A REVOLTA DA CLASSE MÉDIA – DESIGUALDADE GLOBAL – EUROPA

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A REVOLTA DA CLASSE MÉDIA - DESIGUALDADE GLOBAL - EUROPA

Afetados pela globalização perdem status e se rendem ao populismo. Igualdade é uma palavra que por quase três séculos causou turbilhões pelo mundo chacoalhando ocidente e oriente.

Fernando Canzian Lalo de Almeida (fotos) – Reino Unido, França e Espanha – Antes do início dos anos 1990, a paisagem do noroeste da Inglaterra era dominada pelas chaminés de mais de mil fábricas, a maioria de tecelagens do auge da revolução industrial, no século 19.

Foi uma época em que as primeiras máquinas a vapor multiplicaram a geração de bens e de fortunas. Primeiro na Inglaterra. Depois, no resto da Europa, nos EUA e em outras partes do mundo.

Em seu apogeu, Oldham, na Grande Manchester, foi um dos locais mais dinâmicos da Terra, conectado ao resto do mundo por ferrovias que chegavam ao porto de Liverpool.

Hoje, a cidade de 100 mil habitantes parece um museu. Sobraram poucas chaminés e, com ares de decadência, centenas de pequenas casas de tijolos escuros que abrigavam os operários do passado.

No alto, prédio em ruínas da tecelagem Hartford, inaugurada em 1907, em Oldham, no Noroeste da Inglaterra; abaixo, edifício abandonado de companhia de seguros e centro de Oldham

Na Union Street, uma das ruas principais, o ponto mais movimentado parece ser um centro para desempregados. É ali que Brian Melling, 65, busca trabalho há quatro anos.

Ex-motorista de caminhão, seu padrão de vida decaiu junto com as indústrias de Oldham, afetadas por uma globalização que encontrou salários mais baixos na Ásia e expulsou gente jovem e educada para as grandes cidades.

Antes, Melling podia, como diz, “ter motocicleta, fumar, beber e fazer o que quisesse. E economizava dinheiro”.

Hoje, vive em um apartamento quase que totalmente subsidiado por uma fundação privada e passa os dias com 73 libras por semana (R$ 340) do seguro desemprego. Para economizar, come enlatados de baixa qualidade, lanches frios, frutas e bebe muito chá.

Melling e as pessoas de sua região foram as maiores responsáveis pela aprovação do brexit em 2016. Numa vitória apertada, 51,9% dos que votaram no referendo optaram por sair da União Europeia e reconquistar a opção de fechar o Reino Unido à imigração e a produtos estrangeiros.

Em Oldham, não só mais pessoas votaram no referendo como o apoio ao brexit atingiu 61%, taxa que se repetiu em toda a Grande Manchester. Na Grande Londres, mais dinâmica e cosmopolita, deu-se o contrário: 60% votaram pela permanência.

Recentemente, a ex-primeira-ministra britânica Theresa May renunciou ao não concluir o brexit, e pode ser substituída pelo ex-prefeito de Londres Boris Johnson, defensor da saída mesmo sem um acordo com a União Europeia.

O motorista de caminhão desempregado Brian Melling vive com 73 libras por semana do seguro desemprego e mora em um apartamento subsidiado em Oldham, na Inglaterra

“Votei pelo brexit porque estávamos melhor antes do mercado comum. Empobrecemos muito e todos têm nos tratado muito mal”, diz Melling.

Em sua opinião, o radicalismo na Europa vem se alimentando de um sentimento parecido com o seu.

“Veja os ‘coletes amarelos’ na França. As pessoas querem um basta.”

Para David Soskice, coordenador do International Inequalities Institute, em Londres, enquanto moradores de grandes centros têm se saído melhor por serem mais educados e globalizados, os do interior perdem renda e status.

Isso explicaria tanto o brexit quanto Donald Trump nos EUA, onde estados empobrecidos do meio-oeste garantiram a vitória do republicano.

Mas o principal motor do radicalismo e do populismo, sobretudo no Ocidente, seria o empobrecimento da classe média -resultado da mistura de globalização, avanços tecnológicos, melhor educação concentrada no topo e financeirização do capital em detrimento da produção física que gera empregos.

Cada vez mais distante dos ricos acima e pressionada por serviços públicos piores e gastos maiores, sobretudo com moradia, sem que os salários acompanhem, é a classe média quem se volta a partidos eurocéticos, anti-imigração e de extrema direita atrás de soluções.

“São pessoas preocupadas em não cair no poço da pobreza, ou que isso possa acontecer aos seus filhos. Elas votam pensado nisso”, diz Soskice.

Foi esse tipo de decadência pessoal que levou Mark Hodgkinson, 58, a marchar recentemente durante 14 dias e por 450 km em defesa do brexit, do interior da Inglaterra até o Parlamento em Londres.

Morador de Rochdale, ao norte de Manchester, o vendedor de produtos online viu seus dois filhos e de amigos fugirem para cidades maiores como Londres atrás de oportunidades que não existem mais onde viviam.

“Há 20 anos havia muito trabalho aqui. Hoje, os jovens não têm chances”, diz.

 

 

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UNIMED FINANCIOU DALLAGNOL, QUE NÃO INCOMODOU CONVÊNIOS

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UNIMED FINANCIOU DALLAGNOL, QUE NÃO INCOMODOU CONVÊNIOS
(Foto: ABr)

Brasil247 – Mais um episódio expõe a partidarização da Operação Lava Jato. O procurador Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba, dará a palestra “A Ética nos negócios em um mundo sob pressão” no dia 30 de outubro,no centro de eventos Expo Unimed, no Paraná, mas ele nunca levou adiante investigações sobre planos de saúde, alvo de delatores. As informações são da Carta Capital.

Na eleição de 2014, a Unimed deu pouco dinheiro ao PT e preferiu os adversários: repassou 620 mil a Aécio Neves, do PSDB, e 500 mil ao PSB, que tinha candidatura própria. Dilma Rousseff, que concorria à reeleição, recebeu nada.

“As entidades médicas foram sócias do impeachment e a Unimed, a despeito de ser uma marca nacional, era o braço econômico dos grupos médicos e tinha interesses ideológicos em bancar a Lava Jato”, afirma uma ex-autoridade do setor de saúde.

O curioso é que, após 2014, o patrocínio do convênio a Dallagnol tem sido frequente. Em 21 de fevereiro deste ano, ele palestrou na unidade da Unimed em Presidente Prudente (SP). Em 2 de agosto de 2018, na de Porto Alegre (RS). Em março de 2017, na de Assis (SP). Em 22 de julho de 2016, na de Vitória (ES).

Convênios e a Lava Jato

Em fevereiro de 2016, o então senador Delcidio Amaral (PT-MS) teve a prisão preventiva revogada após negociar uma delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF), em Brasília. Essa delação tinha um anexo indigesto para os convênios.

De acordo com o anexo, revelado em março de 2016 pela revista IstoÉ, “especial atenção deve ser dada à ANS e Anvisa, cujas diretorias foram indicadas pelo PMDB do Senado, principalmente pelos senadores Eunício Oliveira, Renan Calheiros e Romero Jucá. Jogaram ‘pesado’ com o governo para emplacarem os principais dirigentes dessas agências. Com a decadência dos empreiteiros, as empresas de plano de saúde e laboratórios tornaram-se os principais alvos de propina para os políticos e executivos do governo”.

A ANS é a agência federal que regula os convênios e a Anvisa, os remédios. Seus dirigentes precisam ser aprovados no Senado – daí o poder de Eunício, Calheiros e Jucá.

Esse trio (atualmente apenas Calheiros é senador) foi citado em delação fechada pelo MPF com um ex-dirigente do laboratório Hypermarcas (chamado agora de Hypera Pharma). Segundo o noticiário de junho de 2016, Nelson José de Mello havia dito que a Hypermarcas pagava propina ao trio e que uma das formas de a grana chegar a eles era através de uma banca advocatícia.

A Unimed informou que, na eleição de 2014, “priorizou o apoio a candidatos alinhados às causas cooperativistas, em diversos níveis hierárquicos, independentemente da legenda a qual eram afiliados, sempre em conformidade com a legislação vigente”.

Dallagnol não respondeu sobre sua relação financeira e eventual afinidade política com a Unimed. Esta justificou a contratação das palestras do procurador assim: “É inegável a importância que o combate à corrupção adquiriu nos últimos anos, alavancando o interesse não só dos cooperados, como da sociedade, em geral, pelo assunto e seus partícipes”.

Leia a íntegra da reportagem.

 

BOLSONARO ATACA RUI COSTA ANTES DE EMBARCAR PARA A BAHIA

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BOLSONARO ATACA RUI COSTA ANTES DE EMBARCAR PARA A BAHIA

Brasil247 – Governador da Bahia Rui Costa e Presidente Jair Bolsonaro (Foto: Mateus Pereira/GOVBA | PR) – Poucas horas antes de embarcar para a Bahia, às 9h30, Jair Bolsonaro lançou novo ataque contra o governador Rui Costa em um tweet no qual acusou-o de não liberar a PM baiana “para a nossa segurança”; o novo ataque soma-se a uma série de agressões cometidas contra o povo nordestino e dos governadores da região nos últimos dias; na inauguração do novo aeroporto de Vitória da Conquista, uma barreira de tapumes irá impedir a aproximação do povo; clima é de intervenção federal em Vitória da Conquista.

Poucas horas antes de embarcar para a Bahia, às 9h30, Jair Bolsonaro lançou novo ataque contra o governador Rui Costa em um tweet no qual acusou-o de não liberar a PM baiana “para a nossa segurança”. O novo ataque soma-se a uma série de agressões cometidas contra o povo nordestino e os governadores da região nos últimos dias. 

Na inauguração do novo aeroporto de Vitória da Conquista, uma barreira de tapumes irá impedir a aproximação do povo. Forte esquema de segurança foi montado para a solenidade, numa ação de quase intervenção federal em Vitória da Conquista.

Veja o tweet: 

Na tarde desta segunda-feira (22), o governador Rui Costa anunciou oficialmente que não mais iria à inaguração do aeroporto. Veja a explicação de Costa:

A crise entre Bolsonaro e o Nordeste está em uma escalada vertiginosa, desde que ele,  num café da manhã com correspondentes estrangeiros, no dia , ofendeu os nordetinos chamandos de “paraíbas” e atacou diretamente o governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B) -as agressões foram feitas numa conversa com o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, na abertura do encontro, quando ambos não se deram conta que os microfones estavam ligados. Assista:

https://www.facebook.com/Brasil247/videos/367658483948148/

Em outro momento, Bolsonaro ofendeu os nordestinos chamando-se de “pau-de-arara” e “cabeça chata” e rindo de maneira escandalosa, comprazendo-se de seu preconceito. Assista:

Além de Rui Costa, os vereadores de Vitória da Conquista decidiram. Em nota oficial, a Câmara Municipal da cidade anunciou que não participaria do ato de inauguração, esclarecendo que defendia que o ato de inauguração deveria ser “público, aberto a toda a população” (leia aqui).

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MORO E DELTAN, OS VALENTÕES, FOGEM DO “CASO FLÁVIO”. E AINDA: GLOBO E STF

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MORO E DELTAN, OS VALENTÕES, FOGEM DO “CASO FLÁVIO”. E AINDA: GLOBO E STF

A valentia loquaz de Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato, tem um limite: não desagradar ao governo Bolsonaro. E nisso ele encontra um parceiro e tanto: Sergio Moro. Novos diálogos revelados pelo site “The Intercept Brasil” demonstram a administração política que Dallagnol dá até às suas declarações. Um episódio ilustra a politicagem na força-tarefa de maneira constrangedora.

Os folguedos de Flávio Bolsonaro (centro) desarrumaram o discurso oficial dos paladinos Deltan Dallagnol (esq.) e Sério Moro (dir.): sobrou a empulhação

A valentia loquaz de Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato, tem um limite: não desagradar ao governo Bolsonaro. E nisso ele encontra um parceiro e tanto: Sergio Moro. Novos diálogos revelados pelo site “The Intercept Brasil” demonstram a administração política que Dallagnol dá até às suas declarações. Um episódio ilustra a politicagem na força-tarefa de maneira constrangedora.

Dallagnol recebe um convite da reportagem do “Fantástico”, da TV Globo, para dar uma entrevista sobre o fim do foro especial para deputados e senadores, uma das militâncias a que se dedicou a direção de jornalismo da emissora. A personagem principal da notícia, que receberia tratamento necessariamente negativo, dadas as circunstâncias, era o deputado Paulo Pimenta (RS), do PT. Processo de que é réu sairia do Supremo e iria para a primeira instância porque relativo a caso anterior ao mandato e sem relação com este. Mas o “Fantástico” deixa claro que se vai falar também sobre Flávio Bolsonaro.

No dia 21 de janeiro deste ano, Dallagnol envia a seguinte mensagem a seus pares no grupo “Filhos de Januário 3” (conforme o original):
DALLAGNOL – 16:44:44 –  Pessoal, temos um pedido de entrevsita do fantástico sobre foro privilegiado. O caso central é bom, envolvendo o Paulo Pimenta, se isso for verdade rs. O risco é eles decidirem no fim focar no Flávio Bolsonaro e usarem nossas falas nesse outro contexto. De um modo ou de outro, o que temos pra falar é a mesma coisa. Além disso, algumas informações que buscam não temos (são da PGR). A questão é se é conveniente darmos entrevista para essa reportagem ou não. Eu não vejo que tenhamos nada a ganhar porque a questão do foro já tá definida. Diferente de uma matéria sobre prisão em segunda instância…

Que coisa fabulosa!

Notem que, segundo o coordenador da força-tarefa, “o caso central é bom, envolvendo o Paulo Pimenta”. Ou por outra: bater num petista era uma vantagem e estava adequado à metafísica influente na turma. E, de fato, a mensagem enviada pela Globo, repassada por Dallagnol, deixa claro: “suspeita contra o Pimenta será nosso principal case numa reportagem sobre os casos em que políticos perderam o foro, devido ao entendimento do Supremo de que a prerrogativa só existe para crimes cometidos durante o mandato e que dizem respeito ao mandato.” Mas aí acrescenta o jornalista (no caso, da RBS, filiada no Rio Grande do Sul): “Citaremos também o caso F. Bolsonaro, que surgiu após o início da nossa apuração”.

E aí Dallagnol treme nas bases: “O risco é eles decidirem no fim focar no Flávio Bolsonaro e usarem nossas falas nesse outro contexto.”  A desconfiança do procurador não faz jus à fidelidade da emissora à Lava Jato, de quem é a mais vistosa e poderosa porta-voz — e não apenas da força-tarefa de Curitiba.

Dallagnol não vê nada de útil em conceder a entrevista porque eles já ganharam a batalha do fim do foro especial. E falar sobre Flávio não lhe pareceu conveniente… Se fosse só para malhar o petista Pimenta, aí seria bom… Mas Flávio???

NÃO ERA A PRIMEIRA VEZ

Não era a primeira vez que Dallagnol evidenciava que melhor seria não mexer muito com o Zero Um. No mesmo grupo, no dia 8 de dezembro do ano passado, escreveu:
DALLAGNOL – 09:04:38 – Em entrevistas, certamente vão me perguntar sobre isso [Flávio]. Não vejo como desviar da pergunta, mas posso ir até diferentes graus de profundidade. 1) é algo que precisa ser investigado; 2) tem toda a cara de esquema de devolução de parte dos salários como o da Aline Correa que denunciamos ou, pior até, de fantasmas.

Em outra conversa, com o procurador Roberson Pozzobon (o “Robito”, aquele com quem queria criar empresa de palestras em nome das respectivas mulheres para “lucrar”), o próprio Dallagnol pondera:
“DALLAGNOL – 10:04:00 – Não sei se convém o nível 2. Não podemos ficar quietos, mas é neste momento um pouco como com RD [Raquel Dodge]. Vamos depender dele pra reformas… Não sei se vale bater mais forte

CADÊ O VALENTÃO?

Pois é… Nada disso lembra aquele procurador sempre valentão, que dava plantão nas redes sociais quando algo estava em votação no Supremo e que saía por aí tonitruando a sua moralidade impecável, posando, se necessário, de vítima; afirmando que a função que exercem os membros da força-tarefa lhes cobra quase uma dedicação de mártires — no seu caso, um mártir que anunciou à própria mulher ganhos líquidos de R$ 400 mil com palestras em 2018.

O COMPORTAMENTO DE MORO

Os procuradores também falam do comportamento de Sergio Moro depois que o caso Flávio Bolsonaro veio a público. Prestem atenção a esta sequência daquele mesmo 8 de dezembro de 2018, pouco antes de Dallagnol decidir entre a coragem e covardia, ficando com a segunda.

A conversa começa com o envio de um link de reportagem do UOL sobre o depósito de R$ 24 mil que Fabrício Queiroz fizera na conta de Michelle Bolsonaro, mulher do, à época, presidente eleito:

DELTAN DALLAGNOL – 00:56:50 – https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2018/12/07/bolsonaro-diz-que-ex-assessor-tinha-divida-com-ele-e-pagou-a-primeira-dama.htm
DALLAGNOL – 00:58:15 –
[imagem não encontrada]
DALLAGNOL – 00:58:15 – [imagem não encontrada]
DALLAGNOL – 00:58:38 –
COAF com Moro
DALLAGNOL – 00:58:40 – Aiaiai
JULIO NORONHA – 00:59:34 – (figurinhas de macaquinhos tampando os olhos)
DALLAGNOL – 01:04:40 –
[imagem não encontrada]
JANUÁRIO PALUDO – 07:01:20 – Isso lembr
PALUDO – 07:01:48 – Lembra algo Deltan?
PALUDO – 07:03:08 – Aiaiai
JERUSA VIECILLI – 07:05:24 – Falo nada … Só observo
DALLAGNOL – 08:47:52 –
Kkk
DALLAGNOL – 08:52:01 – É óbvio o q aconteceu… E agora, José?
DALLAGNOL – 08:53:37 – Moro deve aguardar a apuração e ver quem será implicado. Filho certamente. O problema é: o pai vai deixar? Ou pior, e se o pai estiver implicado, o que pode indicar o rolo dos empréstimos?
DALLAGNOL – 08:54:21 –
Seja como for, presidente não vai afastar o filho. E se isso tudo acontecer antes de aparecer vaga no supremo?
DALLAGNOL – 08:58:11 – Agora, Bolso terá algum interesse em aparelhar a PGR, embora o Flávio tenha foro no TJRJ. Última saída seria dar um ministério e blindar ele na PGR. Pra isso, teria que achar um colega bem trampa
ATHAYDE RIBEIRO COSTA – 08:59:41 – É so copiar e colar a ultima denuncia do Geddel
ROBERSON POZZOBON – 09:02:52 – Acho que Moro já devia contar com a possibilidade de que algo do gênero acontecesse
POZZOBON – 09:03:19 – A questão é quanto ele estará disposto a ficar no cargo com isso ou se mais disso vir

Moro, como sabemos, silenciou sobre o caso Fabrício. O paladino contra a corrupção enfiou o rabo da moralidade entre as pernas e preferiu fugir do assunto. Fez o mesmo também em outro caso que chega a ser vexaminoso: o de seu colega de ministério Marcelo Álvaro Antonio (Turismo) e o laranjal que o cerca.

Os diálogos divulgados neste domingo mostram a parcialidade e o direcionamento político da “luta contra a corrupção” travada por Moro e Dallagnol, entre outros.

A VAGA NO STF

E agora muito importante corre o risco de se perder em meio às conversas. Escreve Dallagnol:
DALLAGNOL – 08:54:21 – Seja como for, presidente não vai afastar o filho. E se isso tudo acontecer antes de aparecer vaga no supremo?

No dia 12 de maio, em entrevista a Milton Neves, da Band, Bolsonaro afirmou que, ao convidar Moro para o Ministério da Justiça, prometeu que o indicaria para uma vaga no Supremo. Ficou claro que tal promessa tinha feito parte do pacote de ofertas para que aceitasse a pasta. No dia seguinte, o ministro da Justiça desmentiu o chefe. E ficou o dito pelo não-dito.

Notem que, muito antes, ainda em dezembro, Dallagnol já tratava da indicação de seu amigo de fé, irmão, camarada para a vaga no tribunal. E ainda deixa claro que, se Moro resolvesse se engajar na apuração das lambanças havidas no gabinete de Flávio, a indicação não sairia.

E Moro, como sabemos, não se engajou.

Só não sei se haverá tempo para ser ministro do Supremo.

Digam: a Lava Jato não lhes parece, a cada dia, mais isenta, mais independente, mais imparcial e interessada apenas em combater os malfeitores?

Ah, sim: os valentes todos afirmam não reconhecer a autenticidade das conversas. A Globo diz não comentar conversa de seus jornalistas com fontes. Mas não nega, claro!, o envio da mensagem. Nem poderia. Ela é verdadeira, a exemplo de todas as outras.

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ANÚNCIOS DA ÉPOCA DA ESCRAVIDÃO MOSTRAM POR QUE O BRASIL PRECISA ACERTAR AS CONTAS COM O PASSADO

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ANÚNCIOS DA ÉPOCA DA ESCRAVIDÃO MOSTRAM POR QUE O BRASIL PRECISA ACERTAR AS CONTAS COM O PASSADO
Alexandre Andrada – The Intercept Brasil – AS ELITES BRASILEIRAS parecem ter um hábito secular de pôr uma pedra sobre o nosso passado. Apesar de sermos o país com a maior população negra fora da África, quase não há museus sobre o tema e mal estudamos o assunto nas escolas. O desconhecimento do brasileiro médio em relação aos horrores e às consequências da escravidão é enorme. O esquecimento não é um acaso, é um projeto.

O Brasil é o país mais importante na história da diáspora africana. Foram mais de 4 milhões de escravizados que desembarcaram em nossos portos, principalmente nos do Rio de Janeiro, Salvador e Recife, entre 1530 e 1850.

Na primeira metade do século 19, mais de 2 milhões de africanos aportaram no Brasil. Era uma multidão de gente. No censo de 1872, o primeiro de nossa história, o país tinha 10 milhões de habitantes e mais da metade (58%) da população era formada por pretos e pardos, incluindo livres, libertos e escravizados.

Os escravizados, nascidos no Brasil e na África, foram a mão de obra utilizada na criação da riqueza derivada do açúcar, do algodão, do ouro, do diamante e do café, principais produtos de exportação do país. Mas eles eram também empregados domésticos, amas de leite, sapateiros, barbeiros, vendedores de rua, pedreiros, pescadores, alfaiates, ferreiros. As ruas e as casas brasileiras do século 19 transbordavam escravidão.

Em 1872, apenas 0,08% dos escravizados eram alfabetizados. Isso, por si, só explica a ausência de relatos em primeira pessoa sobre esse drama. Por sorte, existe uma única autobiografia conhecida de um africano que passou pela experiência do navio negreiro e foi escravizado no Brasil. Ele se chamava Mahommah Baquaqua.

Nascido por volta de 1820, Baquaqua era filho de um comerciante muçulmano e frequentou uma escola religiosa localizada no atual estado de Benin. Sequestrado na África, foi trazido como escravo para o Brasil em 1845. O tráfico de escravizados já era proibido no Brasil desde 1830, graças a um acordo com a Inglaterra, e desde de 1831, por força de uma lei de iniciativa nacional. Se valessem essas leis, Baquaqua deveria ser declarado livre assim que pisasse o solo brasileiro; e seu traficante, preso. Mas esse era o mundo imaginário das leis, não o dos fatos.

Em sua autobiografia, publicada originalmente em 1854 nos Estados Unidos, Baquaqua relata o drama comum aos mais de 4 milhões de africanos escravizados que aqui desembarcaram.

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Imagem da edição do livro de Mahommah G. Baquaqua. – Foto: Bruno Veras (Public domain)

O relato dos horrores vividos no navio negreiro é pujante. Baquaqua conta que ele e seus companheiros de infortúnio foram empurrados “para o porão do navio em estado de nudez”, com “os homens amontoados de um lado e as mulheres do outro”. Como “o porão era tão baixo”, eles eram obrigados a “se agachar” ou ficar sentados no chão.

A escravidão implica na desumanização completa do indivíduo. Perder o direito à religião e ao nome escolhido por seus antepassados é parte desse processo.

Uma viagem de navio de Angola até o Recife demorava em torno de 30 dias. Amontoados e acorrentados em posição desconfortável, o porão acumulava resquícios de urina, fezes, vômitos sob um forte calor. Relatos dão conta que as pessoas nas cidades primeiro sentiam o mau cheiro desses navios antes mesmo de os verem no horizonte. “A repugnância e a sujeira daquele lugar horrível nunca será apagada da minha memória”, escreveu Baquaqua.

As terríveis condições de higiene e alimentares faziam com que a taxa de mortalidade nas viagens superasse os 10% dos embarcados. Os que morriam pelo caminho tinham seus corpos atirados ao mar, o que torna o Atlântico um gigantesco cemitério de africanos.

Baquaqua conta que “a única comida” que eles tiveram durante a viagem era um “milho encharcado e cozido”. A água também era racionada: “um pint (equivalente a 400 ml) por dia era tudo o que era permitido e nada mais”.

“Houve um pobre rapaz que ficou tão desesperado por falta de água, que tentou arrancar uma faca do homem branco que trouxe a água, quando foi levado para o convés e eu nunca soube o que aconteceu com ele. Eu suponho que ele foi jogado ao mar.

A violência era crucial para manter a “ordem”. Baquaqua conta que, “quando qualquer um de nós se tornava desobediente, sua carne era cortada com uma faca”, então, “pimenta ou vinagre” eram esfregados na ferida.

Os grandes traficantes de escravos eram brasileiros e portugueses aqui residentes. Eram ricos comerciantes, cuja fortuna superava a dos produtores de açúcar e algodão. Eles eram os ricaços do Rio, Salvador, Recife etc. No Recife, na década de 1820, o maior traficante era o comerciante português Elias Coelho Cintra, que tinha o costume marcar seus escravos com a letra “E” com ferro em brasa no peito, feito gado.

Anúncio do furto de três africanos recém-chegados (“negros novos”) de Angola, que tinham “no peito esquerdo a marca E”, de Elias Coelho Cintra.

Anúncio do furto de três africanos recém-chegados (“negros novos”) de Angola, que tinham “no peito esquerdo a marca E”, de Elias Coelho Cintra. – Fonte: Diário de Pernambuco, 1829

Anúncio reporta a chegada do paquete Pernambuco, vindo de Angola, numa viagem que durou 26 dias. Embarcaram 257 cativos, sendo que 26 morreram, que se destinavam a Elias Coelho.

Anúncio reporta a chegada do paquete Pernambuco, vindo de Angola, numa viagem que durou 26 dias. Embarcaram 257 cativos que se destinavam a Elias Coelho. Vinte e seis morreram na travessia. – Fonte: Diário de Pernambuco, 1830

Um dos bairros ainda hoje mais miseráveis e violentos do centro do Recife é o dos “Coelhos”, nome derivado do fato daquela região ser de propriedade da família do maior traficante de escravos da cidade. Sempre que passo por aquela área, fico pensando que parte dos seus habitantes que sobrevivem em condições desumanas, muitos dos quais em palafitas à beira do rio Capibaribe, pode ser formada por descendentes dos escravizados marcados a ferro quente por Elias.

Ao chegarem no Brasil, esses africanos eram postos em quarentena em portos ou mesmo no interior dos navios. Sobrevivendo a essa fase, os escravizados eram obrigatoriamente batizados na fé católica e recebiam nomes à portuguesa. Viravam todos Josés, Franciscos, Marias, Catarinas – Baquaqua não diz qual era seu nome que teve em seus tempos de Brasil. A escravidão implica na desumanização completa do indivíduo. Perder o direito à religião e ao nome escolhido por seus antepassados é parte desse processo.

A viajante estrangeira Maria Graham, que esteve no país na década de 1820, retrata o horror da visão de uma dessas localidades.

“Mal tínhamos percorrido cinquenta passos no Recife, quando ficamos absolutamente enojados com a primeira vista de um mercado de escravos. Era a primeira vez que (…) estávamos em um país de escravos; e, por mais fortes e pungentes que sejam os sentimentos em casa, quando a imaginação retrata a escravidão, eles não são nada comparados à visão desconcertante de um mercado de escravos. (…) Cerca de cinquenta jovens criaturas, meninos e meninas, com toda a aparência de doença e fome, resultante da escassez de comida e longo confinamento em lugares insalubres, estavam sentados e deitados entre os animais mais sujos das ruas ”.

Ao chegar aqui, sendo ainda “boçal” (termo utilizado para descrever os cativos que não dominavam o português), Baquaqua foi colocado para realizar trabalhos puramente físicos. Seu primeiro ofício foi carregar pedras para a construção de uma casa para o seu proprietário.

Depois de ganhar algum domínio da língua, Baquaqua foi para a rua vender pão. Muitos dos escravizados no Brasil do século 19 eram os chamados “pretos de ganho”, isto é, cativos que trabalhavam na rua vendendo alguma mercadoria ou realizando algum serviço, para garantir uma renda diária ao seu proprietário.

Fotografia do acervo do Instituto Moreira Salles mostra vendedoras de rua no Rio na década de 1870.

Fotografia do acervo do Instituto Moreira Salles mostra vendedoras de rua no Rio na década de 1870. – Foto: Acervo/Instituto Moreira Salles

A escravidão não era exclusividade da agricultura para exportação e o escravizado não era “mercadoria” acessível apenas aos ricaços. O Brasil era uma sociedade escravista no sentido mais preciso do termo. Os anúncios de compra, venda, aluguel e fuga de escravos eram a matéria mais ordinária nas páginas dos jornais brasileiros neste período.

Um viajante escocês que passou pelo Recife em 1820 relata sua visão:

“Acho que nenhuma impressão fica mais profundamente impressa em minha mente do que a visão melancólica de centenas… de milhares de escravos negros que vi na cidade… Você não pode se mover em nenhuma direção, sem que a escravidão, com todas as suas misérias multiplicadas, prenda sua atenção. Se você anda pelas ruas, você encontra os escravos, a cada hora do dia, em centenas, gemendo e suando sob seus fardos, e gastando suas vidas miseráveis no desempenho daqueles trabalhos pesados que são feitos por cavalos na Escócia e na Inglaterra”.

Sendo vendedor de rua, Baquaqua conta que tentou ser obediente ao seu proprietário para evitar castigos e ter uma existência um pouco menos miserável. Mas mesmo sendo obediente, era agredido e humilhado. E como tantos outros escravizados, na busca de uma fuga da dureza do cotidiano, abusou do álcool. Além da bebida, Baquaqua imita o comportamento de outros milhares de escravizados: foge. Porém, também como era a regra, acaba recapturado.

Homens, mulheres, jovens e crianças viviam tentando fugir. Era uma luta desigual. Alguns, com sorte, podiam se aquilombar em Catucá, o mais famoso quilombo existente no Recife na primeira metade do século 19, que tanto amedrontava o “cidadão de bem” da cidade.

Trecho de uma carta escrita por um desembargador reclamando do “Quilombo dos negros dos palmares do Catucá”.

Trecho de uma carta escrita por um desembargador reclamando do “Quilombo dos negros dos palmares do Catucá”. – Fonte: Diário de Pernambuco, 1829

Mesmo “com ferro no pescoço” e com “uma ferida na canela direita”, Sebastião do Rosário tentou fugir da sua condição de escravo. Os anúncios de escravos fugidos eram parte obrigatório dos jornais brasileiros do período.

Mesmo “com ferro no pescoço” e com “uma ferida na canela direita”, Sebastião do Rosário tentou fugir da sua condição de escravo. Os anúncios de escravizados que fugiam eram parte obrigatória dos jornais brasileiros do período. – Fonte: Diário de Pernambuco, 1829.

Anúncio da fuga de uma criança de nove anos com “marcas pela cara” provocadas pelo uso “de uma máscara de flandres”.

Anúncio da fuga de uma criança de nove anos com “marcas pela cara” provocadas pelo uso “de uma máscara de flandres”. – Fonte: Diário de Pernambuco

Gravura mostrando um escravizado com ferros no pescoço e máscara de flandres.

Gravura mostrando um escravizado com ferros no pescoço e máscara de flandres. – Ilustração: Jacques Arago/Museu Afro Brasil (São Paulo)

Baquaqua conta que, após uma recaptura, saiu para vender pão, mas usou o dinheiro arrecadado para comprar bebida. Voltando a casa do senhor embriagado e sem dinheiro. Foi violentamente espancado. Revoltado e humilhado, Baquaqua tenta o suicídio:

“Eu preferiria morrer a viver para ser um escravo. Eu então corri para o rio e me joguei, mas sendo visto por algumas pessoas que estavam em um barco, fui resgatado do afogamento.”

Depois disso, ele é posto à venda.

Anúncio publicado no Diário de Pernambuco em 1830, em que anuncia: “vende-se por [ser] fujão”. O termo “ladino” significava que, apesar de o escravo ser africano, ele já dominava o idioma e os costumes locais.

Anúncio publicado no Diário de Pernambuco em 1830, em que anuncia: “vende-se por [ser] fujão”. O termo “ladino” significava que, apesar de o escravo ser africano, ele já dominava o idioma e os costumes locais. – Fonte: Diário de Pernambuco

Baquaqua é vendido “para fora da província”. Essa era uma outra forma comum de punição e de controle dos escravizados: os que se comportavam mal eram vendidos sob a condição de serem levados para localidades distantes. Toda a sociabilidade construída pelo escravizado naquela cidade era, de repente, desfeita, em uma repetição das agruras do navio negreiro.

Anúncio de venda de escravo no Diário de Pernambuco.

Anúncio de venda de escravo no Diário de Pernambuco. – Fonte: Diário de Pernambuco

Seu destino foi o Rio de Janeiro, a capital do Império e maior cidade do país. Passou então a trabalhar a bordo de um navio. Após algumas viagens – ele narra passagens por Santa Catarina e Rio Grande do Sul –, a embarcação teria como destino Nova York.

Em 1847, em solo estadunidense, Baquaqua conseguiu finalmente fugir da condição de escravizado e se tornou, mais uma vez, um homem livre. Seus companheiros no Brasil, porém, teriam que esperar até 1888 para terem a mesma sorte.

Livres, mas sem nenhuma indenização por séculos de trabalho forçado, sem acesso à terra, à educação, marcados pelo preconceito e vítimas do racismo “científico” que ganha força no final do século 19 e começo do século 20. Enquanto os imigrantes italianos que aqui aportavam aos milhares a partir de 1890 tinham passagem subsidiada, salário, terra e liberdade para trocar de emprego depois de cinco anos, os pretos e pardos não tinham nada.

Nos EUA, neste exato momento, está em debate no Congresso a questão da reparação dos descendentes de escravizados. No Brasil, diz-se ainda que cotas são “racismo reverso”. O esquecimento da escravidão é um projeto muito bem elaborado pela elite.

PARAGUAIOS LANÇAM CAMPANHA PARA ANULAR TRATADO DE ITAIPU E GARANTIR SOBERANIA

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PARAGUAIOS LANÇAM CAMPANHA PARA ANULAR TRATADO DE ITAIPU E GARANTIR SOBERANIA

A Usina Hidrelétrica Binacional de Itaipu responde por 17% do mercado brasileiro de eletricidade e 85% do consumo paraguaio / Christian Rizzi/AFP

Segundo organizadores da campanha, o tratado é fruto de invasão brasileira ao território do país vizinho

Brasil de Fato | São Paulo (SP) – A campanha Itaipu ñane mba’e, com nome em guarani, foi lançada na última quarta-feira (17) no Paraguai. Como diz o próprio nome, “Itaipu patrimônio nosso”, a campanha reivindica, entre outros pontos, a anulação do Tratado de Itaipu como forma de recuperar a soberania nacional do país sul-americano.

Para os organizadores da campanha, o tratado, firmado em 1973 durante as ditaduras brasileira e paraguaia, é “fruto de uma invasão brasileira do território paraguaio”, como afirmam na nota divulgada durante o lançamento.

A proposta busca dialogar com a sociedade do país e com a brasileira sobre a revisão do tratado que acontecerá em 2023, mais especificamente, a revisão de seu anexo C, que corresponde à parte financeira do acordo, com o fim da dívida da construção do acordo.

Entre as reivindicações apresentadas no documento divulgado pelos organizadores está “a recuperação da hidrelétrica para o desenvolvimento integral dos povos paraguaio e brasileiro, através da produção, comercialização e manejo soberano da entidade”.

Em uma entrevista concedida ao Brasil de Fato, Gustavo Codas, economista paraguaio que ocupou a diretoria geral da Itaipu Binacional entre 2010 e 2011, analisou o que está em jogo na revisão do Anexo C do tratado em 2023.

Segundo Codas, as duas ditaduras militares definiram que Itaipu funcionaria por 50 anos, de 1973 até 2023, fora das regras do mercado. Mas, a partir de 2023, este princípio será modificado.

“A energia de Itaipu vai entrar no lado brasileiro pelas mesmas regras que entra outra hidrelétrica, vendendo sua energia com as regras do mercado livre. O que vai acontecer a partir de 2023 é que o Paraguai — não sei agora com o novo governo, mas era a reivindicação do governo Lugo —  vai ter livre disponibilidade da sua energia, para vender ao mercado brasileiro ou a terceiros países. Há que se dizer que o Brasil, unilateralmente — sem o acordo do Paraguai — comercializa energia com a Argentina”, explicou o economista.

Para os organizadores da campanha “Itaipu ñane mba’e”, o Paraguai deve comercializar a energia de Itaipu a partir do setor público para gerar renda e investir em áreas estratégicas para o desenvolvimento social do país como educação, saúde, trabalho, terra e indústria.

“O Estado paraguaio deve controlar e dirigir a entidade para acabar com a corrupção e impunidade , administrando e destinando os fundos da Itaipu para a produção e desenvolvimento social”, diz o documento da campanha.

A apresentação da proposta esteve a cargo dos organizadores da campanha, entre eles, Cecilia Vuyk, cientista política paraguaia, Graciela Congo, secretaria da Central Unitária de Trabalhadores do Paraguai (CUT-Autêntica) e Guillermo Achucarro, especialista em hidrologia.

Apresentação da campanha “Itaipu ñane mba’e” na última quarta-feira (17)

Embora a revisão do tratado esteja prevista para 2023, os governos do Brasil e do Paraguai já começam a discutir suas propostas para o acordo. Em fevereiro deste ano, o Ministério de Minas e Energia do Brasil formalizou a organização de um grupo de trabalho formado pela pasta junto com o Ministério de Relações Exteriores o “com o objetivo de coordenar o desenvolvimento de estudos, para subsidiar o processo de revisão do Anexo C ao Tratado de Itaipu”, como publicado no Diário Oficial da União.

O presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PSL) e o presidente paraguaio Mario Abdo Benítez já se reuniram em duas ocasiões em 2019. Na primeira delas, em fevereiro, durante cerimônia de posse do diretor-geral da Itaipu Binacional, Bolsonaro homenageou o ditador Alfredo Stroessner, um dos responsáveis pelo acordo, gerando constrangimento para o presidente paraguaio – seu aliado, também de direita – que tenta afastar-se da memória da ditadura, embora seu pai tenha sido funcionário de Stroessner.

Na segunda ocasião, Benítez visitou Brasília em março deste ano para uma reunião bilateral com o presidente brasileiro. Um dos pontos tratados foi a revisão do Anexo C do Tratado, no entanto, nenhum acordo sobre a contratação de energia de Itaipu foi sinalizado pelos governos.

Edição: Luiza Mançano

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BOLSONARO DIZ QUE PODE AVALIAR REDUÇÃO NA MULTA DO FGTS NO FUTURO

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BOLSONARO DIZ QUE PODE AVALIAR REDUÇÃO NA MULTA DO FGTS NO FUTURO

“O valor não está Constituição Federal. O FGTS está no artigo sétimo. Eu acho que o valor é uma lei. Vamos pensar lá na frente”, disse o presidente – Mudança não será estudada neste momento. União lançará pacote econômico na 4ª feira.

MARLLA SABINO – PODER 360 – O presidente Jair Bolsonaro disse neste domingo (21.jul.2019) que pode avaliar, no futuro, a redução da multa de 40% do saldo do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) paga a trabalhadores que são demitidos sem justa causa. O militar ressaltou que a mudança não será considerada neste momento.

“O valor não está na Constituição Federal. O FGTS está no artigo 7º. Eu acho que o valor é uma lei. Vamos pensar lá na frente”, disse ao chegar a 1 restaurante de galetos, onde almoçou com a primeira-dama Michelle Bolsonaro.

“Eu não quero manchete amanhã: ‘o presidente está estudando reduzir o valor da multa’. O que eu estou tentando levar para o trabalhador é o seguinte: menos direitos e emprego. Todos os direitos e desemprego”, afirmou.

Na 6ª feira (19.jul), o presidente criticou a criação da multa e afirmou que o pagamento prejudica os próprios trabalhadores a conseguirem empregos. Segundo o presidente, “é quase impossível ser patrão no Brasil”.

“Olha só, especialmente os 40%, foi quando o Dornelles era ministro do Fernando Henrique Cardoso, quando ele aumentou a multa para evitar demissão. O que aconteceu depois disso? O pessoal não emprega mais por causa da multa”, afirmou.

Pela Constituição de 1988, em caso de demissão sem justa causa, a empresa deve pagar 1 adicional de 40% sobre o valor do saldo da conta do FGTS do empregado. Por esse motivo, a alteração no percentual precisaria ser feita por meio de uma lei complementar –que requer o voto da maioria absoluta dos congressistas na Câmara e no Senado.

A discussão sobre o valor da multa acontece às vésperas do anúncio de 1 pacote de medidas pela equipe econômica. Na próxima 4ª feira (24.jul), o governo deve apresentar as regras para flexibilização dos saques dos recursos das contas do FGTS e PIS/Pasep. Essa é uma das medidas estudadas pelo governo para estimular a economia brasileira, que caminha em ritmo lento.

“É algo paliativo? É. É aquela vitamina que toma agora porque o ano está acabando você pode ver a sinalização da Previdência com placar alto no 1º turno já faz a bolsa se estabilizar acima de 100 mil pontos”, disse.

O ministro Paulo Guedes (Economia) afirmou que o saque só do FGTS pode injetar R$ 42 bilhões na economia. O valor, no entanto, deve ser menor devido às negociações com o setor imobiliário. A liberação do PIS/Pasep, segundo projeções do governo, deve trazer “mais R$ 21 bilhões”.

RÊGO BARROS: ‘TEM FEITO 1 BOM PAPEL’

Questionado sobre as críticas do deputado federal Marco Feliciano (Pode-SP) contra o porta-voz da Presidência, o general Otávio de Rêgo Barros, Bolsonaro disse que o militar tem feito “1 bom papel” no governo. No sábado (20.jul), o congressista chamou o militar de “incompetente ou mal-intencionado“.

“Rêgo Barros está fazendo 1 bom papel no governo. Já tinha essa atividade no Exército. É uma pessoa que tem tratado com muito zelo e preocupação. Me ajudou a convencer com esses cafés [com jornalistas]”, disse.

De acordo com Feliciano, o porta-voz expõe o presidente à imprensa e criticou os encontros com a imprensa. O vereador do Rio de Janeiro e filho do presidente, Carlos Bolsonaro (PSC) também já se posicionou contra os cafés. Disse que “absolutamente tudo que [Bolsonaro] diz é tirado do contexto para prejudicá-lo”.

CULTO NA SARA NOSSA TERRA

Na de domingo (21.jul), o presidente recebeu os ministros Onyx Lorenzoni (Casa Civil), Augusto Heleno (Segurança Institucional) e o general Ramos (Secretaria de Governo) no Palácio da Alvorada. Logo depois, deixou a residência oficial para participar de 1 culto na igreja Sara Nossa Terra.

Durante a cerimônia, o presidente afirmou que a solidão sentida por estar em 1 cargo no governo, como dita por diversas autoridades, é devida a “a uma deslealdade com o povo brasileiro” e afastamento de Deus. Assista ao vídeo:

NÚMERO DE INDÚSTRIAS FECHADAS EM SÃO PAULO É O MAIOR EM UMA DÉCADA

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NÚMERO DE INDÚSTRIAS FECHADAS EM SÃO PAULO É O MAIOR EM UMA DÉCADA

Portão de fábrica fechada Imagem: ADNAN ABIDI/REUTERS

O Estado de São Paulo, maior polo industrial do País, registrou o fechamento de 2.325 indústrias de transformação e extrativas nos primeiros cinco meses do ano. O número é o mais alto para o período na última década e 12% maior que o do ano passado, segundo a Junta Comercial.

O dado indica que a fraca recuperação da economia brasileira após a recessão de 2014 a 2016 continua levando ao encolhimento do setor produtivo, deixando um rastro de fábricas desativadas e desempregados.

Entre 2014 e 2018, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro acumulou queda de 4,2%, enquanto o da indústria de transformação em todo o País caiu 14,4%. “Significa que a produção caiu bastante e obviamente teve impacto nas empresas, com fechamento de fábricas e demissões”, diz o economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados.

Em paralelo, foram abertas de janeiro a maio 4.491 indústrias em São Paulo. Tradicionalmente há mais abertura do que baixa de fábricas, mas isso nem sempre é um indicador positivo. Para Mendonça de Barros, independentemente dos números de novas indústrias, a queda do PIB industrial mostra que houve encolhimento da produção e, provavelmente, foram fechadas empresas grandes e médias e abertas unidades de menor porte.

O presidente do Sindicato da Indústria de Calçados de Jaú, Caetano Bianco Neto, afirma que, nos últimos anos, várias empresas consideradas de grande porte para a atividade, com 300 a 400 funcionários, encerraram atividades. “Quando fecha uma grande, muitas vezes surgem outras três ou quatro micro e pequenas fabricantes, algumas inclusive abertas por ex-funcionários, mas com pouca mão de obra”, diz Bianco Neto.

O polo calçadista de Jaú, referência nacional na produção de calçados femininos, já empregou 12 mil trabalhadores em meados dos anos 2000. Hoje tem 5 mil funcionários, diz Bianco Neto. Recentemente, ele e dirigentes da

indústria de calçados das vizinhas Franca e Birigui entregaram ao governador João Doria (PSDB) um plano de recuperação do setor.

No grupo das que fecharam as portas, há indústrias nacionais e multinacionais. Algumas transferiram filiais para outras unidades da mesma companhia para cortar custos e outras acabaram com a produção, deixando um contingente de desempregados, parte deles sem receber salários e indenizações.

A indústria de autopeças Indebrás, na zona oeste de São Paulo, deixou de operar em abril e colocou na rua 150 funcionários. Com salários atrasados e sem verbas rescisórias, eles ficaram acampados em frente à fábrica por 48 dias. Após acordo na Justiça do Trabalho, a empresa propôs fazer o pagamento em 18 parcelas mensais.

“O receio é que a empresa pague as primeiras parcelas e depois suspenda o pagamento, como já ocorreu em acordos anteriores fechados por outras empresas”, diz o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Érlon Souza.

Conjuntura difícil

A situação da indústria paulista se repete em todo o País. Além do encerramento das atividades de empresas de pequeno porte, grandes grupos fecharam unidades consideradas menos produtivas e concentraram a produção em outras mais modernas, quase sempre sem levar a mão de obra.

A fabricante de pneus Pirelli anunciou em maio o fechamento da unidade de Gravataí (RS) e a demissão dos 900 funcionários. A produção de pneus de motos será unificada à de pneus para carros em Campinas (SP) onde serão geradas 300 vagas ao longo de três anos. A empresa alega necessidade de reestruturação “tendo em vista o cenário conjuntural difícil do País”.

Entre as empresas que fecharam fábricas este ano estão PepsiCo/Quaker (RS), PepsiCo/Mabel (MS), Kimberly-Clark (RS), Nestlé (RS), Malwee (SC), Britânia (BA) e Paquetá (BA). No ABC paulista, a autopeça Dura informou em janeiro que fecharia a fábrica em maio e demitiria 250 funcionários. Após greve e negociações envolvendo a prefeitura de Rio Grande da Serra e o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, a medida foi adiada.

Empregados ‘abandonados’

José Marques da Silva, 22 anos de casa; Ademir Francisco Santos, 18 anos; Célio Florêncio Nogueira, 13 anos; Nelson Franco de Oliveira, 12 anos; e José Maria da Silva, 4,5 anos, chegaram ao trabalho no dia 28 de janeiro, ocuparam os postos e ligaram as máquinas, com outros 45 funcionários da Lustres Projeto, na zona sul de São Paulo. Após duas horas, descobriram que os donos tinham abandonado o negócio, deixando equipamentos e veículos no local.

Passados mais de cinco meses, suas carteiras de trabalho continuam assinadas, o que os impede de sacar o FGTS, de receber salário-desemprego e de conseguir outro emprego.

“Apareceu um serviço em uma metalúrgica no bairro da Lapa, mas, quando viram a carteira, não quiseram contratar porque não foi dada baixa”, afirma Santos, de 59 anos. Ele era torneiro repuxador e levantava todos os dias às 3h40 para chegar ao trabalho às 6h30, pois mora em Francisco Morato. Hoje, sem salário, diz estar “com o nome sujo” por dívidas com o cartão de crédito.

Oliveira, de 55 anos, aguarda a liberação do FGTS para voltar com a família para o Piauí, de onde saiu em 1985 em busca de trabalho. “Minha intenção era ficar, mas agora São Paulo está tão ruim quanto o Piauí; a diferença é que lá o aluguel é mais barato”, diz o ex-motorista. Casado e pai de duas meninas, de 4 e 11 anos, ele aproveitou o tempo parado para aprender um novo ofício que vai exercer no Piauí: afiação de alicates de unha.

É fazendo bicos, assim como a mulher, que presta serviços de manicure em casa, que tem conseguido pagar o aluguel, de R$ 800 mensais, e comprar alimentos. Ele vendeu o Corsa 1998, mas diz que a reserva financeira está no fim. “A gente está amarrado aqui há cinco meses; se demorar muito para liberar a carteira, só Deus sabe o que acontecerá.”

Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, a tradicional fábrica de lustres e luminárias, aberta há 40 anos, foi vendida em 2017 e, desde então, a situação só piorou. “Já não depositavam o FGTS havia dois anos e os novos donos continuaram a não depositar”, relata Silva, de 44 anos, o mais antigo funcionário do grupo. Subencarregado de expedição, ele vive com dois filhos, de 5 e 11 anos, e a mulher, que trabalha como auxiliar administrativa e banca os gastos da família.

Um grupo de 27 trabalhadores entrou na Justiça por meio do sindicato para conseguir a baixa da carteira e pelo menos receber o FGTS e o salário-desemprego. “Já tivemos duas audiências e a terceira, marcada para 3 de julho, foi remarcada para 2 de setembro”, diz Silva. “Fomos abandonados há cinco meses e ainda teremos de esperar mais dois, sem ter certeza de que os juízes vão nos atender.”

O faxineiro José Maria, de 55 anos, mora sozinho na comunidade de Heliópolis e aceita bicos como pedreiro, encanador, eletricista “ou qualquer outra coisa”, mas diz que está difícil conseguir serviço. Ele também veio do Piauí há 30 anos e sempre trabalhou na área de limpeza. “Essa é a situação mais difícil que já passei na vida.” Ele ajuda nos estudos do filho, de 21 anos, que quer “ver formado”.

“Tenho enviado currículos, mas sem carteira liberada ninguém aceita”, diz Nogueira, soldador, de 57 anos. Renan de Aquino, empregado por 11 anos, conseguiu a baixa na carteira e recebe salário-desemprego. O dono da Projeto não foi localizado.

Usina fechada abala Sud Mennucci

Anunciado em maio, o encerramento das atividades da Usina Santa Adélia Pioneiros, instalada há mais de 40 anos em Sud Mennucci, interior de São Paulo, já tem impacto na economia local. Produtora de açúcar, etanol e bioenergia, é a única grande indústria e a maior empregadora privada da cidade de 7,7 mil habitantes. Com o fechamento previsto para o fim de 2020 serão extintos 140 empregos na planta industrial e parte dos 500 do canavial.

Segundo o prefeito Julio Cesar Gomes (MDB), apesar do cronograma prever a continuidade das operações em duas safras, a produção de açúcar já foi encerrada. “Eles continuam produzindo etanol e bioenergia, mas já houve redução de mão de obra.” As operações serão transferidas para a usina de Pereira Barreto, a 50 km de distância. Empresas terceirizadas que atuavam no transporte de cana foram dispensadas.

Gomes prevê impacto “monstruoso” na economia local. “Vamos ter uma perda significativa nos repasses de ICMS pelo Estado, incidente sobre a produção direta da usina, e também no ISS que as terceirizadas e oficinas pagam ao município.”

O comércio também será afetado. “Mesmo que parte dos funcionários seja reaproveitada em Pereira Barreto, muitos vão passar a consumir lá. Já perdemos a oficina que fazia a manutenção da frota”, diz Gomes.

O prefeito e lideranças da Câmara tentaram reverter o fechamento, mas não conseguiram. “Eles apontam a crise que afeta a economia e o setor sucroalcooleiro, mas garantiram que vão transferir parte dos funcionários. Também prometeram manter trabalhadores rurais, pois o

cultivo da cana será mantido. Tenho dúvida, pois aos menos três fazendas arrendadas para o plantio foram devolvidas.”

Gomes busca um plano B para evitar o colapso da economia. “Conseguimos incluir Sud Mennucci na relação de Municípios de Interesse Turístico do Estado e apostamos no turismo, pois estamos na beira de um Rio Tietê totalmente limpo, com belas prainhas. Um frigorífico que estava parado havia 15 anos está reabrindo e deve absorver 50 empregados. Também há investimentos na citricultura, o que implicará mais empregos no meio rural.”

A Santa Adélia também tem usina em Jaboticabal, onde fica sua sede. O grupo atua no setor desde 1937 e foi um dos primeiros a aderir ao Proálcool nos anos 70. Em nota, informa que unificará a produção do polo noroeste em Pereira Barreto, “focada na melhoria da produtividade e eficiência operacional”. Segundo a empresa, o volume de moagem na região será mantido.

 

FAMÍLIA DALLAGNOL: DE LATIFÚNDIOS A INDENIZAÇÕES MILIONÁRIAS DO INCRA

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FAMÍLIA DALLAGNOL: DE LATIFÚNDIOS A INDENIZAÇÕES MILIONÁRIAS DO INCRA

Avô e pai do procurador têm histórico de participação em conflitos de terra, desmatamento e loteamentos ilegais

CARTA CAPITAL – A história oficial do procurador Deltan Dallagnol destaca a participação dele e de seu pai, Agenor, na Igreja Batista. Procurador de Justiça aposentado do Paraná, Dallagnol pai é também o fio da meada de outro enredo da família: a participação em conflitos de terra, desmatamento, loteamentos ilegais e o pagamento de indenizações milionárias por desapropriações pelo Incra em dezembro de 2016, durante o governo de Michel Temer.

No início dos anos 80 do século passado, Sabino Dallagnol, avô de Deltan, e os filhos adquiriram terras no município de Nova Bandeirantes, noroeste de Mato Grosso. Como muitos gaúchos e paranaenses, aproveitaram o apoio da ditadura para comprar a preços módicos grandes extensões de terras na Amazônia Legal.

Agenor e Vilse Salete Martinazzo Dallagnol, mãe do procurador, adquiriram terras, mas continuaram no Paraná. Outros irmãos de Agenor, como Xavier Leonidas e Leonar, conhecido pelos moradores de Nova Bandeirantes como Tenente, mudaram para o município, a 980 quilômetros de Cuiabá e a 2,5 mil quilômetros de Pato Branco, onde, em 1980, nasceu Deltan. Sabino tornou-se nome de rua na cidade – endereço de uma corretora de imóveis da família.

Formado em Direito, assim como o irmão Agenor e depois o sobrinho Deltan, Xavier tornou-se o advogado dos negócios da família em Mato Grosso. Ele tem um escritório em Cuiabá, do qual é sócia a filha, Ninagin Prestes, também advogada. E irmã de Belchior Prestes. Os filhos igualmente se tornaram donos de terras na região. E, da mesma forma, protagonizam a disputa a envolver o Incra. A gleba Japuranã, em Nova Bandeirantes, é uma das regiões onde os Dallagnol têm terras. A família e outros proprietários ofereceram uma parte da área ao Incra, para receber sem-terra em regime de comodato, em meados dos anos 1990. Desde então, o clã e outros proprietários brigam na Justiça por indenização.

A pendenga também emperra a situação de quem vive nos 67 mil hectares da gleba. Atualmente, 425 famílias ainda lutam pela regularização de seus terrenos, cerca de metade dos moradores do local. Em dezembro de 2016, no primeiro ano do governo Temer, Ninagin Dallagnol – a prima, filha de Xavier – recebeu 17 milhões de reais como indenização pela desapropriação de suas terras.

A indenização para Belchior, o irmão, foi de 9,5 milhões. A mãe dos filhos de Xavier, Maria das Graças Prestes, recebeu um valor mais modesto, 1,6 milhão. O próprio pai de Deltan, Agenor, foi indenizado na mesma liberação. Recebeu 8,8 milhões. No total, foram 36,9 milhões pagos à família.

Loteamento ilegal

Não é só na disputa com o Incra que os Dallagnol mostram a sua face de especuladores de terras. Xavier e o irmão Leonar, o Tenente, foram alvo de um inquérito em Nova Monte Verde, município próximo de Nova Bandeirantes, por loteamento ilegal de terras. Os dois foram beneficiados pela prescrição. Tenente chegou a receber o título de cidadão honorário de Nova Bandeirantes, oferecido pela Câmara Municipal diante de sua “bravura” e da condição de “ilustre colonizador” e “grande desbravador”. Tenente já foi acusado de invadir terras de outros proprietários no município, ao lado de personagens como Laerte de Tal, Pedro Doido e Nego Polaco.

Os dois irmãos, Xavier e Tenente, foram flagrados por desmatamento irregular. Tenente assinou um termo de ajustamento de conduta com o Ministério Público Estadual de Mato Grosso por degradação do meio ambiente em 2010. Xavier e a mulher, Maria das Graças, foram autuados pelo Ibama por desmatamento ilegal, ambos em 2017.

Como advogados, Xavier e a filha Ninagin atuam na defesa de grandes proprietários rurais envolvidos em grilagem, desmatamento e até trabalho escravo. “De Olho nos Ruralistas” contará essas e outras histórias nos próximos dias, em uma série sobre a família – em suas conexões com os temas agrários. As reportagens serão divulgadas, em primeira mão, no site de CartaCapital.

Deltan Dallagnol não quis se manifestar sobre o assunto, segundo a assessoria de imprensa do Ministério Público Federal no Paraná. Xavier Dallagnol, principal pivô das disputas em Mato Grosso, foi procurado em seu escritório, mas não atendeu aos pedidos de esclarecimento até o fechamento desta matéria.

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MICHEL TEMER: “BOLSONARO NÃO SAIU DA LINHA PRÉ-TRAÇADA NO MEU [GOVERNO]”

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MICHEL TEMER: “BOLSONARO NÃO SAIU DA LINHA PRÉ-TRAÇADA NO MEU [GOVERNO]”

Sob olhar de Temer, Bolsonaro comemora faixa de Presidente (Agência Brasil)

Após tomar o poder em um processo de conluio com o Congresso, capitaneado à época por Eduardo Cunha, Temer disse ainda que “não tem a concepção política equivocada de tentar destruir o governo anterior”

Ex-presidente, que se articulou e se beneficiou diretamente do golpe parlamentar que resultou na queda de Dilma Rousseff (PT), Michel Temer (MDB) disse, em entrevista à BBCnesta segunda-feira (22), que avalia “positivamente” o governo Jair Bolsonaro (PSL) por “dar sequência” àquilo que ele começou.

“O governo Bolsonaro não saiu da linha pré-traçada no meu. E por isso, digamos assim, eu posso falar positivamente em relação ao governo que ele está fazendo”, disse Temer, após enumerar “méritos” seus, como “a reforma trabalhista, a reforma do Ensino Médio, a recuperação das estatais” e colocar a reforma da Previdência como fundamental para o país.

Após tomar o poder em um processo de conluio com o Congresso, capitaneado à época por Eduardo Cunha, Temer disse ainda que “não tem a concepção política equivocada de tentar destruir o governo anterior”.

“Sabe o que é, nós temos muito no Brasil essa concepção política equivocada que é tentar sempre destruir o governo anterior. Eu não faço isso em relação a nenhum governo”.