico Frigotil, no Maranhão - Divulgação
Corte de carne no frigorífico Frigotil, no Maranhão – Imagem: Divulgação

O Frigoestrela também adquiriu gado de um fazendeiro da “lista suja” em diferentes ocasiões entre 2018 e 2019. A empresa disse realizar acompanhamentos constantes com os pecuaristas e afirmou que, no caso específico, ainda não havia nenhuma condenação judicial contra o fornecedor. O Frigoestrela possui unidades de abate em Rondonópolis (MT) e Estrela D’Oeste (SP).

Embora tenha sido suspenso pelo Pão de Açúcar, o Frigoestrela continua fornecendo para o Carrefour. Procurado, o grupo francês disse que notificou o frigorífico e pediu posicionamento urgente sobre os fatos alegados. “O grupo ressalta que todos os seus contratos comerciais possuem cláusulas específicas que obrigam o fornecedor a se comprometer rigorosamente com todas as normas da legislação trabalhista vigente, garantindo a não utilização de mão de obra em condição análoga à de escravidão”, disse o Carrefour por meio de nota.

Boi Brasil vende para grupo chileno

O frigorífico Boi Brasil, que possui três plantas de abate no Tocantins, também comprou gado de um pecuarista da “lista suja” em 2018. A Repórter Brasil identificou carnes da empresa sendo vendidas na rede de supermercados Bretas, em Goiânia (GO), também em 2018. O Boi Brasil não respondeu aos questionamentos encaminhados pela reportagem.

O Bretas é uma das empresas do grupo chileno Cencosud. A empresa negou manter relações comerciais com o Boi Brasil e alegou que o frigorífico encontra-se bloqueado em seu sistema de gestão de compras desde 2015.

O relacionamento comercial entre o grupo Cencosud e o Boi Brasil foi apontado em relatório da iniciativa Chain Action Research, publicado em outubro de 2018 em parceria com a Repórter Brasil. A pesquisa identificou carnes bovinas do frigorífico sendo vendidas pelo Bretas em agosto do ano passado – ou seja, três anos após a data em que o Cencosud alega ter bloqueado o fornecedor.

Pecuaristas na ‘lista suja’

Carlinhos Florêncio, deputado estadual pelo PCdoB no Maranhão, foi um dos pecuaristas identificados na investigação como fornecedor de carnes ao frigorífico que vende para as lojas do Pão de Açúcar.

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Campanha “carne ao molho madeira”, do Greenpeace, que relaciona o desmate da Amazônia aos supermercados -Imagem: Zé Gabriel / Greenpeace

Ele foi autuado por submeter nove trabalhadores à escravidão na Fazenda Tremendal, em Parnarama (MA). O deputado foi incluído na “lista suja” em abril de 2018 e permaneceu no cadastro até novembro daquele ano, quando obteve uma liminar judicial para que seu nome saísse do documento. Antes disso, entre maio e setembro, ele forneceu gado à unidade de abate do Frigotil em Timon.

A Repórter Brasil tentou contato com o gabinete do deputado por telefone e e-mail, mas não obteve retorno. Em entrevista ao UOL em 2018, seu advogado alegou que a inclusão de Florêncio na “lista suja” era injusta pois, apesar de ser o proprietário da fazenda, seus irmãos eram os responsáveis pela administração. O mesmo argumento foi acolhido pelo Judiciário na decisão que retirou o seu nome da “lista suja”.

Também fornecedor do Frigotil, José Rodrigues dos Santos vendeu gado ao frigorífico em diversas ocasiões entre 2018 e 2019. O pecuarista foi incluído na “lista suja” em outubro de 2017, e permanece no cadastro ainda hoje. Sua inclusão deveu-se ao resgate de 22 funcionários na Fazenda Lago Azul, em Brejo de Areia (MA).

Esse não foi o primeiro flagrante de trabalho escravo envolvendo Santos. Em 2007, ele foi responsabilizado pela exploração de 48 trabalhadores na Fazenda Ilha/Veneza, em Capinzal do Norte (MA). Dois anos depois, uma nova fiscalização na mesma propriedade levou a novo resgate, desta vez de 29 trabalhadores. Na ocasião, os fiscais apuraram que Santos havia arrendado o terreno para o seu irmão. A Repórter Brasil conversou com o advogado do pecuarista e encaminhou perguntas por e-mail, sem resposta.

Em Mato Grosso, outro empregador incluído na “lista suja”, Hélio Cavalcanti Garcia, foi identificado fornecendo gado ao Frigoestrela em 2018 e 2019. Ele foi incluído no cadastro do governo federal em outubro de 2017. Também tentou, na Justiça, a retirada de seu nome, sem sucesso. Permanece na lista ainda hoje.

Garcia foi prefeito de Rondonópolis (MT) na década de 1960 e, além de pecuarista, também é tabelião. A fiscalização trabalhista identificou cinco trabalhadores em situação análoga à escravidão na sua Fazenda Rio Dourado, em Poxoréu (MT). Ao portal G1, ele declarou que foi vítima de um flagrante armado por um funcionário que lhe devia R$ 17 mil. Disse ainda que os trabalhadores não eram seus funcionários –um deles era empreiteiro e os outros quatro, subempreiteiros.

A Repórter Brasil tentou contato com Garcia em seu cartório e por meio de seu advogado, mas não obteve resposta.

Fornecedor do frigorífico Boi Brasil, Eronice de Souza Borges foi incluído na “lista suja” em outubro de 2018. Um mês depois, vendeu gado ao abatedouro do Boi Brasil em Alvorada (TO). O fazendeiro foi responsabilizado por submeter um trabalhador à condição análoga à escravidão na Fazenda Umuarama, em Aliança do Tocantins (TO).

A fiscalização foi motivada por uma denúncia recebida pela Polícia Federal relatando que os trabalhadores estariam trabalhando sob coação. Segundo a denúncia, o proprietário os ameaçava “dizendo que daria um tiro na cara caso o trabalhador saísse da fazenda”. Durante a inspeção, os fiscais do extinto Ministério do Trabalho não confirmaram as ameaças de morte. No entanto, identificaram um trabalhador em condições degradantes —vivendo em alojamento precário, sem acesso à água potável e a equipamentos de proteção obrigatórios.

Procurado por telefone, Borges disse que não iria se manifestar.

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REFORMA AGRÁRIA | JUSTIÇA ADIA REINTEGRAÇÃO DE POSSE EM FAZENDA DO BANQUEIRO DANIEL DANTAS, NO PARÁ

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REFORMA AGRÁRIA | JUSTIÇA ADIA REINTEGRAÇÃO DE POSSE EM FAZENDA DO BANQUEIRO DANIEL DANTAS, NO PARÁ
Famílias trabalham na terra e produzem mensalmente 184 mil litros de leite, além de 174 toneladas de farinha / Foto: Catarina Barbosa

Despejo do acampamento do MST Dalcídio Jurandir, previsto para esta terça (17), foi remarcado para 5 de novembro

Catarina Barbosa | Brasil de Fato | Belém (PA) – Uma nova decisão judicial determinou o adiamento da reintegração de posse que estava prevista para esta terça-feira (17), na fazenda onde está o acampamento Dalcídio Jurandir, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

No dia 11 de junho, o Juiz Amarildo Mazutti, da comarca agrária de Marabá (PA), concedeu liminar autorizando a retirada das mais de 2 mil pessoas que vivem na área, localizada a 28 quilômetros de Eldorado do Carajás, às margens da BR-155, cuja posse é reivindicada pelo banqueiro Daniel Dantas.

A data do despejo – marcado inicialmente para essa segunda-feira (16) – foi reagendada para 5 de novembro.

O MST vê o adiamento como uma vitória, sobretudo, devido ao momento desfavorável à reforma agrária no país. No início da manhã desta terça (17), foi realizada uma assembleia em frente à entrada do acampamento, onde as famílias celebraram a decisão e discutiram novos processos de luta, com horizonte no assentamento definitivo das pessoas no território.

Para Ayala Ferreira, do setor de Direitos Humanos do MST do Pará, o adiamento é fruto de resistência e também da análise do Centro de Perícias Científicas Renato Chaves, que identificou que o local no qual foi autorizado o despejo pelo juiz Amarildo Mazutti está localizado totalmente na área pertencente à Fazenda Caroço do Olho – e a fazenda não faz parte do processo que resultou na liminar de reintegração de posse.

“Ela se baseou basicamente na confrontação de dados, que foi fazer a delimitação do perímetro da área que inicialmente ia ser despejada. Então, essa confrontação dos dados somado com o próprio processo de mobilização, articulação e solidariedade, que as famílias do acampamento receberam de muitas pessoas e instituições, fez com que ele tomasse essa decisão, suspendendo momentaneamente o processo de despejo”, afirma.

Ayala relata ainda que a suspensão deu fôlego e alento às famílias e também outras organizações e articulações que lutarão para retomar o processo de negociação, desapropriação e, consequentemente, assentamento das famílias.

“Em uma conjuntura em que a pauta da reforma agrária e a necessidade de se consolidar uma política de reforma agrária não está no horizonte, não está previsto, é uma vitória. Então, as famílias estão motivadas, imbuídas de seguir com a organização interna, com a articulação junto a sociedade e as instituições e seguir mobilizando mais apoio para lograr a vitória definitiva que é o assentamento das famílias”, reforça.


Familiares e militantes participaram de assembleia para decidir novos rumos para o assentamento definitivo das famílias (Foto: MST/PA)

O espaço foi ocupado em 2008 e se transformou em referência na produção de alimentos orgânicos, no município paraense de Eldorado do Carajás.

São produzidas mensalmente 174 toneladas de farinha, que abastecem as cidades de Xinguara, Redenção, Rio Maria, e Curionópolis, no sul do Pará, além de 184 mil litros de leite.

Há ainda um criadouro, que abriga 53 tanques de peixes e uma plantação agroecológica com mais de 45 tipos de frutas, verduras, leguminosas e hortaliças, que são comercializados nas feiras e mercados das cidades.

Prefeitura não tem estruturas para receber as famílias

O documento expedido pela Justiça nesta segunda obrigada ainda a prefeitura municipal de Eldorado do Carajás a providenciar um plano de realojamento das famílias, assim como um relatório que identifique a população vulnerável – entre elas, crianças, idosos e deficientes – até o dia 21 de outubro, sob pena de multa de R$ 2 mil por dia de descumprimento.

O prefeito de Eldorado dos Carajás, Célio Rodrigues (MDB), disse na audiência do dia 11 de junho, que a cidade não tem condições de receber as pessoas que vivem hoje no acampamento e que é contra o despejo. “Aquelas pessoas estão lá há 11 anos. Eles produzem 8 mil litros de leite, têm plantio de mandioca, fábrica de farinha. Tem a Feira do Produtor Rural. Eles produzem muita coisa lá“, disse na ocasião.

O município de Eldorado do Carajás tem pouco mais de 32 mil habitantes e a retirada das famílias ampliaria o déficit habitacional do estado, que é o pior do Brasil.

 

Edição: Rodrigo Chagas

OITIVA | INVESTIGAÇÃO DO CONSELHO NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS PODE ANULAR CONDENAÇÃO DE LULA

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OITIVA | INVESTIGAÇÃO DO CONSELHO NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS PODE ANULAR CONDENAÇÃO DE LULA
Um relatório deverá ser emitido até o final do ano e posto em discussão no plenário do CNDH, soberano na decisão final / Foto: Divulgação/CNDH

Conselheiros do órgão visitaram o ex-presidente para apurar denúncias de violações em processos da operação Lava Jato

Emilly Dulce | Brasil de Fato | São Paulo (SP) – Representantes do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) ouviram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre denúncias de seletividade, violações de garantias constitucionais e direitos humanos em processos da operação Lava Jato. A visita aconteceu nesta terça-feira (17) na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba (PR), localizada no bairro Santa Cândida.

A conversa com o petista é a primeira etapa da apuração que, posteriormente, também deve ouvir o jornalista Glenn Greenwald — um dos três fundadores do The Intercept, site que deu início à série de reportagens conhecidas como Vaza Jato —, além do procurador Deltan Dallagnol e o ex-juiz e atual ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro. “Isso só não acontecerá se eles entenderem não ser pertinente”, ponderaram os integrantes do CNDH.

Participaram da escuta os conselheiros Leonardo Pinho (presidente da comissão), Leandro Gaspar Scalabrin (relator) e Ismael José Cesar. Na investigação, também podem ser convocados integrantes do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) e demais personagens envolvidos nos processos. Cópias de documentos e informações judiciais também podem ser solicitadas durante a apuração.

Órgão vinculado ao Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, o CNDH pode emitir recomendações sobre o processo — como a própria anulação, caso entenda que não houve direito à defesa e julgamento —, assim como encaminhar o resultado para comitês internacionais de direitos humanos, como a Organização dos Estados Americanos (OEA) e Organização das Nações Unidas (ONU).

Um relatório da investigação deverá ser emitido até o final do ano para discussão pelo plenário do CNDH, soberano na decisão final sobre o caso. Após a conversa, os conselheiros participaram de entrevista coletiva em que relataram alguns dos elementos da escuta com a “possível vítima”, como comunicou o presidente da comissão.

“O plenário designou um relator para avaliar essa denúncia. Então, essas diligências e escutas são decididas pelo relator. Ele irá juntar e montar o relatório que será submetido ao plenário do Conselho Nacional de Direitos Humanos. É importante frisar que esse plenário é paritário entre sociedade civil e órgãos de Estado — do Executivo, Legislativo e sistema de Justiça”, ressaltou Pinho.

Vaza Jato e outras denúncias 

A oitiva — ato de ouvir as testemunhas ou as partes de um processo judicial — aconteceu após uma denúncia feita em junho deste ano pela defesa do petista. Motivada pelas revelações da Vaza Jato, ela foi discutida durante a 48ª reunião plenária do conselho e deferida pela juíza Carolina Lebbos, da 12ª Vara Federal de Curitiba, no último dia 10 de setembro.

“Nos foi afirmado pela parte da defesa e do ex-presidente Lula que são verídicas as informações que vieram a público”, frisou Pinho. No entanto, a investigação não se baseia apenas nas revelações da Vaza Jato, mas também no que diz respeito ao próprio processo judicial.

“Nós recebemos denúncias desde a situação da condução coercitiva dele [Lula], a situação de que ele não pode exercer seus direitos políticos — como de votar nas últimas eleições, concorrer e realizar campanha. [A situação de] Que um habeas corpus que lhe foi concedido pela Justiça brasileira não foi cumprido pela Polícia Federal… E uma série de outras alegações de que não houve paridade e imparcialidade da Justiça no julgamento de seu caso e no tratamento do direito de defesa dado em relação às mesmas oportunidades que foi deferido pelo juízo à acusação”, completou o relator Scalabrin.

Presentes na reunião, os advogados do petista, Cristiano Zanin e Valeska Martins, se mostraram confiantes quanto à decisão do órgão. “A única coisa que o ex-presidente Lula pede é justiça, um processo justo, independente e imparcial. Com certeza, em qualquer um deles, ele provará sua inocência”, sustentou Martins.

“O resultado, ao nosso ver — diante de tudo aquilo que nós já levamos [referente] ao processo aqui no Brasil e no Comitê de Direitos Humanos da ONU —, irá reforçar que o ex-presidente Lula é vítima de violação as suas garantias fundamentais e direitos humanos”, finalizou Zanin.

Edição: Rodrigo Chagas

ENTREVISTA | SOUTO MAIOR: BRASIL SE TORNOU “LABORATÓRIO DA RETRAÇÃO DOS DIREITOS TRABALHISTAS”

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ENTREVISTA | SOUTO MAIOR: BRASIL SE TORNOU “LABORATÓRIO DA RETRAÇÃO DOS DIREITOS TRABALHISTAS
“A mera piora das condições materiais não é fundamento para acreditar que alguma reação popular ocorra”, analisa o magistrado / Foto: ABET

Desembargador da Justiça do Trabalho avalia cenário de degradação e desigualdade gerado pela reforma trabalhista

Antonio Biondi e Napoleão de Almeida | Brasil de Fato | São Paulo (SP) – “A situação está ruim, mas estamos ainda no meio do caminho do que tende a ser pior”. O desembargador do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região (TRT-15) e professor de Direito do Trabalho Jorge Luiz Souto Maior resumiu dessa forma sua visão sobre os impactos da reforma trabalhista em vigor no Brasil desde 2017.

Segundo ele, a reforma já ampliou o abismo social e tem servido para degradar as relações trabalhistas. Somam-se a esse cenário o nível recorde de desemprego e os cortes nos investimentos em serviços públicos.

“Sem querer assumir que caminharam na direção errada, começam a dizer que a reforma foi pouco e querem mais. Pretendem, então, aumentar a dose do mesmo “remédio”. E aumentar a dose é destruir o que sobrou: caminhamos possivelmente, se nada houver, para a destruição do Estado democrático de direitos sociais no Brasil”, argumenta.

Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, Souto Maior, que leciona na tradicional faculdade de Direito do Largo São Francisco da Universidade de São Paulo, antevê que o Brasil enfrentará problemas econômicos e sociais ainda maiores por não medir corretamente os efeitos da fragilização das relações entre patrões e empregados.

“Mas essa não é uma projeção no sentido do ‘inevitável’. Há, ainda, em funcionamento, muitas instituições jurídicas, democráticas e políticas, e essas instituições podem fazer um grande papel no sentido de barrar o percurso em direção à barbárie”, ressalva.

O desembargador apresenta, ainda, reflexões a respeito dos diversos erros que abriram caminho para a aprovação desta “reforma” e que deixaram campo livre para outras reformas similares, como a da Previdência.

Na entrevista, Souto Maior destacou dados do mundo do trabalho e do Judiciário brasileiro e analisou o fenômeno da uberização da economia e das relações de trabalho.

Além disso, trouxe uma análise da evolução histórica do Direito do Trabalho enquanto construção social, apresentando, por fim, a avaliação em torno da urgência de se corrigirem os erros cometidos neste campo, sob pena de mergulharmos em um caos social.

“A mera piora das condições materiais não é fundamento para acreditar que alguma reação popular ocorra. A situação de 56 milhões de brasileiros já é a de “viver” abaixo da linha da miséria”, analisa.

Ele apresenta, nesse aspecto, uma ressalva fundamental: não basta simplesmente defender o retorno ao que tínhamos recentemente. É preciso construir uma sociedade, uma economia e um Direito efetivamente inclusivos.

Leia a entrevista na íntegra:

Brasil de Fato: Sobre as mudanças na legislação trabalhista, já é possível sentir reflexos no juízo do Trabalho?

Souto Maior: Eu atuei na Vara do Trabalho exatamente até dezembro de 2017 e a Lei n. 13.467, da reforma [trabalhista], entrou em vigor em novembro daquele ano. Daí por diante eu passei a atuar no Tribunal, que tem uma dinâmica de trabalho diferente. Eu não tenho, pois, a avaliação do mesmo lugar antes e depois da legislação. O que temos, porém, como resultado dado por números é a diminuição sensível do número de reclamações trabalhistas – fato que tem sido apresentado por parte da grande mídia como um efeito benéfico da reforma, mas de fato não é.

A diminuição das reclamações trabalhistas se deu por uma imposição de custos processuais, que, na verdade, acaba sendo um expediente para inviabilizar o acesso à Justiça. O caminho necessário, no entanto, na perspectiva do Estado Democrático de Direto (considerando, sobretudo, a essencialidade dos direitos sociais, conforme preconizado na Constituição Federal), é o da ampliação das vias de acesso à Justiça. O acesso à Justiça é uma conquista fundamental para a efetivação dos direitos sociais, dos Diretos Humanos e, para tanto, é necessário, também, que se tenha uma instituição do Estado com relação à qual os titulares dos direitos sociais depositem confiança.

Não que a Justiça do Trabalho não pudesse ser alvo de críticas, eu mesmo tenho sido historicamente crítico da Justiça do Trabalho em vários aspectos ligados ao seu funcionamento, sobre a visão de mundo que expressa, etc. O que quero dizer é que o alto número de processos na Justiça não deveria ter sido visto como um defeito que devesse ser corrigido. Se havia grande número de reclamações trabalhistas isso, por um lado, é sinal de que parte considerável da população mais pobre do país confia em uma instituição do Estado, o que não deixa de ser uma conquista da cidadania; e, por outro, que, infelizmente, a legislação trabalhista continua sendo extremante desrespeitada em nosso país.

E como surgiu essa mecânica de destruição?

Para destruir essa via de acesso à Justiça foi feita muita propaganda dizendo que as reclamações trabalhistas eram maquiadas, inventadas; que os trabalhadores requeriam direitos que não eram devidos; que a Justiça conferia direitos não devidos – o que não era verdade, como se pode constatar dos números à época divulgados, revelando que a grande maioria das reclamações tratava de verbas rescisórias não pagas. Ainda temos uma realidade do trabalho que convive muito, infelizmente, com o desrespeito reiterado da legislação.

Esse desrespeito gera um conflito bastante intenso, que refletia nas ações perante a justiça. O que se fez foi, portanto, algo que, sem interromper essa prática de um Direto do Trabalho não respeitado de forma reiterada e convicta, visou unicamente dificultar a vida dos trabalhadores e trabalhadoras na luta por seus direitos.

Esse efeito da redução de reclamações, portanto, traz consigo um dado extremamente maléfico, que é contrário a uma lógica de Estado Social e que vai no sentido da destruição concreta de direitos humanos, sociais e trabalhistas.

E essa dificuldade de acesso à justiça por si está aliada a outros elementos que compõem a “reforma” trabalhista: fragilização da atuação sindical; multiplicação das formas de contratação precárias, e ampliação dos mecanismos de retirada de direitos por meio de negociações individuais entre trabalhadores e empregadores.

Estabeleceu-se a situação de um trabalhador que passa a ter uma dificuldade de ir à Justiça, com medo dos altos custos do processo e de um sindicato fragilizado pela perda de arrecadação para o seu custeio, em uma sociedade com um desemprego de 13 milhões de pessoas, as quais, por conta disso, estão dispostas a aceitar qualquer trabalho sem perspectiva de direitos.

Quais as consequências?

O trabalhador, nesse ambiente, com formas precárias de contratação e sendo pressionado para aceitar condições menos favoráveis em uma negociação individual com seu empregador, fica em posição de plena submissão. A soma de tudo isso é aquilo que tem sido verificado: o aumento do sofrimento no trabalho, das doenças no trabalho, das questões psíquicas que dizem respeito ao trabalho. E do ponto de vista econômico, já apontado em vários em estudos, a diminuição salarial, do ganho da classe trabalhadora.

As negociações de salários não estão conseguindo acompanhar na média sequer a inflação.

Então os trabalhadores estão participando menos da riqueza coletivamente produzida. Consequentemente a concentração [da riqueza] está sendo maior , sem que tenha havido também – e até por consequência disso – o que se prometeu: o aumento de pessoas empregadas. O que aconteceu foi a disseminação do subemprego, com redução tão intensa de direitos que a situação fica mais bem identificada como desemprego e rebaixamento do patamar de cidadania.

O efeito geral é desastroso do ponto de vista do projeto de sociedade, da inserção humana e de cidadania da classe trabalhadora. E é desastroso também no aspecto econômico, com redução de consumo e das possibilidades econômicas do país, de arrecadação, dos projetos públicos e dos investimentos públicos, o que, como efeito bola de neve, não se querendo reconhecer os erros, acaba alimentando o discurso em torno da necessidade de novas reformas, como a da Previdenciária, que vai penalizar novamente a classe trabalhadora.

Além disso, com a consequente redução das fontes de custeio necessárias para o enfrentamento das questões de ordem pública, o que se verifica, também, é o retorno de doenças que já se tinham por erradicadas e o completo desprezo pelos cuidados com o meio ambiente (vide as queimadas na Amazônia, que também têm outras explicações, como o atendimento prioritário e promíscuo aos interesses do agronegócio).

Tudo isso é efeito do esfacelamento posto em marcha desde a década de 1990 do projeto de Estado Social de Direito fixado na Constituição de 1988. Tudo está ligado. Pode parecer exagero, mas não é: tudo está ligado à “reforma” trabalhista.

A “reforma” trabalhistas alargou as fissuras e o que se vislumbra é o crescimento dos problemas sociais e econômicos que já existiam, com o gravame de que desta vez tudo é feito sem a menor despreocupação de acertar, deslocado de qualquer base de conhecimento, por meio de memes, lives, frases de efeito, ameaças e força bruta, que interditam até mesmo as possibilidades de debate.

A situação está ruim, mas estamos ainda no meio do caminho do que tende a ser pior. Sem querer assumir que caminharam na direção errada, começam a dizer que a reforma foi pouco e querem mais. Pretendem, então, aumentar a dose do mesmo “remédio”. E aumentar a dose é destruir o que sobrou: caminhamos possivelmente, se nada houver, para a destruição do Estado democrático de direitos sociais no Brasil.

Mas essa não é uma projeção no sentido do “inevitável”. Há, ainda, em funcionamento, muitas instituições jurídicas, democráticas e políticas (públicas e privadas), e essas instituições podem fazer um grande papel no sentido de barrar o percurso em direção à barbárie.

Hoje o caminho parece sem volta. Qual o senhor imagina que venha a ser o final dessa história? A população conseguiu entender o tamanho do problema que essas reformas trazem?

É difícil de responder o que vai acontecer. Quem faça esse tipo de análise depois senta e fica torcendo para estar certo, sempre com previsões pessimistas. Como eu não quero que aconteça, não vou projetar. Até porque nesses momentos da história em que essas crises se instauram, abre-se uma porta que vai para caminhos diversos que são construídos a cada novo dia, a cada instante. Um fato hoje pode mudar completamente o rumo dessa história. Mas os fatos não ocorrem por acaso, ocorrem por obra da vontade humana. Por isso é importante, o quanto antes a percepção da população sobre o que está ocorrendo, para que o futuro seja fruto de uma obra consciente e não do acaso.

É muito difícil apostar no que vai acontecer. Um esclarecimento popular mais amplo? Não é algo tão simples e que deflua naturalmente da necessidade econômica. Não podemos perder de vista que muitas pessoas, milhões até, na população brasileira, já vivenciam essa realidade de barbárie há muitos anos. A questão é que, agora, está se ampliando e atingindo a uma outra camada da população. As possibilidades de reação estão dadas. Mas daí a chegar a um estágio de compreensão e a uma atuação coletiva os passos podem ser bastante complexos. Afinal, na distopia o individualismo impera e as pessoas tentam se salvar nas batalhas do dia a dia.

Se você pensar na reforma da Previdência, por exemplo, deve lembrar que ela não diz respeito à realidade palpável de milhões de pessoas, que já estão fora desse regime há muitos anos. Ocorre que a reforma vai além e maltrata ainda mais até mesmo os excluídos. Oportunidades de reconstrução de laços de solidariedade se abrem. Mas se fecham se a perspectiva de reação se mantiver na linha da manutenção das coisas como estavam, onde direitos, aos olhos de milhões, apareciam como privilégios.

Digamos assim: a mera piora das condições materiais não é fundamento para acreditar que alguma reação popular ocorra. A situação de 56 milhões de brasileiros já é a de “viver” abaixo da linha da miséria. É preciso algo mais: é preciso apresentar razões suficientes, razões sérias, honestas, de que é possível construir uma sociedade que seja de fato inclusiva. Não dá para manter o mesmo discurso, não dá para simplesmente acusar a ordem política atual de estar destruindo tudo. É preciso ter uma proposta que seja construtiva e que seja realmente inclusiva.

A gente pode fazer a crítica em relação aos retrocessos – pode e deve. São muitos e em diversas áreas. Mas para reverter esse quadro, o discurso da preservação do quadro em que vivíamos não é suficiente. É preciso uma proposta de resistência ao retrocesso, mas que apresente avanços, porque senão o convencimento atinge a muito poucas pessoas e não ganha, por assim dizer, apoio popular. Não se esqueça que o discurso da redução de direitos é apoiado na luta contra os privilegiados e em favor dos que não têm emprego ou benefícios previdenciários.

E a respeito de uma suposta morte do Direito do Trabalho, com todos esses ataques: existe esse risco ou ao contrário, o Direito do Trabalho continua muito vivo?

Não existe uma possibilidade de inexistência de direitos trabalhistas num modelo de sociedade em que o trabalho é central. A regulação desta relação de trabalho, numa perspectiva produtiva, é isso que o Direito do Trabalho faz. Havendo trabalho assalariado, os direitos trabalhistas existirão e trabalho assalariado haverá enquanto se mantiver esse modelo de organização social baseada na exploração capitalista do trabalho. Essa é a realidade de diversos países. Os direitos podem ser distintos, mas em todos os lugares esses direitos atendem em geral os mesmos parâmetros: limitação da jornada, idade mínima para o trabalho, horas de descanso, proteção contra acidentes, proibição de formas degradantes de trabalho etc.

Essas regulações existirão de um jeito ou de outro. Mesmo que alguém consiga rasgar toda a legislação trabalhista, não significa dizer que o mundo do trabalho será mantido em plena anomia. O mundo do trabalho vai se reorganizar de algum modo e o conflito capital e trabalho vai gerar limitações à exploração do trabalho, enfim. A discussão que precisamos fazer é, portanto: que Direito do Trabalho queremos? Para quais finalidades?

E me parece, na linha do que falei há pouco, que, diante de uma proposta que preconiza uma terceirização ampla, o trabalho intermitente, a fragilização da atuação sindical, aumentando o sofrimento do trabalho e diminuindo a participação dos trabalhadores na riqueza nacional, é necessário apontar os efeitos já nefastos provocados por essas alterações, que são visíveis, mas a resistência não pode se limitar ao efeito de meramente defender a preservação do Direito do Trabalho no estágio em que se encontrava. Um Direito do Trabalho que já autorizava a terceirização na atividade-meio, gerando uma exclusão dentro da inclusão para 12 milhões de pessoas. Que não assegurava um salário mínimo minimamente adequado. Que não garantia a proteção contra a dispensa arbitraria. Que não era eficiente para proteger o efetivo exercício do direito de greve.

É preciso explicar para o conjunto da sociedade a relevância de se promover uma relação capital e trabalho em que o trabalho seja de fato inclusivo, sendo essencial para tanto que o sindicato tenha efetiva força negocial, o que só se atinge com o pleno exercício do direito de greve.

Uma sociedade que se organiza em torno da exploração capitalista do trabalho deve possuir mecanismos para impedir que o poder econômico não se estabeleça de forma absoluta, impondo-lhe, ao menos, limites para que as pessoas não morram de tanto trabalhar e para que a riqueza produzida seja melhor distribuída e atenda a interesses coletivos política, democrática e dialeticamente concebidos.

Construir uma sociedade viável à condição humana de todas as pessoas é o que atende ao que se pode conceber como um projeto de sociedade. Mas só se pode falar em projeto se este for concebido para todos e todas e se for integralmente compreendido. Nesse contexto, a melhoria das condições de trabalho e o aumento dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras deve ser compreendido como algo desejado por todos. E é isso, ademais o que está previsto na Constituição de 1988. Um de nossos grandes problemas, ademais, é o de que em nenhum momento formos capazes de experimentar esse pacto.

O momento é de discutir abertamente as potencialidades, os objetivos, as limitações e os benefícios do Direito do Trabalho. O Direito do Trabalho não será um instrumento revolucionário. Ele será um instrumento de melhoria das condições materiais da classe trabalhadora.

É importante debater se os Direitos Humanos, trabalhistas e sociais, impondo limites aos interesses puramente econômicos, são suficientes para salvar, aprimorar e desenvolver o modelo de sociedade capitalista como um projeto efetivamente viável à condição humana. Mas está fora de discussão a proposição inversa, pois sem a visualização desses limites não se tem qualquer perspectiva de uma sociedade em direção a algum lugar. Vira pura e simplesmente a luta de todos contra todos, o salve-se quem puder e o quem pode mais chora menos. Não resta qualquer tipo de argumento defensável do modelo de sociedade, que só tem sentido do ponto de vista de seres humanos que se organizam socialmente para satisfazerem suas necessidades comuns.

E o que acostumamos a chamar de “Uberização do trabalho”; fazendo uma comparação com os problemas trabalhistas que a gente já vivencia: é um fenômeno ainda mais grave?

Eu vejo com os olhos de quem estuda o Direito do Trabalho há muitos anos e que sempre o fez a partir de uma perspectiva histórica. Essa análise permite compreender os direitos trabalhistas como fruto dos conflitos sociais. Ao longo de décadas, algumas limitações ao poder econômico foram estabelecidas, como, por exemplo, limite do tempo do trabalho. No entanto, houve sempre um movimento de fuga do capital aos limites fixados. O Direito do Trabalho, visto como um aparato teórico técnico axiológico e teleológico concebido para aplicar as normas historicamente construídas, compreendendo os movimentos de fuga do capital, foi fincado em normas dinâmicas (princípios), exatamente para acompanhar e anular a eficácia desses movimentos. Assim, o advento de renovadas formas de exploração do trabalho é uma realidade bastante conhecida pelo Direito do Trabalho e que é, incapaz, portanto, de lhe ludibriar.

Além disso, os novos modos de exploração do trabalho acabam gerando, em muito pouco tempo, as bases materiais das quais os direitos nascem.

O processo de uberização, por isso, pode-se dizer, mesmo reconhecidas as suas particularidades, na essência, é mais do mesmo. As plataformas digitais são mecanismos que facilitam a utilização do trabalho alheio e a venda da força de trabalho no mercado. Aquilo que parece ser muito diferente, na verdade não tem diferença essencial. Assim, passado o encantamento, vai se apresentar como de fato é. Logo vai se perceber que um motorista que trabalha na Uber, que parece estar prestando um serviço para uma pessoa determinada por meio de um aplicativo, na verdade está vendendo sua força de trabalho para quem detém o aplicativo. A proprietária do aplicativo utiliza a força de trabalho do motorista para auferir lucro.

Os tais prestadores de serviço que antes viam na atividade uma espécie de bico, um modo de ganho entre um emprego e outro, persistindo na situação de desemprego e passando a encarar a atividade como principal e duradora, tendem a se perceber como trabalhadores e até se compreenderem como integrantes de uma coletividade específica. Daí a formação de sindicatos, para viabilizar a reivindicação de melhores condições de trabalho, é um pulo. E isso, ademais, já vem ocorrendo em vários países.

A Justiça do Trabalho vem acompanhando isso?

A Justiça do Trabalho poderá, sim, fazer a sua parte, reconhecendo direitos aos trabalhadores da dita economia 4.0. Mas não será a protagonista, vez que o movimento social precede.

Esse processo de precarização que o Brasil está passando encontra paralelo em outros lugares no mundo?

É um movimento mundial, mas há que se entender o seguinte: na periferia do capital as consequências do aumento da exploração do trabalho e da diminuição da proteção social, o primeiro já no nível mais elevado e o segundo no plano do patamar mínimo, são sentidas bem mais rapidamente e são muito mais graves.

A intensidade de precarização jurídica que se implementou no Brasil com a “reforma” trabalhista, e que se intensificou com a Lei da Liberdade Econômica, é bastante superior àquela que se encontra nos países de economia paralela com a do Brasil. Com isso, o Brasil, inclusive, passou a ser uma espécie de laboratório da retração profunda de direitos trabalhistas.

Essa experiência, dados os efeitos desastrosos já sentidos, tende a não ser seguida. Mas nós mesmos não estamos conseguindo compreender isso, pois até há quem considere a possibilidade de aumentar a dose.

Estamos, de fato, diante da urgência de iniciar uma reversão da retração de direitos trabalhistas e sociais e de recuperação da garantia do acesso à justiça. O caminho, urgente e necessário, deve ser o da evolução da proteção jurídico-trabalhista. Se não houver a reversão deste quadro, em pouco tempo, o quadro social e econômico poderá entrar em colapso, correndo-se o grave risco do aparecimento de “saídas” antidemocráticas.

Como esse enfraquecimento, essa desmoralização do Judiciário impacta na democracia?

Não acho que o Judiciário como um todo esteja desmoralizado por conta de situações que representam desvios da regularidade da atuação jurisdicional. Não se pode realizar uma avaliação generalizante a respeito. O Judiciário continua em regular funcionamento e isso é essencial, inclusive, para conter quaisquer pretensões autoritárias.

As instituições podem apresentar problemas, mas a identificação dos problemas não deve servir como desculpa para o aniquilamento das instituições. Devem, isto sim, ser visualizadas para o seu necessário aprimoramento, buscando a superação das deficiências explicitadas.

Para isso não são eficientes, também, as iniciativas que buscam simplesmente perseguir e destruir pessoas. A questão não é essa. Não é de um problema meramente pessoal que se trata. O aprimoramento passa pela compreensão de que as instituições servem à sociedade como um todo, no sentido da prestação de serviços voltados à satisfação dos interesses públicos.

É urgente reconhecer que o enfraquecimento do Judiciário pode ser um passo decisivo para o desprezo à democracia. E é fundamental, também, que os próprios integrantes do Judiciário tenham a percepção da relevância de seu papel, o que exige, mais do que nunca, uma reafirmação de seu compromisso com a regularidade procedimental, com o respeito às garantias constitucionais no plano dos direitos fundamentais e com a efetividade dos direitos sociais, aos quais os direitos econômicos estão condicionados.

Edição: Rodrigo Chagas