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FPAbramo | Kjeld Jakobsen – No dia 30 de agosto fez vinte anos que a população timorense decidiu em um referendo patrocinado pela ONU que seu país deveria ser uma nação independente. O Timor Leste é uma antiga colônia portuguesa na Ásia que ocupa cerca de metade de uma ilha que a Indonésia considerava integralmente como sua.
Em 1975, após a Revolução dos Cravos em Portugal, este país decidiu desfazer-se do que restava de seu império colonial, o que efetivamente ocorreu nos territórios que dominava na África, no caso, Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. Porém, quando o mesmo ocorreria no Timor Leste, tropas indonésias ocuparam o território em dezembro de 1975 avaliando que seriam bem recebidas pela população local e que esta ficaria satisfeita em trocar a dominação europeia por uma asiática.
Entretanto, a realidade não foi esta. Os timorenses opuseram-se à ocupação indonésia que durou 24 anos por meio da guerrilha da Frente Revolucionária de Timor Leste Independente (Fretilin) criada em 1974 em oposição à dominação portuguesa e que prosseguiu enfrentando a invasão indonésia como pode. A resistência da população timorense custou a vida de 150 a 200 mil pessoas, quase um terço da população de setecentos mil, fosse pela fome, doenças ou massacres perpetrados pelo exército indonésio. Apesar da condenação pela Assembleia Geral da ONU, a ocupação indonésia foi tolerada pelas grandes potências ocidentais e interpretada como parte da disputa com o bloco socialista.
Quando o ditador Suharto da Indonésia foi deposto e este país minimamente redemocratizado, viabilizou-se uma negociação que levou à convocação do referendo em 1999, auspiciado pela ONU, para a população local decidir seu destino e 78,5% dos timorenses votaram a favor da independência. Não foi uma decisão fácil, pois grupos paramilitares vindos do lado ocidental da ilha do Timor, território indonésio, ameaçaram, agrediram, sequestraram e mataram muitas pessoas para pressionar a população contra a declaração de independência. Cerca de cem mil pessoas foram forçadas a se refugiar do lado ocidental.
A violência extrapolou após o anúncio do resultado com ataques mais graves, bem como a destruição de residências e instalações governamentais levando o Conselho de Segurança da ONU a aprovar uma intervenção militar no Timor Leste, que foi efetivada por tropas da Austrália.
A situação econômica e social do Timor Leste em 1999 era extremamente precária. Em todo o país havia apenas dezenove médicos e a expectativa de vida era inferior a 60 anos. A taxa de desemprego em 2001 era de 9,9% dos trabalhadores formais, absolutamente minoritários no país. O Estado timorense teve que ser construído literalmente das cinzas deixadas pela ocupação e pelos paramilitares. A partir de 2009, foram investidos trinta milhões de dólares em formação universitária para gestores de governo e em 2018 foram definidos os limites marítimos com a Austrália, decisão importante para possibilitar a exploração de petróleo e gás natural no Mar do Timor.
Embora ainda existam pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza e a desnutrição infantil também esteja presente, houve avanços importantes nesses vinte anos. O IDH do Timor Leste o situa como o 132° entre 190 países. Hoje há a presença de aproximadamente mil médicos graças à cooperação cubana e a expectativa de vida é de 69 anos para os homens e 70 anos para as mulheres, em média. Doenças como a lepra deixaram de existir e a malária que era endêmica em 2002, não apresentou nenhum caso em 2018. O desemprego caiu para 3,4% em 2017, embora ainda fosse 11,6% entre os jovens. A taxa anual de homicídios é de 3,9 para cem mil habitantes.
Ou seja, se persistir a mesma disposição que os timorenses tinham no passado para enfrentar a opressão continuar a ser aplicada no desenvolvimento atual, o Timor Leste, apesar de ser um país pequeno e distante dos centros mundiais, tem plenas condições de oferecer uma boa vida para seu povo.
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