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Macacos, distrito do município de Nova Lima, foi um dos locais evacuados / Foto: Daniel Protzner/ALMG
Assim que a barragem de Brumadinho rompeu, em janeiro, pelo menos seis cidades tiveram alertas de risco
Rafaella Dotta | Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) – No final de janeiro, o pânico se espalhou por Minas Gerais. As mortes e a lama da barragem da Vale, em Brumadinho, fez com que muita gente perdesse o sono e a sua própria casa. Barragens da Vale e de outras mineradoras passaram a apresentar níveis 2 e 3 de risco e populações de seis cidades mineiras foram evacuadas às pressas em menos de dois meses.
E como essas pessoas estão hoje? O Brasil de Fato ouviu Luiz Paulo Siqueira, integrante do Movimento Pela Soberania Popular na Mineração (MAM), e Pablo Dias, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), cujas organizações acompanham as comunidades desde os primeiros momentos. E também ouvimos as mineradoras proprietárias das barragens.
Hotéis, depressão e insegurança
Quando falamos das populações evacuadas, a frase mais repetida é “as famílias estão em hotéis, pousadas e casas alugadas”. O que por um lado aparenta a responsabilidade das mineradoras, por outro é a insegurança das famílias atingidas, que não têm garantia de moradia depois de completado um ano de assistência.
Em quase todos os casos a economia foi fortemente atingida. Barão de Cocais e Macacos, por exemplo, viram o turismo praticamente zerar, sem uma contrapartida forte da mineradora ou do poder público. Também em todos os casos há o aumento do adoecimento psicológico. A depressão de quem viveu o terror e as consequências da lama, mesmo que ela não tenha chegado.
25 de janeiro
O rompimento da barragem de Córrego do Feijão, da Vale, desalojou cerca de 200 famílias já nas primeiras horas pós lama. E mais, dois dias depois, a Vale comunicou que a barragem VI estava instável e os 24 mil habitantes de Brumadinho foram orientados a se deslocar para regiões mais altas. Hoje, a mineradora afirma que 105 famílias estão em hotéis, pousadas ou casas de parentes. Todos os moradores de Brumadinho recebem por mês o auxílio emergencial.
8 de fevereiro
A população de Barão de Cocais, a 80 quilômetros de Belo Horizonte, foi também uma das mais aterrorizadas. Apenas duas semanas após o rompimento em Brumadinho, cerca de 500 pessoas se retiraram de suas casas na madrugada de 8 de fevereiro, pois a barragem Gongo Soco, da mineradora Vale, apresentava sinais de que se romperia a qualquer momento. A barragem não se rompeu, mas a população sofre os efeitos há sete meses.
A Vale confirma que 197 famílias estão residindo em casas alugadas, hotéis ou casas de parentes, e receberam uma doação de R$ 4 mil, mais auxílio vestuário de R$ 1 mil por adulto e R$ 500 por menor. Luiz Paulo, do MAM, relata que há uma “dor tremenda” entre os moradores. “As casas, as plantações e os animais de criação ficaram abandonados”. A evacuação gerou problemas na economia da cidade turística, além de aumento da depressão, insônia, pânico e ansiedade, segundo afirma Luiz.
8 de fevereiro
Na cidade de Itatiaiuçu, também próxima à capital, cerca de 200 pessoas foram desalojadas na manhã de 8 de fevereiro, quando a barragem da Mina Serra Azul, da mineradora ArcelorMittal, foi classificada com risco de nível 2. Em julho, mais 25 pessoas foram realocadas. A ArcelorMittal afirma que as famílias estão recebendo auxílio mensal e estão hospedadas em imóveis alugados. Para Pablo Dias, do MAB, a maior insegurança entre os atingidos é o futuro pós um ano, pois não possuem garantias de que o auxílio mensal irá continuar. A mineradora anuncia que está reforçando as estruturas da barragem para seguir com o plano de descomissionamento.
16 de fevereiro
Quase 100 famílias saíram desesperadas de suas casas na noite de 16 de fevereiro, quando a sirene da barragem B3/B4, da Vale, soou. O distrito de São Sebastião das Águas Claras, em Nova Lima (MG), é uma região baseada quase totalmente no turismo ecológico e viu sua economia quebrar. A avaliação de Pablo Dias, do MAB, é que a situação ainda é “caótica”. “A maioria das famílias não foi realocada e recebe vouchers para os gastos. O que cria uma dependência da Vale”, pondera.
Moradores afirmam que a Vale está construindo um muro de contenção próximo à barragem. Estima-se que a desativação total da barragem demore três anos. Hoje, 93 famílias estão em hotéis, pousadas, casas de parentes ou casas alugadas, onde recebem “apoio especializado e responsável de profissionais”, segundo a mineradora.
20 de fevereiro
Itabirito e Ouro Preto: evacuação e impactos psicológicos
Famílias da cidade de Itabirito foram evacuadas e passaram por simulados para o caso de rompimento das barragens Forquilha I, Forquilha II e Forquilha III, da Vale, em Ouro Preto. Moradores alegaram, à época, que não sabiam sequer as rotas de fuga. As três eram parte da lista de barragens da Vale em “severo risco de rompimento” e, caso aconteça, podem soterrar 10 bairros de Itabirito, incluindo o centro da cidade.
A Vale afirma que 12 pessoas de Itabirito estão em moradias provisórias e os atingidos recebem serviços de acolhimento e assistência humanitária nos pontos de atendimento. Luiz Paulo, do MAM, argumenta que à época, 20 pessoas de comunidades rurais de Ouro Preto foram evacuadas. “Em Itabirito teve simulados, mas não teve nenhuma medida da Vale para diminuir os impactos psicológicos e nenhuma ação de descomissionamento foi efetuada”.
16 de março
29 pessoas foram obrigadas a se retirar de suas casas na manhã de 16 de março, segundo a Defesa Civil de Rio Preto, “devido à elevação do nível de água no reservatório da hidrelétrica [PCH Mello, da Vale] e possível ultrapassagem do limite estabelecido pelas normas de engenharia”. As pessoas moravam na área de auto salvamento. Dois meses depois, em 28 de maio, a Vale informou o fim das obras de reforço na barragem e, assim, o encerramento do estado de alerta e retorno dos moradores às suas casas.
12 de agosto
Brumadinho: mais uma barragem
Mais quatro famílias foram retiradas de suas casas em agosto. Desta vez, por um possível rompimento da barragem da Emicon Mineradora e Terraplanagem, que está parada a 10 anos, e poderia atingir a comunidade de Quéias e três pontos da BR 381. A evacuação foi uma determinação da justiça. A mineradora não foi encontrada para responder à reportagem.
Análise: “Essa é uma estratégia antiga das mineradoras”
A epidemia de alertas de risco de barragens causou pânico, mas também trouxe uma “pulga atrás da orelha” às populações atingidas, analisa Pablo Dias. “A estratégia de descomissionamento das barragens é uma estratégia antiga das mineradoras. Elas fazem o reprocessamento – tiram o minério de ferro dos rejeitos para vender. De fato, é bom não ter barragem em cima da cabeça das pessoas, mas o interesse delas é reprocessar o rejeito e lucrar”, declara.
“Em todas essas situações existe uma suspeita da população, inclusive algumas comprovadas, de que a retirada das famílias faz parte de uma estratégia de dominação do território. O risco do rompimento é um mecanismo de fazer com que as pessoas sejam obrigadas a vender o seu terreno”, afirma. Pablo argumenta que em algumas dessas áreas já existem pesquisas sobre a existência de minérios e que seriam do interesse das mineradoras.
Em MG, 28% das barragens foram vistoriadas pós Brumadinho
Segundo o último relatório da Agência Nacional de Mineração, de julho deste ano, 62 barragens de Minas Gerais foram vistoriadas depois do rompimento da barragem de Brumadinho. O estado tem 217 barragens, sendo 141 delas com alto potencial de danos.
Edição: Elis Almeida
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