BOLSONARO PODERÁ SER INVESTIGADO POR DECLARAÇÃO PRECONCEITUOSA CONTRA NORDESTINOS

.

BOLSONARO PODERÁ SER INVESTIGADO POR DECLARAÇÃO PRECONCEITUOSA CONTRA NORDESTINOS

Jair Bolsonaro (PSL) justificou-se, no sábado, afirmando que declaração sobre governadores foi “uma crítica de 3 segundos”; / Foto: Alan Santos/Presidência da República

PCdoB prepara representação à PGR; Presidente chamou Nordeste de “paraíba” e foi rechaçado por políticos da região

Cristiane Sampaio | Brasil de Fato | Brasília (DF) – A declaração dada na última sexta-feira (19) pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) a respeito dos governadores do Nordeste continua provocando reações no mundo político. O deputado Márcio Jerry (MA), um dos vice-líderes da bancada do PCdoB na Câmara, prepara uma representação para ser protocolada ainda esta semana na Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o chefe do Executivo.

Em entrevista ao Brasil de Fato, o parlamentar disse que irá pedir ao órgão uma apuração sobre possível prática de crimes contra a honra, ameaça e racismo. Na sexta, durante um café da manhã com a imprensa internacional, o presidente, sem saber que já estava com o microfone ligado, disse a Onyx Lorenzoni, ministro-chefe da Casa Civil, que “daqueles governadores de ‘paraíba’, o pior é o do Maranhão”, Flávio Dino (PCdoB), e que “tem que ter nada com esse cara”.

O termo “paraíba” é costumeiramente utilizado de forma pejorativa para se referir a nordestinos, o que faz com que a expressão seja associada ao preconceito regional. Por esse motivo, Márcio Jerry disse que pretende pedir também, na representação junto à PGR, uma apuração sobre esse aspecto da declaração do presidente.

“Acho que todos nós ficamos estupefatos com a grosseria, com o desrespeito, com a visão preconceituosa, rebaixada [da região]. Vem numa sucessão de atitudes que não compõem o figurino da instituição Presidência da República”, acrescenta, defendendo ainda uma reação do sistema de Justiça diante do caso.

O deputado aponta ainda que a conduta fere as diretrizes do pacto federativo, segundo o qual deve haver impessoalidade entre os entes federados (União, estados, Distrito Federal e municípios).

“A cada momento, ele [Bolsonaro] se excede nos desatinos. Desta vez, claramente, se manifestando de forma preconceituosa contra o Nordeste, não só do ponto de vista da expressão de racismo, como também expelindo ameaças, o que extrapola a responsabilidade institucional dele. Não é uma ameaça a uma pessoa. É uma ameaça institucional a estados da Federação”, sublinha.

Segundo ele, a representação deve ser protocolada na PGR até sexta-feira (25) e deverá contar também com a assinatura do líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

Ressonância

Quando o áudio do presidente foi divulgado, a notícia gerou manifestações multilaterais.

Em carta pública assinada coletivamente, os governadores do Nordeste disseram que a declaração causou “espanto” e “indignação”. “Aguardamos esclarecimentos por parte da Presidência da República e reiteramos nossa defesa da Federação e da democracia”, acrescentaram os mandatários.

Parlamentares que representam o Maranhão no Congresso Nacional também se pronunciaram em relação ao caso.

Ao todo, 11 deputados federais e dois senadores soltaram nota conjunta lamentando a declaração do pesselista em relação ao estado e ao governador.

“Não é aceitável, na democracia, que um presidente da República determine a um ministro de Estado perseguição a um ente federado e, por consequência ao seu povo, por questões políticas”, assinala o texto, assinado por membros de 12 siglas (PDT, PCdoB, DEM, PRB, Pros, PT, PP, PSB, PL, PTB, Cidadania e Patriotas).

O vice-líder do PCdoB aponta que a conduta do presidente ultrapassaria os limites das diferenças político-partidárias, o que teria permitido a formulação de um contraponto conjunto entre os signatários do documento. Na visão de Márcio Jerry, a declaração de Bolsonaro foi além das características do jogo político.

“Não dá pra gente achar que essas atitudes do presidente da República possam ser aceitas com naturalidade porque naturais não são. São atitudes ofensivas, grosseiras, antidemocráticas”, critica o comunista.

A afirmação de Bolsonaro tem como pano de fundo as divergências políticas entre o presidente e governadores do Nordeste, onde o pesselista registra a maior rejeição popular no país.

Procurado pela imprensa para comentar as reações a sua fala, o chefe do Executivo disse, no sábado (20), que foi “uma crítica de 3 segundos” e que a imprensa teria feito “uma festa” em cima do caso.

“Eu fiz uma crítica ao governador do Maranhão e da Paraíba. Vivem me esculhambando. Obras federais que vão para lá eles dizem que é deles. Não são deles, são do povo. A crítica foi a esses dois governadores, nada mais além disso”, disse.

Em resposta, Flávio Dino afirmou que pretende continuar dialogando “respeitosamente com as autoridades do governo federal e a colaborar administrativamente no que for possível”. Numa referência aos ditames constitucionais, o mandatário afirmou ainda que respeita “os princípios da legalidade e da impessoalidade”.

Já o governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB), disse, após o episódio, que “a Paraíba e seu povo, assim como o Maranhão e os demais estados brasileiros, existem e precisam da atenção do governo federal independentemente das diferenças políticas existentes”. “Estaremos, neste sentido, sempre dispostos a manter as bases das relações institucionais junto aos entes federativos, vigilantes à garantia de tudo aquilo a que tem direito”, completou Azevêdo.

O caso gerou faíscas também em Alagoas. Por meio de suas redes sociais, o governador do estado, Renan Filho (MDB), deu a seguinte declaração: “Não ao preconceito ao Nordeste e ao nosso povo. Respeito, federação e democracia são conceitos amplos que não combinam com a visão pequena, mesquinha”.

Edição: Rodrigo Chagas

..

FMI REDUZ PREVISÃO DE CRESCIMENTO DA ECONOMIA BRASILEIRA PARA 0,8% EM 2019

.

FMI REDUZ PREVISÃO DE CRESCIMENTO DA ECONOMIA BRASILEIRA PARA 0,8% EM 2019

Segundo especialistas, mudança na projeção está atrelada a incertezas de investidores estrangeiros, que esperam, por exemplo, pela aprovação da Reforma da Previdência

Repórter Cintia Moreira | Agência do Rádio. – O Fundo Monetário Internacional, o FMI, divulgou nesta terça-feira (23) um relatório que reduz para 0,8% a previsão de crescimento da economia brasileira para 2019. Na avaliação do executivo financeiro Adilson Bretherick, o FMI reviu essa estimativa porque o Brasil ainda não deu todos os indícios de recuperação econômica.

“Neste caso, o FMI está dizendo que está pessimista com relação à posição de mercado brasileiro. Está dizendo que o mercado brasileiro deve retrair frente àquilo que ele estava esperando, que era uma coisa em torno de 2,1% de crescimento do PIB, reduziu a sua expectativa para 0,8%. Ou seja, um pouco menos que 1%”, comentou.

Para o economista William Baghdassarian, o FMI alega que essa piora é resultado de um notório enfraquecimento da confiança, mediante a algumas incertezas sobre a aprovação da reforma da Previdência e de outras reformas.

“A gente tem que lembrar que cada vez que a expectativa é alterada, os agentes econômicos decidem investir ou deixar de investir na economia. Vamos imaginar que a Reforma da Previdência corra algum risco de não passar. Eu, como agente econômico, o quê que eu faria? Eu simplesmente cortaria o investimento privado, que eu viesse a fazer, porque eu tenho um governo que tem uma dívida em trajetória explosiva. O mercado, na verdade, trabalha muito por expectativa. Ele antecipa as coisas. Então, na medida em que o ambiente de otimismo voltar, o mercado vai voltar”, afirmou.

Para 2020, a expectativa do FMI é de crescimento brasileiro de 2,4%, número que continua abaixo dos 2,5% esperados em abril deste ano.

SEM DINHEIRO, GOVERNO QUER SUBSTITUIR MAIS MÉDICOS POR PROGRAMA 50% MAIS CARO

.

SEM DINHEIRO, GOVERNO QUER SUBSTITUIR MAIS MÉDICOS POR PROGRAMA 50% MAIS CARO

Profissional do Mais Médicos recebe bolsa de R$ 12 mil; com a proposta de criação de “carreira”, custo subiria para R$ 18 mil / Foto: Agência Brasil

Gestora do Ministério da Saúde disse que haverá concurso até o fim do ano para contratar 18 mil profissionais.

Cecília Figueiredo – Saúde Popular – Brasil de Fato – Mesmo afundado em déficits, sem perspectiva de retomada de investimentos e paralisado por sucessivos cortes orçamentárias, o governo estuda substituir o programa Mais Médicos por um projeto que custará no mínimo 50% mais caro do que o implantando com sucesso pela presidenta Dilma Rousseff (PT) em 2013 – e que começou a ruir depois que Jair Bolsonaro (PSL) se elegeu, no final do ano passado.

O fim do Mais Médicos – que chegou a ter 18.240 profissionais levando atendimento básico de saúde para mais de 60 milhões de brasileiros – vem sendo anunciado desde o início do mandato. Segundo o governo, ele será substituído por um programa que investirá numa “carreira de médicos federais”, até aqui pouco detalhado.

Nesta terça-feira (23), a médica Mayra Isabel Correa Pinheiro, gestora graduada do Ministério da Saúde, informou que até o fim do ano o governo vai abrir concurso público para cobrir as 18 mil vagas originais, pagando salários “superiores” às bolsas oferecidas atualmente.

Falando para um público especializado durante II Fórum Nacional Pró-SUS, em Brasília, Mayra, que é secretária de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde do Ministério, disse que os profissionais que optarem por atuar em áreas mais vulneráveis e de difícil acesso gozariam de aposentadoria especial com 21 anos de trabalho.

“Existe uma diferença da Carreira de Estado, pelas peculiaridades jurídicas, para a Carreira Federal de Médicos, que está sendo criada junto com AMB, CFM e o Ministério da Saúde. O concurso público deve acontecer até o final do ano”, garantiu ela no evento, que é promovido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).

A gestora foi questionada pelo professor Aristóteles Homero dos Santos Cardona Júnior, médico de Família e especialista em Saúde Coletiva.

“A grande questão que fica é que fiz uns cálculos rápidos para a provisão de médicos na carreira federal a 12 mil reais de salário, mais FGTS, férias e outros encargos, somaria R$ 18.346 por médico. Se hoje temos um médico bolsista por 12 mil reais e o Estado não tem financiamento, como será para financiar os 18.346 reais? Acho que o Paulo Guedes não sabe disso”, ironizou

O modelo do Mais Médicos remunera os profissionais com bolsas de R$ 11.800, mais ajuda de custo para deslocamento quando da ida para a área escolhida. Além disso, os médicos têm moradia e alimentação custeadas pelos municípios.

Mayra, porém, disse que não seriam necessários novos investimentos para bancar a operação, bastando o “uso correto” dos recursos da pasta. Ela chegou a afirmar, sem mais detalhes ou explicações, que, dos R$ 4,5 bilhões destinados ao Ministério, “R$ 3,5 bi eram gastos no passado de forma ilícita”.

Provimento e fixação

Cardona, que participou da mesa “Carreira Médica Federal, Programa Mais Médicos e Residência Médica”, citou um estudo publicado pela revista The Lancet – “Sistema Único de Saúde no Brasil: os primeiros 30 anos e perspectivas para o futuro” -, para ressaltar a necessidade de financiamento da saúde via setor público.

Com relação ao provimento e fixação de profissionais, ele lembrou que se trata de um problema histórico, destacando que o Mais Médicos conseguiu avanços nessa área.

“Óbvio que já se propunha uma política provisória. Porém, contemplava, além da fixação de médicos, ampliação de especialização em Medicina da Família e Comunidade e a construção de unidades de saúde. Foi muito interessante ver a transformação do que era o atendimento no sertão de Petrolina (PE), numa unidade que funcionava em casebre, e hoje as pessoas são atendidas em unidades padrão que foram construídas pelo programa Mais Médicos”, disse.

Sem respostas

A mesa redonda da manhã incluiu debates sobre avaliação das escolas médicas; o risco de precarização dos médicos egressos de cursos particulares, que recebem uma bolsa de R$ 2.900 e têm que arcar com o pagamento da dívida do curso; a revalidação como processo que certifica a qualidade; e a oferta proposta de especialização para a fixação em áreas de difícil acesso.

“Como se lida com os interesses dos médicos egressos para atrair a uma especialização em Medicina de Família e Comunidade, por exemplo, quando ele vislumbra o cirurgião plástico que anda de carro importado e viaja para o exterior?”, questionou Francisco de Assis Romeiro Figeroa Benício Coelho, segundo secretário da Associação Nacional dos Médicos Residentes (ANMR).

Para Cardona, que apresentou a visão da Abrasco, não há como debater novos projetos sem a revogação da Emenda Constitucional 95, que instituiu o teto de gastos e limitou ainda mais os investimentos em Saúde e Educação.

Edição: João Paulo Soares

PROFESSORES TEMEM QUE ENEM DIGITAL PREJUDIQUE ESTUDANTES DO CAMPO E DE BAIXA RENDA

.

PROFESSORES TEMEM QUE ENEM DIGITAL PREJUDIQUE ESTUDANTES DO CAMPO E DE BAIXA RENDA

Na avaliação de educadora, alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) serão afetados negativamente / Foto: Valdir Rocha

Medida anunciada pelo Ministério da Educação esbarra na falta de inclusão digital vivida pelas escolas públicas do país

Mayara Paixão | Brasil de Fato | São Paulo (SP) – Desde que o Ministério da Educação (MEC), comandado por Abraham Weintraub, divulgou que o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), principal porta de ingresso para as universidades públicas, passará a ser realizado pelo computador nos próximos anos, muitas dúvidas e poucas respostas pairam entre a sociedade e o governo federal.

A medida, publicada no início do mês de julho, promete que, já em 2020, 50 mil estudantes de 15 capitais brasileiras realizarão a prova de forma digital. Em 2026, todos prestarão o ENEM neste modelo e a prova em papel será deixada para trás. No entanto, a mudança parece ignorar a ampla falta de acesso à tecnologia vivida pelas escolas públicas brasileiras.

Na capital do Piauí, Teresina, os professores do Instituto Federal têm conversado nos corredores sobre como preparar os mais de quatro mil alunos de ensino médio para o novo modelo da prova. A instituição, criada em 2008, é um dos poucos aparelhos públicos do estado que conta com acesso à tecnologia, ainda que muito falte para aprimorar.

O professor de biologia e chefe do departamento de formação de professores do campus Teresina Central, Ivanaldo Ribeiro de Moura, durante seis anos dividiu sua rotina vendo as diferenças entre o campo e a cidade piauenses.

“Eu era professor na capital, de escolas particulares, e do estado na zona rural no período noturno. Percebia que lá precisava evoluir muito no aspecto tecnológico de acesso dos alunos a computadores e ao uso das máquinas modernas”, relata.

Ele se diz preocupado com as desvantagens que esse modelo de prova pode acarretar para os estudantes do meio rural caso o cenário desigual não mude nos próximos anos. “Imagine a população que vive na zona rural, não tem muito acesso ás máquinas, e tanto faz se é um público mais jovem e mais adulto, terá dificuldade de realizar essa prova diante de uma tela de computador. Possivelmente, ele vai ter dificuldades e vai sair em desvantagem ao aluno que vive na zona urbana e estuda em escolas particulares bem estruturadas.”

Os números justificam a preocupação do educador. Segundo levantamento divulgado pelo Comitê Gestor da Internet (CGI), em 2018, 43% das escolas rurais do país não possuíam sequer um computador com acesso à internet para uso dos alunos.

A realidade preocupa ainda mais os professores quando acompanhada da informação divulgada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) de que não serão comprados novos equipamentos para a realização do Enem digital.

Quem é que ganha?

Outro grupo afetado por essa realidade são os alunos maiores de 18 anos do Ensino de Jovens e Adultos (EJA), pessoas que não completaram o Ensino Médio e agora estudam para conseguir o diploma que os permite concorrer a uma vaga no ensino superior.

Anelise da Silva é professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e acompanha a EJA. Segundo ela, o Enem digital também ignora a geografia do país e a realidade desses estudantes.

“O que a gente vê o tempo todo é que você chaga no lugar e não consegue acessar [a internet] ou porque o equipamento existe mas está estragado, ou porque tem uma parte do equipamento e não tem a outra ou porque, pasme: você tem as duas partes do equipamento, mas não tem luz elétrica. Isso é algo que acontece e não é nos rincões, mas também na região metropolitana de Belo Horizonte”, descreve Silva.

A professora avalia que é preciso fomentar o uso de equipamentos digitais, mas com responsabilidade. No caso da nova medida e das poucas explicações dadas pelo governo, os estudantes da Educação de Jovens e Adultos seriam atingidos negativamente.

“Como é que os idosos, as pessoas em situação de rua, os caminhoneiros, que estão no trabalho o tempo todo, as pessoas de ocupações urbanas e rurais, os moradores do norte de Minas, que andam quilômetros depois de um dia inteiro de trabalho para chegar na escola da cidade, porque a que tinha no campo foi fechada; como terão condições de acessar o Enem digital?”, questiona. “Fico pensando que quando o governo federal pensou a proposta, ele não pensou em para quem ofertar, mas talvez em quem lucra com ela”, completa Silva.

A reportagem contatou o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que respondeu que não haverá compra de equipamentos para o Enem digital. O instituto afirma que irá “contratar uma empresa aplicadora da prova, que atuará nas unidades de ensino ou com a locação de lugares que tenham infraestrutura.” Desde a sua criação, em 1998, a prova do ENEM tem sido aplicada em papel.

Edição: Rodrigo Chagas e Katarine Flor

..

GOVERNO LIBERA MAIS 51 AGROTÓXICOS; UM DELES AMEAÇA ABELHAS POLINIZADORAS

.

GOVERNO LIBERA MAIS 51 AGROTÓXICOS; UM DELES AMEAÇA ABELHAS POLINIZADORAS

Abelhas sem ferrão estão entre as espécies ameaçadas por novo agrotóxico liberado / Instituto Biológico de São Paulo

Chega a 290 o total de produtos liberados em 205 dias de governo Bolsonaro

Brasil de Fato | São Paulo (SP) – Subiu para 290 o total de agrotóxicos liberados pelo governo Bolsonaro desde a posse. Nesta segunda-feira (22), o Ministério da Agricultura aprovou a comercialização de mais 51 marcas, envolvendo sete novas substâncias e outras já existentes em produtos do mercado.

Entre as substâncias novas liberadas está o sulfoxaflor, princípio ativo que controla insetos que atacam frutas e grãos e estaria relacionado à redução de abelhas polinizadoras, segundo estudos em andamento no exterior.

Nos primeiros meses deste ano, cerca de 500 milhões dessas abelhas teriam morrido no Brasil, vitimas dos venenos nas lavouras, segundo reportagem da Agência Pública e do Repórter Brasil, com base em relatos de apicultores do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Mato Grosso do Sul.

Em tese, os agricultores têm de seguir regras para uso do sulfoxaflor, com períodos limitados para aplicação, dosagens máximas e distâncias mínimas para a proteção das abelhas. Na prática, o cumprimento de tais regras dependeria de uma fiscalização eficiente – o que está longe de acontecer sob o atual governo.

“Nunca houve um ritmo tão frenético de aprovação de agrotóxicos como agora. Para se ter uma ideia, o que foi aprovado neste ano, até meados de junho, é mais do que foi aprovado na União Europeia desde 2011”, afirmou Gerson Teixeira, ex-presidente da Associação Brasileira da Reforma Agrária (ABRA), segundo reportagem do Brasil de Fato quando dos 200 dias de governo Bolsonaro.

Teixeira se referia ao total de produtos liberados em seis meses, 239, contra 229 da União Europeia em oito anos.

Equivalentes

Dos venenos liberados, 44 são produtos “equivalentes”, ou seja, genéricos de princípios ativos já autorizados no país.

Destes, 18 são para uso industrial e outros 26 produtos são formulados (a venda rm lojas de insumos agrícolas), sendo quatro de origem microbiológica.

Grande oferta de veneno

Para Gerson Teixeira, a velocidade na liberação faz parte da estratégia de mercado do agronegócio, que deixou de priorizar a batalha pela aprovação do Projeto de Lei 6299/2002, conhecido como PL do Veneno.

“Eles viram que, com o governo na mão, não precisavam aprovar a legislação (…). A estratégia deles é viabilizar uma oferta grande de venenos e com isso fazer baixar o preço deles, independente se isso vá resultar em uma maior contaminação do meio ambiente ou do alimento”

Edição: João Paulo Soares

A REVOLTA DA CLASSE MÉDIA – DESIGUALDADE GLOBAL – EUROPA

.

A REVOLTA DA CLASSE MÉDIA - DESIGUALDADE GLOBAL - EUROPA

Afetados pela globalização perdem status e se rendem ao populismo. Igualdade é uma palavra que por quase três séculos causou turbilhões pelo mundo chacoalhando ocidente e oriente.

Fernando Canzian Lalo de Almeida (fotos) – Reino Unido, França e Espanha – Antes do início dos anos 1990, a paisagem do noroeste da Inglaterra era dominada pelas chaminés de mais de mil fábricas, a maioria de tecelagens do auge da revolução industrial, no século 19.

Foi uma época em que as primeiras máquinas a vapor multiplicaram a geração de bens e de fortunas. Primeiro na Inglaterra. Depois, no resto da Europa, nos EUA e em outras partes do mundo.

Em seu apogeu, Oldham, na Grande Manchester, foi um dos locais mais dinâmicos da Terra, conectado ao resto do mundo por ferrovias que chegavam ao porto de Liverpool.

Hoje, a cidade de 100 mil habitantes parece um museu. Sobraram poucas chaminés e, com ares de decadência, centenas de pequenas casas de tijolos escuros que abrigavam os operários do passado.

No alto, prédio em ruínas da tecelagem Hartford, inaugurada em 1907, em Oldham, no Noroeste da Inglaterra; abaixo, edifício abandonado de companhia de seguros e centro de Oldham

Na Union Street, uma das ruas principais, o ponto mais movimentado parece ser um centro para desempregados. É ali que Brian Melling, 65, busca trabalho há quatro anos.

Ex-motorista de caminhão, seu padrão de vida decaiu junto com as indústrias de Oldham, afetadas por uma globalização que encontrou salários mais baixos na Ásia e expulsou gente jovem e educada para as grandes cidades.

Antes, Melling podia, como diz, “ter motocicleta, fumar, beber e fazer o que quisesse. E economizava dinheiro”.

Hoje, vive em um apartamento quase que totalmente subsidiado por uma fundação privada e passa os dias com 73 libras por semana (R$ 340) do seguro desemprego. Para economizar, come enlatados de baixa qualidade, lanches frios, frutas e bebe muito chá.

Melling e as pessoas de sua região foram as maiores responsáveis pela aprovação do brexit em 2016. Numa vitória apertada, 51,9% dos que votaram no referendo optaram por sair da União Europeia e reconquistar a opção de fechar o Reino Unido à imigração e a produtos estrangeiros.

Em Oldham, não só mais pessoas votaram no referendo como o apoio ao brexit atingiu 61%, taxa que se repetiu em toda a Grande Manchester. Na Grande Londres, mais dinâmica e cosmopolita, deu-se o contrário: 60% votaram pela permanência.

Recentemente, a ex-primeira-ministra britânica Theresa May renunciou ao não concluir o brexit, e pode ser substituída pelo ex-prefeito de Londres Boris Johnson, defensor da saída mesmo sem um acordo com a União Europeia.

O motorista de caminhão desempregado Brian Melling vive com 73 libras por semana do seguro desemprego e mora em um apartamento subsidiado em Oldham, na Inglaterra

“Votei pelo brexit porque estávamos melhor antes do mercado comum. Empobrecemos muito e todos têm nos tratado muito mal”, diz Melling.

Em sua opinião, o radicalismo na Europa vem se alimentando de um sentimento parecido com o seu.

“Veja os ‘coletes amarelos’ na França. As pessoas querem um basta.”

Para David Soskice, coordenador do International Inequalities Institute, em Londres, enquanto moradores de grandes centros têm se saído melhor por serem mais educados e globalizados, os do interior perdem renda e status.

Isso explicaria tanto o brexit quanto Donald Trump nos EUA, onde estados empobrecidos do meio-oeste garantiram a vitória do republicano.

Mas o principal motor do radicalismo e do populismo, sobretudo no Ocidente, seria o empobrecimento da classe média -resultado da mistura de globalização, avanços tecnológicos, melhor educação concentrada no topo e financeirização do capital em detrimento da produção física que gera empregos.

Cada vez mais distante dos ricos acima e pressionada por serviços públicos piores e gastos maiores, sobretudo com moradia, sem que os salários acompanhem, é a classe média quem se volta a partidos eurocéticos, anti-imigração e de extrema direita atrás de soluções.

“São pessoas preocupadas em não cair no poço da pobreza, ou que isso possa acontecer aos seus filhos. Elas votam pensado nisso”, diz Soskice.

Foi esse tipo de decadência pessoal que levou Mark Hodgkinson, 58, a marchar recentemente durante 14 dias e por 450 km em defesa do brexit, do interior da Inglaterra até o Parlamento em Londres.

Morador de Rochdale, ao norte de Manchester, o vendedor de produtos online viu seus dois filhos e de amigos fugirem para cidades maiores como Londres atrás de oportunidades que não existem mais onde viviam.

“Há 20 anos havia muito trabalho aqui. Hoje, os jovens não têm chances”, diz.

 

 

….

BACO EXU DO BLUES, O HOMEM QUE COLOCOU O RAP BAIANO NO 1º PLANO

.

BACO EXU DO BLUES, O HOMEM QUE COLOCOU O RAP BAIANO NO 1º PLANO

PEDRO ALEXANDRE SANCHES – CARTA CAPITAL – O rapper achava que era um rebelde sem causa, mas descobriu depois que tinha várias causas. Um garotinho negro afirma que quer ser médico quando crescer. Um jovem negro corre a toda a velocidade, ofegante, aparentemente fugindo de algo ou de alguém. Entra a voz do jovem rapper baiano Baco Exu do Blues, de 23 anos, que fala em nome de todo um gênero musical, o blues: “Eu sou o primeiro ritmo a formar pretos ricos/ o primeiro ritmo que tornou pretos livres”. Baco Exu do Blues, codinome de Diogo Moncorvo, assume nessas palavras ser o blues (a tristeza?) em pessoa. O curta-metragem Bluesman desenvolve-se por dez minutos, complexo e cheio de alçapões em música e imagem.

O vídeo convenceu o júri do Festival Internacional de Criatividade Cannes Lions, que deu ao rapper o grande prêmio na categoria entretenimento para música, empatado com o vídeo de This Is America, de Childish Gambino, uma cortante discussão sobre o racismo nos Estados Unidos. O jovem artista baiano, autor de versos como tá tudo confuso como meus sonhos eróticos com a Beyoncé/ me desculpa, Jay-Z, queria ser você/ minha vida tá chata, quero enriquecer (de Me Desculpa Jay-Z), ganhou justamente o prêmio que poderia ter sido do casal de estrelas negras formado por Beyoncé e Jay-Z, que concorria com o vídeo de Apeshit, gravado no Museu do Louvre, em Paris. Bluesman é uma cortante discussão sobre o racismo no Brasil. “Esta é a primeira fresta a se abrir”, avalia Baco, enquanto almoça carne no restaurante Sujinho, no Centro de São Paulo, onde tem morado ultimamente. “Você pode conseguir aumentar essa fresta ou deixar ela aí e daqui a pouco ela se fechar”, divaga o jovem que afirma almejar fama e reconhecimento mundiais.

Assista a Bluesman aqui:

VÍDEO:

Diogo é filho de um Brasil que alargou horizontes nas duas primeiras décadas do século XXI e hoje vê a funkeira Anitta fazer sucesso internacional, inclusive participando de uma canção pop no disco de Madonna, e tem filmes nacionais como A Vida Invisível de Eurídice Gusmão (de Karim Aïnouz) e Bacurau (de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles) premiados na mesma cidade europeia onde Baco triunfou. Ele não estava presente, porque não tem passaporte e nunca saiu do Brasil. Quer fazer sucesso mundial em português. Diz que seu diferencial é ter nascido numa família de classe média, de mãe branca professora de literatura e pai negro professor de tai chi chuan (que morreu quando ele tinha 7 anos).

Baco Exu conta que sempre encontra pessoas que veneravam seu pai: “Sempre foi muito isso, em todos os encontros que eu tinha com quem conheceu meu pai. Eram encontros que me pesavam até as costas, porque era como se eu fosse filho do ser humano mais fantástico e correto do mundo, e na época eu não era nada, era só um garoto perdido. Era como se as pessoas me comparassem a essa imagem intocável do cara que salvava vidas e que entregava a vida para os outros de diversas formas”.

A memória pesou-lhe nas costas, mas se fez referencial também. “A autoridade máxima dentro da casa, tanto para as pessoas da família quanto para os discípulos de fora, era um homem negro.” As coisas mudaram quando Diogo começou a frequentar colégios particulares (foi expulso de vários) e viu-se como único ou um dos únicos negros em meio a uma população branca. “Mudou o ambiente e eu sofria de diversos lados, de diversas formas, e não entendia por que estava sofrendo. Digo que acabei virando rebelde sem causa. Mas existia uma causa. Eu só não entendia qual era.” E complementa, apontando o encontro da causa da rebeldia: “Por que eu era tão expulso? Eu não era o problema, mas estava num ambiente onde não era aceito, então, obviamente, os problemas iam cair  em mim. Era a falta de conseguir me comunicar, tá ligado? Eu tentava me comunicar e me embolava. Tinha coisas importantes pra falar, queria que as pessoas entendessem, e as pessoas não entendiam, e eu ficava indignado. E aí comecei a escrever”.

Na reflexão sobre esse difícil lugar no mundo nasceu, primeiro, o poeta, influenciado pela mãe e, em seguida, o rapper, que em 2016 atraiu atenções com um rap provocativo em dupla com o pernambucano Diomedes Chinaski, chamado Sulicídio, em que os parceiros criticavam a supremacia dos rappers do eixo Rio-São Paulo e exigiam respeito aos rappers do Nordeste. A canção rendeu também atenção negativa, devido aos versos homofóbicos pelos quais Baco logo pediu desculpas. Apesar dos percalços, foi um passo a mais para o reconhecimento de toda uma leva de rappersfora do eixo, que hoje somam pernambucanos, baianos (como O Quadro e Larissa Luz), cearenses (Don L, Nego Gallo), mineiros (Djonga) etc.

Filho de mãe branca e pai negro, professores, Baco é agora reverenciado mundialmente

Em 2017, Baco debutou com o álbum Esú, ainda mais provocativo que Sulicídio. O título, Esú, estabelece conexão direta entre Exu e Jesus, na reivindicação de um Jesus Cristo negro que contemple mais que a sempre contemplada sociedade branca. Entre as faixas do disco misturaram-se referências à literatura (Capitães da Areia) e ao cinema (A Pele Que Habito), que o segundo álbum, Bluesman (2018), ampliaria em raps denominados Minotauro de Borges ou Girassóis de Van Gogh. A essa altura, o público de Baco já era uma multidão, em shows sempre lotados nos quais a plateia canta em uníssono seus intrincados versos.

Baco Exu do Blues diferenciou-se dos rappers que o antecederam por encontrar terreno fértil para compreender os porquês do racismo, do machismo, da homofobia. Eu sou dos poucos que não escondem o que sentem, canta em Bluesman. “Quando você fala de racismo, fala de masculinidade tóxica de uma forma visceral. Ela destrói você de diversas formas, nos seus relacionamentos. Eu chutaria que a masculinidade tóxica, para o homem negro, é páreo a páreo com os motivos de depressão, juntamente com o racismo. Por ter depressão e por ter depressão dentro de um relacionamento, fui entendendo isso pouco a pouco, e como me atingia.”

VÍDEO:

Eis outro diferencial do jovem artista: ele gosta de falar abertamente sobre suas dificuldades psicológicas. “Eu vejo como uma parte da minha vida. A depressão é tipo um amigo que você não tem certeza se é seu amigo. Você pensa: esse cara pode me passar a perna qualquer dia, mas é aquela pessoa que é muito próxima e, se passar a perna em você, vai te derrubar de verdade. É uma coisa que me faz escrever muito. Quando tenho minhas crises, meu Deus do céu, viro o poeta maior do mundo”. O encadeamento lógico leva a outras conclusões de grande monta: “Todo jovem negro sofre racismo quando é criança. Se teve um gatilho para a depressão, muito provavelmente a gente já sabe qual foi o motivo desse gatilho.” Toda pessoa negra sofre de depressão, ele acredita.

A fonte do sucesso é outro elemento de incessante indagação para Diogo. Eu sou o preto mais odiado que você vai ver, canta em Kanye West da Bahia (2018). “O dinheiro não legitima a gente. Essa falsa sensação de que o dinheiro compra o respeito das pessoas brancas é mentira”, afirma. “Vai chegar um momento que você não é querido nem pelos seus nem pelos outros. Para os brancos, você está no lugar deles, e as pessoas brancas não querem que você esteja ali. E os negros vão olhar pra você e dizer: ‘Ah, ele agora só está no lugar de branco, ele perdeu a essência dele’. Todo mundo quer chegar no lugar onde você está, e você não mostrar que está mal. E qual é a forma mais prática de você mostrar pras pessoas que não sente a dor? Tendo tênis caro, roupa boa, saindo pra festa cara que todo mundo queria ir. Se você vê, a gente está numa corrida de rato numa rodinha de hamster.”

Minotauro de Borges incide em cheio sobre essas reflexões: Negro correndo da polícia com tênis caro/ tipo Usain Bolt de Puma não paro/ correndo mais que os carros/ eu não fui feito do barro/ pisando no céu enquanto eles se perguntam, ‘como esse negro não cai?’/ dizem que o céu é o limite/ eles se perguntam: ‘por que esse negro não cai?’ 

Diogo segue em frente, equilibrando-se entre os sentimentos negativos e os positivos. No vídeo premiado de Bluesman, o jovem negro corre sem parar, ao longo de 11 minutos. Em nossos pensamentos racistas, nos induzimos a pensar que ele foge da polícia. Na cena final vem a revelação: estava atrasado para a aula de música. Eles querem um preto com arma pra cima/ num clipe na favela gritando ‘cocaína’/ querem que nossa pele seja a pele do crime, canta Bluesman. Baco Exu do Blues entrega o contrário do que o racismo e a depressão esperam dele.

 

…………..

 

CRIME OCULTO: O MASSACRE QUE TENTARAM APAGAR DA HISTÓRIA DA CONSTRUÇÃO DE BRASÍLIA

.

CRIME OCULTO: O MASSACRE QUE TENTARAM APAGAR DA HISTÓRIA DA CONSTRUÇÃO DE BRASÍLIA

Havia resistência política à ideia de mudar a capital, e um massacre, se viesse à tona, traria graves prejuízos aos planos de JK / Foto: Mario Fontenelle / Acervo Público do DF

Um ano antes da inauguração da capital brasileira, dezenas de operários foram mortos após questionarem más condições

Pedro Rafael Vilela | Brasil de Fato | Brasília (DF) – A revolta de um grupo de operários que atuou na construção de Brasília, que acabou sendo vingada com um verdadeiro banho de sangue, é a expressão de como poderosos interesses atuam para reescrever a história ou silenciá-la.

O chamado massacre da construtora Pacheco Fernandes, ocorrido em 8 de fevereiro de 1959, em pleno carnaval, pode ser considerada uma das maiores tragédias brasilienses. Mas a história oficial buscou desacreditar sua gravidade, e até mesmo a sua existência. Até hoje não é possível afirmar com exatidão quantas pessoas morreram naquele dia.

Meses antes da sua inauguração, Brasília chegou a abrigar mais de 40 mil operários, trabalhando em jornadas extenuantes de trabalho, que não raro ultrapassada as 18 horas, em turnos ininterruptos. Muitos desses trabalhadores trouxeram familiares, que se aboletaram em barracos precários ao redor dos principais monumentos da cidade.

Alguns anos mais tarde, uma operação de remoção retiraria as mais de 80 mil famílias desses locais, realocando-as em zonas distantes do centro da capital, sem qualquer amparo do poder público.

A área que hoje abriga uma das principais metrópoles do país era um imenso canteiro de obras no final da década de 1950 (Foto: Mário Fontenelle/Arquivo Público do DF)

Chacina

A história do massacre começa com uma revolta no refeitório da construtora Pacheco Fernandes, local onde hoje existe a Vila Planalto, bairro que fica a poucos quilômetros da Esplanada dos Ministérios e da Praça dos Três Poderes.

As condições oferecidas pelas construtoras aos seus operários eram muito precárias, segundo a professora Nair Bicalho, da Universidade de Brasília (UnB), autora do livro “Construtores de Brasília”, que narra a trajetória desses trabalhadores.

— Os galpões possuíam dez a quinze quartos com beliches de dois a três andares. Os sanitários eram um buraco cavado no chão e protegidos com uma porta de lona. O acampamento também tinha problema de falta de água. As camas tinham colchões de capim e predominava enorme falta de higiene: pulgas, percevejos e piolhos se espalhavam pelo ambiente, sendo necessário diversas vezes queimar os colchões. As cantinas tinham longas filas devido ao grande número de operários dos alojamentos, o que deixava trabalhadores famintos esperar muito tempo para o café, almoço ou jantar. Esta situação de desconforto e privação resultava inúmeras vezes em quebras das cantinas por motivo da comida crua, estragada ou com pequenos animais mortos dentro dela —, detalha.

A indignação com a comida servida no acampamento foi o estopim para o massacre. Dois operários foram reclamar do que seria uma refeição estragada, o que gerou uma confusão.

Chamada para reinstalar a ordem no acampamento, a Guarda Especial de Brasília (GEB) – criada para cuidar da segurança pública da capital em construção – enviou dois soldados, que foram cercados pelos operários e recuaram.

Horas mais tarde, quando boa parte dos trabalhadores estava dormindo nos alojamentos, a GEB retorna com quase 30 homens e executa vários deles.

O inquérito oficial sobre o incidente confirma a versão de que os soldados retornaram ao acampamento e atiraram, mas a apuração só teria oficializado uma morte e 48 feridos.

“O que consta nos depoimentos que eu recolhi é que a polícia atirou nos operários enquanto eles dormiam. Obtive depoimentos sobre dezenas de operários atingidos. Um total 120 malas nunca foram buscadas no alojamento”, relata Nair Bicalho, que entrevistou mais de 30 pessoas sobre o caso, inclusive um coronel responsável pela operação policial.

“Eu não tenho a menor a dúvida sobre massacre na empresa Pacheco Fernandes. Eu interpretei assim a partir dos documentos e algumas entrevistas”, acrescenta.


Trabalhadores fazem fila para se cadastrar na construção de Brasília. (Foto: Arquivo Público do DF)

Silenciamento

No filme “Conterrâneos Velhos de Guerra”, do cineasta Vladimir Carvalho, o massacre é contado em detalhes por quem testemunhou o episódio.

Dezenas de corpos de operários mortos teriam sido recolhidos com caminhão basculante e depositados em lugar ignorado.

A repercussão na imprensa foi mínima. Os dois únicos veículos a noticiarem o massacre foram os jornais O Binômio, de Belo Horizonte, que chegou a mandar um repórter, e o diário O Popular, de Goiânia.

Ao longo dos anos acabou prevalecendo o discurso oficial que nega a existência da chacina. Até mesmo Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, respectivamente o arquiteto e o urbanista que desenharam a cidade, disseram desconhecer totalmente esse acontecimento.

“Foi uma tentativa de apagamento. As mídias se curvaram aos poderosos do momento”, o cineasta.

“Como a capital estava sendo construída para ser inaugurada, naquela política de crescer 50 anos em cinco – do Juscelino Kubitschek –, então estavam todos muito empenhados que a capital não ficasse manchada com esse acontecimento histórico”, afirma Nair Bicalho.

Parte da classe política resistia à ideia de mudar a capital do país, e um massacre como esse, se viesse à tona, traria graves prejuízos políticos aos planos de JK.


Retirantes, que ficaram conhecidos na história como candangos, chegam para trabalhar na construção da nova capital, em janeiro de 1959 (Foto: Arquivo Público do DF)

O papel da Guarda também é emblemático.

Essa força militar era formada, em boa medida, por jagunços oriundos de outras regiões do país, sem treinamento, e cumpriu um papel de forte repressão durante a construção de Brasília.

— [A GEB] era recrutada pelos piores elementos que vieram a Brasília, que só conheciam a linguagem da violência. Havia uma impunidade, um deserto, uma coisa que não tinha polícia constituída, não tinha Justiça constituída. Era plausível que um conflito como esse terminasse em brutalidade —, afirma Vladimir Carvalho.

Segundo ele, a impunidade pode ser vista como um fator cíclico, recorrente pano de fundo na história do Brasil. “O distanciamento, o desprezo e o descaso que orientam essa relação. Dizimaram os índios, escravizaram os negros e a fusão de tudo isso está aí”, analisa Carvalho.

Outro aspecto importante sobre o massacre, afirma Nair Bicalho, é a construção da memória, que exclui o papel das classes populares como atores políticos.

“Qual é o papel do povo brasileiro na história brasileira? Onde ele fica? Os estudos vão para os vencedores, a história oficial. Tanto que o Juscelino tem vários livros, mas você não vai achar isso nos livros dele”, assevera.

Para ela, o “Massacre da Pacheco Fernandes” é um desses casos em que se aplicou a lógica de manipulação da história. “É todo um pacto de silêncio que as nossas elites sempre tiveram, em relação a eventos, acontecimentos, violências cometidas contra as classes populares. É uma tradição brasileira de não reconhecer o lugar da memória nacional que exige os esclarecimentos de todos os fatos históricos, bons ou ruins”, afirma.

Edição: Rodrigo Chagas

ANÚNCIOS DA ÉPOCA DA ESCRAVIDÃO MOSTRAM POR QUE O BRASIL PRECISA ACERTAR AS CONTAS COM O PASSADO

.

ANÚNCIOS DA ÉPOCA DA ESCRAVIDÃO MOSTRAM POR QUE O BRASIL PRECISA ACERTAR AS CONTAS COM O PASSADO
Alexandre Andrada – The Intercept Brasil – AS ELITES BRASILEIRAS parecem ter um hábito secular de pôr uma pedra sobre o nosso passado. Apesar de sermos o país com a maior população negra fora da África, quase não há museus sobre o tema e mal estudamos o assunto nas escolas. O desconhecimento do brasileiro médio em relação aos horrores e às consequências da escravidão é enorme. O esquecimento não é um acaso, é um projeto.

O Brasil é o país mais importante na história da diáspora africana. Foram mais de 4 milhões de escravizados que desembarcaram em nossos portos, principalmente nos do Rio de Janeiro, Salvador e Recife, entre 1530 e 1850.

Na primeira metade do século 19, mais de 2 milhões de africanos aportaram no Brasil. Era uma multidão de gente. No censo de 1872, o primeiro de nossa história, o país tinha 10 milhões de habitantes e mais da metade (58%) da população era formada por pretos e pardos, incluindo livres, libertos e escravizados.

Os escravizados, nascidos no Brasil e na África, foram a mão de obra utilizada na criação da riqueza derivada do açúcar, do algodão, do ouro, do diamante e do café, principais produtos de exportação do país. Mas eles eram também empregados domésticos, amas de leite, sapateiros, barbeiros, vendedores de rua, pedreiros, pescadores, alfaiates, ferreiros. As ruas e as casas brasileiras do século 19 transbordavam escravidão.

Em 1872, apenas 0,08% dos escravizados eram alfabetizados. Isso, por si, só explica a ausência de relatos em primeira pessoa sobre esse drama. Por sorte, existe uma única autobiografia conhecida de um africano que passou pela experiência do navio negreiro e foi escravizado no Brasil. Ele se chamava Mahommah Baquaqua.

Nascido por volta de 1820, Baquaqua era filho de um comerciante muçulmano e frequentou uma escola religiosa localizada no atual estado de Benin. Sequestrado na África, foi trazido como escravo para o Brasil em 1845. O tráfico de escravizados já era proibido no Brasil desde 1830, graças a um acordo com a Inglaterra, e desde de 1831, por força de uma lei de iniciativa nacional. Se valessem essas leis, Baquaqua deveria ser declarado livre assim que pisasse o solo brasileiro; e seu traficante, preso. Mas esse era o mundo imaginário das leis, não o dos fatos.

Em sua autobiografia, publicada originalmente em 1854 nos Estados Unidos, Baquaqua relata o drama comum aos mais de 4 milhões de africanos escravizados que aqui desembarcaram.

Capa-do-livro-de-Baquaqua-1562012079

Imagem da edição do livro de Mahommah G. Baquaqua. – Foto: Bruno Veras (Public domain)

O relato dos horrores vividos no navio negreiro é pujante. Baquaqua conta que ele e seus companheiros de infortúnio foram empurrados “para o porão do navio em estado de nudez”, com “os homens amontoados de um lado e as mulheres do outro”. Como “o porão era tão baixo”, eles eram obrigados a “se agachar” ou ficar sentados no chão.

A escravidão implica na desumanização completa do indivíduo. Perder o direito à religião e ao nome escolhido por seus antepassados é parte desse processo.

Uma viagem de navio de Angola até o Recife demorava em torno de 30 dias. Amontoados e acorrentados em posição desconfortável, o porão acumulava resquícios de urina, fezes, vômitos sob um forte calor. Relatos dão conta que as pessoas nas cidades primeiro sentiam o mau cheiro desses navios antes mesmo de os verem no horizonte. “A repugnância e a sujeira daquele lugar horrível nunca será apagada da minha memória”, escreveu Baquaqua.

As terríveis condições de higiene e alimentares faziam com que a taxa de mortalidade nas viagens superasse os 10% dos embarcados. Os que morriam pelo caminho tinham seus corpos atirados ao mar, o que torna o Atlântico um gigantesco cemitério de africanos.

Baquaqua conta que “a única comida” que eles tiveram durante a viagem era um “milho encharcado e cozido”. A água também era racionada: “um pint (equivalente a 400 ml) por dia era tudo o que era permitido e nada mais”.

“Houve um pobre rapaz que ficou tão desesperado por falta de água, que tentou arrancar uma faca do homem branco que trouxe a água, quando foi levado para o convés e eu nunca soube o que aconteceu com ele. Eu suponho que ele foi jogado ao mar.

A violência era crucial para manter a “ordem”. Baquaqua conta que, “quando qualquer um de nós se tornava desobediente, sua carne era cortada com uma faca”, então, “pimenta ou vinagre” eram esfregados na ferida.

Os grandes traficantes de escravos eram brasileiros e portugueses aqui residentes. Eram ricos comerciantes, cuja fortuna superava a dos produtores de açúcar e algodão. Eles eram os ricaços do Rio, Salvador, Recife etc. No Recife, na década de 1820, o maior traficante era o comerciante português Elias Coelho Cintra, que tinha o costume marcar seus escravos com a letra “E” com ferro em brasa no peito, feito gado.

Anúncio do furto de três africanos recém-chegados (“negros novos”) de Angola, que tinham “no peito esquerdo a marca E”, de Elias Coelho Cintra.

Anúncio do furto de três africanos recém-chegados (“negros novos”) de Angola, que tinham “no peito esquerdo a marca E”, de Elias Coelho Cintra. – Fonte: Diário de Pernambuco, 1829

Anúncio reporta a chegada do paquete Pernambuco, vindo de Angola, numa viagem que durou 26 dias. Embarcaram 257 cativos, sendo que 26 morreram, que se destinavam a Elias Coelho.

Anúncio reporta a chegada do paquete Pernambuco, vindo de Angola, numa viagem que durou 26 dias. Embarcaram 257 cativos que se destinavam a Elias Coelho. Vinte e seis morreram na travessia. – Fonte: Diário de Pernambuco, 1830

Um dos bairros ainda hoje mais miseráveis e violentos do centro do Recife é o dos “Coelhos”, nome derivado do fato daquela região ser de propriedade da família do maior traficante de escravos da cidade. Sempre que passo por aquela área, fico pensando que parte dos seus habitantes que sobrevivem em condições desumanas, muitos dos quais em palafitas à beira do rio Capibaribe, pode ser formada por descendentes dos escravizados marcados a ferro quente por Elias.

Ao chegarem no Brasil, esses africanos eram postos em quarentena em portos ou mesmo no interior dos navios. Sobrevivendo a essa fase, os escravizados eram obrigatoriamente batizados na fé católica e recebiam nomes à portuguesa. Viravam todos Josés, Franciscos, Marias, Catarinas – Baquaqua não diz qual era seu nome que teve em seus tempos de Brasil. A escravidão implica na desumanização completa do indivíduo. Perder o direito à religião e ao nome escolhido por seus antepassados é parte desse processo.

A viajante estrangeira Maria Graham, que esteve no país na década de 1820, retrata o horror da visão de uma dessas localidades.

“Mal tínhamos percorrido cinquenta passos no Recife, quando ficamos absolutamente enojados com a primeira vista de um mercado de escravos. Era a primeira vez que (…) estávamos em um país de escravos; e, por mais fortes e pungentes que sejam os sentimentos em casa, quando a imaginação retrata a escravidão, eles não são nada comparados à visão desconcertante de um mercado de escravos. (…) Cerca de cinquenta jovens criaturas, meninos e meninas, com toda a aparência de doença e fome, resultante da escassez de comida e longo confinamento em lugares insalubres, estavam sentados e deitados entre os animais mais sujos das ruas ”.

Ao chegar aqui, sendo ainda “boçal” (termo utilizado para descrever os cativos que não dominavam o português), Baquaqua foi colocado para realizar trabalhos puramente físicos. Seu primeiro ofício foi carregar pedras para a construção de uma casa para o seu proprietário.

Depois de ganhar algum domínio da língua, Baquaqua foi para a rua vender pão. Muitos dos escravizados no Brasil do século 19 eram os chamados “pretos de ganho”, isto é, cativos que trabalhavam na rua vendendo alguma mercadoria ou realizando algum serviço, para garantir uma renda diária ao seu proprietário.

Fotografia do acervo do Instituto Moreira Salles mostra vendedoras de rua no Rio na década de 1870.

Fotografia do acervo do Instituto Moreira Salles mostra vendedoras de rua no Rio na década de 1870. – Foto: Acervo/Instituto Moreira Salles

A escravidão não era exclusividade da agricultura para exportação e o escravizado não era “mercadoria” acessível apenas aos ricaços. O Brasil era uma sociedade escravista no sentido mais preciso do termo. Os anúncios de compra, venda, aluguel e fuga de escravos eram a matéria mais ordinária nas páginas dos jornais brasileiros neste período.

Um viajante escocês que passou pelo Recife em 1820 relata sua visão:

“Acho que nenhuma impressão fica mais profundamente impressa em minha mente do que a visão melancólica de centenas… de milhares de escravos negros que vi na cidade… Você não pode se mover em nenhuma direção, sem que a escravidão, com todas as suas misérias multiplicadas, prenda sua atenção. Se você anda pelas ruas, você encontra os escravos, a cada hora do dia, em centenas, gemendo e suando sob seus fardos, e gastando suas vidas miseráveis no desempenho daqueles trabalhos pesados que são feitos por cavalos na Escócia e na Inglaterra”.

Sendo vendedor de rua, Baquaqua conta que tentou ser obediente ao seu proprietário para evitar castigos e ter uma existência um pouco menos miserável. Mas mesmo sendo obediente, era agredido e humilhado. E como tantos outros escravizados, na busca de uma fuga da dureza do cotidiano, abusou do álcool. Além da bebida, Baquaqua imita o comportamento de outros milhares de escravizados: foge. Porém, também como era a regra, acaba recapturado.

Homens, mulheres, jovens e crianças viviam tentando fugir. Era uma luta desigual. Alguns, com sorte, podiam se aquilombar em Catucá, o mais famoso quilombo existente no Recife na primeira metade do século 19, que tanto amedrontava o “cidadão de bem” da cidade.

Trecho de uma carta escrita por um desembargador reclamando do “Quilombo dos negros dos palmares do Catucá”.

Trecho de uma carta escrita por um desembargador reclamando do “Quilombo dos negros dos palmares do Catucá”. – Fonte: Diário de Pernambuco, 1829

Mesmo “com ferro no pescoço” e com “uma ferida na canela direita”, Sebastião do Rosário tentou fugir da sua condição de escravo. Os anúncios de escravos fugidos eram parte obrigatório dos jornais brasileiros do período.

Mesmo “com ferro no pescoço” e com “uma ferida na canela direita”, Sebastião do Rosário tentou fugir da sua condição de escravo. Os anúncios de escravizados que fugiam eram parte obrigatória dos jornais brasileiros do período. – Fonte: Diário de Pernambuco, 1829.

Anúncio da fuga de uma criança de nove anos com “marcas pela cara” provocadas pelo uso “de uma máscara de flandres”.

Anúncio da fuga de uma criança de nove anos com “marcas pela cara” provocadas pelo uso “de uma máscara de flandres”. – Fonte: Diário de Pernambuco

Gravura mostrando um escravizado com ferros no pescoço e máscara de flandres.

Gravura mostrando um escravizado com ferros no pescoço e máscara de flandres. – Ilustração: Jacques Arago/Museu Afro Brasil (São Paulo)

Baquaqua conta que, após uma recaptura, saiu para vender pão, mas usou o dinheiro arrecadado para comprar bebida. Voltando a casa do senhor embriagado e sem dinheiro. Foi violentamente espancado. Revoltado e humilhado, Baquaqua tenta o suicídio:

“Eu preferiria morrer a viver para ser um escravo. Eu então corri para o rio e me joguei, mas sendo visto por algumas pessoas que estavam em um barco, fui resgatado do afogamento.”

Depois disso, ele é posto à venda.

Anúncio publicado no Diário de Pernambuco em 1830, em que anuncia: “vende-se por [ser] fujão”. O termo “ladino” significava que, apesar de o escravo ser africano, ele já dominava o idioma e os costumes locais.

Anúncio publicado no Diário de Pernambuco em 1830, em que anuncia: “vende-se por [ser] fujão”. O termo “ladino” significava que, apesar de o escravo ser africano, ele já dominava o idioma e os costumes locais. – Fonte: Diário de Pernambuco

Baquaqua é vendido “para fora da província”. Essa era uma outra forma comum de punição e de controle dos escravizados: os que se comportavam mal eram vendidos sob a condição de serem levados para localidades distantes. Toda a sociabilidade construída pelo escravizado naquela cidade era, de repente, desfeita, em uma repetição das agruras do navio negreiro.

Anúncio de venda de escravo no Diário de Pernambuco.

Anúncio de venda de escravo no Diário de Pernambuco. – Fonte: Diário de Pernambuco

Seu destino foi o Rio de Janeiro, a capital do Império e maior cidade do país. Passou então a trabalhar a bordo de um navio. Após algumas viagens – ele narra passagens por Santa Catarina e Rio Grande do Sul –, a embarcação teria como destino Nova York.

Em 1847, em solo estadunidense, Baquaqua conseguiu finalmente fugir da condição de escravizado e se tornou, mais uma vez, um homem livre. Seus companheiros no Brasil, porém, teriam que esperar até 1888 para terem a mesma sorte.

Livres, mas sem nenhuma indenização por séculos de trabalho forçado, sem acesso à terra, à educação, marcados pelo preconceito e vítimas do racismo “científico” que ganha força no final do século 19 e começo do século 20. Enquanto os imigrantes italianos que aqui aportavam aos milhares a partir de 1890 tinham passagem subsidiada, salário, terra e liberdade para trocar de emprego depois de cinco anos, os pretos e pardos não tinham nada.

Nos EUA, neste exato momento, está em debate no Congresso a questão da reparação dos descendentes de escravizados. No Brasil, diz-se ainda que cotas são “racismo reverso”. O esquecimento da escravidão é um projeto muito bem elaborado pela elite.

Diretor do Inpe detona Bolsonaro: “Não pode falar como em uma conversa de botequim”

.

Diretor do Inpe detona Bolsonaro: “Não pode falar como em uma conversa de botequim”

Revista Fórum – Ricardo Galvão, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, rebateu Bolsonaro, dizendo que, ao criticar a ciência brasileira, ele faz piada de um garoto de 14 anos; declaração veio como reação à fala do presidente negando o desmatamento na Amazônia.

Nessa sábado (20), o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Magnus Osório Galvão, rebateu Jair Bolsonaro, que afirmou que o órgão mentia sobre dados de desmatamento na Amazônia. As acusações de Bolsonaro foram feitas durante um café da manhã com correspondentes estrangeiros.

“A questão do Inpe, eu tenho a convicção que os dados são mentirosos. Até mandei ver quem é o cara que está a frente do Inpe para vir se explicar aqui em Brasília, explicar esses dados aí que passaram na imprensa. No nosso sentimento, isso não condiz com a realidade. Até parece que ele está a serviço de alguma ONG, que é muito comum”, afirmou Bolsonaro.

Ricardo Galvão pareceu aceitar o desafio.“A primeira coisa que eu posso dizer é que o sr. Jair Bolsonaro precisa entender que um presidente da República não pode falar em público, principalmente em uma entrevista coletiva para a imprensa, como se estivesse em uma conversa de botequim. Ele fez comentários impróprios e sem nenhum embasamento e fez ataques inaceitáveis não somente a mim, mas a pessoas que trabalham pela ciência desse País”, declarou.

….