MUNDO | ELEIÇÕES DE ARGENTINA, URUGUAI E BOLÍVIA PODEM MUDAR A POLÍTICA REGIONAL

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MUNDO | ELEIÇÕES DE ARGENTINA, URUGUAI E BOLÍVIA PODEM MUDAR A POLÍTICA REGIONAL
MORALES TENTA UM QUARTO MANDATO

Em outubro, eleitores dos três países vão às urnas para escolher novos presidentes

Carta Capital | SERGIO LIRIO – Luis tem 46 anos, veste-se como os CEOs das startups e promete derrotar uma “ditadura de 15 anos”, terminar todo lo que hay, talkei? Seria uma grande novidade na política do Uruguai se a sua persona não fosse tão fabricada quanto a imagem de bom moço do apresentador Luciano Huck. Na campanha eleitoral, Luis é solamente Luis, o que obriga os marqueteiros a um malabarismo para esconder o sobrenome Lacalle Pou. E não há nada de mais tradicional e oligarca naquelas bandas do Rio da Prata. Seu pai, de mesmo nome, Luis Alberto Lacalle, presidiu o país entre 1990 e 1995. Seu bisavô. Luis Alberto Herrera, tentou seis vezes sem sucesso ocupar o mesmo cargo. Em compensação, exerceu o mandonismo no Partido Nacional, os “blancos”, por 50 anos. Era um típico caudilho sul-americano, populista, nacionalista e de origem agrária. Apesar dessa herança, Lacalle Pou, o Luis, tem boas chances de interromper a sequência de vitórias da esquerdista Frente Ampla, de Pepe Mujica.

Em outubro, os uruguaios, assim como os argentinos e os bolivianos, vão às urnas para escolher novos presidentes. À exceção da Argentina, onde a vitória da dupla Alberto Fernández e Cristina Kirchner no primeiro turno parece líquida e certa, dado o completo fracasso de Mauricio Macri, as disputas nos outros dois países estão cercadas de incertezas. O Uruguai é o caso mais intricado. A tal “ditadura” atacada por Lacalle Pou corresponde ao período de sucessivos governos da Frente Ampla. Durante uma década e meia, os uruguaios escaparam dos sobressaltos dos vizinhos: enquanto o Brasil e a Argentina afundavam em crises políticas e econômicas, o parceiro menor do Mercosul via sua economia crescer de forma ininterrupta, reduzia as desigualdades e tinha até tempo para avançar em pautas de costumes, entre elas a legalização do aborto e da maconha.

O ritmo cada vez menor de expansão do PIB, 1,6% em 2018, uma inflação não tão alta, mas incômoda (cerca de 8% ao ano) e o aumento da dívida pública fizeram, porém, brotar no eleitorado um sentimento de fastio e um desejo de mudança, embora os uruguaios tenham tido a sapiência de rejeitar, ainda nas primárias ocorridas em junho, o aventureiro Juan Sartori, banqueiro nebuloso fã de Donald Trump e Jair Bolsonaro, que abusou das fake news na tentativa de emplacar sua candidatura.

As últimas pesquisas dão uma ligeira vantagem a Daniel Martínez, ex-prefeito de Montevidéu e candidato da Frente Ampla. Ele aparece com 37% das intenções de voto, contra 26% de Lacalle Pou. Em terceiro desponta o economista Ernesto Talvi, do Partido Colorado, de centro-direita, com 19%. Sem chances de conquistar uma vitória no primeiro turno, Martínez terá de convencer parte do eleitorado de Talvi a reafirmar a confiança no mais longevo e bem-sucedido projeto progressista do Cone Sul.

A disputa no Uruguai é, de toda forma, sui generis. Luis e Talvi estão à direita no espectro político, mas seus programas de governo não defendem uma guinada radical rumo ao neoliberalismo. Ao contrário. Os dois pregam aumentos dos investimentos em educação e infraestrutura. As diferenças mais notáveis se dão na pauta de costumes. Lacalle Pou ameaça, por exemplo, asfixiar a política de liberalização da maconha aprovada no governo Mujica. O aumento da violência também incomoda e a defesa de um endurecimento das penas e do combate ao crime organizado é uma das principais bandeiras da oposição.

Na Bolívia, a tentação caudilhesca virou-se contra Evo Morales. Seus três mandatos modernizaram o país andino – que antes da chegada do MAS ao poder não possuía uma Suprema Corte, criada em 2009 – e geraram um crescimento do PIB sem precedentes na história local, média de 5% ao ano. Ainda assim, os eleitores bolivianos não escondem o desconforto com o fato de Morales ter atropelado as regras constitucionais e decidido concorrer uma quarta vez.

Não bastasse, o governo tem sido responsabilizado pelas queimadas na Amazônia boliviana, que destruíram mais de 2 milhões de hectares de floresta. As pesquisas impedem uma leitura precisa da situação. Uma delas, posta em dúvida por integrantes do Tribunal Eleitoral, dá 31% para Morales e 25% a Carlos Mesa. Outra, divulgada na segunda-feira 16, registra uma vantagem de 20 pontos porcentuais do atual presidente em relação ao oponente.

Mesa presidiu a Bolívia durante cinco meses, de outubro de 1994 a março de 1995, período de intensa turbulência. A revolta popular contra a privatização do gás natural, principal riqueza boliviana, quando os ministros de Energia e de Economia tinham o hábito de morar em Miami, fomentaria o movimento que mais tarde levaria Morales à Presidência. Como no Uruguai, esta eleição será um teste para um grupo político de longo domínio, que coleciona mais sucessos do que fracassos, mas que, diante de novos desafios, se apega a velhas soluções.


SALVO UMA HECATOMBE, ALBERTO FERNÁNDEZ E CRISTINA KIRCHNER VÃO LEVAR NO PRIMEIRO TURNO

Caso Martínez e Morales superem as adversidades e saiam consagrados das urnas, uma nova onda vermelha irá reconfigurar as relações regionais. Sob a liderança da Argentina a partir de novembro estarão Bolívia, Uruguai e Venezuela. Do outro lado do ringue apresentam-se Bolsonaro, Sebastian Piñera, do Chile, e Ivan Duque, da Colômbia. Mario Abdo Benítez, do Paraguai, acuado por denúncias de corrupção e alvo de protestos populares, apequenou-se.

Maior, mais rico e populoso país sul-americano, o Brasil carece, para desespero de quem decretou o fim precoce e torce pelo enterro do “bolivarianismo”, de uma liderança à altura do embate, para dizer o mínimo. Bolsonaro é uma fonte de instabilidade no arco americanófilo e neoliberal. Seus ataques gratuitos, juvenis e incivilizados contra lideranças do continente dispersam a tropa. O episódio no qual enalteceu o ditador Augusto Pinochet e comemorou o assassinato do pai da ex-presidente chilena Michelle Bachelet, além de mais um vexame internacional, produziu um desgaste na relação com Piñera, obrigado a repudiar as declarações do colega brasileiro e defender a adversária Bachelet. Se quiserem ter influência no Cone Sul, os Estados Unidos vão precisar de um interlocutor capacitado. E este não se encontra no Palácio do Planalto.

 

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ATAQUE À ECONOMIA NACIONAL | LAVA JATO MONTOU “SOCIEDADE” COM ADVOGADO PARA EXTORQUIR A PETROBRAS

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ATAQUE À ECONOMIA NACIONAL | LAVA JATO MONTOU “SOCIEDADE” COM ADVOGADO PARA EXTORQUIR A PETROBRAS

Os membros da Lava Jato atuaram em parceria com o advogado dos acionistas minoritários da Petrobrás, que buscavam saquear bilhões da empresa brasileira

Causa Operária | Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil – As últimas revelações da Vaza Jato, divulgadas pelo The Intercept, em parceria com outros órgãos da imprensa burguesa, ao revelarem a obstinação da Força-Tarefa em tentar impedir a atuação do ministro Gilmar Mendes, do STF, visto por Dallagnol & Cia. como um obstáculo aos seus planos, levantaram a lebre a respeito da relação entre o advogado Modesto Carvalhosa, um elemento da direita e crítico assíduo da ala do STF que, por assim dizer, apresenta contradições com a operação, e a Lava Jato.

As conversas vazadas mostram os membros da Lava Jato confabulando e traçando estratégias para pedir o impeachment de Gilmar Mendes. Numa das conversas, a procuradora de São Paulo, Thaméa Danelon, põe Dallagnol a par dos preparativos de um pedido de impeachment contra o ministro do STF: “O Professor Carvalhosa [Modesto Carvalhosa] vai arguir o impeachment de Gilmar. Ele pediu para eu minutar para ele”, disse ela num chat privado, em 3 de maio de 2017. O advogado protocolaria o pedido de impeachment contra Mendes neste ano de 2019.

Modesto Carvalhosa, no entanto, não era uma figura desinteressada, nem tinha em compromisso puramente ideológico, no desenrolar dessa luta. Conforme noticiou em março deste ano o site Conjur, ligado ao mundo jurídico, Carvalhosa e a Lava Jato eram “sócios” num negócio milionário.

O negócio tem a ver com o absurdo acordo — já barrado pelo STF — que os procuradores da Lava Jato e a diretoria golpista da Petrobrás assinaram com o Departamento de Justiça norte-americano, acordo esse em função do qual a petroleira brasileira se comprometeu a pagar US$ 853 milhões para se livrar de processos movidos nos EUA. Nos termos do acordo, ficou acertado que R$ 2,5 bilhões seriam pagos no Brasil. Desse valor, metade iria para o farsesco  “combate à corrupção” e metade seria destinada ao pagamento de acionistas que eventualmente ganhassem ações judiciais contra a Petrobras.

A “sociedade” entre Carvalhosa e a Lava Jato fica então explicada: o escritório do advogado representa sócios minoritários da Petrobras numa ação em que se chega a pleitear uma indenização de R$ 80 bilhões. O caso tramita na Câmara de Arbitragem do Mercado da B3, a Bolsa de Valores de São Paulo.

Em outras palavras, Modesto Carvalhosa é o representante de setores da burguesia que buscam extrair alguma vantagem do acordo leonino arquitetado pelo imperialismo norte-americano para destroçar a empresa brasileira. São setores locais que se associam com o imperialismo e que, ao fim e ao cabo, buscam abocanhar algumas migalhas caídas da mesa de jantar das verdadeiras forças dominantes.

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ANATOMIA E IMAGENS DO GRANDE PROTESTO GLOBAL

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ANATOMIA E IMAGENS DO GRANDE PROTESTO GLOBAL
Não foi apenas a maior manifestação já realizada contra a destruição do planeta. Foi um sinal claro de que aumenta a consciência sobre as causas do problema e de que o movimento pode tornar-se ator central na contestação do capitalismo

OUTRASPALAVRAS | MOVIMENTOS E REBELDIAS | por Antonio Martins – Se não é possível ocultar um protesto, tente esvaziá-lo de sentido. A Greve Global pelo Clima estava convocada há dois meses, mas a velha mídia brasileira fez o possível para não vê-la – muito menos, narrá-la.

Agora que isso tornou-se impossível, pois milhões foram às ruas no primeiro dia da semana de ações, as fotos se espalharão pelos portais, jornais e noticiários de TV. Os textos tomarão, no entanto, o cuidado de omitir três pontos centrais. Primeiro: cresce, junto com as marchas, a consciência de que o planeta não é ameaçado “pelo ser humano” – mas por um sistema que obriga multidões a devastarem a natureza (ao privá-las de outro modo de subsistência) e que promove, em busca do lucro, o consumismo, o desperdício e a obsolescência programada. Segundo: esta consciência deixou de ser um fenômeno restrito às sociedades ricas ou às classes com mais acesso à informação. À medida em que as consequências do aquecimento global espalham-se, surgirá talvez um fenômeno oposto: as maiorias pobres, principais vítimas, podem converter-se na grande força a tomar as ruas e exigir mudança. Terceiro: a omissão dos políticos tem um preço. Embora tenha se difundido pelo mundo, os protestos foram e tendem a ser maiores e mais ácidos nos países cujos governantes desdenham da crise.

Oceania

Austrália

A jornada desta sexta-feira começou na Oceânia, quando o resto do planeta ainda dormia. Na Nova Zelândia, onde a primeira ministra Jacinta Ardern defende a imigração e a luta contra o aquecimento global, as manifestações ocorrerão no próximo dia 27. Mas a Austrália, onde governa Scott Morrison, um primeiro-ministro alinhado à direita e aos planos geopolíticos de Trump, viveu talvez os maiores protestos de rua de sua história. Multidões formaram-se nas principais cidades – Sidney, Camberra, Adelaide, Brisbane – e uma centena de centros urbanos menores. Reuniram 300 mil pessoas, num país de população nove vezes menor que a brasileira. Muitas portavam cartazes contra Morrinson. Outras lembravam: “negação não é política”, referindo-se ao fato de que o enorme litoral australiano e a concentração dos habitantes na costa torna o país especialmente vulnerável à elevação dos mares.

Austrália

Situadas a Nordeste da Austrália, as Ilhas Salomão também foram palco manifestações. Lá, uma população de 560 mil pessoas está ameaçada de desaparecer rapidamente. A altitude média é de centímetros acima do mar. Muitas casas são montadas sobre palafitas fincadas diretamente no solo oceânico. Ciclones, antes inexistentes, estão se tornando cada vez mais comuns. Houve protestos em que se lia: “Não estamos afundando. Estamos lutando”.

Ilhas Salomão

S

Sudeste Asiático

Manila, Filipinas

Filipinas e Indonésia, arquipélagos no Pacífico Sul, tiveram manifestações em condições difíceis. No primeiro país, apesar da feroz ditadura de Rodrigo Duterte, ocorreram 13 protestos. Na Indonesia, eles também ocorreram e lembraram uma tragédia real (e quase desconhecida em todo o mundo). A capital, Jakarta, está afundando – devido tanto à elevação dos mares quanto, em especial, ao esgotamento do lençol freático que, vazio, cede rapidamente ao peso da cidade. Em alguns bairros, o afundamento do solo chega a 20cm ao ano. Estima-se que, em 2030, 90% do território será inabitável. Há semanas, constrangido, o presidente Joko Widod anunciou a tranferência da capital para a ilha de Bornéu. Como Jakarta possui mais de 10 milhões de habitantes, teme-se que o colapso apenas seja transferido. Ainda houve manifestações na Tailândia, onde estudantes muito jovens cercaram a casa do ministro do meio-ambiente e simularam estar mortos.

Indonésia

Tailândia

Ásia das Monções

Na Índia, os protestos ocorreram em Dehli, Mumbai, Hyderabad, Guwahati e dezenas de outras cidades. Uma multidão de estudantes bloqueou ruas na capital, onde se prevê o esgotamento das águas subterrâneas em 2020. As monções, que marcam o clima do país e trazem as chuvas, agora falham.

Índia

Dehli, Índia

Dehli, Índia

Paquistão

Mas também Paquistão (34 cidades), Bangladesh e Afeganistão mobilizaram-se. Neste último país, vítima há 18 anos da mais longa guerra já realizada pelos Estados Unidos, soldados armados protegeram os jovens manifestantes.

Bangladesh

Afeganistão

África

Wakiso, Uganda

Das dezenas de países africanos onde houve manifestações, destacam-se África do SulNigériaQuênia, Uganda Senegal. Aqui, a injustiça climática é extrema. O continente todo produz apenas 7% das emissões globais de CO² – embora reúna 14% da população do planeta. Porém, será, segundo o IPCC-ONU, o mais atingido pela elevação das temperaturas. Haverá secas e inundações extremas. A agricultura tradicional, mais vulnerável e sem recursos, será dramaticamente atingida. O deslocamento de populações, fugindo das intempéries, tenderá a provocar tragédias sociais de grandes proporções, no continente e fora dele, se as sociedades de todo o mundo não multiplicarem sua pressão.

Nairobi, Quênia

Nigéria

Johannesburgo, África do Sul

Uganda

Quênia

Leste europeu

Cracôvia, Polônia

O Leste Europeu foi às ruas. PolôniaRomêniaAlbânia e Ucrânia, onde o socialismo real também produziu desastres ambientais – por não ter se livrado das visões de mundo que enxergam a natureza como “recurso”, a ser domado e explorado pela humanidade. Em Cracóvia e Kiev, cidades cujos países são governados pela extrema direita, dezenas de milhares manifestaram-se.

Kiev, Ucrânia

Albânia

Europa Ocidental

Berlin, Alemanha

Já na Europa Ocidental, destacaram-se FrançaReino Unido e, em especial, Alemanha – mas também houve protestos muito importantes na HolandaBélgica e Grécia. Na Espanha, onde manifestações igualmente gigantescas ergueram-se contra o feminicídio, Itália e Portugal, as manifestações ocorrerão no dia 27.

Bélgica

Dezenas de cidades alemãs encheram suas ruas contra o sistema que provoca o aquecimento global. Calcula-se que 1,4 milhões de pessoas manifestaram-se, em mais de cem cidades. A chanceler Angela Merkel, pressionada, anunciou um pacote de 54 bilhões de euros para medidas “ambientais”. A coalizão “Fridays for Future” respondeu de pronto, considerando as medidas pouco ambiciosas e afirmando: “Querida chanceler, isso não é uma ruptura, é um escândalo”.

Berlin, Alemanha

Berlin, Alemanha

Na Inglaterra, também governada por um primeiro-ministro de direita próximo a Trump (Boris Johnson) dezenas de cidades também protestaram. Em Londres, o líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn falou a cerca de 100 mil pessoas. Acenou com a hipótese de uma “revolução industrial ambientalista”, orientada para novo tipo de produção e de consumo. Em Paris, 10 mil pessoas, a grande maioria muito jovens, foram às ruas.

Londres, Inglaterra

Paris, França

Brasil

São Paulo

O protesto em São Paulo estava se adensando, quando este texto foi fechado. Dez mil pessoas concentraram-se a partir das 17h na Avenida Paulista, diante do MASP. Destacou-se a presença de indígenas, de gente muito jovem e de um bloco de catadores. Havia centenas de cartazes de mão estampando o desejo político dos manifestantes. A maior parte condenava Bolsonaro e o capitalismo. Em mais 32 cidades brasileiras estavam previstas ações, de passeatas a pequenos atos. Entre elas, destacaram-se RioFortaleza e São Carlos-SP.

América Latina

Cidade do México

Na América Latina, também México, Bolívia, Colômbia, Chile El Salvador também tiveram protestos importante. Na Cidade do México, milhares de garotas e garotos marcharam até o Zócalo, centro da megametrópole, pedindo que o governo de Lopez Obrador decrete emergência climática.

Colômbia

La Paz, Bolívia

Estados Unidos

EUA

Nada poderia fechar mais simbolicamente o início da semana de greve pelo clima que a vasta série de manifestações nos Estados Unidos. Em dezenas de cidades, multidões desafiaram Trump, expoente e principal articulador da onda de extrema direita que ameaça varrer o planeta. Multidões mostraram que há resistência; que ela é capaz de se tornar majoritária em breve e que se politiza rapidamente. O Green New Deal, proposta radical que articula defesa do ambiente com igualdade e vasta renovação da infraestrutura, foi abraçado pelos movimentos que articularam as manifestações.

EUA

EUA

A jornada foi encerrada por uma fala da garota sueca Greta Thunberg em Nova York. Disse ela, a uma multidão de mais de 150 mil pessoas: “Se você pertence àquele pequeno grupo de pessoas que se sente ameaçado por nós, temos algumas notícias muito más para você, porque é só o começo. A mudança está começando, queiram vocês ou não”.

Greta Thunberg discursa em Nova York

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RIO DE JANEIRO: AS CRIANÇAS POR TRÁS DAS ESTATÍSTICAS #meteoro.doc

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RIO DE JANEIRO: AS CRIANÇAS POR TRÁS DAS ESTATÍSTICAS #meteoro.doc

A guerra contra as drogas de Wilson Witzel se confunde com o extermínio puro e simples. Nesse vídeo, você vai conhecer as histórias de seis crianças e vai saber como a PMRJ abreviou suas vidas.

Essa é a campanha de financiamento coletivo que mantém esse canal no ar: https://goo.gl/koguaJ

E tem a nossa caixa postal 17905 CEP 80410-981

O Meteoro já caiu no facebook, no twitter e no instagram: https://www.facebook.com/meteorobr/ https://twitter.com/meteoro_br https://www.instagram.com/meteorobrasil/

Trilha sonora: Bad Day lo fi mix https://www.youtube.com/watch?v=YWQF7…  Persona 3 FES – Maya

REFERÊNCIAS:

Criança de 11 anos morta com tiro de fuzil sonhava em ser ginasta https://noticias.r7.com/rio-de-janeir…

Família faz duras críticas às autoridades após morte de menino: “A culpa é de quem tá sentado lá” https://www.tupi.fm/rio/familia-faz-d…

‘Estamos sem chão’, desabafa família de menino de 11 anos baleado em Bangu; estado de saúde é grave https://oglobo.globo.com/rio/estamos-…

Parentes de jogador de futebol morto durante operação em Niterói negam confrontos na hora do crime https://oglobo.globo.com/rio/parentes…

Ágatha Félix será enterrada hoje; corpo foi liberado com atraso https://www1.folha.uol.com.br/cotidia… ORIGEM DA PMRJ – Thread de Luiz Antonio Simas https://twitter.com/simas_luiz/status…

 

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THOMAS PIKETTY | THOMAS PIKETTY CONTRA A PROPRIEDADE PRIVADA

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THOMAS PIKETTY | THOMAS PIKETTY CONTRA A PROPRIEDADE PRIVADA
O economista francês Thomas Piketty, autor de ‘Capital e Ideologia’JOEL SAGET (AFP)

Economista francês, grande teórico da desigualdade, publica ‘Capital e Ideologia’, um monumental ensaio que propõe “a circulação de bens” para “superar o capitalismo”

EL PAÍS | MARC BASSETS | Paris – Não é a luta de classes e a mão invisível do mercado, muito menos a história dos grandes líderes e batalhas o que move o mundo, e sim as ideias, de acordo com o economista francês Thomas Piketty. E o aleph que dá sentido a quase tudo, a chave da evolução das sociedades é a propriedade privada. Quem possui o que e em nome de que.

As desigualdades crescentes de renda e patrimônio, que Piketty dissecou em uma obra anterior, o sucesso de vendas O Capital no Século XXIsão produto de uma ideologia. Cada momento tem suas justificativa, um argumento que o sustenta, e transformar o mundo obriga a mudar de ideias. “Dar um sentido às desigualdades, e justificar a posição dos vencedores, é uma questão de vital importância. A desigualdade é acima de tudo ideológica”, escreve em Capital e Ideologia, recém-publicado na França.

O novo livro é ambicioso. Começando pelo tamanho: 1.200 páginas. Abarca séculos, da Idade Média aos dias de hoje. Passa por quatro continentes. Utiliza várias disciplinas acadêmicas: da economia à história, da ciência política à teoria da justiça e à literatura. Os romances de Jane Austen, Balzac e Carlos Fuentes oferecem tanta ou mais informação do que uma bateria de gráficos e tabelas, 170, sobre a história da propriedade privada e seu efeito nas desigualdades.

“Hoje enfrentamos uma lógica de acumulação sem limite e de sacralização do direito do proprietário”, disse Piketty nessa semana em um encontro com jornalistas na Paris School of Economics, na qual é um dos diretores do Laboratório Mundial da Desigualdade. “E esquecemos que os grandes sucessos do século XXI na redução das desigualdades, mas também no crescimento econômico, foram obtidos reequilibrando os direitos do proprietário com os do assalariado, do consumidor. A propriedade foi colocada para circular”.

Capital e Ideologia contém três livros em um. O primeiro e mais extenso —as 800 primeiras páginas— é uma história detalhada do que o autor chama de “regimes desigualitários” e “de desigualdade”. Começa pelo Antigo Regime e a desigualdade “trifuncional” das sociedades divididas no clero, na nobreza e no terceiro estado. Se esse regime perdurou durante séculos, foi porque uma ideologia o sustentava, tinha legitimidade: se justificava pela necessidade de segurança, que deveria ser garantida pela casta guerreira, e de sentido, do qual se encarregava a casta sacerdotal.

Da ideologia “trifuncional”, Piketty passa à “sociedade de proprietários”. A Revolução Francesa de 1789 aboliu os privilégios, mas não a propriedade privada, que podia incluir os escravos. Entre 1800 e 1914, as desigualdades disparam e superam os níveis do Antigo Regime. “O argumento da época era que, se o direito de propriedade, adquirido legalmente, for questionado, nunca saberemos onde parar, e o caos irá se impor”, diz Piketty.

O período de entreguerra no século XX é uma transição entre o “proprietarismo” desigualitário e não regulado do século XIX, e a era social-democrata da pós-guerra mundial. Os Estados Unidos e a Europa adotam à época fiscalidade progressiva com impostos impositivos que superaram 80%, sistemas de proteção social avançados e o acesso à educação. Esse modelo entra em decadência a partir dos anos oitenta, com a revolução de Reagan e a queda do bloco soviético, no que Piketty chama de “hipercapitalismo”. A ideologia desigualitária, o que nesse período, que é o nosso, legitima o status quo, seria a meritocracia, “a necessidade de justificar as diferenças sociais apelando a capacidades individuais”.

A “esquerda brâmane”

Aqui termina o primeiro dos três livros. O segundo, que ocupa as 300 páginas seguintes, é um estudo sobre a evolução do sistema de partidos na Europa e Estados Unidos. Em alguns anos os social-democratas passaram de ser o partido da classe trabalhadora ao da elite com diplomas universitários, e abraçaram as ideologias da desigualdade. São os cúmplices necessários do “hipercapitalismo”, segundo Piketty, que cria o termo de “esquerda brâmane” (pelo nome da casta sacerdotal hindu). Ela domina a elite política junto com a “direita comerciante” (as elites econômicas e empresariais). É um eco da sociedade “trifuncional” do Antigo Regime que deixa as classes populares na intempérie política e à mercê das mensagens nacionalistas e racistas.

O terceiro e último livro dentro de Capital e Ideologia é o mais curto, menos de cem páginas, mas o mais debatido na França. Nesse capítulo, Piketty lança seu programa de “socialismo participativo” para “superar o capitalismo e a propriedade privada”. O objetivo é transformar a propriedade em “temporal” e “organizar uma circulação permanente dos bens e da fortuna”. Defende uma integração federal da União Europeia. E pede um imposto sobre o patrimônio no valor máximo de 90% aos supermilionários, por uma gestão conjunta das empresas na qual os trabalhadores dividam o poder, e por uma espécie de herança para todo jovem de 25 anos de 120.000 euros (550.000 reais).

“O hipercapitalismo do século XIX, anterior a 1914, se espatifou diante de uma concorrência muito forte entre países, que eram potências coloniais. De tanto acumular ativos em outras partes do mundo, acabaram por se destruir mutuamente”, concluiu Piketty na citada conversa. “Hoje não acontecerá o mesmo. Mas o que pode acontecer é que esse divórcio com as classes populares leve a uma explosão da União Europeia e a um encolhimento das identidades nacionais”.

UM INTELECTUAL DE ESQUERDA,
OTIMISTA E TOTALIZADOR

O Capital no Século XXI, publicado em 2013 em francês, vendeu mais de dois milhões de exemplares e marcou o debate sobre as desigualdades na Europa e nos Estados Unidos. Thomas Piketty, de 48 anos, é o último exemplar do intelectual totalizador. A novidade é que agora o intelectual já não é um filósofo, um sociólogo ou um romancista, e sim um economista. E não constrói suas propostas no ar, se apoia em uma base sólida na qual o big data tem um papel central. O economista Branko Milanovic chama esse método de “turbo-Annales” em um artigo no Le Monde, em alusão à chamada escola da revista Annales, corrente histórica multidisciplinar e empírica de historiadores fundada no final dos anos vinte.

Piketty não é, como tantos na paisagem intelectual francesa, um refutador adepto da retórica apocalíptica. “Sou fundamentalmente otimista”, declara. E se refere ao seu novo livro: “Capital e Ideologia parte de uma constatação: ocorreu uma melhora prodigiosa dos níveis de educação e saúde. E termina com outra constatação otimista: há uma aprendizagem da justiça na história. Há fases de regressão terrível, mas acredito em uma história de progresso: não somente técnico, e sim humano, através da educação e da saúde, e com uma organização social que seja mais igualitária no sentido de permitir o acesso à educação, à cultura, à riqueza”. Se uma característica da esquerda foi a fé no progresso humano, Piketty a conserva.

CENSURA, UM EFEITO CASCATA QUE CORRÓI A ARTE NO BRASIL DE BOLSONARO

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CENSURA, UM EFEITO CASCATA QUE CORRÓI A ARTE NO BRASIL DE BOLSONARO
Ato contra a suspensão do espetáculo ‘Abrazo’ pela Caixa Cultural, em Recife. ARQUIVO PESSOAL

Discurso contra financiamento público de obras com temática de gênero, cortes de recursos e polêmicos cancelamentos de espetáculos alimentam o receio de intervenção em meio à classe artística

EL PAÍS | BEATRIZ JUCÁ | São Paulo – Faltavam cinco minutos para a entrada do público que assistiria à apresentação das 18h do espetáculo teatral Abrazo, na Caixa Cultural do Recife, quando a companhia Clowns de Shakespeare foi avisada de que a sessão estava cancelada. A peça, que aborda temas como repressão e censura, foi banida pela instituição sem qualquer diálogo. Montada em 2014 na onda da efeméride dos 50 anos do golpe militar brasileiro, o espetáculo já havia circulado por cerca de 20 Estados nos últimos cinco anos. A apresentação cancelada seria a segunda daquele mesmo dia, 7 de setembro. Clowns de Shakespeare havia fechado um contrato com a Caixa para fazer uma temporada de oito apresentações da peça no Recife e em Curitiba, pelas quais receberia 220.000 reais. O mesmo edital também previa rodas de conversa e uma oficina.

Naquela tarde, após a primeira apresentação, o grupo realizou com o público o bate papo acordado. Respondeu a perguntas que iam de questões técnicas relacionadas à obra a reflexões sobre a atual conjuntura brasileira. “Conversamos sobre o golpe [se refere ao impeachment da ex-presidenta Dilma], sobre um Governo eleito pelo voto, mas que opera no território do preconceito. Debatemos questões políticas, mas foi um bate papo corriqueiro”, conta o diretor artístico do grupo, Fernando Yamamoto. Alguns dias depois, a companhia foi informada de que o contrato estava cancelado. Nenhuma das sete apresentações previstas poderiam acontecer. O motivo, segundo a Caixa: o grupo havia infringido uma cláusula do contrato, que proibia que se falasse de forma negativa dos patrocinadores.

A decisão da Caixa Cultural em cancelar o espetáculo Abrazo se soma a outro caso que tem alimentado uma narrativa do medo da volta da censura no Brasil, difundida principalmente nas redes sociais. A Companhia Dos à Deux ganhou um edital semelhante para mostrar seu repertório —desta vez na sede da Caixa em Brasília, entre 18 e 22 de setembro. A companhia acordou, em 13 de agosto, que seriam encenados os espetáculos Aux Pieds de la Lettre, uma produção sobre a loucura, e Gritos, peça na qual uma personagem travesti aparece nua em uma das cenas. O grupo de teatro enviou previamente todos os documentos para a contratação das obras, assim como os materiais de divulgação. No início de setembro, a Caixa Cultural solicitou especificamente a sinopse de Gritos e, ao recebê-la, pediu mais detalhes sobre o espetáculo, algo que não ocorreu naquele momento com o outro espetáculo. Dias depois, pediu vídeos completos das duas obras e, em seguida, sugeriu a substituição de Gritos. Sem explicar o porquê.

A Companhia Dos à Deux afirma que se viu “obrigada a excluir o espetáculo do projeto”. Como não havia tempo hábil e recursos logísticos para a substituição, os dois lados decidiram que apenas Aux Pieds de la Lettre seria levado aos palcos e que um workshop e uma roda de conversa compensariam a retirada da segunda obra. Após o acordo, a companhia foi avisada de que o contrato só poderia ser assinado quando houvesse aprovação do superintendente da instituição. A Caixa Econômica Federal é dirigida por Pedro Guimarães, presente na equipe do presidente Jair Bolsonaro desde o período de transição de Governo.

As duas companhias de teatro que tiveram suas obras questionadas afirmam que em algum momento do diálogo envolvendo o edital houve a participação de superiores do banco. Em nota, a Caixa Cultural, que reforçou seu o apoio cultural em todas as temáticas e o investimento de 17 milhões de reais em 150 projetos somente no edital que contemplou as duas companhias, disse que o processo de seleção do programa “envolve etapas de avaliação por consultores externos com reconhecimento no meio cultural e por empregados da Caixa Cultural, os quais são empregados de carreira do banco e seguem as mesmas políticas e diretrizes da instituição.”

O temor da censura velada

As suspensões e cancelamentos de espetáculos teatrais nas últimas semanas têm servido de combustível para alimentar um temor de instalação de uma censura velada em um contexto já turbulento para a cultura brasileira. O setor, que já vinha sofrendo sucessivos cortes de recursos nas gestões anteriores, contabiliza expressivas perdas no Governo Bolsonaro. O presidente extinguiu o Ministério da Cultura. Recentemente, incluiu na esteira de cortes orçamentários em distintas áreas o cancelamento de um edital de fomento de séries LGBT para TV pública e de programas de apoio à ida de realizadores brasileiros a festivais internacionais de cinema. O ultradireitista, que costuma ser incisivo nas declarações contra o que chama de “ideologia de gênero” e em defesa da ditadura militar, chegou a ameaçar extinguir a Agência Nacional de Cinema (Ancine) no último mês de julho, caso não pudesse filtrar as obras a serem financiadas pelo órgão público.

Entre produtores, instaurou-se um alerta de que esses cortes pudessem estar sendo utilizados indiretamente para evitar obras que vão de encontro às ideias conservadoras do presidente, ainda que sem uma determinação expressa dele. A questão ganhou tanta relevância que a censura foi tema de audiência pública na Câmara dos Deputados, na última quarta-feira. Produtores culturais acreditam que as declarações do presidente vêm repercutindo na ponta da cadeia cultural brasileira.

Quando o edital para séries LGBT foi cancelado, Bolsonaro comemorou o corte em uma live no Facebook. Citou especificamente o projeto Afronte, dirigido por Bruno Victor e Marcus Mesquita. A série previa cinco episódios sobre jovens negros e gays do Distrito Federal. “Confesso que não dá para entender. Então, mais um filme aí que foi para o saco”, afirmou o presidente. Bruno Victor diz não saber como Bolsonaro teve acesso ao seu projeto, já que a Ancine não havia divulgado a lista de selecionados oficialmente. “Foi uma censura ao vivo”, analisa.

O diretor de teatro Fernando Yamamoto conta que, desde que a Caixa Cultural rescindiu o contrato com a Companhia Clowns de Shakespeare, tem recebido mensagens privadas de artistas com receio de se manifestar publicamente e perder financiamentos públicos em um contexto de poucos recursos e piores condições de trabalho. “No mínimo, há a implantação de uma autocensura, porque muitos artistas estão com medo de sofrer uma represália”, analisa.

Impasse na Justiça

O caso da Clowns de Shakespeare foi parar na Justiça, onde a companhia tenta reverter a rescisão contratual. Na decisão comunicada ao grupo de Yamamoto, a Caixa afirmou que o teor da roda de conversa havia infringido o inciso VII da Cláusula Quarta do contrato, que determina o dever do grupo contratado em “zelar pela boa imagem dos patrocinadores, não fazendo referências públicas de caráter negativo ou pejorativo”. A instituição apenas disse ao grupo que tinha provas em vídeo, sem detalhar quais declarações haviam sido interpretadas como negativas ou pejorativas. Instado pelo Ministério Público Federal, a Caixa enviou um ofício no qual reproduz parte do diálogo entre o público e os atores. O documento aponta que os atores dizem ao público ter sofrido resistência ao apresentar o projeto do espetáculo para um edital “bem recentemente”. “A gente sofre pedidos muitos específicos de vídeo do espetáculo, das projeções… coisa que nunca foi solicitado assim, questões do material de espetáculos ser muito analisado”, comentou uma atriz do espetáculo, segundo o ofício da Caixa.

O grupo alega que não teve a oportunidade de se defender e que a decisão foi unilateral. Na última quarta-feira, o MPF recomendou à Caixa Cultural que retomasse o contrato sob o argumento de que a Constituição garante a livre manifestação do pensamento e que o cancelamento abrupto do contrato não deu ao grupo o direito de se defender. O órgão determinou um prazo de cinco dias para que a instituição responda se vai ou não acatar a decisão, sob o risco de sofrer outras providências administrativas. A Caixa confirmou ao EL PAÍS  ter recebido a notificação e diz que responderá dentro do prazo legal.

Os advogados Rodrigo Salinas, Kátia Catalano e Ana Carolina Capozzi —que trabalham em um escritório especializado na área cultural— afirmam ser comum em contratos de patrocínio cláusulas que impedem o patrocinado de ofender a imagem ou a marca do patrocinador, incluindo a atuação empresarial do Estado. Em casos de editais de fomento direto e leis de incentivo à cultura, onde a Administração Pública não é patrocinadora do projeto, essa cláusula seria ilegal. Como a Caixa é uma entidade da Administração Pública Indireta, os advogados entendem que a apuração de eventual quebra de contrato dependeria de um processo administrativo prévio, com a possibilidade de defesa pelo patrocinado antes da aplicação de qualquer sanção.

Questionada pelo EL PAÍS sobre a retirada da peça Gritos de sua programação, a Caixa se limitou a dizer que selecionou o espetáculo Aux Pieds de la Lettre dentre todo o repertório do grupo. A instituição também não comentou sobre a repercussão de que houve censura no caso dos dois grupos de teatro. “A gente está no meio dessas perguntas todas. Não estamos acusando a Caixa de ter retirado o espetáculo, estamos questionando o que determina qual obra pode ou não ser mostrada. A Caixa Cultural foi parceira para que este projeto se realizasse. E tem um trabalho cultural importante neste deserto de recursos que estamos passando”, afirma Artur Luanda Ribeiro, ator e um dos diretores da Companhia Dos à Deux. Diante da repercussão do caso na imprensa e nas redes sociais, a companhia divulgou uma nota na qual afirma não ter feito nenhuma postagem referente à execução do projeto na Caixa Cultural de Brasília. Ressalta ainda não ter enfrentado qualquer intransigência dos funcionários da instituição.

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LALO LEAL | LULA: POR QUE A GLOBO E AS ‘GRANDES’ MÍDIAS DA REPÚBLICA DE SUCUPIRA FOGEM DELE

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LALO LEAL | LULA: POR QUE A GLOBO E AS ‘GRANDES’ MÍDIAS DA REPÚBLICA DE SUCUPIRA FOGEM DELE
Bolsonaro é tão “nova política” que o dramaturgo Dias Gomes já escreveu sobre gente como ele em 1963, com seu lendário “Odorico, o Bem Amado”, prefeito de Sucupira, que virou novela na década seguinte

Que critérios jornalísticos impedem a Rede Globo, Estadão, Record, SBT, Band de pedir entrevistas com o ex-presidente? Resposta: não existem. Os critérios são político-partidários

Rede Brasil Atual | Publicado por Lalo – A fila para entrevistar Lula é cada vez maior. Jornais, revistas, emissoras de rádio e sites noticiosos de várias partes do mundo querem ouvir o ex-presidente. Sabem que ele é um dos mais importantes políticos de alcance global, mesmo preso.

Lula já falou para a BBC inglesa, para a alemã Der Spiegel, para o francês Le Monde, para o espanhol El Pais, para o argentino Página|12, entre outros. Sua primeira entrevista depois da prisão, em abril deste ano, concedida ao El Pais e à Folha de S.Paulo repercutiu pelo mundo. Foi notícia, por exemplo, no The Guardian, do Reino Unido; no francês Le Figaro; na agência russa Sputinik; no New York Times, no Washington Post e até na conservadora Fox TV dos Estados Unidos.

As visitas de líderes políticos de várias partes do mundo à prisão são frequentes, contrastando com o desprezo generalizado pelo atual presidente da República. As visitas em Curitiba repercutem internacionalmente e as declarações dos visitantes, sempre destacando visões de mundo e análises políticas do ex-presidente, ganham o noticiário pelo mundo.

Só aqui, na chamada “grande mídia”, há silêncio. Com a exceção isolada da Folha de S.Paulo, já mencionada, os grandes veículos de comunicação brasileiros seguem à risca o roteiro traçado pelo golpe, do qual a prisão de Lula era peça-chave.

Lula foi preso para impedir sua candidatura à Presidência da República, o que é ponto pacífico. Mas à sanha golpista isso não bastava. Era preciso torná-lo invisível, se possível para sempre. Levá-lo ao ostracismo como ocorria na Grécia antiga com os suspeitos de exercerem poderes excessivos. Lula tinha que sumir do mapa, em português claro. Para isso o conluio entre a organização autodenominada Lava Jato e a mídia foi decisiva.

Na fase inicial de incriminação do ex-presidente as informações vazadas pelo juiz e promotores de Curitiba eram alardeadas insistentemente. O famoso “powerpoint” grotesco do procurador Dellagnol, com Lula no centro de um círculo fechado de acusações, mostrado à exaustão pela Globo, é o principal símbolo dessa etapa do processo.

De forma concreta o trabalho de desconstrução da imagem do ex-presidente foi medido por um grupo de pesquisa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, coordenado pelo professor João Feres Junior. Entre as evidências apontadas está a revelação de que entre o final de dezembro de 2015 e agosto de 2016, foram ao ar no Jornal Nacional praticamente 13 horas de notícias negativas sobre Lula, apenas quatro horas de noticiário considerado neutro e nem um segundo com notícias positivas. Nem um santo aguentaria tal bombardeio.

Com Lula condenado e preso, tudo mudou. O seu nome sumiu do noticiário com o início da fase do ostracismo. Um ex-presidente da República de uma das maiores economias do mundo, respeitado mundialmente, deixava de ser notícia, pelo menos aqui no Brasil. A mídia hegemônica seguia cumprindo a sua pauta no golpe, mesmo sabendo que para um jornalismo sério, um político preso nessas condições deveria continuar sendo notícia sob qualquer critério jornalístico.

No exterior, no entanto, Lula permaneceu no noticiário e os pedidos de entrevistas começaram a surgir. Mas o script do golpe as impediam sob pretextos jurídicos que, na verdade, eram apenas políticos.

Só depois de passadas as eleições, e alguns meses depois de empossado o governo eleito nessas circunstâncias, foi autorizada a primeira entrevista do ex-presidente.

Daí para frente elas se intensificaram, produzidas por veículos estrangeiros e pela mídia não hegemônica brasileira. O ostracismo calculado rompia-se devido a importância jornalística do personagem e o profissionalismo de veículos estrangeiros e da mídia alternativa brasileira.

Aqui cabe a pergunta: quais são os critérios jornalísticos que impedem a Rede Globo, os jornais O Globo e o Estado de S.Paulo, as TVs Record, SBT, Rede TV, Bandeirantes, Cultura, Brasil e outras de solicitarem entrevistas com o ex-presidente?

Resposta: não existem, porque os critérios desses veículos não são jornalísticos, são político-partidários. Está ai um belo tema para os estudiosos da comunicação se debruçarem.

No caso da televisão, a síntese simbólica de todo esse processo foi dada pela patética presença de três concessionários de redes de televisão, ao lado do presidente da República, assistindo ao desfile de 7 de setembro em Brasília.

A foto revelou de um lado uma afronta à independência que deve existir entre o poder midiático e o poder político e, de outro mostrava personagens caricatos dignos da República de Sucupira.

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SEGURANÇA | ARTIGO | MORTE DE MENINA DE OITO ANOS NO ALEMÃO (RJ) É FALÊNCIA DA POLÍTICA DE WITZEL

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SEGURANÇA | ARTIGO | MORTE DE MENINA DE OITO ANOS NO ALEMÃO (RJ) É FALÊNCIA DA POLÍTICA DE WITZEL
Segundo pesquisadora, cada frase de Witzel “reforça a novidade já velha de que ele já perdeu o mando da segurança pública” / Antonio Cruz/Agência Brasil

Professora e especialista em Segurança Pública da UFF, Jacqueline Muniz faz críticas ao governador

Jacqueline Muniz* | Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) – A morte de uma menina de oito anos, atingida nas costas durante uma operação policial, no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, na sexta-feira (20), revoltou moradores e gerou comoção e indignação nas redes sociais contra o governador do estado, Wilson Witzel (PSC). Na tarde deste sábado (21), o caso ocupou o topo dos assuntos mais comentados do Twitter. A hashtag #ACulpaEDoWitzel esteve em primeiro lugar da rede social.

A menina Ágatha Vitória Sales Félix levou o tiro quando estava dentro de uma kombi com o avô. Ela chegou a ser levada para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Alemão e depois transferida para o hospital Getúlio Vargas, mas não resistiu. Moradores afirmam que agentes da Polícia Militar atiraram contra uma moto que passava próxima da kombi onde Ágatha estava.

Eleito com uma plataforma de segurança pública polêmica e bastante questionável, o governador Wilson Witzel vem colhendo muitas críticas de especialistas, pesquisadores e de organizações ligadas aos direitos humanos. Como comandante das polícias Civil e Militar do estado, Witzel levará em seu currículo o título de governador responsável por mais mortes de civis com autoria do Estado. Desde 1998, a polícia fluminense não matava tanto em operações. Até junho deste ano, quase 30% das mortes violentas no estado foram causadas pela polícia.

Uma das maiores especialistas em segurança pública no Rio de Janeiro, a professora Jacqueline Muniz escreveu um breve relato com críticas a Witzel. Segundo ela, o governador “perdeu o mando da segurança pública”. Abaixo, o artigo da especialista e professora do Departamento de Segurança Pública –  Instituto de Estudos Comparados em Administração de Conflitos (InEAC) da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Veja o artigo da professora Jacqueline Muniz:

Cada frase nova do governante do Rio, Wilson Witzel (PSC), reforça a novidade já velha de que ele já perdeu o mando da segurança pública. Todos os governadores que acreditaram no canto da sereia da repressão como um fim em si mesma e do boto policialesco da polícia que não policia e só dá tiro ostentação sem alvo e mira, tornaram-se reféns e rifados pela economia política do crime, que tem as milícias como expressão eleitoral e econômica de governo faz tempo.

Este é o problema de servir de animador de auditório de forças que desconhece, quando deveria governar as polícias. Governar polícias não é ser garoto propaganda de situações táticas. É comandar a política de polícia que delimita as estratégias de policiamento, as alternativas táticas superiores diante das possibilidades logísticas disponibilizadas.

Mas ele, o governante, que não sabe nada disso, e que ainda mistifica que conhecer de perto o código penal e de processo penal o gabarita a entender a economia política do crime, ilusão de principiante crente do dever-ser jurídico, foi rendido, desarmado e nu como se encontra, vítima de alisadores de maçaneta que o iludem dizendo que o tiozão do “tiro, porrada e bomba” é gostosão.

Ele parece não ver que se tornou algemado pelo que desconhece, restando-lhe obedecer o funcionário subalterno que cedeu o colete balístico para a foto ou ao servidor de nível abaixo do governador que serviu de tutor para que o eleito comandante em chefe das polícias, ao brincar de menino power rangers, virasse objeto de chacota policial.

Ainda dá tempo de tentar governar a segurança, governador e, com isso, se distanciar do governo miliciano!

*Jacqueline Muniz é professora do Departamento de Segurança Pública – Instituto de Estudos Comparados em Administração de Conflitos (InEAC) da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Edição: Eduardo Miranda

EM SÃO PAULO, MOVIMENTO NEGRO ORGANIZA ATO CONTRA ASSASSINATO DE ÁGATHA FÉLIX

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EM SÃO PAULO, MOVIMENTO NEGRO ORGANIZA ATO CONTRA ASSASSINATO DE ÁGATHA FÉLIX
Ágatha Vitória Sales Felix morreu após ser baleada por um policial militar da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Rio de Janeiro; manifestação acontece no dia de memória do sétimo dia do assassinato da criança

Alma Preta | Texto / Nataly Simões | Edição / Pedro Borges | Imagem / Reprodução – Na cidade de São Paulo, entidades do movimento negro planejam para a próxima sexta-feira, 27 de setembro, um ato em protesto ao assassinato de Ágatha Vitória Sales Felix, de oito anos, no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio de Janeiro.

A manifestação ocorre a partir das 18h, na Avenida Paulista, em frente ao vão livre do MASP. A data foi escolhida por ser o sétimo dia do assassinato da criança.

O objetivo é manifestar repúdio às políticas de segurança pública adotadas pelo governo de Wilson Witzel. Ágatha é a quinta criança morta em função da violência no Rio de Janeiro neste ano. Para o movimento, as ações realizadas pela polícia nas favelas corroboram com o genocídio da população negra e pobre.

De acordo com dados do Instituto de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, a polícia nunca matou tanto quanto em 2019. De janeiro a agosto, foram registrados 1.249 casos. A média é de cinco mortes por dia.

O assassinato

Ágatha Vitória Sales Felix morreu na noite de sexta-feira, 20 de setembro, após ser baleada quando estava dentro de uma kombi com o avô, Ailton Felix, na comunidade do Fazendinha. Ela chegou a ser levada para a UPA do Complexo do Alemão e transferida para o Hospital Getúlio Vargas, mas não resistiu aos ferimentos.

De acordo com moradores, o autor do disparo seria um policial militar da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). O PM teria suspeitado de um motociclista que passava no local e o tiro acertou a criança.

Em comunicado, a Coordenadoria da UPP afirmou que abrirá um procedimento apuratório para verificar todas as circunstâncias da ação. Na manhã deste sábado, 21 de setembro, a hashtag #ACulpaÉDoWitzel se tornou um dos assuntos mais comentados do Brasil no Twitter. Moradores do Complexo Alemão, também neste sábado, realizaram uma manifestação pacífica contra a morte da criança e para pedir paz na região.

Serviço:

Local: MASP, Avenida Paulista
Horário: 18h
Link para mais informações aqui

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OPINIÃO – JORGE COLI: ENCARNAÇÃO COMO BAD BOY TATUADO FOI O ALEXANDRE FROTA MAIS SIMPÁTICO

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OPINIÃO - JORGE COLI: ENCARNAÇÃO COMO BAD BOY TATUADO FOI O ALEXANDRE FROTA MAIS SIMPÁTICO
O deputado Alexandre Frota (então no PSL) discute com o deputado Zeca Dirceu(PT) na Câmara – Pedro Ladeira/Folhapress

Ricardo Borges/Folhapress – A mudança da mentalidade no Brasil em relação ao sexo foi grande nos últimos 40 anos. Nem sempre para o melhor.

A partir de 1981, a pornochanchada floresceu pela última vez, ao incluir sexo explícito, que fora então autorizado. Ela se destinava a um público popular. Associava comédia truculenta e erotismo franco, distanciando-se assim dos sinistros filmes pornográficos de hoje. Acredito que suas transas risonhas fizeram dela o produto cinematográfico brasileiro mais autêntico.

Não é para paladares requintados. Porém, se ultrapassamos o preconceito do mau gosto, descobrimos invenções com verdadeiro sentido do cinema, contrabandeadas pelo humor pesado. Saídas de um imaginário truculento, as pornochanchadas exibiam um número impressionante de variações sexuais de todos os tipos e gêneros.

Para quem quiser descobrir, aconselho “Um Pistoleiro Chamado Papaco”, de Mário Vaz Filho (1986), fenomenal paródia do western spaghetti.

Muitos desses filmes tinham grande sucesso e nenhuma subvenção. Incidiram sobre a produção de um cinema autoral, feito por diretores de alto nível que marcaram a cinematografia no Brasil.

Um deles é Neville D’Almeida. Seu “Matou a Família e Foi ao Cinema” (1991), por exemplo, atraía um público ávido por ver a nudez integral de Claudia Raia e de Alexandre Frota, mas também espectadores intelectualizados, curiosos para descobrir a retomada do mítico filme “marginal” com mesmo título de Julio Bressane (1969). Ou, por que não, pelos dois motivos.

O filme de Bressane é breve, abstrato, elíptico, seco e cerebral. O de Neville D’Almeida, bem mais longo, desdobra-se com largueza no colorido de cenas sensuais e líricas. Claudia Raia expõe nele a beleza deslumbrante de seus 25 anos. Há um prólogo, perfeito de um ponto de vista cinematográfico, centrado em Alexandre Frota. Muito comovedor é o episódio das duas colegiais apaixonadas uma pela outra.

Neville D’Almeida não fez ali pornochanchada. Mas deve à liberdade erótica que elas instauraram. A sensualidade intensa que concebeu tem ambições culturais e mantém um clima à Michel Foucault, forte na sua crítica às camisas de força sociais que aprisionam o desejo. Está no completo avesso do moralismo sob o qual vivemos.

É significativo que uma de suas estrelas tenha sido o atual deputado Alexandre Frota.

A biografia de Frota é fora do comum, com ascensões e quedas vertiginosas. Ele a narrou no livro “Identidade Frota” (2013), de Pedro Henrique Peixoto, com declarações no tom de franqueza que o caracteriza.

Frota ficou conhecido como ator das novelas da Globo, que são produtos pasteurizados, plastificados e cautelosos. Casou-se com Claudia Raia. Mas as drogas levaram-no ao fundo do poço. Transformou-se no bad boy tatuado, lançando memes obscenos e tornando-se atração de filmes pornográficos.

Creio que esse bad boy foi o Alexandre Frota mais simpático. Nessa encarnação, transgredia as normas do bom comportamento e horrorizava o pudor da classe média, provocando assim subversão nos parâmetros bem pensantes.

Depois, teve seu caminho para Damasco. Livrou-se das drogas e converteu-se a um moralismo rasteiro.
Pode ser que haja sinceridade nisso. Mas como Frota possui a inteligência da esperteza, empregou essa metamorfose como instrumento político: uma coisa não impede a outra. Apoiou a Escola sem Partido, invadiu museu protestando contra o artista nu de uma performance. O diabo, quando fica velho, vira sacristão. Ou se torna um deputado com número fabuloso de votos.

Seu talento para estratagemas arrivistas é grande. Com o naufrágio de Bolsonaro, fez-se expulsar do PSL para ingressar no PSDB de Doria. A entrevista que deu no programa “Roda Viva” mostrou-o naquilo que se chama “papel de composição”. Com barba de patriarca. encarnou à perfeição o deputado de respeito.

Foi, como sempre, direto nas respostas, sem hesitações nem volteios, o que inspira confiança. Assim, não negou ter atacado e caluniado muita gente, com o argumento de que são as regras do jogo eleitoral. Sua virada para o bem encontra limites no oportunismo.

A estratégia do governador de São Paulo é hoje ficar na moita, evitando atos polêmicos porque, de olho em 2022, deseja que esqueçamos o Bolsodoria. Frota ergue-se, então, como seu guerreiro valente, pronto para a investida. Pode tornar-se uma liderança ainda mais forte; quem sabe futuro prefeito de São Paulo?

O trágico, nessa tabela, é o projeto político que a sustenta: liberalismo imoral e moralismo obsceno.

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