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Folha Uol | Bianka Vieira – As obsessões do presidente Jair Bolsonaro pelo nióbio e pela caçada ao socialismo não escaparam de seu discurso na 74ª Assembleia Geral da ONU, realizado nesta terça (24).
O entusiasmo que Bolsonaro demonstrou com a economia contrasta com as estimativas de crescimento pífio do mercado financeiro, assim como com os índices da violência no país —o presidente deixou de mencionar que, se em 2018 o número de assassinatos no Brasil caiu pela primeira vez em três anos, a taxa de pessoas mortas pela polícia bateu recorde.
Em Nova York, as queimadas que tomaram a Amazônia no mês de agosto foram citadas como práticas de “índios e populações locais”, enquanto a causa indígena foi retratada como alvo do “ambientalismo radical” e do “indigenismo ultrapassado”.
Íntegra, com comentários
Leia, abaixo, a versão prevista do discurso de Bolsonaro. Os trechos em negrito são de autoria do presidente. Os demais são comentários feitos pela reportagem acerca do contexto em que os fatos citados estão inseridos. A grafia do texto original foi mantida.
Senhor Presidente da Assembleia Geral, Tijjani Muhammad-Bande, Senhor Secretário-Geral da ONU, António Guterres, Chefes de Estado, de Governo e de Delegação, Senhoras e Senhores,
Apresento aos senhores um novo Brasil, que ressurge depois de estar à beira do socialismo1.
1 Desde sua campanha presidencial, Bolsonaro tem se posicionado contra o socialismo, conceito que aplica de forma indistinta aos partidos esquerdistas brasileiros. Em seu discurso de posse, o presidente afirmou “o povo começou a se libertar do socialismo, se libertar da inversão de valores, do gigantismo estatal e do politicamente correto”.
Um Brasil que está sendo reconstruído a partir dos anseios e dos ideais de seu povo.
No meu governo, o Brasil vem trabalhando para reconquistar a confiança do mundo, diminuindo o desemprego2, a violência3 e o risco para os negócios, por meio da desburocratização, da desregulamentação e, em especial, pelo exemplo.
2 No trimestre encerrado em julho deste ano, a taxa de desocupação no Brasil caiu para 11,8%, o que representa 12,6 milhões de pessoas desempregadas, contra 12,5% no trimestre imediatamente anterior (fevereiro a abril de 2019), de acordo com o IBGE. Entre maio e julho de 2018, a taxa era de 12,3% de desempregados. Especialistas afirmam que o recuo se deve à criação de vagas no mercado informal, que bateu novo recorde.
3 O número de assassinatos no Brasil caiu pela primeira vez em três anos. Foram 57.341 casos em 2018, patamar inferior ao registrado em 2014. Por outro lado, o número de pessoas mortas pela polícia no país bateu recorde no mesmo período, chegando a 6.220 casos. Isso significa que 1 em cada 10 mortes violentas no país é causada por um policial. Os dados são do 13º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública no início deste mês de setembro.
Meu país esteve muito próximo do socialismo, o que nos colocou numa situação de corrupção generalizada4, grave recessão econômica, altas taxas de criminalidade e de ataques ininterruptos aos valores familiares e religiosos que formam nossas tradições5.
Em 2013, um acordo entre o governo petista e a ditadura cubana trouxe ao Brasil 10 mil médicos sem nenhuma comprovação profissional6. Foram impedidos de trazer cônjuges e filhos7, tiveram 75% de seus salários confiscados pelo regime e foram impedidos de usufruir de direitos fundamentais, como o de ir e vir.
Um verdadeiro trabalho escravo, acreditem…
Respaldado por entidades de direitos humanos do Brasil e da ONU!
4 Em março deste ano, a Operação Lava Jato completou 5 anos de atuação. De Curitiba, berço das investigações, partiram as ordens para mais de 260 mandados de prisão e mais de 150 condenados, que incluíram o ex-presidente Lula, empresários como Marcelo Odebrecht e Leo Pinheiro; os ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci; além de ex-parlamentares como Eduardo Cunha e Gim Argello. As penas atuais, somadas, chegam a 2.294 anos de prisão. A operação é igualmente celebrada e criticada por sua extensão e pelas mudanças que provocou na interpretação da lei penal. A operação atingiu figuras públicas de diversos partidos e de posições no espectro político.
5 A expectativa criada após a vitória de Jair Bolsonaro de que a chamada “pauta de costumes” chegaria com força no Congresso não se confirmou até agora e não deve sair do papel tão cedo. Análise feita pela Folha dos dez temas que estão no topo da lista de bandeiras ideológicas do presidente da República mostra, inclusive, o contrário: projetos como o da chamada Escola sem Partido e os que endurecem as proibições ao aborto estão adormecidos nestes oito meses de novo governo federal. Neste ano, sete meses após sua vitória, o STF (Supremo Tribunal Federal) aprovou, por exemplo, a criminalização da homofobia —pauta cara aos conservadores—, igualando-a ao crime de racismo.
6 FALSO. A Lei 12.871/2013, que instituiu e regulava o programa Mais Médicos, exigia que todos os médicos formados no exterior – incluindo os cubanos – apresentassem “diploma expedido por instituição de educação superior estrangeira” e “habilitação para o exercício da Medicina no país de sua formação”.
7 FALSO. O programa previa que “o Ministério das Relações Exteriores poderá conceder visto temporário (…) aos dependentes legais do médico intercambista, incluindo companheiro ou companheira”
Antes mesmo de eu assumir o governo, quase 90% deles deixaram o Brasil, por ação unilateral do regime cubano8. Os que decidiram ficar, se submeterão à qualificação médica para exercer sua profissão.
8 O governo de Cuba anunciou em 14 de novembro de 2018 o fim de sua participação no programa Mais Médicos no Brasil. Em nota divulgada pelo Ministério da Saúde do país caribenho, a decisão foi atribuída a questionamentos feitos pelo presidente eleito à qualificação dos médicos cubanos e ao seu projeto de modificar o acordo, exigindo revalidação de diplomas no Brasil e contratação individual.
Deste modo, nosso país deixou de contribuir com a ditadura cubana, não mais enviando para Havana 300 milhões de dólares todos os anos.
A história nos mostra que, já nos anos 60, agentes cubanos foram enviados a diversos países para colaborar com a implementação de ditaduras.
Há poucas décadas tentaram mudar o regime brasileiro e de outros países da América Latina.
Foram derrotados!
Civis e militares brasileiros foram mortos e outros tantos tiveram suas reputações destruídas, mas vencemos aquela guerra e resguardamos nossa liberdade.
Na Venezuela, esses agentes do regime cubano, levados por Hugo Chávez, também chegaram e hoje são aproximadamente 60 mil, que controlam e interferem em todas as áreas da sociedade local, principalmente na Inteligência e na Defesa.
A Venezuela, outrora um país pujante e democrático, hoje experimenta a crueldade do socialismo.
O socialismo está dando certo na Venezuela!
Todos estão pobres e sem liberdade!
O Brasil também sente os impactos da ditadura venezuelana. Dos mais de 4 milhões que fugiram do país, uma parte migrou para o Brasil, fugindo da fome e da violência. Temos feito a nossa parte para ajudá-los, através da Operação Acolhida9, realizada pelo Exército Brasileiro e elogiada mundialmente.
9 Criada no governo Michel Temer (PMDB), a Acolhida tem como objetivo desafogar Roraima, a principal porta de entrada dos venezuelanos no Brasil e onde já houve episódios de xenofobia e violência, enviando os venezuelanos para outras regiões do país com mais capacidade de absorção.
Trabalhamos com outros países, entre eles os EUA, para que a democracia seja restabelecida na Venezuela, mas também nos empenhamos duramente para que outros países da América do Sul não experimentem esse nefasto regime.
O Foro de São Paulo, organização criminosa criada em 1990 por Fidel Castro, Lula e Hugo Chávez para difundir e implementar o socialismo na América Latina10, ainda continua vivo e tem que ser combatido.
10 FALSO. O Foro de São Paulo é uma aliança internacional de 120 partidos e movimentos de esquerda. Não há evidência que qualifique a organização como criminosa e ela tampouco tem como finalidade “implantar o socialismo” na América Latina.
Senhoras e Senhores,
Em busca de prosperidade, estamos adotando políticas que nos aproximem de países outros que se desenvolveram e consolidaram suas democracias.
Não pode haver liberdade política sem que haja também liberdade econômica. E vice-versa. O livre mercado, as concessões e as privatizações11 já se fazem presentes hoje no Brasil.
11 O ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou no mês de agosto que pelo menos 17 estatais devem ser privatizadas neste ano. Segundo assessores no Palácio do Planalto, no entanto, a venda não deve ocorrer porque os estudos não estão prontos. No escopo do projeto de concessões à iniciativa privada, que busca reduzir os desembolsos da União com despesas, o governo também que incluir escolas, creches, presídios e parques nacionais no PPI (Programa de Parcerias de Investimentos).
A economia está reagindo12, ao romper os vícios e amarras de quase duas décadas de irresponsabilidade fiscal, aparelhamento do Estado e corrupção generalizada. A abertura, a gestão competente e os ganhos de produtividade são objetivos imediatos do nosso governo.
12 EXAGERADO. No início de setembro, o mercado financeiro reduziu a estimativa de crescimento da economia brasileira em 2020 para 2,07%
Estamos abrindo a economia e nos integrando às cadeias globais de valor. Em apenas oito meses, concluímos os dois maiores acordos comerciais da história do país, aqueles firmados entre o Mercosul e a União Europeia13 e entre o Mercosul e a Área Europeia de Livre Comércio, o EFTA14. Pretendemos seguir adiante com vários outros acordos nos próximos meses.
13 EXAGERADO. O acordo de livre-comércio entre Mercosul e UE era negociado desde 1992 —as conversas se estenderam do governo Collor até o de Bolsonaro. Para entrar em vigor, precisa ser aprovado por parlamentos na Europa e nos países do Mercosul. Mais de 90% das tarifas entre os dois blocos devem ser eliminadas quando o acordo comercial estiver implementado, o que ainda deve demorar ao menos dois anos.
14 As conversas para o tratado com o EFTA se iniciaram em 2017. Ele também depende de ratificação.
Estamos prontos também para iniciar nosso processo de adesão à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)15. Já estamos adiantados, adotando as práticas mundiais mais elevadas em todo os terrenos, desde a regulação financeira até a proteção ambiental.
15 O Brasil é candidato a uma vaga na OCDE, conhecida como “clube de países ricos”. Os membros estão negociando as condições, mas não há previsão para uma resposta. O Brasil já conta com o apoio dos EUA e de Israel.
Senhorita YSANY KALAPALO16, agora vamos falar de Amazônia.
16 Apoiadora de Bolsonaro desde a campanha eleitoral, Ysani Kalapalo diz ser da aldeia no Parque Indígena do Xingu, mas a Atix (Associação Terra Indígena Xingu) declara que a índia é “residente e domiciliada em Embu das Artes”, na Grande São Paulo, e não foi indicada por nenhuma entidade representativa para compor a comitiva do governo.
Em primeiro lugar, meu governo tem um compromisso solene com a preservação do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável em benefício do Brasil e do mundo. O Brasil é um dos países mais ricos em biodiversidade e riquezas minerais.
Nossa Amazônia é maior que toda a Europa Ocidental e permanece praticamente intocada. Prova de que somos um dos países que mais protegem o meio ambiente.
Nesta época do ano, o clima seco e os ventos favorecem queimadas espontâneas e criminosas. Vale ressaltar que existem também queimadas praticadas por índios e populações locais, como parte de sua respectiva cultura e forma de sobrevivência17.
17 FALSO. Segundo o MapBiomas, 14,4% da Amazônia brasileira não está, hoje, com sua cobertura vegetal original. Em 34 anos, a Amazônia perdeu 47,4 milhões de hectares de floresta. O país, como um todo, registrou até agosto o maior número de incêndios desde 2010. Mais de metade dos focos de fogo estavam na Amazônia. As áreas que menos sofreram com os focos de fogo registrados até o início deste mês foram as terras indígenas e as Unidades de Conservação (UC), respectivamente com 6% e 7% dos incêndios, de acordo com estudo do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). Destaca-se nesse contexto a Floresta Nacional do Jamanxim, que sofre grande pressão de grileiros. A área protegida também fica próxima à cidade de Novo Progresso, região na qual ocorreu o “dia do fogo” —queima coordenada de pasto e de áreas em processo de desmate.
Problemas qualquer país os tem. Contudo, os ataques sensacionalistas que sofremos por grande parte da mídia internacional devido aos focos de incêndio na Amazônia despertaram nosso sentimento patriótico.
É uma falácia dizer que a Amazônia é patrimônio da humanidade e um equívoco, como atestam os cientistas, afirmar que a nossa floresta é o pulmão do mundo18.
18 VERDADEIRO. O erro em relação ao oxigênio produzido na Amazônia, comumente repetido nas últimas décadas, partiu de um cálculo sobre a alta produção do gás no processo de fotossíntese das grandes árvores da região. No entanto, árvores adultas consomem, na sua respiração, praticamente a mesma quantidade de oxigênio produzida na fotossíntese. Pouco mais da metade do oxigênio produzido no planeta é gerado por algas marinhas (55%). O pulmão do mundo, portanto, está nos oceanos.
Valendo-se dessas falácias, um ou outro país, em vez de ajudar, embarcou nas mentiras da mídia e se portou de forma desrespeitosa, com espírito colonialista.
Questionaram aquilo que nos é mais sagrado: a nossa soberania!
Um deles por ocasião do encontro do G7 ousou sugerir aplicar sanções ao Brasil, sem sequer nos ouvir. Agradeço àqueles que não aceitaram levar adiante essa absurda proposta.19
19 Em 22 de agosto, o presidente da França, Emmanuel Macron, disse que as queimadas na Amazônia geraram uma crise internacional e convocou os membros do G7 a discutir soluções para o tema. Bolsonaro reagiu às críticas: “A sugestão do presidente francês, de que assuntos amazônicos sejam discutidos no G7 sem a participação dos países da região, evoca mentalidade colonialista descabida no século 21”, disse no Twitter. Brasil e França vivem a mais séria crise diplomática desde a chamada “guerra da lagosta”, na década de 1960.
Em especial, ao Presidente Donald Trump, que bem sintetizou o espírito que deve reinar entre os países da ONU: respeito à liberdade e à soberania de cada um de nós.
Hoje, 14% do território brasileiro está demarcado como terra indígena, mas é preciso entender que nossos nativos são seres humanos, exatamente como qualquer um de nós. Eles querem e merecem usufruir dos mesmos direitos de que todos nós.
Quero deixar claro: o Brasil não vai aumentar para 20% sua área já demarcada como terra indígena, como alguns chefes de Estados gostariam que acontecesse20.
20 Em um de seus primeiros atos na Presidência, Bolsonaro editou a MP 870, que, entre outros fatores, deixava a cargo da Agricultura a demarcação de terras indígenas e quilombolas. A MP foi vetada pelo Congresso, mas o governo tentou reverter a decisão. Na ocasião, Bolsonaro disse que tinha o poder de decidir sobre terras indígenas e que não iria autorizar novas demarcações. Por fim, o STF suspendeu a nova MP. Após o veredito, Bolsonaro disse ter cometido um erro.
Existem, no Brasil, 225 povos indígenas, além de referências de 70 tribos vivendo em locais isolados. Cada povo ou tribo com seu cacique, sua cultura, suas tradições, seus costumes e principalmente sua forma de ver o mundo.
A visão de um líder indígena não representa a de todos os índios brasileiros. Muitas vezes alguns desses líderes, como o Cacique Raoni21, são usados como peça de manobra por governos estrangeiros na sua guerra informacional para avançar seus interesses na Amazônia.
21 O Cacique Raoni é uma liderança indígena que se opõe às políticas do governo Bolsonaro. Em maio deste ano, ele fez uma excursão de três semanas pela Europa, onde foi recebido por chefes de Estado, marchou com jovens em favor do clima, foi ao Festival de Cannes e se reuniu com o papa Francisco.
Infelizmente, algumas pessoas, de dentro e de fora do Brasil, apoiadas em ONGs, teimam em tratar e manter nossos índios como verdadeiros homens das cavernas.
O Brasil agora tem um presidente que se preocupa com aqueles que lá estavam antes da chegada dos portugueses. O índio não quer ser latifundiário pobre em cima de terras ricas. Especialmente das terras mais ricas do mundo. É o caso das reservas Ianomâmi e Raposa Serra do Sol. Nessas reservas, existe grande abundância de ouro, diamante, urânio, nióbio22 e terras raras, entre outros.
22 Para Bolsonaro, o Brasil subaproveita o nióbio. O metal pode ser utilizado em gasodutos, turbinas e até em foguetes espaciais e reatores nucleares. O presidente costuma dizer que há jazidas gigantes do produto ainda inexploradas por estarem em terras indígenas. Foi na Câmara dos Deputados, em 2016, que ele tomou essa missão para si, evocando a figura do fundador do Partido de Reedificação da Ordem Nacional (Prona): “Quero seguir a linha do saudoso Enéas Carneiro”, disse.
E esses territórios são enormes. A reserva Ianomâmi, sozinha, conta com aproximadamente 95 mil km2, o equivalente ao tamanho de Portugal ou da Hungria, embora apenas 15 mil índios vivam nessa área23.
23 Segundo o Censo Demográfico 2010, produzido pelo IBGE, o grupo que se declarava ou se considerava indígena nessa área somava 25.719 pessoas em 2010, sendo 14.121 no estado do Amazonas e 11.598 em Roraima.
Isso demonstra que os que nos atacam não estão preocupados com o ser humano índio, mas sim com as riquezas minerais e a biodiversidade existentes nessas áreas.
Para mostrar aos senhores que não existe uma autoridade única entre os índios eu quero ler uma carta aqui de grande parte das comunidades indígenas endereçadas para os senhores:
‘O Grupo de Agricultores Indígenas do Brasil, formado por diversas etnias, e com representantes por todas as unidades da federação, que habitam uma área de mais de 30 milhões de hectares do território brasileiro, vem, respeitosamente, perante a sociedade brasileira endossar total e irrestrito apoio à indígena Ysani Kalapalo, aqui presente, do Parque Indígena do Xingu, Mato Grosso, que a mesma possa na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, Estados Unidos, externar toda a realidade vivida pelos povos indígenas do Brasil, bem como trazer à tona o atual quadro de mentiras propagado pela mídia nacional e internacional, que insistem em fazer dos povos indígenas do Brasil uma reserva de mercado sem-fim, atendendo aos interesses estrangeiros de países que ainda enxergam no Brasil uma colônia sem regras e sem soberania.
O Brasil possui 14% de seu território nacional regularizado como terras indígenas, e muitas comunidades estão sedentas para que o desenvolvimento desta parte do Brasil finalmente ocorra sem amarras ideológicas ou burocráticas. Isso facilitará o alcance de uma maior qualidade de vida nas áreas de empreendedorismo, saúde e de educação.
Uma nova política indigenista no Brasil é necessária. O tempo urge.
Medidas arrojadas podem e devem ser incentivadas na busca pela autonomia econômica dos indígenas. Certamente, que se um conjunto de decisões vier neste sentido, poderemos vislumbrar um novo modelo para a questão indígena brasileira.
Um novo tempo para as comunidades indígenas é fundamental, a situação de extrema pobreza em que se encontram, sobrevivendo tão somente do Bolsa Família e de cestas básicas, nunca representou dignidade e desenvolvimento.
O ambientalismo radical e o indigenismo ultrapassado e fora de sintonia com o que querem os povos indígenas representam o atraso, a marginalização e a completa ausência de cidadania.
A realidade ora posta impõe que o mundo na arena da Assembleia das Nações Unidas possa conhecer nossos desejos e aspirações na voz da indígena Ysani Kalapalo que transmitirá o real quadro do meio ambiente e das comunidades indígenas brasileiras.
Portanto, Ysani Kalapalo goza da confiança e do prestígio das lideranças indígenas interessadas em desenvolvimento, empoderamento e protagonismo, estando apta para representar as etnias relacionadas anexas’, que são 52.
Acabou o monopólio do senhor Raoni.
A Organização das Nações Unidas teve papel fundamental na superação do colonialismo e não pode aceitar que essa mentalidade regresse a estas salas e corredores, sob qualquer pretexto.
Não podemos esquecer que o mundo necessita ser alimentado. A França e a Alemanha, por exemplo, usam mais de 50% de seus territórios para a agricultura, já o Brasil usa apenas 8% de terras para a produção de alimentos24.
24 FALSO. O número citado por Bolsonaro não se refere ao uso da terra para a produção de alimentos, mas sim ao uso da terra para lavouras. Esse número não inclui o território utilizado para a pecuária ou para pomares e plantações permanentes. Segundo a FAO, o Brasil usa 235,9 milhões de hectares para a agropecuária. Isso representa 28,2% da área terrestre do Brasil, calculada em 835,8 milhões de hectares. Desse território, 20,6% é utilizado para a pecuária. Outros 63,4 milhões de hectares, ou 7,6% do território nacional, são usados para plantações. Os dados são de 2017.
61% do nosso território é preservado! 25
Nossa política é de tolerância zero para com a criminalidade, aí incluídos os crimes ambientais.
25 VERDADEIRO, MAS… Em janeiro, estudo da Embrapa mostrou que o Brasil tinha 66,3% do território protegido. Mas as áreas de preservação vêm diminuindo nos últimos 32 anos.
Quero reafirmar minha posição de que qualquer iniciativa de ajuda ou apoio à preservação da Floresta Amazônica, ou de outros biomas, deve ser tratada em pleno respeito à soberania brasileira.
Também rechaçamos as tentativas de instrumentalizar a questão ambiental ou a política indigenista, em prol de interesses políticos e econômicos externos, em especial os disfarçados de boas intenções.
Estamos prontos para, em parcerias, e agregando valor, aproveitar de forma sustentável todo nosso potencial.
O Brasil reafirma seu compromisso intransigente com os mais altos padrões de direitos humanos, com a defesa da democracia e da liberdade, de expressão, religiosa e de imprensa. É um compromisso que caminha junto com o combate à corrupção e à criminalidade, demandas urgentes da sociedade brasileira.
Seguiremos contribuindo, dentro e fora das Nações Unidas, para a construção de um mundo onde não haja impunidade, esconderijo ou abrigo para criminosos e corruptos.
Em meu governo, o terrorista italiano Cesare Battisti26 fugiu do Brasil, foi preso na Bolívia e extraditado para a Itália. Outros três terroristas paraguaios e um chileno, que viviam no Brasil como refugiados políticos, também foram devolvidos a seus países.
26 O terrorista italiano Cesare Battisti, 64, preso em 13 de janeiro deste ano, foi personagem de um dos episódios mais controversos da política externa do governo Lula (2003-2010). Em 2010, Lula, então presidente, decidiu pela permanência de Battisti no Brasil. O italiano havia sido condenado por quatro assassinatos ocorridos entre 1977 e 1979 na Itália, seu país de origem.
Terroristas sob o disfarce de perseguidos políticos não mais encontrarão refúgio no Brasil.
Há pouco, presidentes socialistas que me antecederam desviaram centenas de bilhões de dólares comprando parte da mídia e do parlamento, tudo por um projeto de poder absoluto.
Foram julgados e punidos graças ao patriotismo, perseverança e coragem de um juiz que é símbolo no meu país, o Dr. Sérgio Moro, nosso atual Ministro da Justiça e Segurança Pública.
Esses presidentes também transferiram boa parte desses recursos para outros países, com a finalidade de promover e implementar projetos semelhantes em toda a região. Essa fonte de recursos secou.
Esses mesmos governantes vinham aqui todos os anos e faziam descompromissados discursos com temas que nunca atenderam aos reais interesses do Brasil nem contribuíram para a estabilidade mundial. Mesmo assim, eram aplaudidos.
Em meu país, tínhamos que fazer algo a respeito dos quase 70 mil homicídios e dos incontáveis crimes violentos que, anualmente, massacravam a população brasileira. A vida é o mais básico dos direitos humanos. Nossos policiais militares eram o alvo preferencial do crime. Só em 2017, cerca de 400 policiais militares foram cruelmente assassinados. Isso está mudando.
Medidas foram tomadas e conseguimos reduzir em mais de 20% o número de homicídios nos seis primeiros meses de meu governo.
As apreensões de cocaína e outras drogas atingiram níveis recorde.
Hoje o Brasil está mais seguro e ainda mais hospitaleiro. Acabamos de estender a isenção de vistos para países como Estados Unidos, Japão, Austrália e Canadá27, e estamos estudando adotar medidas similares para China e Índia, dentre outros.
27 Antes, para visitar o Brasil, os cidadãos desses países precisavam pedir visto nos consulados brasileiros em seus respectivos países. Isso ocorria pelo princípio de reciprocidade, uma vez que os brasileiros que viajam a essas nações precisam obrigatoriamente de um visto. Em março deste ano, Bolsonaro tomou a decisão de forma unilateral. Ou seja, os cidadãos brasileiros continuam precisando de visto para viagens internacionais a esses países.
Com mais segurança e com essas facilidades, queremos que todos possam conhecer o Brasil, e em especial, a nossa Amazônia, com toda sua vastidão e beleza natural.
Ela não está sendo devastada e nem consumida pelo fogo, como diz mentirosamente a mídia. Cada um de vocês pode comprovar o que estou falando agora.
Não deixem de conhecer o Brasil, ele é muito diferente daquele estampado em muitos jornais e televisões!
A perseguição religiosa é um flagelo que devemos combater incansavelmente.
Nos últimos anos, testemunhamos, em diferentes regiões, ataques covardes que vitimaram fiéis congregados em igrejas, sinagogas e mesquitas.
O Brasil condena, energicamente, todos esses atos e está pronto a colaborar, com outros países, para a proteção daqueles que se veem oprimidos por causa de sua fé.
Preocupam o povo brasileiro, em particular, a crescente perseguição, a discriminação e a violência contra missionários e minorias religiosas, em diferentes regiões do mundo.
Por isso, apoiamos a criação do ‘Dia Internacional em Memória das Vítimas de Atos de Violência baseados em Religião ou Crença’.
Nessa data, recordaremos anualmente aqueles que sofrem as consequências nefastas da perseguição religiosa.
É inadmissível que, em pleno Século XXI, com tantos instrumentos, tratados e organismos com a finalidade de resguardar direitos de todo tipo e de toda sorte, ainda haja milhões de cristãos e pessoas de outras religiões que perdem sua vida ou sua liberdade em razão de sua fé.
A devoção do Brasil à causa da paz se comprova pelo sólido histórico de contribuições para as missões da ONU. 28
28 Como antecipado pela Folha, o governo Bolsonaro fez da Aliança Internacional para Liberdade Religiosa uma das prioridades de sua política externa e planeja ser um dos países fundadores do órgão. O chanceler Ernesto Araújo mudou de última hora sua agenda antes da Assembleia-Geral da ONU para comparecer a um encontro sobre liberdade religiosa com a presença do presidente dos EUA, Donald Trump. O ministro deixou de participar de uma reunião do Grupo de Lima em que seriam debatidas saídas para resolver a crise que assola a Venezuela sob o regime de Nicolás Maduro.
Há 70 anos, o Brasil tem dado contribuição efetiva para as operações de manutenção da paz das Nações Unidas29.
29 Para o orçamento da ONU em 2019, o Brasil contribuiu com R$ 342,86 milhões, figurando entre os dez países que mais colaboraram financeiramente com a entidade.
Apoiamos todos os esforços para que essas missões se tornem mais efetivas e tragam benefícios reais e concretos para os países que as recebem.
Nas circunstâncias mais variadas —no Haiti, no Líbano, na República Democrática do Congo—, os contingentes brasileiros são reconhecidos pela qualidade de seu trabalho e pelo respeito à população, aos direitos humanos e aos princípios que norteiam as operações de manutenção de paz.
Reafirmo nossa disposição de manter contribuição concreta às missões da ONU, inclusive no que diz respeito ao treinamento e à capacitação de tropas, área em que temos reconhecida experiência.
Ao longo deste ano, estabelecemos uma ampla agenda internacional com intuito de resgatar o papel do Brasil no cenário mundial e retomar as relações com importantes parceiros.
Em janeiro, estivemos em Davos30, onde apresentamos nosso ambicioso programa de reformas para investidores de todo o mundo.
30 Em janeiro, quando estava há menos de um mês no cargo, Bolsonaro estreou em eventos mundiais como presidente ao viajar para Davos, na Suíça, para o Fórum Econômico Mundial. Ao seleto grupo, formado pela elite econômica e política global, o presidente adotou um discurso genérico. Falou por menos de sete minutos e não detalhou a pauta de reformas que pretendia imprimir a seu governo.
Em março, visitamos Washington onde lançamos uma parceria abrangente e ousada com o governo dos Estados Unidos em todas as áreas, com destaque para a coordenação política e para a cooperação econômica e militar.31
31 Durante a viagem de Bolsonaro à capital americana, o governo Trump prometeu fazer do Brasil um aliado prioritário extra-OTAN. Em junho, o presidente americano sacramentou a promessa. A designação cabe a países que não são membros da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), mas considerados aliados estratégicos militares dos EUA. Segundo o documento, o novo status diz respeito ao controle de exportação de armas. Com isso, o país passa a ter acesso à cooperação militar e transferências de tecnologia com os americanos.
Ainda em março, estivemos no Chile, onde foi lançado o Prosul, importante iniciativa para garantir que a América do Sul se consolide como um espaço de democracia e de liberdade.32
32 Oito países assinaram a criação do novo órgão, um alternativa à Unasul, da qual a Venezuela faz parte. Composto por Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Paraguai, Peru, Equador e Guiana, o grupo foi descrito pelo presidente chileno Sebastián Piñera como “sem ideologia, que respeitará as diversidades de cada país, sem burocracias e mais pragmático”.
Na sequência, visitamos Israel, onde identificamos inúmeras oportunidades de cooperação em especial na área de tecnologia e segurança. Agradeço a Israel o apoio no combate aos recentes desastres ocorridos em meu país33.
33 Em agosto, no ápice das queimadas na Amazônia, o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, ofereceu ao Brasil um avião com equipamentos para apagar incêndios. No fim de janeiro, Israel enviou militares para atuar em Brumadinho após o rompimento de uma barragem da Vale. Após três dias de trabalho, o grupo encerrou a sua atuação sem encontrar sobreviventes. Para Bolsonaro, apoio de Netanyahu demonstra reconhecimento pelos esforços brasileiros.
Visitamos também um de nossos grandes parceiros no Cone Sul, a Argentina. Com o Presidente Mauricio Macri e nossos sócios do Uruguai e do Paraguai, afastamos do Mercosul a ideologia e conquistamos importantes vitórias comerciais, ao concluir negociações que já se arrastavam por décadas.
Ainda este ano, visitaremos importantes parceiros asiáticos, tanto no Extremo Oriente quanto no Oriente Médio. Essas visitas reforçarão a amizade e o aprofundamento das relações com Japão, China, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Catar. Pretendemos seguir o mesmo caminho com todo o mundo árabe e a Ásia.
Também estamos ansiosos para visitar nossos parceiros, e amigos, na África, na Oceania e na Europa.
Como os senhores podem ver, o Brasil é um país aberto ao mundo, em busca de parcerias com todos os que tenham interesse de trabalhar pela prosperidade, pela paz e pela liberdade.
Senhoras e Senhores,
O Brasil que represento é um país que está se reerguendo, revigorando parcerias e reconquistando sua confiança política e economicamente.
Estamos preparados para assumir as responsabilidades que nos cabem no sistema internacional.
Durante as últimas décadas, nos deixamos seduzir, sem perceber, por sistemas ideológicos de pensamento que não buscavam a verdade, mas o poder absoluto.
A ideologia se instalou no terreno da cultura, da educação e da mídia, dominando meios de comunicação, universidades e escolas.
A ideologia invadiu nossos lares para investir contra a célula mater de qualquer sociedade saudável, a família.
Tentam ainda destruir a inocência de nossas crianças, pervertendo até mesmo sua identidade mais básica e elementar, a biológica34.
34 Em 3 de setembro, o presidente Bolsonaro disse ter determinado ao Ministério da Educação que redija um projeto de lei para proibir a abordagem de questões de gênero nas escolas de ensino fundamental. A teoria de gênero, reconhecida academicamente, estabelece que gênero e orientação sexual são construções sociais, e não apenas determinações biológicas. Já para segmentos da direita, a “ideologia de gênero” é um ataque ao conceito tradicional de família. A expressão “ideologia de gênero”, frequentemente citada pelo presidente, não é reconhecida no meio acadêmico.
O politicamente correto passou a dominar o debate público para expulsar a racionalidade e substituí-la pela manipulação, pela repetição de clichês e pelas palavras de ordem.
A ideologia invadiu a própria alma humana para dela expulsar Deus e a dignidade com que Ele nos revestiu.
E, com esses métodos, essa ideologia sempre deixou um rastro de morte, ignorância e miséria por onde passou.
Sou prova viva disso. Fui covardemente esfaqueado por um militante de esquerda e só sobrevivi por um milagre de Deus35. Mais uma vez agradeço a Deus pela minha vida.
35 O episódio da facada em Jair Bolsonaro completou um ano no último 6 de setembro envolta em boatos, especulações e fake news, que alimentam teorias. O autor do atentado, Adélio Bispo de Oliveira, foi filiado ao Psol e está preso pelo crime no presídio federal de Campo Grande (MS), onde mantém a obsessão de matar o presidente.
A ONU pode ajudar a derrotar o ambiente materialista e ideológico que compromete alguns princípios básicos da dignidade humana. Essa organização foi criada para promover a paz entre nações soberanas e o progresso social com liberdade, conforme o preâmbulo de sua Carta.
Nas questões do clima, da democracia, dos direitos humanos, da igualdade de direitos e deveres entre homens e mulheres, e em tantas outras, tudo o que precisamos é isto: contemplar a verdade, seguindo João 8,32:
– “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”.36
36 Diante de uma avaliação popular em queda, com impacto inclusive em setores identificados com o bolsonarismo, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) iniciou, neste mês, articulação para se aproximar ainda mais de evangélicos e seus líderes. Considerado um dos pilares de sua base de apoio, o grupo religioso é a aposta do presidente para evitar um aumento de uma rejeição social, blindar-se de retaliações no Congresso e catapultá-lo a uma disputa à reeleição. O presidente frequentemente cita essa passagem bíblica em seus discursos.
Todos os nossos instrumentos, nacionais e internacionais, devem estar direcionados, em última instância, para esse objetivo.
Não estamos aqui para apagar nacionalidades e soberanias em nome de um “interesse global” abstrato.
Esta não é a Organização do Interesse Global!
É a Organização das Nações Unidas. Assim deve permanecer!
Com humildade e confiante no poder libertador da verdade, estejam certos de que poderão contar com este novo Brasil que aqui apresento aos senhores e senhoras.
Agradeço a todos pela graça e glória de Deus!
Meu muito obrigado.
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