RETROCESSO | ARAS ASSUME COMPROMISSO EM DEFESA DA “FAMÍLIA HETEROSSEXUAL E MONOGÂMICA”

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RETROCESSO | ARAS ASSUME COMPROMISSO EM DEFESA DA
Augusto Aras, indicado de Bolsonaro para a PGR, ainda terá de ser sabatinado pelo Senado / Roberto Jayme | Ascom TSE

Indicado à PGR recebe apoio de juristas evangélicos que rejeitam reconhecimento oficial às questões de gênero

Redação | Brasil de Fato | São Paulo (SP) – Caso seu nome seja aprovado no Senado, o jurista Augusto Aras chegará à Procuradoria-Geral da República comprometido com uma pauta evangélica de viés progressista em relação à liberdade religiosa, mas de caráter conservador nas questões de gênero.

Logo após a confirmação de que Aras seria o indicado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), a Associação Nacional dos Juristas Evangélicos (Anajure) emitiu nota de apoio declarando que, entre os candidatos ao posto, ele foi “um dos que mais se comprometeu em atuar pela defesa das diretrizes” da entidade.

Tais diretrizes foram elencadas em “Carta de Teses e Princípios” divulgada em 13 de agosto e apresentada a todos os postulantes ao cargo hoje ocupado por Raquel Dodge – cujo mandato acaba no próximo dia 17 de setembro.

O documento é divido em oito pontos, entre eles um que versa sobre “sexualidade, valorização da família e preservação da vida” – no qual a Anajure advoga a preservação da “instituição familiar”, no âmbito jurídico, como “heterossexual e monogâmica”, com a ressalva de que devem ser respeitados “os direitos fundamentais das minorias sexuais e a autonomia individual quanto à construção privada de relacionamentos”.

Ainda na questão de gênero, a carta prega que “os registros públicos de qualquer ordem e as estruturas físicas dos órgãos e entidades públicas devem ser pautados pelo critério do gênero binário natural (masculino e feminino)”.

O texto defende a “igualdade de oportunidades e sem discriminação” entre homens e mulheres. Porém, na sequência, nega o direito de a mulher decidir sobre o próprio corpo ao se posicionar contra o aborto em qualquer fase da gestação.

Outros pontos do documento abordam questões institucionais e corporativas, como o que defende a manutenção das isenções fiscais a igrejas e o direito de seus líderes participarem da vida política.

Ainda nessa aba, o texto traz um item que prega o respeito do Ministério Público ao princípio da separação de poderes.

Esse ponto está sendo interpretado como um ataque da Anjure à posição de Raquel Dodge, que tem questionado junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) a constitucionalidade de leis estaduais e municipais que vedam o ensino sobre sexualidade e gênero nas escolas. Na opinião da entidade, tal questionamento não faria parte das atribuições da procuradoria-geral.

Edição: João Paulo Soares

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DISPUTA | CRITICADA POR ESPECIALISTAS, LEI DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL SEGUE EM DEBATE NA CÂMARA

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DISPUTA | CRITICADA POR ESPECIALISTAS, LEI DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL SEGUE EM DEBATE NA CÂMARA
“O radicalismo não está nos ambientalistas ou povos indígenas e quilombolas. Está com as bancadas da FPA, da infraestrutura”, disse Tatto / Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados

De interesse da bancada ruralista, projeto foi discutido em comissão geral nessa segunda (9) e poderá ter nova versão

Cristiane Sampaio | Brasil de Fato | Brasília (DF) – De volta aos destaques do debate político nacional, o projeto que institui a Lei Geral do Licenciamento Ambiental segue colecionando críticas por parte de ambientalistas, entidades da sociedade civil, órgãos de controle e deputados de oposição. Patrocinada pela bancada ruralista e aliados, a proposta foi discutida por uma comissão geral nessa segunda-feira (9), no plenário da Câmara dos Deputados.

Atualmente em sua quarta versão, o texto apresentado pelo relator, deputado Kim Kitaguari (DEM-SP), foi contestado em diferentes pontos. Um deles diz respeito à retirada da participação da sociedade civil no processo de licenciamento ambiental. A legislação vigente conta com a participação de diferentes conselhos deliberativos, como o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e de colegiados estaduais e municiais que deliberam sobre o tema.

A coordenadora de projetos da fundação SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro, avalia que a medida proposta fere a Constituição Federal, segundo a qual atividades de impacto ambiental exigem a realização de um estudo com participação da sociedade. A especialista afirma que, nesse sentido, o relatório prejudica a transparência e impõe riscos para o meio ambiente, a população e o país.

“Você exclui a participação da comunidade científica, das associações de pesquisa, de saúde, de recursos hídricos. Não estou falando só de ONG e ambientalistas, mas principalmente da participação das comunidades locais na questão dos empreendimentos. Isso é extremamente nocivo pra uma Lei Geral. Esse texto traz muita clara uma visão do governo Bolsonaro de desconsiderar e desqualificar a participação da sociedade civil”, critica.

Por conta das divergências em torno do tema, o texto de Kitaguari ainda não tem data para votação, embora seja alvo de articulações de bastidor da bancada ruralista para ir a plenário em breve. O relator afirmou, nessa terça, que uma quinta versão do documento estaria sendo produzida para inserir alterações reivindicadas por especialistas no tema.

Tramitação prolongada

A proposta da Lei Geral do Licenciamento Ambiental tramita desde 2004, por meio do Projeto de Lei (PL) 3729, e voltou à tona nos últimos anos, no contexto de fortalecimento da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), conhecida como bancada ruralista.

O avanço na tramitação do PL este ano tem como cenário a participação direta e intensiva do grupo no governo Bolsonaro. A gestão acena também para outros aliados do ambiente de negócios, como é o caso das mineradoras, interessadas em acelerar o polêmico projeto de exploração mineral em terras indígenas. Tais temas se misturam nos debates sobre a flexibilização das regras do licenciamento ambiental porque, com menos rigidez, especialistas apontam que o campo popular tende a ficar sob uma maior desproteção.

Nesse sentido, a queda de braço em torno do PL conta com outro aspecto de realce: a isenção de licenciamento para as atividades agropastoris, que incluem os diferentes empreendimentos do agronegócio. A promotora de Justiça Luciana Curi, do Ministério Público da Bahia (MPBA), destaca que a proposta amplia os riscos já existentes para diferentes povos.

“Temos uma preocupação muito grande porque o agronegócio está situado em locais de conflito, inclusive com comunidades, e o licenciamento permite analisar os impactos sociais, controlá-los. Tudo isso é muito relevante. Então, há uma preocupação muito grande, tanto do ponto de vista das comunidades impactadas pelo agronegócio quanto de áreas estratégicas de conservação, como aquíferos, e ainda problemas sérios com relação ao agrotóxico”, expôs a promotora nesta terça.

Sem consenso

O texto do relatório em debate foi produzido após as atividades de um grupo de trabalho criado este ano pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para tentar construir um consenso sobre o tema. Mas a proposta ainda parece longe de alcançar esse horizonte.

Grupos interessados na flexibilização das normas ambientais fazem coro pela aprovação do PL. Nesta terça, interlocutores do setor elétrico, por exemplo, afirmaram na Câmara que o país precisa de uma lei geral de licenciamento para gerar “segurança jurídica para o empreendedor e para os próprios órgãos ambientais”.

Também afirmaram que o relatório proposto acaba com o “vácuo legislativo” em torno do tema, facilitando o ambiente de negócios e atraindo investimentos.

Do outro lado do debate, diferentes críticos afirmam que a proposta seria um empecilho ao desenvolvimento porque gera insegurança jurídica. A questão foi apontada nesta terça pela professora de Direito Ambiental Mariana Cirne. Ela sublinhou que uma legislação semelhante aprovada no estado de Tocantins já foi invalidade pelo Supremo Tribunal Federal (STF), cujo entendimento é de que nenhuma atividade econômica pode ficar isenta de licenciamento ambiental.

“Mesmo que se tenha uma lei dizendo que não precisa licenciar, quando [um empreendimento] tem um impacto, um órgão ambiental não pode fingir que não está vendo porque ele tem um dever [legal] de fiscalização. Então, é preciso ter um patamar mínimo de exigência”, argumenta.

Membro da FPA, o deputado Domingos Sávio (PSDB-MG) afirmou que as críticas à proposta resultam de opiniões extremas. “Isso não é defesa do meio ambiente, é um radicalismo atrasado que prejudica o meio ambiente para atender a interesses corporativos”, resumindo o tom que tem sido adotado pelos parlamentares defensores da proposta.

“O radicalismo não está nos ambientalistas ou povos indígenas e quilombolas. Está com as bancadas da FPA, da infraestrutura, que, no relatório, colocaram as suas posições, inclusive de questões que sequer apareceram nas audiências públicas sobre o projeto. Ou arrumamos um espaço onde possamos aprofundar [o debate] e fazer esses setores saírem do seu radicalismo de ganhar e produzir riqueza a qualquer custo ou não vamos a lugar nenhum”, contrapôs o presidente da Frente Parlamentar Ambientalista, deputado Nilto Tatto (PT-SP), acrescentando que a mesa de negociação precisa “considerar os ganhos da legislação ambiental e social” vigente.

Tatto e os deputados Rodrigo Agostinho (PSB-SP) e Talíria Petrone (PSOL-RJ) apresentaram, após debate com a sociedade civil, um relatório alternativo. O texto propõe, entre outras coisas, a definição dos empreendimentos que precisem passar por licenciamento, a exclusão do trecho do relatório de Kitaguari que libera o agronegócio do processo e a ampliação da participação de órgãos como a Fundação Cultural Palmares e a Funai nos trâmites do licenciamento.

Edição: Rodrigo Chagas

‘PAÍS ESTÁ SENDO DESTROÇADO POR UM GOVERNO DE TRAIDORES’, DIZ LULA EM CARTA

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'PAÍS ESTÁ SENDO DESTROÇADO POR UM GOVERNO DE TRAIDORES', DIZ LULA EM CARTA

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em carta publicada no site do petista hoje, que “o país está sendo destroçado por um governo de traidores”.

Afonso Ferreira Do UOL, em São Paulo –  No texto, o ex-presidente, que está preso em Curitiba, faz duras críticas às privatizações e à política ambiental do governo de Jair Bolsonaro (PSL).

“Já provamos, ao longo da história, que é possível enfrentar o atraso, a pobreza e a desigualdade, com soberania e no rumo da justiça social. Mas hoje o país está sendo destroçado por um governo de traidores. Estão entregando criminosamente as empresas, os bancos públicos, o petróleo, os minerais e o patrimônio que não lhes pertence, mas ao povo brasileiro”, disse Lula na carta.

O petista declarou que empresas consideradas patrimônios nacionais estão sendo vendidas a grupos estrangeiros. Ele citou a Petrobras, que tem vendido uma série de ativos e subsidiárias para reduzir seu endividamento. Em agosto, a petroleira deixou de ser a controladora da BR Distribuidora e já tem planos de privatizar a Liquigás.

“A Petrobras está sendo vendida aos pedaços a suas concorrentes estrangeiras. Já entregaram dois gasodutos estratégicos, a distribuidora e agora querem as refinarias, para reduzi-la a mera produtora de petróleo bruto e depois vender o que restou”, afirmou. “Reduzem a produção de combustíveis aqui para importar em dólar dos Estados Unidos. E por isso disparam os preços dos combustíveis e do gás para o povo”.

Lula criticou a Rede Globo e disse que a emissora de TV retrata a Petrobras como um problema nos noticiários. “Se a Petrobras fosse um problema para o Brasil, como a Rede Globo diz todo dia, por que tanta cobiça pela nossa maior empresa e pelo pré-sal, que os traidores também estão entregando?”, declarou.

“Os trabalhadores e os mais pobres são os que mais sofrem com essa traição. Cada pedaço do país e das empresas públicas que vendem, a qualquer preço, são milhões de empregos e oportunidades roubadas dos brasileiros”, afirmou o ex-presidente.

“O que foi construído com esforço de gerações está ameaçado de desaparecer ou ser privatizado em prejuízo do país, como fizeram com a Telebrás, a Vale, a CSN, a Usiminas, a Rede Ferroviária, a Embraer. E sempre a pretexto de reduzir a presença estado, como se o estado fosse um problema quando, na realidade, ele é imprescindível para o país e o povo”, disse Lula.

Na carta, Lula afirmou, ainda, que essa “farra” das privatizações não vai durar para sempre e que os brasileiros encontrarão um meio de recuperar o que lhes pertence.

“Fiquem alertas os que estão se aproveitando dessa farra de entreguismo e privatização predatória, porque não vai durar para sempre. O povo brasileiro há de encontrar os meios de recuperar aquilo que lhe pertence. E saberá cobrar os crimes dos que estão traindo, entregando e destruindo o país”, declarou.

Amazônia sob ameaça

O ex-presidente também criticou a postura de Bolsonaro em relação à exploração da Floresta Amazônica. De acordo com a carta, a Amazônia está sob ameaça porque o governo incentiva o desmatamento.

“Até Amazônia está ameaçada por um governo que não sabe e não quer defendê-la; que incentiva o desmatamento, não protege a biodiversidade nem a população que depende da floresta viva”, escreveu.

Para Lula, a exploração de terras na Amazônia pelo agronegócio e outras atividades não traz benefício para os brasileiros. “O mercado não vai proteger um dos maiores territórios do mundo, o subsolo e a plataforma continental; a Amazônia, o Cerrado, o Pantanal. Não vai oferecer acesso universal à educação, saúde, seguridade social, segurança pública, cultura. O mercado não vai construir um país para todos”, afirmou.

Críticas à política externa

O ex-presidente fez críticas à política externa do governo Bolsonaro e citou a indicação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, ao cargo de embaixador do Brasil nos Estados Unidos.

“Bolsonaro entregou nossa política externa aos Estados Unidos. Deu a eles, a troco de nada, a Base de Alcântara, uma posição privilegiada em que poderíamos desenvolver um projeto aeroespacial brasileiro. Rebaixou a diplomacia a um assunto de família e de conselheiros que dizem que a terra é plana”, declarou.

Lula também criticou a aproximação do governo Bolsonaro com o do presidente norte-americano, Donald Trump.

“[Bolsonaro] Trocou nossas conquistas na OMC [Organização Mundial do Comércio] pela ilusão da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico], o clube dos ricos que o desprezam. Anunciou um acordo com a União Europeia, sem pesar vantagens e prejuízos, e agora brinca de guerra com os europeus para fazer o jogo de Trump”, disse.

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LULA CHAMA NOVA DENÚNCIA DE “DESCABIDA” E ASSOCIA A VAZAMENTO DA LAVA JATO

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LULA CHAMA NOVA DENÚNCIA DE
O ex-presidente Lula – Imagem: Miguel Schincariol – 7.abr.2018/AFP

Do UOL, em São Paulo – A defesa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que a nova denúncia da Lava Jato, que investiga uma suposta mesada da Odebrecht para Frei Chico, irmão do ex-presidente, é “descabida” e a relacionou com a divulgação mais recente de diálogos privados entre integrantes da Operação Lava Jato recebidos pelo The Intercept Brasil.

“Lula jamais ofereceu ao Grupo Odebrecht qualquer ‘pacote de vantagens indevidas’, tanto é que a denúncia não descreve e muito menos comprova qualquer ato ilegal praticado pelo ex-presidente”, analisa a defesa em nota.

“Mais uma vez o Ministério Público recorreu ao subterfúgio do ‘ato indeterminado’, numa espécie de curinga usado para multiplicar acusações descabidas contra Lula”, completa. “O ex-presidente também jamais pediu qualquer vantagem indevida para si ou para qualquer de seus familiares. A denúncia sai no dia seguinte de graves revelações pelo jornal Folha de S. Paulo de atuação ilegal da Lava Jato contra Lula, mostrando a ocultação de provas de inocência e ação indevida e ilegal voltada a romper a democracia no país.”

A Lava Jato denunciou hoje Lula e seu irmão, Frei Chico, por corrupção passiva continuada. Os donos da Odebrecht, Emilio e Marcelo Odebrecht, e o ex-diretor da empresa, Alexandrino de Salles Ramos Alencar, foram denunciados por corrupção ativa continuada. Leia a íntegra da denúncia.

A peça foi apresentada à 7ª Vara Federal Criminal de São Paulo, a quem caberá tornar ou não réus os cinco denunciados.

Segundo o MPF, Lula, “de modo consciente e voluntário, solicitou e/ ou – no mínimo conscientemente – recebeu, para e por seu irmão, entre 2003 e 2015, vantagens financeiras indevidas, em razão do cargo de Presidente da República que exerceu entre 2003 e 2010, entregues de forma contínua, parcelada e em espécie, no montante total aproximado de R$ 1.131.333,12 (um milhão, cento e trinta e um mil, trezentos e trinta e três reais e doze centavos) em valores atuais”.

Em fevereiro de 2018, em depoimento à Polícia Federal, Lula negou envolvimento em qualquer irregularidade sobre a suposta “mesada” paga pela empreiteira Odebrecht a seu irmão.

Em nota, a Odebrecht afirmou que está “comprometida com uma atuação ética, íntegra e transparente, tem colaborado com as autoridades de forma permanente e eficaz, em busca do pleno esclarecimento de fatos do passado”.

Irmão mais velho de Lula e ex-militante do Partido Comunista, Frei Chico foi o responsável por despertar o interesse do ex-presidente pela política e iniciar o petista no mundo sindical.

 

NOTA DA DEFESA DE LULA SOBRE CONLUIO DE MORO E PROCURADORES NOS GRAMPOS ILEGAIS

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NOTA DA DEFESA DE LULA SOBRE CONLUIO DE MORO E PROCURADORES NOS GRAMPOS ILEGAIS

Reportagem publicada hoje (08/09) pela Folha de S. Paulo em parceria com o “The Intercept” (“Diálogos de Lula que a Lava Jato não expôs contrariam Moro”) auxilia a reconstrução da verdade histórica e expõe as grosseiras ilegalidades praticadas pelo ex-juiz Sergio Moro e pelos procuradores da Lava Jato contra o ex-presidente Lula, contra os seus advogados, e também contra o Supremo Tribunal Federal, pois, dentre outras coisas:

1 – mostra que o ex-juiz Sergio Moro, os procuradores e o delegado da Lava Jato de Curitiba selecionaram conversas telefônicas mantidas por Lula, escondendo dos autos e do Supremo Tribunal Federal aquelas que mostravam a verdade dos fatos, ou seja, aquelas que deixavam claro que o ex-presidente aceitou o cargo de Ministro de Estado para ajudar o governo e o país e não para qualquer outra finalidade ligada às investigações da Lava Jato;

2 – mostra que os procuradores da Lava Jato tinham plena consciência da ilegalidade que estavam praticando ao postularem pela divulgação das conversas telefônicas grampeadas, inclusive aquelas captadas após a decisão judicial que determinou o encerramento das interceptações, mas mesmo assim decidiram levar adiante essa iniciativa, juntamente com o ex-juiz Sergio Moro, para alcançar resultados políticos e estranhos ao processo;

3 – mostra que além do grampo ilegal instalado no principal ramal do nosso escritório por autorizaçã do ex-juiz Sergio Moro para acompanhar a estratégia de defesa de Lula, a Lava Jato também ouvia as conversas telefônicas que mantivemos com o ex-presidente a partir de ligações por ele realizadas para outros telefones; vale dizer: a Lava Jato grampeou deliberadamente conversas entre advogados e Lula por mais diversos meios e usou dessas conversas para reforçar o “lawfare” contra o ex-presidente;

4 – a conversa mantida entre o advogado Cristiano Zanin Martins e o ex-Presidente Lula em 16/03/2016, gravada e ouvida ilicitamente pela Lava Jato, reforça que o ex-presidente Lula sequer tinha o objetivo de aceitar o cargo de Ministro de Estado e muito menos o de impedir qualquer investigação da Lava Jato.

A adoção de práticas ilegais e incompatíveis com o devido processo legal e com o “fair trial” pelos membros da Lava Jato contra Lula e contra nós, seus advogados, há muito tempo vem sendo demonstrada em diversos recursos e procedimentos jurídicos.  Os membros da Lava Jato sistematicamente esconderam provas de inocência e estruturaram condenações pré-estabelecidas e medidas invasivas contra Lula e seus familiares com base em delações e outros elementos sem qualquer valor probatório, afrontando as garantias fundamentais do ex-presidente, a legislação internacional incorporada pelo Brasil (Estatuto de Roma, art. 54, 1, “a”), além de diretrizes das Nações Unidas sobre a atuação de membros do Ministério Público (“Guidelines on the Role of Prossecutors”, arts. 13 e 14).

Os habeas corpus que aguardam julgamento no Supremo Tribunal Federal tratando da suspeição do ex-juiz Sérgio Moro e dos procuradores da Lava Jato são de grande importância para restabelecer o Estado de Direito e para dar a Lula a possibilidade de um julgamento justo e por isso devem ser julgados com urgência — embora sejam irreparáveis os prejuízos causados por tais agentes públicos não apenas ao ex-presidente, mas à própria democracia do país.

Cristiano Zanin Martins/ Valeska T. Zanin Martins

LAVA JATO | CONVERSAS DE LULA MANTIDAS SOB SIGILO PELA LAVA JATO ENFRAQUECEM TESE DE MORO

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LAVA JATO | CONVERSAS DE LULA MANTIDAS SOB SIGILO PELA LAVA JATO ENFRAQUECEM TESE DE MORO

PF gravou 22 telefonemas do ex-presidente após ordem para interromper escuta que revelou diálogo com Dilma em 2016

Ricardo Balthazar e Felipe Bächtold, da Folha | Bruna de Lara, Paula Bianchi e Leandro Demori, de The Intercept Brasil –  Conversas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) gravadas pela Polícia Federal em 2016 e mantidas em sigilo desde então enfraquecem a tese usada pelo hoje ministro Sergio Moro para justificar a decisão mais controversa que ele tomou como juiz à frente da Lava Jato.

Em 16 de março de 2016, cinco horas depois de mandar interromper a escuta telefônica que autorizara no início do cerco da operação ao líder petista, Moro tornou público um diálogo em que a então presidente Dilma Rousseff tratou com Lula de sua posse como ministro da Casa Civil.

A divulgação do áudio de 1min35s incendiou o país e levou o Supremo Tribunal Federal a anular a posse de Lula, às vésperas da abertura do processo de impeachment e da deposição de Dilma. Para a Lava Jato, o telefonema mostrava que a nomeação de Lula como ministro tinha como objetivo travar as investigações sobre ele, transferindo seu caso de Curitiba para o STF.

Mas registros inéditos obtidos pela Folha e analisados em conjunto com o site The Intercept Brasil indicam que outras ligações interceptadas pela polícia naquele dia, mantidas em sigilo pelos investigadores, punham em xeque a hipótese adotada na época por Moro, que deixou a magistratura para assumir o Ministério da Justiça no governo Jair Bolsonaro (PSL).

A reportagem teve acesso a anotações dos agentes que monitoraram Lula, com resumos de 22 conversas grampeadas após a interrupção da escuta em março de 2016. Elas foram gravadas porque as operadoras de telefonia demoraram a cumprir a ordem de Moro e o sistema usado pela PF continuou captando as ligações.

Os diálogos, que incluem conversas de Lula com políticos, sindicalistas e o então vice-presidente Michel Temer (MDB), revelam que o petista disse a diferentes interlocutores naquele dia que relutou em aceitar o convite de Dilma para ser ministro e só o aceitou após sofrer pressões de aliados.

O ex-presidente só mencionou as investigações em curso uma vez, para orientar um dos seus advogados a dizer aos jornalistas que o procurassem que o único efeito da nomeação seria mudar seu caso de jurisdição, graças à garantia de foro especial para ministros no Supremo.

As anotações mostram que Lula estava empenhado em buscar uma reaproximação com Temer e o MDB e indicam que seus acenos eram bem recebidos pelo vice-presidente, na época visto como fiador da transição para o novo governo que seria formado se Dilma fosse afastada do cargo.

A PF escutou duas conversas de Lula e Temer. Na primeira, eles marcaram uma reunião para o dia seguinte, e Lula disse a Temer que a rejeição enfrentada pelos políticos numa recente manifestação pró-impeachment mostrava que o avanço da Lava Jato criara riscos para todos os partidos, não só o PT.

Na segunda ligação, após discutir a situação de um aliado do vice-presidente no governo, o petista prometeu ser um parceiro e disse que eles deveriam atuar como “irmãos de fé”. Segundo as anotações dos agentes da PF, Temer respondeu a Lula dizendo que “sempre teve bom relacionamento” com ele.

Embora os registros mostrem que os policiais prestaram atenção a todas as conversas do ex-presidente, o telefonema de Dilma foi o único que a PF anexou aos autos da investigação sobre Lula nesse dia antes que Moro determinasse o levantamento do sigilo do processo.

Mensagens que integrantes da Lava Jato trocaram no aplicativo Telegram, obtidas pelo Intercept e analisadas em conjunto com a Folha, mostram que um dos policiais na escuta alertou os investigadores para o telefonema de Dilma assim que ouviu a ligação e foi instruído a produzir um relatório.

Não foi o que ocorreu com as outras conversas. O mesmo agente usou o Telegram para avisar que Lula também falara com Temer e fez um resumo do primeiro diálogo entre eles, com duas horas de atraso. Nenhum dos investigadores que participava do grupo reagiu à informação no Telegram.

O material examinado pela Folha e pelo Intercept mostra que o grampo permitiu que a Lava Jato soubesse do convite de Dilma a Lula com uma semana de antecedência e usasse o tempo para preparar junto com Moro o levantamento do sigilo da investigação e das escutas telefônicas.

No dia 9 de março, quando havia apenas especulações sobre o assunto na imprensa, o agente Rodrigo Prado ouviu Lula confirmar que recebera o convite, numa conversa com o ex-ministro Gilberto Carvalho. O policial alertou os outros investigadores no Telegram dez minutos depois.

O áudio anexado aos autos pela PF mais tarde sugere que Lula ainda tinha dúvidas sobre a ideia e temia que sua ida para o governo fosse associada a uma tentativa de escapar da Lava Jato. Para os investigadores, porém, não havia dúvida de que o objetivo dos petistas era exatamente esse.

Desde o início da escuta telefônica, em 19 de fevereiro, várias conversas interceptadas haviam mostrado que Lula e seus aliados estavam preocupados com o avanço das investigações, temiam que ele fosse preso e buscavam apoio de autoridades do governo e ministros de tribunais superiores.

A força-tarefa à frente do caso em Curitiba acompanhou de perto a interceptação. No dia em que soube do convite de Dilma, o procurador Deltan Dallagnol, coordenador do grupo, pediu um CD com todos os áudios. “Estou sem nada pra ouvir no carro”, disse no Telegram, em tom de brincadeira.

Para os investigadores, havia uma oportunidade para levantar o sigilo da investigação, revelando o conteúdo das conversas de Lula, antes que sua nomeação como ministro obrigasse Moro a encaminhar o caso a Brasília e a força-tarefa de Curitiba perdesse o controle sobre a investigação.

As mensagens obtidas pelo Intercept mostram que o assunto foi discutido com o juiz, que pediu relatórios com transcrições dos diálogos considerados mais relevantes. Em 15 de março, na véspera da nomeação de Lula, a polícia anexou aos autos da investigação três relatórios e 44 arquivos de áudio.

Lula aceitou o convite de Dilma na manhã do dia 16. Enquanto os dois conversavam no Palácio da Alvorada, procuradores se reuniram com Moro em Curitiba para discutir o levantamento do sigilo, e Deltan, que estava em Brasília, foi à Procuradoria-Geral da República obter aval para a iniciativa.

Moro mandou interromper a escuta telefônica às 11h12, depois que a imprensa confirmou a nomeação de Lula. Num despacho sucinto, o juiz disse que o grampo se tornara desnecessário após as buscas realizadas duas semanas antes, quando Lula fora levado à força pela PF para depor em São Paulo.

A demora das operadoras de telefonia para executar a ordem de Moro em 16 de março permitiu que os investigadores continuassem escutando as conversas de Lula por cinco horas. Com o sistema usado pela PF, as ligações são desviadas automaticamente para os computadores da polícia pelas operadoras.

A primeira pessoa com quem o ex-presidente falou após o encontro com Dilma foi sua assessora Clara Ant, segundo as anotações feitas pelos agentes na escuta. Lula confirmou sua nomeação como ministro, mas indicou que estava desconfortável com a situação.

“Diz que acabou de se foder. LILS diz que ficaram discutindo até meia-noite. LILS tem mais incerteza do que certeza. LILS diz que não tem como escapar ‘dela'”, resumiu o agente que estava na escuta, identificando Lula sempre pelas iniciais de seu nome completo.

Os registros obtidos pela Folha mostram que o ex-presidente manifestou o mesmo incômodo ao falar com seu advogado Cristiano Zanin Martins, o ex-ministro Franklin Martins, o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, e dois jornalistas de sua confiança.

O tom foi outro nas conversas com políticos. As anotações da PF indicam que Lula expressou a todos entusiasmo com sua ida para o governo, apostando em sua capacidade de recompor a base de apoio a Dilma no Congresso e promover mudanças na política econômica.

Ao deputado José Guimarães (PT-CE), então líder do governo na Câmara, avisou que estava disposto a conversar até com Eduardo Cunha (MDB-RJ), que rompera com Dilma após assumir a presidência da Casa e liderava as articulações para acelerar o processo de impeachment.

Lula iniciou a conversa com Temer dizendo que queria mudar sua relação com o Palácio do Planalto, do qual o vice se afastara após desentendimentos com Dilma. O tom foi amistoso. “[Lula] Pede para preparar o uísque e o gelo”, anotou o agente da PF, depois que eles combinaram o encontro no dia seguinte.

O líder petista compartilhou com Temer sua preocupação com as manifestações pró-impeachment que tinham ocorrido pouco antes, no domingo, 13 de março. Uma multidão fora às ruas em São Paulo para demonstrar sua insatisfação com os políticos e seu apoio a Moro e à Lava Jato.

“Ninguém ganhou com a manifestação de domingo”, disse Lula a Temer, segundo os registros da PF. “Quem ganhou foi o combate à corrupção expressado na figura do MORO. Diz que esse combate à corrupção foi sempre um alimento para golpistas no mundo inteiro.”

“Quem ganhou foi a negação da política”, acrescentou o ex-presidente. “A classe política tem que se unir para recuperar o seu espaço.”

Minutos depois, Temer telefonou a Lula para falar do deputado Mauro Lopes (MDB-MG), que Dilma nomeara ministro da Aviação Civil. O vice temia que a indicação fosse vista como afronta pelo partido, que ainda não desembarcara do governo, mas vetara a ocupação de novos cargos no primeiro escalão por seus filiados.

Lula prometeu tratar do assunto com Dilma. “LILS quer ser o parceiro de TEMER para reconstruir a relação com PMDB. LILS quer ser irmãos de fé”, anotou o agente na escuta, de acordo com os registros obtidos pela Folha. “TEMER diz que sempre teve bom relacionamento com LILS.”

Dilma telefonou às 13h32. Avisou Lula que mandara um assessor lhe entregar o termo de posse para que tivesse o documento em mãos “em caso de necessidade”. O ex-presidente assentiu e os dois desligaram. Lula acertara com Dilma que só tomaria posse na semana seguinte, no dia 22.

As mensagens obtidas pelo Intercept mostram que o impacto dessa conversa foi imediato entre os investigadores, ao contrário dos outros telefonemas. “Estao preocupados se vamos tentar prende-lo antes de publicarem no DOU a nomeacao do Lils”, escreveu Prado no Telegram.

O procurador Athayde Ribeiro da Costa concordou com a interpretação: “já é calro. mais isso demonstra ainda mais o desvio de finalidade da nomeação”. As mensagens foram reproduzidas com a grafia encontrada nos arquivos recebidos pelo Intercept, incluindo erros de português e abreviaturas.

A PF anexou aos autos o áudio com a conversa de Dilma e Lula e o relatório com sua transcrição às 15h37. O Ministério Público já se manifestara a favor da retirada do sigilo da investigação, antes mesmo de tomar conhecimento do diálogo. Moro ainda não tinha tomado uma decisão.

Registros no sistema eletrônico de acompanhamento dos processos da Justiça Federal mostram que o juiz examinou com atenção os áudios anexados pela PF. Ele determinou a exclusão dos arquivos de duas conversas com advogados de Lula, argumentando que envolviam sigilo profissional.

Moro decidiu levantar o sigilo dos autos às 16h19. A GloboNews noticiou a decisão às 18h32 e revelou que Dilma fora grampeada. Uma cópia da transcrição do diálogo que a presidente tivera com Lula naquela tarde foi lida ao vivo.

Depois que a notícia entrou no ar, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima foi o primeiro a avisar os colegas, num grupo que reunia vários procuradores de Curitiba no Telegram. “Ótimo dia rs”, escreveu Deltan. “[M]Eu Deus!!!”, disse Orlando Martello. “O mundo caiu”, afirmou Athayde.

Em Brasília, manifestantes se aglomeraram na frente do Palácio do Planalto para protestar contra o governo. No plenário da Câmara, deputados da oposição pediram a renúncia de Dilma e chamaram Lula de ladrão, aos gritos, antes que a sessão fosse encerrada em meio a tumulto.

O procurador Eduardo Pelella, chefe de gabinete do então procurador-geral Rodrigo Janot, chamou Deltan para entender o que acontecera. Ele dera seu aval ao levantamento do sigilo da investigação pela manhã, mas não fora avisado de que a Lava Jato tinha grampeado a presidente da República.

“Parece que foi hoje cedo”, disse Deltan, que passara o dia em reuniões em Brasília, mas em contato com os colegas de Curitiba pelo Telegram. “Tudo que sabemos é o que está nos relatórios que te entreguei”, acrescentou, referindo-se as transcrições feitas pela PF antes da conversa de Dilma.

As mensagens obtidas pelo Intercept indicam que no fim da noite os procuradores se deram conta de que havia dúvidas sobre a legalidade das decisões de Moro naquele dia. Eles começaram a debatê-las no Telegram enquanto acompanhavam o desenrolar de manifestações contra o PT em São Paulo e outras cidades.

Dilma e os advogados de Lula questionaram as decisões do juiz, argumentando que sua conversa não poderia ter sido grampeada se Moro já tinha determinado o fim da escuta, nem os autos poderiam ter sido divulgados sem que o STF tivesse sido alertado para as citações a ela e a outras autoridades com foro especial.

“Estou preocupado com moro! Com a fundamentação da decisão”, disse o procurador Orlando Martello no Telegram. “Vai sobrar representação para ele.”

“Vai sim”, respondeu Carlos Fernando. “E contra nós. Sabíamos disso.” Para Laura Tessler, o apoio da opinião pública garantiria proteção à Lava Jato: “a população está do nosso lado…qualquer tentativa de intimidação irá se voltar contra eles”. Carlos Fernando recomendou: “Coragem… Rsrsrs”.

Após compartilhar com o grupo vídeos de uma manifestação que estava ocorrendo na Avenida Paulista, em São Paulo, Martello sugeriu que todos os integrantes da operação renunciassem aos cargos se algo acontecesse com Moro. Laura sugeriu que a melhor resposta seria mover uma ação contra Lula e pedir sua prisão.

Para Andrey Borges de Mendonça, seria difícil defender a divulgação da conversa de Dilma por causa do horário em que ocorrera, mas a maioria discordou. “O moro recebeu relatório complementar e o incorporou”, disse Carlos Fernando. “Nesta altura, filigranas não vão convencer ninguém.”

Deltan entrou tarde na discussão e se alinhou com Carlos Fernando. “Andrey No mundo jurídico concordo com Vc, é relevante”, disse. “Mas a questão jurídica é filigrana dentro do contexto maior que é político.”

Mendonça disse concordar com o chefe da força-tarefa, mas insistiu. “Isso tera q ser enfrentado muito em breve no mundo juridico”, escreveu. “O estrago porem esta feito. E mto bem feito”. Era tarde, e os outros integrantes do grupo não se manifestaram mais sobre o assunto.

Moro não fez nenhuma menção à conversa de Dilma e Lula na decisão que levantou o sigilo dos autos. No dia seguinte, em novo despacho, afirmou que não tinha prestado atenção no diálogo anexado aos autos. “Não havia reparado antes no ponto, mas não vejo maior relevância”, escreveu.

A resposta chegou cinco dias depois, em despacho do ministro Teori Zavascki, relator dos casos da Lava Jato no STF. Ele suspendeu as decisões de Moro e mandou que enviasse os autos da investigação sobre Lula a Brasília, observando que o sigilo fora levantado “sem nenhuma das cautelas exigidas em lei”.

Ao explicar sua conduta uma semana mais tarde, Moro disse a Teori que não tivera intenção de provocar “polêmicas e constrangimentos desnecessários” e pediu “respeitosas escusas”, mas não reconheceu nenhum erro na condução do processo. 

Junto com os autos, Moro enviou a Teori um CD com todos os diálogos interceptados pela polícia, afirmando que mantivera em sigilo apenas conversas pessoais, com advogados ou que “simplesmente não têm conteúdo jurídico-criminal relevante”.

Finalmente, em junho, Teori anulou as decisões de Moro e o repreendeu, afirmando que ele usurpara as atribuições do Supremo ao tratar a conversa de Dilma e Lula como válida, divulgar diálogos dela e de outras autoridades com foro na corte e fazer juízo de valor sobre sua conduta sem ter competência legal para tanto.

Mas os efeitos das decisões de Moro eram irreversíveis. Com base nas conversas divulgadas pelo juiz, o ministro Gilmar Mendes, do STF, anulou a posse de Lula dois dias depois, em 18 de março. Com o aprofundamento da crise política, a Câmara aprovou a abertura do processo de impeachment em abril e afastou Dilma do cargo.

OUTRO LADO

O ministro da Justiça, Sergio Moro, disse que não soube dos telefonemas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que a Polícia Federal grampeou e manteve sob sigilo em 2016, quando era o juiz à frente das ações da Lava Jato em Curitiba.

“O atual ministro teve conhecimento, à época, apenas dos diálogos selecionados pela autoridade policial e enviados à Justiça”, afirmou o Ministério da Justiça, por meio de nota.

“Cabe à autoridade policial fazer a seleção dos diálogos relevantes do ponto de vista criminal e probatório”, afirmou. “Diálogos que não envolvam ilícitos não são usualmente selecionados.”

Embora as mensagens obtidas pelo Intercept indiquem sua presença em reuniões com integrantes da Lava Jato para tratar das escutas, Moro disse não saber se os procuradores também participaram da seleção dos áudios divulgados.

“Se o Ministério Público Federal também participou da seleção, o ministro da Justiça desconhece, mas, se ocorreu, isso seria igualmente lícito”, afirmou.

Moro disse que suas razões para tornar públicos os telefonemas de Lula estão expostas em suas decisões como juiz, e acrescentou que todo o material foi enviado depois ao Supremo Tribunal Federal.

O ministro reafirmou que não reconhece a autenticidade das mensagens recebidas pelo Intercept, cujo vazamento é objeto de uma investigação conduzida pela Polícia Federal.

Em nota, a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba disse que cabe à polícia selecionar as interceptações relevantes para as investigações e que “não houve seleção de áudios pelas autoridades quando do levantamento do sigilo” do caso de Lula.

“Havendo áudio ou qualquer outra prova de conduta ilícita por parte de pessoas com prerrogativa de foro, a Procuradoria-Geral da República ou outra autoridade competente é comunicada, sem exceção”, afirmou.

“Não havendo indícios de crimes, os áudios são posteriormente descartados, conforme previsto na legislação, com a participação da defesa dos investigados”, acrescentou. “Neste contexto pode ter havido a captação fortuita de diálogos de eventuais outras pessoas não investigadas.”

“As conversas que não revelaram, na análise da polícia, interesse para a investigação, permaneceram disponíveis para a defesa, que tem o direito de informá-las nos autos e utilizá-las”, observou.

A força-tarefa acrescentou que seu coordenador, o procurador Deltan Dallagnol, “não conseguiu acompanhar diretamente os acontecimentos daquela tarde” porque passou o dia em Brasília, com muitos compromissos.

A Polícia Federal não quis fazer comentários sobre a seleção dos áudios que anexou aos autos da investigação em 2016.

Em nota na época, a PF observou apenas que a interrupção de interceptações telefônicas depende do cumprimento da ordem judicial pelas operadoras de telefonia, e que todas as ligações gravadas foram encaminhadas à Justiça para que definisse seu destino, não só as que foram anexadas aos autos.

A polícia afirmou que as investigações sobre o vazamento das mensagens da Lava Jato ainda não foram concluídas. “A Polícia Federal analisa as circunstâncias da obtenção de dados, referentes a trocas de mensagens privadas, por terceiros”, disse. “O teor de tais mensagens não é objeto da investigação.”

O procurador Eduardo Pelella, que era chefe de gabinete do procurador-geral Rodrigo Janot, disse que “tomou conhecimento dos fatos a partir do que foi informado pelos colegas de primeiro grau”, e que Janot “aconselhou que fosse seguido o padrão de atuação da força-tarefa em casos semelhantes”.

Informado das anotações da PF sobre suas conversas com Lula em 16 de março de 2016, o ex-presidente Michel Temer disse que reconhece os diálogos, e que nunca soube que tinha sido grampeado naquele dia.

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HELIÓPOLIS SE TORNA REFERÊNCIA NACIONAL EM EFERVESCÊNCIA CULTURAL

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HELIÓPOLIS SE TORNA REFERÊNCIA NACIONAL EM EFERVESCÊNCIA CULTURAL
FOTO: DAVID KENNEDY

Eduardo Nunomura Editor de Cultura de CartaCapital – A populosa comunidade da Zona Sul de São Paulo revela uma vocação artística que fura o bloqueio da indústria cultural.

Era um terreno que virou gleba, que abriu espaço para a prefeitura criar alojamentos provisórios para moradores de outras favelas, que acabou por atrair levas de retirantes, que se tornou moradia para mais de 100 mil habitantes, que cresceu tanto que hoje é um bairro de nome grandioso: Cidade Nova Heliópolis. Localizado na Zona Sul de São Paulo, Heliópolis não virou tema de novela da Rede Globo, como aconteceu com a sua irmã Paraisópolis, em 2015, mas conseguiu um feito maior. Ela é uma das comunidades de maior efervescência cultural do País, referência para tantas outras periferias e ponta de lança para ousados projetos artísticos.

Em que outro lugar se pode imaginar a presença de uma emissora de rádio e uma biblioteca comunitária com mais de 12 mil livros (ambas iniciativas da Organização Não Governamental Unas, criada em 1978), uma orquestra sinfônica (do Instituto Baccarelli, criado em 1996 pelo maestro Silvio Baccarelli após um incêndio na favela e hoje espaço para a educação musical de mil crianças e jovens), uma companhia de teatro e, mais recentemente, um projeto com 41 painéis grafitados e uma Editora Gráfica para dar voz a escritores periféricos? Heliópolis tem tudo isso.


Foto: David Kennedy

Há três semanas, foi exibido no bairro o documentário “Uma Virada de Cores”, que retrata como foi o projeto de grafitar 41 painéis nos muros das casas dos moradores, envolvendo mais de 500 jovens em oficinas realizadas por 17 artistas brasileiros e os colombianos Johan Andres (cujo codinome é Kano Delix), Johan Alberto (Sony) e Robert Sled (Fuan Nexio). O projeto é uma iniciativa da Associação de Intercâmbio Sociocultural e Empresarial Brasil-Colômbia em parceria com a produtora carioca Burburinho Cultural. O objetivo era reproduzir no Brasil uma iniciativa exitosa que ocorreu na Comuna 13, em Medellín. Esse distrito ficou famoso mundialmente porque a arte falou mais alto que a disputa entre paramilitares e guerrilheiros. A partir de ações de “acupuntura urbana”, como remodelar parques e praças, restaurar quadras esportivas, inaugurar bibliotecas e criar um sistema decente de transporte, no caso um teleférico, os moradores decidiram fazer a sua parte. Cederam as paredes de suas casas para que grafiteiros contassem a história da comuna. Jovens passaram a ter orgulho do lugar em que viviam.

“Desde o início, Heliópolis nos pareceu um terreno fértil para implementar esse projeto”, relata Thiago Ramires, da Burburinho Cultural. Por já ter um histórico de ações culturais e socioeducativas, Ramires sabia que o hoje bairro abraçaria esse projeto. A dificuldade seria manter os jovens envolvidos em uma vivência de cinco dias. “Foi desafiador trazer esse aluno para se concentrar em uma oficina de grafite, de desenho, sem computador, games ou redes sociais, mas só com régua, papel, tesoura, tinta e spray. Havia uma vontade e um prazer desses jovens em se comunicarem por meio de expressões menos tecnológicas.”


Foto: Vini Soares

A dinâmica do projeto foi sempre negociar com a comunidade. Eles davam ideias e o arte-educador com sua turma definiam o layout, pintavam e geravam uma imagem. Alguns moradores torceram o nariz; alguns, por razões religiosas, discordavam do desenho produzido nos muros de suas casas. Houve situações em que foi necessário repintar. “Isso tem a ver com a natureza do grafite, que é um pouco marginal, de intervir em um lugar e pintar sem necessariamente ser o que todo mundo quer ver”, diz Ramires.

Para o grafiteiro Eduardo Credo, 34 anos, que produz arte desde 2000, é necessário pintar “em todos os lugares”, mas foi instigante participar do projeto no “Helipa”. Nascido em Cidade Tiradentes, na periferia, e hoje morando em Santa Cecília, na região central, Credo percebeu que o grafite poderia colorir também vidas. “Todos os jovens fizeram trabalhos melhores do que o esperado, mas tinha uma menina que me surpreendeu. Era a mais calada e tímida, teve problemas de depressão, mas ela ‘desembaça’ muito bem e, quando fomos pro muro, se destacou muito, pintando com facilidade.”

Outro documentário, Vela na Billings por Navegando nas Artes, em exibição no Cine-BrasilTV (por streaming e nas tevês a cabo), revela como jovens do bairro do Grajaú, no extremo sul paulistano, estão sendo incluídos por meio da prática esportiva e da grafitagem que fazem em barcos a vela na Represa Billings. A diretora Caru Alves de Souza assina sete produções da série Causando na Rua, com direção-geral da cineasta Tata Amaral. A segunda temporada revela como a cultura brota em comunidades e entre jovens periféricos do País, seja nas batalhas de mestres de cerimônia no bairro recifense da Água Fria (Batalhas de MCs), nas colagens-protesto de lambe-lambe do coletivo feminista Deixa Ela em Paz (Mulheres na Rua), seja no retrato do Exorcity (Humildade sem Falsidade), um tradicional grupo de pichadores de São Paulo, e dos rappers Xemalami (Xadrez sem Muros), que mostram como os jovens pobres precisam lutar contra as formas de opressão.


Cena do documentário Vela na Billings por Navegando nas Artes | Foto: Cadu Silva

Produções como estas só revelam que há mais arte circulando no Brasil do que aparece na imprensa. A indústria cultural não dá muitas brechas para locais como Água Fria, Grajaú, Itaim Paulista ou Heliópolis. Mas a lição que se aprende no contato com esses moradores é que outra história já está acontecendo.

“Meus Jabutis são eles ali”, apontava PC Marciano para um grupo de seis escritores estreantes em Heliópolis. Em 29 de junho, Marcela Trava, Moniara Barbosa, Guto Souza, Hitátila Quele Silva de Souza, Shirlei Moura e Júlia Bueno lançavam seus livros pela Editora Gráfica Heliópolis. Em comum, todos são autores LGBTs, que vendiam e autografavam suas obras numa escola CEU do bairro. “Não quero concorrer com ninguém, nem quero ganhar o Prêmio Jabuti. Criamos uma editora para fazer um movimento literário em Heliópolis”, diz o autor da iniciativa.


PC Marciano ergueu pelo próprio esforço a Editora Gráfica Heliópolis. | Foto: Divulgação

PC Marciano já foi office-boy, metalúrgico, mecânico, gerenciador de riscos, ator, cineasta e agitador cultural. Em 2009, aventurou-se a escrever Melissa, um romance sobre uma escritora que passa por maus bocados até ser reconhecida. Tirou algumas cópias do livro e foi distribuindo de editora em editora. Foram cinco anos de “nãos”. Descobriu que não só ele, mas outros moradores de Heliópolis também tiveram originais recusados. Até que em 2017 um livreiro o encontrou e disse que iria publicá-lo. Na mesma época, soube da história de um jovem que vendeu o carro para publicar um livro, mas a mulher o abandonou e a sonhada primeira obra tinha virado sinônimo de infelicidade. PC (de Paulo César) Marciano decidiu que, em vez de publicar sozinho, iria se unir aos demais autores.

Criando leitores e escritores

Em 2017, ele arriscou se inscrever no edital do programa Rumos, do Itaú Cultural. Foi contemplado com 100 mil reais, dinheiro que garantiu a publicação das primeiras obras, a compra da impressora e dos computadores, da máquina de corte e dos demais equipamentos para acabamento de um livro. O objetivo inicial era chegar até dezembro do ano passado com quatro títulos lançados. Hoje tem mais de 20 obras, que abordam temáticas das mais variadas. “Escritor não é só Clarice Lispector ou Mario Quintana. Quero criar um público que seja leitor e escritor, de pessoas que se vejam e se reconheçam nas histórias.”

Cada título sai por 3,80 a 10 reais na Editora Gráfica Heliópolis, e a tiragem mínima é de 50 livros. A cada dez vendidos já se paga a impressão. O acabamento e o design interno e de capa são criados em parceria com os próprios autores.

A transexual Júlia Bueno, de 30 anos, escreve poesia desde os 7. Psicóloga com especialização pelo campus Leste da Universidade de São Paulo, ela publicou Amor & Revolta, de versos doloridos como sentimentos traiçoeiros/ que me dão esperança/ e em segundos se tornam pesadelos/ pesadelos horríveis que me atormentam por agora/ pelo que ainda nem chegou. “A poesia é para dar um nome e um sentido para essa revolta que estava em mim e que não fosse por outra violência”, explica. Ela afirma que nunca sofreu tantas violências como nos últimos tempos, inclusive discriminatórias no ambiente de trabalho e até sexuais. Afirma ter se prostituído por três meses, para poder sobreviver. “A literatura é um lugar que podia escrever e não ser julgada.”

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BASE DE ALCÂNTARA: UM PEDAÇO DO BRASIL VAI PRO ESPAÇO

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BASE DE ALCÂNTARA: UM PEDAÇO DO BRASIL VAI PRO ESPAÇO

Será o Brasil sugado por um Buraco Negro? Essa nem Einsten responderia.

Reconta Aí – A cessão do Centro de Lançamento de Alcântara, conhecido popularmente como Base de Alcântara, não tem garantia de rendimentos, transferência de tecnologias e ainda veda o acesso de brasileiros ao seu próprio território.

Localizada na cidade de Alcântara, a 32km do município de São Luís, capital do Maranhão, a Base de Alcântara possui cerca de 620km². Sua posição próxima à linha do Equador garante que foguetes possam utilizar 30% a menos de combustível para serem lançados para fora da órbita.

Sua localização privilegiada é estratégica para programas espaciais. Segundo o texto para discussão 2423 do IPEA, os programas espaciais são importantes para a defesa dos países, as comunicações e a meteorologia. Por isso, Alcântara está no centro de uma das maiores discussões do Brasil hoje.

Um quilombo com janela para o infinito

A base de alcântara possui quilombos e quilombolas.
Os passos que vem de longe. Quilombolas há anos pedem a demarcação de suas terras, como preconiza a Constituição.

O início dessa história são os anos 2000, quando o presidente Fernando Henrique Cardoso fez a primeira proposta de cessão da base para os estados Unidos. Na época, o Congresso Nacional não aceitou o acordo. Porém, em 2019, a possibilidade foi renovada.

Um acordo foi assinado em 18 de março deste ano pelos presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro, em Washington. Porém, não houve qualquer debate prévio na Câmara dos Deputados e muito menos com a população que mora em Alcântara.

Segundo dados da Coalizão Negra Por Direitos, há 800 famílias quilombolas morando na região. Ou seja, mais de 2 mil pessoas que poderão ser expulsas de suas terras. E nenhuma delas foi consultada, como exige a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, a OIT.

Movimentações políticas sobre a Base de Alcântara

Porém, com maioria no Congresso, o governo conseguiu aprovar o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional no dia 21 de agosto. Foram 21 votos favoráveis às novas regras que vão orientar a utilização da Base de Alcântara e apenas seis contrários.

Outro passo importante dado pelo Congresso foi a votação da urgência do acordo entre Brasil e EUA sobre a base no dia 4 desse mês. O placar de 330 votos a 98 mostra que, ao que parece, o Congresso não está se importando tanto assim com a soberania nacional.

A votação de urgência precede a votação da Câmara dos Deputados, que deverá acontecer na próxima semana. Depois dela, o Senado também votará a matéria que, para ser sancionada, passará pelo presidente Bolsonaro.

Base de Alcântara renderá menos do que vale

Base de Alcântara é um dos melhores lugares do mundo para lançar foguetes.
Eu quero ver o Brasil lançar. Lança Brasil, lança!

Os passos que vem de longe. Quilombolas há anos pedem a demarcação de suas terras, como preconiza a Constituição.

Além da questão territorial geopolítica, a salvaguarda tecnológica, ou AST é uma grande preocupação. Ela assegura que haja proteção da propriedade intelectual dos países, especialmente dos Estados Unidos. Isso faz com que a transferência tecnológica para o Brasil não esteja assegurada.

Em telegrama do Departamento de Estado enviado à embaixada dos EUA no Brasil em 2009, as autoridades americanas pressionaram a Ucrânia a não transferir tecnologia do setor aeroespacial aos cientistas brasileiros. O assunto foi revelado pelo Wikileaks, em 2011, e publicado pelo jornal O Globo à época.

Além disso, territórios dentro da base estarão interditados para os brasileiros, podendo ser ocupados apenas pelos norte-americanos e poucos ‘autorizados’ do Brasil.

Ou seja, o Brasil franqueará seu território, expulsará os moradores originários, obterá pagamentos apenas de empresas e não terá acesso às tecnologias necessárias para desenvolver seu Programa Espacial.

Resistência quilombola e soberania nacional

Os moradores da área prometem resistência. Apoiados pela oposição ao governo, que promete brigar institucionalmente pela soberania nacional, e pelo direito dos povos que ali vivem.

Outra fonte de resistência é a criação de um fundo para beneficiar as comunidades afetadas pela Base de Alcântara. O Projeto de Lei 245/19, de autoria do deputado federal Pedro Lucas Fernandes (PTB-MA), propõe o Fundo de Desenvolvimento das Comunidades Carentes e Quilombolas de Alcântara, cuja principal fonte será 1% da receita dos contratos de uso, pesquisa ou de lançamento de satélites e foguetes do centro aeroespacial.

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FRACASSO: VOCÊ AINDA VAI TER O SEU!

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FRACASSO: VOCÊ AINDA VAI TER O SEU!

Com a crescente oferta de abordagens “quânticas” e outras bobagens do gênero, o campo verdadeiramente acadêmico da administração e gestão tem procurado se mobilizar.

sociologiadagestao.com | por Antonio Gracias Vieira Filho – Administradores, sociólogos, psicólogos e demais interessados em análises racionais têm se esforçado para denunciar as pseudociências que proliferam junto a uma terrível explosão populacional de coachs.

Graduado em Ciências Sociais, mestre em Antropologia Social e com um interesse de mais de uma década em sociologia do trabalho, meu olhar para a Administração é, de partida, um pouco mais crítico que a média. Não me peça para falar em “time”, “colaborador” ou “associado”: o nome é trabalhador. Do mesmo modo, não venha me falar da gestão alinhada com as energias dos signos do time por uma orientação quântica… Eu acredito em análise metódica e racional dos processos produtivos e acho importante ler sobre Administração. Em outras palavras, para aprender sobre gestão, tente estudar Frederick W. Taylor, Henry Ford, Henri Fayol, Elton Mayo, Peter Drucker e Taiichi Ohno. Procure conhecer a biografia de verdadeiros empreendedores – Eiji Toyoda, Bill Gates, Steve Jobs e o próprio Ford -, não daqueles que só empreendem no palco. Enfim, convém ler, ouvir e assistir, acumular conhecimentos de forma meticulosa, estudar o maior número possível de casos e não cair, jamais, na tentação do senso comum. Nesse sentido, a experiência prática, quando bem realizada e refletida, também é de fundamental importância.

No entanto, há um ponto em que alguns estudiosos sérios e todos os curandeiros quânticos se encontram: a recusa em tratar do fracasso. Ao que parece, a simples menção ao termo seria capaz de converter uma pessoa bem-sucedida em perdedora irrecuperável – ou, no jargão estadunidense e da sessão da tarde, em um loser.

Ainda que os magos da neurolinguística torçam seus vitoriosos narizes, vamos ao tema. Por fracasso podemos entender:

  • A incapacidade em alcançar uma meta;
  • Uma situação de ruína financeira e/ou existencial;
  • A falência de uma empresa ou negócio;
  • Uma situação de profunda insatisfação pessoal: aqueles momentos em que, mesmo com o resultado material alcançado, resta a sensação de que a jornada foi infrutífera.

O fracasso, em geral, não é obra do acaso. Ao buscar uma formação acadêmica adequada, atualizações frequentes, a construção de um bom plano de negócios e o melhor posicionamento possível em um determinado cenário econômico, podemos reduzir drasticamente os riscos de uma derrota. A junção de despreparo com propostas de negócios delirantes costuma ser infalível para aumentar as taxas de mortalidade empresarial. Uma realidade particularmente triste em um país como o Brasil, de baixa maturidade no campo da Administração.

Mas, ainda que você se prepare e faça um plano de negócios extremamente detalhado, pode ser que algo dê errado. Uma virada do mercado, declarações exóticas do presidente de turno, a chegada de um concorrente chinês, uma tecnologia disruptiva ou mesmo um mau momento pessoal: tais possibilidades existem e podem ser determinantes para um fracasso. Nesse caso, de quem é a culpa? Algum item pode ter sido subestimado, você pode ter negligenciado algum detalhe que depois se mostrou importante… Mas, veja, é realmente possível considerar todas as variáveis? Na medida em que formalizamos (colocamos no papel) apenas uma fração da realidade, sempre vai haver algum ponto cego, alguma variável desprezada. Também é preciso considerar que o Brasil, como péssimo roteirista que é, sempre inclui algum personagem novo na trama, de forma repentina, para bagunçar o enredo: no passado, eram os planos econômicos; atualmente, são os políticos que surfam nas fake news e insistem em dizer que a foto do satélite está errada.

Além das seitas quânticas da gestão, temos os apóstolos da meritocracia, aqueles que se esforçam em repetir que, com muito esforço e uma dieta low carb, você pode tudo e é infalível/invencível. Lamento informar, mas não, você não é um super herói: pode ser que dê tudo errado e aí você vai precisar de ferramentas para lidar com essa situação – ou o cenário pode ficar ainda pior. Mas quais seriam tais ferramentas? Primeiro: reservas materiais podem amenizar enormemente um impacto negativo. Você fez uma poupança? Tem uma reserva de recursos? Quitou a casa, o carro e separou o suficiente para o plano de saúde e a escola das crianças? Investir até o último centavo em alguma coisa, por conta da “certeza do sucesso” e a “reprogramação neurolinguística”, é um caminho seguro para converter o fracasso em tragédia. Segundo: o tropeço pode ser submetido a uma autópsia? Faltou preparação em um ponto específico? Um curso poderia ter ajudado? Ou o planejamento negligenciou algum item importante? Objetivamente, é possível explicar o que deu errado e realizar uma boa reciclagem? Terceiro: fracassar não é um atestado de bom ou mau caráter. Pessoas ótimas podem ter dificuldades nos negócios e pessoas péssimas podem terminar a existência bilionárias. Os problemas em uma iniciativa podem se converter em material para reflexão sobre objetivos para a vida e propósitos existenciais. Não devem, jamais, ser encarados como atestado de (in)dignidade.

Enfim, tanto nos negócios, quanto na vida pessoal, você pode ter de lidar com o fracasso. Isso é muito triste e gera uma sensação de abatimento enorme: fica a sensação de um grande rombo, naquele espaço antes ocupado por grandes esperanças e alegrias. Mas é um fato da vida: tal possibilidade existe, mesmo que você se esforce ao máximo para mitigá-la. Desse modo, a atitude mais madura e serena me parece ser a de preparação. Caso tudo dê certo, ótimo. Mas, se a vida pregar uma peça, ao menos você vai ter uma caixa de ferramentas para tentar uma solução emergencial.


Imagem: Gratisography via Pexels.com.

*Atualizado para correção de erro ortográfico em 06/09/2019, 18:44.

 

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VAZA JATO | MORO ESCONDEU GRAVAÇÕES PARA IMPEDIR POSSE DE LULA COMO MINISTRO DE DILMA EM 2016

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VAZA JATO | MORO ESCONDEU GRAVAÇÕES PARA IMPEDIR POSSE DE LULA COMO MINISTRO DE DILMA EM 2016
Ex-juiz Sergio Moro, atual ministro de Bolsonaro / Pedro França/Agência Senado

Diálogos omitidos do ex-presidente contrariam a hipótese de obstrução de Justiça, construída por Moro à epoca

Redação | Brasil de Fato | São Paulo (SP) – Uma reportagem publicada pelo jornal Folha de S. Paulo neste domingo (8), com informações obtidas pelo The Intercept Brasil, mostrou que os grampos de conversas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em março 2016, divulgados ilegalmente pelo então juiz Sergio Moro, eram seletivos. As mensagens deixam claro que o magistrado pretendia reforçar a hipótese de que Lula aceitara um convite para ser ministro-chefe da Casa Civil como forma de obstruir a Justiça – todos os diálogos que contrariavam essa narrativa foram mantidos em sigilo.

Na ocasião, Moro divulgou à Rede Globo uma conversa entre a então presidenta da República, Dilma Rousseff (PT), e Lula, o que levaria o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, a suspender a nomeação de Lula como ministro.

As conversas entre membros da força-tarefa da Lava Jato no aplicativo Telegram divulgadas neste domingo, no entanto, mostram que a entrada de Lula no governo tinha como objetivo “salvar” o governo em crise, por meio de uma tentativa de reaproximação com Temer e o MDB. É essa a preocupação que o presidente expressa em quase todos os telefonemas omitidos por Moro.

O assunto teria sido discutido entre o juiz e integrantes do Ministério Público. Moro pediu relatórios com transcrições dos diálogos considerados mais relevantes. Em 15 de março, na véspera da nomeação de Lula, a polícia anexou aos autos da investigação 44 arquivos de áudio.

Membros da força-tarefa entendiam como irregular a decisão de Moro de levantar o sigilo e divulgar parte dos áudios. Cinco dias depois do vazamento, o ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no STF, suspendeu as decisões de Moro, afirmando que o sigilo havia sido levantado “sem nenhuma das cautelas exigidas em lei”. Mesmo assim, a anulação da posse de Lula como ministro foi mantida.

Em nota, os advogados de Lula disseram que a reportagem “auxilia a reconstrução da verdade histórica e expõe as grosseiras ilegalidades praticadas por Moro e pelos procuradores da Lava Jato contra o ex-presidente Lula, contra os seus advogados, e também contra o STF.

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Edição: Daniel Giovanaz

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