SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR GASTA R$ 100 MIL COM VIAGEM À GRÉCIA DE 3 MINISTROS EM FÉRIAS

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SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR GASTA R$ 100 MIL COM VIAGEM À GRÉCIA DE 3 MINISTROS EM FÉRIAS
O STM (Superior Tribunal Militar) gastou cerca de R$ 100 mil em passagens e diárias com a viagem de três ministros à Grécia, em julho, durante as férias coletivas.

Folha | Frederico Vasconcelos – O STM (Superior Tribunal Militar) gastou cerca de R$ 100 mil em passagens e diárias com a viagem de três ministros à Grécia, em julho, durante as férias coletivas. Eles participaram de um seminário de dois dias, em Atenas, promovido pela Associação Internacional das Justiças Militares, uma entidade privada.

O evento foi realizado no Athens Plaza Hotel, estabelecimento de cinco estrelas, próximo à Acrópole (diárias de R$ 2.800 a R$ 10 mil, além de taxas).

O presidente do STM, almirante Marcus Vinícius Oliveira dos Santos, proferiu palestra no dia 5 de julho sobre “Forças Armadas e atuação na garantia da lei e da ordem”. Viajou no dia 27 de junho e retornou em 16 de julho.

O Superior Tribunal Militar disse que Santos “intercalou o evento com o seu período de férias no recesso do Judiciário”.

As passagens do presidente custaram R$ 28,3 mil. As dos ministros do STM Álvaro Luiz Pinto e Péricles Aurélio Lima de Queiroz custaram R$ 13,8 mil. O tribunal informou que as passagens “foram expedidas para período e classe diferentes”.

Cada um dos três recebeu sete diárias (cerca de R$ 14 mil, segundo a cotação média do euro no período).

O seminário recebeu patrocínio do Bradesco, que mantém a folha de pagamento da Justiça Militar em São Paulo. O banco não informou o valor do patrocínio. O encontro não foi divulgado no site do STM.

A Folha consultou ministros, juízes e ex-membros do Conselho Nacional de Justiça, sob o compromisso de terem os nomes preservados. Dois deles foram corregedores.

Eles criticam o fato de as férias terem sido interrompidas para o seminário, e, no caso do presidente, de a viagem ter sido prorrogada, com recursos públicos.

A interrupção ou fracionamento de férias não foi prevista na Loman (Lei Orgânica da Magistratura Nacional). Em 2018, o CNJ entendeu que a possibilidade de interrupção de férias deve ocorrer “somente para os cursos oficiais das escolas judiciais”. Não é o caso da viagem à Grécia.

A Associação Internacional das Justiças Militares tem sede em Florianópolis. Foi criada em 2003 e reúne representantes de mais de 15 países.

A ideia de criação de uma entidade para “congregar os estudiosos da Justiça Militar e do direito militar” foi lançada em 2000, durante encontro realizado em Brasília.

O presidente é o juiz paulista Paulo Adib Casseb, ex-presidente do Tribunal de Justiça Militar de São Paulo. Casseb é coordenador da Justiça Militar na Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB).

A AMB disponibilizou dez vagas para associados participarem do seminário em Atenas. Eles pagariam passagens, hospedagem, transporte e alimentação. Não foram preenchidas as vagas.

Em 2012, ministros do Superior Tribunal de Justiça e presidentes de Tribunais Regionais Federais visitaram tribunais e universidades da Alemanha. Viajaram em primeira classe, com despesas pagas pelo erário. Dez juízes pagaram passagens, hospedagem e alimentação.

Outro lado

O Superior Tribunal Militar informou que “os afastamentos de ministros para participação em eventos representando oficialmente o STM, inclusive com o recebimento de diárias, depende de autorização do plenário da corte”.

“Quando o evento coincide com o período de férias coletivas dos magistrados, há a suspensão temporária das mesmas para os ministros participantes. Foi o que ocorreu no caso em apreço”, informou a assessoria. “O STM sempre arca com as despesas dos seus servidores quando em representação ou em serviço”, afirmou.

A corte disse ainda que a AIJM (Associação Internacional das Justiças Militares) “não tem qualquer ligação institucional com o tribunal”. Ainda segundo a assessoria, não houve divulgação do seminário no site do tribunal “porque o evento não era organizado pelo STM”.

A AIJM informou que viajaram cinco magistrados e que membros da diretoria viajaram “com afastamento regular, pagaram com recursos próprios e sem diárias”.

Sobre o patrocínio do Bradesco, informou que “os magistrados militares não julgam ações relacionadas a bancos e instituições financeiras, inexiste conflito de interesse nesse patrocínio, cujo único objetivo do patrocinador é a divulgação da marca”.

“Sendo a associação uma entidade privada, que não recebe subvenção ou recurso público, se reserva ao direito de não tratar dos valores concernentes ao patrocínio do evento”, informou.

O Bradesco informou que patrocinou o seminário “pelo interesse comercial junto aos clientes e potenciais clientes dessa categoria profissional, para a colocação de produtos e serviços financeiros”. “Atualmente, o Bradesco mantém a folha de pagamento da Justiça Militar de São Paulo, a qual foi adquirida em processo licitatório”, informou.

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‘NÓS FALHAMOS NA COMUNICAÇÃO’, DIZ SALLES SOBRE CRISE AMBIENTAL

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'NÓS FALHAMOS NA COMUNICAÇÃO', DIZ SALLES SOBRE CRISE AMBIENTAL
Ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles – Foto Google

Folha | Gustavo Uribe –  Passado um mês do ‘dia do fogo’, que marcou o início do aumento das queimadas na floresta amazônica, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, fez a primeira autocrítica do governo federal em relação à crise ambiental que afetou a imagem do país no exterior.

Em entrevista à Folha, ele considerou que a gestão federal falhou na comunicação e avaliou que o alinhamento entre as gestões municipais, estaduais e federal no combate ao desmatamento deve melhorar.

Na semana que vem, o ministro viajará à Europa. Ele disse que buscará apoio financeiro para a preservação da floresta amazônica e que está aberto para dialogar com todos, inclusive com os governos da Alemanha e da França, criticados pelo presidente Jair Bolsonaro.

Segundo ele, o superintendente regional do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) no Pará, Evandro Cunha dos Santos, demitido na terça-feira (10), fez uma afirmação “que não é verdadeira” em um evento onde não “tinha que estar presente”.


Confira os principais trechos da entrevista:

Comunicação

Nós temos de comunicar melhor. [Repassar] informações à sociedade para [que a sociedade] entenda a evolução dos dados, deixando todos em um nível de conhecimento que permita um entendimento da questão. Acho que isso é algo importante a ser melhorado. Nós falhamos na comunicação. Esse é o ponto mais importante. A comunicação das ações, daquilo que estava sendo feito e tudo mais. A comunicação podia ser melhor e, agora, vai ter de ser melhor. Isso é algo que a gente precisa reconhecer, é um fato. E, daqui para a frente, se dedicar mais.

Alinhamento

O trabalho de combate ao desmatamento e às queimadas, que são questões correlacionadas, dependem muito de uma cooperação entre os entes federativos: municipal, estadual e federal. E essa coordenação tem de melhorar. Os estados, por sua vez, têm de ter um papel mais ativo nisso. Os estados sofreram realmente com questões orçamentarias e governos novos e isso realmente criou essa ausência de alinhamento. Poderia ter um alinhamento melhor. A partir de agora, com essas reuniões que tivemos, isso tende a ser algo que flua melhor.

Queima de veículos

Essa ordem [de interromper a queima de veículos flagrados em fiscalização] não partiu de ninguém. Não existiu essa ordem. A atitude dele [superintendente regional do Ibama no Pará] foi inaceitável. Primeiro, porque fez uma afirmação que não é verdadeira, dizendo que havia essa ordem. E fez essa afirmação em um local, em um evento que ele não tinha nem que estar presente.

Europa

Eu vou viajar na semana que vem. Vou aos Estados Unidos e vou à Europa. Vou levar todas as informações disponíveis, que são muito boas. O Brasil está indo muito bem em vários dados. Nas metas do Acordo de Paris, o Brasil está indo super bem, aliás, melhor do que muitos países que nos criticam. Criticam e, no final das contas, nós é que estamos cumprindo as metas. Nós temos um percentual de conservação de matas nativas de mais de 60%, que outros não têm. Nós precisamos mostrar isso e mostrar o que fazemos bem. E mostrar que dá para fazer mais se tivermos apoio financeiro para isso.

França e Alemanha

Nós estamos estabelecendo conversas institucionais com os países enquanto governo e com o setor produtivo. Nós vamos conversar com os meios de comunicação e câmaras de comércio. Eu não tenho vedação para conversar com ninguém. Quem nós entendermos que é importante conversar e nos abrir portas para fazer as apresentações necessárias nós vamos fazer. Nós estamos montando uma agenda super bem recebida. Em todos os lugares para onde estamos organizando —Paris, Londres e Berlim—, elas foram bem recebidas. Então, não tenho nenhum ruído.

Medidas Ambientais

Os governos estaduais pediram ao governo federal para fazer o que vem sendo defendido desde o início do ano: a necessidade da regularização fundiária, o zoneamento econômico e ecológico e a dinamização das oportunidades da nossa bioeconomia. Tudo isso, que foi combinado entre todos, é o que estamos planejando e viabilizando com a solidez que as coisas requerem, porque são temas complexos. Agora, são várias medidas que precisam ser construídas.

Queimadas

Foram apresentados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) e pelo Censipam (Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia) gráficos mostrando que, com a exceção do Mato Grosso, os outros já estão com tendência de diminuição de queimada, graças à GLO (Garantia da Lei e da Ordem). Portanto, está dando certo a atuação do governo federal. Queimada não é fácil de controlar e não vai acabar. A questão é a diminuição dos focos. Estava subindo e agora está descendo.

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INVESTIGAÇÕES DA LAVA JATO MIRAM CAMPANHAS E NÚCLEO DE CONFIANÇA DE DILMA

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INVESTIGAÇÕES DA LAVA JATO MIRAM CAMPANHAS E NÚCLEO DE CONFIANÇA DE DILMA
A ex-presidenta Dilma Russeff (PT) durante participação em evento em Buenos Aires, Argentina – Martin Acosta – 19.nov.2018/Reuters

Noticias Uol | Wálter Nunes – Mesmo sem ter sido alvo de buscas ou de outras medidas cautelares, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) está no centro das atenções dos trabalhos mais recentes da Lava Jato.

As últimas duas operações, deflagradas em 23 de agosto e nesta terça-feira (10), foram concentradas em pessoas ligadas diretamente à ex-presidente da República, além de tratar do financiamento das suas duas campanhas presidenciais, de 2010 e de 2014.

As investigações tratam tanto de contratos da Petrobras como das obras da usina hidrelétrica de Belo Monte, principal bandeira de Dilma no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

Batizada de Pentiti (palavra em italiano que significa arrependimento), a 64ª fase da Lava Jato foi uma referência às acusações do ex-ministro Antonio Palocci, único petista importante a assinar acordo de delação premiada com a Lava Jato.

Ela motivou buscas na casa da ex-presidente da Petrobras Graça Foster, nomeada em 2012 por Dilma, e também mirou Guido Mantega, ministro da Fazenda da petista.

Já a 65ª etapa levou à prisão nesta terça de Márcio Lobão. Ele é filho do ex-senador e ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão (MDB), que foi encarregado por Dilma de tocar a obra de Belo Monte.

Alvo de suspeita de propina pela Odebrecht, a obra entrou no rol de acusações da delação de Palocci.

O ex-ministro petista não conseguiu fechar um acordo delação premiada com a Procuradoria, que justificou falta de provas. Mas a colaboração foi aceita pela PF e homologada no Tribunal Regional Federal da 4ª Região.

A delação de Palocci, que atuou nos governos Lula e Dilma, e os depoimentos de executivos da Odebrecht foram a base para as medidas cautelares adotadas no mês passado pela Polícia Federal.

Enquanto investigações anteriores da Lava Jato foram focadas principalmente no entorno de Lula, os principais alvos diretos da investigação agora são do núcleo de confiança de Dilma.

Graça Foster e Guido Mantega são acusados por Palocci de usar negócios da Petrobras para arrecadar fundos para a campanha da petista.

Além de fazer buscas em endereços da ex-presidente da Petrobras, a PF também mirava apreensões em endereços de Mantega, mas a Procuradoria e a juíza Gabriela Hardt consideraram a medida desnecessária, porque ele já havia sido alvo de medida semelhante com resultados infrutíferos.

Na delação, Palocci trata da venda de blocos de exploração de petróleo na África ao banco BTG, de André Esteves. Segundo ele, o negócio teve preço abaixo da avaliação inicial, favorecendo o banqueiro. A contrapartida, diz o ex-ministro, seria contribuições à campanha de Dilma em 2014.

Palocci afirmou ter sido informado por Lula que “entre Graça Foster e Guido Mantega havia um fluxo de informações permanentes, de modo que a então presidente da Petrobras passava listas de empresas que a estatal auxiliava ou que acabara de efetuar grandes pagamentos”.

Desse modo, segundo ele, Guido poderia operar “junto a tais empresas, pessoalmente ou pelo tesoureiro do partido, buscando recursos de propina para a campanha de 2014”.

André Esteves, segundo a delação de Palocci, já havia dado R$ 5 milhões para cobrir custos da campanha de Dilma à Presidência da República em 2010.

A contrapartida seria a gestão petista transformá-lo no “banqueiro do pré-sal”, segundo Palocci disse aos policiais federais.

Branislav Kontic, ex-assessor de Palocci, teria se encontrado com o próprio banqueiro na sede do BTG, em São Paulo, e saiu com R$ 5 milhões, que teriam sido usados para pagar fornecedores de campanha, segundo o ex-ministro.

Kontic negou à Folha que tenha ido pegar dinheiro com o banqueiro. Palocci não apresentou documentos que comprovem seu relato aos policiais.

Palocci também disse que uma parte dos recursos, R$ 250 mil, foi usada para pagamento de despesas de viagem que Dilma fez após a eleição para descansar.

Na versão que se tornou pública, esta viagem para a Bahia teria sido custeada pelo advogado Márcio Thomaz Bastos (1935-2014), ex-ministro da Justiça de Lula.

Palocci assumiu a responsabilidade pela operação, disse que Esteves não sabia da destinação do dinheiro e que Márcio Thomaz Bastos não tinha ideia de origem da verba usada para custear a viagem de Dilma.

Graça Foster é acusada pela Polícia Federal de ter acobertado atividades ilícitas na Petrobras, sobretudo envolvendo contratos internacionais da estatal.

A nomeação dela por Dilma, segundo os investigadores, teve como efeito esvaziar a influência de Lula na estatal e aumentar o poder da petista na petrolífera. Para confirmar essa tese, os policiais ouviram delatores da Odebrecht, como Marcelo Odebrecht e Alexandrino Alencar.

Graça substituiu Sérgio Gabrielli, que havia sido nomeado por Lula em 2005.

OUTRO LADO

A assessoria da ex-presidente Dilma Rousseff não comentou a investigação da Polícia Federal focada nas campanhas presidenciais da petista, mas disse que Antonio Palocci “mente mais uma vez e, como das outras vezes, sequer apresenta provas ou indícios”.

Na nota, ela classifica Palocci como “um mentiroso contumaz”.

A defesa do ex-ministro diz que ele “continuará colaborando com a Justiça, esclarecendo os fatos que são objeto dos processos e apresentando suas provas de corroboração”.

O advogado de Guido Mantega, Fabio Tofic, afirmou, na ocasião em que seu cliente foi alvo da operação, que as medidas impostas representavam “estardalhaço e espetáculo público” da Lava Jato.

“Para colocar talvez uma cortina de fumaça nos abusos e nas arbitrariedades que estão sendo reveladas na condução desse processo”, declarou.

A defesa de Graça Foster disse que a ex-presidente da Petrobras não iria comentar.

O BTG disse, por meio de sua assessoria, que não irá se manifestar sobre esse caso.

A defesa de Márcio Lobão afirmou que a operação desta terça tratou de fatos antigos, envolvendo diferentes investigações, sobre as quais não houve tentativa de interferência por parte dele.

A defesa de Edison Lobão afirmou que ele não foi alvo nesta fase da operação e que as acusações são baseadas apenas em palavras de delatores.

Alvos da PF ligados a Dilma

Graça Foster, ex-presidente da Petrobras
Em sua delação, o ex-ministro petista Antonio Palocci acusou Graça de usar negócios da estatal para arrecadar verba para a campanha de Dilma. A PF também suspeita de acobertamento de atividades ilícitas envolvendo contratos internacionais. No fim de agosto, ela foi alvo de operação de busca e apreensão

Guido Mantega, ministro da Fazenda de Dilma
Segundo Palocci, era parceiro de Graça em esquema para abastecer a campanha da petista, operando junto a empresas que tinham contratos com a Petrobras. No fim da agosto, Mantega foi alvo de operação da PF sob suspeita de receber propina da Odebrecht

André Esteves, banqueiro
Dono do banco BTG, teria dado, segundo Palocci, R$ 5 milhões para cobrir custis da campanha de Dilma. Em troca, Esteves se tornaria o “banqueiro do pré-sal”. No fim de agosto, ele foi alvo de operação de busca e apreensão com base da delação de Palocci

Edison Lobão, ex-senador e ex-ministro de Minas e Energia
Foi encarregado por Dilma de tocar a construção da usina de Belo Monte. Seu filho Márcio foi preso nesta terça (10) sob suspeita de coletar, a mando do pai, propina de esquema ligado à Petrobras e à usina. Márcio também seria responsável por lavar o dinheiro obtido ilegalmente, tudo com o conhecimento de Lobão, segundo a PF.

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DITADURA | NEOLIBERALISMO PRECISA DA VIOLÊNCIA, DIZ HISTORIADORA SOBRE 46 ANOS DO GOLPE NO CHILE

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DITADURA | NEOLIBERALISMO PRECISA DA VIOLÊNCIA, DIZ HISTORIADORA SOBRE 46 ANOS DO GOLPE NO CHILE
Na manhã do dia 11 de setembro, de 1973, Salvador Allende anuncia resistência ao golpe no Palácio La Moneda, no Chile / Foto: Luis Orlando Lagos Vásques

Segundo Joana Salém, com Bolsonaro, Brasil enfrenta um “choque neoliberal” inspirado no modelo da ditadura de Pinochet

Tiago Angelo | Brasil de Fato | São Paulo (SP) – Em entrevista concedida à imprensa internacional em novembro de 2017, o ainda pouco conhecido Paulo Guedes, cotado para chefiar o Ministério da Economia, já sinalizava qual seria sua política frente à pasta em uma eventual vitória de Jair Bolsonaro. “Os últimos trinta anos foram um desastre – corrompemos a democracia e estagnamos a economia […] Deveríamos ter feito o que os “Chicago Boys” defendiam”.

O apelido, originalmente jocoso, foi dado a um grupo de jovens responsáveis por formularem a política econômica da ditadura chilena de Augusto Pinochet (1973-1990) com base na ideologia de Milton Friedman, professor da Universidade de Chicago.

O regime de exceção tomou curso no país vizinho há exatos 46 anos, em 11 de setembro de 1973, quando o presidente Salvador Allende foi assassinado.

Com Pinochet no poder, o ideário neoliberal dos Chicago Boys não foi apenas defendido, mas rigorosamente implementado. As medidas reverteram uma série de iniciativas sociais colocadas em prática pelos governos de Eduardo Frei Montalva (1964-1970) e Allende (1970-1973) e são sentidas ainda hoje.

“Esse projeto neoliberal radical precisa da violência para ser implementado. O exemplo chileno é o mais emblemático”, afirma a doutoranda em história econômica pela Universidade de São Paulo (USP), Joana Salém.

Em entrevista ao Brasil de Fato, a pesquisadora disse que o Brasil, sob a tutela de Guedes, já passa por um processo de “choque neoliberal”  fortemente inspirado no modelo implementado no Chile durante a ditadura Pinochet. “É muito importante entender que o projeto do atual ministro da Economia, que colocou muitos de seus asseclas na estrutura do Estado para desconstruir a nossa Constituição, [tem como] modelo o Chile.

Confira a entrevista na íntegra: 

Brasil de Fato: O Chile, durante o governo de Salvador Allende, passou por uma experiência inédita com a tentativa a tentativa de transição ao socialismo fora da luta armada. Em linhas gerais, como poderíamos definir a política econômica de Allende?

Joana Salém: Desde a Aliança para o Progresso, formada em 1961, os EUA tinham uma agenda de reformas para a América Latina que tinha em vista evitar novas revoluções cubanas.

Eles avaliavam que as contradições do capitalismo latino-americano eram tão agudas que era preciso atenuar alguma delas a partir de um conjunto de reformas financiadas pelos próprios EUA. Ou seja, com tutelas e critérios próprios do capitalismo para evitar revoluções socialistas.

O governo anterior ao de Allende (Unidade Popular) é um governo da Democracia Cristã (DC), do presidente Eduardo Frei. Ele foi um dos presidentes que mais recebeu financiamento externo dos EUA na história. Esse financiamento foi utilizado para a realização de reformas agrárias, educacionais, tributárias. Houve um aumento dos salários, uma relativa redistribuição de renda e algumas modernizações econômicas e sociais.

A ideia de que esse período de reformas frearia um processo mais radicalizado, no entanto, foi equivocada. No caso chileno, aconteceu exatamente o contrário. As mudanças proporcionadas pelo governo Frei aceleraram uma demanda de mudanças mais radicais, estruturais, profundas na sociedade. Essa vontade se manifestou nas eleições de 1970, quando Allende foi eleito com um programa explicitamente transitório para o socialismo.

O governo Allende expropriou seis milhões de hectares em três anos. Isso representa a maior quantidade de terras expropriadas dentro da lei na história de um país. Ou seja, muitas reformas agrárias que expropriaram essa mesma quantidade de terras ocorreram por fora da lei, de uma maneira disruptiva. E muitas reformas agrárias que ocorreram dentro da lei não foram tão massivas quanto essa.

Ao mesmo tempo tinha os EUA, que financiaram o processo reformista anterior do Chile. e que acreditava que a pior coisa que poderia acontecer seria uma via chilena ao socialismo. Porque isso retirava dos EUA a crítica à guerrilha. Ou seja, se é possível construir o socialismo por dentro da lei, de uma forma pacífica, a crítica da violência revolucionária propagada pelos EUA perdia força. Pros EUA, derrubar e destruir o exemplo chileno era muito importante

O comando central do Exército traiu Allende, entre eles o Pinochet, que naquele momento era Comandante-em-Chefe das Forças Armadas, e praticou aquele ato de violência extrema e inaceitável que foi o bombardeio do Palácio de La Moneda no dia 11 de setembro, ainda mais para um país que se considerava legalista e a democracia mais estável da América Latina.

Após a queda de Allende, o país adotou uma postura inversa, passando por um “tratamento de choque” neoliberal. Em que consistiam essas medidas aplicadas pelo governo militar em consonância com os novos economistas do regime?

O projeto neoliberal chileno foi pioneiro, no sentido de adotar a ideologia de Milton Friedman, um economista, professor da Universidade de Chicago, que tinha escrito uma série de livros sobre liberdade econômica nos anos 1940 e 1950. Ele vai trabalhar no governo Pinochet. Fazem uma parceria e então a ditadura acaba sendo a pioneira na implementação de certas políticas neoliberais radicais.

Entre 1973 e 1978 são tomadas algumas medidas, mas o projeto se consolida, inclusive do ponto de vista constitucional, em 1980. As principais reformas, que até hoje caracterizam a sociedade chilena, são feitas em 1979 por José Piñera, irmão do atual presidente, Sebastián Piñera. Além disso, a Constituição de 1980 consolida o conceito de Estado Subsidiário.

Podemos dizer que o projeto por trás da Constituição chilena, de 1980 e da brasileira, de 1988, tem alguns pontos de oposição. No Chile, subsidia o setor privado para que ele garanta, de acordo com as necessidades do mercado, os serviços que a sociedade necessita: educação, saúde, aposentadoria, alimentação etc.

Isso gerou um sistema de financiamento privado da educação, um sistema de previdência 100% privatizado e um de trabalho desregulamentado, com poucas garantias, além de um regime de trabalho informal predominante, como é atualmente.

A ditadura gerava um baixíssimo poder de negociação da sociedade em relação ao poder autoritário do Estado. Mas esse baixo poder de negociação se perpetuou na democracia, porque existe uma série de restrições aos sindicatos e ao direito de greve, por exemplo.

Em um contexto de ditadura, como era a ditadura Pinochet e de terrorismo de Estado, de medo, de intimidação, de perseguição, censura, era difícil oferecer resistência. Ou seja, o neoliberalismo radical precisa de um governo autoritário, ditatorial, terrorista, intimidatório, para funcionar. As medidas neoliberais radicais são muito impopulares. E em uma sociedade relativamente democrática, a população oferece resistência. A opinião pública gera uma mudança de comportamento dos parlamentares, gera pressões.

Em um governo autoritário que não se preocupa com a opinião pública, ou que não está interessado em absorver nenhum tipo de demanda popular, essas medidas são mais possíveis do que em um governo que pretende relativamente receber essas demandas.

Em essência, o Estado subsidiário é isso. Atua como fiador do mercado, e nunca como atuante ativo nas políticas públicas em defesa de um tipo de direito social ou de um tipo de modelo de sociedade. E esse projeto neoliberal radical precisa da violência para ser implementado. O exemplo chileno é o mais emblemático.

Ainda hoje, décadas após o fim da ditadura, o país não conseguiu romper com a estrutura de Estado criado durante os anos de Pinochet. Qual resultado do neoliberalismo chileno podemos observar hoje e por que é tão difícil romper com esse formato de Estado?

Uma metodologia pode ser a de olhar os movimentos sociais mais importantes do Chile hoje e entender quais são as lutas travadas em relação aos efeitos mais perversos do neoliberalismo radical. Eu destacaria a questão educacional, a luta dos estudantes – que alteraram os rumos da história chilena recente.

Alguns desses estudantes se tornaram representativos ao ponto de serem eleitos deputados e defendem a gratuidade na educação pública, o financiamento público da educação pública e o fim do lucro das escolas privadas.

Existe toda uma mistura, uma confusão entre público e privado que é resultado do neoliberalismo radical, para que essas fronteiras não estejam mesmo claras. Tudo opera na ótica da empresa e do negócio, inclusive as universidades e escolas públicas. É um efeito muito perverso desse neoliberalismo.

Ao mesmo tempo, o sistema de previdência. Existem inúmeros dados que mostram como o pensionado chileno é extremamente mal remunerado, pior remunerado que o aposentado brasileiro. Existem dados que revelam que algumas pessoas alcançam uma aposentadoria equivalente à 15% de um salário mínimo. Existe uma média dos aposentados chilenos que mostram que cerca de 60 ou 70% dos aposentados ganham menos de um salário mínimo. Muito menos.

A direita chilena, consciente de que era possível ampliar a socialização da economia dentro da lei, criou uma nova legislação, uma nova estrutura institucional que tornava praticamente impossível realizar direitos sociais a partir da lei. Além disso, existe outro problema que é a Concertación [coligação de partidos de centro, centro-esquerda e esquerda que governou o Chile de 1990 a 2010].

Esses partidos, que foram responsáveis pela redemocratização do país, também foram cúmplices e pactuaram com o modelo constitucional, econômico e social do neoliberalismo chileno. Aprofundaram alguns desses setores do neoliberalismo.

Isso é fruto da conivência com esses setores de centro – ou centro-esquerda –, com o que foi o modelo econômico e social da ditadura. Isso também leva a essas perpetuações. Por isso os movimentos sociais chilenos contemporâneos são tão importantes nessas lutas contra o neoliberalismo. Os partidos tradicionais de centro e centro-esquerda são absolutamente coniventes com o modelo da ditadura.

O Brasil, sob a tutela de Paulo Guedes, um dos “Chicago Boys”, como ministro da Economia, corre o risco de passar por um processo parecido ao que ocorreu no Chile?

Já são “Chicago Olds”. Acho que já estamos sofrendo [ as consequências de um modelo neoliberal]. Em vários sentidos. Por um lado, há uma desconstrução da nossa Constituição de 1988. Não é preciso realizar uma nova Constituição para destruir a de 1988. É possível apenas descaracterizá-la a partir de diversas medidas relacionadas com a privatização dos direitos sociais.

A reforma da previdência, recém aprovada na Câmara e agora tramitando no Senado, é um aspecto do choque neoliberal. Ao mesmo tempo, a capitalização, que é o que existe no Chile, não passou. Mas isso não significa que o governo atual não vá querer colocar a capitalização em algum outro projeto: reforma tributária, trabalhista, a tal da carteira verde e amarela.

É preciso ficar de olho, porque o projeto estratégico do Paulo Guedes é o Chile. Então é muito importante olhar para o Chile hoje e entender que o projeto do atual ministro da Economia, que colocou muitos de seus asseclas na estrutura do Estado para desconstruir a nossa Constituição, o modelo é o Chile.

Ao mesmo tempo, esse Dia do Fogo, o desmatamento da Amazônia, o processo de repressão aos movimentos sociais do campo e da cidade é também um processo relacionado ao neoliberalismo. O neoliberalismo radical precisa da violência.

E quando um presidente ou seus ministros autorizam a violência – para não dizer que praticam a violência –, ela vai sendo feita de uma maneira aparentemente autônoma nas bases da sociedade, pelas classes proprietárias e pelas classes mais gananciosas do capitalismo brasileiro, a partir de uma lógica que é de apropriação privada de recursos coletivos, seja da educação, da saúde da terra ou do trabalho.

Ao mesmo tempo, acho importante registrar que esse choque neoliberal não é propriamente um raio em céu azul. O processo neoliberal brasileiro começou no governo Collor, se aprofundou no governo FHC e ganhou uma nova cara no governo Lula. Mas ele está aí há 30 anos.

Se a gente acredita que o neoliberalismo começou agora com o governo Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes, a gente está caindo na narrativa do Paulo Guedes, que diz que tudo que aconteceu nos últimos 30 anos é de esquerda e que agora chegou o primeiro governo de direita. Não é assim.

É importante registrar que se trata de uma mudança de intensidade, não exatamente de sentido do processo histórico brasileiro. Porque a desindustrialização já existe desde os anos 1980, a priorização de uma economia extrativista também já existe desde os anos 1990 e é preciso perceber alguma continuidade. Se não a gente cai no mito invertido do Paulo Guedes.

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Edição: Rodrigo Chagas

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TENSÃO | TEMENDO ATAQUE COLOMBIANO, VENEZUELA CRIA CONSELHO PARA DECIDIR AÇÕES DE DEFESA

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TENSÃO | TEMENDO ATAQUE COLOMBIANO, VENEZUELA CRIA CONSELHO PARA DECIDIR AÇÕES DE DEFESA
Representantes de todos os poderes do Estado participaram da primeira reunião do Conselho de Segurança nessa segunda (9) / Foto: Prensa Presidencial

Conselho de Segurança da Nação está previsto na Constituição venezuelana em casos de ataques iminentes a seu território

Fania Rodrigues | Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) – Há poucos dias da Assembleia Geral das Nações Unidas, que começa dia 24 de setembro em Nova Iorque (EUA), continua a tensão diplomática entre Venezuela e Colômbia.

Membros do governo venezuelano acusam o governo colombiano de preparar um cenário político para atacar a Venezuela durante a Assembleia Geral da ONU, considerado o evento político internacional mais importante do ano.

Diante desse cenário, o presidente venezuelano Nicolás Maduro anunciou na noite de segunda-feira (9) a criação de um Conselho de Segurança da Nação, reunindo representantes de todos os poderes do Estado, para deliberar sobre a defesa militar do país.

Essa é primeira vez que um governo da Venezuela recorre a esse dispositivo previsto no artigo 323 da Constituição, que define que “o Conselho de Segurança da Nação é máximo órgão de consulta, para o planejamento e assessoramento ao poder público em assuntos relacionados a defesa integral da nação”.

Compõem o conselho a vice-presidenta da República, Delcy Rodríguez, o presidente do Tribunal Supremo de Justiça, Maikel Moreno, o procurador-geral da Republica, Tarek William Saab, a presidenta do Conselho Nacional Eleitoral, Tibisay Lucena, a cúpula militar e o presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Diosdado Cabello.

O ex-militar e professor de faculdade de Ciências Humanas da Universidade Central da Venezuela, William Izarra explica que a medida é preventiva diante das “circunstâncias em que se aproxima uma agressão militar vinda da Colômbia, que pretende dar início a uma guerra”. Izarra já foi vice-ministro de Relações Exteriores nos governos do ex-presidente Hugo Chávez.

Guerra midiática

A criação do conselho foi anunciada depois que a revista Semana, uma das mais importantes publicações da Colômbia, publicou uma capa com a seguinte manchete: Complô contra Colômbia: os segredos da aliança entre o governo Maduro, as dissidências [guerrilheiras] e o ELN.

A reportagem publicada na segunda-feira apresenta documentos, ofícios e memorandos supostamente emitidos por órgãos oficiais da Venezuela para afirmar que o exército venezuelano protege dirigentes guerrilheiros da nova dissidência das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e do Exército de Liberação Nacional (ELN).

O governo venezuelano nega as questões apontadas e diz que a revista publicou uma fake news.

Em entrevista coletiva, o presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Diosdado Cabello disse que os documentos apresentados são falsos. “Publicaram uns documentos, supostamente do Sebin [Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional] de agosto desse ano. No documento colocam o Sebin como uma dependência do Ministério de Interior, Justiça e Paz. Essa informação aparece no cabeçalho, mas faz muitos anos que o Sebin não pertence mais a esse ministério. Agora é um órgão ligado a Vice-Presidência”, defende Cabello.

Cabello afirma que revista colombiana publicou fake news sobre a Venezuela (Foto: PSUV)

Outro dos documentos apresentados pela revista é um suposto ofício 0687 do Comando Estratégico Operacional da Força Armada Nacional Bolivariana (Ceifanb), determinando que a Força Armada não poderia atacar guerrilheiros do ELN. “Nos nossos registros nos arquivos oficiais o documento com esse número é corresponde a ofício para o deslocamento de tropas para a Missão Abastecimento Soberano (de distribuição de alimentos)”, ressalta Diosdado Cabello.

Mais sanções

Cabello afirmou ainda que a denúncia é uma antessala para acusações que podem ser feitas contra a Venezuela na ONU para pedir mais sanções contra o país.

A reportagem se soma a declarações de membros do governo colombiano, que tem acusado o governo venezuelano nas últimas semanas de abrigar grupos guerrilheiros.

O presidente Iván Duque disse no dia 30 de agosto que a nova dissidência das Farc na Colômbia “conta com apoio de Nicolás Maduro”. Além disso, semana passada, o líder opositor Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional afirmou que iria solicitar a “colaboração de órgãos de inteligência” de países aliados e também “uso de tecnologia satelital” para atuar em território venezuelano contra supostos grupos guerrilheiros.

Exercícios militares

Começam nessa terça-feira (10) e vão até o dia 28 de setembro os exercícios militares venezuelanos nos estados de Zúlia, Táchira, Apure e Amazonas, que nas zonas que fazem fronteira com a Colômbia.

Presidente Maduro publica foto junto chefes militares em treinamento (Foto: Prensa Presidencial)

Serão deslocados cerca de 3 mil soldados, além de equipamentos de defesa como baterias antimíssil, sistema de defesa área que inclui aviões caças, helicópteros e informação de satélite.

O ministro de Defesa da Venezuela, o major-general Vladimir Padrino Lopez afirmou que existe “uma campanha agressiva da oligarquia colombiana” contra a Venezuela.

“Fabricam eventos falsos para espalhar pelo território venezuelano uma guerra que não nos pertence. O governo colombiano deve assumir sua responsabilidade”, escreveu o major-general em seu Twitter, junto a uma foto de uma reunião com os altos mandos militares venezuelanos.

O governo venezuelano decretou alerta de segurança laranja na semana passada, após o ministro de Comunicação e Informação, Jorge Rodríguez havia denunciado a presença de acampamentos de treinamentos de militares dissidentes venezuelanos em território colombiano. A informação foi fornecida por militares presos, acusados de participar de planos de golpes de Estado.

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Edição: Rodrigo Chagas

VAZA JATO | DALLAGNOL FALTA A AUDIÊNCIA SOBRE VAZA JATO E É CHAMADO DE “FUJÃO”

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VAZA JATO | DALLAGNOL FALTA A AUDIÊNCIA SOBRE VAZA JATO E É CHAMADO DE
Demori: “Andamos com segurança porque vivemos num país onde publicar informação de interesse público se torna um risco de vida” / Cleia Viana/Câmara dos Deputados

Para editor do Intercept, procurador tem obrigação de explicar à sociedade como autuou durante cinco anos nas sombras

Cristiane Sampaio | Brasil de Fato | Brasília (DF) – Em audiência pública na Câmara dos Deputados nesta terça-feira (10) para tratar da troca de mensagens divulgadas pela Vaza Jato, choveram críticas à ausência do procurador da República Deltan Dallagnol.

Convidado oficialmente para comparecer à Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público da Casa, o membro do Ministério Público Federal (MPF) no Paraná enviou uma justificativa em que se disse “impossibilitado” de participar do debate. Dallagnol argumentou que prefere “concentrar na esfera técnica” as manifestações sobre o tema, evitando debates políticos.

“Fica aí o Dallagnol fujão. Antes, ele vivia aqui na Casa. Não era deputado, mas vinha pra falar das ‘dez medidas contra a corrupção’, pra fazer lobby em torno delas. Pra isso, ele tinha funções que considera importantes [no parlamento]. Infelizmente, fica mais uma vez aí a ausência dele, que já se negou também a vir outra vez, na Comissão de Direitos Humanos (CDHM)”, criticou o deputado Rogério Correia (PT-MG), após ler a justificativa do procurador.

“Também não veio ninguém pra defendê-lo. Isso significa que ele está ficando sem defesa aqui no parlamento”, acrescentou Correia, classificando ainda a ausência como “desaforo” e “desrespeito ao povo brasileiro”.

“Ele não está [na audiência] porque está fugindo do debate, que é técnico e político, e não só político”, criticou o deputado Bohn Gass (PT-RS).

Responsabilização

Em conversa com a imprensa, o jornalista Leandro Demori, editor-executivo do site The Intercept Brasil, também lamentou a ausência de Dallagnol na sessão.

“Seria importante que ele tivesse vindo hoje. A gente está esperando. Eu vim como convidado. Isso daqui não é uma intimação. Esta daqui é a casa do povo brasileiro, a gente vai ter uma transmissão ao vivo pra todas as pessoas que querem acompanhar. Ele, na verdade, deveria ter mais interesse e mais obrigação do que eu de estar aqui, porque ele é servidor público, pago com os nossos impostos e deveria vir explicar como operou durante cinco anos nas sombras, que é o que a Vaza Jato está mostrando”, alfinetou Demori.

O jornalista destacou que o Intercept ainda tem “muito material para publicar” sobre o escândalo da Vaza Jato. Ele também comentou a atuação das instituições brasileiras após o início da publicação da série de reportagens.

“Como a gente vem falando, esse arquivo é extenso, mas acredito que o material já publicado, supondo que a Vaza Jato terminasse hoje, por exemplo, é suficiente pra abrir várias investigações contra as pessoas dos diálogos. A gente viu atropelos de lei, procuradores e juízes atuando muitas vezes na ilegalidade, de fato. Me impressiona que as instituições ainda não estejam funcionando. Espero que seja só uma questão de tempo e que essas pessoas sejam responsabilizadas ”.

A mesma crítica ganha corpo na voz de parlamentares.

“Cadê as instituições? Nem o ponto do Deltan foi cortado pelo Conselho Nacional do Ministério Público quando ele se ausentou pra fazer palestras pagas. Estamos numa queda explícita do Estado democrático de direito”, disse a vice-líder da minoria, Alice Portugal (PCdoB-BA).

O ex-procurador da República e ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão criticou o fato de a equipe da Lava Jato não ter disponibilizado os celulares institucionais para que seja feita uma perícia nos diálogos divulgados.

“Essas conversas foram todas feitas por equipamentos funcionais. Não há nada nesses dispositivos que não possa ser submetido aos princípios que regem a administração pública, como, por exemplo, o da publicidade. Ninguém pode alegar privacidade com uso de celular funcional e, aliás, há precedentes do Supremo nesse sentido. Celular funcional não pode vincular mensagens secretas”, argumentou o jurista.

Ameaças

As ameaças à equipe da redação do Intercept também foram destaque na sessão sobre a Vaza Jato. Demori sublinhou que os jornalistas do veículo já sofriam ataques antes da divulgação da série por causa de outras denúncias, mas ressaltou que a situação piorou após a divulgação do escândalo que envolve os membros da Lava Jato.

“Não é mais segredo pra ninguém que a gente está andando com segurança porque vivemos num país onde publicar informação de interesse público se torna um risco de vida. Isso é um absurdo. Nós teríamos condições de sair do Brasil e continuar publicando isso lá fora, mas a gente não vai fazer isso porque passaria o recado de que não é possível mais fazer jornalismo no Brasil. Isso é um símbolo. A gente estaria sendo irresponsável, inclusive com os nossos colegas”, afirmou o editor-executivo.

Ele também lembrou a recente recomendação da Organização das Nações Unidas (ONU) ao Estado brasileiro para que seja dada proteção à equipe do Intercept.

“As providências não foram tomadas até agora. Nós não fomos contatados por ninguém deste governo, que não está preocupado em proteger jornalistas. Pelo contrário, está preocupado em atacar porque, com isso, conseguem sufocar a verdade. Eles precisam zelar pelos convênios assinados internacionalmente e precisam dar uma resposta à ONU”, cobrou.

Membro da diretoria da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Demori também comentou que o contexto de ataques aos profissionais de imprensa tem afetado toda a categoria, trazendo prejuízos para o regime democrático. Ele lembrou as diferentes manifestações feitas pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) e governistas contra o trabalho de vigilância exercido pela imprensa.

“Quando você vê um ministro da Justiça chamando jornalistas de ‘criminosos’, a consequência disso é que você pega uma parcela da população que já odeia jornalistas, que já tem um instinto de agredir jornalistas, seja digital, presencial ou fisicamente, e você inflama esse discurso. Então, eu considero de uma irresponsabilidade tremenda do governo fazer esse tipo de discurso”.

CPI

Os debates em torno da Vaza Jato levaram a diferentes articulações do campo da oposição. Uma delas diz respeito à criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), no âmbito da Câmara dos Deputados, para apurar as denúncias trazidas à tona pelo Intercept e os demais veículos de imprensa que hoje pautam o tema. Na audiência desta terça (10), o movimento para instalar o colegiado foi novamente lembrado por opositores.

“Tudo que foi publicado já é muitíssimo grave, além da questão internacional. Como é que um país fornece informações pra outro país pra derrubar governos eleitos, por exemplo? Entendemos que o parlamento precisa dar uma resposta a tudo isso, sob pena de a gente desmoralizar o sistema republicano brasileiro”, defendeu a líder da minoria, Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

De acordo com a deputada, já foram coletadas cerca de 160 assinaturas. O regimento da Casa exige no mínimo 171, o que corresponde a um terço do total de parlamentares.

Edição: João Paulo Soares

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MORADIA | OPOSIÇÃO ACIONA PGR CONTRA CORTES DE BOLSONARO NO “MINHA CASA MINHA VIDA”

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MORADIA | OPOSIÇÃO ACIONA PGR CONTRA CORTES DE BOLSONARO NO
Os deputados argumentam que as verbas previstas para o orçamento de 2020 ão insuficientes / Divulgação/Minha Casa Minha Vida

Parlamentares também estudam convocar ministros ao Congresso para cobrar explicações

Rafael Tatemoto | Brasil de Fato | Brasília (DF) – Parlamentares de oposição ao governo Bolsonaro (PSL) que atuam na Comissão de Desenvolvimento Urbano da Câmara dos Deputados protocolaram nesta terça-feira (10) uma representação junto à Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente da República e o ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto, devido ao corte de R$ 1,9 bilhão no orçamento do programa “Minha Casa Minha Vida”.

Os deputados argumentam que as verbas previstas para o orçamento de 2020 serão insuficientes para tirar do papel até mesmo as unidades habitacionais que já foram contratadas pelo poder público. Eles também estudam convocar Paulo Guedes, ministro da Economia, e Canuto para prestar esclarecimentos no Congresso.

“Consideramos que tais atos, que desconsideram políticas sociais, como o programa ‘Minha Casa, Minha Vida’, representam uma grave violação de direitos humanos e afronta aos direitos fundamentais”, diz o documento.

O texto também pede que a PGR tome providências para que os empreendimentos já contratados pelo Executivo sejam garantidos, além de questionar o governo sob a possibilidade de suspensão dos contratos.

Audiência

Antes do protocolo da representação, a Comissão de Desenvolvimento Urbano ouviu, em uma audiência pública, representantes de organizações populares e sindicais sobre a situação do programa, tanto em áreas urbanas como rurais. Estes relataram dificuldades burocráticas no credenciamento para continuar participando do programa e descreveram o cenário de paralisação: novas unidades não estão previstas, as contratadas para construção não têm dinheiro para serem efetivadas e as já em andamento sofrem com atrasos de recursos.

Daniel Cordeiro, militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), defendeu que o desmonte das políticas habitacionais é parte do programa do governo de Bolsonaro. Por isso, segundo ele, deve haver baixa expectativa de reversão da situação por iniciativa do próprio Executivo, cabendo ao Legislativo tentar barrar os cortes.

“Nesse sentido, é direcionar [o apelo] para os deputados, para a Câmara, onde temos alguma possibilidade de tentar reverter esses cortes e direcionar recursos. É uma irresponsabilidade do governo federal, principalmente com os mais pobres, fazer nos cortes nos programas de moradia”, disse.

A deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ) criticou os cortes, afirmando que a ausência de política habitacional por parte do governo federal levará à proliferação de latifúndios, terrenos e imóveis desocupados pelo país.

“Moradia é um direito básico para se começar a viver com dignidade. É um quadro grave, de desespero para o trabalhador. Nenhuma ilusão com esse parlamento, com esse governo que não tem apreço pela democracia. Negar moradia para o povo é também expressão do desprezo pela democracia”, apontou.

Além de Perrone, assinam a representação à PGR os deputados Paulo Teixeira (PT-SP), Joseildo Ramos (PT-BA), Marcelo Nilo (PSB-BA), Alencar Santana (PT-SP), José Carlos (PT-MA) e José Ricardo (PT-AM).

Edição: Daniel Giovanaz

EM DISCURSO CONTRADITÓRIO, LUCIANO HUCK ELOGIA POLÍTICA ECONÔMICA DE BOLSONARO, MAS DIZ QUE “PAÍS VAI IMPLODIR”

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EM DISCURSO CONTRADITÓRIO, LUCIANO HUCK ELOGIA POLÍTICA ECONÔMICA DE BOLSONARO, MAS DIZ QUE “PAÍS VAI IMPLODIR”
Luciano Huck e Bolsonaro (Montagem)

O apresentador chegou a dizer que é papel do Estado diminuir a desigualdade do país. No entanto, disse também que a economia neoliberal de Bolsonaro “está correta”

Revista Fórum – Durante o Exame Fórum, evento da revista Exame, na tarde desta segunda-feira (9) o apresentador da Globo, Luciano Huck, fez longo pronunciamento sobre a desigualdade que já acompanhou pelo país através de ações de seu programa, Caldeirão do Huck, e chamou a atenção inúmeras vezes sobre a necessidade da elite brasileira de deixar de ser passiva e contribuir com mudanças sociais, se não o país vai “implodir”. No entanto, em determinado momento, Huck se contradiz e diz que a agenda econômica neoliberal de Jair Bolsonaro (PSL) é correta e que “as pessoas querem que avance”.

Durante a palestra, Luciano Huck sustentou a ideia de que sua principal bandeira social é a luta contra a desigualdade. E chegou atribuir ao Estado este papel. “Quem tem o poder de mexer no ponteiro da desigualdade é o Estado, mas não quis me aproximar mais, não estou em partido”, disse. “Podia fingir que não era comigo e ficar no aquário do Projac como um peixinho bem alimentado ou poderia me jogar no oceano”, acrescentou, se vangloriando.

Luciano disse que escolheu a segunda opção – de se jogar no oceano – e explicou que não se associou a partidos políticos, como chegou a ser comentado no período pré-eleitoral no ano passado, preferindo apoiar movimentos cívicos. No entanto, não deixou de elogiar o governo neoliberal de Jair Bolsonaro (PSL), que tem anunciado diversos cortes no orçamento de programas sociais, como Minha Casa Minha Vida, Fies e Bolsa Família. Além disso, por ser de direita, Bolsonaro é inimigo declarado da máquina estatal e tem como um de seus principais discursos o “esvaziamento” do Estado.

“A agenda econômica desse governo é correta, as pessoas não estão torcendo contra, querem que avance. Se melhorar, ótimo. Mas a questão é que a enormidade do país que não depende só disso, de crescimento do Produto Interno Bruto. Depende de serviços e de proteção social”, declarou o apresentador.

Liberalismo econômico
Aliado do pensamento liberal econômico, Luciano Huck tem atuado na política, esquivando-se de ser identificado em bandeiras partidárias. Porém, todos os movimentos dos quais faz parte defendem a adoção de uma política liberal no país em uma sociedade meritocrática – bem diferente dos quadros de seu programa, que dão auxílios pontuais a pessoas que se propõem a participar de “provas” propostas por ele.

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DEFESA DO PATRIMÔNIO | 67% DOS BRASILEIROS DIZEM NÃO ÀS PRIVATIZAÇÕES, APONTA DATAFOLHA

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DEFESA DO PATRIMÔNIO | 67% DOS BRASILEIROS DIZEM NÃO ÀS PRIVATIZAÇÕES, APONTA DATAFOLHA
Projeto privatizante de Guedes e Bolsonaro é rechaçado por ampla maioria da população / Antonio Cruz | Agência Brasil

Intensa campanha contra empresas públicas não conseguiu convencer população de que vendê-las é bom negócio para o país

Redação | Brasil de Fato | São Paulo (SP) – Pesquisa Datafolha divulgada nesta terça-feira (10) pelo jornal Folha de S.Paulo mostra que continua alta entre os brasileiros a rejeição ao projeto de privatização de empresas públicas e desmonte do Estado defendido pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) e seu ministro da Economia Paulo Guedes.

Mesmo com apoio unânime dos meios de comunicação de massa à campanha contra as empresas públicas, o governo não conseguiu convencer a população de que se desfazer delas seja o melhor negócio.

Segundo a pesquisa, 67% dos brasileiros são contra as privatizações, enquanto apenas 25% se dizem a favor. Os demais se disseram indiferentes ou não souberam responder.

O resultado mostra pouca alteração em relação ao último levantamento sobre o tema, divulgado em novembro de 2017, quando os números eram 70% contra 20% a favor.

Na pesquisa atual, os maiores índices de aprovação estão entre os eleitores de Bolsonaro (39%) e entre os mais ricos, com ganhos superiores a 10 salários mínimos (50%).

Edição: João Paulo Soares

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MEMÓRIA | PROJETO ARGENTINO APRESENTA CARTAS ENVIADAS A LULA NA VOZ DE PERSONALIDADES POLÍTICAS

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MEMÓRIA | PROJETO ARGENTINO APRESENTA CARTAS ENVIADAS A LULA NA VOZ DE PERSONALIDADES POLÍTICAS
Estela de Carlotto, da Associação Avós da Praça de Maio, é uma das personalidades que dá voz e rosto às cartas enviadas à Lula / Rádio La Uni

“Cartas para Lula” é uma iniciativa de historiadores da Argentina em parceria com a rádio de uma universidade pública

Redação* | Brasil de Fato | São Paulo (SP) – O projeto Cartas para Lula, realizado pela Universidade Nacional de General Sarmiento (UNGS), foi apresentado nessa segunda-feira (09) durante a Aula Magna da Universidade Metropolitana para a Educação e o Trabalho (UMET), em Buenos Aires, na Argentina.

Cartas para Lula consiste em uma série de dez podcasts que retoma, na voz de importantes personalidades políticas e culturais do país, algumas das mais de 15 mil cartas que o ex-presidente brasileiro recebeu desde sua prisão no dia 7 de abril de 2018. A iniciativa busca divulgar a solidariedade e o reconhecimento do povo brasileiro ao líder do Partido dos Trabalhadores (PT) e denunciar sua prisão política.

Participam dos dez episódios personalidades como Taty Almeida, dirigente das Mães de Maio Linha Fundadora, o sociólogo Horacio González, a cantora Liliana Herrero e Estela de Carlotto, uma das fundadoras da Associação Avós da Praça de Maio.

A proposta está baseada no projeto prévio Linhas de Luta, uma exposição lançada um ano após a prisão do ex-presidente e dedicada às cartas que ele recebeu no período, em uma iniciativa de historiadores e historiadoras de diversos países.

O lançamento do projeto argentino contou com a presença de diversos integrantes de organizações sociais, estudantes e professores. Participou da Aula Magna a reitora da Universidade Nacional General Sarmiento (UNGS), Gabriela Diker – uma das personalidades que dá voz e rosto às cartas de Lula. “Muitas vezes nos perguntamos qual é a função de uma universidade pública e eu acredito que a função de uma universidade pública está refletida, por exemplo, neste trabalho”, expressou.

Durante o evento, a historiadora Maria Paula González, uma das integrantes do projeto, afirmou que a iniciativa foi realizada pelo reconhecimento de que as cartas enviadas ao ex-mandatário representam um “tesouro histórico e político” e que, num contexto de perseguição político-judicial, corriam o risco de desaparecer.

Os dez episódios de Cartas para Lula foram ao ar na rádio da UNGS, FM La Uni, e podem ser ouvidos gratuitamente no Spotify ou no canal do YouTube da emissora [em espanhol].

*Com informações do Página12.

Edição: Luiza Mançano

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