‘PARA VIVER, DEPENDO DE REMÉDIOS DO SUS QUE BOLSONARO CORTOU’

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‘PARA VIVER, DEPENDO DE REMÉDIOS DO SUS QUE BOLSONARO CORTOU’

Renata Vilela – The Intercept – SOU TRANSPLANTADA. PONTO. Isso não me define, mas é uma condição importante da minha existência. Desde 17 de julho de 2008, uma nova rotina acompanha minha vida. Engolir pelo menos três tipos de medicamentos duas vezes ao dia, tirar sangue e ir ao médico todos os dias, depois dia sim dia não, depois dois dias não e um sim, até chegar a três meses não e um dia sim.

A nova rotina também inclui buscar medicamentos em uma farmácia de alto custo uma vez por mês. É basicamente sobre isso que este texto fala: ser dependente de algo que é seu direito. Porém, um direito que está sob ataque do novo governo.

Fui diagnosticada com doença renal terminal aos 19 anos, em 2005. Morava em São Carlos, interior de São Paulo, onde fazia faculdade. Estudava de manhã e à tarde e no final de semana trabalhava como garçonete num restaurante. Me sentia extremamente cansada e atribuía isso à rotina cheia de atividades.

Percebi que algo ia mal nas férias no final de 2004 quando fui para a casa da minha mãe em Minas Gerais e a assustei com minha magreza e palidez. Acabei indo a um ginecologista para exames de rotina. Ele elencou uma série de sintomas, aos quais respondi sim várias vezes, e pediu um hemograma simples. Pronto. Estava fechado o diagnóstico, uma anemia.

Litros de feijão, quilos de beterraba e um suplemento alimentar depois, voltei a São Carlos. Porém, o cansaço e os sintomas como um enjoo constante não cediam. Resolvi por conta própria ver o que estava acontecendo e marquei um médico. Contei os sintomas, o diagnóstico e tratamento anterior e saí com uma uma lista um pouco maior de exames de sangue para fazer.

Bem no meio da semana o laboratório me chamou para refazê-los. Em uma sexta-feira, antes de ir trabalhar, peguei os resultados. Bomba! Os marcadores ligados à função renal, ureia e creatinina estavam muito alterados. Sabia um pouco sobre eles, pois meu pai foi portador de doença renal crônica e também foi transplantado.

Com o resultado em mãos, corri para a clínica de diálise mais próxima e pedi um encaixe. Sinceramente não sei nem dizer se utilizei meu convênio médico ou não, estava tão nervosa que só me lembro do dó dos outros pacientes que permitiram que eu fosse atendida antes. A cara da médica foi a pior possível e, sem me dar grandes explicações, falou para eu ir naquele dia para São Paulo, de preferência para um hospital de referência. Meu plano de saúde era médio. Não havia hospitais de referência que o aceitassem. Foi a primeira vez na vida que recorri ao SUS, tirando as vacinas e os serviços invisíveis que o sistema presta a toda a população.

Depois disso, foram três anos e meio de diálise. Seis meses fazendo diálise peritoneal manual, pois havia fila de espera pela cicladora, uma máquina capaz de trabalhar enquanto eu dormiria, o que melhoraria a minha qualidade de vida. Depois, foram três anos utilizando essa máquina e todos os insumos fornecidos pelo SUS. Consultas e exames pelo SUS também. Consegui me locomover por São Paulo gratuitamente graças ao bilhete único para deficientes que me foi fornecido pela prefeitura.

Tive um atendimento excelente, com profissionais de medicina e enfermagem nos quais eu confiava. Tive acesso a uma assistente social que fez todos os processos necessários para que, além dos insumos para a diálise, eu tivesse acesso à eritropoetina humana, ao sulfato ferroso, enfim, a todos os medicamentos e exames que eu precisasse, além dos trâmites legais para o benefício do passe livre que consegui na prefeitura.

Durante todo o tratamento, tive certeza de que o que me mantinha viva eram os impostos pagos por toda a sociedade. Não senti que eu devia nada a ninguém, mas sim à ideia e à construção de um sistema de saúde público e universal.

O SUS nasceu como ideia em 1986, norteou área de saúde na criação da Constituição de 1988 e foi implementado em 1990. Mesmo com seus limites, amplamente divulgados, foi o sistema em que encontrei um tratamento caríssimo e de excelente qualidade que eu jamais poderia pagar. Aliás, pouquíssimos brasileiros e brasileiras poderiam.

Em 2017, o SUS respondia pelo financiamento de 90% das terapias renais substitutivas, que compreendem diálises, transplantes e a manutenção desses procedimentos.

Existe um grande aumento da doença renal crônica em todo mundo. Diabetes, hipertensão arterial e outras doenças que poderiam ser perfeitamente controláveis caso as pessoas tivessem a atenção básica adequada. Segundo um artigo de 2017, mais de 5% das despesas do SUS com atenção à saúde de média e alta complexidade são dedicados somente à insuficiência renal crônica.

Meu transplante, cuja doadora foi minha madrinha de batismo, Andréa Reusing, foi um sucesso. Mesmo assim, ainda hoje preciso tomar uma dosagem maior de remédios do que os transplantados que conheço. Geralmente é o caso de quem tem um doador não relacionado, ou seja, que não é parente até 3º grau.

Durante todo o percurso que fiz como paciente, e haja paciência, eu tive certeza de dois apoios: minha mãe e o SUS. É brega dizer, mas me sinto orgulhosa de viver em um país cuja Constituição é baseada na solidariedade e na universalidade quando se tratam de direitos básicos como educação e saúde. Obviamente a realidade concreta é muito diferente; porém, os princípios estavam dados. Mãe dispensa explicações.

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Imagem da lotação da farmácia de alto custo da Avenida Dr. Altino Arantes, em São Paulo, em maio de 2015. A espera chegava facilmente a 3h. Pessoas transplantadas com baixíssima imunidade dividiam o espaço com pessoas com doenças infecciosas.Fotos: Arquivo pessoal / Renata Vilela

“Estavam”, porque existe um plano de desmonte do SUS. Com a PEC do Teto de Gastos aprovada em dezembro de 2016, já era previsível que o investimento em saúde não daria conta dos gastos do setor, principalmente porque eles aumentam. Isso é previsível e deve ser considerado no orçamento da pasta.

Em 2017, o deputado do democratas do Mato Grosso do Sul Luiz Henrique Mandetta, o atual ministro da Saúde, e Silas Freire, do Podemos do Piauí, convocaram uma audiência pública para debater o preço da hemodiálise e a reutilização de equipamentos que são feitos para o descarte após o uso. As duas medidas são apenas exemplos dos planos de sucateamento do SUS e a insegurança a que nós, usuários do sistema, estamos expostos.

Atualmente, estou com medo de não ter à disposição os medicamentos de alto custo que tomo para evitar rejeição do órgão transplantado, os imunossupressores. O governo Bolsonaro descredenciou seis laboratórios que fornecem medicamentos para o SUS, dentre eles dois que produzem medicamentos dos quais dependo.

Foram suspensos os projetos de Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs) de medicamentos. São laboratórios públicos, que produzem os remédios e os vendem com desconto ao SUS, que os repassa gratuitamente para pacientes com doenças crônicas como diabetes, câncer e transplantados.

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Foto do dia 14 de outubro de 2016, quando, pela primeira vez, o medicamento Tacrolimus 1 mg não estava disponível e nem havia previsão de entrega. Todos estavam desesperados, pois já havia ocorrido atrasos, mas jamais sem data prevista de entrega. A imprensa repercutiu o caso na ocasião. Foto: Arquivo pessoal / Renata Vilela

Os laboratórios descredenciados são: Biomanguinhos, Butantã, Bahiafarma, Tecpar, Farmanguinhos e Furp. O laboratório da Furp produz dois dos medicamentos de alto custo dos quais preciso, o tacrolimus e azatioprina. São exatamente esses os dois medicamentos alto custo que utilizo, os demais compro normalmente em farmácias privadas.

Esses medicamentos não são vendidos em farmácias comuns e, quando são, tem um altíssimo preço. Calculo que, em média, gastaria mais de R$ 1 mil por mês para comprá-los, caso estivessem disponíveis no Brasil. No exterior, com os preços em dólares ou euros, seria ainda mais caro, e nem tenho ideia de como proceder a importação.

Existe um sentimento intrínseco a quem tem uma doença crônica grave: a falta de capacidade de planejar o futuro no longo prazo. Tivemos nossas vidas interrompidas ao menos uma vez. Deixamos em suspenso nossos sonhos, trabalhos, estudos e outras áreas importantes.

A necropolítica levada a cabo atualmente pelo governo Bolsonaro materializa esse medo quando nos nega o direito à saúde pública e coloca um preço na nossa existência.

O fiscalismo vai sufocar o SUS pouco a pouco, e quem depende dele também.

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LIBERAÇÃO DE RECURSOS DO FGTS NÃO DEVE ACELERAR A ECONOMIA. RITA SERRANO EXPLICA

Nesta semana o ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou que o governo deve liberar até 35% dos recursos de contas ativas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para saque.

Para Rita Serrano, medida não aquece economia e cria outro problema

A ação foi anunciada em Santa Fé, na Argentina, em visita oficial acompanhando o presidente da República Jair Bolsonaro. Segundo Guedes, a medida deve aquecer a economia que, apesar das promessas de campanha, tem apresentado resultados pífios.

O ministro afirma que essa é uma medida boa para o trabalhador, ainda mais em um momento de crise como o que vivemos. Mas não é bem assim. Rita Serrano, conselheira eleita do Conselho de Administração da Caixa, explica que liberar os recursos de contas ativas do FGTS não resolve a crise e ainda cria outro problema a esvaziar o fundo.

“Nós estamos com 14 milhões de desempregados. É importante também saber que mais de 60% das famílias estão endividadas e boa parte dessas dívidas é com os bancos. O objetivo do governo, portanto, é fazer com que as pessoas peguem esse dinheiro e usem pra pagar suas dívidas, favorecendo o sistema financeiro. Tem uma consequência indireta nisso: o fundo de garantia do trabalhador deve ser usado para o trabalhador, um seguro em caso de desemprego ou necessidade”, afirma a conselheira.

Rita também relembra que o FGTS é o maior caso de fundo público e investimento privado do Brasil. “Ele é usado pra financiar habitação, saneamento e uma série de outras coisas. Portanto, esvaziar o fundo de garantia faz com que os investimentos que seriam feitos nessas áreas e gerariam empregos não sejam feitos […] esvazia o fundo, não resolve, e cria falsa ilusão de que melhorou quando o desemprego não para de crescer e a economia do país está parada”, declarou.

60 milhões de brasileiros estão endividados

Dados da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) divulgados em abril mostraram que, no mês, 62.6 milhões de brasileiros estavam inadimplentes – número que representa mais de 40% da população adulta do País. A maior parte é composta por dívidas com bancos (52%).

 

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PARA OPOSIÇÃO, LIBERAR FGTS É FALTA DE PLANO PARA ECONOMIA

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PARA OPOSIÇÃO, LIBERAR FGTS É FALTA DE PLANO PARA ECONOMIA

Congresso em Foco – Por Samanta Do Carmo – Para os partidos da oposição e mais alinhados com a defesa dos direitos dos trabalhadores, a intenção do governo Bolsonaro de repetir a medida adotada por Michel Temer em 2017  e liberar para saque recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, o FGTS, é uma demonstração da falta de programa de desenvolvimento econômico para o país.

> Governo adia anúncio do saque do FGTS para próxima semana

“É uma peça mais de propaganda do que uma medida econômica para valer, para ser anunciada nos 200 dias do governo Bolsonaro e não resolve o problema do desemprego ou da alavancagem da economia”, avalia Ivan Valente, líder do PSol na Câmara.

O deputado comenta que a medida deve atrair as pessoas e assim servir para afastar as atenções para o fato de que a reforma da previdência não irá mudar a vida dos trabalhadores nem em curto e nem em médio prazo.

“Os recursos fazem parte de um programa de investimento, mas como isso é uma coisa que fica ofuscada neste momento, ou seja, não há plano de gerar empregos no Brasil em médio prazo, teoricamente seria mais benéfico resguardar o dinheiro para investimento, que gera emprego e atende à moradia minimamente digna”, menciona o parlamentar.

Desde maio, o ministro da Economia, Paulo Guedes, já havia declarado que estudava uma nova liberação dos recursos de contas ativas do FGTS para saque como forma de injetar recursos e movimentar a economia depois que a reforma da previdência fosse aprovada. O tema voltou à tona nesta semana e a expectativa é que o Palácio do Planalto anuncie o pacote na quinta-feira (18), em comemoração aos 200 dias do governo Jair Bolsonaro. Mas a proposta não está totalmente formatada, o que poderá gerar um atraso.

Os deputados também concordam que a medida divide opiniões, pois pode aliviar em curto prazo a situação de endividamento da população.

“Tem um aspecto positivo que é a liberação de recursos que podem estimular o consumo, mas o aspecto preocupante é a redução dos recursos disponíveis para setores da habitação e saneamento, que têm carências enormes no Brasil e são geradores de emprego; eu vejo com preocupação essa ação permanente de esvaziar recursos do FGTS, são medidas que apenas colocam curativo na ferida, não curam a doença da falta de desenvolvimento e de geração de empregos”, argumenta o deputado Daniel Almeida, líder do PCdoB na Câmara.

Vice-líder do PT, o deputado e economista Enio Verre afirma que nas contas de especialistas e professores da área com quem tem conversado, considerando as regras de liberação parcial do dinheiro de acordo com faixa renda, que já foram comentadas pelo governo, o volume a ser colocado em circulação deve ficar em torno de R$ 35 bi.

“É uma proposta que divide, numa visão de curto prazo, por falta de política econômica ou qualquer iniciativa que gere emprego e renda, isso ajuda o brasileiro que está com contas atrasadas e não consegue pagar o aluguel, mas numa visão correta de economia é uma grande equívoco, porque retira dinheiro da construção civil, de projetos como o Minha Casa Minha Vida, que tem efeito multiplicador na economia muito grande, gera emprego, compra de cimento, de cano, de ferro, ou seja, vários setores que poderiam gerar renda, isso é muito ruim para o Brasil”, comenta o Enio Verre.

‘BOLSONARO É MINHA MAIOR DECEPÇÃO’, CRITICA A METRALHADORA FROTA

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'BOLSONARO É MINHA MAIOR DECEPÇÃO', CRITICA A METRALHADORA FROTA

Frota: nojo dos “aluninhos amestrados do Jim Jones da Virginia” Foto: Edilson Dantas/Agência O Globo.

O Globo – Seis meses depois de assumir um gabinete na Câmara, Alexandre Frota está desiludido. O deputado do PSL, partido de Jair Bolsonaro, afirmou que sente “nojo” do bolsonarismo “xiita”, disse não ver qualquer articulação política do governo e defende João Doria no Palácio do Planalto em 2023: “Doria-ACM vai ser uma grande chapa presidencial”.

Em entrevista à coluna, Frota contou como foram seus dias como “bombeiro” entre os temperamentais Rodrigo Maia e Paulo Guedes, durante a reforma da Previdência, e interrompeu a conversa para mostrar um áudio enviado naquele momento por Guedes revelando que uma sugestão de Frota mudou a propaganda da reforma.

Leia a entrevista:

Há três meses, o senhor dizia que precisava de provas do rombo da Previdência antes de apoiar a reforma. Na semana passada o senhor estava distribuindo bandeirinhas no plenário a favor da proposta. O que mudou?

O que mudou é que, depois de tantas conversas com o Paulo Guedes e palestras com a equipe econômica, passei a apoiar a Previdência. Sobre as bandeirinhas, foi uma estratégia de marketing, já que a esquerda tinha camisas e faixas vermelhas. Pedi para um assessor comprar as bandeiras na 25 de Março. A esquerda ficou boquiaberta. Foi um show.

O centrão é mocinho ou vilão?

Eu não uso “centrão”. Eu os chamo de moderados. Não são nem mocinhos nem vilões. São equilibrados e buscam um entendimento que faça com que as pautas andem em prol da sociedade.

O presidente da comissão especial da reforma da Previdência, Marcelo Ramos, disse que, se dependesse do governo, a reforma da Previdência teria andado muito pouco. O senhor concorda?

Ele tem total razão. A Câmara fez o que o governo deveria ter feito. Não existe uma base montada pelo governo. Essa base foi montada pelos moderados, por nós que trabalhamos incansavelmente. O governo maltratou a Câmara.

Como é a articulação política do governo Bolsonaro?

A articulação com a Câmara não existe. Merecíamos um tratamento diferenciado. O governo se empenha muito pouco.

Que pessoas mais te decepcionaram?

Eu aprendi muito cedo na Câmara que você não tem muito tempo para se decepcionar com as pessoas. Mas quem mais me decepcionou, com toda a certeza, foi o Bolsonaro.

Que conselho o senhor daria a Jair Bolsonaro?

Bolsonaro precisa olhar um pouco para trás, para as coisas que ele prometeu. Quero que ele termine o mandato e acerte. Mais do que tudo, o Brasil precisa andar. Não estou mais preocupado com o que o Bolsonaro vai fazer ou não. Só não quero que ele erre.

O senhor atribui a aprovação da reforma a Rodrigo Maia?

Não posso ser leviano e esquecer do Paulo Guedes. Mas com certeza o Rodrigo Maia construiu tudo isso com muita sabedoria e calma, passando por cima de muitas críticas.

Como o senhor construiu uma relação com Paulo Guedes?

A gente se falava todo dia cedo. Me senti um privilegiado de ter trabalhado tão perto dele, um profissional incrível. Ele disponibilizou um técnico para ficar comigo e viu que eu estava ali para ajudar. Estudei, fui firmeza.

O senhor mediou negociações entre Maia e Guedes.

Foram momentos difíceis, por causa do temperamento das pessoas envolvidas. Muitas vezes reconstruímos o muro desmoronado. Me orgulho de ser amigo do Guedes e do Maia, ainda que eu tenha apagado muitos incêndios. Foi estilo bombeiro. (Neste momento, Frota mostra um áudio de Paulo Guedes, gravado para ser mostrado na entrevista à coluna: “O Alexandre Frota tem sido muito construtivo no apoio às reformas. Por sugestão dele, nós mudamos toda a comunicação do regime de capitalização para ‘poupança garantida’. Ele tem ajudado muito”.)

A reforma da Previdência aprovada pela Câmara foi “meia boca”, como atacaram muitos bolsonaristas?

Não concordo. A reforma atingiu números excelentes, como disse o Guedes. Bolsonaro afirmou que errou na reforma dos policiais e pediu que o Congresso consertasse, jogou em nossas costas. Os bolsonaristas radicais precisam ganhar uma eleição antes de criticar.

O senhor é alvo dos olavistas.

Recebo muitos ataques dos olavetes. Falar a verdade na cara deles incomoda. Até hoje eles só tinham ouvido eu esculachando o PT. Agora, quando encaro os aluninhos amestrados do Jim Jones da Virginia, ficam magoadinhos. Allan do Santos, Bernardo Küster, Cláudia Wild, nenhum ali vale nada. Não dependo dos olavetes para porra nenhuma. Não me deram um voto. Os bolsonaristas que não gostam de mim são xiitas. Me dão nojo. Atrás do computador é fácil. São iguais os petistas: fazem barulho, mas são cagões.

Eduardo Bolsonaro é o nome certo para ser embaixador do Brasil nos EUA?

Eu espero que ele vá para os Estados Unidos, que acerte e seja feliz. Que ele leve a Letícia “cartel” (Letícia Catelani, ex-diretora da Apex) , o Filipe Martins (assessor internacional da Presidência) e toda aquela corriola que anda com ele. Lamento muito por aqueles que estudaram anos e anos para a missão diplomática.

Fritar hambúrguer é currículo para embaixador?

Não, não é? E ele fritou hambúrguer numa lanchonete que não tem hambúrguer . Mas desse governo a gente pode esperar tudo.

A decisão de Dias Toffoli, de suspender investigações a pedido de Flávio Bolsonaro, foi para salvar o filho do presidente?

Achei a decisão do Toffoli tendenciosa. Nos últimos cinco anos, assisti à extrema-direita crucificando o Toffoli na maioria de suas decisões, pedindo sua cabeça. Agora estão em silêncio.

Onde está Queiroz?

É uma boa pergunta. Eu não faço ideia. Se alguém souber…

Flávio Bolsonaro ainda deve explicações?

Não sou eu que tenho de avaliar isso. Ele sabe da vida dele.

Marcelo Álvaro é investigado, mas segue ministro. Não é uma contradição ao governo que se elegeu prometendo não tolerar a corrupção?

É uma contradição. Por muito menos, outras pessoas saíram dos ministérios.

O que acha de Jair Bolsonaro?

Eu conheço dois Bolsonaros. O meu amigo, até o dia da eleição, e outro, presidente. Prefiro não falar mais.

E os filhos do presidente?

São problema do Bolsonaro.

Hamilton Mourão?

Gosto muito dele, mas desapareceu da frente de batalha.

Olavo de Carvalho?

Não tenho nenhum respeito por ele, não vale absolutamente nada. Tem feito muito mal ao governo.

Onyx Lorenzoni?

Poderia ter agido melhor. Não sei o que aconteceu com o Onyx, mas estou reconstruindo minha amizade com ele.

Ernesto Araújo?

Péssimo, tendencioso, ideológico, dissimulado. Um erro.

O PSL já se acertou? Há brigas internas o tempo todo.

O PSL está se acertando. São muitas cabeças diferentes num mesmo local. Mas me orgulho de fazer parte do PSL.

Joice Hasselmann e Carla Zambelli, suas colegas de partido e estado na Câmara, já fizeram as pazes?

Não, e nem farão. Zambelli é complicada da cabeça, bipolar, difícil de lidar. Cada hora está de um jeito. Não me meto na briga das duas, e ninguém se mete nas minhas.

Joice Hasselmann é uma boa líder do governo no Congresso?

Eu gosto muito do trabalho dela. Ela é criticada porque faz os acordos dela com o governo e depois quer passar para os deputados, e muitos não aceitam. É uma mulher

determinada e poderia ser a prefeita de São Paulo pelo PSL.

Major Vitor Hugo é um bom líder do governo na Câmara?

No início foi difícil, nos desentendemos algumas vezes, mas fomos ficando amigos. Na Previdência, atuamos lado a lado. Está de parabéns.

A Justiça já pediu que seu salário de deputado fosse bloqueado, por causa de dívidas. Como lida com isso?

Eu tenho muitos processos, não é? Isso é normal. A gente precisa se defender.

O senhor ainda é visto como ex-ator pornô?

Não. Sou visto como um dos deputados que mais trabalham, que foi convidado para outros grandes partidos, como DEM e PSDB.

Como foram os convites?

O Rodrigo Maia me chamou para o DEM, e o João Doria para o PSDB. O DEM é o partido mais forte dentro da Câmara, dominou Casa Civil, Senado, Câmara e ministérios. Se fizerem a chapa Doria-ACM, vai ser uma grande chapa presidencial.

O senhor vai mudar de partido?

O PSL desde o início foi preterido pelo próprio governo e atravessa uma fase de divisão total. Fiquei feliz em saber que tenho portas abertas em outros partidos. Mas tenho gratidão a meus colegas do PSL.

Como vai a Cultura no governo Bolsonaro?

Não falo mais sobre Cultura. Tentei ajudar, me prometeram uma série de coisas que não aconteceram. Virei a página.

BOLSONARO EVOCA LULA PARA JUSTIFICAR FILHO NOS EUA

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BOLSONARO EVOCA LULA PARA JUSTIFICAR FILHO NOS EUA

Blog do Josias – Jair Bolsonaro fez uma opção preferencial pela polêmica. Costuma desfazer uma controvérsia criando outra. De preferência maior. Dias atrás, tumultuava a votação da reforma da Previdência na Câmara como sindicalista da corporação policial. Agora, envenena o ambiente do Senado, para onde seguirá a proposta previdenciária, com a ideia de converter o filho Eduardo em embaixador. Escasseando-lhe os argumentos, escorou-se em Lula: “O Tilden Santiago (ex-deputado do PT) não foi reeleito em 2002. Foi ser embaixador em Cuba (durante o primeiro mandato de Lula). Ninguém falou nada.”

Já se sabia que o desejo de enviar o Zero Três para Washington era grande. Ao comparar o filho com o escolhido de Lula, Bolsonaro revela que sua vontade é mesmo ardente e irrefreável. A obsessão faz com que o capitão esqueça que seus 57 milhões de eleitores o enviaram ao Planalto para fazer o oposto do que fez Lula. A opção por Tilden Santiago foi tão precária e inadequada quanto a preferência por Eduardo Bolsonaro. Com duas diferenças: o ex-deputado petista não é filho de Lula. E Havana não é Washington.

Em conversa com os repórteres, Bolsonaro lançou na atmosfera um lote de interrogações. Alguém precisa responder. Vai abaixo uma tentativa:

1) “Por que essa pressão em cima de um filho meu?” Simples: porque o pai não se dá ao respeito.

2) “Ele é competente ou não é competente?” Mais simples ainda: Não, o deputado Eduardo Bolsonaro não exibe as credenciais para representar o Brasil no mais importante posto diplomático no exterior.

3) “Tem algum impedimento?” Há inúmeros impedimentos. Dois deles são aberrantes: a) O nepotismo; b) A conversão do Brasil numa autocracia bananeira.

4) “Qual o grande papel do embaixador?” Ora, se o presidente da República desconhece as atribuições de um embaixador, o que parecia algo contornável torna-se uma dificuldade crítica, capaz de influenciar o rumo de um governo.

TACLA DURAN QUESTIONA MORO: “DIGA QUEM É O ADVOGADO QUE REPRESENTOU DELATORES DA CAMARGO CORREA”

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TACLA DURAN QUESTIONA MORO:

rasil247 – Tacla Durán, que foi advogado da Odebrecht e acusa advogados ligados a Moro de pedirem dinheiro em troca de benefícios na Lava Jato, questionou Moro sobre os novos trechos das mensagens reveladaas pela Vaza Jato nesta quinta (18); Durán indagou a Moro para que ele “diga quem é o advogado que representou esses delatores da Camargo Correa”.

BEx-advogado da Odebrecht Rodrigo Tacla Durán, voltou a cutucar o ministro da Justiça, Sergio Moro, sobre o esquema que ele denunciou sobre o favorecimento de advogado amigo do ex-juiz da Lava Jato nas delações premiadas.

Em um post em sua página nas redes sociais, Tacla Durán questionou: “‘Russo’ [apelido de Moro ente os procuradores] já que você acaba de admitir o ilícito de que estabeleceu condições PRÉVIAS p/ homologar esse acordo em conluio com @deltanmd, diga quem é o advogado que representou esses delatores da Camargo Correa”.

Ele se refere a novos trechos revelados da Vaza Jato revelados em reportagem da Folha de S. Paulo, que mostram que em mensagens privadas trocadas por procuradores da Operação Lava Jato em 2015, o então juiz federal Sergio Moro interferiu nas negociações das delações de dois executivos da construtora Camargo Corrêa cruzando limites impostos pela legislação para manter juízes afastados de conversas com colaboradores.

Durán, que foi advogado da Odebrecht, acusa advogados ligados a Moro de pedirem dinheiro em troca de benefícios na Operação Lava Jato. Documentos bancários encaminhados ao Ministério Público da Suíça, comprovam que no dia 14 de julho de 2016, Tacla Duran realizou um pagamento de US$ 612 mil – feito por meio de um banco em Genebra – para a conta do  advogado Marlus Arn, em uma conta do Banco Paulista.

Tacla Duram já havia revelado que havia sido vítima de uma extorsão de US$ 5 milhões.  Na ocasião, ele afirmou que pagou “para não ser preso” e para que seu nome não fosse envolvido nas delações premiadas de outros investigados pela Lava Jato (leia no Brasil 247).

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MORO INTERFERIU NA INVESTIGAÇÃO DO GRAMPO ILEGAL EM CELA DA PRISÃO

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MORO INTERFERIU NA INVESTIGAÇÃO DO GRAMPO ILEGAL EM CELA DA PRISÃO

Por marcelo auler, em seu blog – não foi apenas junto ao ministério público federal que o então juiz sérgio moro, quando magistrado à frente da 13ª vara federal de curitiba, interferiu apresentando provas, sugerindo testemunhas e palpitando sobre investigações e peças de acusação, tal como mostraram diálogos revelados pelo the intercept – ‘não é muito tempo sem operação?’

Embora na função de julgar com imparcialidade os casos que lhe chegassem, moro também palpitou em investigações feitas internamente na superintendência do departamento de polícia federal do paraná (sr/dpf/pr). Ocorreu, pelo menos, na sindicância si-04/2014-sr/dpf/pr, instaurada para apurar o uso de um grampo ilegal na cela em que ficou preso o doleiro alberto youssef, dentro daquela superintendência.

Por Marcelo Auler, em seu blog – Não foi apenas junto ao Ministério Público Federal que o então juiz Sérgio Moro, quando magistrado à frente da 13ª Vara Federal de Curitiba, interferiu apresentando provas, sugerindo testemunhas e palpitando sobre investigações e peças de acusação, tal como mostraram diálogos revelados pelo The Intercept – ‘Não é muito tempo sem operação?’ .

Embora na função de julgar com imparcialidade os casos que lhe chegassem, Moro também palpitou em investigações feitas internamente na Superintendência do Departamento de Polícia Federal do Paraná (SR/DPF/PR). Ocorreu, pelo menos, na Sindicância SI-04/2014-SR/DPF/PR, instaurada para apurar o uso de um grampo ilegal na cela em que ficou preso o doleiro Alberto Youssef, dentro daquela superintendência.

A própria corregedora da SR/DPF/PR, delegada Rosicleya Baron de Albuquerque Barradas, encaminhou ao juiz a sindicância antes dela ter sido concluída. Atendeu um pedido do juiz, como revelou, em depoimento oficial, o delegado federal Maurício Moscardi Grilo, em fevereiro de 2017. Foi Moscardi quem presidiu aquela investigação interna que, segundo ficou provado posteriormente, tinha o intuito de abafar a utilização de uma escuta ambiental na cela, sem qualquer autorização legal.

A confirmação do grampo sem autorização judicial, logo no início da Operação Lava Janto – março de 2014 -, poderia (pode ainda?) contaminar todas as investigações que se seguiram, motivo da tentativa de abafar o caso.

Protesto do DPF Magno contra o arquivamento (foto do despacho editada)

Revelação Sigilosa – O depoimento de Moscardi é praticamente desconhecido. Encontra-se no Inquérito Policial 01/2017 – COAIN/COGER/DPF 01, instaurado em 2017 pela Coordenadoria de Assuntos Internos da Corregedoria Geral do DPF. Ele foi aberto a partir da conclusão de uma segunda sindicância – SI 04/2015 COGER/DPF -, realizada um ano depois da Sindicância presidida por Moscardi. Esta segunda investigação sobre o grampo ilegal foi presidida pelo delegado Alfredo Junqueira, da Corregedoria do DPF em Brasília.

O IPL 01/2017 deveria apurar possíveis responsabilidades criminais sobre o grampo. Mas acabou arquivado, a pedido dos procuradores da República da Força Tarefa da Lava Jato, em Curitiba, pelo juiz Nivaldo Brunoni, da 23 Vara Federal de Curitiba, onde ele tramitava tombado com o número 5003191-72.2017.4.04.7000/PR. O arquivamento contrariou a manifestação feita pelo delegado federal Marcio Magno de Carvalho Xavier, responsável pela investigação, que em 20 de julho de 2017, deixou claro que o seu trabalho ainda não estava concluído. No despacho consignou:

“Deste modo, como os procuradores atipicamente requereram o arquivamento do Inquérito Policial, antes mesmo da realização de diligências básicas e da confecção do relatório final, requer, que esse MM Juízo se digne a conceder a dilação de prazo para a conclusão deste Inquérito Policial“.

Ele, porém, não foi atendido. Rapidamente o inquérito foi arquivado e ninguém responsabilizado criminalmente pela ordem da colocação do grampo ilegal. Jamais, também, vieram a público o conteúdo das gravações captadas. Tudo foi jogado para debaixo do tapete.

O caso foi arquivado e mantido longe do acesso público. Com isso, a interferência de Moro na primeira sindicância, tal como admitiu Moscardi em depoimento prestado pelo delegado Magno, jamais tornou-se pública.
O relato do delegado pode ser conferido no vídeo abaixo.

260 horas de gravações – Na segunda sindicância em que a Corregedoria refez o trabalho de Moscardi, não apenas se confirmou que o grampo ilegal existiu como ainda captou conversas dos presos, tal como o Blog noticiou em outubro de 2015 – Surgem os áudios da cela do Youssef: são mais de 100 horas. Foram, ao todo, 260 horas de gravação, bem acima das 100 horas inicialmente noticiadas.

Na verdade, a captação de diálogos entre os presos da primeira fase da Lava Jato já tinha sido admitida na primeira reportagem que o Blog fez sobre o caso, em 20 de agosto de 2015 – Lava Jato revolve lamaçal na PF-PR. Na época, a partir de informações prestadas pelo advogado do doleiro Youssef, Antônio Augusto Lopes Figueiredo Basto, noticiamos:

“Figueiredo Basto admite que seu cliente teve fortes indícios de que suas conversas na custódia com os outros presos chegavam ao conhecimento dos delegados,

“Tivemos alguns indícios disso sim. Houve indícios, isso não tem dúvida. Mas, não em interrogatórios. Em conversas assim… que não tem como serem recuperadas. Eles nunca interrogaram diretamente sobre isso, mas os assuntos acabavam sendo abordados pelos delegados”.”-
O recente depoimento do doleiro Alberto Youssef levou a grande imprensa a falar do grampo ilegal como se fosse novidade.

Advogados se calaram – O medo de que tais gravações pusessem a perder a Operação Lava Jato falou mais alto do que o dever legal de que os possíveis crimes cometidos fossem devidamente apurados. Curiosamente até os advogados de defesa, a começar pelo do doleiro Alberto Youssef, se calaram sobre o assunto. Para Figueiredo Basto falou mais alto o interesse em um acordo de delação premiada do cliente.

Como ele, certamente outros advogados se calaram, diante da possibilidade de acordos de delação, que como a Folha de S. Paulo e The Intercept mostraram nesta quinta-feira, (Mensagens apontam que Moro interferiu em negociação de delações) também tiveram interferência ilegal de Moro.

Correndo atrás do prejuízo – Com raras exceções, como recentemente mostrou a reportagem de Vasconcelos Quadros, na Pública – Agência de Jornalismo Investigativo (Moro teria ignorado investigação da PF sobre provas ilegais em caso Odebrecht), as defesas dos réus da Lava Jato desistiram das cobranças destas apurações. Até porque a maioria desconhece a instauração do IPL 01/2017.

Embora a investigação sobre os possíveis crimes ali cometidos tenha sido abortada, continua a perseguição interna ao Agente de Polícia Federal Dalmey Werlang; Ele confessou, em 2015, a instalação do grampo ilegal a mando doa delegados Igor Romário de Paula, então Coordenador do Combate ao Crime Organizado, Rosalvo Ferreira Franco, na época superintendente do DPF no Paraná, e Márcio Adriano Anselmo, que coordenava a Operação Lava Jato dentro da SR/DPF/PR. Até hoje Werlang responde a Processo Administrativo Disciplinar o que o impede de se aposentar.

ILEGALIDADE DE MORO LEVOU PARCEIRO DE DELTAN A VER CAOS E JOGO PARA PLATEIA

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ILEGALIDADE DE MORO LEVOU PARCEIRO DE DELTAN A VER CAOS E JOGO PARA PLATEIA. 

Moro entre Carlos Fernando (esq.) e Dallagnol, que se comportava como contínuo do juiz

Blog do Reinaldo Azevedo – Reportagem publicada pela Folha nesta quarta, em parceria com o site The Intercept Brasil, evidencia o desrespeito à já ruim lei das delações premiadas, a 12.850, e demonstra, de maneira cabal e insofismável, que o então juiz Sérgio Moro tinha o comando da Lava Jato. Diálogos inéditos travados por procuradores da operação revelam que a agressão à ordem legal era consciente, determinada e organizada. E disso tinham plena ciência procuradores e juiz….

Reportagem publicada pela Folha nesta quarta, em parceria com o site The Intercept Brasil, evidencia o desrespeito à já ruim lei das delações premiadas, a 12.850, e demonstra, de maneira cabal e insofismável, que o então juiz Sérgio Moro tinha o comando da Lava Jato. Diálogos inéditos travados por procuradores da operação revelam que a agressão à ordem legal era consciente, determinada e organizada. E disso tinham plena ciência procuradores e juiz. Carlos Fernando, parceiro de Deltan Dallagnol, chegou a classificar os acordos de delação, sob a influência de Moro, de “um caos”, que procurava jogar para a plateia. Deltan respondeu que eles precisavam da opinião pública e chegou a indagar, como quem apela ao absurdo, se o colega pretendia enfrentar a discordância de Moro. E deixou claro: “Tem que falar com ele”. Vamos ver.

O MAL INTRÍNSECO DAS DELAÇÕES

Há muita coisa na Lei 12.850 de que discordo. A delação premiada, por si, já é algo que tem de ser visto com cautela. Como demonstra a miséria política a que fomos conduzidos, ainda que todos os agentes públicos façam a coisa certa, o país pode ficar refém de dois tipos muito perigosos para a democracia:
1) o bandido contumaz – ele pode preparar uma plataforma de crimes futuros ao admitir ou delatar os pretéritos, atuando, nesse processo, como um selecionador de alvos. Assim, busca se livrar da pena por aquilo que fez, precavendo-se já de riscos por aquilo que vai fazer:
2) o criminoso ocasional – este, assustado, entrega-se à condução daqueles que comandam o processo. Acabará dizendo o que querem que diga. Os alvos que forem do interesse dos que escrevem a narrativa serão também os seus se for o preço a pagar para se livrar de uma pena severa.

Há uma questão de fundo que insistimos em não ver, obcecados pelo combate à corrupção: nenhum modelo

concede tanto poder aos corruptos como a delação premiada. Mais: não há outro padrão que torne tão preguiçoso o Estado investigador. O regime de delações, associado à barganha, que pretendem introduzir em nosso sistema penal, cria uma espécie de repartição burocrática de administração de benefícios a espertalhões.

A ÚNICA SALVAGUARDA SERIA O JUIZ

A lei das delações tem uma só fronteira de defesa do interesse público numa arquitetura que, à diferença do que dizem, acaba conferindo poder aos bandidos: a independência do juiz. Se cabe à polícia ou ao Ministério Público fazer os acordos de delação, negociando benefícios com base na qualidade da colaboração do delator, o exame técnico do conjunto tem de ser feito com independência e imparcialidade pelo juiz. Até porque lhe cabe examinar também se os órgãos do Estado que encetam as negociações não incorreram eles próprios em ilegalidades em razão de pressões políticas, corporativas ou outras.

Essa garantia, já modesta, se encontra nos Parágrafos 6º, 7º, 8º do Artigo 4º da Lei 12.850. Lá está escrito:
§ 6º O juiz não participará das negociações realizadas entre as partes para a formalização do acordo de colaboração, que ocorrerá entre o delegado de polícia, o investigado e o defensor, com a manifestação do Ministério Público, ou, conforme o caso, entre o Ministério Público e o investigado ou acusado e seu defensor;
7º Realizado o acordo na forma do § 6º, o respectivo termo, acompanhado das declarações do colaborador e de cópia da investigação, será remetido ao juiz para homologação, o qual deverá verificar sua regularidade, legalidade e voluntariedade, podendo para este fim, sigilosamente, ouvir o colaborador, na presença de seu defensor;
8º O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos requisitos legais, ou adequá-la ao caso concreto.

A INTERFERÊNCIA

Diálogos entre os procuradores Deltan Dallagnol e Carlos Fernando, travados em 2015, demonstram que Sergio Moro interferiu em cada passo, por exemplo, das tratativas para a delação de diretores da construtora Camargo Corrêa, exigindo até a imposição de pena mínima para que a negociação pudesse prosperar. A interferência era tal que Carlos Fernando, à frente das tratativas, esboça uma insurgência, mas eis que intervém, então, Deltan para garantir que se cumprisse a vontade de Moro. Robin jamais contraria Batman.

No dia 24 de fevereiro de 2015, Carlos Fernando reclama, conversando com o coordenador da força-tarefa (conforme o original):

“O procedimento de delação virou um caos. Creio que se a sua divisão de serviço pressupõe que eu e Januário [Paludo] estamos encarregados dos acordos, eles devem ser tratados por nós. Você é o Promotor natural e pode discordar, e eu sempre ouço todos, mas o que vejo agora é um tipo de barganha onde se quer jogar para a platéia, dobrar demasiado o colaborador, submeter o advogado, sem realmente ir em frente. Não sei fazer negociação como se fosse um turco. Isso até é contrário à boa-fé que entendo um negociador deve ter. E é bom lembrar que bons resultados para os advogados são importantes para que sejam trazidos novos colaboradores. Eu desejo que sejam estabelecidas pautas razoáveis, e que eu e Januário possamos trabalhar com mais liberdade.”

Nesse mesmo dia, Deltan responde, sempre de olho na opinião pública e na administração da sua imagem. Afirma ao colega:
“Os acordos são sensíveis por diversas razões. Uma é opinião pública e precisamos dela meu amigo. Outra é o fato de que nossa e minha reputação estão ligados ao caso. Estamos numa era tecnológica e como promotores não 

ganhamos mas dependemos de nossas reputações.”

VAI ENCARAR?

Carlos Fernando manteve o inconformismo, e Deltan respondeu no começo da madrugada do dia 25:
“Carlos Vc quer fazer os acordos da Camargo mesmo com pena de que o Moro discorde? Acho perigoso pro relacionamento fazer sem ir FALAR com ele, o que não significa que seguiremos. Podemos até fazer fora do que ele colocou (quer que todos tenham pena de prisão de um ano), mas tem que falar com ele sob pena de ele dizer que ignoramos o que ele disse. Vc pode até dizer que ouve e considera , mas conveniência é nossa e ele fica à vontade pra não homologar, se quiser chegar a esse ponto. Minha sugestão é apenas falar.”

Agressão determinada, deliberada e contumaz à ordem legal.

E agora?

A propósito: o ministro Roberto Barroso, do Supremo, que inventou um tal Instituto de Diálogos Constitucionais (IDCon), que vem, a ser o próprio Barroso — é um caso único de “Homem Instituto” —, não vai chamar Moro e Deltan para dar uma aula sobre delação e respeito à ordem legal? Seguido de um coquetel. Em “traje casual”, é claro.

FECHAMENTO DE PRÉDIO DA PETROBRAS EM MACAÉ (RJ) AFETARÁ 1,7 MIL TRABALHADORES

FECHAMENTO DE PRÉDIO DA PETROBRAS EM MACAÉ (RJ) AFETARÁ 1,7 MIL TRABALHADORES

A Petrobras informou que as pessoas que trabalham no edifício passarão a ocupar outras instalações administrativas da empresa na cidade / (Foto: Blog Fatos e Dados da Petrobras) –

A estratégia faz parte do novo plano de negócios 2019/2023 da empresa.

Jaqueline Deister | Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) – A notícia do encerramento das atividades da Petrobras no Edifício Novo Cavaleiros (Edinc) até 2020, em Macaé (RJ), no último dia 8, foi recebida com surpresa pelos 1,7 mil profissionais que atual no prédio, assim como pelo Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF).

Tezeu Bezerra, coordenador do Sindipetro-NF, que ficou sabendo da decisão da Petrobras a partir de uma repórter da Agência Reuters que o contatou para repercutir o caso, conta que a ação faz parte da política de “desinvestimento” que já vem em curso desde o governo de Michel Temer (MDB) e se intensificou durante a gestão de Jair Bolsonaro (PSL).

“Vai mexer com 1,7 mil trabalhadores no período de menos de um ano e meio, e o impacto na vida daquelas pessoas não está sendo conversado nem com os gestores locais de Recursos Humanos, nem os [gestores de RH] nacionais sabiam. Isso faz parte do desmonte da empresa. A Petrobras tem diminuído os investimentos na Bacia de Campos, e o reflexo disso é a quantidade menor de empregos, de atividades da empresa, uma produção menor”, explica Bezerra.

O prédio em Macaé não é o primeiro da Petrobras a fechar as portas. Em fevereiro, a empresa anunciou que desocuparia sete andares alugados para a sede administrativa da petroleira em São Paulo, o Edisp. A estratégia faz parte do plano de negócios 2019/2023 que tem o objetivo de economizar mais de R$100 milhões. Segundo o Sindipetro, cerca de 400 trabalhadores foram afetados com a medida.

No caso do Edinc, a maioria dos profissionais são terceirizados da área de logística, manutenção e operação submarina e setor administrativo. De acordo com Bezerra, a situação de instabilidade e incerteza têm atingido a todos os trabalhadores da Petrobras.

O impacto é maior sobre os terceirizados, mas a gente não tem garantia para ninguém. Claro que num acordo coletivo a gente consegue manter uma cláusula que proíbe a demissão em massa, mas ela [Petrobras] está querendo tirar do acordo coletivo e a gente sabe quais são as reais intenções, o pano de fundo disso tudo é justificar a privatização da empresa”, ressalta.

Posicionamento

Brasil de Fato contatou a Petrobras para confirmar a informação do fechamento do edifício em Macaé. Por meio de nota, a assessoria disse que a Petrobras tem feito esforços nos últimos anos para reduzir custos com aluguel de imóveis e que, como parte desse processo, a companhia decidiu encerrar suas atividades no Edinc.

Segundo a assessoria, as pessoas que trabalham no edifício passarão a ocupar outras instalações administrativas da Petrobras na cidade, onde prédios foram reformados para absorver novos postos de trabalho. A Petrobras destacou ainda que a redução dos gastos com prédios administrativos faz parte do Plano de Resiliência da empresa, divulgado em março de 2019.

Edição: Vivian Virissimo

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“DIGNIDADE NÃO SE NEGOCIA”, AFIRMA EX-PRESIDENTE DA ARGENTINA APÓS VISITA A LULA

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“DIGNIDADE NÃO SE NEGOCIA”, AFIRMA EX-PRESIDENTE DA ARGENTINA APÓS VISITA A LULA

O ex-presidente argentino e o sociólogo Emir Sader (Imagem: reprodução)

PUBLICADO NO BRASIL DE FATO

Diário do Centro do Mundo – EMILLY DULCE – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu, nesta quinta-feira (18), a visita de Eduardo Duhalde, ex-presidente da Argentina entre 2002 e 2003. Acompanhado do escritor e sociólogo Emir Sader, o argentino denunciou a prisão política de Lula, que já dura 468 dias.

Duhalde é o quinto ex-chefe de Estado a visitar o petista na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba (PR). Já estiveram com o ex-presidente Pepe Mujica (Uruguai), Ernesto Samper (Colômbia), Massimo D’Alema (Itália) e Dilma Rousseff.

Após o encontro privado, os amigos do ex-presidente visitaram a Vigília Lula Livre para comentar as impressões do diálogo, que durou mais de uma hora e meia, no interior da carceragem. “Eu estarei no Brasil no dia em que ele sair, mas sair do jeito que deve sair um homem de bem, sem negociar a liberdade. A dignidade não se negocia. Essa é a posição do meu querido amigo Lula”, enfatizou Duhalde.

Os líderes trabalharam juntos durante o primeiro mandato de Lula (2003-2006), que coincidiu com o mandato de Duhalde no país vizinho. Aos 77 anos e emocionado com a visita, o argentino, que antecedeu Néstor Kirchner, destacou as raízes que sempre o uniram com o petista.

“Eu estou muito feliz. Fui o primeiro presidente argentino surgido do movimento de trabalhadores. Tenho por Lula um especial carinho. É o único amigo fora da Argentina. Trabalhamos juntos, muitos anos, pela integração sul-americana”, informou.

Por ocasião de uma visita de trabalho de Duhalde em Brasília (DF), em 14 de janeiro de 2003, Lula e o argentino lançaram um comunicado em que indicavam o Mercado Comum do Sul (Mercosul) como um projeto estratégico. Para avançar na direção da integração, os líderes decidiram aprofundar a liberalização dos fluxos de comércio entre os países do bloco e a consolidação da União Aduaneira.

O bloco econômico regional é o mesmo que o atual presidente Jair Bolsonaro (PSL) quer “mais enxuto, dinâmico e sem viés ideológico”, conforme declaração dada nesta quarta-feira (17) na Cúpula dos Chefes de Estado do Mercosul, em Santa Fé, na Argentina.

Duhalde foi o terceiro presidente a tentar governar o país falido depois da temporada de peronismo neoliberal de Carlos Menem (1989-1999).

No último dia 4, Lula também recebeu outro importante apoio do país vizinho: Alberto Fernández. O favorito à presidência da Argentina, nas eleições de outubro, tem como companheira de chapa a ex-presidenta Cristina Kirchner.

Duhalde, assim como Sader, apareceu sorridente e entusiasmado após a visita. No entanto, ambos lamentaram as circunstâncias que os levaram até o ex-presidente.

“Emocionante e absurdo, porque quem deveria estar presidindo o Brasil está preso e quem deveria estar preso está presidindo. O Brasil está de cabeça para baixo”, avaliou Sader.

O sociólogo manifestou esperança, mas também indignação com a situação de “um líder de todo o Brasil, para sempre”. Para ele, se trata de um convite para a mobilização popular, também um dos destaques do petista.

“Ele sabe que vai sair e voltar a ser presidente do Brasil. Ele está preparado para isso, informado, analisa e conversa. Agora, é uma brutalidade deixar o Lula preso. A nossa vontade era pegar a mão dele e falar: ‘vamos sair, Lula, seu lugar não é aqui, cercado por esses chacais. Seu lugar é lá fora, na Vigília, com o povo’”, assegurou.

Sader afirmou que Lula está muito bem, no entanto indignado não apenas com fatores jurídicos que o mantém preso, mas também “com o que estão fazendo com o país”.

“[Ele está] mais maduro, mais reflexivo, tirando lições das experiências nossas e muito preocupado não só com a situação do Brasil, mas com a necessidade de uma resposta mais massiva e sistemática da parte do movimento popular. Como ele disse, esse governo dá, todos os dias, razões para a gente se mobilizar cada vez mais”, avaliou o sociólogo.

“Hoje eu o vi forte, mais forte do que nunca. Bravo com a situação, mas certo de que sairá para poder liderar seu povo”, completou o advogado argentino.

Preso político desde abril de 2018, Lula tem direito à visita de dois amigos por semana, sempre às quintas-feiras. Nas próximas semanas, ele também deve receber o ex-primeiro-ministro da Espanha, José Zapatero.