EM SÃO PAULO | LANÇAMENTO DO MOVIMENTO “DIREITOS JÁ!” FORTALECE OPOSIÇÃO AO GOVERNO BOLSONARO

.

EM SÃO PAULO | LANÇAMENTO DO MOVIMENTO
Evento de lançamento aconteceu na noite desta segunda-feira (2), no teatro TUCA, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo / Foto: Igor Carvalho

Nome do grupo faz alusão às “Diretas Já” e reúne lideranças da centro-esquerda à centro-direita

Igor Carvalho | Brasil de Fato | São Paulo (SP) – Lançado na noite desta segunda-feira (2), na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o movimento “Direitos Já! – Fórum Pela Democracia” amplia a frente de oposição ao presidente Jair Bolsonaro (PSL). O evento, que concentrou representantes de partidos de amplo espectro da política nacional, da centro-esquerda à centro-direita, foi marcado por denúncias aos retrocessos de direitos estimulados pelo atual governo.

O sociólogo Fernando Guimarães, coordenador nacional do movimento, contou que o grupo começou a ser articulado após as eleições de 2018. “Percebíamos que havia um sentimento de aflição com a agenda anticivilizatória do presidente eleito [Bolsonaro]”, disse.

A crise ambiental brasileira foi lembrada pelo arcebispo Dom Claudio Hummes, que criticou o governo federal. “Ele já havia dito que não demarcaria nenhuma terra indígena e não demarcou mesmo. A Amazônia é nossa, ninguém questiona isso, mas precisamos cuidar dela”, asseverou.

Um dos articuladores do movimento, o constitucionalista Pedro Serrano explicou que a unidade do grupo se dá justamente na oposição ao governo federal. “Atravessamos um processo de desconstituinte. A democracia está ameaçada e não pode haver divergência política, temos que estar juntos contra a barbárie que nos assola”, argumentou.

O sociólogo Noam Chomsky também compareceu ao teatro da PUC e participou do evento e ressaltou a importância da união de diferentes campos para defender o Estado de Direito. “São muitos os motivos para que a gente se una para preservar a democracia com muito empenho e dedicação”, resumiu.


Noam Chomsky elogiou a disposição dos presentes para lutar juntos pela democracia. (Foto: Igor Carvalho)

“Mais de 57 milhões de brasileiros votaram nisso aí, por medo. Jair Bolsonaro é só o agravamento, é a esteira do que se planejava com o golpe”, disse Ciro Gomes (PDT), ex-candidato à Presidência da República em 2018.

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), criticado recentemente pelo capitão reformado, disse sentir orgulho de fazer oposição frontal a Bolsonaro. “Com muita honra, sou aquele que Bolsonaro considera o pior presidente do Brasil”, ironizou.

“Devemos fazer a defesa da soberania nacional, contra aqueles que se dizem patriotas, mas que entregam o país aos interesses internacionais”, completou. Dino também citou a condenação do ex-presidente Lula (PT) como um símbolo das violações que resultaram na eleição de Bolsonaro. “Meus colegas (do Judiciário) apareceram como sócios do capital para perpetuar os privilégios de classe nesse país”.

Sobre a atuação do ex-juiz e atual ministro Sérgio Moro, Dino foi taxativo: “Se um juiz é sócio da acusação, ele é tudo, menos juiz. O presidente Lula não teve seu julgamento justo”, disse. “O Brasil chegou em um momento que precisa lutar para manter a Constituição e os direitos. A democracia é como uma plantinha que deve ser regada todos os dias”, finalizou.

Também participam representantes do Instituto Fernando Henrique Cardoso, da União Nacional dos Estudantes (UNE), da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e centrais sindicais como Força Sindical, CUT e UGT.

De acordo com o site oficial, o movimento “Direitos Já!” reúne mais de 1,5 mil pessoas de 16 partidos diferentes. O evento no teatro da PUC deve ser o primeiro de uma série de reuniões para se debater alternativas para a crise da democracia brasileira.

 

Edição: Rodrigo Chagas

 

 

….

APÓS DECLARAR MORATÓRIA, ARGENTINA RESTRINGE COMPRA DE DÓLARES

.

APÓS DECLARAR MORATÓRIA, ARGENTINA RESTRINGE COMPRA DE DÓLARES
Medida anunciada por decreto prevê obrigatoriedade de autorização do Banco Central para empresas adquirirem moeda norte-americana

REDAÇÃO OPERA MUNDI | São Paulo (Brasil) –  O governo da Argentina instituiu por meio de um decreto publicado no Diário Oficial neste domingo (01/09) restrições à compra de dólares para pessoas físicas e jurídicas. A medida vem após o governo anunciar moratória na última quarta-feira (28/08).

No caso de empresas, o governo do presidente Mauricio Macri decretou a obrigatoriedade de autorização prévia do Banco Central da República Argentina (BCRA) para adquirir a moeda norte-americana.

Além da autorização para compra de dólares, grandes empresas exportadoras de produtos como petróleo e cereais deverão solicitar ao BCRA permissão para realizar transferências ao exterior.

Para pessoas físicas, foi estipulado um teto de US$ 10 mil para compra ou transferência mensais. Segundo o decreto, as agências bancárias funcionarão todos os dias da semana até às 17h – duas horas a mais do que habitual – a partir desta segunda-feira (02/09).

De acordo com o governo, essas medidas buscam “fortalecer o normal funcionamento da economia, contribuir com uma administração prudente do mercado de câmbios, reduzir a volatilidade das variáveis financeiras e conter o impacto das oscilações dos fluxos financeiros sobre a economia real”.

O decreto deste domingo ainda torna obrigatório o reingresso no país dos recursos obtidos com as exportações no prazo de até seis meses após o embarque da mercadoria em questão. A prática, que era obrigatória há 50 anos, foi encerrada pelo próprio governo de Macri em 2017, cumprindo o que foi uma de suas promessas durante a campanha para as eleições presidenciais de 2015.

Reprodução
Após declarar moratória, Macri voltou a culpar a vitória da chapa kirchnerista nas primárias pelo agravamento da crise

Moratória

Na última quarta-feira (28/08), a Argentina anunciou o adiamento do pagamento de parte da dívida a curto prazo e decidiu iniciar uma renegociação dos endividamentos de médio e longo prazos. Nesse pacote, estão inseridas as parcelas referentes a empréstimos com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Isso significa que, após pouco mais de 3 anos e meio de governo neoliberal de Macri, o país não apenas não “acertou suas contas” como conheceu, novamente, a falta de capacidade de honrar os compromissos assumidos com investidores e com o FMI.

Após declarar moratória, Macri voltou a culpar a vitória da chapa opositora de Alberto Fernández e Cristina Kirchner nas eleições primárias pelo agravamento da crise econômica no país.

Após a derrota macrista nas PASO, os mercados “se vingaram” do presidente e o dólar no país disparou, chegando registrar uma alta de 33% um dia depois das eleições. Também após os resultados do pleito, a Bolsa de Buenos Aires chegou a registrar queda de 30% e o risco-país ultrapassou os 900 pontos.

Na última sexta-feira (30/08), o dólar ainda fechou em alta sendo vendido a 61 pesos, registrando um aumento de 1,7% em relação ao dia anterior.

 

….

DESMONTE DO CONHECIMENTO | TRÊS ANOS DE GOVERNOS DEVASTADORES PARA A PESQUISA E A CIÊNCIA

.

DESMONTE DO CONHECIMENTO | TRÊS ANOS DE GOVERNOS DEVASTADORES PARA A PESQUISA E A CIÊNCIA
A produção do conhecimento, fonte de emancipação de um povo, não está nos planos de quem deu o golpe

Cortes nos recursos, que tem sido intensificado, traz insegurança e preocupação aos pesquisadores. Carreiras e todo o trabalho científico estão em risco

RBA | Publicado por Rodrigo Gomes – São Paulo – O golpe de 2016, que resultou no impeachment da então presidenta Dilma Rousseff (PT), foi especialmente devastador para a pesquisa e a ciência.

Dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) mostram que o país vivia uma importante expansão do orçamento voltado ao desenvolvimento da ciência e à formação de mestres e doutores desde 2004.

No entanto, a partir do governo de Michel Temer (MDB), teve início uma escalada de cortes nos recursos. A preocupação e insegurança são grandes entre os aos pesquisadores brasileiros e também nos centros de pesquisa, diante  da possibilidade de interrupção de muitos trabalhos. Na ciência, que avança a cada dia com novas descobertas, pesquisa interrompida é praticamente sinônimo de pesquisa perdida.

No caso do CNPq, a redução do orçamento vem desde o golpe e chegou ao limite este ano, deixando o órgão deficitário em R$ 330 milhões. Foram suspensas 4.500 novas bolsas. E cerca de 84 mil bolsistas estão sem saber o que vão fazer a partir deste mês. Se nada for revertido, não haverá continuidade do pagamento de bolsas para pesquisa em andamento.

Na Capes, este ano, o corte de 3.474 bolsas de estudo para estudantes de mestrado, doutorado e pós-doutorado levou pesquisadores que atuavam em dedicação exclusiva – por exigência da própria agência – a trabalhar como garçons e vendedores para se sustentar. E ver suas pesquisas abandonadas.

Criado para promover o intercâmbio de pesquisadores brasileiros em diversas universidades estrangeiras, o programa Ciência sem Fronteiras, foi criado em 2013. O orçamento inicial era de R$ 1,2 bilhão. Dois anos depois já contava com R$ 3,2 bilhões. Com o golpe foi severamente esvaziado, até praticamente acabar.

Ao todo foram distribuídas 64 mil bolsas para graduação, 26 para doutorado e pós, 7 mil para desenvolvimento tecnológico, entre outras áreas. Hoje é apenas 0,22% disso: R$ 7 milhões. Dos mais de 100 bolsista que o Brasil chegou a mandar para o exterior, restam 5 mil.

Cenário devastador

IFrame

…..

OPERAÇÃO CASADA | EM OFÍCIO, CNA E RURALISTAS ATACAM LIBERAÇÃO DE AGROTÓXICO QUE MATA LAVOURAS

.

OPERAÇÃO CASADA | EM OFÍCIO, CNA E RURALISTAS ATACAM LIBERAÇÃO DE AGROTÓXICO QUE MATA LAVOURAS
Colheita de soja no Paraná: produtores temem perda de lavouras com a liberação do herbicida dicamba / Jonas Oliveira | Fotos Públicas

Herbicida produzido pela Monsanto prejudica várias culturas e só funciona em variedade de soja vendida por ela mesma

Redação | Brasil de Fato | São Paulo (SP) – A velocidade e a inconsequência com que o governo Jair Bolsonaro (PSL) tem liberado o uso de agrotóxicos no país já começa a incomodar o próprio agronegócio – em tese, um dos principais beneficiários de tal política.

Em ofício protocolado no Ministério da Agricultura na última sexta-feira (30), ao qual o Brasil de Fato teve acesso, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja) manifestam “preocupação com o futuro de toda a agricultura brasileira”, devido à liberação, em 22 de agosto, do herbicida dicamba.

Segundo os produtores, apenas uma variedade de soja geneticamente modificada é tolerante ao dicamba. Todas as demais seriam negativamente afetadas pelo produto, que, segundo o documento enviado ao Ministério, é altamente volátil (evapora e se espalha) em temperaturas acima de 29 graus.

Além da soja, o dicamba mataria também lavouras de algodão, batata, café, cítricos, feijão, leguminosas, tomate, uva e milho, entre outras.

De acordo com a Associação Brasileira dos Defensivos Genéticos (Aenda), apenas três grandes companhias multinacionais produzem herbicidas à base de dicamba, entre elas a Bayer-Monsanto.

Não por acaso, é a mesma Bayer-Monsanto que detém a tecnologia para produção de sementes resistentes ao dicamba – chamada de Intacta 2 Xtend – e está programando seu lançamento comercial no Brasil para 2021.

A semente já foi “apresentada” a produtores Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Bahia num grande evento denominado Gigantes da Soja, realizado entre o fim de 2018 e começo de 2019.

Operação casada

No ofício enviado ao ministério, a CNA e a Aprosoja lembram que, nos EUA, onde o dicamba foi liberado em 2016, quase 4 milhões de hectares de soja foram danificados, o que gerou 2.700 processos judiciais. Com isso, vários estados norte-americanos teriam estabelecidos restrições ao uso do herbicida.

Os produtores lembram ainda que a volatização do produto seria ainda maior no Brasil, devido ao clima tropical do país.

“Ademais”, diz o texto, “a tecnologia Xtend virá associada a outras biotecnologias (…), tendo que ser adquiridas como se em ‘pacote fechado’, nada menos que uma venda casada”.

Em entrevista ao Canal Rural no último dia 23, o presidente da Aprosoja, Bartolomeu Braz, criticou a liberação.

“Não podemos aceitar esse domínio de mercado. O Brasil já evoluiu bastante, temos um clima tropical e ao que parece não temos a necessidade de usar esse produto. Nosso manejo é diferente dos americanos e precisa ser pensado de maneira diferente”.

O documento das entidades representativas do agronegócio não chega a exigir a proibição do dicamba, mas pede o estabelecimento de medidas de controle, a elaboração de mais pesquisas, tendo em vista as características do clima brasileiro, e a “responsabilização da empresa detentora da biotecnologia”, em casos de danos às lavouras.

 

Edição: João Paulo Soares

,,,

A CRISE SISTÊMICA DO CAPITALISMO MUNDIAL

.

A CRISE SISTÊMICA DO CAPITALISMO MUNDIAL

Carta Maior | Por Prabhat Patnaik – A marca registada de uma crise sistémica, distinta de uma crise cíclica ou esporádica do capitalismo, é que todo esforço para resolver a crise dentro dos limites vastos do sistema, definido em termos da sua configuração de classe predominante, apenas agrava a crise.

É neste sentido que o capitalismo neoliberal entrou agora numa crise sistémica. Esta não pode ser resolvida por meros remendos; e as tentativas de ir além de meros remendos – como por exemplo com a introdução do proteccionismo sem transcender a estrutura ampla da globalização neoliberal, ou seja, sem superar a hegemonia do capital financeiro internacional, que é a força motriz por trás desta globalização, tal como Trump está a fazer nos EUA – só agravará a crise.

Os sintomas da crise são bem conhecidos. A crise de 2008 foi seguida pela busca de uma “política de dinheiro barato” nos EUA e alhures, de modo que as taxas de juros foram deitadas abaixo, até quase zero. Isso mal conseguiu fornecer algum espaço temporário de respiração ao capitalismo mundial. Mas agora, mais uma vez, ele está confrontado com uma recessão iminente. Nos EUA, o investimento das empresas está em declínio e a produção industrial em Julho foi 0,2 por cento mais baixa do que no mês anterior. A economia britânica contraiu-se durante o segundo trimestre deste ano, assim como a da Alemanha. O quadro é praticamente o mesmo por toda a parte, tal como na Itália, Brasil, México, Argentina e Índia. Até mesmo a China está a testemunhar uma desaceleração da sua taxa de crescimento em consequência da recessão mundial.

A resposta dos decisores políticos em toda a parte a esta recessão emergente é propor mais uma vez um corte nas taxas de juros. O Banco Central Europeu, que já empurrou a sua taxa de juros chave para a região negativa, está a planear reduzi-la ainda mais. Na Índia, as taxas de juros já foram cortadas. A ideia por trás destes cortes nas taxas de juros não é tanto que taxas mais baixas causem maiores investimentos. É, em vez disso, que taxas mais baixas provoquem “bolhas” no preço dos activos – as quais promoveriam a procura agregada por meio de maiores gastos por parte daqueles que se sentem mais ricos devido às “bolhas” de tais preços de activos.

Seria preciso esclarecer porque esta tinha de ser a resposta típica de decisores políticos por toda a parte. No período imediatamente posterior à Segunda Guerra Mundial, ou seja, antes do aproximar da globalização neoliberal, os gastos do governo podiam ser aumentados a fim de promover a procura agregada sempre que houvesse uma ameaça de recessão. Os governos podiam elevar os défices orçamentais, se necessário, uma vez que os controles de capital estavam em vigor e não havia o perigo de fugas de capitais caso houvesse aumentos do défice orçamental.

Este fora o mundo visualizado por John Maynard Keynes, o famoso economista que foi um dos arquitectos da ordem económica capitalista do pós-guerra. Ele se opusera à internacionalização das finanças (“as finanças, acima de tudo, devem ser nacionais”, disse ele), com a justificativa de que tal internacionalização minava a capacidade do Estado-nação de aumentar o emprego tornando-o um prisioneiro da finança, a qual sempre se opunha a maiores gastos governamentais para esta finalidade. Como defensor do sistema capitalista, Keynes temia que, a menos que o Estado-nação pudesse aumentar suficientemente o emprego, o capitalismo não pudesse sobreviver à ameaça socialista.

Mas com maciças acumulações financeiras nos bancos metropolitanos, por causa dos contínuos grandes défices em conta corrente na balança de pagamentos dos EUA durante este período, e também, numa data posterior, por causa dos grandes depósitos de receitas ganhas pelos produtores da OPEP com as altas dos preços do petróleo na década de 1970, houve uma enorme pressão do capital financeiro em favor de um levantamento dos controles de capitais. Ele queria que todo o globo fosse aberto para que as finanças se movimentassem à vontade e, em última análise, isso aconteceu. A hegemonia do capital financeirointernacional foi então estabelecida, o que também significou uma retirada do Estado-nação de seu papel de manutenção do nível de emprego através da intervenção orçamental. O único modo de promover a procura agregada sob o regime do capitalismo neoliberal que continuou a existir foi portanto através do estímulo a “bolhas” de preços de activos; e a política de taxa de juros foi utilizada para este propósito.

Mas, ao contrário das despesas do governo, que podem ser reguladas à vontade, não se pode fazer aparecer uma “bolha” à vontade. Por algum tempo, nos anos noventa (a “bolha das dot.com” nos Estados Unidos) e nos primeiros anos deste século (a “bolha habitacional” nos EUA), este modo de estimular a procura agregada pareceu funcionar. Mas o colapso da “bolha” habitacional tornou as pessoas cautelosas e nenhuma nova “bolha” de magnitude semelhante apareceu, apesar de as taxas de juros serem reduzidas a zero.

Entretanto, há outro factor que actua poderosamente para reduzir a procura agregada dentro de cada país e no mundo como um todo; e este é o aumento da fatia do excedente na produção total. A globalização significou acima de tudo a livre circulação do capital, incluindo o financeiro, através das fronteiras, e isto resultou na relocalização de um certo número de actividades das metrópoles de altos salários para os países de terceiro mundo com baixos salários a fim de atender à procura global. Ao tornar os trabalhadores dos países avançados sujeitos à competição dos trabalhadores do terceiro mundo, isto tendeu a diminuir os salários dos primeiros. Ao mesmo tempo, os salários destes últimos continuam a permanecer num nível de subsistência nulo, porque as reservas de mão-de-obra do terceiro mundo não se esgotam apesar de tal relocalização. O vector das taxas salariais em todo o mundo portanto não aumenta, mesmo quando o vector das produtividades do trabalho por todo o mundo aumenta. Esta é a razão para o aumento da fatia do excedente dentro de cada país e no mundo como um todo.

Este aumento na participação do excedente cria uma tendência à superprodução, porque o consumo por unidade de rendimento é muito maior entre os assalariados do que entre os que recebem os excedentes. Esta tendência poderia ter sido compensada por um aumento nos gastos governamentais dentro de cada país. Mas, como isso não é mais possível, a única tendência contrabalançadora que é possível contra essa tendência rumo à superprodução é a formação de bolhas de preços de activos. Na ausência de tais bolhas, a tendência rumo a superprodução opera com força total, que é o que estamos hoje a assistir.

Como o instrumento convencional de reduzir taxas de juros não funciona em tal situação, e como os gastos do governo não podem ser aumentados para compensar a deficiência da procura agregada, os EUA sob Donald Trump tem tentado superar sua própria crise exportando-a para outros países, especialmente a China, através da adopção de medidas proteccionistas. Sobre toda uma gama de importações da China ele impôs tarifas de 25% e isto, por sua vez, levou a uma retaliação da China através da imposição de uma tarifa de 25% sobre um conjunto de importações dos EUA.

Esta guerra comercial, iniciada pelos EUA como forma de se livrar da crise, agora está a acentuar a crise da economia global, porque ela mina qualquer pequeno incentivo para investir entre os capitalistas do mundo. Longe de estimular uma nova bolha de preços de activos, o que era a intenção original por trás da redução das taxas de juros, ela tem como efeito provocar um colapso nos mercados de acções por todo o mundo. A Wall Street, por exemplo, testemunhou a maior queda do ano no dia 14 de Agosto; e em reacção mercados de todo o mundo também registaram quedas.

Se os gastos do governo pudessem ser aumentados dentro de cada país, então a necessidade de tais políticas de “mendigar teu vizinho” (“beggar-thy-neighbour”) não surgiria. Mesmo que se recorra a algum proteccionismo para assegurar que o aumento da procura causado pelos gastos do governo não “vazasse” para o exterior, isso não precisaria levar a qualquer redução nas importações de outros países uma vez que o próprio mercado estaria a crescer. Mas, na ausência de um aumento de despesas governamentais, às quais o capital financeiro internacional se opõe (razão porque a maior parte dos países aprovou leis que restringem a dimensão do défice orçamental), as políticas de empobreça teu vizinho permanecem como uma das poucas opções possíveis para um país. Isto, contudo, piora a crise para todos. 

Isto é precisamente a marca registada de uma crise sistémica. Na medida em que a hegemonia do capital financeiro internacional continuar, e em que países permanecem presos no turbilhão de fluxos financeiros globais, não só a crise continuará como todo o esforço para ultrapassá-la, através de quaisquer meios disponíveis dentro do sistema, só agravará a crise. Ultrapassar a hegemonia do capital financeiro internacional exige, contudo, que dentro de cada país o povo trabalhador seja mobilizado em torno de uma agenda alternativa.

Prabhat Patnaik é economista, indiano (ver no Wikipedia)

*Publicado originalmente em peoplesdemocracy.in | Tradução de JF publicada originalmente em resistir.info

…………………

ECONOMIA | DESNACIONALIZAÇÃO NÃO INCREMENTOU PRODUTIVIDADE, APONTA ESTUDO

.

ECONOMIA | DESNACIONALIZAÇÃO NÃO INCREMENTOU PRODUTIVIDADE, APONTA ESTUDO
A CHESF, DA ELETROBRAS, NA MIRA DO GOVERNO MÃO FECHADA COM OS CIDADÃOS E GENEROSO COM O CAPITAL ESTRANGEIRO

A venda de empresas nacionais apenas reforçou um padrão de inserção externa frágil e subordinado

Carta Capital – CARLOS DRUMMOND – A alegação do governo de que algumas atividades podem parar por falta de dinheiro “é extremamente preocupante” e mostra que “ele está preso à armadilha que colocou: ao impor um teto real de gastos, mais regra de ouro do endividamento público, mais meta de superávit fiscal, impede o uso de instrumentos fiscais contracíclicos justamente quando são mais necessários”, afirma Luiz Fernando de Paula, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Não só tais instrumentos ficam impossibilitados de serem usados como o próprio funcionamento de programas de governo é inviabilizado. Isso em parte se deve ao fato de se usar política fiscal contracionista em um quadro em que as receitas fiscais estão praticamente estagnadas. Nessas condições, o ajuste fiscal acaba por se revelar extremamente danoso e mesmo contraproducente. É uma política autodestruidora.”

“Mas há algo além nesta política, que é a imposição de um Estado mínimo na economia brasileira, uma espécie de thatcherismo tupiniquim”, chama atenção o economista. Exemplo do caráter predatório do possível apagão em várias atividades do governo, diz, é o caso dos recursos para pesquisa e bolsas do CNPq. “É difícil e demorado construir programas e instituições, mas é fácil destruí-los.”

No quadro de governança da política macroeconômica vigente, prossegue, não há muito o que fazer. “O governo fica na dependência de recursos não recorrentes, como é o caso daqueles obtidos nos leilões de petróleo para poder afrouxar o arrocho fiscal. A alternativa é rever as metas fiscais para que se possa abrir espaço para o aumento dos investimentos públicos, que têm maior efeito sobre o crescimento, mas para isso teria não só que mudar a orientação ideológica do governo, como negociar com o Congresso. Estamos numa ‘sinuca de bico’”, resume o economista.

Os cortes e atrasos de liberação de recursos comandados pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, afetam bolsas de estudos, compras de livros didáticos para escolas públicas, gastos da Polícia Federal, repasses do programa Minha Casa Minha Vida, Justiça do Trabalho e o governo acena com mais cortes.

Iniciativas tópicas e efeito acessório

Exemplo das limitações autoimpostas por uma concepção de política econômica voltada para o aumento da oferta e omissa em relação à necessidade de gerar demanda é o pacote em elaboração para combate ao desemprego. A decisão se restringirá ao estímulo ao primeiro trabalho para os jovens por meio da desoneração da folha de pagamento e da facilitação do acesso ao microcrédito aos pequenos empreendedores. Embora envolva parcelas significativas de trabalhadores, tem alcance limitado.

“São iniciativas tópicas com efeito acessório. Dependem de uma política de demanda, uma estratégia de retomada do investimento e do gasto público. É esse o nosso problema”, critica o diretor-técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, Clemente Ganz Lúcio. Há 4,38 milhões de desempregados com idade entre 20 e 29 anos, o equivalente a 18,4% da força de trabalho, acima dos 12% referentes à desocupação total. Dos desempregados nessa faixa etária, 28,96% procuram emprego há, no mínimo, dois anos, calcula o Dieese.

Há quatro décadas sem crescimento significativo e continuado, a situação só se agrava com a escalada de privatizações de empresas e recursos naturais que nem sequer deve poupar a Petrobras. As desestatizações são quase sempre desnacionalizações, mas é ilusão achar que a penetração do capital estrangeiro eleva a eficiência e a competitividade internacional do País. Ocorre o oposto, indica o trabalho “Internacionalização, desnacionalização e desenvolvimento”, de Fernando Sarti e Mariano Laplane, professores do Instituto de Economia da Unicamp e pesquisadores do Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia.

“O Brasil tem elevada presença de capital estrangeiro nas suas estruturas de produção e de comércio de bens e serviços. Essa participação ampliou-se substancialmente desde a crise financeira internacional, iniciada em 2008, e com a desaceleração em 2014 e posterior recessão econômica doméstica de 2015 a 2019. A participação estrangeira tem sido reforçada pelos elevados fluxos de Investimento Direto no País (IDP), sobretudo na forma de operações de Aquisição e Fusão (A&F) de empresas nacionais, promovendo um processo de desnacionalização da base produtiva. Portanto, aumenta a preocupação com a transferência de decisões e atividades estratégicas para fora”, descrevem os autores.

A VENDA DA EMBRAER RESULTOU NA TRANSFERÊNCIA DO COMANDO DA SUA CADEIA PRODUTIVA PARA OS EUA

O desenvolvimento econômico e social, sublinham, depende da diversificação e sofisticação de suas bases produtiva e tecnológica e o processo de desnacionalização em curso não tem colaborado para atingir esse objetivo. “Ao contrário, a desnacionalização, aprofundada pela globalização da economia, não promoveu as mudanças necessárias nas estruturas de produção e de comércio e apenas reforçou um padrão de inserção externa frágil e subordinado.” Longe de ser homogêneo e linear, o processo de globalização financeira, produtiva, comercial e tecnológica mostra-se “bastante assimétrico, seletivo e hierarquizado.

Isso significa que a geração e captura de valor e a distribuição de ganhos e perdas decorrentes da globalização são bastante desiguais entre países, empresas e setores de atividade econômica. As grandes corporações transnacionais controlam as cadeias regionais e globais de produção e valor. A partir da gestão de seus ativos financeiros, produtivos, tecnológicos e mercadológicos, decidem o posicionamento e a distribuição das atividades dentro da cadeia de valor, portanto, controlam a geração e captura de valor nas diferentes etapas da cadeia”.

A transferência do centro de decisão

O desmonte da Petrobras e a desnacionalização da Embraer, cabe acrescentar, têm em comum a transferência do centro de decisão das respectivas cadeias produtivas para o exterior. Trata-se de um aspecto crucial, mostra esta passagem do trabalho: “A origem do capital das corporações é um fator condicionante do perfil da base produtiva e tecnológica de um país e, por consequência, do seu padrão de inserção externa. Não é por outro motivo que os países-sede dessas grandes corporações têm adotado políticas de desenvolvimento produtivo e tecnológico com o objetivo de atraírem e reforçarem as atividades mais nobres e de maior valor agregado, incluindo pesquisa, desenvolvimento e inovação”.

Sarti e Laplane destacam, entre outros aspectos, o fato de que, do total de 1,02 trilhão de dólares de investimento direto no País que entraram em duas décadas, 75% ingressaram depois da crise internacional.

Segundo dados da Unctad, a relação entre o estoque de investimentos diretos e o PIB atingiu 37,8% em 2017 no Brasil, superando aquela da média dos países em desenvolvimento (32,6%), mas abaixo da média dos desenvolvidos (43,8%). A China, por exemplo, maior receptor desses investimentos dentre as economias em desenvolvimento, tem uma relação de 12,4%.

O Brasil é um dos espaços preferenciais de entrada de capital estrangeiro na forma de aquisições e fusões, mostra o estudo da Unicamp. Segundo a consultoria KPMG, as operações cresceram substancialmente nos últimos 25 anos e totalizaram no período 13,1 mil operações, das quais 5,9 mil (45% do total) envolveram apenas empresas domésticas e 7,2 mil (55% do total) foram operações cross-border, ou seja, consistiram na aquisição e/ou venda de ao menos uma empresa estrangeira. No período 2009-2018, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais, as operações de empresas estrangeiras adquirindo companhias nacionais atingiram 781,8 bilhões de reais (39,5% do total de operações anunciadas), a preços de 2018, em um total de 310 operações.

De acordo com o Censo de Capital Estrangeiro do Banco Central, o valor do patrimônio líquido das empresas estrangeiras mais do que quadruplicou em relação a 1995 e atingiu 1,7 trilhão de reais em 2015. A receita bruta saltou de 890 bilhões para 3,5 trilhões. “Cabe destacar o aumento de receitas no período 2010-2015, com uma taxa de crescimento real de 63%. No mesmo período, o PIB aumentou em termos reais 13,8%”, ressaltam os autores do trabalho.

O Indicador de Competitividade Industrial da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial aponta que o Brasil perdeu competitividade entre as economias mais industrializadas. Em 1990, ocupava o 26º lugar no ranking de 150 países, em 2000 caiu para 30º, em 2010 para 31º e em 2017 para o 35º posto. A pior posição em 2017 foi no indicador de participação das exportações de manufaturados nas exportações totais (87ª posição dentre 150 países), refletindo o processo de reprimarização da pauta exportadora.


AS GRANDES CORPORAÇÕES ATRAEM E REFORÇAM AS ATIVIDADES MAIS NOBRES E DE MAIOR VALOR AGREGADO. RESTA AO BRASIL VENDER MINÉRIO DE FERRO E GRÃOS E LIQUIDAR ESTATAIS COMO OS CORREIOS

No indicador que avalia a qualidade das exportações, isto é, a participação dos setores de média e alta intensidade tecnológica nas exportações de manufaturados, o País ocupou a 60ª posição. No indicador de participação do Valor Agregado Manufatureiro no PIB (11% em 2017 contra 13% em 2010), um dos indicadores que mensuram a intensidade da industrialização, ficou na 83ª posição, sinalizando o aprofundamento desse processo. Quanto à participação dos setores de média e alta intensidade tecnológica no VAM, estacionou na 43ª posição.

“A acentuada desnacionalização da base produtiva torna o avanço do País mais problemático, uma vez que fragmenta o núcleo do sistema empresarial, transformando-o num arquipélago de filiais de empresas estrangeiras com pouca ou nenhuma autonomia para tomar decisões de investimento de maior escala e risco. Tende a reforçar, dessa forma, o predomínio de estratégias imitativas e de menor risco, tanto tecnológico quanto de mercado, tornando mais difícil a redução do hiato de produtividade em relação a outras economias”, alertam Sarti e Laplane.

….

ESTADOS E CAPITAIS CORTAM INVESTIMENTO PELA METADE NO PRIMEIRO SEMESTRE

.

ESTADOS E CAPITAIS CORTAM INVESTIMENTO PELA METADE NO PRIMEIRO SEMESTRE
Kleber Pacheco de Castro: “Reforma previdenciária é mais importante para os Estados e municípios que para a União”

Valor Econômico | Por Marta Watanabe | De São Paulo – Os investimentos públicos dos governos regionais caíram no primeiro semestre do ano em relação a igual período de 2015. Considerando o agregado de Estados e capitais, os gastos de capital caíram de R$ 19,49 bilhões no primeiro semestre de 2015 para R$ 9,21 bilhões em igual período deste ano, numa queda de 52,8%.

A comparação é feita com 2015 para considerar o mesmo período dentro do ciclo eleitoral para os dois níveis da administração pública. Assim como 2019, o ano de 2015 foi o primeiro de gestão dos governadores. Também foi o terceiro ano do mandato dos prefeitos eleitos em 2012. Os valores de 2015 estão atualizados pelo IPCA.

O levantamento do Valor considerou para todos os entes os investimentos liquidados informados nos relatórios de execução orçamentária. Os valores não incluem as inversões financeiras nem as despesas intra-orçamentárias. As informações contemplam 26 Estados, o Distrito Federal e 24 capitais que já enviaram os relatórios ao Tesouro.

Dentro dos R$ 9,21 bilhões investidos no primeiro semestre deste ano, a parte dos Estados soma R$ 6,97 bilhões, enquanto as 24 capitais participaram com R$ 2,24 bilhões. O tamanho do recuo em relação aos investimentos de quatro anos atrás foi praticamente o mesmo para os dois níveis de governo. Nos Estados a queda foi de 52,5%, e, nas capitais, de 53,4%.

Analistas indicam que a mudança na política de concessão de aval pelo Tesouro a partir de 2015 e o alto comprometimento das receitas estaduais com despesas correntes, sobretudo as de pessoal, estão entre os fatores que levaram à queda de investimentos. Diferentemente do governo federal, o teto de gastos não limita o nível de investimentos nos Estados. Isso porque a limitação à inflação para os gastos dos entes que renegociaram a dívida com a União é aplicada apenas às despesas primárias correntes. Os investimentos, portanto, não são afetados.

O quadro, dizem analistas, deixa claro como o reequilíbrio fiscal é importante para os governos regionais, principalmente nos Estados, tradicionalmente representativos nos investimentos públicos. “Não é por acaso que a atual taxa de investimento nacional é das mais baixas da história. Porque os governos derrubaram seus investimentos, com impacto forte na construção, derrubando por tabela o emprego e o crescimento econômico. O mais preocupante é como despencaram os investimentos estaduais e municipais que, historicamente, sempre investiram de forma mais representativa do que a União”, diz o economista José Roberto Afonso, professor do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP).

O efeito da reforma da Previdência como contribuição ao ajuste dos Estados é “indiscutível”, diz Kleber Pacheco de Castro, consultor em finanças públicas. “Caso Estados e municípios fiquem de fora da reforma, minha expectativa é pessimista em relação à melhora das contas desses entes”, diz. “A reforma previdenciária é mais importante para os Estados e municípios que para a União.”

Na chamada PEC paralela, os Estados poderão aderir à reforma previdenciária nos mesmos termos da União. Para isso, porém, terão de aprovar lei ordinária em suas respectivas Assembleias Legislativas. Caso o Estado aprove a mudança, a adesão de seus municípios será automática. Para Castro, a necessidade de os Estados submeterem a adesão à Assembleia representa grande desafio aos governadores. Para ele, o ideal seria que as novas regras previdenciárias se estendessem automaticamente ao servidores dos governos regionais

Os dados levantados mostram que a redução de investimentos não foi pontual nos governos regionais. Entre os 27 entes federados levantados, em 19 houve queda de investimentos liquidados de janeiro a junho de 2015 para iguais meses deste ano. Em 11 Estados – Acre, Amazonas, Goiás, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro, Roraima, Santa Catarina e Tocantins -, o recuo foi superior a 50%. O Rio de Janeiro puxou a queda no agregado. O investimento do Estado caiu de R$ 3 bilhões para R$ 107,4 milhões. No Estado de São Paulo a queda foi de R$ 3,4 bilhões no primeiro semestre de 2015 para R$ 1,8 bilhão em igual período deste ano – sempre com atualização pelo IPCA para os valores de 2015.

No consolidado, o desempenho das receitas não favoreceu os governos estaduais nos últimos quatro anos. A receitas corrente realizada dos 27 entes federados cresceu 0,6% em termos reais do primeiro semestre de 2015 para iguais meses deste ano. Os dados também mostraram que os governos, no agregado, desaceleram o crescimento de gastos correntes. A despesa com pessoal e encargos sociais cresceu em quatro anos 4,2% reais do primeiro semestre de 2015 para igual período deste ano.

Muitos Estados, segundo Castro, têm se esforçado para conter a despesa de pessoal. Mas há a necessidade, avalia, de uma mudança estrutural. Mesmo que haja algum auxílio por parte da União para os entes, via regime de recuperação fiscal ou plano de reequilíbrio financeiro, será uma ajuda pontual.

Os Estados, salienta, precisam de uma mudança na dinâmica da despesa de pessoal e nesse sentido a reforma previdenciária seria um avanço importante. “Sem isso a preocupação não será apenas em relação a investimentos. Os Estados deixarão de ter recursos para as despesas correntes.” Para o economista, a reforma da Previdência também é importante pelo seu efeito econômico, de tornar o ambiente mais propício à retomada de atividade.

No universo das 23 capitais, o recuo de investimentos também não foi pontual. De janeiro a junho de 2015 para iguais meses deste ano houve queda em 13 delas. Em oito – Rio Branco, Maceió, João Pessoa, Rio de Janeiro, Natal, Porto Alegre, São Paulo e Palmas – a queda ultrapassou os 50%.

….

BOLSONARO COMEÇA A PERDER POPULARIDADE TAMBÉM ENTRE OS MAIS ESCOLARIZADOS

.

BOLSONARO COMEÇA A PERDER POPULARIDADE TAMBÉM ENTRE OS MAIS ESCOLARIZADOS

Da Folha:  –  A nova pesquisa Datafolha traz indícios de que a erosão na avaliação do governo Jair Bolsonaro acelerou em estratos do eleitorado que o apoiaram durante a campanha. Entre os eleitores mais escolarizados, com ensino superior, o índice dos que classificam a gestão do presidente como ruim ou péssima mudou de patamar pela primeira vez. Em abril, este grupo totalizava 35%. Depois, em julho, oscilou irrisoriamente para 36%. Neste levantamento, porém, chegou à marca de 43%.

Às vésperas do segundo turno, de acordo com o Datafolha, 55% dos eleitores com ensino superior declararam intenção de voto em Bolsonaro, enquanto outros 34% diziam preferir Haddad.

Os números que ilustram a frustração com o governo oscilaram negativamente no Sul, um reduto do bolsonarismo. Os que diziam que o presidente vem fazendo mais do que eles esperam saíram de 14% para 12%, em comparação com a pesquisa anterior. Os que dizem que ele fez menos do que o projetado passaram de 51% para 55%.

(…)

 

COLUNA | A LAVA JATO NA MARCA DO PÊNALTI

.

COLUNA | A LAVA JATO NA MARCA DO PÊNALTI

Na análise de Helena Chagas, Moro tem sido aconselhado a deixar o governo a tempo de evitar mais danos à sua imagem. / José Cruz /Agencia Brasil.

Olá, A anulação de uma sentença da Lava Jato pelo STF pela primeira vez, somada a novas revelações da Vaza Jato e ao ostracismo de Moro, dá sinais de que a Lava Jato está caminhando para o fim? Discutimos estas hipóteses e ainda as queimadas na Amazônia nesta edição. Vamos lá.

1. Essa gente ordinária

A semana que passou reservou uma das revelações mais graves desde que o site The Intercept Brasil começou a vazar mensagens da Lava Jato. Não porque demonstrou alguma grave irregularidade processual, mas por mostrar, como nunca, que os procuradores do MPF moviam-se por um profundo ódio contra a figura de Lula. Em seguida, confirmou-se o que já se sabia: a Lava Jato usou de contatos na imprensa para vazar informações e pressionar os possíveis delatores.

Coincidência ou não, na mesma terça (27), o STF anulou pela primeira vez uma condenação de Moro no âmbito da Lava Jato. Na seção, Gilmar Mendes disse considerar um vexame o STF ter sido cúmplice “dessa gente”, que ele chamou de “ordinária”, em referência aos procuradores do MPF. Por 3 votos a 1, a Segunda Turma tornou sem efeito a condenação de Aldemir Bendine, ex-presidente da Petrobras e do Banco do Brasil, por corrupção e lavagem de dinheiro. A decisão se deu por questão técnica ligada ao cerceamento da possibilidade de defesa: as defesas apresentaram suas alegações finais nos mesmos prazos, sem distinção entre réus colaboradores e demais réus acusados, mas na opinião dos ministros delatores e delatados não estão em condições semelhantes no processo, o que exige prazos diferentes. Fachin, que foi voto vencido contra Lewandowski e Carmen Lúcia, remeteu o processo para o plenário, para que o STF decida se a decisão vale para outros casos, o que poderia incluir Lula.

2. O futuro de Lula

Baseado na decisão da Segunda Turma, Fachin determinou a volta para a fase das alegações finais da ação penal a que Lula responde sob acusação de receber da Odebrecht um terreno destinado ao Instituto Lula. Com isso, esse processo, que já estava pronto para ser sentenciado, deve levar mais tempo. A defesa do ex-presidente entrou com habeas corpus no STF para conceder a liberdade de Lula e anular duas condenações e parte de um terceiro processo: a defesa pede a anulação de condenações no caso do triplex do Guarujá, pelo qual Lula está preso, e no caso do sítio de Atibaia, pelo qual Lula foi condenado em primeira instância. Além disso, também quer anular a fase de alegações finais da ação sobre o terreno do Instituto Lula. O pedido será analisado por Fachin, sem previsão de quando isso ocorrerá. Em meio a essa discussão, a Segunda Turma adiou o julgamento de um recurso de Lula que estava previsto para terça (27), no qual ele alegava cerceamento de defesa pela Justiça Federal de Curitiba no caso do terreno. Nesta quinta (29), Fachin negou pedido de liminar para soltar Lulae anular seus processos com base na alegação de suspeição dos procuradores. Com a negativa, a defesa do petista pode recorrer à Segunda Turma. O pedido de habeas corpus foi formulado no início de agosto.

3. O futuro da Lava Jato

Na segunda (26), uma nota no Painel da Folha indicava que políticos de centro-direita previam o fim do casamento entre Moro e Bolsonaro. Na análise de Helena Chagas, Moro tem sido aconselhado a deixar o governo a tempo de evitar mais danos à sua imagem. A expectativa fica por conta dos vetos presidenciais à Lei do Abuso de Autoridade. “Se Bolsonaro concordar em vetar vários artigos e desidratar a matéria, como recomenda o ministro, as aparências podem ser salvas na Justiça e Moro vai ficando”, escreve a jornalista. Moro também aposta no anúncio de um programa de combate à criminalidade para recuperar o protagonismo, ainda que sem recursos e sem efetivo. Candidatíssimo em 2022, João Dória poderia oferecer a vaga de vice para Moro, de olho em mais um possível dissidente do Bolsonarismo.

Porém, cabe pesar o que sobrará de Moro e da Lava Jato até lá. Novamente, Helena Chagas analisa que, apesar das pesquisas apontarem apoio de cerca de 50% dos entrevistados a operação, “vai ficando claro, na própria repercussão das novas operações, que a conjuntura mudou e acabou a temporada dos super-heróis”.

A fusão do lavajatismo e do Bolsonarismo, em andamento desde as eleições como admite um integrante da operação, parece estar em suspenso ou até em afastamento, revelam os ataques de Eduardo Bolsonaro e Olavo de Carvalho a Deltan nas redes sociais. Os atos convocados no domingo (25)em defesa de Moro, da Operação e contra a lei de abuso de autoridade foram fracos e indicam que apenas o VemPraRua, da deputada Carla Zamebelli (PSL SP) e da base bolsonarista, permanece mobilizado pelo lavajatismo. Com Deltan e Moro anulados, não seria surpresa que novas ações contra o PT ou Lula sejam provocadas para reunificar lavajatistas e bolsonaristas, como já ocorreu no episódio da transferência de Lula. No caso de um habeas corpus ou anulação dos julgamentos, a figura de Lula poderia coesionar a base, trazendo inclusive a ala militar, ou sofrer uma derrota determinante para encerrar os dias da República de Curitiba.

4. Amazônia

Haja cortina de fumaça. O governo segue tentando culpar as ONGs pelas queimadas na Amazônia, imaginando ser capaz de esconder o óbvio: os incêndios na floresta aumentam exponencialmente no rastro da retórica anti-ambiental. O número de focos de incêndio na Amazônia em agosto é quatro vezes maior que no mesmo período do ano passado, segundo dados da Agência Especial Europeia.

Coube à revista Globo Rural investigar o grupo de WhatsApp que organizou o chamado “Dia do Fogo”, que provocou o recorde de queimadas em Novo Progresso e Altamira, no Pará. Pelo menos nesta região, foi deste grupo formado por ruralistas que nasceu a ideia de colocar foco em áreas de matas e terras devolutas, no dia 10 de agosto, fazendo o fogo avançar sobre a Floresta Nacional do Jamanxim, uma reserva de 1,3 milhão de hectares.

MPF alertou o Ibama sobre a iminência da ação e o órgão ambiental chegou a pedir apoio da Força Nacional de Segurança, que negou ajuda, segundo servidores. Servidores dos órgãos ambientais que vêm sendo perseguidos de forma sistemática pelo governo, e que aproveitou da matéria do Globo Rural só a fala de uma pecuarista acusando o ICMbio de provocar as queimadas. Apesar do abalo na imagem internacional do Brasile de estragos na economia, que ninguém espere um pouco de comedimento por parte do governo. Em reunião com governadores, Bolsonaro resolveu atacar as reservas indígenas, enquanto na Câmara avança uma proposta de emenda à Constituição que permite atividades agropecuárias e florestais nas terras indígenas.

5. O espetacular crescimento de 0,4%

Quando a fase é ruim, qualquer coisa é motivo para comemoração. A imprensa saudou como “surpreendente” o microscópico crescimento de 0,4% no PIB. Ou seja, menos de meio por cento. Mais sóbrios, os analistas de mercados consideraram o índice dentro da margem esperada, ou seja, abaixo de 1%, e sem sinais de recuperação do crescimento a curto prazo. Com uma das piores capacidades de investimento do mundo, o El País não acredita na recuperação do Brasil a curto ou médio prazo. Na linha time que está perdendo não se mexe, Bolsonaro e Guedes insistem na redução de direitos, entendida como “redução de custos”, para tentar ressuscitar a moribunda economia. Depois da MP da Liberdade Econômica, o governo pretende “concluir a reforma trabalhista” de Temer e alterar a organização sindical. Entre as prováveis propostas, o fim da unicidade, ou seja, a possibilidade de representação e concorrência por mais de um sindicato por categoria.

6. Avaliação de Bolsonaro

O instituto MDA divulgou nova pesquisa encomendada pela CNT e a notícia mais chamativa foi o salto na reprovação de Bolsonaro. Na comparação com a pesquisa realizada em fevereiro, a reprovação (ruim ou péssimo) do governo passou de 19% para 39,5% e a reprovação ao desempenho pessoal de Bolsonaro pulou de 28,2% para 53,7%. Entre as pessoas que aprovam o governo ou se dizem satisfeitas com seu desempenho, as áreas mais bem avaliadas são o combate à corrupção, a segurança e a redução de cargos e ministérios. Por outro lado, a saúde foi a área com pior avaliação, seguido por meio ambiente. Questões como a liberação das armas de fogo e os cortes na educação também pegaram mal entre a população, segundo a pesquisa.

7. Algo de podre no Paraguai

O empresário Alexandre Giordano, suplente do senador Major Olímpio (PSL-SP), falava em nome do governo brasileiro nas negociações sobre a venda de energia de Itaipu para a empresa brasileira Léros. É o que diz um ex-assessor da vice-presidência do Paraguai. José ‘Joselo’ Rodríguez afirmou nesta semana, em entrevista no Paraguai, que “em todas as conversas com a empresa brasileira a primeira coisa que faziam era dizer que tinham apoio da alta cúpula do governo brasileiro para obter a autorização para importar energia”. Estadão e Carta Capital mostram também que Giordano esteve no Palácio do Planalto um dia depois de Bolsonaro visitar Itaipu, em fevereiro. Se você acha que tem caroço nesse angu, receba mais uma pulga para colocar atrás da orelha: o governo federal decretou sigilo de cinco anos às informações sobre o registro de quem entra e sai do Palácio do Alvorada e do Palácio do Jaburu. O site Nexoexplica por que isso pode ser um problema.

Ponto final: nossas dicas de leitura

A operação Lava Jato foi responsável pela perda de aproximadamente R$ 142 bilhões e 991 mil vagas de emprego, apenas em 2015, principalmente em setores como metal-mecânico, naval, construção civil e engenharia pesada. Uma retração no PIB de 2,5%. Os dados foram apurados pelos pesquisadores Luiz Fernando de Paula (IE/UFRJ) e Rafael Moura (Iesp/UERJ).

No Intercept, o especialista em Antropologia da Informática David Nemer afirma que os grupos de WhatsApp que ajudaram a disseminar desinformação durante a eleição de 2018 estão mais radicais. Além da propaganda do governo, eles pregam uma insurgência armada e reivindicam uma supremacia social. “Por mais que a amostra de pessoas radicalizadas em grupos de WhatsApp seja pequena, a possibilidade de que essa amostra cresça e se torne um problema ainda maior é grande”, diz o autor.

Na Carta Capital, Ester Solano escreve sobre a “Dona Maria”, um perfil comum nas suas pesquisas: mulher, evangélica, com 40 anos de idade e eleitora de Bolsonaro em 2018. “Dona Maria votou em Lula (…) Diz que foi um grande presidente, na verdade o melhor que o Brasil teve (…) mas? Aqui tudo degringola. Lula é um grande corrupto, ele sabia de todos os esquemas do PT, ele traiu o povo trabalhador e caiu na corrupção. Sempre digo que não é sobre o triplex do Guarujá, não é sobre o sítio de Atibaia, é o PowerPoint de Dallagnol o que ganhou a grande batalha simbólica destes últimos anos: Lula no centro da corrupção”, escreve a pesquisadora.

No GGN, André Motta alerta que pela primeira vez, desde 1930, o governo brasileiro não tem nenhuma política econômica para o semestre, para o ano ou para o mandato.”Não há nenhum plano coerente, com medidas que se inter-relacionam, com providências coordenadas, com uma visão de conjunto que tenha um objetivo definido, com meios e metas”, analisa Motta, que também explica por que a experiência no mercado de Paulo Guedes é inócua para administrar o Estado.

No aniversário de quatro décadas da Lei de Anistia, o Nexo recapitula a construção e a implementação da lei, assim como seus questionamentos e insuficiências, além de comparar com medidas semelhantes de outros países.

No Intercept, Gregório Grisa, que é doutor em Educação e professor do IFRS, desmonta um dos principais argumentos do programa Future-se: o financiamento privado de pesquisas nas universidades públicas. “A premissa do programa é a de que, ao transferir a gestão acadêmica para organizações sociais, o setor privado passaria a investir nessas instituições. Essa expectativa não tem nenhum respaldo em fatos”, escreve, mostrando ainda que o financiamento privado de instituições já existe, é menor que o financiamento público e insuficiente. Parte da captação destes recursos em universidades foi usada para suprir valores não repassados pela União. Na UFRGS, por exemplo, parte do que foi arrecadado através de convênios e contratos de pesquisa em 2018 foi usado para pagamento de despesas obrigatórias da União. “A garantia de que haverá orçamento para as instituições públicas compatíveis com suas demandas de manutenção e expansão não deveria ser um ponto negociável”, sugere.

Obrigado por ler o Ponto. Se você gostou do conteúdo se inscreva para receber a newsletter por email. Bom fim de semana.

Edição: Daniela Stefano

………………….

SE ELEIÇÃO FOSSE HOJE, HADDAD VENCERIA BOLSONARO POR 42% A 36%, INDICA DATAFOLHA

.

SE ELEIÇÃO FOSSE HOJE, HADDAD VENCERIA BOLSONARO POR 42% A 36%, INDICA DATAFOLHA

Folha Uol | Carolina Linhares – Se o segundo turno da eleição para presidente da República fosse hoje, Fernando Haddad (PT) seria eleito com 42% dos votos, contra 36% de Jair Bolsonaro (PSL), indica pesquisa Datafolha divulgada nesta segunda-feira (2). Outros 18% votariam branco ou nulo e 4% não souberam responder.

Em 28 de outubro do ano passado, no segundo turno da disputa, Bolsonaro foi eleito presidente com 55,13% dos votos válidos (excluídos brancos, nulos e indecisos). Haddad obteve 44,87%.

Passados oito meses de governo, o Datafolha aponta que a reprovação do presidente subiu de 33% para 38% em relação ao levantamento anterior do instituto, feito no início de julho, e diversos indicadores apontam uma deterioração de sua imagem. Foram ouvidas 2.878 pessoas com mais de 16 anos em 175 municípios.

aprovação de Bolsonaro também caiu, dentro do limite da margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou menos, de 33% em julho para 29% agora. A avaliação do governo como regular ficou estável, passando de 31% para 30%.

Entre quem declarou preferência por Bolsonaro no ano passado, 74% manteriam o voto se a eleição fosse hoje. Um total de 10% migraria para Haddad, e 13% votariam branco ou nulo. Já 88% dos eleitores do petista manteriam seu voto hoje. Somam 4% os que mudariam o voto para Bolsonaro e 6% os que votariam nulo ou branco.

O presidente Bolsonaro já deixou claro que pretende concorrer à reeleição em 2022. Durante a campanha eleitoral, ele disse que trabalharia pelo fim da reeleição presidencial.

Em julho passado, o discurso foi outro: “Pegamos um país quebrado moral, ética e economicamente, mas se Deus quiser nós conseguiremos entregá-lo muito melhor para quem nos suceder em 2026”.

De olho na reeleição, Bolsonaro tem adotado estratégias como manter inflada a polarização vista no ano passado e atacar possíveis adversários da centro-direita, como o governador João Doria (PSDB) e o apresentador Luciano Huck.

O PT, por sua vez, continua a reboque do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso em Curitiba pela operação Lava Jato desde abril de 2018. O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) é considerado o principal líder da sigla e provável presidenciável em 2022, como alternativa a Lula.

Caso o segundo turno ocorresse agora, o petista abre vantagem em diferentes segmentos da sociedade.

Considerando os desempregados que buscam emprego, hoje 52% votariam em Haddad contra 26% em Bolsonaro —19% votariam nulo ou branco. Entre os empresários, a vantagem se inverte: 61% quereriam Bolsonaro eleito e 26% escolheriam Haddad.

Os aposentados elegeriam Bolsonaro por 43% a 33%. Já os estudantes preferem Haddad, por 50% a 32%. O petista também vence entre assalariados sem registro, funcionários públicos e pessoas que fazem bico.

Se a eleição fosse hoje, Haddad venceria entre pardos (43% a 36%), pretos (53% a 26%), amarelos (44% a 30%) e indígenas (40% a 34%). Porém perderia entre os brancos (36% a 43%).

Mulheres também preferem o petista por 44% a 32%. Outras 20% votariam branco ou nulo. Bolsonaro e Haddad empatam tecnicamente entre os homens.

Entre os evangélicos, 47% votariam em Bolsonaro e 32% em Haddad. O petista tem maioria entre os católicos, 46% a 33%.

O presidente manteria a dianteira, se a eleição fosse hoje, em todas as regiões do Brasil, com exceção do Nordeste, que elegeria Haddad por 57% a 23%. A maior vantagem de Bolsonaro é no Sul: 43% a 32%.

Em relação a faixa etária, Haddad teria maior vantagem entre os mais jovens, chegando a 51% contra 31% entre os que têm de 16 a 24 anos. O petista perderia entre os maiores de 60 anos por 34% a 41%.

Se a eleição fosse hoje, aqueles com ensino fundamental e médio elegeriam Haddad, por 45% a 33% e 42% a 37%, respectivamente. Para quem tem ensino superior, há empate dentro da margem de erro, com 40% de Bolsonaro e 38% de Haddad.

O presidente Bolsonaro venceria em todas as faixas de renda, com exceção daqueles que ganham até dois salários mínimos. Esses de menor renda elegeriam Haddad por 49% a 28%.

Bolsonaro abriria maior distância entre os que ganham de cinco a dez salários mínimos: venceria por 53% contra 27%.

A pesquisa Datafolha ouviu 2.878 pessoas entre 29 e 30 de agosto. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, e o intervalo de confiança é de 95%.

….