Mas ela destaca também que “o Brasil não tem direito, como nona maior economia do mundo, a ter expectativas baixas quanto a suas escolas”. E lembra que o o ensino da cultura digital faz parte da Base Nacional Curricular Comum, documento que define as competências principais que as crianças devem aprender na educação básica brasileira e que prevê que todos devem ser capazes de “comunicar-se, acessar e produzir informações e conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria”.
Carência de aparelhos, de wi-fi e de comida
De volta ao Jardim São Luís, em São Paulo, Vânia Rocha conseguiu alguns aparelhos para distribuir às crianças locais e ajudá-las nos estudos, por intermédio da ONG onde trabalha, a Orpas. “Mas a procura é imensa, e não temos recursos para atender todos”, conta.
“A carência de estrutura é total: desde ter uma boa internet para assistir a um vídeo até ter um aparelho. A mãe que consegue ter wi-fi em casa precisa trabalhar para pagar isso, e fica sem tempo para acompanhar o filho nos estudos — e ele precisa disso, porque não aprende sozinho”, afirma.
Em regiões de maior vulnerabilidade, há preocupações com questões ainda mais urgentes do que a conectividade: a fome.
“É horroroso que no Brasil, nos dias de hoje, a gente ainda veja pessoas morando em condições tão ruins — em casas de taipa, pessoas com fome, mulheres que sequer têm documentos, muito menos smartphone. Então é só um grupo pequeno e privilegiado daqui que tem conseguido estudar pela internet.”