SEM A NECESSIDADE DE SE APOSENTAR, CELEBRIDADES DEFENDEM REFORMA DA PREVIDÊNCIA

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SEM A NECESSIDADE DE SE APOSENTAR, CELEBRIDADES DEFENDEM REFORMA DA PREVIDÊNCIA

O governo também liberou R$ 4,3 bilhões em emendas parlamentares desde março / Montagem: Gabi Lucena

Governo Bolsonaro gastou R$ 40 milhões para que celebridades milionárias defendessem a reforma da Previdência

Cris Rodrigues | Brasil de Fato | São Paulo (SP) – A reforma da Previdência proposta pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL) tramita na Câmara dos Deputados desde 20 de fevereiro de 2019. Nesse primeiro semestre, contou com a ajuda de um time de celebridades, em uma campanha publicitária milionária para tentar convencer a população de que era preciso mexer em sua aposentadoria.

O argumento principal de Bolsonaro e de seu ministro da Economia, Paulo Guedes, para a necessidade de uma reforma é financeiro: o país não teria como pagar aposentadoria para todos os brasileiros que dela necessitam. Diante disso, causa estranheza o fato de o governo ter investido tanto dinheiro para aprovar a reforma que tem como objetivo, justamente, economizar dinheiro.

Veja Vídeo:

Apenas a campanha publicitária, que incluiu o merchandising dos artistas, custou R$ 40 milhões. Mas esse não foi o único investimento: o governo liberou R$ 4,3 bilhões em emendas parlamentares desde março. Embora Bolsonaro negue o toma lá dá cá, R$ 1,1 bilhão desses recursos foram liberados um dia antes da votação da reforma em primeiro turno na Câmara.

Para se ter uma ideia, esses R$ 4,3 bilhões pagariam aposentadoria de um salário mínimo para 18 mil pessoas durante 20 anos.

A escolha das celebridades para falar sobre Previdência também foi inusitada, já que se trata de apresentadores milionários, que não serão atingidos pela reforma. Com renda mensal média estimada em R$ 1,37 milhão – sem considerar o lucro das empresas próprias, outras propagandas e comissões –, os comunicadores que a agência de propaganda Artplan contratou estão numa faixa salarial que é 50 vezes maior que a média da população 1% mais rica do país, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Um dos contratados é Ratinho, que tem renda mensal de R$ 3 milhões, um valor que um trabalhador ganhando um salário mínimo levaria 250 anos para obter. Apesar da alta renda, Ratinho deve R$ 76 milhões em impostos para a União.

Outros nomes confirmados são Rodrigo Faro (R$ 3 milhões), Datena (R$ 1 milhão), Ana Hickmann (R$ 700 mil), Luciana Gimenez (R$ 500 mil) e Renata Alves (R$ 100 mil).

Edição: Luiz Felipe Albuquerque

JUIZ DECIDE MANTER PRISÃO DOS QUATRO INVESTIGADOS POR ENVOLVIMENTO NA INVASÃO DE CELULARES DE AUTORIDADES

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JUIZ DECIDE MANTER PRISÃO DOS QUATRO INVESTIGADOS POR ENVOLVIMENTO NA INVASÃO DE CELULARES DE AUTORIDADES

Suspeitos vão continuar detidos até quinta-feira (1º), quando se encerra o prazo da prisão temporária

Agência do Rádio – Repórter Cintia Moreira. – O juiz da 10ª Vara da Justiça Federal em Brasília, Vallisney de Souza Oliveira, decidiu manter nesta terça-feira (30) a prisão dos quatro investigados por envolvimento na invasão de celulares de autoridades do país. Com isso, Gustavo Santos, Suelen Priscilla de Oliveira, Danilo Marques e Walter Delgatti Neto, conhecido como Vermelho, vão continuar detidos até quinta-feira (1º), quando se encerra o prazo da prisão temporária.

O especialista em direito digital Plínio Higasi considera que a decisão do juiz foi correta.

“A manutenção da prisão, ao meu ver, é bastante prudente. Porque ainda precisa terminar as investigações e não se sabe exatamente o que vai acontecer. Ele indeferiu justamente porque não tem nenhum fator novo que mostre que não houve ligação das pessoas ao fato. Por isso mesmo que a gente ressalta que precisa de muita avaliação, ainda muita análise do que realmente aconteceu, e muita investigação, para que a polícia chegue aos fatos”, disse.

O hackeamento em massa de aparelhos de mais de mil pessoas atingiu, em sua maioria, autoridades. Entre os aparelhos hackeados, estariam o do presidente Jair Bolsonaro, do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), do presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), João Otávio de Noronha, da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, além da líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), e os ministros da Economia, Paulo Guedes, e da Justiça, Sérgio Moro. Há ainda a possibilidade de ministros do Supremo Tribunal Federal também terem sido alvos da invasão. A Polícia Federal não confirma nenhum hackeamento porque a investigação corre em sigilo.

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BOLSONARO AVISA QUE MANTERÁ INSULTOS E AGRESSÕES À DEMOCRACIA

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BOLSONARO AVISA QUE MANTERÁ INSULTOS E AGRESSÕES À DEMOCRACIA

Jair Bolsonaro (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

Brasil247 – Jair Bolsonaro avisou em entrevista concedida ao jornal O Globo nesta terça-feira que irá manter os insultos e agressões ao país, às lideranças de oposição e dos movimentos sociais e à democracia; “O presidente Jair Bolsonaro tem um recado claro: ele não vai mudar”, concluiu a jornalista Jussara Soares depois de 15 minutos de conversa no gabinete presidencial no Palácio do Planalto; “Sou assim mesmo”, afirmou Bolsonaro.

Jair Bolsonaro avisou em entrevista concedida ao jornal O Globo nesta terça-feira (30) que irá manter os insultos e agressões ao país, às lideranças de oposiçao e dos movimentos sociais e à democracia. “O presidente Jair Bolsonaro tem um recado claro: ele não vai mudar”, concluiu a jornalista Jussara Soares depois de 15 minutos de conversa no gabinete presidencial no Palácio do Planato. “Sou assim mesmo”, afirmou Bolsonaro. Ele acrescentou: “Não tem estratégia. Se eu estivesse preocupado com 2022 não dava essas declarações”.

Na entrevista, Bolsonaro revelou a razão de seu ódio ao presidente da OAB: a entidade não se dobrou ao desejo do presidente para que fosse, de maneira ilegal, quebrado o sigilo de um dos advogados de Adélio Bispo de Oliveira -a Constituição e a lei garantem aos advogados a completa inviolabilidade de seu exercício profissional. Informou a jornalista Jussara Soares: “Ao ser questionado a respeito de suas declarações sobre Fernando Santa Cruz, pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Bolsonaro voltou a se justificar, dizendo que a entidade atuou para que não se chegasse aos ‘mandantes da sua tentativa de assassinato’. Ele insiste que a quebra de sigilo telefônico de um advogado de Adélio Bispo de Oliveira daria um novo rumo à história. A medida não foi adotada por um recurso da Ordem. Bolsonaro disse que não recorreu da decisão da Justiça, que classificou seu agressor como inimputável porque, ao ser enquadrado como portador de Transtorno Delirante Persistente, Adélio estará agora em ‘prisão perpétua'”.

Bolsonaro deixou claro que seu governo está a serviço das empresas mineradoras e que o horizonte é de devastação em escala inédita, avisando que pretender criar “pequenas Serras Peladas” no Brasil.

Mais uma vez, ele desdenhou do massacre de 58 presos em no presídio de Altamira, dos quais 16 foram decapitados, na maior carnificina em cadeias desde a registrada no Carandiru (SP) em 2001 e, indiretamente, sancionou a chacina: “Já disse pela manhã na porta do Alvorada. Você estava lá? Pergunte às vítimas dos facínoras. Pergunte para elas o que acham, não vou criar polêmica”.

ANÁLISE: APÓS TRUMP E BORIS JOHNSON, QUANDO É A HORA DE TOCAR O ALARME DO CAOS POLÍTICO?

ANÁLISE: APÓS TRUMP E BORIS JOHNSON, QUANDO É A HORA DE TOCAR O ALARME DO CAOS POLÍTICO?

Folha Uol – Gideon Rachman – Poucas semanas atrás, eu estava sentado no gabinete em Londres de um parlamentar conservador britânico aflito diante da probabilidade de Boris Johnson tornar-se o líder de seu partido e, em seguida, primeiro-ministro. Conversamos sobre política e sobre os livros que andávamos lendo.

Mencionei que eu acabara de ler um livro de memórias de Sebastian Haffner, “Defying Hitler”. “Estou com esse livro aqui”, respondeu o parlamentar, procurando o exemplar em sua estante. “É ótimo, não?”

Achei significativo o fato de ambos termos lido sobre a década de 1930 para tentar apreender o sentido de 2019. Nem ele nem eu pensamos que Boris Johnson ou Donald Trump sejam reencarnações de Hitler ou Mussolini.

Mas ambos achamos o livro de memórias de Haffner interessante por uma razão diferente, mais sutil: ele oferece um vislumbre extraordinário de como é viver em um período de turbulência política.

O livro de Haffner foi escrito em 1939, logo antes do início da Segunda Guerra Mundial e do Holocausto. Haffner tinha 7 anos de idade quando a Primeira Guerra Mundial começou, em 1914, e em 1938 havia deixado a Alemanha para viver no exílio.

Seu livro (que só foi descoberto por seu filho em 1999, quando estava organizando os papéis de seu pai após a morte dele) nos proporciona uma visão contemporânea de como foi acompanhar a ascensão dos nazistas ao poder –e os temores, as dúvidas e os dilemas morais que surgem diante da emergência de uma política de tipo novo e perturbador.

Na época, assim como hoje, os moderados políticos se viam constantemente obrigados a se perguntar: “Até que ponto isto é grave? É apenas desagradável ou é verdadeiramente perigoso? E a reação apropriada, qual é: mergulhar na política ou retirar-se para nossa própria vida privada?”.

No Reino Unido de hoje, o Partido Conservador se aproximou da direita nacionalista, enquanto o Partido Trabalhista foi dominado pela esquerda radical. Com isso, muitos centristas se veem sem um lar político para habitar.

Haffner capta esse sentimento quando escreve sobre “nós –aquele ‘nós’ indefinido, sem nome, sem partido, sem argumento e sem poder”.

As queixas feitas pelos populistas de hoje de que um “Estado profundo” nos Estados Unidos e no Reino Unido estaria frustrando a vontade da população remetem à descrição feita por Haffner da extrema direita alemã na década de 1920: “Com ódio profundo eles cunharam o termo ‘sistema’ para descrever a força imaterial que os mantinha dentro de limites. (…) Por enquanto, pelo menos, eles são mantidos dentro de limites”.

Advogado jovem e culto, Haffner sentia profundo desprezo intelectual pelos nazistas “e seu jargão revoltante, cada sílaba do qual denotava uma estupidez violenta”.

Mas esse desprezo revelou-se uma armadilha política, porque “eu não me dispunha a levá-los muito a sério —uma atitude comum entre seus adversários inexperientes e algo que os ajudou muito” (ou seja, ajudou os nazistas).

Ele se questionava constantemente até onde as coisas iriam piorar. Pouco depois de os nazistas tomarem o poder, ele sentiu distintamente “que tudo o que aconteceu até agora foi meramente repulsivo, nada mais. Mas o que ainda estava por vir era mais apocalíptico.”

Quando os acontecimentos seguiram um rumo ainda mais perigoso, Haffner e seus amigos adotaram mecanismos diferentes de defesa psicológica. Uma tentação forte era de simplesmente deixar de prestar atenção às notícias e de as pessoas “fecharem suas janelas com força e se retirarem dentro das quatro paredes de sua vida privada”.

Outra tentação era reconfortar-se com as coisas que não haviam mudado –ou seja, as partes do Estado e da vida pública que ainda pareciam ser sólidas e familiares. Assim, remontando a 1933, o ano em que Hitler se tornou o chanceler alemão, Haffner escreveu: “Diariamente o chanceler lançava os insultos mais vis aos judeus”.

Mas, por outro lado, “o processo da lei não havia mudado em nada”. As instituições alemãs e seu sistema de freios e contrapesos ainda estavam funcionando normalmente.

Diante disso, é um equívoco pensar que o discurso violento de um líder autoritário tem menos importância que as instituições do Estado?

Em retrospecto, Haffner observa com pesar: “Sou obrigado a admitir que eu tendia a encarar o funcionamento normal das leis, e de fato a continuidade do cotidiano normal, como uma vitória contra os nazistas”.

Mas em 1933, enquanto ele trabalhava em uma biblioteca de direito, tropas de assalto invadiram o prédio e começaram a expulsar leitores judeus. Para sua vergonha, Haffner se descobriu tendo que assegurar aos invasores que ele não era judeu.

A leitura desse trecho de seu livro é chocante hoje. Mas, para quem procura alguma perspectiva para entender 2019, é também reconfortante, na medida em que o que lemos é tão distante do que seria imaginável hoje.

O presidente dos Estados Unidos acaba de mandar deputadas negras, hispânicas e muçulmanas “voltarem para os lugares de onde vieram”. O provável próximo primeiro-ministro britânico disse que mulheres muçulmanas que usam o “niqab” lembram caixas de correio.

Ainda assim, entretanto, parece inimaginável que tropas de assalto possam vir a expulsar membros de minorias de espaços públicos.

Mas quando é o caso de se tocar o alarme? Escrevendo no exílio em Londres, Haffner refletiu: “Levei muito tempo para entender que minha inquietação juvenil era justificada e que a riqueza de experiência de meu pai estava enganada; que existem coisas que não podem ser controladas pelo ceticismo calmo”.

Minha reação instintiva à ascensão de Boris Johnson e ao discurso de Donald Trump ainda é o “ceticismo calmo”.

Mas a verdade é que estou mais ou menos na mesma fase da vida em que se encontrava o pai de Haffner em 1933.

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CHOMSKY: ”O QUE ACONTECEU NO BRASIL DEVE SER VISTO COMO UM MODELO DO QUE PODE VIR”

CHOMSKY: ''O QUE ACONTECEU NO BRASIL DEVE SER VISTO COMO UM MODELO DO QUE PODE VIR''

Chomsky aborda a ascensão da extrema-direita, assinalando que “o Brasil talvez seja o caso mais extremo agora”, mas também fala sobre os motivos de otimismo nos EUA, dando o exemplo do Green New Deal de Ocasio-Cortez

Carta Maior – Por John Nichols – 7 de dezembro é, como Franklin Delano Roosevelt explicou em 1941, “uma data que se viveria na infâmia”. É também o aniversário de Noam Chomsky. Quando o ataque japonês a Pearl Harbor ocorreu, Chomsky tinha treze anos de idade. Como resultado de uma série de discussões que tivemos antes e depois de seu nonagésimo aniversário, em 7 de dezembro de 2018, esse detalhe da sua infância é particularmente significativo para o homem que, em muitos sentidos, definiu a compreensão moderna do que é ser um intelectual público comentando sobre questões globais na época da sua adolescência. A entrevista a seguir foi conduzida por John Nichols em coordenação com a Catalyst. Chomsky aborda a ascensão da extrema-direita hoje, relacionando-a ao fascismo entre guerras, e então passa para uma discussão mais ampla sobre a conjuntura.

John Nichols JN- Quando tinha dez anos de idade, escreveu um pequeno artigo sobre as suas preocupações sobre a ascensão do fascismo. Estava a escrever após a queda de Barcelona no regime fascista de Francisco Franco, nos últimos dias da Guerra Civil Espanhola. Os americanos que lutaram naquela guerra, como membros da Brigada Abraham Lincoln, foram desacreditados como “antifascistas prematuros”, ao ousarem erguer armas contra os aliados de Hitler e Mussolini antes da entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial, em 8 de dezembro de 1941. Aos dez anos de idade aliou-se aos antifascistas. Lembra-se do artigo?

Noam Chomsky NC – O artigo foi para o jornal do quarto ano da escola. Eu era o editor e o único leitor e, pelo que me lembro, talvez a minha mãe. Por sorte, ela não salvou nada do jornal. Tenho certeza que seria bastante embaraçoso para mim. Tudo de que me lembro é a primeira frase, que descreve o meu pensamento na época: “a Áustria caiu, a Checoslováquia caiu, Toledo caiu e agora Barcelona também”.

Eu estava a escrever depois da queda de Barcelona, %u20B%u20Bem fevereiro de 1939, e pareceu, na época, que a disseminação do fascismo era inexorável. Nada iria parar isso. O artigo descrevia o que estava a acontecer no mundo, algo assustador. Eu tinha idade suficiente para ouvir os discursos de Hitler nos comícios de Nuremberg – sem entender as palavras, mas era fácil perceber o tom daquilo. Podia ver o que estava a acontecer enquanto essa praga se espalhava por toda a Europa e parecia não ter fim.

Quando o regime em Barcelona desmoronou, isso não foi apenas o fim do estado democrático liberal espanhol, mas, para mim, o mais importante, foi o fim da revolução social. [A Guerra Civil Espanhola] Não foi apenas uma simples guerra entre o fascismo e a democracia liberal; houve uma incrível revolução social em grande parte da Espanha e foi esmagada pelos esforços conjuntos dos comunistas, dos fascistas e das democracias liberais. Eles não concordaram muito entre eles, mas concordaram que a revolução social tinha que ser esmagada. Barcelona foi apenas o último símbolo naquele momento. As pessoas simplesmente fugiram para a França quando podiam escapar.

JN – Ficou claro para si que uma guerra maior estava a chegar?

NC – Bem, como eu disse, parecia impossível de ser parado. Ia-se espalhar por toda a Europa, pelo mundo. Aprendi muito mais tarde que aqueles que planeavam as políticas dos Estados Unidos já estavam a reunir-se: o Departamento de Estado e o Conselho de Relações Exteriores – além de grupos a trabalhar sobre como seria a guerra e o período pós-guerra.

Nesta altura, em 1939, eles já estavam a antecipar que a guerra terminaria com uma divisão entre dois mundos: um dominado pelos EUA e outro dominado pelos alemães. Esse foi o cenário. Então, a minha perceção infantil não era totalmente irrealista.

JN – A sua perceção foi influenciada pela sua própria experiência, ao crescer em Filadélfia?

NC – Foi influenciada por experiências locais. Passámos a ser a única família judia num bairro predominantemente alemão e irlandês. Os irlandeses odiavam os ingleses, alemães gostavam dos alemães e assim por diante… lembro-me bem de festas com cerveja quando em Paris o regime caiu. As crianças do bairro foram para uma escola jesuíta local. Odeio pensar o que era ensinado lá, mas elas saíram delirantemente antissemitas da escola. Levava algumas horas para essas crianças se acalmarem para que pudéssemos jogar à bola na rua.

Por isso, combinou experiências pessoais, que, aliás, nunca mencionei aos meus pais. Eles não tinham ideia sobre isso até o dia das suas mortes. Naquela época não falávamos com os nossos pais sobre essas coisas. Isso é pessoal. Mas foi uma combinação dessas coisas que levaram a esse [artigo].

JN – Com a experiência de comentar sobre o fascismo por oitenta anos, qual é o entendimento de onde estamos hoje? Há uma grande discussão sobre fascismo e ameaças fascistas. Pilhas de livros estão a ser escritas sobre o assunto. Como devemos pensar sobre o que está a acontecer agora?

NC – Bem, estou um pouco relutante em usar a palavra “fascismo”. É usado de forma bastante frouxa agora. É usado para se referir a qualquer coisa horrível. Mas o fascismo realmente significava algo nos anos trinta. De facto, vale a pena lembrar que mesmo a opinião liberal tinha uma espécie de apreciação moderada do fascismo. Assim, por exemplo, Roosevelt descreveu Mussolini, o fascista original, como “aquele admirável cavalheiro italiano”.

Os fascistas tinham conseguido esmagar o movimento trabalhista e a esquerda social-democrata e comunista, e isso era algo em que a opinião do Ocidente era bastante favorável. Os industriais ocidentais e o Departamento de Estado em 1937 descreviam Hitler como moderado e George Kennan, nosso cônsul em Berlim na época, e mais tarde um dos estadistas mais respeitados do pós-período, estava a escrever de Berlim dizendo que não deveríamos ser muito duros com essas pessoas. Há coisas erradas com elas, mas elas estão a fazer algumas coisas que são muito boas, então provavelmente podemos dar-nos bem com elas.

O fascismo foi entendido como algo diferente naquela época. Não era algo horrível. Tinha uma política social e económica específica. Era para ser um estado poderoso que coordenaria todos os setores da sociedade. Seria um estado de dominação; os negócios floresceriam, mas sob o controlo de um estado poderoso. O trabalho seria entendido como um subsidiário desse sistema geral. Não é o que chamamos de fascismo hoje.

JN – Qual é o seu entendimento do que as pessoas chamam de fascismo hoje?

NC – O que é chamado de fascismo hoje é algo podre.

JN – Essa é uma definição ampla.

NC- Definição ampla.

JN – Existe algum lugar, quando olha ao redor do mundo atualmente [e eu sei que você faz isso] onde vê ameaças emergindo em termos concretos?

NC – Bem, acho que o Brasil talvez seja o caso mais extremo agora. O Brasil está nas mãos do novo presidente [Jair Messias Bolsonaro]. Bolsonaro assumiu a presidência. O Brasil, como você sabe, teve uma horrenda ditadura militar: tortura, assassinato. Bolsonaro elogia a ditadura militar. Na medida em que ele critica, diz que a ditadura militar no Brasil não matou pessoas suficientes. Para ele, a ditadura no Brasil deveria ter sido como a da Argentina, a qual teve o pior desse tipo de estado de segurança nacional neonazista. Eles mataram 30.000 pessoas.

Tem havido um golpe, um golpe de direita a acontecer no Brasil há vários anos. O primeiro momento disso foi o impeachmenttotalmente fraudulento da presidente Dilma Rousseff [antiga líder do Partido dos Trabalhadores]. Quando Bolsonaro votou pelo impeachment, ele dedicou o seu voto ao principal torturador do regime militar, que tinha sido pessoalmente responsável pela tortura de Dilma Rousseff. Esse é o tipo de pessoa que estão lá.

As políticas de Bolsonaro são essencialmente para acabar com a população indígena, para vender totalmente o país. O seu ministro da Economia, Paulo Guedes, é um ultra neoliberal da Escola de Chicago, que trabalhou no Chile sob o regime de Pinochet, e tem como objetivo, como ele disse: privatizar tudo, vender todo o país para investidores estrangeiros. Ele quer abrir a Amazónia para a exploração de mineração e para o agronegócio: uma espécie de sentença de morte para o mundo, já que a Amazónia é um dos principais pulmões do mundo.

JN – Fale-nos sobre como Bolsonaro chegou ao poder.

NC- A forma como ele foi eleito é bastante significativa. Devemos prestar atenção a isso. Veremos mais disso na nossa próxima eleição nos EUA. É um tipo de experiência. A primeira coisa que fizeram foi ir atrás da pessoa que iria ganhar a eleição. Julgando pelas sondagens, Lula da Silva – ex-presidente que presidiu um período que o Banco Mundial chamou de Década de Ouro do Brasil, com redução substancial da pobreza, abertura de oportunidades educacionais para minorias, para outras pessoas – fez políticas bastante eficazes. Muitos erros também, mas ele foi, de facto, provavelmente a figura política mais respeitada do mundo. Ele também estava a apoiar o papel do Sul Global e o seu esforço para escapar do legado do colonialismo, que ainda era muito severo.

Então, o que eles fizeram com Lula da Silva, que estava à frente nas sondagens, [foi colocá-lo] na prisão por vinte e cinco anos, em confinamento solitário. Ele não podia ler nada e nem fazer declarações. Eu e a minha esposa, Valeria, visitámo-lo na prisão. Vinte e cinco anos de solitária, isso é essencialmente uma sentença de morte. Mas, crucialmente, ele não tinha permissão para fazer uma declaração – ao contrário dos assassinos no corredor da morte nos EUA, que têm permissão para falar. O seu neto favorito morreu e, depois de muitas negociações, eles permitiram que ele comparecesse ao funeral por uma hora, mas não podia dizer nada… Se ele sobreviver, vai ser incrível. Ele é definitivamente o prisioneiro político mais importante do mundo.

JN – Referiu que existiu pouca atenção às circunstâncias de Lula na maioria dos meios de comunicação dos EUA. Ou, realmente, de Bolsonaro. Isso faz parte de um problema mais amplo com os media dos EUA que não cobrem o mundo? Mas está especialmente preocupado com a negligência do que está a acontecer no Brasil.

NC – Bolsonaro é o mais próximo de algo como o fascismo – não no sentido técnico, mas no sentido de amargo, vicioso, profundamente autoritário e brutal.

JN – Como ele chegou ao poder não é apenas perturbador em si mesmo. É uma indicação de como a política está a mudar em todo o mundo.

NC- A forma como a eleição foi ganha – e é isso que eu tinha em mente ao dizer que poderíamos pensar – foi por uma incrível campanha nos media sociais, que é a única coisa que a maioria dos brasileiros tem como fonte da chamada “informação”. O WhatsApp Foi inundado com as mais inacreditáveis %u20B%u20Bmentiras, distorções, invenções sobre as coisas supostamente hediondas que o PT, a oposição, faria… Suspeito que na nossa próxima eleição, na qual Bernie Sanders está a concorrer [contra Trump na eleição de novembro] será o que vai acontecer. Estes são os tipos de acusações que não dá para responder. É apenas nojento, feio, vilificação. Já está a começar, por exemplo, com as acusações da direita sobre o “socialismo”.

Notei que, no discurso do Presidente Trump sobre o Estado da União, havia um longo solilóquio sobre o socialismo e, claramente, que se tornou uma grande pedra de toque para muitas das críticas de pessoas dentro do Partido Democrata. Há um punhado de socialistas democráticos que se levantaram no Partido Democrata: Bernie Sanders, Alexandria Ocasio-Cortez, Rashida Tlaib e outros. E assim há uma realidade que temos pela primeira vez em muito tempo: um aumento de uma presença democrático-socialista aliado ao nosso discurso.

JN – Pode falar-nos sobre como o presidente e alguns dos seus aliados políticos podem-se aproveitar deste termo?

NC- Bem, devemos ter em mente que os EUA é um país muito isolado, cultural e intelectualmente. Quer dizer, no resto do mundo, socialista é um termo normal. Comunista é um termo normal. As pessoas podem ser comunistas, o Partido Comunista pode participar em eleições. Ser socialista é apenas ser uma espécie de pessoa moderna. Aqui nos Estados Unidos, o socialismo é uma palavra de maldição – então, chamar alguém de socialista significa que ela é um monstro total, como um nazi, talvez como Estaline. Mas isso é exclusivo dos Estados Unidos.

Veja Bernie Sanders. As suas posições não teriam surpreendido [o ex-presidente Dwight] Eisenhower. Lê as declarações de Eisenhower, quando sugeriu que qualquer um que questione o New Deal não pertence ao nosso sistema político. Ou que qualquer um que pense que os trabalhadores devem ter a oportunidade de formar livremente sindicatos – e devem voltar a ser massas amontoadas e patéticas do passado – simplesmente não fazem parte do mundo civilizado.

JN – De facto, Eisenhower pronunciou o discurso de “Cruz de Ferro”, em 1953, no qual ele disse que todo o avião de guerra que construímos poderia ser dinheiro a ser usado para a construção de escolas. Isso soa muito parecido com um Bernie Sanders.

NC – O país moveu-se muito para a direita durante o período neoliberal, desde os anos Reagan – os anos Carter-Reagan. Então, quando essas pessoas que se autodenominam “socialistas democráticos” aparecem, elas voltam essencialmente a uma tradição que é bem parecida com o New Deal. É muito saudável, penso eu, mas não tem nada a ver com socialismo ou com o sentido tradicional da palavra. Lembre-se do que o socialismo significava uma vez. O socialismo significava, no mínimo, o controlo sobre a produção pela força de trabalho, o controlo sobre outras instituições pelos participantes, o controlo democrático sobre todo o sistema social e económico.

[A maioria dos proeminentes socialistas democráticos na política americana contemporânea] não está a reivindicar isso. Eles estão a chamar o que na Europa seriam medidas social-democratas moderadas – o que para os Estados Unidos é muito importante. Então, acho que é uma coisa muito boa. Mas será banalizado com tiradas de infâmia, demonização e denúncia. Pode ter certeza disso. E o que aconteceu no Brasil, penso eu, vale a pena ser visto como uma espécie de modelo experimental do que pode vir.

JN – Se, por acaso, Bernie Sanders for indicado para presidente dos Estados Unidos, qual é o sentido de como essa campanha pode ser jogada? Correndo o risco de fazer de Noam Chomsky um comentarista… o que acha que aconteceria?

NC – Eu acho que ele vai ser submetido – e isso é verdade se ele concorre ou se qualquer outra pessoa como ele concorre – a uma campanha muito cruel, vulgar sobre media social, através de notícias, rádio etc. Lembre-se de que todos esses instrumentos foram tomados pela extrema direita. Eu ouço rádio de vez em quando. Isso é realmente chocante. Quero dizer, isso faz a Fox News parecer liberal, sabe? E isso atinge muitas pessoas. Rush Limbaugh tem audiência de 20 ou 30 milhões de pessoas, dizendo-lhes por exemplo que existem – qual é a sua famosa frase? Instituições que existem com base no engano: governo, media, academia e ciência. Ele está a dizer às pessoas: não acreditem numa palavra que provenha destas instituições. Coisas como esta estão a atingir uma grande parte da população americana.

JN – Sempre nos lembrou que as elites colocaram grande energia em restringir e estreitar o discurso político.

NC – O ativismo social é considerado pela classe política e empresarial como um cancro. Se ficar maligno, eles pensam: tem que pará-lo à força. Mas é muito mais rentável, no caso de um cancro, preveni-lo. E [existem] todos esses meios para impedir o surgimento de movimentos sociais organizados que desafiarão os eventos que estão a ocorrer.

Desviar a atenção das pessoas para outras direções é outra maneira de o faze. Então, existem mensagens [de Trump e dos seus aliados] sobre as hordas de estupradores, assassinos, terroristas prestes a invadir a fronteira, nos atacar e nos destruir. Ok, então eles querem que prestemos atenção nisso e não ao facto de os nossos salários reais não terem aumentado em trinta anos, que estamos a perder benefícios, que o sistema político está a entrar em colapso ou ainda, que todo o ato feito pelo governo é um ataque à força de trabalho e aos pobres. A mensagem é: “Não olhem para isso. Olhem para essas pessoas que estão a atravessar a fronteira. Preocupem-se com os seus filhos ou qualquer outra coisa”.

Existem meios muito concretos para distrair as pessoas. Eles foram desenvolvidos por muitos anos e são, em grande parte, produzidos pela indústria de publicidade – uma das mais poderosas do país – e estão a ser aplicados agora para evitar que pessoas como você, especialmente os jovens, tenham a “ideia errada” de se organizar, de serem ativos e fazer o tipo de coisas que Ocasio-Cortez está a fazer. Eles tentam, de alguma forma, impedir que você inicie qualquer tipo de coisa.

JN – Eles não parecem estar a ter grande, porque Ocasio-Cortez tem mais de 3,3 milhões de seguidores no Twitter. Ela e as outras parlamentares que foram eleitas para o Congresso estão a tornar-se estrelas políticas. Existe um fenómeno lá. A sondagem mostra que pessoas com menos de trinta anos têm opiniões positivas sobre o socialismo democrático – pelo menos em oposição ao capitalismo, como é praticado atualmente. Bernie Sanders concorreu a presidência muito bem em 2016 e parece estar muito bem agora, à medida que se aproximam as eleições de 2020. Então, não há alguma evidência de que os progressistas estão a surgir? Que uma mudança está a ocorrer?

NC – Bem, eu colocaria de outro jeito. É por causa dos efeitos da era neoliberal que está a perceber essa reação. Há uma reação em todo o mundo e é em duas direções. Às vezes é apenas alguma coisa que está a descrever. Às vezes é neofascista mesmo.

Há uma questão real agora sobre o caminho a seguir. Na Europa, nos Estados Unidos, e em alguns outros lugares há um tremendo aumento de raiva, amargura, ressentimento. E a questão é: o que ocorrerá?

Do ponto de vista das elites políticas e financeiras do mundo, a estratégia da atenção centra-se realmente em: “violadores a atravessar a fronteira”. Do ponto de vista de Ocasio-Cortez, ou Bernie Sanders, o desejo é que seja pautada a questão social e políticas económicas que foram instituídas e que estão a marginalizar as pessoas, colocando-as de lado, minando o sistema político.

Então isso é uma luta nos Estados Unidos e em toda a Europa também. Mas a raiva e a amargura estão presentes e os diferentes [atores políticos] querem que ela seja focalizada de maneiras opostas. Alguns querem que você desvie a atenção das causas, para que eles possam controlá-lo melhor. Outros querem que preste atenção às causas, assim pode fazer algo. Esta é uma grande luta que está a formar-se em grande parte do mundo. Quero dizer: o sistema capitalista assumiu uma espécie de forma selvagem nos últimos trinta ou quarenta anos. As pessoas estão a sofrer e estão irritadas, e estão a reagir.

A questão é: como as pessoas vão responder? A esse respeito, é um pouco como nos anos 1930. Poderia ter ido em outras direções. Assim, por exemplo, nas décadas de 1920 e 1930, haviam movimentos ativistas e movimentos social-democratas muito animados, comunistas e outros movimentos de esquerda. Haviam também movimentos fascistas em ascensão. E havia uma pergunta: quem vai ganhar? Infelizmente, sabemos como isso terminou. Eu não acho que é tão dramático hoje, mas é similar estruturalmente.

JN – O grande parlamentar britânico, Tony Benn, disse que nos anos 1930, quando ele era jovem e olhava ao redor do mundo, havia países que poderiam ter ido em qualquer direção. Benn disse que uma das grandes coisas que aconteceu foi que os Estados Unidos conseguiram um Roosevelt, enquanto que, noutros países, figuras muito mais perigosas e destrutivas chegaram ao poder. Agora, encontramo-nos numa era diferente, mas certamente um momento muito turbulento. Estamos há trinta anos na globalização, que está a mudar tudo sobre como nos relacionamos com o mundo, estamos há vinte anos numa revolução digital que está a mudar tudo sobre como nos comunicamos, estamos oito a dez anos numa revolução de automação que está a começar a mudar a forma como trabalhamos. As pessoas são claramente abaladas por tudo isso. O meu sentimento é que o Partido Democrata nos Estados Unidos não forneceu muitas respostas sobre como lidar com essas mudanças. É uma avaliação justa?

NC – Bem, temos de nos lembrar que as duas partes reconstruíram ao longo de linhas bastante diferentes no início dos anos 70. Naquela época, houve uma grande mudança em todo o sistema socioeconómico. Passámos de um período de liberalismo encorporado, capitalismo arregimentado, onde as medidas do New Deal ainda estavam essencialmente a governar a política. Agora este foi um período de enorme crescimento. O período de maior crescimento na história Americana, os anos 50 e 60. Às vezes, é chamado de “Idade de Ouro do Capitalismo”. Era o crescimento igualitário em termos proporcionais. Houve conquistas em direitos civis e outros aspetos dos direitos humanos.

Isso acabou no início dos anos 70. Há uma regressão, o chamado período neoliberal seguiu direções muito diferentes e as partes mudaram. O Partido Democrata mantinha uma espécie de coligação desconfortável entre racistas democratas sulistas e trabalhadores e liberais do norte. Isso desmoronou no momento do movimento dos direitos civis.

A próxima estratégia [alavancada pelo presidente Richard Nixon e os seus assessores políticos] foi tentar pegar nos elementos racistas do sul e trazê-los para o Partido Republicano. Enquanto isso, os democratas mudaram. Eles baseavam-se, pelo menos em parte, na classe trabalhadora e mantinham algum compromisso com os interesses e valores dos trabalhadores. Na década de 1970 isso mudou. Os democratas simplesmente abandonaram a classe trabalhadora, entregando-a essencialmente ao seu inimigo de classe. Isso foi o que aconteceu de facto. O último suspiro do Partido Democrata, de seu tipo de liberalismo moderado, foi o projeto de Emprego Completo da Humphrey-Hawkins, que o Congresso aprovou em 1978, mas que Carter enfraqueceu. Depois disso, não há sequer um gesto para a classe trabalhadora. Portanto, a classe trabalhadora foi essencialmente abandonada.

JN – Abandonada pelos democratas, enquanto que os republicanos tentaram atrair pelo menos alguns dos seus votos.

NC – Os republicanos conseguiram capturar a classe trabalhadora principalmente pela técnica do desvio da atenção. E ainda está a conseguir. Mas nem sempre funcionou assim. É interessante quando Obama apareceu. Ele conseguiu os votos da classe trabalhadora. Muitos trabalhadores que votaram em Trump também votaram em Obama. Eles acreditavam na conversa sobre esperança e mudança. Mas rapidamente descobriram que não se veria uma real mudança e nem esperança.

Lembre-se do resgate dos bancos após o crash de 2008. A legislação do Congresso para esse resgate tinha duas questões: ou socorrer os criminosos que o criaram, as instituições financeiras, ou ajudar as vítimas, pessoas que perderam as suas casas – ou seja, os seus lares foram destruídos porque a economia despencou e assim por diante. Bem, poderia ter adivinhado qual parte ia ser socorrida. Na verdade, o inspetor-geral do Departamento do Tesouro, Neil Barofsky, ficou tão indignado com isso que escreveu um livro interessante sobre o assunto [Bailout: An Inside Account of How Washington Abandoned Main Street While Rescuing Wall Street].

Mas os trabalhadores puderam ver o que estava a acontecer. A reação foi: “Estamos a ser jogados aos lobos. Eles não se importam connosco. É apenas conversa”. Então a próxima coisa que fizeram foi votar no seu inimigo de classe, Trump, que está a fazer tudo o que pode para controlar os trabalhadores, tentando perceber se consegue manter algum tipo de base. Para tal, utilizando o discurso dos “violadores” ou dos “assassinos” ou alguma coisa do tipo.

Mas esta é uma situação muito desconfortável. E pessoas como Bernie Sanders, Ocasio-Cortez e outros estão a tentar trazer o Partido Democrata de volta, de facto, para o que uma vez foi – mas sem a pedra de mira dos democratas do Sul, que era um problema muito sério para Roosevelt e o New Deal e até o Movimento dos Direitos Civis.

JN – Vê isso como um momento de crise política?

NC – Na verdade, vamos enfrentar uma crise constitucional. Se olhar para o que está a acontecer agora, apenas olhe para os números, até agora, os estados com cerca de 25% da população dirigem o Senado – a mais importante das instituições…. O Senado é dominado por membros que representam principalmente um setor rural, tradicional, mais antigo, notadamente supremacista branco, muito religioso que está a diminuir demograficamente. Mas eles vão tentar manter o seu poder. Agora é quase certo que isso levará a uma crise constitucional. E observe que não pode ser alterado nada por nenhum meio constitucional. Não pode ser modificado porque eles têm poder suficiente para bloquear qualquer tipo de possível alteração.

JN – Eles têm o poder de bloquear emendas democratizantes. Mas preocupa-se com as alterações favorecidas pelas elites.

NC – Deve observar com muito cuidado as emendas. O mais cruel dos lobbies empresariais, e na minha opinião o mais forte deles, ALEC, o Conselho Legislativo de Intercâmbio Americano, está [a trabalhar] para conseguir que legislaturas estaduais concordem com uma emenda constitucional que estabelecerá um limite orçamental equilibrado no governo federal. O que significa um limite de orçamento equilibrado? Significa que acaba com todos os programas do estado social. Acaba com qualquer coisa que beneficie pessoas comuns. É claro, mantém o orçamento do Pentágono na estratosfera – e sem dúvida mantém grandes subsídios para o agronegócio, energia e instituições financeiras. Mas, esqueça a segurança social, a saúde ou a educação. Então, isso é um orçamento equilibrado. Então, pode ver essas coisas a acontecer nos estados que têm orçamentos equilibrados.

Há uma grande luta de classes a acontecer logo abaixo da superfície. Pedaços e partes dela são visíveis, mas isso vai levar a uma grande crise no futuro próximo.

JN – No entanto, os media não divulgando, ou fazem-no de forma muito parcial. Consome muitos media e tem ideias de como obter informações de fontes inesperadas.

NC – Pode ler os artigos na imprensa de negócios a dizer que os grandes bancos, os maiores bancos estão a aumentar seus investimentos em combustíveis fósseis. Isso é muito interessante. É quando lê essas coisas começa a pensar. Veja, coloque-se na posição de Jamie Dimon, CEO do JPMorgan Chase. Ele sabe tudo o que sabemos sobre o aquecimento global e os seus efeitos extremamente perigosos e iminentes. Mas ele ainda está a investir dinheiro não apenas na extração de combustíveis fósseis, mas também no mais perigoso dos combustíveis fósseis: as areias asfálticas canadianas.

Então, o que ele pensa? Bem, se raciocinar sobre isso, não é muito complicado. Ele tem duas escolhas. Uma escolha é fazer exatamente o que está a fazer: tentar aumentar o lucro para o JPMorgan. A outra escolha que tem é demitir-se e ser substituído por outra pessoa que fará exatamente a mesma coisa. Este é um problema institucional profundo.

Não adianta falar sobre esses bandidos que fazem isso e aquilo. Na estrutura institucional, eles simplesmente não têm escolha, o que nos diz para onde devíamos estar a apontar: a estrutura institucional. É uma daquelas coisas das quais não quer ser desviado. Então, lê o New York Times, aprende muito. Lê a imprensa de negócios, o Wall Street Journal.

JN – Aos noventa anos de idade parece que ainda está a ler tudo, a absorver tudo, a tentar influenciar o debate atual. Estamos a falar de aproximadamente cinquenta anos depois da publicação do seu ensaio sobre o papel de um intelectual na sociedade. Foi republicado pela New Press como “It is the Responsibility of Intellectuals to speak the truth to expose lies”.

Nesse ensaio, escreveu: “No que diz respeito às responsabilidades dos intelectuais, existem outras questões igualmente perturbadoras. Os intelectuais estão em posição de expor as mentiras dos governos, de analisar as ações de acordo com as suas causas e motivos e, muitas vezes, com intenções ocultas. No mundo ocidental, pelo menos, têm o poder que vem da liberdade política, do acesso à informação e da liberdade de expressão. Para uma minoria privilegiada, a democracia ocidental proporciona o lazer, as facilidades e a formação para procurar a verdade oculta por trás do véu da distorção e deturpação, ideologia e interesses de classe, através dos quais os eventos da história atual nos são apresentados. As responsabilidades dos intelectuais são muito mais profundas do que o que foi sugerido e o que eles chamam de responsabilidade das pessoas, dados os privilégios exclusivos dos intelectuais”. 

Parece-me que em toda a sua vida se esforçou muito para cumprir esse dever. E acho que tem que haver um elemento de otimismo nisso.

NC – Bem, se quiser ser otimista, pense no período em que isso foi escrito. Foi em 1966 numa palestra para a Hillel Foundation, na Universidade de Harvard. Foi publicado pela New York Review of Books.

Como foi esse momento em 1966? Apenas pense no que foi. Primeiro de tudo, uma das piores guerras da história estava a acontecer. Neste ponto, os Estados Unidos tinham praticamente acabado com o Vietname do Sul. O principal historiador do Vietname, Bernard Fall, altamente respeitado pelo governo, escreveu na época que não sabia se era um estudioso vietnamita. Ele não sabia se o Vietname sobreviveria como uma entidade cultural e histórica depois do pior e mais cruel ataque que já havia sido lançado contra uma área daquele tamanho.

Quase não houve protestos nos Estados Unidos. Eu morava em Boston, uma cidade liberal. Em Outubro de 1965 deu-se o primeiro dia internacional de protesto. Então, tentámos fazer uma marcha em Boston, ir ao Cambridge Common, o lugar onde você dá palestras. Eu deveria ser um dos oradores. O espaço foi dividido pelos contramanifestantes, a maioria estudantes que não queriam ouvir esse tipo de discurso sobre o Vietname. O próximo dia internacional de protesto foi em março de 1966, pouco antes de isto ter sido escrito, incidentalmente, logo antes de a palestra ter ocorrido. Sabíamos que não poderíamos tê-la no Boston Common. Queríamos ter a reunião numa igreja. Na igreja de Arlington Street. A igreja foi atacada. Tomates, latas, contramanifestantes, policias do lado de fora. Isso é o que estava a acontecer em 1966.

E o que mais estava a acontecer no país? Bem, ainda tínhamos leis federais de habitação que exigiam segregação, exigiam habitação federal branca pura. E tínhamos leis de miscigenação e leis antimiscigenação tão severas que os nazistas se recusaram a aceitá-las. Quando os nazis procuravam modelos para as Leis de Nuremberg, as leis racistas, olhavam ao redor do mundo. Os únicos que eles poderiam encontrar residia nas leis americanas. Mas as leis dos EUA eram severas demais para os nazis. As leis dos EUA foram baseadas no que foi chamado de “Uma Gota de Sangue”. Então, se a sua bisavó era negra, você é negro. Isso foi demais para os nazis. [Essas leis] ainda estavam em vigor no final dos anos 1960. Leis anti sodomia, claro.

Não havia movimento de mulheres. As mulheres ainda não tinham sido reconhecidas pelo Supremo Tribunal como pares legais, como pessoas. Isso não aconteceu até 1975, quando [o tribunal] concedeu o direito de servir em júris federais como iguais. Podemos continuar…. Mas quero dizer, que o país estava muito pior do que é agora.

O que mudou? Não haviam presentes dos céus. O que mudou é que muitas pessoas, principalmente jovens, começaram a organizar-se, começaram a manter-se ativos, lutaram, tornaram o país muito melhor.

JN – E acredita que isso está a acontecer de novo agora?

NC – Veja o Green New Deal da Ocasio-Cortez, que agora é uma proposta muito séria. Hoje essa proposta está bem no centro da agenda. Um ano atrás, talvez, foi ridicularizada. Como isso aconteceu? Como essa mudança aconteceu? Bem, um grupo de jovens do Sunrise Moviment sentou-se no gabinete da [Presidente da Câmara] Nancy Pelosi, [e a sua questão foi] ouvida por um par de legisladores. Logo se tornou numa grande questão. [O governador de Washington] Jay Inslee acaba de anunciar a sua candidatura à nomeação presidencial democrata, com a sua principal prioridade a ser o perigo das alterações climáticas. Este é agora um assunto sobre o qual você pode falar, pode fazer algo a respeito. Não temos muito tempo. Bem, todos esses são motivos de otimismo. Muitas coisas melhoraram e foram aprimoradas por pessoas ativas, organizadas e comprometidas que trabalharam e mudaram o mundo. Esse é um motivo para ser otimista.

*Publicado originalmente em esquerda.net

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POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO SOCIAL: O QUE SÃO E COMO ATUAM OS “COLETIVOS” VENEZUELANOS

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POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO SOCIAL: O QUE SÃO E COMO ATUAM OS

Líderes dessas organizações afirmam que venezuelanos estão preparados para a resistência contra possível invasão dos EUA / Foto: AFP

Reportagem do Brasil de Fato conversou com líderes de algumas organizações cívico-militares; em Caracas, são mais de 80

Texto: Fania Rodrigues | Vídeo: Michele de Mello | Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) – 

Aos pés do Quartel da Montanha 4F, onde repousam os restos mortais do ex-presidente Hugo Chávez, vivem homens e mulheres de ideias radicais. É nessa região central de Caracas onde estão localizados os bairros populares de La Piedrita e 23 de Enero, considerados históricos pelo chavismo revolucionário.

Trata-se do território das organizações conhecidas na Venezuela como coletivos revolucionários, movimentos sociais armados e que desempenham um amplo papel nas comunidades onde atuam – atividades sociais, políticas, culturais, esportivas, auxílio na organização da economia local, até a defesa em armas da Revolução Bolivariana.

A estimativa é de que existam cerca de 80 coletivos na grande Caracas. Alguns deles fazem parte dos cordões de segurança do palácio presidencial de Miraflores. É o caso do Coletivo Catedral Combativa, cuja sede está a poucos metros do palácio, dentro de sua zona de segurança.

“Revolução pacífica, mas não desarmada”

Brasil de Fato esteve com coletivos e entrevistou com exclusividade alguns de seus líderes mais conhecidos.

Entre eles está o veterano Valentín Santana, líder do La Piedrita, o coletivo mais antigo da Venezuela, com 34 anos de atividades.

Segundo Valentín, atualmente, a principal tarefa dos coletivos revolucionários é a proteção de suas comunidades contra possíveis ataques de grupos armados vinculados à direita venezuelana, assim como contra as guarimbas – protestos violentos liderados por opositores ao governo de Nicolás Maduro.

Santana afirma que o acirramento do cenário político na Venezuela fez com os coletivos, que haviam entregado armas ao governo em 2014, voltassem a armar-se. “Apesar de que entregamos as armas em um ato com o presidente da República, no Quartel da Montanha, nos vimos obrigados a retomar o uso das armas, porque nosso inimigo está melhor armado que nós”, explicou.

Os coletivos afirmam que usam as armas apenas em situações de emergência, que envolvem a segurança nacional. Na maioria dos casos, informam, o arsenal de que dispõem fica custodiado pelas Forças Armadas.

Isso porque os integrantes desses grupos estão inscritos e organizados através das Brigadas Bolivarianas, que é um dos cinco componentes da Força Armada Nacional Bolivariana, além do exército, marinha, aeronáutica e a guarda nacional. Há ainda outra parte dos coletivos, fora das Brigadas, que está autorizada pelo Estado a custodiar as armas, sobretudo nas regiões onde é necessário maior esquema de segurança.

Chavistas consideram os coletivos guardiões da Revolução Bolivariana. Do lado opositor, esse tipo de organizações sociais são vistas como grupos irregulares que atuam fora da lei (Foto: Michele de Mello / Brasil de Fato)

::“Militares com vida civil”: conheça a rotina da Brigada Bolivariana na Venezuela

O líder do coletivo La Piedrita relata que setores mais radicais da oposição armaram grupos irregulares para atacar os coletivos e os líderes sociais chavistas. Desde 2014 foram assassinados 14 líderes políticos do chavismo, o mais destacado deles foi o deputado Robert Serra.

“Os grupos armados opositores compraram fuzis, pistolas 9 mm, granadas. Estão bem armados. Não deixaram outro caminho que não fosse a violência. Então estamos obrigados a nos defender, como o fizemos no passado”, afirma Valentín.

Já o líder do coletivo Resistencia y Rebelión, Jorge Navas, afirma que os grupos armados opositores contam com pelo menos 300 “soldados”, que controlam a parte alta do território da capital venezuelana.

“Caracas é um vale e em todos os corredores estratégicos, nas partes altas desse vale, a direita está armando grupos paramilitares, para em momentos precisos atacar o processo bolivariano”, frisa o líder do coletivo Coordinadora Simón Bolívar, Juan Contreras.

De acordo com Contreras, o cenário tornou-se mais complexo nos últimos oito anos. “Depois de 2011, passamos a ver coisas que na Venezuela não existiam: grupos paramilitares e narcotraficantes controlando territórios, armados com fuzis. Trata-se de uma delinquência fortemente armada. Quando ocorrem guarimbas, esses grupos atuam sob orientação dos setores da direita”, ressalta.

“Esta é uma revolução pacífica, mas não está desarmada”, dizia o ex presidente Hugo Chávez. O que se converteu em praticamente o lema dos coletivos armados, dispostos matar e morrer por aquilo que eles acreditam: o ideal socialista. “Falar sobre as armas na Venezuela não é tabu. As armas que estão na República Bolivariana da Venezuela, do lado chavista, são para defender o pátria e a revolução”, ressalta Valentín Santana.

Valentín diz que coletivos voltaram a recorrer às armas para autodefesa | Foto: Fania Rodrigues

Preparando-se para a guerra

As reiteradas ameaças de intervenção militar por parte do governo dos Estados Unidos contra o governo de Nicolás Maduro acenderam os alarmes, sobretudo no setor chavista mais arraigado. Os integrantes da organização cívico-militar Brigadas Bolivarianas estão realizando treinamentos militares, além disso os próprios coletivos começaram a preparar-se para um possível cenário de conflito armado contra exércitos estrangeiros.

Por isso, estão criando campos de treinamento militar nos bairros populares para preparar toda a população.

O comandante da Frente de Coletivos da Venezuelana, Alfredo González, integrante da Comissão de Defesa acredita que os venezuelanos estão dispostos a enfrentar qualquer exército invasor. “Estamos dispostos a defender nossa pátria, como nossa própria vida, e com as armas, em perfeita união cívico-militar. Estamos convidando a todos, que se alistem, porque a qualquer momento o império vai nos ameaçar e nós vamos dizer: presidente, aqui está o povo em armas”.

“Estamos preparados para a hora da invasão. Temos inclusive pessoas responsáveis de evacuar às crianças, temos outras para resguardar às pessoas doentes, aos idosos. O bloqueio não está dando o resultado que eles esperavam, então lhes resta a alternativa militar. Estamos preparados para isso. Não tenha dúvida de que os gringos vão receber uma tremenda lição desse povo. Nós não somos guerreiristas, mas também não vamos deixar que nos destruam”, avisa Valentín, líder do coletivo da comunidade La Piedrita.

“Somos 30 milhões de habitantes e se tem algo que o império tem medo é de um povo organizado”, diz o comandante de treinamentos com os coletivos”, completa Alfredo González.

Um olho no plantio, outro no fuzil

“Joelho em terra, fuzil no ombro e baioneta empunhada”, diz líder do coletivo Resistencia y Rebelión, Jorge Navas. Ele afirma que o momento atual da Venezuela exige que essas organizações tenham um olho na plantação de alimentos e o outro no fuzil: “Aqui não podemos nos dar o luxo de estar descuidados. O império diz que não vem [invadir a Venezuela] e nós temos que continuar preparados para cuidar a paz”.

A Venezuela já enfrenta uma guerra, mais especificamente uma guerra econômica provocada pelo bloqueio de recursos do governo venezuelano no exterior, que seriam destinados a importação de alimentos, medicamentos e peças de reposição para carros e máquinas.

Nesse contexto de escassez, muitos dos coletivos também estão dedicando ao plantio, em hortas comunitárias, mas também na criação de animais fontes de proteínas.

No extremo sul da capital venezuelana, no bairro Valle del Tuy, um coletivo homônimo é liderado pelo agricultor José Cárdenas. Segundo ele,  a principal tarefa política nessa região, uma das mais pobres de Caracas, é a segurança alimentaria.

“Estamos preparados para responder a qualquer cenário, tanto militar como organizativo. Temos produção comunitária, uma plantação onde todos os dias colhemos frutas e verduras. Com essa situação do país tivemos que voltar cultivar e criar peixe, gado, porco. Temos que estar preparados”, enfatiza Cárdenas.

Luis Cortés, líder do coletivo Catedral Combativa explica que há diversas formas de atuação dos coletivos: “[Trabalhamos] na área da cultura, da organização comunitária e, nesse momento em que vivemos uma guerra econômica, nos encarregamos da produção de alimentos de primeira necessidade. Estamos plantando e cultivando alimentos para atender a comunidade”.

Cortés organiza feira de verduras a preços populares no centro de Caracas (Foto: Fania Rodrigues)

Origem ligada à luta armada dos anos 1960

Para entender como esses movimentos sociais associaram armas com trabalho comunitário e social é preciso voltar no tempo. Sua origem está vinculada às guerrilhas e movimentos políticos insurgentes dos anos 1960, que optaram pela luta armada contra o governo autoritário do presidente Rómulo Betancourt (1959-1964).

“Nascemos de uma necessidade de nos proteger das forças repressivas dos governos da Quarta República [período entre 1953 e 1999]. Perseguiam os revolucionários e nos torturavam. Inclusive nos massacraram. Isso nos levou a estar mais unidos. Assim nascemos como coletivo”, conta Valentín Santana, líder do coletivo La Piedrita, fundado em 1985.

De acordo com Santana, a expressão “coletivo” vem da necessidade de andar juntos, “em coletivo, para poder mantermo-nos vivos”.

No bairro 23 de Enero, por exemplo, ele estima que mais de 130 dirigentes políticos tenham sido assassinados nos anos de “democracia” bipartidária.

Nessa época, existiam três partidos na Venezuela: o social-democrata Ação Democrática, de centro-direita, o social-cristão Coopei, que abrigava a burguesia mais conservadora, e o Partido Comunista, que estava na ilegalidade. Os partidos Ação Democrática e Coopei governaram o país por 51 anos, entre 1958 e 1999, revezando no poder a cada mandato.

O líder do coletivo Coordinadora Simón Bolívar, Juan Contreras, do bairro 23 de Enero conta um pouco dessa história. “A esquerda na Venezuela tem duas origens principais. Uma delas é o Partido Comunista da Venezuela [PCV], criado em 1931. A outra é o Movimento Esquerda Revolucionária [MIR], que nasce na década de 1960, produto de uma divisão do partido social-democrata Ação Democrática”, explica Contreras.

Juan Contrares conta que coletivos tiveram como origem às guerrilhas (Foto: Fania Rodrigues)

A maioria dos fundadores e integrantes dos coletivos têm como origem política essas organizações. Tanto o PCV como o MIR aderiram à luta armada nos anos 1960 e 1970. Em 1965, o PCV saiu da luta armada porque considerava que havia sido derrotada.

Nesse processo há uma divisão interna do partido de onde nasce o Partido da Revolução Venezuelana (PRV), que tinha como braço armado a guerrilha Fuerzas Armadas de Liberación Nacional, dirigida por Douglas Bravo. “Depois da morte de Ernesto Che Guevara, na Bolívia, o ano de 1965, podemos dizer que o guerrilheiro mais conhecido nesse momento era Douglas Bravo”, destaca Contreras.

No ano 1969 o MIR também passa por uma divisão, dando origem a duas novas organizações políticas armadas: Bandera Roja e Organización de Revolucionarios. As duas atuavam na ilegalidade, mas mantinham braços legais.

Organización de Revolucionarios tinha como frente política legalizada a Liga Socialista, cujo fundador e dirigente era Jorge Rodríguez, pai do atual ministro da Comunicação e Informação, Jorge Rodríguez e da vice-presidente da República, Delcy Rodríguez.

Jorge Rodríguez, o pai, morreu em uma sessão de tortura, acusado de participar do famoso sequestro do empresário norte-americano William Niehous, o mais longo sequestro político registrado na Venezuela, com duração de três anos, entre 1976 e 1979. Essa também foi a organização política em que o presidente Nicolás Maduro militou em sua juventude.

Por outro lado, alguns dos movimentos dessa época terminaram se aliando com a direita venezuelana. É o caso do Movimiento al Socialismo (Mas), um braço do MIR que havia se transformado em uma guerrilha, e da Bandera Roja. “Essas duas organizações fazem parte, atualmente, setor armado da oposição”, afirma Jorge Navas.

Guerrilheiros Millo Perdomo, Douglas Bravo e Alí Rodríguez nos anos 70 (Foto: Arquivo)

Chávez no poder

A maioria dos dirigentes dessas organizações tinham vida política no bairro 23 de Enero, que se tornou um ponto de resistência e luta subversiva.

“As guerrilhas estavam no campo, mas também nas cidades. As guerrilhas urbanas estavam no 23 de Enero. A esquerda sempre esteve presente no bairro mais pobres, devido às condições. Nós que crescemos aqui crescemos em meio ao calor dos combates entre a força pública e a guerrilha”, relembra Juan Contreras.

Mesmo durante os anos 1990, os líderes políticos dessas organizações seguiam perseguidos. A chegada de Hugo Chávez ao poder, em 1998, provoca um processo de readequação dos movimentos de esquerda, dos coletivos e organizações populares de bairro.

Valentín Santana detalha como foi essa reorganização. “Antes do comandante Chávez chegar ao poder vivíamos clandestinos. Depois de  eleito ele reconheceu a legalidade dos coletivos. Passamos a integrar os Círculos Bolivarianos [organizações de base], criar um partido revolucionário, criar comunas, conselhos comunitários, Comitês Locais de Abastecimento e Produção (CLAP), as Unidades de Batalha Hugo Chávez (UBChs). Passamos a ser coletivos abertos e trabalhamos diretamente com a comunidade”, relembra.

Mesmo na legalidade, os coletivos seguem estigmatizados por parte da população. Segundo Santana, a direita venezuelana, através dos meios de comunicação, busca a criminalizar a juventude revolucionária. “Incomodamos porque estamos construindo outro modelo social, que tem uma via ideológica forte. A Revolução Bolivariana é uma construção social, coletiva, onde buscamos a maior soma de felicidade possível”, argumenta.

Edição: Rodrigo Chagas

 

 

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XADREZ DE COMO MORO PODE TER ARMADO A HISTÓRIA DOS HACKERS, por Luis Nassif

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XADREZ DE COMO MORO PODE TER ARMADO A HISTÓRIA DOS HACKERS, por Luis Nassif

Jornal GGN – Luiz Nassif – Para atingir Greenwald, Moro espalhou o terror entre todos os Departamento que trabalham com estrangeiros.

Peça 1 – A teoria do fato

Em 9 de junho de 2016, publiquei um Xadrez sobre a “teoria do fato” (não confundir com a “teoria do domínio do fato”), a técnica que passou a ser utilizada pelo Ministério Público Federal em suas investigações.

Para não se perder com a quantidade de informações levantadas, o investigador deveria desenvolver uma “teoria do fato” inicial, uma tese na qual coubessem as provas levantadas, ainda que incipientes. Depois, a teoria inicial seria gradativamente modificada, à luz dos novos fatos que fossem aparecendo.

Peça 2 – a teoria do fato na Operação Spoofing

Entendido isso, vamos aplicar a Teoria do Fato na Operação Spoofing, que prendeu os hackers russos de Araraquara.

São apenas hipóteses, mas que formam um todo lógico.

Há mais de um mês já corriam rumores de grampo nos celulares da Lava Jato. Imaginou-se, então, uma estratégia que permitisse desviar o foco do conteúdo das mensagens para a criminalização da origem. No limite, permitir a deportação de Glenn Greenwald.

Passo 1 – identificar algum pequeno criminoso digital e prepará-lo para ser o hackeador mor da República.

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Passo 2 – fornecer a ele os celulares de personalidades relevantes da República, de presidentes de Tribunais a presidentes da República,

Passo 3 – deflagrar a Operação Spoofing e anunciar a prisão dos hackers com estardalhaço.

Passo 4 – montar o alarde em cima dos números de celulares de autoridades encontradas no celular do hacker, independentemente de comprovação se foram ou não hackeadas. E aproveitar o clima de catarse para articular a deportação de Glenn Greenwald.

Peça 3 – os pontos que reforçam a Teoria do Fato

As seguintes informações reforçam essa narrativa, que acabou se perdendo pela inverossimilhança.

Ponto 1 – a má escolha dos culpados, um DJ, um motorista do Uber, um aluno de curso técnico de uma cidade do interior. Pelo histórico, dificilmente teriam informações até sobre o The Intercept, que atinge um público mais sofisticado. Muito menos teriam capacidade técnica para uma operação de tal envergadura.

Ponto 2 – a descoberta que o principal suspeito ficou sete anos sem movimentar sua conta do Twitter, retornou um mês antes, transmudado. De filiado ao DEM, apoiador de Bolsonaro, a crítico do PT, tornou-se petista, passando a

retuitar matérias críticas a Bolsonaro. Além disso, um belo trabalho da Revista Fórum descobriu que os tuítes eram disparados de Brasilia e o primeiro perfil a seguir o hacker foi do Antagonista, espécie de veículo oficial da Lava Jato e de Moro.

Ponto 3 – a ansiedade de colunista de tecnologia de O Globo que, antes mesmo de qualquer informação da Polícia Federal ou declaração de Moro, referendou a tese de que os hackers detidos teriam sido os informantes do The Intercept, e foi a manchete principal do jornal durante toda a manhã do espetáculo.

Ponto 4 – a pressa de Sergio Moro em atribuir aos hackers o dossiê do The Intercept, antes de qualquer vistoria da PF.

Ponto 5 – a decisão de Moro de telefonar a várias autoridades para comunicar que tinham sido hackeadas. A Polícia Federal sequer tinha aprofundado a perícia. A única prova eram os números de celulares no celular do hacker.

Ponto 6 – Finalmente, a Portaria 666, publicada hoje, sobre deportação de estrangeiros.

Peça 4 – onde a Operação falhou

O factoide dos hackers durou um dia. No final do dia, choveram críticas pesadas de vários setores, que aumentaram de volume quando o presidente do Superior Tribunal de Justiça, Otávio Noronha, divulgou o telefonema de Moro comunicando o suposto grampo contra ele e a decisão de destruir os arquivos apreendidos com os supostos hackers.

A atitude despertou várias suspeitas, que enfraqueceram o impacto das manobras de Moro.

Sobre os telefonemas – ficou-se em dúvida sobre as intenções de Moro, se tentar, pelo favor ou pela chantagem implícita, apoio para uma radicalização contra o The Intercept.

Sobre a destruição dos arquivos – para impedir que suas conversas tenham outro ponto de vazamento ou para impedir que se descubra a manipulação dos arquivos encontrados com o hacker?

Outros fatores contribuíram para o fracasso da estratégia, o mais relevante dos quais foi o profissionalismo da equipe da Polícia Federal que tocou a operação. A coletiva sobre o caso foi objetiva, sem avançar em ilações e convicções, como a Lava Jato costumava fazer.

De uma fonte da PF ouvi a afirmação, de que não aceitariam repetir o IPM (Inquérito Policial Militar) do Riocentro, um episódio que manchou para sempre a imagem do Coronel Job, o incumbido de esconder o fato.

Em dois momentos, a postura profissional dos policiais abortou factoides de Moro.

Momento 1 – os vazadores de Moro trataram de difundir frases descontextualizados dos hackers detidos, como a história de que tentaram vender o material para o PT e que mantiveram contato com Glenn Greenwald. Aí a PF divulga a informação de que os hackers admitiram não ter entrado pagamento pelas informações, praticamente isentando o The Intercept da suspeita de cometimento de crime.

Seria curiosíssima a reconstituição desse interrogatório preliminar do hacker, que arrancou dele uma declaração que, na prática, absolveria o The Intercept mesmo que fosse ele a fonte do jornal.

Momento 2 – logo após vazar a declaração de Moro, de que iria destruir os arquivos recolhidos, a PF soltou uma

nota oficial negando a intenção e dizendo que a autorização teria que ser do juiz do caso.

A grande bomba se transformou em um crack, quando até o Jornal Nacional se armou de cautelas para cobrir o tema. E, com o palco esvaziado, Moro lança seu último projétil, o tal decreto de extradição que acaba explodindo em um palco vazio com a força de um track.

Peça 5 – à guisa de conclusão

Tudo o que escrevi se baseia em uma hipótese, uma Teoria do Fato. À medida em que novos fatos forem surgindo, a Teoria poderá ser refeita. Ou, o que parece mais provável, reforçada.

A quantidade de irregularidades cometidas em apenas um dia mostra um Sérgio Moro totalmente descontrolado. Vazou informações para autoridades do governo de uma operação sigilosa; antecipou conclusões antes mesmo das perícias; anunciou a destruição de provas, sem ter poder para tal; finalmente, solta um decreto propondo expulsão de estrangeiros de forma sumária, atropelando todas as salvaguardas da Constituição. Para atingir Greenwald, Moro espalhou o terror entre todos os Departamento que trabalham com estrangeiros.

Essa série de abusos liquida completamente o apoio que recebe das forças institucionais, Ministros do Supremo e Organizações Globo, entre elas.

A partir de agora, o único caminho que restará a Moro será apoiar cada vez mais nos grupos de ultradireita que povoam as redes sociais. E no apoio condescendente de Jair Bolsonaro.

15:43 Agora à tarde, Moro explicou que o decreto 666 vale apenas para os paraguaios exilados, que ele decidiu deportar. É factível.

Leia: Xadrez dos hackers de Araraquara – 2

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GLENN DENUNCIA GOVERNO TRUMP POR NEGAR VISTO A SEUS FILHOS E PROMETE MAIS REVELAÇÕES DA VAZA JATO

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GLENN DENUNCIA GOVERNO TRUMP POR NEGAR VISTO A SEUS FILHOS E PROMETE MAIS REVELAÇÕES DA VAZA JATO

Glenn Greenwald e Donald Trump (Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado | Reuters)

Brasil247 – O jornalista Glenn Greenwald, fundador do site The Intercept Brasil, denunciou na manhã desta segunda-feira (29) o governo de Donald Trump por ter negado visto a seus filhos; segundo Glenn, tal postura “é desumana”; o jornalista também anunciou que irá relevar novas mensagens da Vaza Jato.

O jornalista Glenn Greenwald, editor do site The Intercept, denunciou na manhã desta segunda-feira (29) o governo de Donald Trump por ter negado visto a seus filhos; segundo Glenn,  tal postura “é desumana”. O jornalista também anunciou que irá relevar novas mensagens da vaza jato.

Entenda o caso: 

Glenn ainda não foi atendido no pedido de autorização emergencial que fez ao Consulado dos Estados Unidos para que seus filhos visitem a avó que está com câncer terminal; a informação é da jornalista Mônica Bergamo em sua coluna na Folha de S.Paulo.

Glenn Greenwald apresentou ao consulado dos EUA no Rio um relatório médico que mostra que sua mãe sofre de um câncer terminal.    Leia mais aqui.

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“NÃO BASTA DISTRIBUIR RIQUEZAS”, DIZ EX-MINISTRO BOLIVIANO SOBRE GOVERNOS DE ESQUERDA

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Ex-minsitro da Bolívia, Hugo Moldiz afirma que os governos de esquerda precisam repensar suas estratégias políticas / Fania Rodrigues

Conquistas, dificuldades e expectativas dos mandatos progressistas são debatidas no Foro de São Paulo

Fania Rodrigues | Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) – Quais foram as principais conquistas dos governos de esquerda na América Latina? E as reais chances dos partidos progressistas vencerem as eleições esse ano, em países com Argentina, Uruguai e Bolívia? Esses foram alguns dos temas em debate nessa sexta-feira (26), no Foro de São Paulo, que acontece em Caracas, entre 25 e 28 de julho.

Para o ex-ministro de Governo da Bolívia, Hugo Moldiz os partidos de esquerda da região, que chegaram ao poder, precisam repensar suas estratégias políticas. “Foi um erro pensar que somente a distribuição de riquezas seria suficiente para gerar consciência no povo e acumulação política. Transformamos nossos eleitores em consumidores passivos”, afirmou Modiz. Ele se refere aos governos como do PT, no Brasil, dos Kirchner, na Argentina, da Aliança País, de Rafael Correa, no Equador, o Movimento ao Socialismo, de Evo Morales, na Bolívia, entre outros.

Nesse aspecto, a Venezuela traçou um caminho diferente dos demais governos progressistas, diz Moldiz. “O grau de consciência política da Venezuela é outro. Sem a atual acumulação política, a capacidade de organização e a formação ideológica que possui a Venezuela não teria sido possível esse nível de resistência contra os Estados Unidos”, ressaltou o ex-ministro.

Para o dirigente cubano Víctor Gaute, integrante do secretariado do Partido Comunista de Cuba, “a Venezuela hoje é o cenário onde os Estados Unidos despeja toda a sua crueldade”. O país caribenho também sofre as consequências de um bloqueio imposto pelo governo estadunidense. Superar essa dificuldade tem sido o maior desafio do governo e da Revolução Cubana nos últimos anos, segundo Víctor Gaute. “Temos consciência de que a política genocida dos Estados Unidos, entre elas o bloqueio econômico, é a principal dificuldade que nós enfrentamos no desenvolvimento do nosso país. Mas nada disso vai impedir que nós possamos avançar e construir um mundo melhor”.

O dirigente do Partido Comunista de Cuba diz ainda, que a nova Constituição, aprovada em plebiscito no dia 24 de fevereiro, pode ajudar na modernização do país. “Pode contribuir e muito. Primeiro porque é fruto de um debate muito rico, muito amplo, que permitiu mudar mais de 60% do que havia sido inicialmente proposto. Ademais, porque o texto reflete a maneira como queremos construir o país. Essa é uma Constituição moderna, que propícia um desenvolvimento institucional e do país, que tem uma visão de futuro muito otimista”, explica.

A população cubana tem confiança no novo texto constitucional, de acordo com Gaute, sobretudo porque já era o momento de estabelecer novos objetivos. “Todas as metas estabelecidas pelo líder da Revolução Cubana, Fidel Castro, depois de 26 de julho de 1953, depois do assalto do Quartel de Moncada, quando arranca a revolução, foram cumpridas”. E são desses resultados que parte a confiança dos cubanos no futuro, segundo o dirigente.

Dirigente cubano, Víctor Gaute afirma que nova Constituição ajudará a modernizar o país (Foto: Fania Rodrigues)

CONQUISTAS E OPORTUNIDADES

A governadora do estado venezuelano de Cojedes, Margaud Godoy, falou sobre as principais conquistas da Revolução Bolivariana da Venezuela. “Nosso principal orgulho, nesses 20 anos de revolução, foi poder ter feito uma distribuição equitativa das riquezas do petróleo. Hoje 79% do orçamento do Estado é investido em políticas sociais”, destaca a governadora.

Sobre a atual situação de crise econômica e do bloqueio implementado pelos Estados Unidos, Godoy disse que o governo nacional e os regionais estão incentivando políticas públicas de produção para superar o desabastecimento. “As crises, muitas vezes, geram oportunidades. Estamos trabalhando para produzir os bens que consumimos e assim também, poder superar nossa dependência das importações de produtos”, diz a governadora.

O representante uruguaio também falou sobre o desafio dos governos de esquerda em diminuir a dependência comercial em relação às grandes potências internacionais. “Os governos socialistas da região precisam avançar na questão produtiva”, apontou o dirigente do Partido Comunista do Uruguai, Rony Carbo. Seu partido é integrante da coalizão Frente Amplio, que governo Uruguai desde 2005.

O país está entre os três da região que esse ano realizam eleições presidenciais e parlamentares, quando projetos dos partidos da direita e da esquerda serão confrontados. “As eleições no Uruguai, Argentina e Bolívia serão fundamentais para dar uma resposta clara à direita do continente”, ressalta.

Na Bolívia, mesmo em um cenário de possível vitória eleitoral para o campo progressista, os desafios serão grandes, de acordo com o ex ministro Hugo Moldiz. “Não tenho dúvidas de que Evo Morales vai ganhar as eleições. Não sei se vai ganhar com a vantagem similar aos resultados de 2005, 2009 e 2014, mas somente o fato de ganhar vai representar uma mensagem forte, não somente para os bolivianos, mas também para a América Latina. Porém, coloca um desafio importante, que é voltar à nossa origem, de construir poder junto ao povo”, afirma Modiz, que também é dirigente do Movimento ao Socialista.

Atualmente a região da América Latina possui sete governos conservadores e três do campo da esquerda. Portanto, a disputa entre os dois setores políticos estarão em pauta nesses processos eleitorais.

Edição: Michele Carvalho

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