SEIS MESES DE BOLSONARO: CRESCIMENTO PÍFIO, PRIVATIZAÇÕES, DESEMPREGO E RETROCESSO

.SEIS MESES DE BOLSONARO: CRESCIMENTO PÍFIO, PRIVATIZAÇÕES, DESEMPREGO E RETROCESSO

“Brasil está longe da perspectiva de sair da recessão”, avalia economista Paulo Nogueira Batista Júnior / Foto: Sergio Lima / AFP

Balança da distribuição de renda voltou a pender para setores mais ricos da sociedade, analisa coordenador do Dieese.

Antonio Biondi – Brasil de Fato | São Paulo (SP) – Como resumir os 6 primeiros meses de Jair Bolsonaro (PSL) à frente da economia brasileira? Os adjetivos podem ser muitos e variados, mas alguns substantivos – bastante concretos – não podem escapar a uma análise mais sincera do período.

O desemprego, que segue no triste patamar de 13 milhões de brasileiros e brasileiras, é certamente um deles. O desalento, que hoje atinge quase 5 milhões de trabalhadores e trabalhadoras, outro. A subutilização, situação enfrentada por mais de 28 milhões de pessoas inseridas no mercado de trabalho, mais um.

Para completar o quadro, o governo oferece a privatização de ativos valiosos para o país e a retomada do crescimento é pífia, com previsão 0,82% em 2019. A expectativa de alta para o Produto Interno Bruto (PIB) esse ano passou de 0,85% para 0,82%, conforme divulgado nesta segunda-feira, 8, pelo Banco Central (BC).

Do ponto de vista dos direitos, Bolsonaro pretende adotar reformas prejudiciais aos trabalhadores e favoráveis aos representantes mais atrasados do setor produtivo.

Ainda antes de completar 200 dias de governo, o presidente e o ministro da Economia Paulo Guedes buscam aprovar na Câmara dos Deputados o seu prato principal para o mercado: a reforma da Previdência.

Carro no frio

Fausto Augusto Júnior, coordenador de Educação do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) afirma que o atual contingente de cerca de 13 milhões de desempregados, notoriamente alto, “vem se mantendo há algum tempo e pode piorar. Não existe perspectiva de melhora”.

“O trabalho não é uma questão prioritária para o atual governo. Tanto que acabou com o Ministério do Trabalho”, em uma de suas primeiras medidas.

Para o coordenador de Educação do Dieese, a economia brasileira hoje se assemelha a um carro a álcool em um dia frio e com a bateria sem carga: “o carro – no caso, a economia – não vai pegar sem que alguma outra medida seja tomada”.

O especialista relativiza a promessa do governo de que a reforma da Previdência mudará tudo, e relembra que “o histórico recente mostra que não é assim que funciona”. “A aprovação de outras reformas, como a Trabalhista, por exemplo, também foi defendida como caminho único e certo pelo governo anterior para a retomada do crescimento da economia, e a hipótese não se confirmou“.

O economista Paulo Nogueira Batista Júnior concorda com a análise. Ex-diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) e ex-vice-presidente do Banco dos BRICS (Novo Banco de Desenvolvimento, associado ao Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), Batista Júnior avalia que o atual governo não tomou medidas para o país voltar a crescer.

O economista enumera ações que poderiam ser tomadas: o Banco Central poderia baixar os juros; o governo poderia liberar recursos do FGTS, o que já foi cogitado pela atual gestão; entre diversas outras medidas.

Entretanto, mesmo essas medidas tidas como básicas pelos economistas, estão sendo condicionadas pelo governo à aprovação da reforma da Previdência. “O pouco que se falou não foi feito, à espera da aprovação da reforma. Essa ideia de que a economia se recupera de forma quase espontânea com a aprovação de reformas estruturais é uma ilusão. Não é algo razoável”, critica.

Para Nogueira, Bolsonaro oferece ao país uma política econômica pobre e enviesada, de modo que o Brasil está longe da perspectiva de sair da recessão que se aprofundou com a crise política marcada pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff, em 2016, e pela instabilidade econômica e social dos anos seguintes.

Sanha privatista

Fernando L. C. Antunes, advogado e professor de Direito Constitucional, destaca que as privatizações podem se acelerar nos próximos anos das atuais gestões federal e estaduais. Isso porque o Supremo Tribunal Federal (STF) realizou julgamento de grande importância no início de junho, que deve diminuir as exigências e controle para vendas de empresas estatais, especialmente as chamadas subsidiárias (que respondem por operações e serviços mais específicos da companhia principal, as chamadas holding).

O governo federal tem, segundo o Ministério da Economia, 134 estatais, das quais 88 são subsidiárias. O advogado destaca, nesse sentido, ser bastante difícil de se separar até onde vai a holding e onde começam as subsidiárias – ou como a companhia principal pode sobreviver abrindo mão de seus braços e operações secundárias em geral.

Na opinião de Antunes, a decisão, embora ainda não tenha sido finalizada e publicada em acórdão definitivo por parte do Supremo, já produziu alguns efeitos práticos e nocivos para o interesse público. “Um deles foi a venda da TAG da Petrobras, que se deu imediatamente após o julgamento”, cita.

O jurista se refere à venda de uma das subsidiárias mais importantes da Petrobras, a Transportadora Associada de Gás S.A, que detém mais de 4,5 mil quilômetros de gasodutos, localizados principalmente nas regiões Norte e Nordeste. O transporte de gás é considerado questão estratégica e de soberania nacional no mundo todo. No Brasil, o repasse da TAG para o controle de grupos da França e Canadá movimentou expressivos 8,6 bilhões de dólares – ou mais de 34 bilhões de reais à cotação de hoje da moeda estadunidense.

Com a venda da empresa, a Petrobras passará a pagar pelo uso dos gasodutos que anteriormente lhe pertenciam. A tendência é que, com alguns anos de uso, a companhia pagará aos novos controladores da TAG um valor equivalente ou superior ao recebido com a venda – situação semelhante à vivenciada pela Petrobras com a privatização da Nova Transportadora do Sudeste (NTS).

Além da Petrobras, os governos estaduais já se apressaram após a decisão para acelerar seus programas de privatizações, alegadamente a fim de diminuir os déficits públicos e focar nas atividades principais do Estado – como Saúde, Educação e Segurança. Uma história que o país já assistiu em décadas passadas e que não resolveu nem as questões das contas públicas e muito menos dos serviços prestados pelo governo.

Concessões unilaterais

Na avaliação de Batista Júnior, o atual governo adota medidas que não obedecem a um projeto nacional, com acordos comerciais que levam a uma perda adicional da soberania do país, muitas vezes expressando concessões unilaterais por parte do Brasil. “A integração desse governo se dá sob o signo de uma integração subordinada”, explica o economista.

Ao analisar o recente acordo firmado entre União Europeia e Mercosul, ele explica tratar-se um acordo muito vasto e complexo. Segundo ele, apenas com base nos contornos gerais já divulgados, não se tem noção do tamanho dos problemas que poderão ser trazidos, além de ser fundamental que o Congresso Nacional receba do Executivo todas as informações envolvidas.

O economista avalia se tratar de um tipo de acordo no modelo tentado com a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), que não vingou, quando proposta na década de 1990 pelos Estados Unidos, como projeto para todos os países da região.

Nesse tipo de acordo, os governos em geral (especialmente os mais subordinados) amarram suas políticas internas a fim de obterem concessões bastante limitadas no campo comercial.

“O acordo entre Mercosul e União Europeia aprovado no final de junho não é diferente na sua essência. Ele cria muitos riscos. E não pode ser considerado um acordo de livre comércio”, acrescenta o economista, destacando que muitas áreas importantes do comércio entre os blocos não foram liberalizadas pelo acordo. Além disso, ele alerta, que para entrar em vigor, o acordo precisará da aprovação dos parlamentos do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, os quatro membros fundadores do Mercosul.

Terceirização e cachorro quente

Ao lado dos altos índices de desemprego e de desalento, da subutilização e da informalidade, as questões envolvendo a precarização e terceirização dos empregos tendem igualmente a marcar a gestão de Bolsonaro.

Para o coordenador do Dieese, a Lei da Terceirização (13.429/2017) ainda vai trazer muitos impactos nesse sentido. A terceirização das atividades-fim e a implementação das medidas previstas na reforma trabalhista tendem a trazer uma desestruturação dos direitos em geral, aproximando o trabalhador informal do contratado. Algo que deve ser agravado com a eventual adoção posterior da chamada Carteira de Trabalho Verde e Amarela.

“O trabalho não é uma questão prioritária para o atual governo. Tanto que acabou com o Ministério do Trabalho”, acrescenta o analista.

Fausto Augusto Júnior explica que, algumas décadas atrás, a informalidade era dada como uma característica inata da economia brasileira, e que depois o desemprego e a informalidade passaram a ser considerados como formas de se controlar a inflação. Nos governos de Lula e Dilma, foi feita uma aposta no sentido de se incentivar a formalização, inclusive como mecanismo de financiamento e melhoria das contas da Previdência Social.

O momento atual, contudo, é de aumento da informalidade, no Brasil e no mundo. Ao ser perguntado se as barraquinhas de cachorro quente, na década de 1990, estavam para a informalidade, assim como os carros de Uber estão para o atual período enfrentado pelos trabalhadores brasileiros, ele destaca que, no caso do cachorro quente, o trabalhador normalmente era dono de sua força de trabalho e dos seus meios de produção. “Hoje, ele paga royalties do seu trabalho para a empresa, é ela que define as tarifas, que faz a mediação com o cliente etc”, compara.

O coordenador do Dieese aponta haver uma mudança muito grande do ponto de vista tecnológico por trás de todas essas alterações relativas à informalidade. “O Uber é a informalidade padrão classe média. Não é o menino vendendo bala no trem”.

Para ele, as crescentes dificuldades impostas pelo governo ao financiamento das entidades de representação dos trabalhadores, assim como a busca por tornar as normas de segurança do trabalho mais brandas, afirmam-se como questões de grande importância na atual conjuntura.

“As normas de segurança existentes no país foram todas negociadas e redigidas de forma tripartite, envolvendo trabalhadores, empresas e governo”, explica. O coordenador de Educação do Dieese considera que “a visão de que essas normas atrapalham, que não deveriam existir, é defendida por um grupo de visão muito atrasada”. Para Fausto, essa visão “tacanha” representa um Brasil atrasado, e o ataque à segurança e direitos dos trabalhadores pode gerar inclusive barreiras ao comércio mundial do país.

O representante do Dieese destaca que o capitalismo busca produzir (e reproduzir a riqueza) onde isso custa menos para ele. E que as normas de segurança regulamentam isso. “Não é possível que as pessoas continuem perdendo pedaços do corpo, [sofrendo] mutilações, soterramentos, quedas, morrendo em seu ambiente de trabalho, e ainda se alegue que as normas são muito rígidas e prejudiciais aos empresários. “Sem controle do Estado e fiscalização da sociedade, o que a gente acompanha, muitas vezes, é o retrato da barbárie. E não estamos falando de empresas pequenininhas, estamos falando de multinacionais, de grandes empresas”, denuncia.

Balança pró-capital

O coordenador de Educação do Dieese ressalta, por fim, que a Política de Valorização do Salário Mínimo consolidou-se como a principal política de distribuição de renda no país nos governos liderados pelo Partido dos Trabalhadores (PT) – mais até que o Bolsa Família, que trata ainda de outras questões de enorme importância em sua concepção, para além da distribuição de renda. “A valorização do salário mínimo altera de forma substancial as condições de vida das famílias dos trabalhadores”, e de forma escalonada, não repentina e concentrada em um único momento, explica Fausto.

“Desde o governo Temer, a política praticamente não existe mais, e o governo Bolsonaro anunciou que pretende acabar de vez com ela”. Com a chegada ao poder de Michel Temer, a medida foi alterada e os aumentos do salário mínimo passaram a somente repor a inflação, sem considerar também a questão do crescimento do PIB. “Sem a política de valorização, a tendência é o salário mínimo se desvalorizar”, lamenta.

A balança da distribuição de renda entre capital e trabalho pendeu para os trabalhadores nos governos de Lula e Dilma, especialmente no de Lula. Foram governos em que os bancos e o setor privado também ganharam muito dinheiro, mas em que houve políticas que buscaram efeitos distributivos. Atualmente, a balança da distribuição de renda volta a pender para o grande capital e para os setores mais ricos da sociedade.

Em sua opinião, algo sem futuro. “Não existe mágica. As pessoas precisam ganhar dinheiro, comprar produtos e serviços das empresas. Valorizar o trabalho é valorizar o consumo. Infelizmente, essa não é a visão do ministro Guedes”, finaliza.

Edição: Rodrigo Chagas e Cecília Figueiredo

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LULA: “A GLOBO SE APODEROU DA LAVA JATO E FEZ UM PACTO COM MORO E DALLAGNOL”

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LULA: “A GLOBO SE APODEROU DA LAVA JATO E FEZ UM PACTO COM MORO E DALLAGNOL”

Entrevista com o ex-presidente Lula foi realizada na Polícia Federal, em Curitiba / Guilherme Santos/Sul 21

Marco Weissheimer – Sul 21 – Confira a entrevista completa do ex-presidente ao Sul 21; Lula sugeriu que o ministro da Justiça pedisse afastamento

Preso há mais de um ano e quatro meses nas dependências da Superintendência da Policia Federal, em Curitiba, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva procura manter-se atualizado sobre a conjuntura política do país e do mundo por meio dos canais que são a ele autorizados. Sem acesso a internet, pode acessar canais de TV aberta e receber informações por meio de arquivos em pen drives, papeis impressos ou relatos de seus advogados, assessores, amigos e companheiros de partido. Com essas limitações e a privação de liberdade, a leitura e as conversas tornaram-se algumas de suas práticas mais cultivadas.

Na manhã desta quarta-feira (3), Lula recebeu o Sul21 para uma entrevista exclusiva. O ex-presidente chegou escoltado por um agente da Polícia Federal à sala reservada para as entrevistas no prédio da Polícia Federal. O protocolo do encontro previa apenas um cumprimento rápido do entrevistado com os entrevistadores. A conversa iniciou logo e se estendeu por cerca de uma hora e quarenta e cinco minutos. No início da entrevista, Lula estava mais interessado em falar sobre os fatos políticos mais recentes da vida política nacional, em especial o caso da Vaza Jato, com a revelação de mensagens envolvendo o ministro Sérgio Moro e procuradores da Lava Jato. Publicamos a seguir a primeira parte dessa conversa, onde Lula também fala sobre aquilo que considera sérias ameaças à soberania que pairam sobre o país. Nos próximos dias, publicaremos o conteúdo completo dessa conversa.

Veja entrevista completa AQUI:

https://www.facebook.com/Lula/videos/2460678974155346/

 

PREVIDÊNCIA DE BOLSONARO COLOCARÁ A MAIORIA NA MISÉRIA ABSOLUTA

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PREVIDÊNCIA DE BOLSONARO COLOCARÁ A MAIORIA NA MISÉRIA ABSOLUTA

Um ponto adicional da previdência privada: ao contrário do que se pensa, nem todo o valor investido poderá ser resgatado

Carta Capital – GUILHERME BOULOS – Apresentada há poucas semanas, a proposta de Reforma da Previdência de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes consegue ser pior do que a de Michel Temer. Aumenta para 40 anos a contribuição para que se possa receber aposentadoria integral, corta os benefícios por invalidez e pensões por morte e diminui para menos da metade de um salário mínimo o valor pago a idosos pobres.

Entretanto, o ataque a longo prazo mais profundo é o que prevê a transferência do regime previdenciário para a capitalização. Ao contrário do sistema de solidariedade entre gerações que vigora hoje no Brasil, na capitalização é a poupança individual de cada trabalhador que custeia no fim da vida a sua própria aposentadoria.

Esse é o centro da reforma. A proposta é tornar as condições de aposentadoria pelo INSS tão difíceis e desvantajosas que levem os trabalhadores com melhor condição de renda e estabilidade no emprego a migrar para a previdência privada.

Os que não tiverem essa escolha – a maioria esmagadora – serão relegados a receber benefícios assistenciais desvinculados do salário mínimo, ou seja, condenados a viver sem nenhuma dignidade ou a trabalhar até morrer para ter alguma. Na prática, o que se pretende é o fim da Previdência pública, já que com a redução drástica das contribuições do empregador e das empresas, decorrentes da tendência à capitalização individual, o INSS pode tornar-se – aí sim! – insolvente.

Nos anos 1980, o ditador Augusto Pinochet transformou em capitalização o regime previdenciário do Chile. Na época, seu governo, assessorado por um time de economistas liberais de Chicago, vendeu a ideia de que a solução para a crise fiscal do Estado e para ativar a economia era acabar com a Previdência pública. Um desses Chicago Boys era ninguém menos que o atual ministro da Economia de Bolsonaro, Paulo Guedes, que trabalhou no Chile a convite do grupo político do ditador. Guedes já disse que o fato de colaborar com uma ditadura com mais de 40 mil executados, desaparecidos e torturados era “irrelevante do ponto de vista intelectual”.

FOTO: CARL DE SOUZA/AFP

Quatro décadas depois, o preço da reforma chilena é devastador. Oito de cada dez aposentados pelo novo sistema recebem menos de um salário mínimo de pensão e 44% deles estão abaixo da linha da pobreza. Semelhante à proposta de Bolsonaro e Guedes, a previdência chilena isenta o Estado e os empregadores e é exclusivamente custeada pelos próprios trabalhadores.

O montante arrecadado é gerido por entidades bilionárias chamadas de AFP (administradoras de fundos de pensão). Apenas cinco delas administram cerca de 70% do PIB do país e faturam 5 milhões de reais diariamente em comissões mensais obrigatórias e pouquíssimo transparentes dos segurados. Este é um ponto adicional da previdência privada: ao contrário do que se pensa, nem todo o valor investido poderá ser resgatado, pois os fundos cobram “taxas de administração”.

Enquanto as empresas lucram, uma legião de idosos aposentados e miseráveis vai se formando, incapaz de bancar sequer seus remédios e gastos mínimos, passando a depender de familiares que trabalham para complementar suas rendas. Não por acaso, o Chile lidera o índice de suicídios entre idosos com mais de 80 anos na América Latina, de acordo com o Instituto Nacional de Estatísticas do país.

Ligadas a grandes grupos financeiros internacionais, as AFP têm um poder de barganha imenso, financiando candidaturas e cooptando grande parte do sistema político, empresarial e até sindical. As exigências de transparência e regulação estão na contramão do interesse de grandes empresas e bancos em garantir o retorno financeiro de seus investimentos. A conta sobra para a massa de trabalhadores que compram o sonho de se aposentar com seu próprio esforço, mas acabam recebendo um valor muito aquém do necessário para sobreviver dignamente.

No Chile, isso gerou uma série de manifestações populares organizadas pelo “No+AFP”, um grupo da sociedade civil que luta por reverter a desastrosa reforma da previdência de Pinochet. Milhares de cidadãos estiveram nas ruas nos últimos anos, exigindo o fim da capitalização e um sistema de pensões “solidário” e “administrado pelo Estado”. Em outras palavras, pedem para retomar por lá justamente o que a proposta de Bolsonaro propõe acabar por aqui.

O que está em jogo é qual sociedade queremos para o futuro: se baseada no princípio da solidariedade, assegurando vida digna para seus idosos a partir de um sistema público, ou baseada no “cada um por si”, onde terão direito ao merecido descanso apenas aqueles que tiverem condições de arcar com uma previdência privada, gerida por grandes bancos.

Os demais ou morrerão trabalhando ou envelhecerão na miséria. Essa escolha será tomada nos próximos meses. Ainda há tempo de interferir nela.

 

SENADORA FÃ DOS BOLSONARO TEM CONDENAÇÃO POR IMPROBIDADE

SENADORA FÃ DOS BOLSONARO TEM CONDENAÇÃO POR IMPROBIDADE

Carta Capital – André Barrocal – Michelle Bolsonaro foi ao Senado no fim de abril para um anúncio do governo de que o SUS vai distribuir de graça um remédio que trata uma doença muscular rara, degenerativa e incurável, a AME. Chance de ouro para Mailza Gomes. A novata senadora pelo PP do Acre aproveitou para falar com Michelle sobre sequelas pós-vacinação contra HPV, caso comum com meninas no Acre, e para tirar fotos com a primeira-dama.

Além de tiete de Michelle, a evangélica senadora é fã do esposo dela. Quatro dias antes, era só elogios ao ex-capitão em um site acriano de notícias. “O presidente Bolsonaro está no caminho certo, está cumprindo suas promessas de campanha. Ele é muito verdadeiro em suas palavras e ações, está colocando o Brasil nos trilhos com muita capacidade. Ele é a nossa esperança.”

Na eleição para o comando do Senado, Mailza votou em Davi Alcolumbre (DEM-AP), eleito como nome da “nova política”, aquela defendida por Bolsonaro. Era assim que o chefe da Casa Civil de Bolsonaro, Onix Lorenzoni, primeira autoridade visitada pela senadora este ano, em 3 de janeiro, tachava a disputa entre Alcolumbre e Renan Calheiros (MDB-AL): o “novo” contra o “velho”.

MAILZA COM ONIX LORENZONI (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Curioso: a senadora bolsonarista tem um currículo de “político velho”. É uma condenada no Judiciário por coisas feitas em um cargo público com verba pública. Um caso levado por Mailza há exato um ano ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e que até hoje não teve qualquer providência por parte do relator do caso na corte, o juiz Benedito Gonçalves.

Em 2008, o marido de Mailza, James Pereira da Silva, elegeu-se prefeito de Senador Guiomard, cidade de 22 mil habitantes no Acre. O casal era do PSDB. Ao assumir o cargo, em janeiro de 2009, James contratou sem licitação uma empresa, a MS Serviços, para limpar ruas e prédios. E fez isso com a ajuda Mailza, a quem tinha nomeado secretaria de Administração, nepotismo clássico.

As perguntas do Ministério Público

A MS recebeu 275 mil reais em janeiro e fevereiro. Em março de 2009, o Ministério Público estadual abriu uma investigação. Com base em quê a empresa tinha sido contratada, e sem licitação? Por que a Secretaria de Administração, Mailza à frente, havia indicado pessoas que a MS deveria empregar nos serviços à prefeitura? E empregar algumas em funções apontadas pela Secretaria que não tinham a ver com limpeza, como advogado e técnico em contabilidade?

Concluída a investigação inicial, o MP acusou James e Mailza de improbidade. Segundo a denúncia à Justiça, graças ao casal, houve gasto de verba pública sem autorização legal, liberação de grana sem obediência a certos procedimentos administrativos e enriquecimento ilícito. Enriquecimento ilícito, no caso, de pessoas pagas pela MS por indicação da prefeitura. Seriam pessoas que haviam trabalhado na campanha de James com a promessa de receber depois? Costuma ocorrer na política.

Durante o processo, a defesa de James e Mailza apresentou à Justiça um documento que seria a salvação do casal. Um decreto emergencial que declarou estado de calamidade na cidade, com data de 2 de janeiro de 2009 e a assinatura do prefeito. Em caso de emergência ou calamidade, um ente público pode contratar fornecedores sem licitação.

O decreto apareceu no processo em 28 de agosto de 2009. Não havia sido mostrado ao MP ao longo da apuração que antecedeu a denúncia da promotoria à Justiça. Jamais foi publicado no Diário Oficial municipal. E tinha a numeração 001-A, ou seja, figurava entre o 01 e o 02. Indícios de ter sido inventado às pressas, para socorrer os acusados.

Ainda que o decreto existisse em janeiro de 2009, diz o MP, a prefeitura deveria ter editado um outro ato a anunciar a dispensa de licitação para contratar fornecedores nos 180 dias seguintes. Uma exigência legal que ajuda a dar publicidade aos atos dos governantes para a sociedade e os órgãos de controle ficarem de olho.

O fato de a MS ter vencido um pregão realizado pela prefeitura em fevereiro de 2009 reforçou a suspeita do Ministério Público de que havia ilegalidades. Do pregão, nasceu um contrato de 1,7 milhão de reais do município com a empresa.

Casal condenado por improbidade administrativa

O juiz de primeira instância aceitou praticamente todas as acusações do MP e condenou o casal por improbidade administrativa. James foi sentenciado à perda da função pública, à perda dos direitos políticos por cinco anos, ao pagamento de multa e ao ressarcimento de danos ao erário. Mailza teve a mesma punição, só com um ano a menos de perda dos direitos políticos.

Os dois apelaram ao Tribunal de Justiça do Acre e não adiantou. Em novembro de 2016, foram condenados unanimemente por três juízes. Com uma diferença: o TJ não viu licitação dirigida no contrato de 1,7 milhão com a MS, daí ter reduzido parte da pena, aquela que suspendia os direitos políticos do casal. Ficaram três anos para James e dois para Mailza.

A dupla entrou com recursos no TJ, também não adiantou, e aí resolveu tentar absolvição na terceira instância, em Brasília. A ação deu entrada no STJ em 2 de maio de 2018. A única coisa nova que ocorreu no caso até hoje foi uma manifestação do Ministério Público Federal perante a corte, em setembro de 2018. E só.

Uma decisão do STJ ameaça o mandato de Mailza, que vence em 2022. A senadora foi diplomada no cargo em dezembro do ano passado. Era suplente de Gladson Cameli, mas ele se elegeu governador do Acre e renunciou à cadeira no Congresso.

Os dois têm uma relação próxima. Mailza é quem tem tentado abrir portas no governo federal para Cameli tentar obter dinheiro e boa vontade federal. Recentemente, ela procurou o presidente do BNDES, Joaquim Levy, para que ele ouvisse pleitos do governo do Acre.

Cameli não pode contar com o próprio taco para arranjar boa vontade federal. Sobretudo no Palácio do Planalto.

O governador é do PP, para o qual em 2015 arrastou Mailza, na época tucana. Bolsonaro era do partido e naquele ano começou a construir o sonho presidencial. Deixou o PP em 2015 mesmo pois a legenda não queria apostar na candidatura dele. Cameli chegou a defender que o então deputado fosse expulso, motivo de mágoa do ex-capitão desde então.

Outra mostra da proximidade entre Mailza e Cameli é o marido da senadora. James é funcionário da Casa Civil do governador. Foi nomeado diretor na pasta em janeiro, nove dias depois da posse do governador. Com um detalhe: passa mais tempo com a esposa em Brasília do que no Acre.

James é uma figuraça. Apesar do rolo da MS Serviços, reelegeu-se prefeito de Senador Guiomard pelo PSDB em 2012. Mas não durou um ano no segundo mandato. Em setembro de 2013, foi cassado em primeira e segunda instância sob a acusação de compra de votos.

E Mailza, terminará o mandato no Senado?

LAVA JATO AGIU CONTRA LULA PARA EVITAR VOLTA DO PT AO PODER 

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LAVA JATO AGIU CONTRA LULA PARA EVITAR VOLTA DO PT AO PODER 

Uol – Rio de Janeiro, 10 Jun 2019 (AFP) – Procuradores brasileiros agiram deliberadamente e, em alguns momentos, coordenadamente com o então juiz federal e atual ministro da Justiça Sergio Moro para prejudicar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso por corrupção, e impedir que a esquerda voltasse ao poder, segundo mensagens hackeadas reveladas neste domingo pelo The Intercept Brasil.

O portal afirma que este é “apenas o início” de uma série de revelações baseadas em informações entregues por uma “fonte anônima” que demonstrariam que os principais responsáveis pela Operação Lava Jato atuaram por motivação política em diversas ocasiões.

A mais recente aconteceu em outubro passado, quando os promotores atuaram para impedir que Lula, preso desde abril de 2018, fosse entrevistado por medo de que pudesse beneficiar seu afilhado político, Fernando Haddad, nas eleições presidenciais, vencidas finalmente por Jair Bolsonaro.

Outras mensagens mostram que o principal procurador da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, estava preocupado com a solidez das acusações apresentadas contra Lula para condená-lo como beneficiário do tríplex no Guarujá, que lhe teria sido entregue pela empreiteira OAS em troca de contratos com a Petrobras.

Dallagnol, que considera Lula o “cérebro” de uma organização criminosa para se manter no poder, mostra depois satisfação com a publicação de artigos na imprensa que mencionavam um possível vínculo do ex-presidente com o apartamento, situado no litoral de São Paulo.

Lula, que cumpre por este caso pena de 8 anos e 10 meses de prisão, sempre se declarou inocente e denunciou uma “perseguição judicial” para impedir a volta de seu partido, o PT, ao poder.

A força-tarefa da Lava Jato no Ministério Público Federal (MPF) admitiu em um comunicado que seus integrantes foram vitimas da ação criminosa de um hacker, mas informou ter tranquilidade com relação à legalidade e à forma imparcial de suas investigações.

A publicação das mensagens hackeadas é “tendenciosa e tem a intenção de atacar a Operação, mas os “procuradores da Lava Jato não vão se dobrar à invasão imoral e ilegal, à extorsão ou à tentativa de expor e deturpar suas vidas pessoais e profissionais”, acrescentaram.

O ministro Sergio Moro considerou, por sua vez, que nas mensagens que o citam “não se vislumbra qualquer anormalidade ou direcionamento da atuação enquanto magistrado, apesar de terem sido retiradas de contexto e do sensacionalismo das matérias”.

Fernando Haddad exigiu uma investigação profunda sobre as revelações.

“Podemos estar diante do maior escândalo institucional da história da República. Muitos seriam presos, processos teriam que ser anulados e uma grande farsa seria revelada ao mundo”, escreveu no Twitter o candidato derrotado no segundo turno de 2018 por Bolsonaro.

A Operação Lava Jato, iniciada em 2014, condenou ou levou ao banco dos réus centenas de políticos e empresários envolvidos em uma rede de corrupção concentrada na Petrobras.

A operação aumentou o desprestígio do sistema político, abrindo um espaço ocupado por Bolsonaro com um discurso antissistema.
Após a vitória eleitoral, Bolsonaro designou Moro como ministro da Justiça e Segurança Pública.

O The Intercept anunciou que estas revelações são “o primeiro resultado de uma grande investigação em andamento” sobre as provas da operação Lava Jato e sobre os atos de Moro quando era juiz federal e sobre o procurador Dallagnol.

O portal tem entre seus fundadores o jornalista Glenn Greenwald, que em 2013 revelou os vazamentos obtidos pelo analista Edward Snowden sobre os programas de vigilância maciça implementados pelos serviços secretos americanos da NSA.

IMAGEM DA PAULISTA REPLETA DE MANIFESTANTES NÃO É DE ATO GOVERNISTA DO DIA 30

AOS FATOS – Não foi registrada nos protestos pró-governo no último domingo (30) a imagem que circula nas redes sociais da avenida Paulista repleta de manifestantes em toda a sua extensão (veja aqui). A foto é, na verdade, de uma manifestação de março de 2016.

Não foi registrada nos protestos pró-governo no último domingo (30) a imagem que circula nas redes sociais da avenida Paulista repleta de manifestantes em toda a sua extensão (veja aqui). A foto é, na verdade, de uma manifestação de março de 2016 que pedia o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).

Denunciadas por usuários do Facebook, as publicações que distorcem o contexto da foto com informações enganosas já acumulam cerca de 1.000 compartilhamentos até a tarde desta segunda-feira (1º). Todas foram marcadas por Aos Fatos com o selo FALSO na ferramenta de verificação da rede social (entenda como funciona).


FALSO

A foto que circula nas redes sociais que mostra a avenida Paulista totalmente ocupada por manifestantes não foi registrada durante os protestos pró-governo do último domingo (30). A imagem, que na verdade é de uma manifestação em março de 2016 pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), tem sido publicada no Facebook para sugerir uma ampla adesão ao ato pró-governo que ocorreu no mesmo local no domingo.

A mesma foto também já apareceu nas redes sociais como se fosse de uma manifestação a favor de Bolsonaro no dia 21 de outubro de 2018. Na época, Aos Fatos verificou que ela surgiu em uma publicação do site Sensacionalista de 13 de março de 2016, mas não foi possível identificar a autoria da imagem.

Os protestos do último domingo (30) aconteceram em ao menos 70 cidades de todo o Brasil. O UOL reuniu em galeria diversas fotos dos eventos.

Referências:

1. Aos Fatos
2. Folha de S.Paulo
3. UOL

AÉCIO NEVES DEVE SER EXPULSO DO PSDB SE NÃO PEDIR PARA SAIR

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AÉCIO NEVES DEVE SER EXPULSO DO PSDB SE NÃO PEDIR PARA SAIR

Revista Fórum – Deputado federal se tornou réu, mais uma vez, por pedir e receber propina de R$2 milhões da JBS; nova direção do PSDB, comandada pelo grupo de João Doria, quer expulsar tucanos corruptos

O PSDB, que acaba de eleger sua nova direção, deve dar um ultimato ao deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) nas próximas semanas: ou pede licença ou será expulso do partido. As informações são da coluna de Lauro Jardim, no jornal O Globo, deste domingo (7).

Na última sexta-feira (5),  Aécio se tornou réu em seu 9º processo: desta vez por corrupção e obstrução de Justiça no âmbito da operação Lava Jato. O tucano é acusado de pedir e receber propina de Joesley Batista, dono da JBS. Ao acertar o pagamento, o então senador chegou a dizer que os recursos teriam que ser recebidos por “alguém que a gente mata antes de fazer a delação”.

As intenções do PSDB de expulsar Aécio Neves, que acaba de sofrer mais um revés ao se tornar réu na Lava Jato, se fortaleceram com a eleição do grupo do governador de São Paulo, João Doria, para o comando do partido.

Conforme noticiado pela Fórum, Doria conseguiu emplacar Bruno Araújo (PE) na presidência da legenda, derrotando os grupos de outros caciques como os de Geraldo Alckmin e do próprio Aécio. A ala ligada ao governador paulista, que hoje tem mais poder dentro da sigla, defende um novo código interno que pune com expulsão a infidelidade partidária, integrantes condenados criminalmente e dirigentes que constrangerem correligionários em posição inferior.

MORO BARBARIZA A LÍNGUA COM A LIGEIREZA COM QUE AGRIDE O ESTADO DE DIREITO

MORO BARBARIZA A LÍNGUA COM A LIGEIREZA COM QUE AGRIDE O ESTADO DE DIREITO

Reinaldo Azevedo – E, bem, Moro evidencia ser um bárbaro da língua e da lei.

Eu já havia apontado há muito tempo sua gramática torta. Porque, desde logo, cultivei o hábito masoquista de ler o que ele escreve — incluindo a sentença que condenou Lula. Mas Moro se encarregou de nacionalizar o trato que dispensa à Inculta & Bela quando largou aqueles “conges”… No mesmo dia, mandou bala num “haviam” e lascou um “podem vim”. No programa do Bial, empregou “rugas” em lugar de “rusgas”. Na sua mais recente passagem pela Câmara, disse que a Lava Jato está “sobre ataque”, em vez de “sob”. No Senado, deixou escapar um “menas”, mas se corrigiu a tempo.

Agora, na mensagem trocada com Dallagnol em que se refere a Faustão, diz que o apresentador está na televisão “a 28 anos”, assim mesmo, sem o “h” que indica que a palavra é verbo e designa tempo decorrido. Não só.

Na hora do subjuntivo, massacrou de novo a língua. Diz a Dallagnol: “Agradeço se me manter informado” — em vez de “mantiver”. Descuido? Não! É falta de preparo mesmo.
Moro é uma espécie de cavalo de parada que se fingiu de cavalo de corrida.

Tem porte, mas não tem fôlego jurídico.

Sergio Moro, o espancador da língua portuguesa, ataca mais uma vez. Ou mais duas. Sim, seu desempenho nesse quesito impressiona.

Vamos ser claros? Gramática não é categoria moral. É possível pregar as maiores atrocidades respeitando-se todos os relevos da língua de Camões. E o erro pode esconder, ou até revelar, poesia pura.

O ex-juiz e agora ministro tem, no entanto, a fama de um homem preparado. Em direito, tal condição supõe leitura, dedicação, estudo, cultivo intelectual etc.

E, bem, Moro evidencia ser um bárbaro da língua e da lei.
Eu já havia apontado há muito tempo sua gramática torta. Porque, desde logo, cultivei o hábito masoquista de ler o que ele escreve — incluindo a sentença que condenou Lula. Mas Moro se encarregou de nacionalizar o trato que dispensa à Inculta & Bela quando largou aqueles “conges”…

No mesmo dia, mandou bala num “haviam” e lascou um “podem vim”. No programa do Bial, empregou “rugas” em lugar de “rusgas”. Na sua mais recente passagem pela Câmara, disse que a Lava Jato está “sobre ataque”, em vez de “sob”. No Senado, deixou escapar um “menas”, mas se corrigiu a tempo.

Agora, na mensagem trocada com Dallagnol em que se refere a Faustão, diz que o apresentador está na televisão “a 28 anos”, assim mesmo, sem o “h” que indica que a palavra é verbo e designa tempo decorrido.

Não só. Na hora do subjuntivo, massacrou de novo a língua. Diz a Dallagnol: “Agradeço se me manter informado” — em vez de “mantiver”.

Descuido?

Não!

É falta de preparo mesmo.

Moro é uma espécie de cavalo de parada que se fingiu de cavalo de corrida.

Tem porte, mas não tem fôlego jurídico.

O trato com a língua é apenas um dos canais por onde vaza o despreparo, já conhecido e reconhecido por muitos de seus pares.

Faria mal à língua fosse a dita-cuja sua matéria de trabalho. Também ela padece. Mas o agora ministro é eficaz mesmo é na agressão ao estado de direito.