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Após o encontro privado, que durou uma hora, a arquiteta foi à Vigília Lula Livre para relatar as impressões do diálogo com o petista / Foto: Joka Madruga
Para Mônica Benício, o assassinato da vereadora e a prisão do ex-presidente são retratos da injustiça brasileira
Emilly Dulce | Brasil de Fato | São Paulo – A arquiteta Mônica Benício, viúva de Marielle Franco, e o escritor cubano Leonardo Padura visitaram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba (PR) nesta quinta-feira (15). Após o encontro privado, que durou uma hora, ambos foram à Vigília Lula Livre para relatar as impressões do diálogo com o petista.
Luta, resistência e injustiça. Essas foram as palavras que a arquiteta usou para definir a similaridade entre os casos Lula e Marielle – vereadora assassinada em 14 de março do ano passado junto de seu motorista, Anderson Gomes, na região central do Rio de Janeiro (RJ).
“Encontrei um presidente que me inspirou bastante a seguir lutando, e acho que o recado para todos é que a gente siga com resistência e esperança. Uma frase que ele disse e me marcou muito foi que ‘nunca tivemos tanto motivo para lutar’”, afirmou a arquiteta.
“[Lula] Citou também uma frase de Mia Couto [escritor moçambicano] que me marcou bastante. Ele disse que ‘em tempos de medo, o ódio procura se esconder dentro do monstro, e as pessoas procuram abrigo dentro do monstro’. Eu acho que tem muito mais gente boa no mundo do que gente má ou com medo”, completou.
Para a arquiteta, o momento é de resistência coletiva em defesa da retomada da democracia brasileira. Isso depende, segundo ela, da libertação de Lula e da resposta à pergunta: “Quem mandou matar Marielle?”.
Passados mais de 500 dias da execução da vereadora, Benício afirmou que é “profundamente emocionante” testemunhar a simbologia que Marielle ainda representa e que, segundo ela, ressignifica a luta e a própria noite do assassinato.
“Além de muito doloroso e lastimável, é profundamente vergonhoso. Não só como companheira, mas enquanto brasileira, é terrível perceber que o Estado consegue prender um hacker, mas não consegue responder quem matou uma parlamentar eleita. Eu não sei se o Estado não consegue ou não quer. Então, a cobrança, mais do que nunca, se faz necessária, porque gera uma sensação de conformismo que não pode acontecer”, analisa.
Mais cedo, a arquiteta também visitou o “Espaço Marielle Vive!”, centro de formação e cultura instalado ao lado da Vigília Lula Livre. Inaugurado em setembro do ano passado, com a presença dos pais de Marielle, o espaço oferece alojamento, alimentação e cursos para militantes. A iniciativa é uma parceria do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
“É muito inspirador ver essa imagem da Marielle. Isso ameniza um pouco a dor, principalmente porque ela tinha uma relação de muito respeito e admiração pelo MST”, ressaltou.
O escritor e jornalista Leonardo Padura, autor do clássico “O homem que amava os cachorros”, também enfatizou os 495 dias de resistência da Vigília. O cubano falou do carinho, respeito e admiração por Lula e também ressaltou o senso de humor do ex-presidente diante das adversidades.
Todas as quintas-feiras, Lula recebe a visita de amigos e companheiros de militância, especialmente de intelectuais e ex-chefes de Estado. Para Padura, antes de ser escritor, é preciso ter senso de justiça e responsabilidade como cidadão.
“Acredito que foi cometida uma injustiça com um homem que não merecia, por isso vim até aqui render minha solidariedade e meu respeito. Falamos de muitas coisas e, em alguns momentos, ele fez comentários engraçados, principalmente considerando a condição que está, me parece muito bom que ele mantenha o senso de humor”, disse.
“Encontramos um homem obstinado a provar sua inocência, mas também um retrato do que é a injustiça desse país, de um homem da grandeza do nosso presidente em uma sala como essa”, completou a arquiteta.
VÍDEO:
https://www.facebook.com/brasildefato/videos/895166357509345/
Edição: Daniel Giovanaz
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