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O economista Marcio Pochmann, durante coletiva quando era presidente do IPEA / Antonio Cruz | ABr
Pequena alta do PIB não esconde prejuízo de 90% da população com políticas neoliberais, aponta economista
Juca Guimarães | Brasil de Fato | São Paulo (SP) – A ligeira alta de 0,4% no Produto Interno Bruto (PIB), divulgada na quinta-feira (29) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e comemorada pelo governo, não é suficiente para esconder a estagnação da economia brasileira nem sinaliza para dias melhores, na opinião de economistas ouvidos pelo Brasil de Fato.
O economista Marcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo, lembra que o PIB brasileiro caiu 5 pontos desde 2014, ao passo que a população cresceu 4%. Juntando os dois índices (menos dinheiro pra repartir com mais gente), ele chega à conclusão de que a renda dos brasileiros caiu 9% nesse período.
Dadas as diretrizes econômicas que privilegiam o mercado financeiro, implantadas a partir do governo Michel Temer (MDB) e aprofundadas por Jair Bolsonaro (PSL), Pochmann não tem dúvida sobre quem está pagando a conta da estagnação.
“Os 10% mais ricos estão conseguindo aumentar a apropriação na renda nacional, enquanto 90% vêm perdendo participação na renda, principalmente os mais pobres. Nesse regime em que a economia praticamente não cresce, os lucros financeiros vêm aumentando, o que justificaria permanecermos por um longo tempo com a economia praticamente patinando sem ter um roteiro de crescimento”, disse.
Segundo um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre), o Brasil precisaria de mais R$ 338 bilhões no PIB pra chegar no mesmo patamar pré-crise econômica, nos governos Lula e Dilma. Até agora, a economia teve uma recuperação de 30% dos R$ 486 bilhões perdidos na crise. É a pior performance de expansão do PIB em 40 anos.
Para o economista Guilherme Melo, o desempenho se relaciona diretamente com outros problemas do país.
“Depois de dois anos de recessão, 2015 e 2016, o PIB entrou em um período de longa estagnação, com crescimento muito baixo, o que faz com que o desemprego fique alto, os salários baixos e isso caracteriza um cenário de depressão econômica. A única boa notícia é que a gente não entrou no que os economistas chamam de recessão técnica, que são dois trimestres seguidos de queda. Porque no trimestre anterior o PIB caiu. Se tivesse caído teríamos uma recessão dentro de uma depressão, o que seria terrível”, disse.
Suaviza, mas não resolve
Até aqui, a única medida do governo bolsonaro para reanimar a economia foi a liberação de saque de parte do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). A partir de setembro, os trabalhadores com contas no fundo (ativas ou inativas) poderão sacar até R$ 500. Entre 2019 e 2020, a iniciativa deve somar R$ 42 bilhões a mais no mercado.
“A liberação do FGTS tem um efeito suavizador, mas, assim como foi em 2018, quando o governo Temer teve iniciativa equivalente, essa liberação não se mostra suficiente para estimular o consumo. O que é fundamental. Estamos com o setor produtivo com alta capacidade ociosa. Poderia produzir mais, mas não produz porque não tem demanda. Os estoques dos produtos estão acima do esperado”, disse Pochmann.
Além da falta de políticas para induzir uma retomada consistente do crescimento, o país ainda deve sofrer os efeitos da crise econômica na Argentina, que decretou moratória de pate da dívida nesta semana, e da disputa comercial cada dia mais acirrada entre China e Estados Unidos. Os três são os mais importantes parceiros comerciais do Brasil.
“O clima externo mostra um risco do mundo entrar em recessão em 2020”, alerta Pochmann.
Edição: João Paulo Soares
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