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Nascido em Nápoles, comunista libertário por convicção, professor e escritor, Giuseppe Aragno (foto) diz que “ensina para viver, mas aprendeu e vive aprendendo”.
Esquerda Online | Por Rogério Freitas – Foi professor de História Contemporânea na Universitá Degli Studi di Napoli Federico II. Em 1995 ganhou o Prêmio Laterza por uma coletânea de poemas. Seu coração pulsa mesmo quando o tema é antifascismo. Entre suas principais obras estão “I compagni mi vendicheranno: lettere di condannati a morte della resistenza italiana” (2006), “Antifacismo popolare: storia di storie” (2009), e “Le quattro Giornate di Napoli: storie di antifacisti” (2017). A entrevista que segue foi conduzida por Rogério Freitas para o Esquerda Online. Aragno conversa sobre a resistência italiana, revoltas populares, crescimento da extrema direita no mundo, atualidade política italiana e similaridades entre governos neo-fascistas de Salvini e Bolsonaro. Destaca que a história das lutas dos trabalhadores, do antifascismo e da resistência agora fazem parte do nosso DNA.
Esquerda Online – Todo mundo conhece Nápoles como a cidade italiana da boa comida. Lugar onde a pizza margherita foi inventada. Poucos sabem, porém, que em 1943 ocorreu uma revolta popular de libertação de Nápoles dos nazifascistas. A insurreição ficou conhecida na história como os “Quatro dias de Nápoles”. Um dos seus últimos livros foi justamente sobre esse tema. Quais foram as motivações para escrever esse livro? Que histórias antifascistas você conta e qual a importância deste evento para a memória coletiva?
Giuseppe Aragno – O poder não ama histórias vitoriosas de povos em luta: são exemplos perigosos. Para os “Quatro Dias de Nápoles”, o vestido foi feito sob medida pela história oficial: revolta espontânea, apolítica, isolada da “história nacional”, populares inconscientes em busca de heroísmo. Um conto de fadas tão confiável que quando Nanni Loy reconstrói a insurreição em um filme que segue o rastro da luta popular e espontânea, mas menciona um líder antifascista, o alemão Steinmayr, diretor do “Stern”, responde a partir de uma raça superior: “uma revolta contra o estrangeiro opressor, na cidade de bandolins e pizzas” só pode ser “uma confusão entre famintos e prostitutas”. Anos mais tarde, em 1992, Claudio Pavone, um historiador da Resistência italiana, insiste nos “lazzari” (1) dos “Quatro Dias” que – diz ele – estão do lado certo, mas ele não percebe que seus “heróis apolíticos por acaso” retornam a imagem deformada de combatentes civis napolitanos vistos pelos nazistas atacados, que os chamam de “desonestos”. Um “ladino (dialeto)” que, com mais sentido histórico de nossos historiadores, é muito sensível à propaganda “subversiva”.
No imaginário coletivo, Nápoles, prisioneira do clichê da “cidade de plebe”, um símbolo de negligência política e chantagem nunca foi a primeira grande cidade européia a impor a rendição aos nazi-fascistas. Houve de fato confrontos armados esporádicos, mas houve confrontos entre a retaguarda nazista defendendo as rotas de fuga para o norte, e bandos de “lazzari” que atiravam das esquinas das vielas.
Para apagar essa falsa imagem e dar uma cara política à revolta, eu tentei reconstruir a resistência à ocupação nazista e devolver a palavra aos antifascistas: verdadeiro motor da revolta. Assim, surgiram histórias esquecidas de políticos perseguidos, o papel que desempenharam durante a ditadura e depois no laboratório político que foi a cidade libertada, quando começou a projetar a República. Reconstruir os caminhos humanos e políticos dos combatentes, alguns dos quais fazem então a guerra de libertação foi decisivo em demonstrar que o mito da cidade do sol, mar e pizza, que surge, então retorna indiferente, não ingênuo: ofusca o confronto de classes e diminue a fidedignidade dos fatos.
EOL – Em 2013 eu tive a oportunidade de ouvi-lo durante um discurso na Biblioteca Brau da Universidade Federico II ocupada, naquela época, por alunos e pesquisadores devido a uma reivindicação pelo direito ao estudo. Você falou de autoritarismo e disse que o fascismo nunca realmente desapareceu. Em tempos de ameaça democrática por governos autoritários como Salvini na Itália, Trump nos Estados Unidos e Bolsonaro no Brasil, que paralelos podem ser traçados hoje com o que fora o nazi-fascismo de outrora?
Depois dos acontecimentos dos últimos seis anos, o conceito de “autoritarismo”, usado na conferência que você se lembra já não é suficiente para descrever a realidade que eu, você e milhões de cidadãos como nós, vivemos em contextos sociais e políticos distantes uns dos outros, mas, somos unidos por um fato muito preocupante: a relação cada vez mais desequilibrada entre o poder e as regras que estabelecem seus limites. Uma relação que, no que diz respeito ao poder, não é apenas desdenhosa da democracia, mas assume cada vez mais conotações parafascistas.
Tomemos, por exemplo, o caso de Dilma Rousseff. Sem entrar nos méritos da história, acho que posso dizer que há seis anos nenhum político, votando a favor do impeachment da primeira mulher presidente do Brasil, ex-guerrilheira contra a ditadura, diria que votaria pela queda dela em nome daqueles que lhe haviam torturado durante os anos de sua militância. Para não se limitar apenas no Brasil, seis anos atrás, na Itália, o ex-combatente comunista Cesare Battisti não teria sido objeto de troca e prova de amizade entre Bolsonaro e Salvini e acima de tudo, quaisquer que fossem suas responsabilidades, após a extradição, ele não encontraria os ministros Bonafede e Salvini no aeroporto, prontos para se apresentar diante de câmeras complacentes e expor o prisioneiro como um troféu de caça.
De maneiras diferentes, mas em ambos os casos, o ódio aos militantes de esquerda tem sido tão forte e tão deliberadamente demonstrado que é impossível falar de competição política. Tudo aponta para um comportamento vingativo de natureza reacionária. Em muitos aspectos fascista. Digo fascista por um bom motivo: porque seis anos atrás, na Itália, nenhum ministro de centro-esquerda e ou do Partido Democrático-PD teria ousado tratar a questão de imigrantes como Marco Minniti, o antecessor de Salvini. Um ministro, a dizer, forçou a ONU a definir a política adotada contra os imigrantes como “desumana” e assinou um decreto de segurança que contém numerosos elementos presentes em um documento fascista de 1934.
Seis anos atrás, não falaríamos sobre Salvini, Bolsonaro, Trump, Orban e Le Pen, como um grupo de líderes que compartilha tanto um ponto de vista teórico quanto um ponto de vista prático.
Seis anos atrás, não falaríamos sobre Salvini, Bolsonaro, Trump, Orban e Le Pen, como um grupo de líderes que compartilha tanto um ponto de vista teórico quanto um ponto de vista prático. Inevitavelmente, uma degeneração tão rápida do autoritarismo em direção a posições abertamente reacionárias questiona as consciências. É possível identificar as características de um moderno nazi-fascismo na formação desse bloco de direita aparentemente heterogêneo? Bem, de onde eu venho, e partir de sua pergunta, acredito que é mostrado frequentemente que o fascismo e o nazismo são fenômenos históricos definitivamente parte do passado. Morto e enterrado. É um argumento forte, que no entanto ignora fatos indiscutíveis. A Itália, por exemplo, que preservou o Código Rocco, um exemplo insuperável da concepção fascista do Estado, não realizou uma “desfastização” séria e de fato reciclou parte do pessoal político e da burocracia fascista.
A República autorizou Gaetano Azzariti, ex-presidente da corte fascista da corrida, a presidir o Tribunal Constitucional e confiou o treinamento técnico da Polícia Republicana a Guido Leto, ex-chefe da OVRA, a infame polícia política fascista. A lista seria interminável e nem teríamos nem espaço nem tempo para fazê-lo. No entanto, pelo menos alguns dos casos mais significativos merecem ser mencionados. Vincenzo Eula, promotor público no julgamento que condenou Ferruccio Parri, Sandro Pertini e Carlo Rosselli, então procurador-geral da Cassação; Luigi Oggioni, ex-Procurador Geral da República Social Italiana, chegou à presidência do Tribunal de Cassação e foi finalmente juiz do Tribunal Constitucional; Carlo Alliney, um líder na legislação anti-judaica na República Social Italiana, continuou sua carreira sem problemas na Suprema Corte. Nenhum dos cientistas facistas que assinaram o Manifesto da raça pagaram por suas escolhas.
Não é surpreendente que, ignorando a Constituição, Marco Minnitti, Ministro da defesa, tenha admitido os fascistas de “Casa Pound” (organização neofacista de hoje na Itália, NdT) nas eleições políticas de 2018 e Salvini, seu sucessor, de participar dos congressos desta organização neofascista. É necessário notar que é aí, nessa cultura, que se deve buscar as raízes dos elementos de forte racismo presentes na feroz política de imigração desejada pelo Ministério da defesa da Liga do Norte. Salvini não está sozinho em suas escolhas no cenário internacional. Ao propor eliminar a esquerda da vida política do Brasil, Bolsonaro não pretende, sobretudo, cancelar a temporada da experiência integracionista? Por que ele faz isso? A impressão é que pretende trazer de volta às terras latino-americanas a antiga condição de subordinação. Nesta escolha não parece distante do antimeridionalismo, do separatismo disfarçado de autonomismo, da guerra aos imigrantes e aos ciganos que são a substância da concepção política de Salvini e de outros líderes da nebulosa em que a extrema direita atual é colocada dentro e fora da Itália e do Brasil.
Não podemos deixar de temer que o espectro do nazi-fascismo esteja emergindo em um horizonte cada vez mais sombrio.
É claro que Bolsonaro leva ao extremo o populismo machista, homofóbico e racista das classes médias brancas e de direita mais moderadas e “civilizadas”. Todavia sua campanha de ódio, de exaltação da mão dura, que chega a torturar, não liga somente o Brasil à Itália de Gênova em 2001 (durante a reunião do G8 em Gênova centenas de manifestantes foram brutalmente torturados pela polícia, o jovem manifestante Carlo Giuliani foi executado, NdT) mas todos os países onde a polícia colocou as mãos em armas mesmo quando não deveria. Começando nos EUA de Trump. Uma vitória da direita sobre à esquerda neste ou naquele país é fisiológica. Mas quando é agravada simultaneamente em vários países e continentes e nasce em toda parte da longa onda de uma visão hierárquica idêntica da sociedade e das relações entre os povos, na exaltação da homofobia, do misoginismo, do nacionalismo, do racismo e do anti-socialismo, o ambientalismo, baseado no profundo desprezo pela democracia, então sim, então não podemos deixar de temer que o espectro do nazi-fascismo esteja emergindo em um horizonte cada vez mais sombrio.
EOL – Bolsonaro ganhou as últimas eleições no Brasil. O clima obscuro e pesado atual no país se assemelha somente com a ditadura militar nos anos 1960. O discurso de ódio tem sido uma arma de Bolsonaro para a gestão do país. Discursos políticos, redes sociais, televisão e meios de comunicação de alguma forma têm moldado e potencializado cada vez mais a “palavra como expressão”. Na sua opinião, a “palavra” tem se tornado mais fascista ou tem sido um instrumento antifascista nos dias de hoje? E como Bolsonaro é visto na Itália e Europa?
Não tenho uma experiência direta para relatar, mas tenho boas razões para acreditar que o clima pesado que está se desenvolvendo no Brasil é semelhante ao dos tempos da ditadura militar em um contexto internacional. Não me atrevo a previsões, mas parece claro para mim que, com Bolsonaro, o anti-sistema levou um golpe, elementos da “barbárie local” foram inseridos em uma crise do capitalismo que é, antes de tudo, uma crise de civilização.
Nesta situação, um discurso sobre o valor da “palavra” deve ser feito, porque, se o fascismo entendeu o valor estratégico da comunicação e de uma linguagem imediata que expressa uma visão do mundo em formas sintéticas e curtas como slogans, Salvini e Trump também usam uma linguagem imediata, buscando contato direto e as formas e tons de diálogo pessoal. Esta característica “técnica” nos discursos dos líderes atuais está unida – e isso também era típico da linguagem fascista – uma tendência constante para forçar o significado da palavra em um sentido pejorativo.
No ataque ao oponente, por exemplo, frequente, quase sistemático é a nota ofensiva. Virilidade – um ponto fixo no modo de ser da direita – quase não faz sentido se não evoca violência e agressão. Nenhum grande esforço é necessário para compreender outras afinidades significativas. A distância que separa a expressão “foda-se” de Grillo do Movimento 5 Estrelas e do fascismo “me ne frego!” (expressão que significa ‘pouco me importa’ que traduziu um experimento linguístico de manipulação fascista para uniformizar a língua italiana, desprezando os dialetos existentes no país, NdT) é mínima e a acusação de desprezo pelas instituições presentes na descrição de um Parlamento que “deve ser aberto como uma lata de atum” é igual, senão superior, ao encontrado no “salão surdo e cinzento” da memória de Mussolini.
Onde está escrito que um fenômeno histórico não deixe como herança um pensamento e uma linguagem?
Quando na Itália estudiosos como Emilio Gentile insistem no valor histórico definitivo da palavra “fascismo”, esquecem-se de nos dizer onde está escrito que um fenômeno histórico não deixe como herança um pensamento e uma linguagem. Se se refletir sobre as expressões utilizadas por líderes como Salvini e Di Maio, um do Partido da Liga do Norte, e outro do Movimento 5 estrelas, ambos ministros do atual governo italiano, evidencia-se a continuidade entre a linguagem da extrema direita e a fascista torna-se evidente: como os fascistas constantemente questionam as pessoas, muitas vezes em conflito com as elites sistematicamente atacadas. Por outro lado, até mesmo os corpos do Estado sugerem uma reviravolta no sentido fascista de sua função.
Na Itália, há alguns dias, Conte, Presidente do Conselho de Ministros, convocou sindicatos (partes sociais) para uma reunião. Um dia depois, os sindicatos foram convidados por Salvini e pelo ministro da Defesa. O comportamento aparentemente anômalo das partes sociais é outro sem um interlocutor institucional e quando a discussão tem interesses pessoais, sua função muda. Claro, continuamos a chamá-los de sindicatos, mas fingimos ignorar que, em vez disso, eles estão se comportando como corporações. Nesse caso, “a palavra”, por mais silenciosa que seja, é inquestionavelmente fascista. Agora, junto com o valor aparente da palavra, é necessário entender o que se escondem por trás dela.
“Vamos mudar o destino do Brasil juntos. Vamos oferecer-lhe um governo digno, que funcionará para todos os brasileiros, trabalharemos para transformar o Brasil num país democrático!”. Isso foi prometido por Bolsonaro, usando palavras que não parecem de modo algum fascistas. Bolsonaro limitou-se a dizer que a esquerda não havia funcionado para todos os brasileiros. O país foi prejudicado e adulterada a alma democrática. Compartilhada ou não, foi um julgamento político. Fascistas, por outro lado, na tentativa de clarificações, eram, em vez disso, as palavras usadas para se chamarem admiradores da ditadura em seu comportamento mais sangrento. O fascista é – pior ainda – o que Bolsonaro não diz, mas lemos por trás de todas as suas afirmações: a tendência inata de uma violência que se assemelha a sangue, quartéis e soluções de força.
Como você vê Bolsonaro na Europa? Depende. Muitos estão tão longe da política que não sabem quem ele é. A extrema direita olha para ele com admiração e esperança, enquanto o que resta da esquerda o considera um risco mortal. Uma questão, no entanto, é que não há resposta: o que pensarão dele e de que lado aqueles que hoje estão entre os indiferentes estarão no final?
Recentemente Bolsonaro criticou o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Especiais) sobre os dados relativos ao desmatamento na Amazônia. Ele afirmou que os dados do Instituto não eram verdadeiros. Baseado em satélites e alta tecnologia, o INPE mostrou que mais de 1000 km² de floresta amazônica foram derrubadas nos primeiros quinze dias do mês de Julho. Bolsonaro diz que esses dados “atrapalham a imagem do Brasil no exterior”, pois assim não se atrai investimentos de empresários para explorar a amazônia. Na Itália existem lutas em curso como aquela contra os trens de alta velocidade em Val de Susa e o mundo assiste com grande preocupação os perigos das variações climáticas da terra. A pauta ambiental tem se tornado central na esquerda mundial. A reivindicação ambientalista é promissora em termos de resistência global ao capitalismo?
Infelizmente, quando se trata da relação entre questões ambientais e políticas é preciso lidar com blackouts surpreendentes. Isso acontece especialmente no campo de uma “esquerda” hoje auto-estilizada, reduzida à posição humilhante de pai e guardião do pensamento único neoliberal. Na Itália, por exemplo, o Partido Democrático-PD, que cientistas políticos e formadores de opinião obstinadamente colocam no campo da esquerda, fala há algum tempo – e às vezes se sobrepõe – sobre as variações climáticas, um planeta doente e uma necessidade urgente de lançar políticas ambientais que tenham a força de uma terapia de choque. Isso acontece principalmente durante as freqüentes campanhas eleitorais, quando se está caçando votos e sistematicamente promete-se tudo o que não fará em seguida.
Quando se trata, no entanto, de passar para os fatos, a cena muda e começa o refrão que segue os discursos dos corretos sobre as necessidades do mercado e sobre o risco de desestimular os investidores. Nesse ponto, a montanha dá à luz a um rato. Poucos dias atrás, com o seu voto decisivo, o PD manteve vivo o projeto devastador que traz o trem de alta velocidade para Val di Susa, ignorando completamente a longa luta dos habitantes da área afetada. Por muito tempo, infelizmente, na Itália, fomos adiante com esse equívoco, artisticamente construído, de maneira completamente instrumental por aqueles que “ fazem opinião”: o PD, repetido quase obsessivamente, é o maior partido da esquerda moderada. Isso permite que os fortes poderes que são agora os verdadeiros protagonistas da vida política italiana alcancem dois objetivos com um golpe: por um lado, a esquerda é desacreditada, atribuindo a ela um líder muito mais à direita do que a maioria da direita, por outro cobrem-se suas costas para os investidores especuladores que deveria ser seu pior inimigo.
Antes de política, a derrota da esquerda é cultural.
Não sei como as coisas funcionam para você, mas acredito que as diferenças nem sempre são fortes. Quando Bolsonaro questiona os dados do INPE, é baseado em uma certeza que também se aplica à direita italiana; ele sabe que pode fazê-lo, porque está ciente de desfrutar de uma vantagem decisiva por enquanto, da qual a esquerda está lutando para se tornar consciente: ele sabe, isto é, que antes de política, a derrota da esquerda é cultural. E quando este é o caso, por exemplo, quando você é golpeado em nível cultural, não é fácil remediar o político. Para melhor esclarecer esse conceito, não é diferente passar da realidade do Brasil de Bolsonaro para aquela italiana.
Na Itália, uma grande parte da população não só não é capaz de perceber a gravidade das fontes, mas, por mais grave que seja, não está interessada em conhecer a questão. Segundo uma pesquisa internacional – o PIAAC, Programa Internacional de Avaliação de Competências de Adultos – sobre analfabetos funcionais, dos 33 países analisados, a Itália é a penúltima na Europa – precedida apenas pela Turquia – e a quarta última do mundo. Estamos falando de uma enorme massa de pessoas capazes de ler e escrever, mas não de entender facilmente textos simples. Pessoas que não têm muitas habilidades úteis na vida cotidiana, que não conseguem localizar um número de telefone em uma página da Web quando estão no link “Fale conosco” e não conseguem ler o manual de instruções de um celular.
Todavia, nestas condições, às vezes é possível perceber movimentos fortes e até mesmo vitoriosos. Você mencionou o movimento No TAV, e posso confirmar que é uma realidade forte, capaz de constituir um modelo. Falo com o conhecimento dos fatos porque conheço a realidade do movimento e Nicoletta Dosio, sua líder mais representativa, atua como eu em um movimento jovem, mas particularmente ativo e rico em recursos humanos e políticos, o Potere al Popolo. Eu poderia dizer as mesmas coisas para o movimento que surgiu em defesa da água pública e para o que surgiu na Puglia (Sul da Itália) contra um oleoduto devastador. Essas são realidades de combate muito significativas. Ao mesmo tempo, porém, devo reconhecer que estes são movimentos territoriais relativamente pequenos, nem sempre ligados de uma maneira orgânica, que sofrem constantemente de um aperto repressivo severo e que, após a recente aprovação de um decreto sobre segurança, que tem um caráter verdadeiramente fascista, eles correm o risco de pagar caro por sua resistência corajosa.
Há também realidades institucionais lideradas por homens corajosos, como o prefeito de Riace e pelo prefeito de Nápoles, Luigi De Magistris. Quanto ao Potere al Popolo, o movimento de esquerda mais jovem e original nascido na Itália, demonstramos até agora qualidades inovadoras muito significativas e uma grande capacidade de tecer relações com realidades de outros países, desde a Venezuela de Maduro até a “França Insoumise” de Melenchon. Uma nova esquerda certamente pode nascer em torno da agenda que você indica e eu acredito que esse processo é de alguma forma inevitável e já está a caminho. Alguns de nossos jovens mais capazes estão engajados nisso, engajados em uma atividade política internacionalista que constitui em si mesma uma realidade que inicialmente era esperança e hoje eu acho que é um modelo. O tempo dirá para onde podemos ir, mas não tenho dúvidas: é nessa frente que a resistência global ao capitalismo contemporâneo pode e deve surgir.
EOL – No início deste ano a professora de literatura do ensino básico, Rosa Maria Dell’Aria, da cidade de Palermo, foi suspensa por 15 dias por permitir que seus alunos comparassem as leis raciais de 1938 com o atual decreto de segurança de Salvini. Essa fotografia é muita parecida com que vem ocorrendo no Brasil. O presidente, Bolsonaro, e o ministro da Educação, Abraham Weintraub, acreditam que existe um “marxismo cultural” no espaço educativo brasileiro e que isso precisa ser destruído. Uma das várias propostas de Bolsonaro é a criação de escolas militares. Além disso, ambos pretendem tirar o status do pedagogo brasileiro reconhecido internacionalmente, Paulo Freire, de patrono da educação do Brasil. Há alguns anos os Organismos Internacionais como a OCDE e Banco Mundial têm regulado a educação mundial através de mecanismos mais “softs” em termos de políticas educacionais neoliberais como: avaliações, recomendações etc. Não há uma incongruência entre esses governos autoritários e instituições e organizações internacionais que optam por um outro tipo de governança global como a procura pelo consenso?
Não é de surpreender que, tão logo chegue ao poder, a extrema direita se concentre na escola. A antiga história da repressão ensinou os exploradores de todo o mundo que o trabalhador muito ignorante vem agradecer ao empregador que lhe dá trabalho e sofre a demissão como se fosse uma espécie de desastre natural. No entanto, o movimento dos trabalhadores e dos socialistas tem uma história antiga que ainda é rica em ensinamentos. Um deles é, sem dúvida, o valor revolucionário da formação em certos aspectos. O trabalhador que estuda distingue entre o que é concedido a ele e o que é devido a ele. Enquanto o ignorante se curva, o outro luta. Por isso, é natural que um dos pontos mais duros e decisivos de conflito na luta de classes seja a escola, o direito ao estudo e à liberdade de ensino.
Em termos de autonomia de pensamento e espírito crítico, uma escola livre descobriu o czar Alexandre II, que enviou crianças camponesas à escola gratuitamente em 1861, permitiu que estudantes universitários administrassem bibliotecas e alguns anos depois ele foi forçado a fazer retrocesso na frente de uma juventude crítica e consciente. Duvido que Bolsonaro conheça a história da escola, mas acredito que a desconfiança da escola livre, na qual os professores da esquerda ensinam livremente, é instintivamente desaprovada por qualquer político reacionário. Não me surpreende, portanto, que, depois de prometer ao país um governo que funcionaria para todos os brasileiros, hoje ameace os professores de esquerda e, portanto, a liberdade de educação.
Além do gesto sério em si, parece-me particularmente significativo que não nos deparemos com uma linha de conduta exclusivamente brasileira. Berlusconi, na Itália, desencadeou a ira de Deus contra os professores de esquerda. Recentemente, como você lembra em sua pergunta, como prova das tendências fascistas que caracterizam o atual governo italiano, uma professora foi suspensa por não ter impedido seus alunos de concluírem uma pesquisa sobre racismo, expressando a opinião de que Salvini segue o caminho de Mussolini. Acredito, porém, que o caso mais significativo foi o de Lavinia Flávia Cassaro, professora que foi demitida por ter criticado duramente os policiais que defendiam militantes da “CasaPound” – os “fascistas do terceiro milênio” – que batiam em manifestantes antifascistas.
O ataque à escola democrática é realmente revelador neste caso, porque está ligado a uma escolha inaceitável do governo do PD e seu ministro da Defesa, Marco Minniti, que pela primeira vez na história da República, ignorando uma proibição aberta a Constituição, permitiu que um movimento abertamente fascista participasse nas eleições. A professora foi essencialmente demitida porque – não na escola, mas durante uma manifestação – ela expressou seu desdém pela decisão vergonhosa de Minniti, que liderou o caminho para seu sucessor, Matteo Salvini, da Liga do Norte.
O caso brasileiro é muito parecido com o italiano: filmar os professores da esquerda enquanto estão ensinando significa o cancelamento da liberdade de ensinar e a imposição de uma cultura de Estado.
Como você observa corretamente, o caso brasileiro é muito parecido com o italiano: filmar os professores da esquerda enquanto estão ensinando significa o cancelamento da liberdade de ensinar e a imposição de uma cultura de Estado. Uma decisão que obviamente ocorreu no fascismo. Na Itália tudo foi feito para eliminar a escola nascida das lutas de 1968 além de Don Milani, uma referência muito forte para a escola democrática. Nesse caso, não são necessárias meias palavras: quando a política decide atacar o pensamento ou tenta banir um pedagogo, nos deparamos com um processo de fascistização da formação. Não só as operações abertamente repressivas atestam isso. Testemunhar as intervenções externas das agências que reportam aos governos nos processos de avaliação, a imposição de testes que não levam em conta as diferentes realidades territoriais e sociais nas quais os professores atuam, as horas de trabalho livre dadas às empresas e impostas ao governo, os alunos como ferramenta de treinamento, a entrada de particulares em escolas públicas como financiadores. É assim que substancialmente na Itália a escola e a universidade estão sendo privatizadas.
Não sei como funciona a avaliação de pesquisas no Brasil. Na Itália, foi criada uma agência, a Anvur, que não pede à Comissão que leia o trabalho dos estudiosos, mas os classifica de acordo com a importância da editora e as citações de estudiosos estrangeiros, especialmente anglo-saxões. Citações que são obtidas somente se você participar de congressos internacionais; congressos que só podem ser acessados se você estiver em bons termos com os chamados “barões”; bons relacionamentos que são construídos apenas seguindo o caminho do servilismo absoluto. Inútil dizer que um editor grande não publica por exemplo, livros sobre a história do anarquismo ou do socialismo, de modo que o acadêmico que quer fazer uma carreira precisa abandonar os ramos de pesquisa que são impopulares com o poder. O que, na prática, significa impor um controle rigoroso sobre a pesquisa.
EOL – Sobre a luta politica. Você foi um candidato da esquerda nas últimas eleições pelo Potere al Popolo. Qual o panorama da esquerda italiana e quais foram as propostas que você defendia?
A esquerda na Itália é extremamente fragmentada. Antes das eleições políticas de 2018 no Parlamento, o maior partido de “esquerda” era o Partido Democrático- PD, nascido de uma fusão fria entre católicos e ex-comunistas, por anos com posições neoliberais. Considerado de esquerda, foi o Partido que realmente realizou todos os fatos que a direita berlusconiana não pôde fazer ou poderia ter feito em termos de privatização, meio ambiente, grandes obras, ataques aos direitos dos trabalhadores e distorção da constituição antifascista. O PD criou, assim, uma profunda ruptura com as pessoas de esquerda e com os valores em que essas pessoas se reconheciam. Do PD saíram, dando vida a assuntos políticos efêmeros, pequenos grupos de dirigentes e deputados que nunca romperam com o neoliberalismo e não assumiram uma posição clara sobre a União Européia. Entre essas formações, a “esquerda”, liderada por Fratoianni teve algum peso, mas mostrou-se substancialmente subordinada ao PD. Fora do Parlamento, existem pequenas formações comunistas que carecem de seguidores entre a população; um peso tinha até as recentes eleições políticas, o “Partido Comunista da Refundação”, que contava com uma representação mínima no Parlamento Europeu mas, esclerotizado nos grupos de liderança, estava eternamente dividido sobre o tema decisivo das relações com o PD. Todas essas formações políticas tem o descrédito da esquerda entre a população.
Neste clima, nasceu Potere al Popolo, do qual fui o primeiro candidato e hoje presidente da Comissão de Garantia. Nasceu para criar um movimento no qual todos tinham o direito real de falar e escolher, de dar uma referência àqueles que não se sentiam representados, para finalmente passar por um programa autenticamente anti-capitalista e criar uma rede de relações internacionais que existe hoje. Nós não entramos no Parlamento, mas não desaparecemos da vida política porque um projeto político tem futuro quando atende a uma necessidade na história.
A existência de uma esquerda de classe, alternativa ao pensamento único, é hoje uma necessidade profunda da história.
Não estávamos errados: a existência de uma esquerda de classe, alternativa ao pensamento único, é hoje uma necessidade profunda da história. Nosso programa era simples, mas continha opções realmente alternativas. Propusemos a abolição da Constituição do “pacto fiscal” e o orçamento equilibrado, que distorce os princípios sobre os quais a República repousa; a reintegração do Estatuto dos Trabalhadores e o cancelamento da desastrosa “lei do emprego”, que permite o patrão descartar o trabalhador a hora que desejar. Também propusemos uma séria luta contra a evasão fiscal, uma política habitacional financiada pelo redirecionamento dos recursos destinados aos gastos militares, o retorno à escola estatal, a abolição do Anvur e do Invalsi, que estão destruindo nosso Sistema educativo e, finalmente, uma grande batalha de resistência para a proteção ambiental. Infelizmente, a onda efêmera, mas esmagadora, do grilismo (Grillo, do Movimento 5 estrelas) nos parou.
E a crise atual do governo?
Após 14 meses de vida, o governo na Itália desfaleceu. O primeiro-ministro Giuseppe Conte anunciou isso neste 20 de agosto, no Senado. A crise se arrastou desde 8 de agosto, quando o secretário da Liga Norte e ministro do Interior, Salvini, desencorajou Conte e atacou severamente os aliados. Interessante foi ver a imagem: o homem forte da política italiana, que queria poderes plenos, desafiou a Europa, fez o sonho da extrema-direita, saiu da história, mas trouxe uma enorme fadiga ao país: a grave crise institucional que agora encontra no “mito do homem solitário no comando” um povo desanimado. Um mito que nos leva diretamente a pensar na crise do estado liberal e o nascimento do fascismo.
Não é fácil de entender os motivos que levaram Salvini abrir a crise. Podemos pensar que ele dirigiu uma espécie de três Ligas Norte: a desejada por Bossi em 1991, que visava a independência da Padania (as regiões ricas do Norte); a Liga do próprio Salvini e o símbolo eleitoral da Liga norte, que promete pontes de ouro aos odiados sulistas em troca de voto, enquanto pensava em uma secessão disfarçada de autonomia diferenciada. Descoberto o truque e fortemente contestado em todas os lugares no Sul da Itália, o Potere al Popolo denunciou Salvini: pequeno demais no governo para trazer do Norte a autonomia e demasiadamente desacreditado no Sul para torcer pelo seu avanço. Ele perdeu a cabeça e partiu para derrubar a mesa. Forçado pelos acontecimentos, o presidente da República, Mattarella, que por 14 meses apoiou toda infame da Liga, incluindo uma política de segurança da marca fascista – compartilhada por Conte, acordou apenas em agosto – abriu consultas para ver se no Parlamento havia uma maioria que apoia um novo governo.
De um lado, ele encontrará Cinco Estrelas, aterrorizados pelo voto após o desastre europeu e pronto para se aliar ao diabo, para conservar poder e os mandatos. Do outro, a extrema direita, determinada a ir à votação porque estão convencidos de que têm o país em suas mãos. O Partido Democrático, um partido de direita: tolo servidor da União Européia e recém saído dos desastres de Renzi, um verdadeiro inimigo dos trabalhadores e dos pobres. Dividido internamente, mas com um rótulo à esquerda – inventado por uma imprensa que na nossa avaliação é quase inteira patronal – será capaz de vender fumaça e usar toda a arte italiana de mudar tudo de modo a não mudar nada.
Se se votar, metade do país, sem representação, não irá votar. Vença a direita parafascista de Di Maio ou o Partido Democrático de Renzi, que às vezes é mais parafascista que os salvianos, os pobres serão massacrados pelo neoliberalismo. Na melhor das hipóteses, se houver uma reação, restará um novo referendo. A única vantagem possível pode vir somente com o tempo, que terá disponível quiça à esquerda do PD na criação de uma alternativa. Falamos de tempos estreitos, pequenas forças como o Potere al Popolo e quem sabe, o que gira em torno de De Magistris. A crise institucional e econômica, no entanto, poderia atuar como um forte acelerador disso. Se, como é evidente, o renascimento da esquerda é uma necessidade da história, no fundo da horrível escuridão que nos cerca há uma pequena luz. Devemos ir a todo o custo nessa direção, lembrando que há uma constante no caso humano: depois de todo inverno frio da história, as razões para a força bruta sempre deram lugar à força das razões certas.
EOL – Estamos vendo nos últimos tempos o falecimento dos últimos partigiani italianos, como por exemplo, Liliana Pacini, Ugo Morchi e Emma Fighetti, esta última a “a costureira da resistência” que transformou seu ateliê em uma base para atividade antifacista. Na sua opinião, como a geração presente pode ser antifacista? Quais as principais lições que podemos apreender dos partigiani da Resistência e como não ser indiferente?
Acredito que nas profundezas da pessoa humana, o amor pela liberdade e um senso de dignidade encontram um lugar decisivo. Não estamos cientes disso até que as circunstâncias da vida nos levem a descobri-lo. O que acontece ao nosso redor hoje em dia é, de fato, um convite contínuo e talvez irresistível para lutar pela liberdade e pela dignidade, que é defendida acima de tudo graças a um mínimo de independência econômica. Tenho outra profunda convicção: acredito que a história das lutas dos trabalhadores, do antifascismo e da resistência, agora fazem parte do nosso DNA. Para que os jovens saiam da apatia da derrota e se rebelem contra a injustiça, os idosos devem se tornar exemplos vivos do que aconteceu, das lutas que experimentaram, dos sonhos pelos quais lutaram. É tarefa deles conectar o fio da memória do passado àquele que leva ao futuro. O conhecimento é em si mesmo um instrumento de luta e semente de revolução.
Em nome dessa crença, gostaria de encerrar esta entrevista e responder sua última pergunta, usando as palavras escritas aos amigos de Giacomo Ulivi, um jovem partigiano italiano, antes de abordar o pelotão de fuzilamento. Para mim, não se trata apenas de um testamento, mas um programa de luta: amigos,
“[…] gostaria que, despreparados e sobrecarregados com erros recentes, pensássemos no fato de termos que refazer tudo. De casas a ferrovias, de portos a usinas elétricas, de indústrias a campos de trigo; quantos de nós esperamos, no final dessas situações, começar uma vida laboriosa e tranquila, dedicada à família e ao trabalho? Muito bem: é um sentimento geral, generalizado e satisfatório. Mas nesta necessidade de silêncio é a tentativa de fugir o máximo possível de qualquer manifestação política. É tremendo, o mais terrível, […] de uma obra de educação, deseducação ou educação negativa de vinte anos, que martelando durante vinte anos por todos os lados conseguiu prejudicar muitos de nós. […] Todos os dias eles nos disseram que a política é um trabalho de “especialistas”. O trabalho duro, que tem suas necessidades: e essas necessidades, como todos os dias foram vistos, eram estranhamente semelhantes àquelas que subjazem ao trabalho de qualquer ladrão. Teoria e prática ajudaram a nos distrair e nos distanciar de qualquer atividade política. Conveniente, né? Deixe aqueles que podem e devem fazer isto; você trabalha e acredita, isto eles disseram: e o que eles viram agora, que na vida política […] nós fomos jogados fora pelos eventos. Aqui está nossa culpa, eu acredito: […] nos deixamos ser arrebatados de tudo, de uma minoria inadequada, moral e intelectualmente.
Pense que tudo aconteceu porque você não queria saber mais nada!
Isso nos roubou, jogado em uma aventura sem fim; e este é o lado mais “rosado”, creio eu; a má notícia é que as palavras e atos dessa minoria afetaram a posição moral, a mentalidade de muitos de nós. […] Além de qualquer retórica, vemos como as “coisas públicas” são nós mesmos, nossa família, nosso trabalho, nosso mundo, enfim, que todo desastre nosso é nosso desastre, pois agora sofremos da extrema miséria em que nosso país caiu: se tivéssemos sempre mantido isso em mente, como isso teria acontecido? […]
Precisamente por isso, devemos tratá-lo diretamente, pessoalmente, como nosso trabalho mais delicado e importante. Porque se […] não o tratarmos completamente, especialmente hoje, a recuperação que esperamos, à qual nos unimos firmemente, será impossível. […] Não, não diga que está desanimado, não quer mais saber. Pense que tudo aconteceu porque você não queria saber mais nada!”.
NOTAS
1 – A palavra lazzaro é de origem espanhola e inicialmente indicava o jovem plebeu napolitano que povoava o distrito de Mercato (uma zona em Nápoles). Os lazzaros desempenharam um importante papel na revolta em 1647 por Masaniello. Em um sentido amplo, ele apontou para os miseráveis plebeus, que se posicionaram contra os revolucionários no ataque sanfedista à República Partenopéia, nascido em 1799.
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