VATICANO | MOVIMENTOS ENTREGAM CARTA AO SÍNODO DA AMAZÔNIA E DENUNCIAM AVANÇO SOBRE A FLORESTA

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Na missa de abertura do evento, na manhã deste domingo, o Papa Francisco criticou o fogo que “devastou recentemente a Amazônia”. / TIZIANA FABI / AFP

Encontro de papa com bispos começa neste domingo; Na abertura, Papa Francisco também apontou a destruição da região

Redação | Brasil de Fato | São Paulo (SP) – Representantes de diversos movimentos populares da América Latina entregam neste sábado (5), em Roma, na Itália, um documento ao cardeal Pedro Barreto, presidente da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a região Panamazônica.

O documento aponta sérias preocupações com a Amazônia, ao relatarem que a região está no centro de uma disputa de projetos econômicos e sociais opostos, em meio a uma grave crise ambiental.

“O processo de apropriação e exploração de territórios e bens comuns está marcado pelo avanço do agronegócio, a exploração mineral e petrolífera de grandes projetos de infraestrutura”, aponta a carta.

Sínodo da Amazônia, que começa neste domingo (6) no Vaticano, reúne bispos e outros convidados de nove países do bioma para debater temas da Igreja Católica na região e a situação do meio ambiente e dos moradores locais, incluindo os povos indígenas. O encontro ocorrerá ao longo de todo o mês de outubro.

Para os movimentos, a intensificação deste projeto do grande capital se expressa no desmatamento, na ocupação ilegal dos territórios para explorar os bens naturais e na consequente expulsão dos povos tradicionais.

A carta também aponta que o aumento dos incêndios na Amazônia nos últimos meses, que tiveram grande repercussão internacional, são consequências da profunda regressão nos marcos das proteções socioambientais, como as políticas propostas pelo governo de Jair Bolsonaro.

Na missa de abertura do evento, na manhã deste domingo, o Papa Francisco criticou o fogo que “devastou recentemente a Amazônia”, pediu que a igreja não se limite a uma “pastoral de manutenção” e que o sínodo tenha inspiração para “renovar os caminhos para a igreja” na região.

“O fogo ateado por interesses que destroem, como o que devastou recentemente a Amazônia, não é o do Evangelho. O fogo de Deus é calor que atrai e congrega em unidade. Alimenta-se com a partilha, não com os lucros. Pelo contrário, o fogo devorador alastra quando se quer fazer triunfar apenas as próprias ideias, formar o próprio grupo, queimar as diferenças para homogeneizar tudo e todos”, afirmou o papa, no trecho mais explícito sobre as queimadas nas últimas semanas na região.

Neste sentido, os movimentos populares também apontam na carta que realizarão algumas ações durante o Sínodo, com o objetivo de apoiar as reflexões propostas pela Igreja Católica sobre o tema. Entre os dias 12 a 18 de outubro haverá a Jornada de Ação Global “Amazônia, Resistência e Vida”. No dia 16 deste mês, também acontecerá diversas mobilizações para marcar o dia da Soberania Alimentar.

 

Edição: Luiz Felipe Albuquerque

 

 

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SÃO PAULO | OBCECADOS POR ABORTO E MACONHA, DEPUTADOS REBAIXAM DEBATE EM CPI DAS UNIVERSIDADES

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Para a oposição, “é uma CPI que tem uma opinião morta e insignificante” / Foto: Antoninho Perri

“Tem aparecido perguntas absurdas. É um espetáculo deprimente”, diz representante das instituições de ensino superior

Igor Carvalho | Brasil de Fato | São Paulo (SP) – Corria para o final, a 6ª reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Gestão das Universidades, da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), no dia 26 de julho, quando a deputada estadual Valéria Bolsonaro (PSL), membro da comissão, é chamada para que interpele o reitor da Universidade de São Paulo (USP), Vahan Agopyan, convocado para depôr na sede do legislativo paulista.

“Como é feito o critério para mestrados e doutorados? Como isso é feito? Principalmente quando envolve bolsa de estudo?”, ela começa, antes de ir ao ponto que lhe interessa: “Um dos exemplos que eu tive foi sobre a liberação do aborto. Existem ‘N’ mestrados e doutorados, todos falando sobre o mesmo assunto. O meu questionamento é esse. Nós temos uma única temática e as pessoas tendo bolsas para estudar o mesmo (assunto)?”, indaga a deputada, que não é parente do presidente, mas adorou seu sobrenome em homenagem a ele,

Constrangido, o reitor Agopyan oferece uma resposta curta à parlamentar. “O orientador ou orientadora dessa temática deve ser muito produtivo e está recebendo um número muito grande de alunos pleiteando ser orientando dele.”

Em outro momento, o deputado Douglas Garcia (PSL), que é suplente da CPI, também indaga o reitor. “Há uma polêmica gerada pela permanência da Polícia Militar no campus da USP, que é gerada porque boa parte dos alunos da FFLCH querem fumar sua maconha tranquilos. Infelizmente, temos esse problema de drogas na universidade. Eu fiquei pasmo ao saber que trabalhadores do Sintusp fizeram um churrasco, um sambão, com bebida alcoólica dentro da USP. Fora isso, nós temos a utilização da faculdade para oficina de órgão reprodutor feminino e também uma série de cursos e oficinas com relação ao fascismo, para combate, e arrumam um jeito de colocar o Bolsonaro no meio. Existe um estudo de custos antes de autorizar o uso desses espaços? Quem autoriza essa autorização?”, questiona. referindo-se à faculdade de Filosofia, Letra e Ciências Humanas (FFLCH) e ao Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp).

Outra vez, Agopyan é sucinto na resposta. “A autorização dos espaços é decentralizada. Quando é espaço geral, a prefeitura dos diversos campi. Quando é dentro de uma unidade, o diretor da unidade autoriza.”

O nível e o propósito dos questionamento tem chamado a atenção de parlamentares e de acadêmicos. Funcionando desde o dia 24 de abril deste ano, a CPI da Gestão das Universidades se propõe a “investigar irregularidades na gestão das universidades públicas no estado, em especial quanto à utilização do repasse de verbas públicas.”

Porém, a oposição alega que os propósitos são outros. “Essa CPI tem um caráter ideológico e político. Eles querem privatizar as universidades, tem proposta de cobrança mensalidade e com ataques ao pensamento crítico das nossas universidades, da pesquisa e da diversidade que ela permite. É uma CPI que tem esse caráter, com aquele pessoal do PSL, que não tem informação nenhuma sobre universidade e ensino. Pessoas que vão fazer um debate no nível do Bolsonaro, não conhecem nada de Educação, só querem fazer um controle ideológico da universidade”, afirma o deputado estadual Carlos Gianazzi (PSOL), membro da comissão.

Para Wellington Moura (Republicanos), deputado estadual e presidente da CPI, a privatização da universidade pública não está no norte dos parlamentares. “A função da CPI é investigar como está sendo utilizado o recurso que é repassado para elas do ICMS. No momento em que a gente, diante dos balanços patrimoniais, diante dos requerimentos que pedimos na CPI, encontramos irregularidades. Não estamos com objetivo de privatizar a universidade. As universidades são um patrimônio do estado, esse patrimônio tem que ser utilizado pela sociedade, mas de forma correta”, explica o parlamentar.

Espetáculo deprimente

Na CPI, que já interpelou os reitores das três universidades públicas do estado de São Paulo, USP, Unesp e Unicamp, se tornou comum que perguntas técnicas sejam substituídas por dúvidas que dizem respeito a pautas comportamentais, como explica João Chaves, presidente da Associação dos Docentes da Unesp (Adunesp) e representante do Fórum das Seis, entidade que reúne os sindicatos de professores e funcionários das três universidades públicas do estado, .

“Olha, salvo raríssimas exceções, a maior parte dos deputados tem conhecimentos modestos sobre o que é, o que faz e como funciona uma universidade. Por conta disso, tem aparecido perguntas absurdas. Muitas vezes, o tratamento que é dado às pessoas que são chamadas pela CPI é deselegante, desrespeitoso e intimidatório. É um espetáculo deprimente”, explica Chaves.

Cumprindo seu quarto mandato como deputado estadual, Carlos Gianazzi (PSOL) afirma que nunca viu um grupo de parlamentares “tão fraco” na Alesp como nessa legislatura e que isso implica no “provável” resultado da comissão.

“Essa CPI vai soltar um relatório medíocre, eu diria que sem nenhum tipo de ação prática, porque ela é tão rasteira na sua investigação que o relatório será fruto desse trabalho. Não vai dar em nada esse parecer político. Até porque é um grupo que está perdendo força na sociedade, então é uma CPI que tem uma opinião morta e insignificante”, critica.

Ainda de acordo com o psolista, a CPI dialoga com a política nacional, embora o governador João Dória esteja espalhando que não compactua das práticas do Bolsonaro.

“Eles estão alinhados, sim. Esse grupo aqui de São Paulo reproduz essa mesma intenção de combater o marxismo cultural, o feminismo e a ideologia de gênero nas universidades, essas bobagens todas que eles defendem. Então, com certeza faz parte dessa guerra cultural. O PSDB, na verdade terceirizou essa responsabilidade de fazer esse trabalho para o Novo e o PSL, porque o PSDB sempre fez isso aqui em São Paulo.”

Há crise orçamentária

A Lei de Diretrizes Orçamentárias de 1995 estabelece que a manutenção do financiamento das universidades públicas em São Paulo é garantido através do repasse de 9,57% da arrecadação do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em todo o estado. Desse total, a USP fica com 5,03%, a Universidade Estadual Paulista (Unesp) com 2,34 e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) com 2,2%.

Em 2019, os percentuais distribuídos garantiram um orçamento de R$ 5,5 bilhões para USP, R$ 2,56 bilhões à Unesp e R$ 2,1 bilhões para a Unicamp. João Chaves lembra que em 24 anos os campi cresceram, assim como o número de alunos, docentes e funcionários, mas o orçamento não acompanhou a expansão do setor.

“Não é uma crise financeira, é uma crise de financiamento. No entendimento do Fórum das Seis, os recursos encaminhados para as universidades, hoje, são insuficientes para manter as três universidades públicas paulistas funcionando de forma adequada”, afirma Chaves.

As três universidades estaduais gastam, desde 2013, mais de 100% do seu orçamento só com o pagamento de salário do corpo docente, funcionários e aposentados. Para 2019, a Unicamp prevê um deficit de R$ 169 milhões, a Unesp de R$ 175 milhões e a USP de R$ 269 milhões, o primeiro em cinco anos.

Oposição e situação concordam que há um problema orçamentário. Porém, a discordância mora na solução para o problema. Na audiência com Vahan Agopyan, o deputado estadual Arthur do Val (DEM) afirmou que não insistiria em perguntar sobre cobrança de mensalidades na USP. “O senhor já afirmou que se trata de algo inconstitucional”.

“Mas gostaria de sugerir ao reitor, por exemplo, sobre cobrança de estacionamento, ou incentivo da venda de nomes de salas para filantropos abonados. Gostaria de saber a posição da reitoria em relação a esse tipo de medida.”, ponderou Val. O deputado estadual Daniel José (Novo), insistiu na cobrança de mensalidades. “O conceito de universidade pública gratuita e estatal deveria deixar de insistir”.

O reitor da USP tratou de encerrar o assunto afastando a possibilidade. “Cobrança de mensalidades, é importante esclarecer, é uma decisão da sociedade, não é ideológico. Nós temos país comunista, a China, que cobra. Até o ensino médio é gratuito, depois eles cobram, o aluno chinês tem que fazer até empréstimo bancário. E existe país capitalista, a Alemanha, que cobra um valor simbólico. Na Alemanha, ou quase toda a Europa, entende-se que quem se beneficia mais da universidade é a sociedade, portanto eles dão oportunidade para todos. (…) Outra coisa importante, é que mesmo a mensalidade sendo cobrada, de U$$ 70 mil como na Yale (EUA), isso não responde a 10% do orçamento da universidade”, explicou Agopyan.

“A solução está em o Estado criar regras para a utilização dos recursos financeiros que são repassados para as universidades. O que temos acompanhado é que vem um reitor, gasta diante da sua autonomia de uma forma. Muda-se o reitor e ele utiliza de outra forma. Se o estado não criar regras, é onde haverá falhas”, afirma o presidente da CPI.

Para Gianazzi, a solução passa por ampliar o investimento feito pelo governo estadual. “Temos uma luta histórica na Alesp que é pelo aumento da cota das universidades públicas para 11,6% do ICMS. Os 9,57% de 1995 não são mais suficientes, a universidade paulista cresceu. Esse percentual de 11,6% garantiria, com folga, o orçamento das três universidades.”

Na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) aprovada neste ano, há uma previsão de renúncia fiscal – quando o estado abre mão de receber impostos de empresas – de R$ 20 bilhões. Para João Chaves, o governo precisa provar que tem interesse na Educação e privilegiar o setor, não os grandes empresários do estado.

“Nos últimos três anos, tem tido uma média de renúncia fiscal, em São Paulo, da ordem de 20 bilhões. Isso é o dobro dos recursos aplicados nas três universidades. Então, o governo deixa de receber um recurso correspondente a duas vezes os recursos que vai para as universidades. Esse recurso, parte dele, poderia financiar as universidades públicas paulista”, encerra.

A deputada Valéria Bolsonaro foi procurada pelo Brasil de Fato com dois dias de antecedência a publicação da reportagem, para que se manifestasse sobre as críticas à postura do partido na CPImas não deu retorno até o fechamento da matéria.

 

Edição: João Paulo Soares

 

 

 

BOLSONARO É IMPLICADO EM CAIXA DOIS POR EX-ASSESSOR DE MINISTRO DO TURISMO

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Revista Fórum | Foto: Reprodução/Facebook – Haissander Souza de Paula, ex-assessor parlamentar do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, que na época era coordenador de sua campanha a deputado federal no Vale do Rio Doce (MG), disse em depoimento à Polícia Federal (PF) que “acha que parte dos valores depositados para as campanhas femininas, na verdade, foi usada para pagar material de campanha de Marcelo Álvaro Antônio e de Jair Bolsonaro”.Em uma planilha apreendida em uma gráfica, nomeada como “MarceloAlvaro.xlsx”, há referência ao fornecimento de material eleitoral para a campanha de Bolsonaro com a expressão “out”, o que significa, na compreensão de investigadores, pagamento “por fora”.
Álvaro Antônio, deputado federal mais votado em Minas Gerais, foi coordenador no estado da campanha presidencial de Bolsonaro.

O ministro foi indiciado pela Polícia Federal e denunciado pelo Ministério Público de Minas Gerais na última sexta (4) sob acusação dos crimes de falsidade ideológica eleitoral, apropriação indébita de recurso eleitoral e associação criminosa —com pena de cinco, seis e três anos de cadeia, respectivamente. Ele nega irregularidades.

Haissander foi preso por cinco dias no final de junho, ao lado de outros dois investigados —entre eles um atual assessor de Álvaro Antônio no Turismo—, e jamais havia reconhecido, até então, a existência de fraude no uso das verbas públicas do PSL durante a campanha de 2018.

Uma das principais provas colhidas na investigação é a planilha apreendida na empresa Viu Mídia, que, segundo as informações dadas pelos candidatos e partidos à Justiça Eleitoral, prestou serviços a duas das candidatas laranjas, ao PSL e, em menor volume, ao hoje ministro do Turismo.

A planilha lista pagamentos recebidos por serviços eleitorais em uma coluna intitulada “NF” —no entendimento da polícia se referindo a Nota Fiscal— e em outra coluna com o título “out”, se referindo, também na compreensão da PF e do Ministério Público, a pagamento “por fora”.

Nessa planilha, há referência ao fornecimento de 2.000 unidades de material eleitoral (laminado) para a campanha de Bolsonaro, sendo R$ 4.200 “out” e R$ 1.550 com “NF”.

No entanto, não há registro, na prestação de contas entregue por Bolsonaro à Justiça Eleitoral de gastos com a empresa Viu Mídia.

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COMO BARROSO, FACHIN E FUX BLINDARAM A LAVA JATO NO STF

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Os ministros do Supremo Tribunal Federal, Roberto Barroso e Luiz Fux. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

The Intercept Brasil | João Filho

QUANDO SERGIO MORO e os procuradores da Lava Jato gravaram e vazaram ilegalmente a conversa entre o ex-presidente Lula e a então presidente Dilma, eles sabiam que estavam cometendo um crime, conforme revelou reportagem da Folha de S. Paulo em parceria com o Intercept. O procurador Andrey Borges de Mendonça comentou com seus colegas no Telegram que seria “juridicamente difícil de argumentar” sobre a validade da prova e disse “que o STF não a aceitaria”. Outro procurador, Carlos Fernando Lima, rebateu: “Nesta altura, filigranas não vão convencer ninguém”. A conversa continua até que o chefe da operação, Deltan Dallagnol, encerra o assunto com uma frase que é uma síntese da atuação da Lava Jato: “a questão jurídica é filigrana dentro do contexto maior que é político.”

Mendonça, ingênuo, acreditou que o STF trabalharia de acordo com a Constituição, enquanto Carlos Fernando e Dallagnol estavam certos de que os ministros julgariam com a faca no pescoço. A divulgação do áudio fazia parte da estratégia da Lava Jato de manipular a opinião pública e, assim, constranger os ministros. Àquela altura, graças ao apoio maciço e acrítico da grande imprensa — principalmente a Rede Globo —, a Lava Jato era inquestionável. Foi assim, pressionado por uma opinião pública manipulada, que Gilmar Mendes decidiu anular a posse de Lula como ministro com base em um grampo que até mesmo os procuradores sabiam ser ilegal. À época, o ex-presidente ainda não era indiciado, denunciado ou réu, mas o STF interpretou o áudio como tentativa de garantir foro privilegiado — a mesma interpretação não valeria posteriormente para Moreira Franco. A Lava Jato conseguiu colocar a sua estratégia política acima da Constituição com a conivência de quem deveria protegê-la.

Em agosto último, Gilmar Mendes admitiu a omissão do STF com a farra da Lava Jato: “É um grande vexame e participamos disso. Somos cúmplices dessa gente ordinária. É altamente constrangedor. Todos nós que participamos disso temos que dizer ‘nós falhamos’”.

Gilmar já dançou a popular valsa da Lava Jato, mas por pouco tempo. Acabou virando uma pedra no sapato da operação. Mas outros ministros foram grandes parceiros e atuaram sistematicamente em consonância com os arbítrios lavajatistas. Barroso, Fachin e Fux eram tratados como aliados de altíssima confiança no STF entre os procuradores, como mostram as conversas reveladas pela Vaza Jato. Dallagnol e alguns desses ministros mantinham uma relação próxima, porém secreta. Os fatos são conhecidos, mas acabam se perdendo em meio a tantas revelações neste Brasil 2019. É importante relembrar como parte do STF foi fundamental para que a Lava Jato hackeasse o ordenamento jurídico brasileiro e impusesse o seu projeto de poder.

A aliança secreta com Barroso

Barroso sempre foi o ministro mais fiel ao lavajatismo. Em muitas ocasiões, fez defesas apaixonadas da operação no tribunal, sempre ancoradas em um critério bizarro, estabelecido por ele mesmo: a interpretação da Constituição em “sintonia com o sentimento social” e “alinhado à vontade da maioria”. O juiz não resistiu à tentação de jogar para a torcida e ter uma presença privilegiada no Jornal Nacional.
Com a sociedade contaminada pelas manipulações dos procuradores, ficou fácil para Barroso matar no peito as bolas mais absurdas do lavajatismo. Bastava espremer a Constituição para que dela saísse o que a torcida esperava e correr para o abraço.

Integrantes da Lava Jato buscavam manter uma relação próxima e secreta com Barroso. Se Gilmar Mendes era visto como um inimigo a ser combatido, Barroso era um aliado importante a se cultivar. Uma reportagem da Vaza Jato — chamada por Barroso de “fofocada produzida por criminosos”— revelou que o ministro convidou, em agosto de 2016, Moro e Dallagnol para participar de um jantar em sua casa. O ministro garantiu que o evento seria “reservado e privado”, com “máxima discrição”.

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Foto: José Cruz/Agência Brasil

Os dois lavajatistas viajaram de Curitiba até Brasília para prestigiar a festinha. Reuniram-se ali, portanto, o acusador, o juiz de primeira instância e um juiz de terceira instância. O primeiro manipulava a opinião pública, enquanto o segundo e o terceiro atendiam aos anseios dela. Era um jogo ganho em que o cumprimento das leis era um detalhe irrelevante. Essa relação promíscua se dava de forma secreta, claro. Era preciso que o “sentimento social” continuasse alheio ao que eles faziam nas sombras.

Em março do ano passado, quando Barroso determinou a prisão de José Yunes, ex-assessor do então presidente Temer, Dallagnol comentou com os procuradores no Telegram: “Barroso foi para guerra aberta. E conta conosco como tropa auxiliar”.

Quando Dallagnol bancou o legislador e moveu mundos para promover as famigeradas “10 medidas contra a corrupção”, enviou mensagem aos colegas garantido o apoio de Barroso na divulgação. Sempre de forma secreta, é claro: “Caros, comentei com Bruno, mas isso tem que ficar entre nós três, please. Hoje falei com Barroso, que gostou muito da ideia das medidas e da campanha da Transparência Internacional e vai divulgar. Passei pra ele os arquivos e materiais.”

AHA! UHU! O Fachin é nosso!”

Dallagnol não conseguiu disfarçar a empolgação por ter garantido o alinhamento de um ministro do STF. Depois de se encontrar com Edson Fachin em julho de 2015, compartilhou a alegria com os colegas procuradores: “Caros, conversei 45 minutos com o Fachin. Aha uhu o Fachin é nosso.” Era o chefe da Lava Jato comemorando com seus subordinados o fato de que um dos juízes que vai julgar suas denúncias estava alinhado com a acusação.

Dois anos após esse acordo, a morte de Teori Zavascki fez com que Fachin assumisse a relatoria dos casos da Lava Jato. E o alinhamento acordado naquela reunião com Dallagnol foi cumprido à risca. Fachin assumiu um papel punitivista e todas suas decisões se mantiverem alinhadas ao projeto político lavajatista.

Após as publicações da Vaza Jato, a defesa de Lula entrou no STF pedindo a sua liberdade diante das escancaradas evidências da falta de isenção dos procuradores da força-tarefa, mas Fachin negou. Óbvio, tratava-se de um jogo de cartas marcadas. Como revelaram os diálogos do Telegram, o ministro tinha um acordo para cumprir. Aha uhu!

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Foto: José Cruz/Agência Brasil

“In Fux we trust!”

Quando Luiz Fux ignorou a Constituição e suspendeu a liminar que autorizava a entrevista de Lula à Folha na prisão, a justificativa foi do jeito que a Lava Jato gosta. Segundo ele, as decisões dos ministros do STF deveriam representar “o anseio da sociedade”. Mais uma vez, um ministro declara que a vontade popular norteia suas decisões. Fux também gostava de jogar pra galera. E Dallagnol sabia muito bem como domá-la: um vazamento aqui, outro ali, um e-mail para grupos militantes de direita e pronto! Temos um “anseio popular” para guiar as decisões no Supremo.

Em abril de 2016, um mês antes da queda de Dilma, Dallagnol se reuniu com Fux e enviou mensagem aos colegas procuradores relatando o alinhamento do ministro ao lavajatismo. Segundo a mensagem, Fux criticou Teori Zavascki por ter repreendido Moro quando ele grampeou e divulgou ilegalmente a conversa entre Lula e Dilma. Ou seja, um ministro do STF aprovou a jogada ilegal de Moro, que consistiu em vazar a conversa para a imprensa, influenciar a opinião pública e constranger o STF a aceitar a prova ilícita.

Ainda segundo Dallagnol, que pediu para os colegas que mantivessem o assunto em segredo, Fux afirmou também que a “Lava Jato poderia contar com ele”. Essa mesma mensagem foi encaminhada para Moro, que respondeu a frase que já se tornou um clássico do conluio lavajatista “In Fux we trust”. Era mais um juiz do Supremo com o qual a Lava Jato podia contar. Acusador, juiz de primeira instância e mais um juiz de última instância estavam unidos para burlar a lei e atender os anseios de uma sociedade que vinha sendo meticulosamente enganada.

O trio lavajatista do STF se curvou covardemente à violência institucional comandada pela força-tarefa.

Menos de um mês após a revelação dessa troca de mensagens, Fux não parecia incomodado. Em uma palestra para investidores, continuou jogando pra torcida e reafirmou o seu lavajatismo: “Quero garantir que a Lava Jato vai continuar. E essa palavra não é de um brasileiro, é de alguém que assume a presidência do Supremo Tribunal Federal no ano que vem, podem me cobrar.” Temos aqui mais um ministro do STF, cuja principal função é zelar pela Constituição, se colocando como garantidor de uma operação que comprovadamente violou de forma sistemática a…Constituição. Fux, que jamais negou o teor da conversa que teve com Dallagnol, não irá largar seus companheiros feridos na estrada. É nesse nível de promiscuidade e desfaçatez que o lavajatismo chegou.

Nessa semana, Gilmar fez questão de lembrar alguns desses episódios em um voto contra os arbítrios da Lava Jato. Para ele, os integrantes da força-tarefa são “gangsters” que levaram o Brasil a viver “uma era de trevas no que diz respeito ao processo penal”.

Gilmar ficou especialmente pistola com as revelações de que os procuradores comandaram uma caçada ilegal contra ele. Janot, um lavajatista de peso que chefiou o Ministério Público, confessou até que tentou assassiná-lo.

Passaram a investigar o ministro clandestinamente com o objetivo de reunir munição contra ele. Dallagnol articulou com o senador Randolfe Rodrigues, da Rede, a abertura de uma ação pelo impeachment de Gilmar. Em outra frente, a procuradora Thaméa Danelon foi convidada por um escritório particular para ajudar a redigir a ação de impeachment contra Gilmar Mendes. Diante da ilegalidade, seu chefe não só a aplaudiu como a orientou. “Sensacional Tamis”, “apoiadíssima”, “manda ver”, essas foram as palavras que Dallagnol escreveu ao saber que sua subordinada foi convidada para cometer um crime.

Barroso, Fux e Fachin não passaram por nada disso. Desfrutaram da tranquilidade de estarem alinhados ao núcleo político mais poderoso do país, com capacidade para investigar, mobilizar movimentos sociais e parte do congresso, e assassinar reputações através do braço midiático do conluio. Perceba que Gilmar não exagera quando compara com “gangsters”. O modus operandi é de máfia. Enfrentar a Lava Jato era enfrentar um monstro popular com conexões em todas as esferas de poder. O trio lavajatista do STF se curvou covardemente à violência institucional comandada pela força-tarefa.

Através de muitas ilegalidades, criou-se um clima no país em que qualquer um que ousasse contestar a Lava Jato era automaticamente jogado na vala dos defensores de bandido. Aqueles que topassem dançar a valsa lavajatista, estariam blindados. Barroso, Fux e Fachin foram os ministros que toparam a dança e, mesmo depois da Vaza Jato, continuam até hoje dançando à beira do precipício da democracia.

ASSIM SURGIU O PROTOFASCISMO CONTEMPORÂNEO

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Resgate de um fenômeno político dramático: o avanço da ultradireita, após a crise de 2008. Pobreza da maiorias. Rios de dinheiro aos bancos. Arrogância dos liberais. Paralisia da esquerda. Os ingredientes que criaram o monstro e como vencê-lo

OUTRASPALAVRAS | DIREITA ASSANHADA | Por Serge Halimi e Pierre Rimbert, no Le Monde Diplomatique (edição inglesa) – Budapeste, 23 de maio de 2018. Vestindo uma jaqueta um pouco grande para ele e uma camisa roxa, Steve Bannon dirigiu-se a uma audiência de húngaros proeminentes: “O pavio que iluminou a revolução Trump começou em 15 de setembro às nove da manhã [em 2008, quando] o Lehman Brothers foi levado à falência”. Bannon, ex-estrategista-chefe de Donald Trump, também havia sido banqueiro de investimentos no Goldman Sachs e sabia que a crise havia atingido a Hungria com força: “As elites se libertaram, socializaram totalmente o risco. O cidadão comum conseguiu um socorro como esse”? Embora muitas de suas atividades políticas atuais tenham sido pagas por fundos de hedge, ele ataca um “socialismo para os ricos” que provocou “uma revolta realmente populista” em todo o mundo. “Em 2010, Viktor Orbán foi votado de volta ao poder na Hungria”: Orbán foi “Trump antes de Trump”.

Uma década após a tempestade financeira de 2008, o colapso econômico global e a crise da dívida pública europeia desapareceram dos terminais da Bloomberg que monitoram os sinais vitais do capitalismo.  Mas suas ondas de choque amplificaram duas grandes revoltas políticas.

A primeira foi a perturbação da ordem internacional neoliberal do pós-Guerra Fria, fundada na OTAN, nas instituições financeiras ocidentais e na liberalização do comércio global. Mesmo que o vento leste ainda não tenha prevalecido sobre o oeste, como Mao prometeu, uma reconfiguração geopolítica está em andamento: quase 30 anos após a queda do Muro de Berlim, a influência do capitalismo de Estado chinês está crescendo. O futuro da economia socialista de mercado da China, impulsionado pela prosperidade de uma classe média crescente, está ligado à globalização do comércio, que danificou as bases de manufatura da maioria dos países ocidentais. Isso inclui os EUA, que Trump prometeu salvar de tal “carnificina” em seu discurso de posse.

Os choques e tremores secundários de 2008 também perturbaram a ordem política, que considerava a democracia de mercado o ponto final da história. A arrogância de tecnocratas de fala mansa em Nova York ou Bruxelas, que impuseram medidas impopulares em nome do conhecimento técnico e da modernidade, abriu caminho para políticos explosivos e conservadores. Em Washington, Varsóvia e Budapeste, Trump, Jaroslaw Kaczyński e Orbán afirmam ser tão capitalistas quanto Barack Obama, Angela Merkel, Justin Trudeau e Emmanuel Macron, mas sua marca de capitalismo é difundida por uma cultura diferente: ela é “iliberal”, nacional e autoritária, e defende os valores do interior sobre a metrópole.

Uma linha falha agora divide a classe política e é dramatizada e ampliada pela mídia, reduzindo o leque de opções políticas a dois irmãos em guerra. A direita recém-chegada ao poder em muitos países compartilha, com seus antecessores, a intenção de enriquecer os ricos. Mas procura fazê-lo explorando o sentimento que o neoliberalismo e a social-democracia inspiram na maior parte da classe trabalhadora, que é nojo misturado com raiva.

Desafios à velha ordem

A resposta à crise de 2008 expôs e eliminou a possibilidade de ignorar coisas que contradizem a pragmática santificação do “bom governo”, oriunda de políticos de centro-direita e centro-esquerda desde o colapso da URSS. Nem a globalização, nem a democracia, nem o liberalismo, emergiram da crise ilesos.

Primeiro, revelou-se que a internacionalização da economia mundial não é boa para todos os países e nem para a maioria dos assalariados no Ocidente. A eleição de Trump entronizou um novo presidente dos EUA, que há muito estava convencido de que a globalização, longe de beneficiar os EUA, acelerou seu declínio e garantiu a ascensão de seus concorrentes estratégicos. Com Trump, a proposta “America First” venceu o slogan “ganha-ganha” dos defensores da liberalização do comércio. Em uma manifestação em 4 de agosto, em Ohio, um estado industrial em que Trump conquistou uma vantagem de oito pontos sobre Hillary Clinton, ele falou sobre o enorme (e crescente) déficit comercial dos EUA: “US$ 817 bilhões por ano … culpe a China. Eles não podem acreditar que se safaram. Nós realmente reconstruímos a China, e é hora de reconstruirmos nosso próprio país agora, ok? Somente Ohio perdeu mais de 200 mil empregos na indústria desde que a China entrou na OMC. A Organização Mundial do Comércio é um desastre total. Por décadas, nossos políticos permitiram que outros países roubassem nossos empregos, saqueassem nossa riqueza e nossa economia”.

No início do século XX, o protecionismo impulsionou a ascensão industrial dos EUA e de muitos outros países. As tarifas de importação encheram os cofres públicos, uma vez que não havia imposto de renda antes da I Guerra Mundial. Em Ohio, Trump invocou William McKinley, presidente republicano (1897-1901) que mais tarde seria assassinado por um anarquista: “Ele entendeu a importância crucial das tarifas na manutenção de um país muito forte”. A Casa Branca agora recorre a tarifas sem hesitar e sem se preocupar com a OMC. Cada semana traz novas sanções contra outros Estados que Trump alvejou, incluindo aliados: Turquia, Rússia, Irã, UE, Canadá, China. Ao invocar a “segurança nacional”, ele pode dispensar a aprovação do Congresso, cujos membros permanecem apegados ao livre comércio, assim como os lobistas que financiam suas campanhas.

Empregos se vão

A opinião pública dos EUA é menos dividida sobre a China; mas aqui o consenso é claramente hostil, e não apenas por razões comerciais. A China é vista como o maior rival estratégico dos EUA. Desperta desconfiança por causa de sua força (sua economia é oito vezes maior que a da Rússia) e suas ambições expansionistas na Ásia, e porque seu modelo político autoritário desafia os EUA. O cientista político Francis Fukuyama, embora afirmando que sua teoria de 1989 sobre o triunfo irreversível e universal do capitalismo neoliberal ainda é válida, tem uma ressalva: “A China é de longe o maior desafio à narrativa do ‘fim da história’, uma vez que foi capaz de se modernizar economicamente enquanto mantinha  uma ditadura … Se, no decorrer dos próximos anos, seu crescimento continuar e se mantiver como a maior potência econômica do mundo, admitirei que minha teoria foi definitivamente refutada”1. Por fim, Trump e seus adversários políticos dos EUA compartilham um terreno comum em pelo menos um ponto: ele acha que a ordem neoliberal internacional custa muito caro aos EUA, enquanto seus inimigos acreditam que o sucesso da China ameaça derrubá-la.

Um pequeno passo separa a geopolítica da política. A globalização destruiu empregos e corroeu os salários ocidentais; nos últimos 10 anos, a massa salarial dos EUA caiu de 64% do PIB para 58%, uma perda média anual de US$ 7.500 por trabalhador2.

Os trabalhadores dos EUA guinaram politicamente à direita nos últimos anos, precisamente nas regiões industriais devastadas pela concorrência chinesa. Essa mudança pode ser atribuída a fatores culturais (sexismo, racismo, cultura de armas, hostilidade ao aborto e casamento gay). Mas isso seria ignorar uma explicação econômica pelo menos igualmente convincente: o número de condados dos EUA onde mais de 25% dos trabalhadores depende do setor manufatureiro entrou em colapso entre 1992 e 2016, passando de 862 para 323; e a cota de votos entre democratas e republicanos mudou drasticamente. Os votos eram divididos quase igualmente entre os partidos – cerca de 400 municípios cada – há 25 anos; em 2016, 306 dos condados industriais restantes votaram em Trump e apenas 17 em Hillary Clinton3. A adesão à China na OMC, apoiada pelo democrata Bill Clinton, deveria acelerar a transformação da China em uma sociedade capitalista liberal. Em vez disso, deixou os trabalhadores norte-americanos enojados com a globalização, o liberalismo e os democratas.

Pouco antes do colapso do Lehman Brothers, o ex-presidente do Federal Reserve dos EUA, Alan Greenspan, explicou: “[Temos] sorte de que, graças à globalização, as decisões políticas nos EUA tenham sido amplamente substituídas pelas forças do mercado global. Segurança nacional à parte, dificilmente faz diferença quem será o próximo presidente4”. Seria difícil encontrar suporte para essa visão agora.

Na Europa Oriental, onde a expansão econômica ainda depende das exportações, qualquer questionamento da globalização deixa de fora o comércio. Mas os “homens fortes” no poder condenam a imposição de valores ocidentais pela União Européia, porque acham que essas idéias são fracas e decadentes para incentivar a imigração, a homossexualidade, o ateísmo, o feminismo, o ambientalismo e a dissolução da família. Esses homens fortes também desafiam o caráter democrático do capitalismo neoliberal, e não sem razão. Porque quando se trata de igualdade de direitos políticos e cívicos, a questão de saber se as mesmas regras se aplicam a todos foi novamente esclarecida após 2008. “Não houve processos contra ninguém nos níveis mais altos do sistema financeiro”, escreveu John Lanchester. “Compare isso com o escândalo de poupanças e empréstimos da década de 1980, no qual 1.100 foram processados5“. Como os prisioneiros franceses costumavam zombar, roube um ovo e vá para a prisão; roube um boi e vá ao Palais Bourbon.

O povo pode escolher, mas o capital decide. Líderes neoliberais de direita e esquerda, ao não cumprirem suas promessas eleitorais, tornaram credíveis as suspeitas que se seguem a quase todas as eleições. Obama, eleito para encerrar as políticas conservadoras de seus antecessores, reduziu déficits públicos, reduziu os orçamentos de assistência social e, em vez de impor a Previdência Social, insistiu que os americanos comprassem seguro médico de um cartel privado. Na França, Nicolas Sarkozy aumentou a idade da aposentadoria em dois anos, apesar de haver promitido não modificá-la; da mesma maneira, François Hollande, do Partido Socialista aprovou um pacto de estabilidade da UE, que prometera renegociar. No Reino Unido, Nick Clegg levou seus parlamentares Liberais Democratas a um governo de coalizão com os conservadores e, como vice-primeiro-ministro, aceitou o triplo das taxas de universidade que ele havia prometido abolir.

Vitória do “mundo livre”

Alguns partidos comunistas da Europa Ocidental sugeriram na década de 1970 que, se fossem levados ao poder, seria uma jornada de mão única, uma vez que o projeto de construção do socialismo, uma vez iniciado, não poderia estar sujeito aos caprichos do eleitorado. A vitória do “mundo livre” sobre a “hidra soviética” adaptou esse princípio, mas com mais astúcia: o direito ao voto não foi retirado, mas agora vem com a obrigação de confirmar as preferências das classes dominantes, sob pena de ter que se refazer o processo eleitoral. O jornalista francês Jack Dion resumiu: “Em 1992, os dinamarqueses votaram contra o Tratado de Maastricht; eles foram forçados a voltar às urnas. Em 2001, os irlandeses votaram contra o Tratado de Nice; eles foram forçados a voltar às urnas. Em 2005, franceses e holandeses votaram contra o Tratado Constitucional Europeu (ECT); ele foi imposto sob o nome de Tratado de Lisboa. Em 2008, os irlandeses votaram contra o Tratado de Lisboa; eles tiveram que votar novamente. Em 2015, 61,3% dos gregos votaram contra o plano de redução de gastos de Bruxelas, plano que lhes foi imposto mesmo assim”6.

Naquele ano, o ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, dirigindo-se a um governo de esquerda recentemente eleito em Atenas que estava constrangido a impor mais tratamento de choque neoliberal aos gregos, resumiu seu respeito pelo circo democrático: “As eleições não devem permitir uma mudança na política econômica7 Pierre Moscovici, Comissário da UE para Assuntos Econômicos e Financeiros, admitiu recentemente: “Apenas 23 pessoas e seus suplentes tomam – ou não tomam – decisões fundamentais para milhões de outras pessoas, gregos, neste caso, com base em critérios extraordinariamente técnicos, decisões que estão isentas de qualquer controle democrático. O Eurogrupo [formado por ministros das Finanças da zona do euro] não presta contas a nenhum governo, parlamento e, certamente, não ao Parlamento Europeu”8.

Esse desdém pela soberania popular, que seria autoritária e ‘iliberal’ à sua maneira, impulsiona um dos argumentos de campanha mais poderosos de políticos conservadores de ambos os lados do Atlântico. Trump e Orbán, juntamente com Kaczyński na Polônia e Matteo Salvini na Itália, levam em consideração o fim da democracia, ao contrário dos partidos de centro-esquerda e centro-direita que tentam reanimá-la sem se permitir os meios para fazê-lo. O primeiro grupo concorda com o princípio da votação majoritária, mas rejeita o resto: contrapõe o autoritarismo tecnocrático de Washington, Bruxelas e Wall Street com um estilo desavergonhado de autoritarismo nacionalista e apresenta isso como uma vitória para o povo.

A terceira contradição presente no discurso dominante dos anos anteriores, revelada pela crise, diz respeito ao papel econômico do Estado: ele pode fazer qualquer coisa, mas não para todos. Raramente esse princípio foi tão claramente demonstrado como na década passada. A sobrevivência de todo o sistema dependia dos bancos e, para salvá-los, as operações que antes haviam sido decretadas impensáveis eram realizadas em ambos os lados do Atlântico e sem oposição, sem restrições: houve maciças medidas de quantitative easing [“estímulo” econômico por meio de impressão de moeda, transferida aos grandes investidores], com nacionalizações, tratados internacionais desrespeitados e medidas especiais de políticos agindo arbitrariamente. Esse intervencionismo em larga escala revelou Estados fortes, capazes de mobilizar seu poder em um domínio do qual eles pareciam ter se retirado9.

Mas se os Estados são fortes, é principalmente para garantir uma estrutura estável para o capital. Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu (2003-11), era inflexível na obsessão de cortar os gastos sociais da Europa para reduzir os déficits públicos ao limite de 3% do PIB, mas admitiu que os compromissos financeiros assumidos pelos chefes de Estado para salvar o sistema bancário em 2008 representaram, em menos de um ano, “27% do PIB na Europa e nos EUA”10. Ao mesmo tempo, haviam criado inúmeros desempregados, milhões de desalojados por perderem suas casas, milhares de doentes jogados em hospitais com suprimentos médicos inadequados, como na Grécia. Nenhum deles teve a sorte de constituir um “risco sistêmico”. Como escreveu recentemente o historiador Adam Tooze, “a zona do euro, por meio de escolhas políticas deliberadas, levou dezenas de milhões de seus cidadãos às profundezas de uma depressão do estilo dos anos 30. Foi um dos piores desastres econômicos autoinfligidos já registrados”11.

Uma linha de arame farpado

O descrédito da classe política e a reabilitação do poder do Estado inevitavelmente abriram o caminho para um novo estilo de governo. Quando perguntado em 2010 se estava preocupado em chegar ao poder em meio à turbulência financeira global, Orbán sorriu: “Não, eu gosto do caos. Porque eu posso construir uma nova ordem a partir deste caos. Uma ordem que eu queira”12. Como Trump, os líderes conservadores da Europa Central foram capazes de consolidar a legitimidade popular de um Estado forte a serviço dos ricos. Mas, em vez de garantir direitos sociais para todos, que seriam incompatíveis com as demandas dos ricos, as autoridades públicas se afirmam fechando as fronteiras aos migrantes e se declarando garantidores da identidade cultural de cada nação. Na opinião deles, as linhas de arame farpado ao longo das fronteiras marcam o retorno do Estado.

Essa estratégia, que utiliza a demanda popular por proteção do Estado para seus próprios fins, parece estar funcionando por enquanto. As causas da crise financeira de 2008 não foram reparadas, enquanto a vida política na Itália, Hungria, Baviera e outros lugares é assombrada pela questão dos refugiados. Parte da esquerda ocidental, radical ou moderada, se alimenta das prioridades dos campos universitários dos EUA, adora desafiar a direita sobre esse assunto e faz isso há 30 anos13.

Os chefes de governo revelaram, no combate à Grande Recessão, a farsa da democracia, a força do Estado, a base altamente política da economia e o viés de classe de sua estratégia. Como resultado, sua posição tornou-se frágil, como mostra a instabilidade eleitoral que reformulou o cenário político. A maioria das eleições no Ocidente desde 2014 sugeriu que as forças tradicionais estão enfraquecendo ou se desintegrando, enquanto houve um aumento de figuras e tendências anteriormente marginais, que agora desafiam as instituições dominantes, e geralmente o fazem de lados opostos: Trump e Bernie Sanders repreendem globalização e mídia. O mesmo acontece na Europa, onde novas figuras à direita julgam o projeto europeu muito liberal em questões sociais e de imigração, enquanto novas vozes à esquerda, como o Podemos na Espanha, A França Insubmissa e o líder do Partido Trabalhista do Reino Unido, Jeremy Corbyn, criticam suas políticas de austeridade.

Uma política de inimigos

No entanto, os “homens fortes” podem contar com o apoio de parte da classe dominante, porque o objetivo deles não é pôr fim ao jogo, apenas mudar os jogadores. Orbán explicou as coisas durante um discurso significativo na Romênia, em julho de 2014: “O novo Estado que estamos construindo na Hungria é um estado iliberal, um estado não liberal.” Ao contrário do que a grande mídia costuma relatar, o objetivo de Orbán não é simplesmente substituir o multiculturalismo e a sociedade aberta pela promoção dos valores da família cristã. Ele também anunciou um plano econômico para tornar “uma nação e uma comunidade internacionalmente competitivas na grande corrida global pelas próximas décadas”. Na sua opinião, para fazer isso, “uma democracia não precisa necessariamente ser liberal. O fato de um Estado não ser liberal não o impede de ser uma democracia”. Tomando a China, a Turquia e Cingapura como seus supostos modelos, Orbán reformulou o slogan de Margaret Thatcher “Não há alternativa”, na medida em que “as sociedades que são construídas com base no princípio de organização da democracia liberal da organização estatal provavelmente serão incapazes de manter sua competitividade global nas próximas décadas14”. Este projeto apela aos líderes poloneses e tchecos e aos partidos de extrema direita na França e na Alemanha.

Os pensadores liberais, confrontados com o sucesso de seus concorrentes, perderam parte de sua arrogância e brilho. “Essa contra-revolução é impulsionada pela polarização da política doméstica, com uma política de inimigos substituindo uma política de compromisso”, escreve Michael Ignatieff, reitor da Universidade da Europa Central em Budapeste, criada pelo bilionário neoliberal George Soros. “A contra-revolução também ataca a revolução liberal e os ganhos obtidos pelas minorias. É claro que o breve momento de domínio da sociedade aberta depois de 1989 terminou agora15”. Para Ignatieff, líderes autoritários que atacam o estado de direito, a separação de poderes, a liberdade de mídia privada e os direitos das minorias estão atacando os pilares da democracia.

The Economist, a revista semanal publicada no Reino Unido pelas elites neoliberais globais, compartilha dessa opinião. Em junho de 2018, alertou para a “deterioração alarmante [da democracia] desde a crise financeira de 2007-08”, mas não atribuiu isso a enormes desigualdades de riqueza, ou à destruição de empregos industriais pelo livre comércio, ou à desconsideração dos desejos dos eleitores pelos líderes “democráticos”. Em vez disso, castigou “os homens fortes [que] subvertem a democracia”. E alegou que “juízes independentes e jornalistas barulhentos são a primeira linha de defesa da democracia”. É uma linha muito fina e frágil…

As classes dominantes aproveitaram-se por muito tempo do sistema eleitoral por causa de fatores convergentes: queda na taxa de participação da classe trabalhadora, voto tático causado pelo desgosto por “extremistas” e reivindicações dos partidos centristas de representar os interesses de ambos – classes superiores e médias. Mas os demagogos reacionários agora estão mobilizando os que antes se abstinham, a Grande Recessão tornou a vida mais difícil para a classe média e as decisões políticas dos “moderados” e do seu círculo de conselheiros inteligentes causaram, na verdade, a crise financeira do século.

A amargura dos defensores da “sociedade aberta” é agravada pelo desencanto com a utopia prometida pelas novas tecnologias. A classe dominante Vale do Silício, ligada ao Partido Democrata e até recentemente celebrada como os profeta de uma civilização liberal-libertária, construiu uma máquina de vigilância e controle social tão poderosa que o governo chinês a está copiando. A esperança de uma ágora global alimentada por conectividade para todos está em colapso. A tal ponto que alguns dos que antes confiavam no credo estão muito descontentes: “A tecnologia, através das manipulações que permite, através de notícias falsas, mas ainda mais porque transmite emoção ao invés de razão, fortalece ainda mais os cínicos e os ditadores’ ‘, protestou um colunista16.

Neste ano, o trigésimo aniversário da queda do Muro de Berlim provavelmente será uma celebração um tanto sombria para os defensores do “mundo livre”. Fukuyama reconheceu o seguinte: “Muito da virada à democracia liberal nos primeiros dias, após a queda do Muro de Berlim, na verdade foi impulsionada por um tipo de elite educada e muito pró-ocidental.” Mas os menos instruídos “não compraram de fato o liberalismo, a idéia de que você poderia realmente ter uma sociedade multirracial e multiétnica, onde todos esses valores comunais tradicionais teriam que dar lugar ao casamento gay, aos imigrantes e todas essas coisas”17. Quem Fukuyama culpa por essa falha em responder ao treinamento da minoria esclarecida? Os jovens indolentes da classe média, que, ele teme, “contentam-se em sentar em casa e se felicitar por sua mente aberta e sua ausência de fanatismo … Eles só se mobilizam contra o inimigo sentando-se no terraço de um café com um mojito em suas mãos”18.

Não se pode mudar o quadro

Isso não será suficiente e nem inundará a mídia ou as redes sociais com comentários indignados, para o benefício de amigos igualmente indignados com coisas semelhantes. Obama sabe disso, e, em 17 de julho, na África do Sul, fez um discurso com uma análise detalhada, talvez das mais lúcidas das últimas décadas. Mas ele não pôde deixar de assumir a ideia fixa da esquerda neoliberal desde que adotou o modelo capitalista – uma ideia assim resumida pelo ex-primeiro-ministro italiano de centro-esquerda Paolo Gentiloni, quando a leu para Trump em janeiro de 2018 em Davos: “Você pode corrigir o quadro, mas você não pode alterá-lo”.

Obama admitiu que houve erros e ganância na globalização, o que enfraqueceu o poder dos sindicatos: Tornou-se mais fácil para o capital evitar as leis tributárias e os regulamentos dos estados-nações; ele [capital] pode simplesmente mover bilhões, trilhões de dólares com o toque de uma tecla de computador. Sua única resposta para um desafio tão assustador foi o “capitalismo inclusivo”, iluminado pela moralidade humanista dos capitalistas.

Obama não negou que a crise de 2008 e as más respostas a ela, presumivelmente incluindo a sua, encorajaram a disseminação de “uma política de medo e ressentimento e contenção”, “política de homens fortes” e a popularidade do que ele chamou de “modelo de controle autoritário da China combinado com  capitalismo mercantilista, como preferível à bagunça da democracia”. Mas ele atribuiu a responsabilidade principal por esses distúrbios aos populistas, que haviam se apoderado de inseguranças e ameaçado o mundo com um retorno a uma mais velha, mais perigosa e mais brutal maneira de fazer negócios”. Essa atribuição livrou a barra das elites sociais e intelectuais, próximas a Obama, que criaram as condições da crise e freqüentemente se beneficiaram dela.

Tais análises têm muitas vantagens para os grupos que as fazem. Invocar a ameaça da ditadura faz as pessoas acreditarem que a democracia atualmente prevalece, mesmo que precise de alguns ajustes. Mais fundamentalmente, a ideia de Obama (e a idêntica de Macron) de que “duas visões muito diferentes do futuro da humanidade competem pelos corações e mentes dos cidadãos de todo o mundo” torna possível encobrir o que essas visões têm em comum, que é a modo de produção e propriedade, ou, para usar as próprias palavras de Obama, “a influência econômica desproporcional daqueles que estão no topo”. Segundo este critério, não há nada que distingua Macron de Trump, como demonstrado pelo desejo comum de reduzir os impostos sobre as receitas de investimentos após a posse.

A insistência em reduzir a vida política em um futuro próximo aos confrontos entre “democracia” e “populismo”; “abertura” e “nacionalismo”, não trará alívio para a parte crescente da classe trabalhadora que está desiludida com uma democracia que a abandonou e uma esquerda que, em todos os lugares, se transformou no partido político da classe média educada. Dez anos após a crise financeira, qualquer luta bem-sucedida contra uma “maneira brutal de fazer negócios” exige algo diferente. Para começar, precisa que se desenvolva uma força política capaz de combater simultaneamente os “tecnocratas esclarecidos” e os “bilionários ressentidos19”, para que não desempenhe um papel de apoio a nenhum dos blocos atuais, que, em seus caminhos separados, são um perigo para a humanidade.

 

 

 

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PROCESSO DE PRIVATIZAÇÃO: DESINVESTIMENTO OU DESMONTE?

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Brasil de Fato – Pela primeira vez, o Brasil possui uma secretaria para promover #privatizações: a Secretaria Especial de Desestatização, #Desinvestimento e Mercados, vinculada ao Ministério da Economia, de Paulo Guedes. A pasta foi criada para implementar a política de privatizações das empresas estatais federais.

A venda dessas empresas, em geral, é defendida por argumentos como ineficiência, decadência, prejuízos financeiros, equipamentos antigos, encarecimento e corrupção. Mas, antes que elas se tornem empresas precarizadas, existem estratégias para torná-las cada vez mais ineficientes e justificar a privatização como única saída possível para sua melhora e atualização.

Este vídeo faz parte da série especial do Brasil de Fato sobre a política de privatizações de empresas No primeiro vídeo, falamos sobre os interesses que guiam essa política (http://bit.ly/2VkzzHP). Neste explicamos o processo que justifica que uma empresa, como Correios, Banco do Brasil, Petrobrás ou Eletrobrás, por exemplo, seja colocada a venda.

 

BOLSONARO JÁ INTERVEIO EM METADE DAS UNIVERSIDADES FEDERAIS QUE TIVERAM ELEIÇÕES PARA A REITORIA

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The Intercept Brasil | Juliana Sayuri – DURANTE UM CAFÉ com parlamentares da bancada evangélica no Palácio do Planalto, na manhã de 11 de julho, Jair Bolsonaro entregou o jogo: literalmente lamentou que, por lei, o presidente deva escolher e empossar reitores indicados pelas listas tríplices das instituições federais de ensino. Formadas pelos três candidatos mais votados em eleições dentro das universidades, as listas são uma maneira de garantir a autonomia universitária.

“Ali virou terra deles, eles é que mandam. Tanto é que as listas tríplices que chegam pra nós muitas vezes não temos como fugir, é do PT, do PCdoB ou do PSOL. Agora o que puder fugir, logicamente pode ter um voto só, mas nós estamos optando por essa pessoa”, declarou Bolsonaro, sinalizando a intenção de privilegiar candidatos alinhados a ele para ocupar as reitorias, independentemente das escolhas expressas pelas comunidades acadêmicas (professores, funcionários e alunos).

O discurso é o mesmo do ministro Educação Abraham Weintraub. “Uma parte dos reitores veio do passado e tem ligação com PSTU, PSOL, PT, essas coisas maravilhosas. Mas tem uma parte que não é”, ele disse em entrevista ao Estadão no fim de agosto. A expectativa é que a escolha de reitores mais abertos ao bolsonarismo poderia contribuir para a adesão das universidades ao Future-se, programa proposto pelo governo federal que prevê que as universidades e institutos federais contratem uma organização social para gerir suas atividades e tenham investimento privado.

Embora Bolsonaro critique o aparelhamento das instituições por partidos de esquerda ou centro-esquerda, em governos anteriores os reitores empossados eram eleitos pelas próprias comunidades acadêmicas – e os presidentes apenas chancelavam o resultado dessas consultas internas, nomeando os primeiros colocados na lista. Essa tradição se repetiu por 15 anos – e foi rompida justamente pelo novo governo.

Até agora, Bolsonaro já fugiu à regra em metade das nomeações de reitores de universidades federais previstas para este ano – e em um Centro Federal de Educação Tecnológica, o Cefet, no Rio de Janeiro. Das 12 nomeações, ele escolheu reitores com poucos votos ou até mesmo fora da lista tríplice em seis delas. São as seguintes:

Ilustração: Rodrigo Bento/The Intercept Brasil

1. UFFS – Universidade Federal da Fronteira Sul

Data da nomeação: 30 de agosto
Reitor nomeado: Marcelo Recktenvald, último colocado na lista tríplice

Alvo de diversos protestos desde a posse, o professor Marcelo Recktenvald se define como “cristão conservador” na internet. Entre outras disciplinas, ministrou aulas de “espiritualidade e liderança” no curso de administração da universidade – “Jesus Coach”, de Laurie Beth Jones, era um dos livros indicados na bibliografia básica. Apoiador de Bolsonaro, Recktenvald teve apenas quatro votos do conselho universitário – Anderson André Genro Alves Ribeiro e Antônio Inácio Andrioli, professores concorrentes ao cargo, receberam respectivamente 26 e 19 votos. Em nota oficial, a direção da UFFS diz que a nomeação de Recktenvald “não representa o projeto democraticamente legitimado pela comunidade universitária da instituição”.

2. UFC – Universidade Federal do Ceará

Data da nomeação: 19 de agosto
Reitor nomeado: José Cândido Lustosa Bittencourt de Albuquerque, 2º colocado na lista tríplice

A UFC havia sido a primeira universidade do nordeste a rejeitar o programa Future-se. “O que se escancara, aos nossos olhos, é que se encontra em marcha uma estratégia para reduzir a presença do Estado [da União] na garantia do direito à educação e, ao mesmo tempo, abrir à financeirização do ensino público, transformando-se a educação em mercadoria que tem o lucro – e não o compartilhamento, a geração e difusão do conhecimento – como objetivo final”, dizia a nota da universidade de 14 de agosto, ainda sob o comando do reitor Henry Campos. Poucos dias depois, mal tomou posse, o professor Cândido Albuquerque aderiu ao programa. “A universidade brasileira precisa acordar para essa nova realidade do mercado de trabalho, precisamos dar aos nossos alunos novas e modernas habilidades para que estejam preparados para o futuro. Precisamos inovar, empreender e internacionalizar as novas ações. E o programa Future-se contará com a nossa contribuição”, afirmou, em Brasília. Albuquerque teve 9 votos no conselho universitário, enquanto Custódio Luís Silva de Almeida teve 25. Na consulta à comunidade, Albuquerque recebeu apenas 610 votos, ante a 7.772 de Almeida (o que corresponde a 64,8% do total).

3. UFVJM – Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri

Data da nomeação: 10 de agosto
Reitor nomeado: Janir Alves Soares, último colocado na lista tríplice

Reitor entre 2015 e 2019, o professor Gilciano Nogueira disputava reeleição e estava na primeira posição na lista tríplice na universidade. Em entrevista ao jornal O Estado de Minas, em 11 de agosto, questionou o fator político na decisão do governo. “A democracia na instituição foi ferida de morte. Para Brasília, foi só uma decisão. Para nós, afeta o destino da instituição”, criticou. “O presidente diz que não quer reitor com viés de esquerda e quer que tenha capacidade de gestão. Basta olhar os números da universidade. Em termos de viés, passei por seis ministros da Educação. Fui presidente do fórum reitores de Minas Gerais. Se identificou viés em mim, gostaria de saber qual”, questionou Nogueira, que recebeu 27,37% dos votos válidos na consulta aberta. Com uma proposta de gestão para “encontrar a melhor maneira de aproveitar os recursos humanos, físicos e financeiros” da universidade, Soares, novo reitor escolhido por Bolsonaro, obteve 5,21% dos votos.

4. UFRB – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Data da nomeação: 1° de agosto
Reitor nomeado: Fábio Josué Souza dos Santos, último colocado na lista tríplice

Foi preterida a professora Georgina Gonçalves dos Santos, que liderava a lista da universidade, tanto na consulta acadêmica junto aos alunos, quanto no conselho universitário. Georgina publicou uma carta aberta questionando a decisão presidencial. “Não podemos minimizar o que ocorreu. A pergunta é: por que não foi respeitado o desejo da comunidade da UFRB? Por que o governo brasileiro interferiu na normalidade institucional nomeando o terceiro indicado? Não podemos ser ligeiros ou precipitados nessa análise mas sim, investirmos todo nosso esforço de compreensão para entender o que aconteceu. Racismo? Homofobia? Misoginia? Nenhuma ingenuidade nos será perdoada”, criticou a docente, que recebeu 17 votos no conselho universitário. Professor de pedagogia, Santos recebeu 3 votos e foi escolhido. Curiosamente, ele pode ser chamado de petista: filiado ao partido desde 1999, já presidiu a sigla na cidade baiana de Amargosa.

5. UFTM – Universidade Federal do Triângulo Mineiro

Data da nomeação: 17 de junho
Reitor nomeado: Luiz Fernando Resende dos Santos Anjo, 2º colocado na lista tríplice

O professor Fábio César da Fonseca, que tinha sido eleito pelo colegiado e pela comunidade acadêmica, foi preterido na escolha. Ele foi filiado ao PT (entre 1990 e 2005) e ao PSOL (de 2007 a 2018). Em nota, Fonseca considerou a decisão uma “afronta” à autonomia universitária. “Trata-se de uma nomeação ilegítima, desrespeitosa e provocadora de instabilidades institucionais. Uma nomeação geradora e intensificadora de problemas na UFTM, pois nasce fragilizada, traz, em sua essência, a marca indelével da ilegitimidade e o caráter antidemocrático e antiético. No âmbito da UFTM, a nomeação do 2º colocado é ainda uma afronta à moralidade e à eficiência administrativa”, escreveu Fonseca, cuja chapa recebeu 3.187 votos na consulta interna, realizada em junho do ano passado. Anjo obteve 2.649 e, na época, acusou “indícios de irregularidades” no pleito ao Ministério Público Federal, que arquivou e desconsiderou a denúncia.

6. UFGD – Universidade Federal da Grande Dourados

Data da nomeação: 11 de junho
Reitora nomeada interinamente: Mirlene Damázio, que não estava na lista tríplice da universidade

Em março, o colégio eleitoral definiu a seguinte lista tríplice, em ordem: Etienne Biasotto, Jones Dari Goettert e Antonio Dari Ramos. Entretanto, o Ministério Público Federal abriu ação civil pública para questionar o pleito, sob argumento de que a formulação da lista foi antiética e desrespeitou o princípio da representatividade. Em abril, o Ministério da Educação pediu para a universidade refazer o processo eleitoral. No imbróglio, o MEC interveio e nomeou a professora de pedagogia Mirlene Damázio, que não estava na lista tríplice, como reitora pro tempore. Na primeira reunião com estudantes, foi chamada de “interventora”.

7. Cefet-RJ – Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio de Janeiro

Data de nomeação: 15 de agosto
Diretor nomeado interinamente: Maurício Aires Vieira, que era assessor de Abraham Weintraub

Físico gaúcho e ex-assessor do ministro Abraham Weintraub, Maurício Aires Vieira não tem vínculo acadêmico no Rio. Segundo o ministério, o processo eleitoral do centro está sob “análise administrativa” e, até a conclusão, foi designado um diretor-geral temporário – não foram divulgados detalhes das denúncias de irregularidades que impediram a posse do professor Maurício Motta, o mais votado na consulta interna da instituição. Hostilizado por estudantes ao entrar no campus, Aires Vieira também foi tratado como “interventor”.

 

Nas universidades restantes, foram nomeados os primeiros colocados nas listas tríplices na UFRN, no Rio Grande do Norte, UFRJ e Unirio, no Rio de Janeiro, e UFV, em Minas Gerais. Ainda faltam as nomeações de novos reitores na UFMA, no Maranhão, e UFPE, em Pernambuco. Em Pernambuco, o desfecho deve demorar: um grupo de 168 professores e empresários está contestando a lista tríplice da universidade. Liderado por um apoiador bolsonarista, o coronel da reserva da PM Luiz Meira, o movimento Docentes pela Liberdade levou ao MPF uma denúncia de “conduta irregular” na composição da lista.

Ilustração: Rodrigo Bento/The Intercept Brasil

As canetadas das intervenções

Por lei, o reitor e o vice-reitor de instituições federais de ensino são nomeados pelo presidente, que avalia a lista elaborada pelo colegiado das instituições, composto por professores (que representam 70% do grupo), funcionários e estudantes (os demais 30%). Em algumas universidades, adota-se o modelo paritário (o peso dos votos de professores, funcionários e estudantes é igual, 33,3%, a despeito da diferença numérica de votantes). Formalizar a escolha da consulta interna da universidade (isto é, nomear o primeiro colocado da lista tríplice) é uma forma de respeitar a autonomia universitária.

Mas, em diversas notas à imprensa, o MEC vem martelando o argumento de que não há hierarquia entre os indicados das listas tríplices. “A relação é enviada para o Ministério da Educação e a palavra final é do presidente da República”, diz o site oficial do MEC. E, na escolha dos novos reitores, o governo leva em conta até as redes sociais dos candidatos para se certificar de que eles estão alinhados com o governo. Os deputados de cada estado ajudam o governo a levantar a ficha de cada um dos possíveis reitores.

A intervenção não termina na nomeação – até porque os reitores perderam poder no novo governo. Em maio, Bolsonaro assinou um decreto que tira dos reitores a autonomia para nomear dirigentes (como diretores e pró-reitores) de instituições federais, que terão que passar pelo crivo de Onyx Lorenzoni, ministro-chefe da Casa Civil. Os indicados a ocupar cargos nessas instituições serão investigados pela Agência Brasileira de Inteligência, a Abin, e pela Controladoria Geral da União.

Em julho, Weintraub também assinou a portaria 1373/2019, que puxa para o ministério da Educação a prerrogativa de nomear e/ou dispensar cargos nas instituições de ensino.

As ações foram consideradas “ataques” à autonomia de universidades, institutos federais e centros de educação tecnológica. A assessoria jurídica do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior, o Andes-SN, considera o decreto inconstitucional. “É mais uma tentativa do governo federal de controlar as universidades públicas e destituí-las de caráter republicano. Tirar a nossa autonomia para eleger, entre nossos pares, quem vai assumir os cargos do cotidiano do trabalho”, definiu, em nota, Eblin Farage, secretária-geral do sindicato.

 

 

 

‘SAÍ DO CORTE DE CANA PARA ME TORNAR PROFESSOR’: INCRA QUER ACABAR COM A ESCOLA DO MST QUE MUDOU MINHA VIDA

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The Intercept Brasil | Greisson Izidorio | Foto: Breno Lima/The Intercept Brasil – LEMBRO DE QUANDO meu pai, minha mãe e meus quatro irmãos íamos juntos para o corte de cana. Acordávamos cedo, 4 horas da manhã, e a mãe acordava antes ainda para preparar a comida. A gente cortava cana em um engenho próximo de nossa casa em Ribeirão, no interior do Pernambuco — uma região à mercê da oligarquia da cana de açúcar, imposta há séculos por senhores de engenho e usinas açucareiras.

Andávamos dois quilômetros a pé até o corte. Quando a gente chegava no canavial, meus pais procuravam um canto com sombra onde meus irmãos pequenos pudessem ficar, debaixo de uma árvore ou pé de goiabeira. Aí eu e meu irmão mais velho ajudávamos no trabalho. Era o tempo da ‘cana amarrada’: a gente juntava e amarrava a cana que meus pais cortavam. Contávamos dez ou 12 canas para caber em um fecho, e isso agilizava a produção dos meus pais.

Nessa época, saíamos cedo de casa e ajudávamos nossos pais até 10 ou 11 horas da manhã, que era o tempo de voltar para casa, tomar um banho e ir pra escola na cidade. Então, enquanto nossos coleguinhas dormiam até às 9 horas da manhã, a essa hora já estávamos amarrando fechos de cana, e nosso rendimento escolar era baixo por conta disso. A gente ia para o colégio marcar presença, e eu não via outra perspectiva que não fosse viver do corte de cana.

Geralmente, um bom cortador de cana produz até 7 toneladas em um dia. É um trabalho degradante com uma exploração muito pesada, em que pessoas são forçadas a trabalhar em seu limite máximo. As usinas costumam pagar cerca de 7 reais por tonelada de cana cortada  e, ainda assim, há fraudes nessas pesagens. O ‘cabo’, empregado do engenho responsável por pesar e pagar pela quantidade cortada, às vezes rouba medidas para satisfazer a vontade do patrão e dar menos ao trabalhador.

CLIQUE AQUI e leia a matéria toda no Site The Intercept Brasil.

 

MATERIAL INFORMATIVO REFORÇA A IMPORTÂNCIA DOS BANCOS PÚBLICOS NOS ESTADOS

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Reconta Aí – Elaborado pela Contraf-CUT, dados mostram, por exemplo, a porcentagem de agências, os números das operações de crédito, da carteira de crédito imobiliário e do Programa Minha Casa, Minha Vida.

Os bancos públicos foram criados para atender às necessidades de toda a sociedade brasileira. Porém, o Brasil é um país enorme, com grande diversidade de paisagens, vocações econômicas e diferentes perfis de desenvolvimento. Por isso, para atender realmente a todo o País, as instituições públicas tiveram que diversificar sua atuação em cada unidade da federação.

Para mostrar a importância dos bancos públicos em cada um dos estados, a Contraf-CUT elaborou 27 materiais sobre o tema. Cada um dos materiais é dedicado a um estado, e também ao Distrito Federal.

Os dados apurados pela entidade têm como fontes o Banco Central do Brasil, a Caixa Econômica Federal e o Ministério da Economia. As categorias analisadas são:

  • Número de Agências
  • Operações de Crédito
  • Crédito Imobiliário
  • Crédito Rural
  • Minha Casa Minha Vida
  • FGTS
  • Transferências

Todas as categorias referem-se apenas às atividades das instituições públicas. O trabalho foi feito com a intenção de mostrar à população como essas instituições são importantes para todos, e o quão perto elas estão de cada indivíduo.

Os materiais estão disponíveis na área restrita do site da Contraf-CUT e podem ser acessados clicando aqui.

 

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JABUTI CONSAGRA CONCEIÇÃO EVARISTO E TEM SÉRGIO VAZ E SARAU DO BINHO ENTRE INDICADOS

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“Temos que dessacralizar a literatura”, afirma Sérgio Vaz / Foto: Arquivo pessoal

Para antropóloga, prêmio e exalta a “produção literária que vai falar da condição de vida da classe trabalhadora”

Bruna Caetano e Igor Carvalho | Brasil de Fato | São Paulo (SP) – Conceição Evaristo será a grande homenageada do 61º Prêmio Jabuti. No dia 28 de novembro, no Auditório do Ibirapuera, em São Paulo, a escritora receberá o prêmio de Personalidade Literária do Ano.

A escritora, nascida e criada na favela do Pendura Saia, na zona sul de Belo Horizonte, se tornou um nome de grande relevo na literatura nacional. Conceição Evaristo é autora de “Olhos D’água”, “Poncia Vicencio” e “Becos de Memória”, entre outros.

Em 2018, Evaristo foi homenageada na Feira Literária de Paraty (Flip), no Rio de Janeiro, e participou de uma polêmica eleição para uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL), que terminou com a vitória do cineasta Cacá Diegues.

“Em alguma medida, pode não ser a consagração, mas é um reconhecimento dessa história, uma não negação dessa história. Se formos pensar que Cadernos Negros existem há 40 anos e nunca furaram esse bloqueio, é significativo que tenhamos agora uma autora negra, que assume o ponto de vista negro na autoria de seus textos, sendo premiada e reconhecida”, afirma a antropóloga Érica Peçanha, pesquisadora da produção cultural da periferia e pós-doutoranda no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP).

Duas décadas de movimento

Em 2001, surgia em Taboão da Serra, a Cooperifa. O coletivo, fundado pelo poeta Sérgio Vaz, inaugurava um movimento de saraus nas periferias de São Paulo, que viram espaços estigmatizados, como os bares, sendo ressignificados como centros culturais. Pouco tempo depois, em 2004, surgia o Sarau do Binho, inaugurado pelo poeta Robinson Padial, o Binho. Nesta quinta-feira (3), ambos figuram entre os indicados, na categoria “Fomento à Literatura”, ao 61º Prêmio Jabuti.

“A inclusão dessa nova categoria é um reconhecimento de que o campo literário vai além de autores, livros e editoras. O campo literário também é composto por uma série de práticas de incentivo não apenas à leitura, mas a produção literária também”, explica Peçanha

Ainda de acordo com a antropóloga, o prêmio reconhece uma cena cultural que se aproxima das duas décadas de existência. “Esse movimento não existe apenas na cidade de São Paulo, embora na última década ele tenha vivido sua efervescência, com o surgimento de dezenas de saraus na capital paulista e, mais tarde, tenha espraiado com a chegada dos Slams. Temos saraus nas periferias de diversas cidades do país. É uma produção literária que já alcançou uma diversidade temática que inclui desde as condições de vida dos moradores das periferias, as relações de trabalho, as questões raciais, mas também o amor, a solidariedade, o erotismo e até livros focados no universo infanto juvenil. É um movimento que se consolidou em diversos territórios, mesmo que tenha surgido a partir de experiências alternativas e à margem do campo literário”, encerra.

“Dessacralizar a literatura”

Sérgio Vaz foi indicado pelo seu projeto “Poesia contra a violência”, apresentado por ele nas escolas do país desde 2014. O poeta recebeu a notícia da indicação ao prêmio quando estava a caminho de um colégio, no município de Araraquara, interior de São Paulo.

“Em 1999, eu fui na escola de um amigo meu e um garoto disse: ‘Como ele pode ser escritor, se todo escritor já morreu. Aquilo ficou na minha cabeça, será que vou ter que morrer para que eles me reconheçam? Uns cinco, ou seis anos atrás, eu retomei isso, indo quase que semanalmente para as escolas”, recorda Vaz.

O Sarau do Binho, ao longo de seus 15 anos, desenvolveu diversas atividades para fomentar a literatura. O sarau ocorria no bar que levava o nome do fundador do coletivo, o poeta Binho, onde tinha uma biblioteca fixa, onde os frequentadores podiam pegar livros, que não tinham prazo para serem devolvidos.

Produtora do coletivo, Suzi Soares, reafirma a necessidade de fomentar a literatura. “Oferecemos uma possibilidade de fácil acesso aos livros. Nossa preocupação, do acesso ao livro sem burocracia, sempre foi uma premissa, uma coisa importante pra gente. Então, em todos os eventos, levávamos livros, no bar tínhamos uma biblioteca. A dificuldade do acesso ao livro, faz com que muitas pessoas não leiam”, relata.

Vaz celebrou a indicação, mas afirma que “nada mudará no nosso trabalho”. “Temos que dessacralizar a literatura. Se quisermos fomentar a literatura, que já é o pão do privilégio, vamos ter que falar na bolinha do olho. Onde está o leitor jovem? Na escola. Vamos lá falar de literatura”, pontua.

Suzi lembrou que “por muito tempo o Prêmio Jabuti foi elitista” e que isso tem mudado. “Fiquei muito feliz de ver, não só nosso nome, como de outros parceiros também sendo indicados para essa e outras categorias”, comemora.

 

Edição: Rodrigo Chagas

 

 

 

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