ENTREVISTA | SECRETÁRIO DE DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO DE PE DEFENDE CONSÓRCIO NORDESTE E AGROECOLOGIA

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ENTREVISTA | SECRETÁRIO DE DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO DE PE DEFENDE CONSÓRCIO NORDESTE E AGROECOLOGIA
Dilson Peixoto atuou no movimento sindical e foi vereador por quatro mandatos / Evane Manço

Dilson Peixoto também saiu em defesa do Centro Paulo Freire, no assentamento Normandia, em Caruaru

Marcos Barbosa | Brasil de Fato | Recife (PE) – Na tarde desta sexta-feira (13), em entrevista ao vivo ao Programa Brasil de Fato Pernambuco, o secretário de Desenvolvimento Agrário de Pernambuco Dilson Peixoto falou sobre os projetos e articulações que têm sido desenvolvidas no âmbito do Consórcio Nordeste, agroecologia, transposição do Rio São Francisco e ameaça de despejo contra o Centro Paulo Freire, em Normandia, Caruaru. O programa foi ao ar na Rádio Clube 720 AM e já se encontra disponível para escuta na íntegra.

Com longa atuação na política e crítico ao governo de Jair Bolsonaro (PSL), o secretário avalia que o Consórcio Nordeste é a melhor opção possível para o desenvolvimento regional diante do cenário atual. Ele afirma que o consórcio federativo, que tem como primeiro presidente o governador da Bahia Rui Costa, está previsto na lei e se propõe a “responder às demandas do povo” através da criação de políticas que, em vez de possibilitarem um impacto e desenvolvimento apenas em nível local, atinjam também âmbito regional.

Ainda segundo Dilson, a iniciativa dos governadores do Nordeste foi motivada pelos posicionamentos da presidência da República que, desde as últimas eleições, já manifestava publicamente uma postura de discriminação à região. “O presidente faz questão de deixar claro que não governa para todos, mas para alguns. Isso tem sido dito reiteradamente. A primeira reação de Bolsonaro aos nossos primeiros contatos foi dizer que não nos atenderia porque, se dependesse dos governadores do Nordeste, o presidente da República seria [Fernando] Haddad e não ele [Bolsonaro]”, declara.

O secretário do estado afirma que, portanto, a ideia é potencializar as similaridades entre os gestores estaduais de toda a região. “A nossa região tem larga extensão territorial e parte importante das riquezas do nosso país está aqui. O Nordeste tem petróleo, vegetação, litoral, produção, capacidade de construir suas alternativas. É evidente que precisamos do país, assim como o Brasil precisa de nós”, frisa.

Além das relações a nível regional, ele afirma que o Consórcio também tem sido um importante instrumento para relações internacionais, construindo alternativas, por exemplo, com países europeus. Dilson, que considera a política internacional de Bolsonaro “uma tragédia” e “quase que automaticamente alinhada aos Estados Unidos”, afirma que tem sido feitos esforços para desenvolver políticas e parcerias com lideranças de todo o mundo, apesar do desgaste do presidente frente a diversos países.

Desenvolvimento Agrário

Em relação a projetos de desenvolvimento agrário junto ao consórcio, o secretário de Pernambuco defendeu uma linha de ação que pense a convivência com o semiárido. “Precisamos ter a capacidade de melhorar o balanço hídrico. Já temos tecnologias suficientes para isso. O que precisamos é potencializar isso”. Ele citou, como exemplos, a questão dos canais do São Francisco, os sistemas simplificados de abastecimento de água, a construção de barreiras e o uso de dessalinizadores, que estão em fase de implementação.

Outro eixo apontado por ele é o desenvolvimento de culturas que se adequem ao semiárido. “Temos fortemente a ovino e capricocultura, animais que convivem de maneira harmônica com o fenômeno da pouca água. Então, a gente quer criar um amplo programa de alimentação não só para o gado bovino, mas também caprino e ovino”, exemplifica, completando que a ideia é levar essa discussão para outros estados, para potencializar em todo o Nordeste.

Como outras potencialidades da agricultura e pecuária pernambucanas, que o secretário apontou que podem acrescentar bastante no desenvolvimento a nível Nordeste por meio do consórcio, estão as bacias leiteiras, o fornecimento de sêmen de animais para melhorar a qualidade dos rebanhos através da inseminação artificial e o fornecimento da palma, alimento que ele afirma ser capaz de melhorar a qualidade do rebanho.

O secretário de desenvolvimento agrário também citou como estratégia o incentivo à agroecologia e apontou a necessidade de se contrapor à recente liberação de centenas de tipos de agrotóxicos no Brasil. “Como vamos fazer para nos contrapor a isso? Os estados não podem proibir, porque isso [a liberação] só cabe ao Ministério da Agricultura. Mas, podemos incentivar os produtores locais à agroecologia, usando defensivos naturais, uma produção de melhor qualidade e livre de pesticidas e agrotóxicos”, declara.

Para incentivar essa produção, o secretário afirmou a adesão de medidas como a apresentação de novas técnicas de produção aos agricultores, o incentivo a feiras orgânicas e a certificação dos produtos orgânicos, com o objetivo de criar um novo mercado, escoar a produção e alavancar a agricultura familiar.

De acordo com Dilson, em Pernambuco, todos os setores produtivos agrários contam com a força e a presença da agricultura familiar e o Consórcio Nordeste também irá se debruçar sobre esse assunto. Ele reforçou que a agricultura familiar tem um papel fundamental e que grande parte dos alimentos que chegam à mesa das famílias brasileiras é oriunda da agricultura familiar. O secretário lembrou, também, que agricultura familiar emprega milhões de pessoas em todos o Brasil e precisa ser vista como uma alternativa viável de vida, inclusive, para diminuir o êxodo rural, por isso se comprometeu a fortalecê-la.

Como exemplo, ele citou um posto fiscal em distrito de Petrolina, onde foi solicitada a concessão do prédio para construção de um centro de logística. “Uma Ceasa específica para a agricultura familiar que produz fruta na região. É um ambiente grande, que vai permitir beneficiar ainda mais a produção de frutas no sertão do São Francisco”, acredita.

Transposição

Em relação à paralisação das obras de transposição do rio São Francisco, que tem impactado municípios do interior de alguns estados nordestinos, Dilson Peixoto reconheceu a importância da transposição para a região do semiárido e apontou que obras estão se deteriorando e cidades estão sem abastecimento hídrico devido à falta de bombeamento de água.

“O grave é que não só impede a população de ter acesso àquela água, que é fundamental, como também tem obras de concreto, que são lâminas de água, e que sem água tendem a se dilatar e ressecar, o que levará a vazamento. Não tenho dúvidas que o Brasil irá gastar mais alguns milhares de reais para consertar o estrago dessa falta de bombeamento de água para larga parcela do sertão paraibano”, lamenta.

Despejo

Ainda durante a entrevista, o secretário Dilson Peixoto disse estar acompanhando com muita preocupação o pedido de reintegração de posse efetuado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), referente ao Centro de Formação Paulo Freire e três agroindústrias dos assentados, localizados no assentamento Normandia, na zona rural de Caruaru.

Ele afirma que soube da notícia através de Jaime Amorim, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e assentado em Normandia, e que, desde então, tem estado em diálogo com o governador de Pernambuco, Paulo Câmara. Dilson reforça que já iniciou um trabalho de mediação e que se reuniu com o atual superintendente do Incra, coronel Marcos Campos de Albuquerque, para comunicar a disposição do governo por uma negociação.

Dilson explica que o coronel tem se colocado “à disposição para resolver” a questão e que “ficou claro que essa motivação recente não foi dele, mas da Procuradoria Federal que provocou o juiz para que executasse a sentença desde 2008. Efetivamente, não foi o coronel Campos que motivou isso e ele tem mostrado que também espera encontrar uma solução negociável”.

“Ele, o superintendente, ficou de tentar articular qual seria o posicionamento da direção nacional do Incra e do próprio governo”, declara Dilson. O secretário acrescenta, ainda, que nesta sexta-feira (13), o próprio juiz federal Tiago Antunes de Aguiar, da 24ª Vara Federal, em Caruaru, soltou despacho onde, na prática, suspende o processo e dá 10 dias para que o Incra se pronuncie quanto à abertura de um processo de conciliação.

“Agora, a ‘bola’ voltou para o Incra, para ver se o presidente nacional responde positivamente. Imediatamente, já nos comunicamos com o superintendente regional para lembrar a ele que o governo de Pernambuco se coloca à disposição para encontrar uma solução. Nosso papel é mostrar que não estamos transparentes a isso, pelo contrário, a gente quer ser parte disso. O estado quer ajudar a resolver esse impasse, pelo papel fundamental que tem o Centro”, salienta o secretário.

Dilson afirma, ainda, que o Centro Paulo Freire é um espaço fundamental para o estado, por exemplo, por suas parcerias com as universidades e escolas de Pernambuco, inclusive com as agroindústrias, que atualmente fornecem merenda escolar para Caruaru e Recife. “Esse é um espaço que interessa ao povo pernambucano, não podemos abrir mão dele de jeito nenhum e temos trabalhado no sentido de buscar uma saída negociável para a questão”, frisa.

Edição: Monyse Ravena

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