INFECTOLOGISTA RESSALTA EFICÁCIA DA VACINAÇÃO CONTRA SARAMPO: “NADA SALVA MAIS VIDAS”

INFECTOLOGISTA RESSALTA EFICÁCIA DA VACINAÇÃO CONTRA SARAMPO:
Segundo monitoramento publicado no dia 6 de agosto, já foram notificados 4.226 casos de sarampo no Brasil / Alfredo Estrella / AFP

Repórter SUS | Ana Paula Evangelista* –  Um relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou que o número de casos de sarampo registrados no primeiro semestre deste ano é o maior desde 2006. O surto de sarampo tem nível global, e a incidência da doença triplicou em relação ao mesmo período no ano anterior, alcançando 364.808 casos registrados em 182 países

O relatório ressalta a importância da vacina para que a doença não se espalhe. Em entrevista ao Repórter SUS, programa produzido em parceria com a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, da Fundação Oswaldo Cruz, o infectologista pediátrico do Instituto Fernandes Figueira (IFF), Marcio Nehab, alerta sobre a importância da vacinação.

Ele destaca que um dos motivos da falta de interesse pela vacinação é a preocupação com a reação anafilática.

“Você tem a população brasileira de 208 milhões de pessoas. Se a reação anafilática é uma em um milhão e você não vê nenhum caso de sarampo, você passa a achar que aquela reação vacinal é mais comum que a doença”, explica.

O horário de funcionamento dos postos de saúde convergente com o horário de trabalho e a violência urbana são alguns dos fatores diminuem a cobertura vacinal, segundo Nehab.

“Nada salva mais vidas, nada diminui mais a mortalidade da população geral do que as vacinações. A única coisa que é mais eficaz em termos de saúde pública é a água potável. Logo depois vem as vacinas”, analisa.

No Brasil, já foram notificados aproximadamente 4.226 casos, de acordo com o Monitoramento da Situação Epidemiológica do Ministério da Saúde publicado no dia 6 de agosto.

*Com colaboração de Bruna Caetano

Edição: Daniel Giovanaz

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FORTUNA SUSPEITA | MINISTÉRIO PÚBLICO INVESTIGA MINISTRO DO MEIO AMBIENTE POR ENRIQUECIMENTO ILÍCITO

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FORTUNA SUSPEITA | MINISTÉRIO PÚBLICO INVESTIGA MINISTRO DO MEIO AMBIENTE POR ENRIQUECIMENTO ILÍCITO
O ministro Ricardo Salles durante audiência na Comissão de Meio Ambiente da Câmara / Fábio Rodrigues Pozzebom | Agência Brasil

Patrimônio de Ricardo Salles cresceu 335% no período em que foi acusado de fraudar plano de manejo do Tietê, em SP

Redação | Brasil de Fato | São Paulo (SP) – O Ministério Público de São Paulo abriu inquérito para investigar o ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) por enriquecimento ilícito. Entre 2012 e 2107, o patrimônio de Salles cresceu 335% acima da inflação, o que fez sua fortuna saltar de R$ 1,4 milhão para R$ 8,8 milhões.

O enriquecimento sem justificativa legal, segundo o MP, se deu no período em que Salles foi acusado de fraudar o plano de manejo da várzea do Rio Tietê, em 2016, quando ele era secretário de Meio Ambiente de São Paulo no governo Geraldo Alckmin (PSDB). Antes, entre 2103 e 2014, Salles havia exercido o cargo de secretário particular de Alckmin.

No processo envolvendo a adulteração do plano de manejo, o ministro foi condenado em dezembro do ano passado pela 3ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo. O Tribunal de primeira instância entendeu que ele e a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), também condenada, se articularam para modificar mapas elaborados pela Universidade de São Paulo (USP), de maneira a beneficiar empresas e companhias mineradoras. Salles também foi condenado por perseguir funcionários públicos que se opunham às fraudes.

“Além da violação de normas legais e regulamentares com a plena consciência de que tolhia a participação de outros setores que compunham o sistema ambiental e de que atendia a interesses econômicos de um grupo restrito em detrimento da defesa do meio ambiente, escopo de sua pasta no Poder Executivo, o então secretário violou os princípios constitucionais administrativos da legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade”, diz um trecho da sentença.

O ministro e a Fiesp negam as acusações e estão recorrendo da condenação.

No caso do suposto enriquecimento ilícito, o promotor Ricardo Manuel Castro pediu a quebra do sigilo bancário e fiscal de Salles. Também solicitou a elaboração de um relatório de movimentação ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). O órgão já havia informado a existência de movimentações comunicadas compulsoriamente, mas não enviou os relatórios. Este último pedido, no entanto, foi negado pelo juiz Marcos de Lima Porta, da 5ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo.

Edição: João Paulo Soares

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PRESSÃO | APÓS REINTEGRAÇÃO DE POSSE NO RN, SEM-TERRA FECHAM RODOVIA E PRESSIONAM PODER PÚBLICO

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PRESSÃO | APÓS REINTEGRAÇÃO DE POSSE NO RN, SEM-TERRA FECHAM RODOVIA E PRESSIONAM PODER PÚBLICO
Manifestantes fecham a rodovia RN-160 para pressionar Prefeitura / Comunicação MST/RN

Famílias expulsas de área ocupada estão há quase duas semanas sem assistência e cobram avanços nas negociações

Redação | Brasil de Fato | Natal (RN) – Centenas de trabalhadores rurais sem-terra bloquearam a rodovia RN-160, na manhã desta segunda-feira (19), para pedir respostas à Prefeitura de São Gonçalo do Amarante (RN). Elas estão alojadas em um ginásio do município em função de uma reintegração de posse no 7 de agosto, quando foram expulsas de forma violenta do acampamento Comuna Marisa Letícia.

Poucas movimentações foram feitas até o momento no intuito de encontrar uma solução para as famílias. Segundo o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), foi realizada uma reunião com o governo estadual para viabilizar uma área da Companhia de Processamento de Dados do RN (Datanorte) para realocar as pessoas. Porém, o espaço ainda não foi definido pela Prefeitura de São Gonçalo.

Sem respostas, os ex-acampados esperam por quase duas semanas no ginásio. Além disso, os sem-terra alegam que a Prefeitura também já cessou qualquer tipo de assistência, principalmente em relação ao fornecimento de água.

As famílias expulsas do acampamento estão, há quase duas semanas, esperando por respostas em um ginásio cedido pelo município. Foto: Comunicação MST/RN.

Respostas

Em nota, a assessoria da Prefeitura de São Gonçalo do Amarante afirma que o município não tem nenhuma responsabilidade quanto à situação das famílias, por isso não foi realizada nenhuma conversa ou negociação até o momento. A Prefeitura ainda afirma que a reintegração foi realizada a pedidos do Ministério Público, e coordenada pelo subcomandante do 11º Batalhão de Polícia Militar, o major Ivson Lima.

“A Prefeitura Municipal de São Gonçalo do Amarante ressalta que foi solicitada, por determinação do Poder Judiciário, e a pedido do Ministério Público do Rio Grande do Norte, apenas para dar apoio logístico às pessoas que seriam deslocadas de uma área ilegal na nascente do Rio Golandim, onde as queimadas e desmatamentos estavam causando danos concretos ao meio ambiente, conforme afirmou o MP”, diz a nota.

Expulsão

No dia 7 de agosto, cerca de 300 famílias do acampamento Comuna Marisa Letícia foram expulsas violentamente de uma área nas imediações da BR-406, em São Gonçalo do Amarante. O terreno tinha sido ocupado pelo MST/RN após uma negociação com a Companhia de Processamento de Dados do RN (Datanorte), em 2018, para realocar famílias despejadas de uma área no Parque dos Coqueiros (Zona Norte de Natal) até se resolver a questão ambiental.

Entretanto, embora o acordo tivesse duração de um ano (e estava sendo renegociado, um dia antes da reintegração de posse, com o cadastramento das famílias), o Ministério Público do RN realizou uma ação civil pública contra o município para desapropriar as famílias que, segundo o processo, estariam realizando “construções irregulares, além de intenso desmatamento e promoção de queimadas” em área de preservação ambiental, denominada “Parque Municipal Natural das Nascente do Rio Golandim”. O processo foi acatado pelo juiz Odinei Draeger, da 1ª Vara da Comarca de São Gonçalo do Amarante, e declarado para ser cumprido com caráter de urgência.

Edição: Marcos Barbosa

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CONTROLE | ALVO DE BOLSONARO, INPE É PALCO DE DISPUTAS ENTRE CIVIS E MILITARES DESDE A DITADURA

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CONTROLE | ALVO DE BOLSONARO, INPE É PALCO DE DISPUTAS ENTRE CIVIS E MILITARES DESDE A DITADURA
Disputa vem da ditadura militar e ganha projeção novamente no atual governo, que pôs militares no comando do Inpe e da Agência Espacial / Foto: Inpe

História do instituto que monitora o desmatamento no país está vinculada à criação do Programa Espacial Brasileiro

Pedro Biondi | Brasil de Fato | São Paulo (SP) – Pivô de uma das maiores crises institucionais do governo de Jair Bolsonaro (PSL), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) nasceu e cresceu com o Programa Espacial Brasileiro (PEB) – e,  assim como o PEB, tem as atividades atravessadas por certa disputa entre interesses civis e militares. As duas metades tiveram uma cronologia pareada, colaboraram entre si e, em alguns momentos, se estranharam por conta dos diferentes entendimentos e objetivos.

Essa disputa aparece como pano de fundo dos episódios recentes envolvendo o Instituto, como a briga do autointitulado “capitão motosserra” com os números da “inflação ambiental”, e a fixação do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, por contratar um sistema privado estrangeiro de sensoriamento remoto para a Amazônia.

Para o jornalista científico Ulisses Capozzoli, o episódio foi fabricado para, finalmente, jogar no colo das Forças Armadas o Instituto, hoje vinculado à estrutura do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). Assessor de imprensa do centro de pesquisa durante o governo José Sarney (1985-1990), ele postou nas redes sociais um relato sobre um acontecimento entre 1988 e 1989 que resultou na demissão do então diretor Marco Antonio Raupp.

O país estava para concluir um satélite de coleta de dados e precisou deixá-lo em suspenso, porque o desenvolvimento do veículo lançador que o levaria para o espaço estava atrasado. Dois ministros-chefes do Estado-Maior das Forças Armadas (Emfa, ao qual estava submetida a área espacial e que em 1999 daria lugar ao Ministério da Defesa), o brigadeiro Paulo Roberto Camarinha e seu sucessor, o almirante Valbert Figueiredo, enfureceram-se com o empenho de Raupp em viabilizar o lançamento do artefato.

Em seu testemunho, Capozzoli também relembra a suspensão e a reformulação, anos antes, da cooperação brasileira com a França, que previa o desenvolvimento de um foguete de combustível líquido, como o que levou astronautas estadunidenses à Lua. “Mísseis militares, portando bombas atômicas ou outros explosivos, são abastecidos com combustível sólido e não líquido”, sublinhou.

“Por que o Brasil fez essa opção?”, pergunta ele. “Porque queria desenvolver mísseis capazes de transportar uma bomba atômica, um dos sonhos do governo dos generais com o propósito de supremacia na América Latina, em particular sobre a Argentina”, respondeu. A intenção de deter tal tecnologia já foi confirmada por figuras centrais da inteligência militar e espacial como o brigadeiro Hugo Piva.

A Terra é azul

Hoje unidade de pesquisa do MCTIC, liderado pelo ministro e ex-astronauta Marcos Pontes, a história do Inpe remonta a uma época em que a pasta nem existia. Mais precisamente a 3 de agosto de 1961 – ano em que o soviético Yuri Gagarin tornou-se o primeiro ser humano a viajar pelo espaço –, quando o Grupo de Organização da Comissão Nacional de Atividades Espaciais (Gocnae) foi nomeado pelo presidente Jânio Quadros (jan/1961-ago/1961). As áreas de atuação designadas eram radioastronomia, astronomia, rastreio ótico de satélites e comunicações por satélite.

O grupo virou apenas Cnae, comissão vinculada à Presidência da República e com sede em São José dos Campos (SP), em 1963. Mais tarde a Comissão seria extinta, dando origem ao Instituto, ainda subordinado ao então Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), dez anos depois da primeira célula.

Na linha do tempo das realizações (e fracassos) espaciais brasileiras, antes de sua oficialização com o nome atual, o Inpe embarca cargas em foguetes de sondagem lançados a partir da Barreira do Inferno (RN), começa a receber imagens meteorológicas e organiza seus primeiros cursos de pós-graduação.

Em 1969, com a corrida espacial a toda, os Estados Unidos fazem de Neil Armstrong o primeiro homem a pisar na lua e enviam uma sonda a Marte – e seus rivais soviéticos, um robô a Vênus. Quatro anos depois, os EUA lançam sua estação espacial Skylab, habitada por astronautas durante nove meses. No Brasil, o Inpe implanta sua estação de recepção de dados em Cuiabá (MT) e passa a receber imagens do satélite norte-americano Landsat.

Em 1974, o centro inaugura seu Laboratório de Processamento de Imagens. Datam dessa década, ainda, o primeiro Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto e o trabalho inaugural sobre o desmatamento na Amazônia com base nessa tecnologia.

No ano seguinte, é aprovada a Missão Espacial Completa Brasileira (MECB), um marco do programa, que consistiria em construir e pôr em órbita um foguete e um satélite nacionais a partir de uma base própria.

“Sempre se discutiu qual era o papel do Programa Espacial Brasileiro. Até 1994, embora fosse comandado pelo Estado Maior das Forças Armadas, o PEB se declarava como um programa civil. Mas não era”, diz o matemático Raupp, que passou por quase todos os lugares de fala não-militares desse debate.

Raupp atuou como pesquisador titular do Inpe, dirigiu o instituto de 1985 a 1989 e, no governo Dilma Rousseff (PT), presidiu a Agência Espacial Brasileira (AEB) de 2011 a 2012 e comandou o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) de 2012 a 2014. Agora está à frente do Parque Tecnológico de São José dos Campos – intimamente ligado à cadeia produtiva aeroespacial –, além de ter presidido a Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC) de 2007 a 2011.

“Houve muitos momentos em que a utilização militar do projeto espacial influenciou muito negativamente para o Brasil ter acesso à tecnologia de ponta, não dava para dizer que tínhamos um programa civil executado dentro do CTA.” Ligado à Força Aérea Brasileira (FAB), o Centro Técnico de Aeronáutica é hoje Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA).

Raupp identifica a criação da AEB em 1994, no governo Itamar Franco (1992-1995), como um esforço para superar essa dubiedade, institucionalizando o compromisso com o desenvolvimento de tecnologia espacial em âmbito totalmente civil. “A área militar continuou com poder no âmbito da lei. Mudaram o nome, mas o resultado não mudou muito. No entanto, só de mudar o controle para civil já foi um progresso”, pondera.

Fusão

Quando presidente da AEB, ele advogou pela fusão com o Inpe, e o então ministro Aloizio Mercadante encomendou um estudo sobre a possibilidade. Segundo conta o cientista, a ideia seria o instituto contribuir com recursos físicos e humanos, dotando a agência de corpo técnico e garantindo, assim, os meios para executar a responsabilidade coordenar o PEB. O instituto daria origem a “filhos” de escopo mais específico, num organograma próximo ao da Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos.

“Era a forma mais fácil de capacitar uma agência executiva”, justifica. “Até então a AEB não tinha condições de cumprir esse papel, apenas recebia e repassava as verbas.” A resistência de servidores e entidades à proposta, entretanto, demoveu a presidente Dilma de submetê-la ao Congresso Nacional.

Ainda assim, a Agência teve sua centralidade e seus quadros reforçados. “Desde então, conta com uma equipe técnica que permite controlar as contratações de projetos que são aprovados para o PEB. Então essa interpretação, na minha visão, está resolvida. Hoje é a AEB que comanda o programa”, conclui.

Raupp declara-se ainda favorável àquele desenho institucional, mas aponta-o como ainda mais distante hoje. “Seria bom incorporar o IAE e outros institutos como esse, mas eles têm projetos na área de defesa, então não dá para ter esse braço em um programa civil. Também acho que o DCTA tem de ser autônomo para desenvolver pesquisa na área de defesa. Não sou contra existir um programa militar, mas acho que deveria haver um programa de total responsabilidade das Forças Armadas”, acrescenta.

Irmão militar do Inpe, o IAE foi criado em 1969 como unidade do CTA, que já tinha 23 anos e contava com o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), voltado à formação de recursos humanos qualificados em áreas de ponta. Originalmente Instituto de Atividades Espaciais, o IAE viria a se tornar o Instituto de Aeronáutica e Espaço ao incorporar o Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento, em 1991.

Voltando ao governo de Emílio Garrastazu Médici (1969-1974), 20 anos antes: se com uma mão confirmou o caráter civil do Inpe, com a outra o ditador criou a Comissão Brasileira de Atividades Espaciais (Cobae), vinculada às Forças Armadas, com o objetivo de coordenar e acompanhar a execução do programa espacial – missão transferida em 1994 à Agência Espacial Brasileira.

A ala militar manifesta insatisfação com a governança em vigor. Em audiência pública no Senado, em agosto de 2017, por exemplo, o então comandante da Aeronáutica, o brigadeiro Nivaldo Rossato, mostrou numa apresentação o Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (Pese), liderado pela Força Aérea, em pé de igualdade com o Programa Nacional de Atividades Espaciais (Pnae), que é coordenado pela AEB e, ao menos em tese, estabelece as diretrizes para o programa espacial como um todo.

Rossato defendeu a criação do Comitê e do Conselho Nacional de Espaço (CNE), com ascendência sobre a AEB, à qual caberiam os acordos de cooperação internacional. Segundo o oficial, tratava-se de reforma em andamento, a partir de recomendação de grupo de trabalho interministerial mantido no governo Dilma.

“Desde a demissão de Raupp no Inpe, essa conexão entre o lado civil, concentrado no instituto, e o militar, no IAE, nunca se restabeleceu”, observa o engenheiro aeronáutico José Bezerra Pessoa Filho, cuja trajetória profissional e acadêmica é toda ligada ao DCTA – ele fez mestrado no ITA, foi tecnologista sênior do IAE por mais de três décadas, chefiou a Divisão de Sistemas Espaciais do instituto e se aposentou em 2018 como coordenador da Gestão do Conhecimento.

“Os caminhos dessas instituições se cruzaram quando foi criado o Programa Espacial Brasileiro. Hoje falta um projeto integrador”, explica. Pela sua leitura, com o abandono do tripé previsto na Missão Espacial Completa, o que resta são atividades espaciais.

Churrascaria vegetariana

Para o pesquisador, não se trata de culpar um lado ou outro. “Todos os países desenvolveram atividades espaciais por motivos bélicos, de segurança”, enfatiza, listando Estados Unidos, União Soviética (hoje Rússia), China, Índia, Japão, Coreia do Norte, Coreia do Sul, Irã, França – na liderança do programa espacial europeu – e Alemanha. “Tem a ver, antes de qualquer coisa, com a área de defesa. Se estabelece um programa espacial sem ter isso em mente, você foi a uma churrascaria comer comida vegetariana”, argumenta.

A seu ver, além de mais clareza de objetivos, a questão passa pela envergadura orçamentária. “Não dá para achar que vai fazer com US$ 100 milhões de orçamento. Se você não chega a bilhão, é outro assunto”, agrega.

Darcton Damião, o diretor interino do Inpe, costura as duas vertentes do programa espacial em sua trajetória. Oficial aviador pela Academia da Força Aérea, fez aperfeiçoamentos e especializações ligados a satélites, observação da Terra, projetos espaciais, interpretação de imagens e tecnologia de radares, entre outros mais focados em gestão, estratégia e liderança. Cursou mestrado em sensoriamento remoto no Inpe. Foi pesquisador e diretor do Instituto de Estudos Avançados do DCTA, e leciona como visitante no ITA.

Após ser confirmado para o cargo, em fala a funcionários do instituto do MCTIC, o militar atribuiu a uma “pane de comunicação” a crise que derrubou seu antecessor e defendeu que polêmicas entre outros órgãos do governo e a imprensa fiquem do lado de fora. Prometeu que o centro continuará a fazer ciência e reiterou a confiança no Prodes, o sistema de detecção do desmatamento em operação desde 1988: “Eu não consigo entender que alguém vai chegar depois de 30 anos e sacar – segundo semestre de 2019 – uma solução de [R$] 8 milhões/ano melhor do que esta que foi amadurecida, testada em combate. Então, eu não acredito”.

O Ministério do Meio Ambiente, por sua vez, está degustando ferramenta paga da empresa Planet com vistas a substituir as nacionais gratuitas (e adotadas por vários países), enquanto numerosos pesquisadores e entidades declaram apoio à manutenção destas.

Ao tomar posse, Damião – que em seu doutorado, na Universidade de Brasília (UnB), analisou técnicas de predição (identificação de tendências) de desmatamento –disse que não há nada de errado com os dados divulgados, e sim com a interpretação. O ministro da Ciência, Tecnologia, Inovação e das Comunicações, Marcos Pontes, falou em ampliar o desenvolvimento de satélites – e na possibilidade de entregar os alertas de desmatamento ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) cinco dias antes da divulgação, fluxo adotado antes da atual política de total abertura. Vale lembrar que, desde março, a agência de fiscalização ambiental está sob “mordaça” do MMA, tolhida de qualquer comunicação autônoma, por decisão do ministro Ricardo Salles.

Entre fardas

Além do chefe direto, o astronauta Pontes, Damião terá de se reportar a outro militar. Desde janeiro, a AEB é pilotada por um oficial da reserva, o coronel Carlos Moura.

Formado em engenharia de infraestrutura aeronáutica e mestre em engenharia de software pelo ITA, Moura sinaliza uma gestão sem altos voos. Em entrevista ao portal Teletime logo que assumiu a função, aponta escassez de recursos e promete a inspiração em necessidades da população, deixando de lado o histórico foco em pesquisa e desenvolvimento (P&D).

“Os institutos tinham algumas linhas de pesquisa e também tinham o desafio de dominar uma tecnologia de acesso ao espaço. Com a cooperação de outros institutos e universidades, se tentava chegar a algum produto. O que percebemos é que esse modelo se esgotou, pois a capacidade de investimento do Estado se reduziu muito, as formas de contratação de especialistas também ficaram pouco flexíveis”, justifica.

O coronel fala, ainda, em estreitar a relação com o segmento de defesa e unir esforços em projetos que atendam as demandas militares e civis – segundo conta, nos últimos dois anos a AEB e o Ministério da Defesa (MD) trabalham nesse sentido. Ele anuncia uma reformulação do Pnae, incorporando o Pese (a atual porção mais militarista) como um capítulo.

Uma transferência formal do Inpe para a estrutura do MD exigiria aprovação pelo Congresso. Mas na prática – retomando a analogia com o churrasco vegetariano – o futuro próximo vai mostrar quão civil pode ser uma gestão recheada de fardados, cujo comandante em chefe acredita que a Terra é verde-oliva.

Edição: Rodrigo Chagas

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EXCLUSIVO | MICHAEL LÖWY: DOS GOVERNOS DE DIREITA, BOLSONARO É O QUE MAIS TEM TRAÇOS NEOFASCISTAS

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EXCLUSIVO | MICHAEL LÖWY: DOS GOVERNOS DE DIREITA, BOLSONARO É O QUE MAIS TEM TRAÇOS NEOFASCISTAS
Michael Löwy trabalha como diretor de pesquisas no Centre National de la Recherche Scientifique em Paris, na França / José Eduardo Bernardes

Em entrevista ao Brasil de Fato, sociólogo marxista compara o capitão reformado ao “Mussolini dos anos 1920”

Mayara Paixão | Brasil de Fato | São Paulo (SP) – Há mais de 40 anos, o paulistano Michael Löwy vive na França. Foi em solo europeu que consagrou-se como um dos intelectuais marxistas mais conhecidos e respeitados no mundo. Ao longo das décadas, Löwy, hoje aos 81 anos, tornou-se uma referência nos debates da esquerda não apenas brasileira, como também latino-americana.

Na virada para a primeira década dos anos 2000, um novo tema passou a figurar atrelado ao seu nome. O sociólogo tornou-se mundialmente conhecido pelos estudos da perspectiva ecossocialista, defendendo a urgência do debate ecológico pelo campo marxista.

Michael Löwy atendeu a reportagem do Brasil de Fato para falar sobre o novo lançamento da Editora Expressão Popular, o livro Notícias de Lugar Nenhum. A introdução da obra é assinada por ele.

Durante a conversa, o pensador marxista também se propôs a analisar temas do cenário político-social brasileiro e global.

O avanço da extrema direita no Brasil, as semelhanças com os governos fascistas europeus no século 20, o desmonte da política ambiental no governo de Jair Bolsonaro e a resistência política foram alguns dos temas elucidados por Löwy. Frente a um cenário classificado por ele como “ressurgimento de formas neofascistas ou semifascistas”, o sociólogo afirma que a esperança está na juventude.

Confira os melhores momentos da entrevista:

Brasil de Fato: Para começar, gostaria de entender em quais termos e como o senhor caracteriza o governo de Jair Bolsonaro no Brasil.

Michael Löwy: O que a gente está vivendo no Brasil, atualmente, é uma distopia. O contrário da utopia. Para nós, que somos da esquerda brasileira e lutamos durante tanto tempo para avançar nas ideias, lutas e conquistas dos trabalhadores, do socialismo e do progresso, realmente é triste ver como o Brasil chegou ao ponto de ter um governo que eu caracterizaria, pelo menos, como semifascista.

Não chega a ser inteiramente fascista porque faltam os aspectos do Estado totalitário, dos bandos armados, como os “fascio” de [Benito] Mussolini. Mas realmente há muitos aspectos do fascismo. Acho que Jair Bolsonaro é muito comparável, por exemplo, com Mussolini dos anos 1920. Nestes anos, Mussolini ainda mantinha certas aparências de uma república parlamentar, havia até oposição no parlamento, da qual o principal chefe era um democrata, o [Giacomo] Matteotti, e entre os deputados estava Antonio Gramsci. Tudo isso durou até 1926, quando ele fecha o parlamento, prende Gramsci, que fica na prisão até sua morte (1937), e manda assassinar Matteotti. Aí foi o fim. Espero que não cheguemos a isso aqui no Brasil.

Vejo a figura de Jair Bolsonaro e de boa parte de seu governo com traços fascistas de autoritarismo, com essa ideia de que precisamos “exterminar” o inimigo. O inimigo sendo a esquerda, as feministas, os indígenas, o MST, etc. Esse ódio ao “comunismo”, que para ele é toda a esquerda, é uma característica do fascismo — assim como a ideia de que a única solução é a repressão.

Temos muitos governos de extrema direita no mundo hoje em dia, infelizmente, como [Donald] Trump, nos Estados Unidos, [Viktor] Orbán, na Hungria, [Narendra] Modi, na Índia. Mas o que tem mais traços semifascistas, ou neofascistas, é o de Jair Bolsonaro.

Felizmente, ele não tem poder total. Contrariamente aos Estados totalitários, como foram os italiano, alemão e franquista [na Espanha], ele não tem o poder total. Tem que negociar com o Parlamento, com o Senado e mesmo com as forças armadas. Essa é uma situação que ainda o diferencia do fascismo clássico dos anos 1930. A história obviamente não se repete, mas é muito preocupante.

Outra diferença com o fascismo é que esse personagem foi eleito democraticamente pela população. Não foi um golpe militar, como tivemos tantos na América Latina nos anos 1960 e 1970; foi uma eleição democrática, e isso é muito triste.

Por outro lado, a gente vê que as pessoas que caíram nessa vigarice estão acordando. A popularidade de Bolsonaro caiu muitíssimo, já há mobilizações e resistência. Uma delas, e para mim muito importante, é a mobilização sindical contra a reforma da Previdência, uma reforma ultrarreacionária.

Obviamente, as classes dominantes estão gostando. Há um consenso entre as oligarquias, os proprietários de terra, os latifundiários e os banqueiros que acham que Bolsonaro é uma saída porque ele está construindo um programa neoliberal, da maneira mais brutal, como a oligarquia dominante brasileira há muito tempo gostaria de realizar.

Outra resistência que acho muito importante é a dos indígenas da Amazônia, que estão lutando para defender as florestas e os rios. A Floresta Amazônica é um bem do povo brasileiro e da humanidade. Sem ela, a mudança climática vai se acelerar.

No governo de Bolsonaro, parece que as políticas socioambientais perderam a importância. Desde que ele assumiu, a liberação de agrotóxicos acontece em um ritmo acelerado e houve um salto de quase 90% no desmatamento da Amazônia, por exemplo. Mesmo o campo progressista demorou para entender a importância desta pauta. Como o senhor vê esse tema hoje?

Estou convencido de que a questão do ambiente, ou da natureza, ou ecológica, se tornará cada vez mais central no século 21. Não é só uma questão de defender o meio ambiente, nossas florestas ou as espécies animais. É uma questão de sobrevivência da vida no planeta. Se o processo de mudança climática e aquecimento global superar certo nível de elevação, se tornará irreversível.

A partir de certo momento, cabe a pergunta de se ainda há condições para a vida humana neste planeta. É uma questão realmente de vida ou morte. Por isso, vai se tornar a questão política central para qualquer projeto de mudança social. É muito importante que a esquerda, os movimentos sociais, os operários, os camponeses, todos eles, tomem a questão ambiental e ecológica como uma questão política fundamental e uma razão central para lutar contra o capitalismo. É o capitalismo o responsável por isso.

É muito importante que os socialistas compreendam isso e assumam esse combate como uma coisa central, e não como um detalhe em uma lista de 45 pontos do programa. É uma batalha central para o futuro da humanidade. Esse é o meu “recadinho”: nós precisamos nos apropriar da questão ecológica como uma arma na luta contra o capitalismo.

O que há de comum entre o avanço da direita na Europa e na América Latina? 

A globalização liberal e a crise econômica, que ela provocou a partir de 2008, criaram um contexto que foi favorável a esse ascenso espetacular não só da direita clássica neoliberal, mas também da extrema direita semifascista, com rasgos racistas, autoritários em muitos países do mundo. Isso vai do Japão à Índia, boa parte da Europa, Estados Unidos e Brasil.

Não tenho uma explicação do porquê isso está acontecendo. Tenho vários elementos: a crise do neoliberalismo é um aspecto, o enfraquecimento da esquerda é outro. Mas, para mim, ainda é um enigma o porquê de, justamente nesses últimos anos, a gente estar assistindo a esse fenômeno, que não é exatamente a volta dos anos 1930, porque a história nunca se repete, mas é o ressurgimento de formas neofascistas ou semifascistas.

Sobre esperança, para finalizar. O senhor vê alguma saída? Qual seria?

A saída para mim são as lutas e a resistência. Aqui na América Latina, em primeira linha, estão os indígenas e os camponeses. Outro elemento que nos dá esperança é a juventude. A juventude que, no mundo inteiro, está se mobilizando em 20 de setembro para uma grande greve geral internacional sobre a questão da mudança climática, contra os governos que não estão tomando nenhuma providência.

Sabemos que a juventude é o futuro. Se a juventude está se mobilizando, está lutando, tomando consciência e levantando a parada de ordem “Mudemos o sistema e não o clima”, então existe esperança.

Edição: Katarine Flor

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RS: ESTUDANTE DE NOVO HAMBURGO VAI REPRESENTAR O BRASIL NA WORLDSKILLS, MAIOR COMPETIÇÃO DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DO MUNDO

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RS: ESTUDANTE DE NOVO HAMBURGO VAI REPRESENTAR O BRASIL NA WORLDSKILLS, MAIOR COMPETIÇÃO DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DO MUNDO

Torneio será disputado em Kazan, na Rússia, entre os dias 22 e 27 de agosto. Gabrielli Kretschmer, de 18 anos, vai competir na modalidade de Logística Internacional

Agência do Rádio | Repórter João Paulo Machado – A jovem Gabrielli Kretschmer, de 18 anos, será uma das 63 representantes do Brasil na WorldSkills, maior competição de educação profissional do mundo. Ela é estudante do SENAI de Novo Hamburgo desde 2016, quando começou o curso de assistente administrativa. Atualmente, estuda Logística Internacional no Instituto SENAI de Tecnologia em Calçado e Logística, no município da região metropolitana de Porto Alegre.

A modalidade de Logística Internacional foi incluída pela primeira vez na competição em 2019 e é uma simulação que envolve diversos aspectos do transporte de cargas de um país para outro, desde a embalagem de produtos até conhecer as legislações existentes em portos. A jovem recebe instruções e precisa realizar atividades em inglês. Segundo ela, a área contém todos os princípios do comércio exterior, setor em que pretende atuar.

“A gente tem que levar a carga de um lugar, de algum país para outro, fazendo um processo da porta de um cliente até a porta de outro cliente. É algo que as pessoas não veem muito no dia a dia, mas que acontece o tempo inteiro. São navios de carga, modais aéreos, rodoviários. A gente trabalha com todo tipo de modais, documentações, embalagens e legislações para fazer desembaraço aduaneiro em cada porto e em cada aeroporto”, conta.

Gabrielli integra a delegação brasileira que disputa o torneio na Rússia a partir desta semana e se junta a estudantes de outros 10 estados e do Distrito Federal. Além dela, outros oito gaúchos competem nas modalidades Tecnologia de Mídia Impressa; Instalações Elétricas Prediais; Robótica Móvel; Cabeleireiro; Cozinha; Jardinagem e Paisagismo; e Manutenção Industrial.

Estreante na competição, a jovem gaúcha disse não temer os desafios que vai enfrentar em um país bem diferente do Brasil. “Eu estou com um conjunto de sentimentos que envolve desde a ansiedade de conhecer o lugar até em como vai ser a prova. Mas eu me sinto muito preparada e confiante para oferecer o meu melhor”, projeta Gabrielli.
Preparação

Os jovens que vão representar o Brasil em Kazan passaram por treinamento que começou em janeiro e durou seis meses. Todos os integrantes realizaram atividades voltadas para a preparação física, técnica e emocional, de acordo com sua modalidade.

Segundo Marcelo Mendonça, líder de equipe da delegação brasileira, a WorldSkills é uma oportunidade para que os jovens brasileiros possam mostrar sua capacidade e passem por experiências que se assemelham ao que é exigido no mercado de trabalho.

“Eles se dando bem em uma competição internacional dessas já é uma grande porta aberta para eles entrarem na indústria ou na área de serviço. Então a gente motiva muito e eles sabem que o momento é esse. Estão muito empolgados e ansiosos para a competição”, pontua.

Realizada a cada dois anos, há mais de seis décadas, a WorldSkills é a maior competição de educação profissional do mundo. Neste ano, o torneio será disputado entre os dias 22 e 27 de agosto em Kazan, na Rússia. Jovens de até 25 anos de países das Américas, Europa, Ásia, África e Pacífico Sul disputam modalidades relacionadas a profissões técnicas da indústria e do setor de serviços. Os competidores precisam demonstrar habilidades individuais e coletivas para responder aos desafios de suas ocupações dentro de padrões internacionais de qualidade.

A melhor participação brasileira na história do campeonato foi em São Paulo, em 2015, com 27 medalhas conquistadas, resultado que rendeu o 1º lugar geral. Em 2017, em Abu Dhabi, a delegação manteve o país no pódio, quando terminou em segundo lugar geral com 15 medalhas.

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AGRONEGÓCIO | JUIZ COMPARA USO DE AGROTÓXICO A COMBATE À DENGUE E LIVRA FAZENDEIRO DE MULTA

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AGRONEGÓCIO | JUIZ COMPARA USO DE AGROTÓXICO A COMBATE À DENGUE E LIVRA FAZENDEIRO DE MULTA
Indígenas sofreram com dores de cabeça e garganta, além de diarreia e febre, após a pulverização de agrotóxico / Foto: Abasco

MPF pedia R$ 286 mil para indenizar comunidade indígena atingida por veneno pulverizado a mando de Cleto Spessato

Igor Carvalho | Brasil de Fato | São Paulo (SP) – A 1ª Vara da Justiça Federal de Dourados, no Mato Grosso do Sul, decidiu que o fazendeiro Cleto Spessatto, o piloto Laurentino Zamberlan e a empresa Dimensão Aviação Agrícola Ltda não deverão pagar uma multa de R$ 286 mil para a comunidade Guyra Kambi’y, por ter pulverizado veneno na aldeia. Em sua decisão, o juiz comparou o uso de agrotóxicos ao combate à dengue.

“Há atividades que não podem ser suprimidas sem grave prejuízo à coletividade. O próprio combate à dengue, por exemplo, exige, muitas vezes, aplicação por pulverização de inseticida pelas ruas da cidade, para matar o mosquito”, afirmou o magistrado.

O pedido de indenização foi movido pelo Ministério Público Federal (MPF), que perdeu o processo após a defesa dos acusados afirmar que eles utilizaram, na verdade, adubo foliar e não agrotóxico. Ainda de acordo com os advogados de Spessato, Zamberlan e da Dimensão Aviação, a aeronave pulverizou o produto na distância de 12 metros da aldeia.

O MPF, em sua ação, acusa os réus de terem pulverizado agrotóxico na Guyra Kambi’y, em Dourados, no dia 6 de janeiro de 2015, prejudicando os moradores da comunidade, que sofreram com dores de cabeça e garganta, além de diarreia e febre.

Os R$ 286 mil seriam utilizados para o tratamento da saúde dos atingidos, além do monitoramento da qualidade do solo e da água na comunidade indígena. Além do processo indenizatório, o MPF também acionou individualmente o piloto Laurentino Zamberlan, pelo crime de aspersão de agrotóxicos sobre a aldeia Guyra Kambi’y. A denúncia foi aceita pela Justiça Federal e o piloto responde como réu.

Imagens gravadas pelos indígenas mostram o momento em que o avião despeja veneno na comunidade.

Edição: Rodrigo Chagas

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FLORESTA EM PÉ | SISTEMA DE MONITORAMENTO DA AMAZÔNIA É REFERÊNCIA MUNDIAL, GARANTE EX-DIRETOR DO INPE

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FLORESTA EM PÉ | SISTEMA DE MONITORAMENTO DA AMAZÔNIA É REFERÊNCIA MUNDIAL, GARANTE EX-DIRETOR DO INPE
Gilberto Câmara foi diretor do Inpe entre 2005 e 2012 e é responsável pela criação do Deter, sistema de controle mensal da floresta / Foto: IEA / USP

Cientistas rebatem Bolsonaro: controle brasileiro via satélite é preciso e não superestima dados de desmatamento

Pedro Biondi | Brasil de Fato | São Paulo (SP) – No enfrentamento com o presidente Jair Bolsonaro (PSL) em torno dos dados do desmatamento, o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão, perdeu o cargo, para o qual restava mais um ano e meio de mandato.

A medida autoritária conseguiu, no entanto, colocar a polêmica no centro do debate público. Dois cientistas mundialmente conhecidos que fizeram carreira no Inpe, Carlos Nobre e Gilberto Câmara, reafirmam, em entrevista ao Brasil de Fato, a excelência brasileira na produção e na análise de dados de satélite. Por outro lado, denunciam o caráter anacrônico da indústria do desmatamento.

De forma resumida: Bolsonaro e seus ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e da Segurança Institucional, Augusto Heleno, vêm reiteradamente colocando em dúvida a confiabilidade do sistema de monitoramento por satélite brasileiro, pioneiro no mundo e em aperfeiçoamento há 30 anos.

O governante e seus escolhidos tratam os números do instituto ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Comunicações e Inovações (MCTIC) como terrorismo ambiental, e seus divulgadores como “maus brasileiros”.

“O Brasil é 1º mundo nessa área”, atesta Gilberto Câmara, cientista da computação que responde pelo projeto GEO, rede global de órgãos governamentais, instituições acadêmicas e empresas de 105 países em busca de soluções inovadoras para gestão de informações.

“O monitoramento feito aí tem o respeito de todos países que integram o GEO. Todo o mundo conhece a seriedade do trabalho do Inpe. Ela é reconhecida no Japão, na China, nos Estados Unidos, na Rússia… É uma coisa que ninguém questiona”, argumenta.

GEO é sigla para Group on Earth Observations (Grupo de Observações da Terra), além de significar “terra” em grego. Ligado à Organização das Nações Unidas (ONU), o organismo promove o compartilhamento de dados e modelos focados no desenvolvimento sustentável e no enfrentamento das mudanças do clima e desastres naturais.

De acordo com Câmara,  o destaque do Brasil e do Inpe no sensoriamento ambiental não se restringe à parte operacional, do uso e calibragem dos satélites – também passa pela análise de imagens e pela formação de pessoal na área.

Ele é atualmente um dos colaboradores do instituto sediado em São José dos Campos (SP), fez seu mestrado e doutorado ali, foi chefe de Processamento de Imagens, coordenador de Observação da Terra e diretor-geral por dois mandatos (2005-2012).

Apontado como principal responsável pela criação do sistema de alertas de desmatamento Deter, Câmara também ampliou o Prodes, projeto de monitoramento permanente que mantém uma série histórica de taxas anuais desde 1988. Em sua gestão, promoveu uma política de acesso gratuito e software de código aberto, firmando Inpe como um grande centro distribuidor de imagens satelitais.

Segundo o cientista, as taxas divulgadas por esses sistemas podem ser compreendidas como índices de “inflação ambiental”, uma vez que servem de parâmetro para a comunidade nacional e internacional acompanhar o empenho brasileiro em seus compromissos de preservação ambiental.

Em defesa da ciência

“Pode demorar, mas o método científico sempre triunfa. A história mostra. A humanidade avança porque a gente inventa um jeito de entender a natureza de forma sistemática”, afirma Câmara.

O meio científico saiu em peso na defesa do diretor Ricardo Galvão, demitido por Bolsonaro. O físico de 71 anos é professor emérito da Universidade de São Paulo (USP), dirigiu o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), também subordinado ao MCTIC, e presidiu a Sociedade Brasileira de Física (SBF).

Entre muitos outros, ex-diretor do Inpe recebeu o apoio das duas principais entidades científicas do país, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), e do Laboratório de Ciências Biosféricas da Nasa, a agência especial dos EUA.

Em debate com o ministro Salles na GloboNews, após a demissão, o físico e engenheiro questionou a briga do governo Bolsonaro com os números e a ideia fixa em substituir a ferramenta de monitoramento ambiental.

Do outro lado da mesa, o ministro do Meio Ambiente insistiu na tese de aparelhamento ideológico das instituições e acusou Galvão de ter desrespeitado o presidente.

O método de escolha da direção dos dos institutos vinculados ao MCTIC é semelhante ao adotado pelas universidades federais, por meio de lista tríplice e votação interna. Tradicionalmente, o ministro escolhe o primeiro colocado.

Após a saída de Galvão, o oficial da Força Aérea Darcton Policarpo Damião assumiu interinamente o Inpe. Para a escolha do substituto definitivo, Bolsonaro e o ministro Marcos Pontes prometeram cumprir o rito.

Damião é notório seguidor da linha ideológica do presidente, tendo se manifestado nas redes sociais com postagens de petições pela cassação de registro do Partido dos Trabalhadoras e do mandato do ex-deputado federal pelo PSOL-RJ Jean Wyllys, ao lado de elogios à Operação Lava Jato.

Ele diz que manterá a divulgação dos índices, mas que em situações alarmantes os remeterá em primeira mão à Presidência da República e aos ministérios do Meio Ambiente e da Ciência.

Consequências e preocupações

O autointitulado “capitão motosserra”, Jair Bolsonaro, não anda só.

O governador do Acre, Gladson Cameli (PP), exortou os produtores rurais a simplesmente ignorarem as multas ambientais – depois disse que não era bem assim e lançou um plano de regularização.

No Pará – onde vem ocorrendo o maior volume de derrubada –, o governador Helder Barbalho (MDB) cancelou a cobertura da Polícia Militar às operações do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em sintonia com a retirada do respaldo da Força Nacional pelo Ministério da Justiça.

Diante do vácuo do poder público, fazendeiros paraenses organizaram um “dia do fogo”, uma espécie de festa da queimada, no sudoeste do estado para mostrar serviço ao presidente. Em Roraima, os Yanomami estimam em 20 mil os garimpeiros instalados no seu território.

Pipocam reações de diferentes naturezas. Em entrevista coletiva sobre o mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o vice-presidente de um dos grupos de trabalho, o alemão Hans-O. Pörtner, foi categórico diante de pergunta sobre o que estava acontecendo no Brasil: “É exatamente o contrário do que o documento recomenda”.

O governo alemão retirou o equivalente a R$ 150 milhões do financiamento de projetos na Amazônia – recebendo do parceiro a resposta “Pegue essa grana e refloreste a Alemanha, tá ok?” – e menciona a possibilidade de provocar a revisão do acordo entre a União Europeia (UE) e o Mercosul. A Noruega também anunciou a suspensão dos repasses ao Fundo Amazônia, um vazio da mesma ordem.

O boicote a produtos brasileiros com pé na devastação já tinha sido mote, em março, de um artigo de 602 pesquisadores na revista científica Science, dirigido aos comandantes da UE.

Jornais como The New York TimesWashington PostThe Guardian e revistas como The Economist defenderam medidas parecidas.

Oito dos nove ex-ministros e ex-ministras do Meio Ambiente do período democrático publicaram carta conjunta prevendo prejuízos na balança comercial e pedindo que os tomadores de decisão pensem nas gerações futuras. Primeiro de uma série de apelos sem precedentes, o manifesto já citava o discurso contra os órgãos de controle, iniciado na campanha eleitoral.

No protesto mais recente, manifestantes pediram a saída do “ministro de Destruição” na frente do hotel onde ele participava de reunião com seus pares do BRICS. Num cartaz, a caricatura do advogado, trajando uma camiseta que traz a logo do Ibama de ponta-cabeça e empunhando uma motosserra, enquanto árvores viram carvão ao fundo.,

Imagem de satélite mostra centenas de focos de incêndio (assinalados com cruzes vermelhas) ao longo da BR 163, sudoeste do Pará, no que os fazendeiros chamaram de “dia do fogo” (Imagem: Inpe)

Para exportar, não é necessário desmatar

Demonstrando o comparativo na plataforma MapBiomas, Gilberto Câmara destaca que o Brasil dobrou sua safra de cereais e leguminosas (de 100 milhões para 200 milhões de toneladas) e elevou em 20 milhões de cabeças o rebanho bovino nas regiões Norte e Centro-Oeste, entre 2004 e 2014. No mesmo período, o desmate caiu de 27 mil para 5 mil quilômetros quadrados (km2) ao ano.

“O aumento da produção e das exportações convive muito bem com o controle do desmatamento e a redução das pastagens”, conclui.

Parte do “agro” vem numa toada parecida, com marcos como a moratória da soja, de 2008, quando a pressão dos importadores levou gigantes do ramo a se comprometer a não comprar produção de áreas recém-desflorestadas.

As justificativas passam pelo bolso e pela responsabilidade. O diretor-geral da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) posicionou-se contra a extinção da reserva legal – proposta do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho mais velho do capitão reformado, que também quer alterar a definição constitucional de função social da propriedade, na qual se inclui o respeito à natureza.

Até ex-contemplados com a “motosserra de ouro” mostram preocupação especialmente com o risco de o acordo com a Europa desandar.

A senadora e ex-ministra Kátia Abreu (PDT-TO), defensora contumaz dos agrotóxicos, criticou falas de Bolsonaro e declarou-se convertida à preocupação com a sustentabilidade. “Abri meus olhos e aprendi o quanto a Amazônia era importante para garantir as chuvas no sul e centro do Brasil”, disse em entrevista na qual também afastou a possibilidade de flexibilização da proteção ambiental pelo Senado.

Outro ex-ministro, Blairo Maggi – dono da maior trading de capital nacional –, acaba de afirmar que a retórica agressiva pode levar o setor à “estaca zero”.

Na última sexta-feira (9), a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura lançou relatório ressaltando que, embora melhorias sejam bem-vindas, o Brasil é pioneiro e referência em monitoramento de vegetação e uso da terra. A frente é integrada por cerca de 200 membros, dos quais a maioria representa o setor privado do agronegócio (agricultura, pecuária e silvicultura, bem como a agroindústria) – caso da Abag –, ao lado de organizações ambientalistas e de acadêmicos. No evento de lançamento, dividiram a mesa o executivo Beto Mesquita, de empresa que explora soluções sustentáveis, e o cientista Carlos Nobre.

Finalidades

Nobre foi um dos idealizadores de um seminário, no ano passado, para discutir as ferramentas disponíveis, suas aplicações e sua confiabilidade. O evento científico gerou o documento que a coalizão julgou adequado lançar agora, em função do debate em torno do tema.

Segundo o climatologista, os sistemas para estimar áreas alteradas mais automáticos, baseados em algoritmos de inteligência artificial, operam numa margem de erro na faixa de 20%. Com sistemas com calibragem mais fina, como o Deter, a margem de incerteza cai para cerca de 12%. E no Prodes, que o Inpe usa para calcular a taxa anual de desmatamento, essa margem desce a 6%.

“Existe aqui o sistema de uma empresa privada que consegue uma margem de erro de 2%. É um produto que exige o conhecimento de especialistas. Há 50 deles envolvidos. Cada imagem é revisada, revisada, revisada seguidamente”, narra o pesquisador, que se aposentou pelo Inpe, depois de três décadas integrando seus quadros.

Tal ferramenta, ele ressalta, tem uma finalidade diferente da do Deter. É contratada por empresas para ver, por exemplo, se uma plantação de cana está com alguma doença.

Já o sistema de detecção em tempo real do Inpe processa uma enorme quantidade de informações e suas imagens são remetidas diariamente ao Ibama. “O Deter captura bem a tendência, mostra o ritmo do desmate, e é essencial para a fiscalização”, diz o climatologista.

Ele comenta que esse tipo de ferramenta subestima a área desflorestada e não erra para cima, como os detratores procuram fazer crer. A taxa anual do Prodes, que usa uma resolução melhor (fotografa polígonos menores), fica sempre acima do acumulado de 12 meses do Deter.

Ou seja, os 2.254,9 km2 de devastação detectados em julho – 278% acima do verificado no mesmo mês de 2018 – não devem ser levados ao pé da letra, mas indicam uma “febre” intensa, ainda mais porque o ano passado, de eleições municipais e com ruralistas na cabine de comando, já foi de alta.

Os apelos e esclarecimentos de pesquisadores e gestores não fazem a cabeça de Salles. Reportagem de O Estado de S. Paulo, nesta quinta (15), revela que o Ibama, autarquia ligada ao Ministério do Meio Ambiente, já roda em caráter experimental o sistema privado da empresa Planet que o titular do MMA promove. A matéria conta que o governo do Mato Grosso adotou a ferramenta, ao passo que o Pará fez o test-drive e o atual governador preferiu não contratá-la.

Segundo o Observatório do Clima (OC), há 11 sistemas de sensoriamento remoto de vegetação no território nacional, dos quais três se somam ao Deter na vigilância da Amazônia em tempo real.

Em artigo no El País, o coordenador de comunicação do OC, Claudio Angelo, afirma que hoje é possível fazer monitoramento automático com a qualidade do Prodes. “Qualquer ruído nos dados introduzido pelo tal sistema de monitoramento que Salles quer comprar será imediatamente desmentido pelos outros sistemas e pelo MapBiomas”, garante. De acordo com Angelo, a parte “quente” dessa plataforma já fornece ao governo – de graça – a validação dos alertas do Inpe, da ONG Imazon, da Universidade de Maryland (EUA) e do Exército com imagens da Planet, evitando “falsos positivos” de corte proibido.

Interesses

Na leitura de Carlos Nobre, a contestação dos dados e a promoção da supressão ilegal de vegetação interessam a dois grupos. O primeiro, com maior representação política, seria o “ruralismo atrasado”, desconectado dos avanços científico-tecnológicos e vinculado à expansão de fronteiras e à ostentação do latifúndio. O outro, o crime organizado, que nesse universo se baseia na grilagem e na exploração de madeira fora da lei.

Em contraponto, ele analisa que a agricultura moderna valoriza a manutenção de mosaicos (composição de áreas vizinhas com usos e graus de proteção variados), em que o cultivo convive com florestas. “Elas oferecem uma série de serviços ecossistêmicos como polinizadores, manutenção da fertilidade do solo e diminuição dos extremos climáticos, que são prejudiciais à produção”, lembra.

Nobre alerta para a aproximação do ponto sem retorno em que a Amazônia pode se transmutar numa formação mais seca e com vegetação mais espaçada e arbustiva, semelhante a áreas degradadas do Cerrado. “Se o corte ultrapassar 20 a 25% da área amazônica [como um todo, não só no Brasil], existe um risco muito grande de o sistema se desestabilizar. Se isso acontecer, a floresta não volta”, enfatiza o cientista, que participou da elaboração de seis dos relatórios mundiais do IPCC e assessorou a Secretaria Geral da ONU.

Autor que lançou, há quase 30 anos, a tese sobre o risco de savanização daquele bioma e coordenou o Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera (LBA), ele defende a necessidade de se chegar ao desmatamento zero até 2030 – zerar a desflorestação como um todo, não só a prática à margem da lei.


Carlos Nobre recebeu em 2016 do Volvo Environment Prize, concedido a pessoas que fizeram notáveis descobertas científicas sobre o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável (Foto: Associação Brasileira de Ciências)

Uma batata quente, portanto, na mão do diretor interino Darcton Damião, que se declarou indeciso – “Não é a minha praia” – diante de pergunta sobre o aquecimento global e a responsabilidade humana no fenômeno.

Com mestrado em sensoriamento remoto pelo próprio Inpe e doutorado em desenvolvimento sustentável pela Universidade de Brasília (UnB) – sua tese versou sobre análise multivariada para a predição de tendências de desmatamento –, ele tem perfil adequado ao cargo, na avaliação de Nobre e outras pessoas ligadas à área.

O entrevistado ressalta que Damião construiu uma carreira de gestor e não de cientista. Tem pouquíssimos artigos listados no seu currículo Lattes, nenhum nos últimos 15 anos, ao passo que ocupou cargos de direção ligados a pesquisa e tecnologia em grandes empresas (Vale Soluções em Energia e Usiminas), além de ter dirigido o Instituto de Estudos Avançados da Aeronáutica.

“As pessoas da ciência têm a cabeça aberta. Se ele for uma, tem a melhor chance da vida para perguntar aos especialistas e receber uma aula sobre as mudanças climáticas”, diz o estudioso do processo que desafia a civilização com seu horizonte de intensificação de cheias e secas, quebra de safras, globalização de doenças tropicais, extinção de espécies e desaparecimento de cidades e até países-ilha.

 

Edição: Rodrigo Chagas

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MACRI RECUA E CANCELA CONGELAMENTO DE PREÇO DOS COMBUSTÍVEIS

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MACRI RECUA E CANCELA CONGELAMENTO DE PREÇO DOS COMBUSTÍVEIS

Presidente argentino foi derrotado por chapa da oposição nas eleições primárias

Anunciou medidas para conter inflação. Petrolíferas se queixaram da decisão.

PODER360 – O presidente da Argentina, Mauricio Macri, voltou atrás depois de dizer que congelaria o preço dos combustíveis por 90 dias. A ação era parte de 1 pacote anunciado pelo mandatário argentino, na manhã desta 4ª feira (14.ago.2019), para tentar conter a inflação no país.

Segundo a secretaria de Energia argentina, o recuo foi motivado por queixas de empresas petrolíferas. Ainda conforme a pasta, haverá uma nova rodada de diálogos para buscar 1 acordo.

Além do congelamento do preço dos combustíveis, o pacote anunciado por Macri determina ainda o pagamento de bônus salariais para todos os tipos de trabalhadores (servidores públicos, de empresas privadas e informais). Também permite que pequenas e médias empresas possam renegociar suas dívidas tributárias em 10 anos. Além disso, o presidente anunciou ainda redução no imposto de renda dos aposentados e aumento de 40% no valor das bolsas dos estudantes.

MERCADO REAGE MAL A PRIMÁRIAS

A economia argentina vive 1 momento de instabilidade, depois de Macri ser derrotado nas eleições primárias pela chapa de oposição liderada por Alberto Fernández, que tem a ex-presidente Cristina Kirchner como vice. Na 2ª feira (12.ago), o peso argentino chegou a perder 30% do seu valor frente ao dólar americano.

Com informações da Agência Brasil

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ECONOMIA DA ALEMANHA ENCOLHE NO SEGUNDO TRIMESTRE

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ECONOMIA DA ALEMANHA ENCOLHE NO SEGUNDO TRIMESTRE
Exportações alemãs foram afetadas pela guerra comercial entre a China e os EUA

DW-Brasil – Após crescimento de 0,4% no primeiro trimestre, PIB alemão contrai 0,1% de abril a junho e deixa maior economia da zona do euro à beira da recessão técnica. Índice foi afetado pelos resultados ruins do comércio exterior.

O Produto Interno Bruto (PIB) da Alemanha registrou uma contração de 0,1% no segundo trimestre deste ano em relação aos três meses anteriores, informou nesta quarta-feira (14/08) o Departamento Federal de Estatísticas (Destatis).

O ministro alemão da Economia, Peter Altmaier, classificou a notícia de um “sinal de alerta”, acrescentando que a preocupação agora é, através das “medidas corretas”, evitar uma recessão técnica – o que ocorre quando o PIB encolhe em dois trimestres seguidos.

A contração da economia nos meses de abril a junho ocorre após um aumento de 0,4% no primeiro trimestre. A Alemanha já havia beirado a recessão técnica na segunda metade de 2018, com uma contração de 0,2% no terceiro trimestre.

A contração atual é atribuída principalmente à guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, que danifica o rendimento de seu potente setor externo e da indústria manufatureira.

“O setor externo freou a evolução do crescimento econômico, porque as exportações retrocederam mais do que as importações com relação ao trimestre anterior”, explicou o Destatis em nota, na qual ressaltou que a demanda interna e o gasto público apresentaram crescimento entre abril e junho.

A demanda interna se tornou um importante impulsionador do crescimento para a Alemanha nos anos recentes, quando os consumidores se beneficiam de uma taxa de emprego recorde, aumentos de salários e crédito baixo.

O mercado de trabalho alemão se manteve em ritmo de crescimento, com 45,2 milhões de empregados, um aumento de 1% em relação ao primeiro trimestre, segundo o Destatis.

Já a produção industrial, em junho, caiu 5,2% em termos anualizados, a maior queda em uma década, e as exportações despencaram 8%, a maior queda em três anos, segundo dados divulgados nos últimos dias.

O setor da construção foi outro que sofreu retração neste trimestre, após um crescimento nos primeiros três meses do ano, devido a um inverno atipicamente ameno.

A indústria automotiva, principal empregadora e exportadora do país, também não atravessa bom momento, após o escândalo da manipulação de emissões de motores a diesel.

Entre os fatores externos que contribuíram para a contração da economia alemã no segundo trimestre estão ainda as incertezas em torno do Brexit, que caminha para um divórcio sem acordo após a nomeação de Boris Johnson como primeiro-ministro britânico, e o esfriamento econômico na zona do euro, com especial atenção aos problemas políticos na Itália.

“Estamos numa fraqueza conjuntural, mas ainda não estamos em uma recessão, o que podemos evitar, se tomarmos as medidas certas”, afirmou o ministro Altmaier. Ele acrescentou ser importante uma política de crescimento inteligente, que garanta empregos. Isso incluiria, segundo ele, medidas de alívio para empresas, especialmente as de médio porte.

MD/afp/rtr/efe

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