MORO JÁ É VISTO COMO ‘INGRATO’ POR BOLSONARO E ESTÁ EM BAIXA NO GOVERNO

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MORO JÁ É VISTO COMO 'INGRATO' POR BOLSONARO E ESTÁ EM BAIXA NO GOVERNO

Brasil247 – O que azedou a relação de Jair Bolsonaro com o ministro Sergio Moro foi a tentativa do ex-juiz de reverter a decisão do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, que vetou ações do Coaf sem autorização judicial e fez cessar as investigações contra o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).

O prestígio do ministro Sergio Moro em Brasília já não é mais o mesmo em Brasília, segundo aponta a jornalista Mônica Bergamo, em sua coluna.  “O ministro Sergio Moro, da Justiça, está em baixa no Palácio do Planalto. Uma parte do núcleo duro do governo passou a fazer críticas a ele —em especial depois que o ex-juiz conversou com o ministro Dias Toffoli, do STF (Supremo Tribunal Federal), sobre o Coaf, (Conselho de Controle de Atividades Financeiras)”, diz ela.

“Toffoli decidiu suspender investigações do órgão feitas sem autorização judicial. A medida beneficiou diretamente o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro. Moro não deu declarações. Mas manifestou a Toffoli preocupação com a decisão, que poderia colocar em risco mecanismos de combate à lavagem de dinheiro”, afirma a jornalista.

Mônica Bergamo lembra ainda que o presidente do Coaf, Roberto Leonel, que é ligado a Moro e deve ser demitido, foi além e deu entrevista criticando Toffoli. “Na visão de integrantes do governo, Moro tenta reverter a medida e mostra que é ingrato”, diz a jornalista. Segundo fontes palacianas, o próprio Bolsonaro se irritou com Moro, pois foi solidário a ele no episódio da Vaza Jato.

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DONO DO ANTA-AGONIZA DIZ QUE DALLAGNOL CAIRÁ

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DONO DO ANTA-AGONIZA DIZ QUE DALLAGNOL CAIRÁ

PLANTÃO BRASIL – Nem mesmo Diogo Mainardi aposta na permanência do procurador Deltan Dallagnol no comando da Lava Jato. “A imprensa aliou-se à bandidagem e deve conseguir expulsar Deltan Dallagnol da Lava Jato. É uma das passagens mais infames da história do jornalismo”, escreveu ele, nesta quarta-feira.

Hoje, em parceria com o Intercept, o jornal El Pais revelou que Dallagnol tentou investigar clandestinamente o ministro Gilmar Mendes do Supremo Tribunal Federal. Confira o tweet de Mainardi e saiba mais a respeito:

Em parceria com o The Intercept Brasil, o portal El País Brasil revela que procuradores da Operação Lava Jato em Curitiba fizeram um esforço de coleta de dados e informações sobre o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, com o objetivo de pedir sua suspeição e até seu impeachment, numa ação completamente ilegal, pois, de acordo com a Constituição, os ministros do Supremo só podem ser investigados com autorização de seus pares.

Liderados por Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa, procuradores e assistentes se mobilizaram para apurar decisões e acórdãos do magistrado para embasar sua ofensiva, mas foram ainda além. Planejaram acionar investigadores na Suíça para tentar reunir munição contra o ministro, ainda que buscar apurar fatos ligados a um integrante da Corte superior extrapolasse suas competências constitucionais, de acordo com especialistas ouvidos pela reportagem. A estratégia contra Gilmar Mendes foi discutida ao longo de meses em conversas de membros da força-tarefa pelo aplicativo Telegram enviadas ao The Interceptpor uma fonte anônima e analisadas em conjunto com o EL PAÍS.

Na guerra aberta contra o ministro do Supremo, os procuradores se mostraram particularmente animados em 19 de fevereiro deste ano. “Gente essa história do Gilmar hoje!! (…) “Justo hoje!!! (…) “Que Paulo Preto foi preso”, começa Dallagnolno chat grupo Filhos do Januário 4, que reúne procuradores da força-tarefa. A conversa se desenrola e se revela a ideia de rastrear um possível elo entre o magistrado e Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, preso em Curitiba num desdobramento da Lava Jato e apontado como operador financeiro do PSDB.Uma aposta era que Gilmar Mendes, que já havia concedido dois habeas corpusem favor de Preto, aparecesse como beneficiário de contas e cartões que o operador mantinha na Suíça, um material que já estava sob escrutínio dos investigadores do país europeu.

“Vai que tem um para o Gilmar…hehehe”, diz o procurador Roberson Pozzobon no grupo, em referência aos cartões do investigado ligado aos tucanos. A possibilidade de apurar dados a respeito de um ministro do Supremo sem quereré tratada com ironia. “vc estara investigando ministro do supremo, robinho.. nao pode”, responde o procurador Athayde Ribeiro da Costa. “Ahhhaha”, escreve Pozzobon. “Não que estejamos procurando”, ironiza ele. “Mas vaaaai que”. Dallagnol então reforça, na sequência, que o pedido à Suíça deveria ter um enfoque mais específico: “hummm acho que vale falar com os suíços sobre estratégia e eventualmente aditar pra pedir esse cartão em específico e outros vinculados à mesma conta”, escreve. “Talvez vejam lá como algo separado da conta e por isso não veio” (…) “Afinal diz respeito a OUTRA pessoa”. A força-tarefa de Curitiba tem dito que não reconhece as mensagens que têm sido atribuídas a seus integrantes e repetiu à reportagem que o “material é oriundo de crime cibernético e tem sido usado, editado ou fora de contexto, para embasar acusações e distorções que não correspondem à realidade”.

Nas mensagens, tudo começa porque Dallagnol comenta saber de “um boato” vindo da força-tarefa de São Paulo (FT-SP) de que parte do dinheiro mantido por Paulo Preto em contas no exterior pertenceria a Mendes. “Mas esse boato existe mesmo?”, pergunta o procurador Costa. “Pessoal da FT-SP disse que essa info chegou a eles”, responde Julio Noronha em referência aos colegas paulistas. Procurada, a assessoria de imprensa do FT-SP afirmou que “jamais recebeu qualquer informação sobre suposto envolvimento de Gilmar Mendes com as contas no exterior de Paulo Vieira de Souza”. E também que “se recebesse uma informação a respeito de ministro do STF, essa informação seria encaminhada à PGR [Procuradoria Geral da República]”. E que “jamais passaria pela primeira instância para depois ir para a PGR”.

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GILMAR: MENSAGENS DE DALLAGNOL E MORO JÁ PODEM SER PERICIADAS

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GILMAR: MENSAGENS DE DALLAGNOL E MORO JÁ PODEM SER PERICIADAS

Brasil247 – O ministro Gilmar Mendes afirmou na noite desta terça-feira que “já se pode fazer perícia” no STF das mensagens trocadas entre os protagonistas da Lava Jato, em especial Deltan Dallagnol e Sérgio Moro; Gilmar refereiu-se aos membros da Lava Jato como “delinquentes” e disse crer que todas as mensagens divulgadas pela Vaza Jato são autênticas.

O ministro Gilmar Mendes afirmou na noite desta terça-feira (6) que “já se pode fazer perícia” no STF das mensagens trocadas entre os protagonistas da Lava Jato, em especial Deltan Dallagnol e Sérgio Moro; Gilmar refereiu-se aos membros da Lava Jato como “delinquentes” e disse crer que todas as mensagens divulgadas pela Vaza Jato são autênticas.

O ministro do Supremo conversou com o jornalista Josias de Souza. Já há, segundo Gilmar, na Corte duas cópias do material da Vaza Jato no STF. A primeira cópia foi solicitada à Justiça Federal pelo ministro Luiz Fux a pedido do PDT, que recorreu ao Supremo para afastar o risco de destruição das mensagens. A segunda foi requerida pelo ministro Alexandre de Moraes, relator de inquérito secreto aberto no Supremo em março, a para apurar ataques à Corte e aos seus membros. Segundo Gilmar, Ricardo Lewandowski deve requisitar outra cópia, para anexar em processo que está sob sua relatoria.

Gilmar acredita que todas as mensagens divulgadas até agora são autênticas, o que poderá ser atestado em definitivo pela perícia. Entre as mensagens já divulgadas há um áudio de Deltan. “‘Se tiver mensagem sonora, eles podem até se submeter a um teste de voz. É uma grande chance para desmentir, para dizer que não são eles’, ironizou o magistrado”. segundo Josias de Souza.

Gilmar afirmou que as investigações decorrentes da trama ilegal entre os membros da Lava Jato são ilegais: “De fato, é evidente que o juiz [Moro] estava combinando com o procurador [Deltan]. Eles estavam atuando como juiz e bandeirinha. Isso é evidente. Basta olhar”. Para ele, “do ponto de vista processual, o Moro era o chefe da Operação. Era isso” -o que é uma ilegalidade grave, pois como magistrado, Moro jamais poderia ter comandado a Lava Jato.

Gilmar reiterou que, “em princípio”, a Segunda Turma do Supremo “pode discutir sobre o uso dessas mensagens de origem ilícita no julgamento do caso de Lula”, e confirmou que os ministros irão julgar em breve a suspeição de Moro no julgamento do caso do tríplex.

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NARCOTRÁFICO E GUERRA ÀS DROGAS IMPULSIONAM HOMICÍDIOS NAS REGIÕES NORTE E NORDESTE

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NARCOTRÁFICO E GUERRA ÀS DROGAS IMPULSIONAM HOMICÍDIOS NAS REGIÕES NORTE E NORDESTE

Paraíba é exceção: há 7 anos os índices de homicídio estão em queda. / Agência Brasil

Atlas da Violência 2019 analisou índices de violência em 310 municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes

Lu Sudré | Brasil de Fato | São Paulo (SP) – A expansão das rotas e do comércio de cocaína para o Norte e o Nordeste do Brasil e a consequente disputa entre facções criminosas pelo controle desse mercado fizeram explodir a taxa de homicídios nas duas regiões nos últimos anos.

O dado foi apresentado pelo “Atlas da Violência 2019 – Retratos dos municípios brasileiros”, lançado nesta segunda-feira (5) com informações sobre os homicídios no Brasil em 2017.

Organizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o levantamento analisou 310 municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes.

Segundo o Atlas, das 20 cidades mais violentas do país, 18 estão no Norte e Nordeste. A série histórica iniciada em 2017 mostra que essas regiões já concentravam índices maiores de homicídios, em relação às respectivas populações. Mas, a partir de 2014, enquanto as taxas do Centro-Oeste, do Sul e do Sudeste decresceram ou ficaram estáveis, as do Norte e Nordeste sofreram progressivos aumentos, alcançando quase 50 por mil habitantes nos dois casos em 2017.

No referido ano, o município mais violento do país foi Maracanaú, no Ceará, com com 145,7 homicídios por 100 mil habitantes. Em segundo lugar está Altamira, no Pará, onde 62 detentos foram assassinados na semana passada, após rebelião no Centro de Recuperação Regional. O município registrou a taxa de 133,7 mortes a cada 100 mil habitantes. Em terceiro lugar está São Gonçalo do Amarante, no Rio Grande do Norte, que no ano retrasado registrou  uma taxa de 131,2 homicídios a cada 100 mil habitantes.

De acordo com informações do Atlas, o crescimento da letalidade nas regiões Norte e Nordeste nos últimos dois anos pode ter sido influenciado pela guerra deflagrada em 2016 entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV). A busca das facções criminosas por novos mercados e aumento dos lucros no negócio de cocaína, de acordo com o documento, fomentou a expansão geoeconômica do tráfico.

“O que há de comum nessas regiões é, primeiro, uma carência enorme no processo de desenvolvimento humano. Muita desigualdade, muita falta de oportunidade para crianças e jovens. O segundo ponto é que essas regiões estão exatamente na rota do tráfico internacional de drogas. Existe uma presença muito forte, não só das duas maiores facções, mas de outras inúmeras facções locais que nasceram lá e estão disputando territórios. Isso gera muitas mortes”, explica Daniel Cerqueira, pesquisador do Ipea e coordenador do estudo.

Segundo ele, o Atlas demonstra que os altos índices de violência estão relacionados com a falta de desenvolvimento humano nestas regiões.

“Quando analisamos as condições sociais e de desenvolvimento humano nesse conjunto de municípios, verificamos que é sempre pior, seja em relação à habitação, ao saneamento, à educação infantil, educação jovem, oportunidade do mercado de trabalho. A taxa de homicídio nos municípios mais violentos é 15 vezes maior. É a distância entre Brasil e alguns países da Europa. Então, na verdade temos dois Brasis dentro do Brasil. É um verdadeiro abismo em termos de desenvolvimento humano”, compara.

Cerqueira cita que as cidades mais violentas, como Maracanaú e Altamira, têm, em média, 60% da taxa de atendimento escolar das menos violentas. Já a média percentual de jovens entre 15 e 24 anos que não estudavam, não trabalhavam e eram vulneráveis à pobreza em 2017, era quatro vezes maior no conjunto dos municípios mais violentos. Ou seja, quando o Estado diminui os investimentos sociais, torna-se incapaz de prevenir a violência nesses territórios e acaba colaborando para o aumento dos dados de violência, porque recorre à ostensividade – prolongando, assim, a chamada “guerra às drogas”.

Políticas públicas

Além da questão socioeconômica e das mazelas sociais que atingem a região Norte e Nordeste, na opinião do coordenador do estudos, as políticas públicas na área da segurança pública são insuficientes.

“Temos políticas públicas que não são comprometidas com as vidas das pessoas. Que reproduzem a política ineficaz e obsoleta que temos, que têm sido feitas desde o Brasil Colônia, que é colocar polícia na rua e ver no que dá. Não se pensa políticas públicas”, desaprova.

Cerqueira menciona como exceção o caso do estado da Paraíba, onde há 7 anos os índices de homicídio estão em queda. Ele relata que as últimas gestões do governo estadual fizeram um planejamento prévio para identificar quais são os territórios vulneráveis e desenvolveram políticas que mudaram a forma de atuação das forças policiais.

Em vez de policiamento ostensivo nas ruas, o investimento em inteligência policial somado à ações no campo social para crianças e jovens ajudaram na redução da violência.

Outro dado alarmante divulgado pelo estudo refere-se à concentração de mortes. Em 2017, 50% dos homicídios do país foram registrados em apenas 2,1% dos municípios brasileiros. Isso quer dizer que, entre os 5.570 municípios brasileiros, 120 concentraram 32.801 mil mortes.

Discurso de ódio

Em meio a uma conjuntura política e social de ascensão da violência e do discurso pró-armas, incentivado pelo governo Bolsonaro, o pesquisador do Ipea acredita que é preciso estabelecer um diálogo com a população geral sobre quais políticas devem ser desenvolvidas.

“É o desafio de explicar para a população que esse discurso irresponsável de vamos dar armas para todo mundo, ‘vamos dar tiro na cabecinha’, ‘vamos exterminar bandidos, eles serão mortos que nem baratas’, só jogará mais lenha na fogueira da violência e da insegurança para todos”, alerta.

“Já experimentamos essa barbárie como um meio de política pública e não funciona. Segurança pública não se faz com brutalidade, se faz com inteligência, com ações focalizadas, com planejamento e boa gestão”, conclui Cerqueira.

Edição: João Paulo Soares

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AGROTÓXICOS: 44% DOS PRINCÍPIOS ATIVOS LIBERADOS NO BRASIL SÃO PROIBIDOS NA EUROPA

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AGROTÓXICOS: 44% DOS PRINCÍPIOS ATIVOS LIBERADOS NO BRASIL SÃO PROIBIDOS NA EUROPA

Dos 353 princípios ativos de pesticidas autorizados no Brasil, 155 ou 44% são proibidos na União Europeia / (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Estudo evidencia discordância quanto ao uso de venenos; impasse pode prejudicar acordo comercial entre UE e Mercosul

Lu Sudré | Brasil de Fato | São Paulo (SP) – Quase metade dos princípios ativos de agrotóxicos liberados em território brasileiro são proibidos em países da União Europa. É o que mostra levantamento organizado por Gerson Teixeira, ex-presidente da Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra), publicado no fim de julho.

Nem todos os 497 princípios ativos autorizados no Brasil são passíveis de comparação com o quadro Europeu. Isso porque 65 deles referem-se a substâncias derivadas e outros 79 não estão classificados pelas agências de saúde de lá.

Dos 353 princípios que sobram, 194 também são liberados nos países da União Europeia; e 155 são proibidos (44% do total).

Entre a substâncias liberadas aqui e não autorizadas lá, 22 (ou 14,2%) são completamente banidas na Europa. Outros quatro princípios ainda estão sob análise, de acordo com o levantamento.

“Enquanto todos os países estão tentando ser mais restritivos aos agrotóxicos, no Brasil vamos na contramão. Estamos flexibilizando cada vez mais. Não foi à toa que a atual ministra Tereza Cristina, quando deputada, presidiu a comissão especial que aprovou o chamado PL do Veneno, que escancara o Brasil dos agrotóxicos”, analisa Teixeira, assessor parlamentar do PT na Câmara, sobre o Projeto de Lei (PL) 6.299/2002.

O “PL do Veneno” prevê que os órgãos de controle levem menos tempo para analisar e autorizar o uso de um agrotóxico importado. O projeto já foi aprovado em Comissão Especial da Câmara dos Deputados e agora será votado em Plenário.

Flexibilização desenfreada

Já a nova classificação de agrotóxicos adotada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no mês de julho, segundo o especialista, é evidência inquestionável sobre o abrandamento da legislação. A agência é a responsável por fiscalizar o uso dos agrotóxicos no país.

Até então regulada por uma legislação de 1989 que previa a existência de quatro categorias segundo o nível de perigo oferecido pelos pesticidas, agora a sistematização dos produtos  passou a ter cinco divisões: extremamente tóxico, altamente tóxico, moderadamente tóxico, pouco tóxico e improvável de causar dano agudo.

Antes da mudança, 800 agrotóxicos, em média, pertenciam à categoria “extremamente tóxicos”, em um universo de cerca de 2300 – aproximadamente 34,7%. A nova tabela, divulgada pela Agência na semana passada, classifica apenas 43 como “extremamente tóxicos”, o que equivale a 2,2% dos 1924 produtos analisados.

“O que eles fazem é uma abordagem do tema a partir do interesse do fazendeiro, sem estar preocupado com o consumidor e muito menos com o meio ambiente”, comenta o ex-presidente da Abra, acrescentando que, em comparação com a Europa, o Brasil não tem o mesmo rigor em relação à fiscalização dos alimentos.

Pelas novas normas, agroquímicos antes considerados “altamente tóxicos”, podem passar para toxicidade moderada, enquanto os “pouco tóxicos” ficam liberados de classificação, ou seja, não apresentarão advertências no rótulo para o consumidor.

Na avaliação de Teixeira, a flexibilização tenta “relaxar” os padrões de preocupação da população. “Tanto o trabalhador rural quanto o fazendeiro irão aplicar abusivamente esse produto, acreditando que ele não tem a letalidade e periculosidade que tinha antes. Em um passe de mágica, com uma atitude burocrática, se reduz drasticamente o grau de toxicidade desses produtos”, ironiza.

A mudança na classificação da Anvisa favorece a política adotada pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), em defesa de mais agrotóxicos: desde sua posse, 290 agrotóxicos já foram liberados no país. Alan Tygel, da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, critica a política adotada pelo governo.

“O discurso do agronegócio é de que seria necessário liberar novos agrotóxicos mais rápido para retirar os antigos e mais perigosos do mercado. O problema é que a realidade nos mostra um quadro totalmente diferente: as 290 liberações de agrotóxicos ocorridas neste ano são de substâncias antigas, sendo que 33% são proibidas na União Europeia”, denuncia Tygel, com base em outro levantamento, feito pela Campanha.

Ele explica que muitos produtos liberados no Brasil são banidos nos países de origem. O herbicida Atrazina, por exemplo, apesar de ser produzido pela Syngenta na Europa, teve seu registro cancelado no continente pela União Europeia.

Estudo publicado pela revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences em 2010, elaborado por pesquisadores da Universidade da Califórnia, comprovou que o agrotóxico é um potente disruptor endócrino, que desregula a produção de hormônios.

Além de contaminar as águas e afetar a saúde humana, o atrazina pode gerar transformações inesperadas no meio ambiente. A pesquisa em questão evidenciou que o herbicida levou à completa feminização de sapos-com-garras-africanos machos.

Segundo Tygel, para analisar a correlação de forças que pressionam a liberação de mais veneno, é preciso entender o papel que o Brasil ocupa no mercado internacional de produtos químicos. “Somos um imenso e lucrativo mercado, onde a regulação é fortemente influenciável pelos interesses das multinacionais agroquímicas. Após lucrar bastante com os agrotóxicos nos países de regulação mais restritiva, elas precisam seguir lucrando com as mesmas substâncias nos países de regulação mais frágil, até onde for possível”.

Como funciona na União Europeia?

O regulamento europeu que determina a autorização das substâncias ativas dos agrotóxicos foi aprovado em 2009, de acordo com o estudo de Teixeira. Substâncias nocivas à saúde humana, à saúde animal e às águas subterrâneas são vedadas.

Após uma longa tramitação com participação dos estados-membros e entidades da sociedade, as substâncias ativas são aprovadas por um período de 10 anos, podendo a aprovação ser revista a qualquer momento. Já as substâncias ativas classificadas como de baixo risco são aprovadas por 15 anos.

Caso tenha indicações de que um dos requisitos para a colocação no mercado deixou de ser cumprido, os estados podem rever a liberação a qualquer momento.

Impacto no acordo Mercosul x UE 

No último de junho deste ano, após 20 anos de negociação, os países do Mercosul e da União Europeia fecharam o acordo de livre comércio. Porém, o modo como os dois blocos tratam a questão dos pesticidas é um ponto sensível no tratado.

Isso porque a UE não abre mão da premissa de evitar o dano à saúde ou ao meio ambiente. Enquanto o princípio da precaução é regra na Europa, no Brasil é preciso comprovação de que o produto de fato é perigoso para que deixe de ser aplicado.

Países como Brasil e Estados Unidos se posicionaram contra as restrições europeias, alegando que a rigidez das normas podem causar dano ao comércio agrícola. Para o ex-presidente da Abra, o impasse entre os blocos pode incentivar um processo formal no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) ou até mesmo levar a UE a impor bloqueios comerciais.

“A União Europeia, de forma bastante apropriada, colocou que a qualquer tempo pode suspender importações alimentícias do Brasil, se suspeitar que o princípio da precaução na Europa está sendo afetado. Ou seja: Se há produtos com grau de contaminação por agrotóxicos com limite além do tolerado pela União Europeia, ela irá bloquear essas importações”, avalia Teixeira.

“Se os caras aqui acharem que vão poder envenenar a comida, as commodities agrícolas e vender facilmente para a Europa, não vão. Para quem tem a pretensão de liderança do comércio mundial, isso é um tiro no pé”, comenta, adicionando que uma grande reação como essa poderia frear a ofensiva do governo Bolsonaro pela ampla flexibilização dos agrotóxicos.

Na opinião de Teixeira, eliminar a competitividade para crescer na produção de commodities agrícolas é o grande objetivo da bancada ruralista. Ele afirma que, ainda que as subvenções na área da agricultura sejam grandes no Brasil, é menor em comparação com o Estados Unidos.

Neste cenário, para compensar a diferença, a articulação dos ruralistas visa reduzir o custo com os venenos. “No caso específico dos agrotóxicos, eles querem aumentar abusivamente a oferta para reduzir preço na busca pela competitividade. É isso que está por trás. Se há uma lógica econômica, é esse ponto que explica. São pessoas, via de regra, que não têm nenhum compromisso de saúde pública ou meio ambiente”.

Segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês), em 2016 o Brasil terminou o ano com uma fatia de 5,7% da produção de commodities mundial, abaixo apenas dos Estados Unidos, com 11%, e da Europa, com 41%.

Edição: João Paulo Soares

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EM BUSCA DE RECURSOS, CONSÓRCIO NORDESTE FARÁ GIRO PELA EUROPA EM NOVEMBRO

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EM BUSCA DE RECURSOS, CONSÓRCIO NORDESTE FARÁ GIRO PELA EUROPA EM NOVEMBRO

Os governadores de nove estados nordestinos reunidos durante o lançamento do consórcio, em julho / Foto: Ascom governo da Bahia

Bloco regional recém-criado busca investimentos e parcerias internacionais para obras de infraestrutura e tecnologia

Juca Guimarães | Brasil de Fato | São Paulo (SP) – O Consórcio Nordeste – entidade criada pelos nove governadores da região para formular estratégias comuns de gestão e desenvolvimento – fará em novembro sua primeira viagem internacional com o objetivo de obter recursos e parcerias.

Uma delegação da entidade deve visitar Itália, França, Alemanha e Espanha – com possibilidade de a viagem se estender até Rússia, China e Coreia do Sul. Nas rodadas de negócios, os governadores e seus representantes devem buscar financiamento para projetos de infraestrutura, como saneamento básico e tecnologia, por exemplo, redes de fibra ótica.

Para a vice-governadora do Ceará, Izolda Cela (PDT), a unidade regional demonstrada pelo consórcio deve ter grande poder atrativo sobre investidores estrangeiros. “A área de energia renovável, como a eólica e a solar, é um potencial muito forte nosso”, exemplifica.

Os nove estados do Nordeste (Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Maranhão e Piauí) têm um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 889 bilhões, o equivalente a cerca de 14% do PIB brasileiro – os últimos dados disponíveis do IBGE são de 2016. São quase 60 milhões de habitantes distribuídos por 1.794 cidades, cobrindo uma área de 1,5 milhão de quilômetros quadrados.

Apesar do crescimento econômico e da melhoria de condições de vida que marcaram a região durante os governos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), muitas áreas do Nordeste ainda apresentam baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) – situação que voltou a se agravar com o fim ou a paralisação de vários programas sociais nos últimos anos, sobretudo a partir da posse de Jair Bolsonaro (PSL).

O economista Pedro Rafael Lapa, ex-diretor de desenvolvimento do Banco do Nordeste e integrante da equipe do Consórcio, lembra que, além dos cortes e dos ataques a políticas essenciais, o atual governo também retirou as operações da Petrobras da região, causando um grande impacto negativo nas economias locais.

“É a única oportunidade que o Nordeste tem de entrar no processo de industrialização, pela via da cadeia produtiva de petróleo e gás. Houve um avanço com a presença da Petrobras no Nordeste, a partir de 2003. E desde 2016 há um recuo. A Petrobras anuncia, de maneira formal que está saindo do Nordeste porque o Nordeste não cabe no plano de negócio dela. Particularmente em Pernambuco isso é desastroso, porque ela atinge os três elementos principais do complexo portuário de Suape. O pólo petroquímico foi vendido, mas é uma maneira de dizer, porque ele foi doado por 10% do seu valor; o estaleiro Atlântico Sul já está parado e todo o sistema de distribuição do gasoduto do Nordeste já foi privatizado”, cita o economista.

Articulação

Lançado oficialmente no dia 29 de julho, com sede provisória em Salvador (BA) e presidido neste primeiro ano pelo governador baiano Rui Costa (PT), o Consórcio Nordeste também pretende otimizar instrumentos de gestão, como a realização de compras governamentais em conjunto, de maneira a reduzir preços por ganho de escala.

“Vamos fazer a nossa parte, já que o governo não acerta, a curto prazo, com a retoma do crescimento do país”, disse Rui Costa durante o lançamento da entidade.

A ação articulada deve trazer bons resultados para setores como a Saúde, segundo acredita o médico de família e professor universitário Aristóteles Cardona Júnior. Ele cita como exemplo um caso de Petrolina (BA).

“A gente tem um hospital universitário que é referência no tratamento de traumas de acidentes de trânsito para uma região que pega cidades da Bahia, de Pernambuco e Piauí. Normalmente, há uma briga, uma disputa muito grande sobre quem bota dinheiro, quem não bota, quem precisava botar mais, e não sei o quê. Aí o consórcio vem no sentido de ajudar neste diálogo para que, em conjunto, todos possam gastar melhor os recursos”, argumenta o médico.

Outra área que poderá ganhar com o consórcio, na avaliação da vice-governadora cearense, Izolda Cela, é a da segurança pública, a partir da troca de informações e tecnologias de combate à criminalidade.

Edição: João Paulo Soares

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PROTESTOS EM BRASÍLIA PRESSIONAM DEPUTADOS A VOTAR CONTRA A REFORMA DA PREVIDÊNCIA

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PROTESTOS EM BRASÍLIA PRESSIONAM DEPUTADOS A VOTAR CONTRA A REFORMA DA PREVIDÊNCIA

Trabalhadores durante protesto na porta da Câmara dos Deputados, em Brasília / Foto: Cristiane Sampaio

Nas prévias da votação de segundo turno da PEC 6, trabalhadores investem em visitas a gabinetes e abaixo-assinado

Cristiane Sampaio | Brasil de Fato | Brasília (DF) – Os protestos populares contra a reforma da Previdência continuam pressionando parlamentares na Câmara dos Deputados, em Brasília (DF). Na tarde desta terça-feira (6), um grupo de manifestantes se concentrou, com faixas e cartazes, nas proximidades do prédio da Casa para manifestar-se, mais uma vez, contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 6/2019. A medida tem previsão para ser votada em segundo turno no plenário nesta semana.

Para Roberto Giovani, da direção do Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário e do MPU no Distrito Federal (Sindjus-DF), a pressão pode ajudar a oposição a obter vitórias na tentativa de excluir trechos do texto da reforma. A entidade tem feito mobilização permanente junto a parlamentares, tanto no aeroporto de Brasília quanto nas proximidades da Câmara.

“Cada um tem que fazer a sua parte. Todo mundo está sendo atingido [pela PEC]. Vai atingir a gente, nossos filhos, netos. Primeiro, deveriam cobrar os devedores, que são vários, em quantias exorbitantes. Essa reforma, pra gente, é nefasta”, critica o dirigente.

Um grupo de trabalhadoras também se somou ao movimento para tentar chamar a atenção dos deputados. É o caso da presidenta da Confederação das Mulheres do Brasil, Gláucia Morelli, que destaca a preocupação do segmento com a rigidez das normas do texto da PEC 6.

Entre outras mudanças, o texto fixa, para elas, a idade mínima de 62 anos de idade e 15 de contribuição para ter direito à aposentadoria. Também exige 35 anos de contribuição ao INSS para se aposentar com 100% do benefício.

“Sempre que eles querem fazer alguma mudança, principalmente na economia, jogam mais pesado contra as mulheres. Nós temos que deixar um futuro pros nossos filhos e, no mercado de trabalho, já sofremos muita situação desigual, até pra se inserir no mercado. Lutamos muito contra a proposta de reforma do Temer, e derrotamos, porque a gente sabia que era pra tirar ainda mais direitos das mulheres. E agora estamos lutando muito mais contra essa reforma porque ela é mais perversa ainda”, disse ao Brasil de Fato.

Servidores de diferentes órgãos públicos têm investido no corpo a corpo com parlamentares na capital federal para pedir a rejeição da reforma. Entre outras coisas, eles têm visitado gabinetes e preparam um abaixo-assinado com cerca de 4 mil assinaturas de funcionários públicos do DF para entregar nos próximos dias à bancada distrital.

Os manifestantes também estão distribuindo, pela cidade, panfletos com os contatos dos deputados. A ideia é estimular a população a tensionar os representantes eleitos.

“É fundamental a pressão no parlamentar, seja via telefone, e-mail, WhatsApp ou pessoalmente, porque a única coisa de que o parlamentar tem medo é perder o apoio popular. Isso é uma forma de a gente lembrá-los de que, nas eleições, se eles forem candidatos de novo, vão ter esse tipo de explicação a dar a seus próprios eleitores”, afirma o servidor Rafael Teixeira.

Entre outras atividades, o ato desta terça-feira (6) exibiu banners com fotos de deputados de várias bancadas – como Tocantins, Maranhão e Piauí – que votaram pela PEC no primeiro turno. Nos próximos dias, os manifestantes também devem começar a procurar os gabinetes dos senadores, que irão apreciar o texto da PEC 6, caso ela seja aprovada pela Câmara neste segundo turno.

Edição: Rodrigo Chagas

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MANUELA D’ÁVILA EVITA WHATSAPP E FICA NA ESCÓCIA APÓS SER CITADA POR HACKER

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MANUELA D'ÁVILA EVITA WHATSAPP E FICA NA ESCÓCIA APÓS SER CITADA POR HACKER

Noticias Uol –  Após a revelação, no fim de julho, de que a ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) teria sido a ponte entre o hacker suspeito de violar telefones de centenas de pessoas, entre elas autoridades dos três Poderes, e o site The Intercept Brasil, a direção do PC do B interrompeu, pelo menos temporariamente, a estratégia pensada para ela –aproveitar a grande exposição obtida pela candidatura à vice-presidência na eleição do ano passado para consolidá-la como um nome forte do partido para 2020. O episódio, no entanto, obrigou a ex-deputada a se recolher.

Na última semana, Manuela parou de dar entrevistas e de interagir no aplicativo WhatsApp. Ela se impôs uma espécie de autoexílio na Escócia, onde faz curso de inglês, ao lado do marido e da filha. Seus advogados, José Eduardo Cardozo, ex-ministro da Justiça, e Alberto Toron, também têm fugido dos microfones.

A ideia é evitar que a ex-deputada vire protagonista do vazamento de diálogos entre procuradores e o atual ministro da Justiça, Sergio Moro, e que seu papel fique circunscrito ao que foi divulgado até agora: o de apenas intermediária entre o hacker Walter Delgatti Neto, o Vermelho, e o jornalista Glenn Greenwald.

No entorno de Manuela a ordem é protegê-la de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, que tentam usar o episódio para transformá-la no vínculo entre o hacker e o PT, já que foi candidata a vice de Fernando Haddad na eleição presidencial do ano passado.

Depois da eleição, a única missão partidária de Manuela foi se manter em evidência por meio de uma agenda que misturava feminismo, maternidade e combate às fake news– assunto que ganhou destaque na última disputa presidencial.

Pré-candidata a prefeita em Porto Alegre

No início do ano, o PC do B chegou a cogitar que ela transferisse o título eleitoral para São Paulo a fim de se lançar candidata à prefeitura da maior cidade do Brasil, onde ganharia ainda mais visibilidade e a possibilidade de marcar diferenças em relação ao PT. Mas Manuela rejeitou de pronto a ideia e se mantém como pré-candidata à Prefeitura de Porto Alegre, onde lidera as pesquisas de opinião.

Manuela está sem ocupar um cargo público pela primeira vez desde 2005, quando ganhou a sua primeira eleição como vereadora de Porto Alegre. Depois disso foi deputada federal por dois mandatos e deputada estadual pelo Rio Grande do Sul na legislatura que se encerrou no fim do ano passado.

Após a derrota no segundo turno, ela anunciou que estava abrindo uma loja de camisetas com frases políticas muito difundidas durante a eleição. Manuela disse que a ideia era que a venda financiasse seu novo instituto, o “E Se Fosse Você” –criado, segundo ela, para combater fake news e “redes de ódio”.

Essa foi a forma encontrada por Manuela para cumprir a tarefa partidária de se manter em evidência enquanto o PC do B articula seu futuro político. Além da ONG, a ex-deputada também viajou pelo Brasil para lançar o seu primeiro livro, intitulado Revolução Laura, com histórias e reflexões sobre suas experiências desde a chegada da filha, hoje com 4 anos. No segundo semestre, ela planeja lançar seu segundo livro, ainda sem título, sobre feminismo.

Volta da Escócia está indefinida

Segundo pessoas próximas à ex-deputada, o autoexílio tem prazo para terminar. Manuela deve voltar ao Brasil antes da reunião do comitê central do PC do B marcada para o dia 16, que deve ser transformada em um ato de desagravo e solidariedade à ex-deputada.

Às poucas pessoas com quem teve contato, ela tem demonstrado tranquilidade e confiança de que não cometeu crime nenhum. Formalmente ela não é investigada. Na semana que vem seus advogados vão entregar à Polícia Federal as mensagens que ela trocou com Vermelho no dia 12 de maio, quando o hacker invadiu seu celular.

Amigos dizem que ela pensou que a abordagem era uma armadilha preparada por adversários, até que Vermelho começou a enviar conteúdos das mensagens hackeadas. Mesmo assim, afirmaram, Manuela agiu com precaução e tentou se desvencilhar, indicando um jornalista de sua confiança.

Manuela já entregou à PF comprovantes das reservas de passagens e estadia na Escócia feitas bem antes do contato com Vermelho como provas de que não está fugindo do Brasil. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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INVERDADE E CONSEQUÊNCIAS

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INVERDADE E CONSEQUÊNCIAS

Brasil de Fato – O deboche contra vítimas da ditadura e o ataque aos dados científicos, o autoritarismo do governo vem se manifestando em diferentes setores / Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil.

Olá,

Por estratégia ou não, fato é que Bolsonaro conseguiu mais uma vez monopolizar o debate público ao colocar para fora toda sua falta de civilidade. Dessa vez, porém, a reação foi um pouco diferente e ultrapassou os muros da oposição ao governo. Isso no âmbito interno. Lá fora, é a Amazônia que vem alertando o mundo para a escalada autoritária, que nos confins do Brasil têm resultado em mais massacre contra os povos indígenas. Estes são alguns dos sete pontos para entendermos a semana. Vamos nessa.

1. Os limites da infâmia. Há algo no ar além dos aviões de carreira, diria o Barão de Itararé. Bolsonaro passou os últimos 30 anos ultrapassando qualquer limite de bom senso, homenageando torturadores, exaltando a ditadura e prometendo executar adversários, mas de repente, não mais que de repente, suas declarações passaram a incomodar parcelas consideráveis da grande imprensa e da classe política que, antes, não pareciam se importar.

Fato é que causaram asco os ataques de Bolsonaro ao presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, cujo pai, Fernando Augusto Santa Cruz, foi morto por agentes de Estado durante a ditadura, como demonstra farta documentaçãoignorada pelo presidente da República, cujo governo inclusive emitiu na semana anterior um atestado de óbito informando que Santa Cruz teve “morte não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro, no contexto da perseguição sistemática e generalizada à população identificada como opositora política ao regime ditatorial de 1964 a 1985”. A declaração, ao menos, serviu para que o MPF denunciasse o ex-delegado do Dops Cláudio Guerra por ocultação e destruição de 12 corpos, entre 1973 e 1975, incinerados em Campos, no Norte Fluminense. Entre eles, Fernando Santa Cruz. Até agora, Bolsonaro emitiu 230 declarações falsas ou distorcidas em 209 dias de governo. Após críticas da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, o governo trocou quatro membros, colocando como presidente um filiado do PSL que é acusado de beneficiar a mulher e a cunhada em um concurso de uma prefeitura catarinense.

A palavra impeachment apareceu com força. Até Dória, que abraçou o bolsonarismo gourmet, agora diz que nunca foi alinhado a Bolsonaro, num movimento que pode ser lido como uma ruptura ensaiada para 2022. Um dos autores do pedido de impeachment de Dilma, Miguel Reale Jr. afirmou que a declaração não é motivo para impeachment, mas sim para interdição. Como lembrou o jornalista Kennedy Alencar, Bolsonaro teria cometido um crime comum ou de responsabilidade, agindo de modo incompatível com a honra e o decoro do cargo, mesma avaliação de advogados ouvidos pelo UOL. Já cientistas políticos e juristas ouvidos pelo Nexo são menos otimistas: as falas são excessivas, mas a legislação é vaga e um impeachment é improvável.

A verborragia de Bolsonaro tem transitado por outros temas nas últimas semanas. “Sou assim mesmo, não tem estratégia”, disse ele em entrevista na quarta-feira (31). Pode ser verdade, mas este é apenas um dos cinco pontos levantados por Leonardo Sakamoto para entender as razões da língua solta: os outros motivos seriam uma tentativa de monopolizar a atenção durante o recesso do Congresso, desviar o foco de denúncias como o uso do avião da FAB por familiares e o próprio mau desempenho do governo, e por fim uma tentativa de manter o bolsonarismo raiz mobilizado. É uma avaliação que temos trazido com certa frequência aqui no Ponto. Para o professor da UERJ, Christian Edward Cyril Lynch, o único plano de Bolsonaro “é manter o domínio sobre 30% do eleitorado e se tornar uma espécie de Lula de direita nos próximos anos”, em entrevista ao El País que deve ser lida, mesmo com discordâncias.

Mas é difícil imaginar um cenário de desestabilização do governo Bolsonaro quando o mercado financeiro demonstra não se importar nenhum um pouco com o autoritarismo presidencial, na medida em que ele ainda está entregando o desmonte do Estado. Por outro lado, a verborragia presidencial pode resultar em uma dispersão da base de apoio no Congresso, como teme o próprio governo, e uma redução ainda mais drástica no apoio popular.

2. Glenn, Moro e Deltan. Em meio a onda verborrágica desta semana, Bolsonaro não poderia deixar de atacar o jornalista Gleen Greenwald, insinuando que o jornalista teria cometido crime, sem especificar qual. Nas redes sociais, a novidade do submundo bolsonarista é atacar a MÃE do jornalista, colocando em dúvida o fato de ela estar doente. Mas o jornalista não ficou nas cordas e recebeu a solidariedade de mais de três mil pessoas num ato organizado pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro. Com destaque para o vídeo de apoio de Rodrigo Maia, mais um procurando demonstrar distanciamento de Bolsonaro. A organização Repórteres sem Fronteiras também lançou um chamado internacional em defesa do jornalista e do The Intercept que recebeu a adesão de 26 organizações nacionais e internacionais.

Quando a gangorra vira para o lado de Glenn, cai para Sérgio Moro. O Ministério Público decidiu investigar se há ilegalidades na portaria que definiu as regras para deportação sumária de estrangeiros, enquanto 800 juristas publicaram um manifesto exigindo a imediata demissão de Moro. Moro também sofreu derrota no STF, onde Luiz Fux (“we trust”) determinou que as mensagens apreendidas com os supostos hackers sejam mantidas e preservadas sob controle do Supremo e não destruídas, como anunciou Moro. Decisão que foi repetida por Alexandre Moraes. Por outro lado, o professor Christian Cyril Lynch (UERJ)avalia que Moro aderiu definitivamente ao bolsonarismo, deixando a figura de juiz e se sentindo muito confortável como um prócer do bolsonarismo. Definitivamente investido da figura de político, Moro deve disputar algum cargo nas próximas eleições, mesmo que não seja de presidente, sugerem seus assessores, segundo O Globo.

Já o futuro do seu braço-direito Deltan Dallagnol parece ser menos auspicioso. As últimas revelações da Vaza Jato mostram que o promotor investigou o atual presidente do STF Dias Toffoli e sua esposa. Ministros do STF não podem ser investigados por procuradores da primeira instância, como Deltan. “Quem aposta que Toffoli cai até o fim da LJ?”, escreveu o todo poderoso inquisidor da Lava jato. A denúncia repercutiu mal, claro, e nos bastidores,Dias Toffoli e Gilmar Mendes avaliam que Dallagnol precisa ser punido exemplarmente. “Não se trata apenas de um grupo de investigação, mas de um projeto de poder”, declarou Gilmar Mendes. As denúncias também aumentam a pressão para que o Conselho do MP tome medidas punitivas contra Deltan, inclusive o afastamento das funções. Haveria uma articulação para o afastamento do procurador do comando da Lava Jato.

3. Mexendo com fogo. Mesmo com este cenário delicado e considerando que a educação foi o único tema capaz de levar as pessoas às ruas, o governo publicou um novo decreto de cortes no orçamento, somando mais de R$1,44 bilhões e, de novo, atingindo em cheio a educação, com R$ 348,5 milhões bloqueados. A pasta mais afetada foi a da Cidadania, que perdeu R$ 619,2 milhões. Outras áreas afetadas pelos cortes são investimentos em infraestrutura, ações de defesa agropecuária, emissão de passaportes, Farmácia Popular, fiscalização ambiental (Ibama), bolsas para atletas e aquisição e distribuição de alimentos para agricultura familiar. Se por um lado, os cortes estimulam a manifestação prevista para 13 de agosto em defesa da educação, por outro, podem obrigar indiretamente a adesão das instituições de ensino superior ao Future-se.

4. Estranhas transações no Paraguai. Enquanto isso, no Paraguai, o governo Bolsonaro quase causou o impeachment do presidente conservador de Abdo Benítez. Em menos de 24 horas o ministro das Relações Exteriores e três outros altos funcionários, incluindo o diretor de Itaipu renunciaram alegando o país estava sendo obrigado a assinar um acordo que prejudicaria os paraguaios e beneficiaria uma empresa ligada a família Bolsonaro. Segundo o jornal ABC Color, um braço direito do vice-presidente teria convencido autoridades a retirar um item do acordo impedindo o Paraguai de comercializar energia ao Brasil, porque era preciso “reservar o negócio” para a empresa Leros, supostamente “ligada à família presidencial” brasileira. O BuzzFeed revelou que a empresa foi representada na negociaçãopelo empresário Alexandre Giordano, suplente do senador Major Olímpio (PSL-SP)Procurado pela Piauí, o empresário negou as acusações. Na madrugada de quarta (31) para quinta(1.º), uma fração do próprio partido governista decidiu apoiar o pedido de impeachment, o que daria os votos necessários para o afastamento, mas no mesmo dia, o governo anunciou o cancelamento do acordo. A decisão deve frear o processo.

 5. Vamos vender nossos índios num leilão. No dia seguinte após a declaração de Donald Trump de que Estados Unidos e Brasil trabalham para um acordo de livre-comércio, o secretário de Comércio Exterior do Ministério da Economia, Marcos Troyjo, tratou de definir o futuro acordo como o mais “ambicioso e abrangente” possível com o país. Já Paulo Guedes afirmou que mais que um acordo, será uma “aliança estratégica”, mais profunda que um tratado comercial. Não à toa, no mesmo dia, Bolsonaro repetiu as mesmas críticas do governo americano ao acordo da União Europeia e Mercosul, aquele mesmo que há trinta dias, o governo celebrava ter assinado.

 Mas para que esperar um acordo, não é mesmo? O Poder 360 revela que o Ministério de MInas e Energia já está em tratativas com petroleiras como a Shell, Exxon Mobil e Total pelos excedentes da cessão onerosa do Pré-sal,com leilão previsto para novembro. Já a insuspeita Eliane Cantanhêde criticou que o governo é hostil com a União Europeia no tema do meio ambiente e da Amazônia, mas dócil para abrir a mineração em terras indígenas para os americanos.

As falas do presidente têm consequências: em Aquidauana, cem indígenas da etnia Kinikinaus, que reivindicavam a posse de uma área no município, foram retirados com truculência pela prefeitura (!) e por 130 policiais sem ordem judicial. Na prática, o discurso de Bolsonaro estimula a violência e dá carta branca aos desmatadores e grileiros, denuncia a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, como a declaração de que não há “nenhum indício forte” de que o cacique Emyra Wãiapi, de 68 anos, da terra Indígena Waiãpi (AP), tenha sido assassinado. Indígenas e a FUNAI apontam que o cacique foi assassinado por garimpeiros ilegais que atuam na reserva. A BBC Brasil reconstrói a situação da área e lembra que a defesa de Bolsonaro em liberar a exploração mineral em terras indígenas brasileiras coincide com a expansão do garimpo ilegal por vários desses territórios.

 A propósito, um levantamento feito pela Folha no sistema público de registros de multas do Ibama mostra que o número de multas por crimes contra a flora (desmatamento, comércio de madeira, incêndios, entre outros) caiu 23% nos seis primeiros meses do governo Bolsonaro, na comparação com a média registrada no mesmo período nos últimos cinco anos. Entre janeiro e junho de 2019, foram 5.826 autuações. No período, o ano com menor número de multas foi 2017 (Temer), com 7.051. No domingo (28), a destruição da Amazônia foi capa do New York Times, que deu o nome aos bois como não se faz na imprensa brasileira: o colapso ambiental e social na Amazônia se agravou com a chegada do presidente de extrema-direita. A mesma preocupação está na capa da revista The Economist. O que faz o governo? Acha melhor escamotear os dados sobre desmatamento na Amazônia, como faria a mais bem acabada ditadura de uma república bananeira.

6. A ditadura não chega de uma hora para outra. Não bastassem as ameaças contra um jornalista, o deboche contra vítimas da ditadura e o ataque aos dados científicos, o autoritarismo do governo vem se manifestando em diferentes setores, como noticiamos na edição passada. Nesta semana, por exemplo, ficamos sabendo que o ministro das Relações Exteriores censurou a publicação de um livro só porque o prefácio era assinado por Rubens Ricupero, um crítico de Ernesto Araújo. Na Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), Bolsonaro acabou nomeando reitor o terceiro colocado na votação da comunidade acadêmica. Bolsonaro já nomeou outros seis reitores, sendo que cinco foram primeiros colocados na lista tríplice e um, o segundo (UFTM). Os guardas da esquina também estão inspirados. Segundo o músico BNegão, conhecido por suas letras críticas, o show de sua banda em Bonito (MS) foi interrompido pela Polícia Militar.

 7. E a esquerda, hein? Sete meses de governo Bolsonaro e os movimentos sociais e a oposição no Congresso ainda não conseguem escapar da postura reativa para onde são empurrados com a enxurrada diária de retrocessos. A questão do impeachment de Bolsonaro provocou debates, mas não ganhou força. No Congresso, a avaliação de políticos do centrão é de que uma mobilização pelo impeachment ajudaria Bolsonaro, que teria um inimigo real para manter o combate. PCdoB e PSB tendem a concordar. Enquanto isso, o PT iniciará uma caravana no Nordeste a partir de agosto. Integrantes do partido torcem para que as mobilizações funcionem como “rastilho de pólvora”, unindo grupos e instituições atingidas pelas falas de Bolsonaro, informa o Painel da Folha de quarta (31). A principal agenda dos movimentos sociais e centrais sindicais está marcada para o dia 13 de agosto, quando acontecerá mais dia nacional de luta contra a Reforma da Previdência. Já a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) lançou a campanha #MoroMente, para explicar à população as irregularidades cometidas pelo então juiz no âmbito da Lava Jato. Um ato na USP está marcado para o dia 19. Se o problema é a falta de proposição da esquerda para contrapor o bolsonarismo, vale uma atenção especial ao recém criado Consórcio Nordeste, com a previsão de compras conjuntas para a região e uma versão regional do programa Mais Médicos.

 8. Ponto Final: nossas recomendações de leitura

 

    • O Bolsonarismo representa um projeto de punitivismo que ameaça a democracia vai além da figura de Jair Bolsonaro, analisa a antrópologa Isabel Kallil no Sul 21: “a sociedade brasileira, à medida que vai tolerando determinadas violações de direitos, vai de certa forma ampliando o espaço para que essas violações aconteçam. Elas são reiteradas e recebem apoio da sociedade. A ideia é que, para resolver os problemas, é preciso ter um Estado que puna as pessoas. Inclusive, alguns desses grupos acreditam que não é preciso sequer haver instituições”.

 

    • No El País, Eliane Brum discute as causas e consequências de uma epidemia que parece acometer grande parte da população. As pessoas estão “doentes de Brasil”, escreve a jornalista. “Há milhares, talvez milhões de pequenos gestos de conformação acontecendo neste exato momento no Brasil”, diz. É um texto que vem sendo muito compartilhado talvez porque as pessoas se sintam isoladas e se identifiquem com o texto. No final, a autora propõe: “Precisamos recuperar a palavra como mediadora em todos os cantos onde houver gente. E fazer isso coletivamente, conjugando o nós, reamarrando os laços para fazer comunidade. O único jeito de lutar pelo comum é criando o comum – em comum”.

 

 

    • Na semana em que 57 presos foram mortos em uma rebelião no Pará, o Podcast “Durma com essa” do Nexo discute os massacres em presídios e ouve especialistas sobre por quê as mortes violentas dentro de presídios geram pouca empatia em parte da opinião pública.

 

Obrigado por nos acompanhar até aqui. Você pode ajudar a ampliar o alcance do Ponto, encaminhando este e-mails aos seus contatos ou sugerindo a inscrição na newsletter. Bom fim de semana.

Edição: Pedro Ribeiro Nogueira

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ESQUERDA APOSTA EM AÇÃO DE GOVERNADORES DO NORDESTE E FRENTE AMPLA NA OPOSIÇÃO A BOLSONARO

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ESQUERDA APOSTA EM AÇÃO DE GOVERNADORES DO NORDESTE E FRENTE AMPLA NA OPOSIÇÃO A BOLSONARO

Brasil247 – Os governadores da região Nordeste são vistos pela esquerda como o principal núcleo de oposição ao governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro e estão no centro da eleição interna do Partido dos Trabalhadores (PT), que se conclui até novembro com a realização do 7º Congresso da sigla.

Os  governadores da região Nordeste são vistos pela esquerda como o principal núcleo de oposição ao governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro e estão no centro da eleição interna do Partido dos Trabalhadores (PT), que se conclui até novembro com a realização do 7º Congresso da sigla.

Em documento interno, a corrente majoritária do PT, “Constriindo um Novo Brasil – CNB” diz que o recém-criado consórcio dos governadores da região deve ser apoiado “com entusiasmo”.

“São os principais depositários do extraordinário legado de desenvolvimento com justiça social do período em que governamos o país”, diz o texto, segundo informa a coluna Painel da Folha de S.Paulo.  O documento defende uma aliança ampla contra o governo Bolsonaro, unindo “todos os que acreditam na democracia”.

A posição foi defendida também pela presidenta petista, Gleisi Hoffmann, nesta segunda-feira (5), em reunião nacional da Frente Brasil Popular, realizada em São Paulo.

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