PERSEGUIÇÃO | JORNALISTA QUE DENUNCIOU “DIA DO FOGO” É ATACADO EM NOVO PROGRESSO, NO PARÁ

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PERSEGUIÇÃO | JORNALISTA QUE DENUNCIOU “DIA DO FOGO” É ATACADO EM NOVO PROGRESSO, NO PARÁ

Adecio Piran: “Estão fazendo uma corrente para retirar os patrocinadores do jornal. Nossa situação está muito complicada” / Foto: Joao Laet / AFP

Ameaças circularam no Whatsapp e em panfletos distribuídos pela cidade. Um Boletim de Ocorrência foi registrado

Kátia Brasil | Amazônia Real | Manaus (AM) – O jornalista Adecio Piran, de 56 anos, proprietário do jornal Folha do Progresso, que denunciou o protesto de produtores rurais, denominado de “dia do fogo”, foi atacado nesta quarta-feira (28), por meio de grupos da rede social Whastsapp, com um panfleto apócrifo, que também foi distribuído em versão impressa à população de Novo Progresso, no sudoeste do Pará. O jornalista registrou um Boletim de Ocorrência na Polícia Civil. O panfleto traz uma foto montada de Adecio, na qual ele aparece de chapéu, com o símbolo da cifra do dólar no óculos preto, uma imagem de incêndio ao fundo e a frase: “Mentiroso, Estelionatário e Trambiqueiro”.

Um dos trechos do panfleto acusa o jornalista de inventar a notícia do protesto “dia do fogo” para prejudicar o desenvolvimento de Novo Progresso, município que enfrenta alta das queimadas. “Não é de hoje que este senhor [Adecio] vem prejudicando nossa região com falsas notícias que é compartilhada por ONG´s e ativistas mundo afora fazendo com que nossa cidade seja vista como vilã em queimadas e desmatamento, o que é mentira”, diz o panfleto.

À agência Amazônia Real, o jornalista Adecio Piran revelou que sua situação de segurança estava difícil.  Ele contou que nasceu em Novo Progresso e trabalha como jornalista há 20 anos, mesmo tempo que tem o veículo. “É ameaça geral aqui. São [as ameaças] de pessoas que não aceitam a verdade e que, de uma forma ou outra, atacam para se esconder dos atos praticados”, disse ele sobre os panfletos distribuídos em Novo Progresso.

Adecio Piran afirmou que os anunciantes do jornal também estão sendo ameaçados e coagidos. “Eles [os produtores rurais] estão fazendo uma corrente para retirar os patrocinadores do jornal. Nossa situação está muito complicada”, e por isso o jornalista registrou um Boletim de Ocorrência (BO) na Unidade Polícia Civil da cidade.

A reportagem teve acesso ao BO. No documento, o jornalista disse que é alvo de difamação, calúnia e ameaça por parte de grupos denominados de “Direita Unida Renovada” e “Caneta Desesquerdizadora”, ativos na rede social WhatsApp. Também responsabilizou Donizete Severino Duarte, que seria administrador do “Direita Unida Renovada”, em Novo Progresso, como um dos autores das ameaças.

A reportagem não localizou Duarte para falar sobre a denúncia. Já o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Novo Progresso, Agamenon Menezes afirmou que o jornalista mente e também registrou um BO contra Adecio Piran por calúnia e difamação.

Em outro trecho do panfleto apócrifo, Piran é acusado de estelionato. “O que estamos sabendo é que esse cidadão é um estelionatário que extorque dinheiro de empresários e políticos há anos, antes de publicar suas matérias mentirosas, um fracassado que vive de maracutaias.”

O jornalista rebateu a denúncia, dizendo que seu veículo, que tem uma página na internet, sobrevive de pequenos anúncios e não recebe recursos públicos. Segundo ele, o jornal ganhou credibilidade ao longo dos anos, denunciando crimes ambientais.

“A imprensa na cidade não publica [as notícias dos crimes] com medo de represálias que ocorrem, principalmente sobre as causas ambientais”, afirmou Piran.

Sobre a acusação do presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Novo Progresso, Agamenon Menezes, da qual o “dia do fogo” foi uma mentira inventada pelo jornal Folha do Progresso, o jornalista Adecio Piran indagou:

“O Exército não está aqui apagando fogo? Eles [ruralistas] precisam entender que a Amazônia não é minha, é do planeta”.

A reportagem da Amazônia Real procurou instituições como o Ministério Público Federal do Pará, Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e o Artigo 19 da Constituição, que defendem a liberdade de expressão e liberdade de imprensa. No que diz respeito às instituições, elas informaram que estão acompanhando a situação do jornalista em Novo Progresso, mas ainda não se pronunciaram.

A notícia do “dia do fogo” foi publicada no jornal Folha do Progresso em 5 de agosto e relatava que os produtores rurais estavam organizando o protesto no dia 10 de agosto para “chamar atenção das autoridades” sobre a falta de apoio do governo”, e também para demonstrar que estavam “amparados pelas palavras” do presidente Jair Bolsonaro (PSL), que contestou os dados dos desmatamentos na Amazônia e prometeu perdoar as multas de ruralistas por crimes ambientais.

“Precisamos mostrar para o presidente [Jair Bolsonaro] que queremos trabalhar e o único jeito é derrubando. E para formar e limpar nossas pastagens, é com fogo”, disse um fazendeiro, ouvido pelo jornal Folha do Progresso, sob anonimato.

Os dados do Inpe mostram que as queimadas explodiram no entorno da BR-163, justamente a partir do anúncio do “dia do fogo”, informou a reportagem do jornal Folha do Progresso, que repercutiu em nível internacional.

No dia 14 de agosto, a Folha de S. Paulo publicou que, após o “dia do fogo”,o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou uma explosão de focos de incêndio na região de Novo Progresso, que fica a 1.643 km de distância de Belém. O aumento dos incêndios e queimadas foi de 300% no dia 10 de agosto, um sábado, em comparação com o dia anterior. “Com 124 registros, foi o recorde do ano, mas durou pouco: no domingo (11), já pulou para 203 casos. Nos últimos dias, a cidade conviveu com uma densa nuvem de fumaça”.

série Amazônia em Chamas publicada pela agência Amazônia Realrevelou que funcionários do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que atuam no sudoeste do Pará, solicitaram apoio da Força Nacional de Segurança (FNS), subordinada ao ministro da Justiça, Sérgio Moro, para apoiar a fiscalização e deter a manifestação pelo “dia do fogo”, mas não foram atendidos, apesar de serem cobrados pelo MPF.

Ruralista registrou BO

Queimadas no Parna Jamanxim em Novo Progresso no Pará em 24 de agosto de 2019 (Foto: Victor Moriyama / Greenpeace)

Em entrevista anterior à ameaça ao jornalista Adecio Piran, o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Novo Progresso, Agamenon Menezes, negou que existiu o “dia do fogo” e desclassificou o profissional.

“É um jornalista revoltado aqui, ele não é bem certo da cabeça. Ele de vez em quando faz umas reportagens malucas desse aí, não sei dá onde ele tirou. Como ele é jornalista, e tem o direito do sigilo, ele não conta quem foi que contou. Nós queremos saber quem é que falou para ele que iria fazer isso, mas [ele] não conta, ele fica com a lei do sigilo”, disse o ruralista.

Procurado nesta quarta-feira (28), Agamenon Menezes afirmou que registrou um Boletim de Ocorrência (BO) contra o jornalista Adecio Piran, no dia 10 de agosto. “O sindicato registrou um BO em cima do jornal e tem uma investigação em isso aí. Ele mentiu muito, inventou uma história e deu um prejuízo moral e financeiro para todo mundo”, disse o sindicalista.

Perguntado se soube da distribuição dos panfletos apócrifos com ameaças ao jornalista, Menezes afirmou: “Tô sabendo que o pessoal aqui está revoltado com ele [o jornalista]. Mas aqui a gente é ordeira; ninguém vai fazer nada com ele, que é uma pessoa imoral. Ele inventa histórias e já inventou outras vezes”, disse.

Amazônia Real perguntou que outras inverdades o jornalista teria publicado anteriormente e o sindicalista desconversou. “Não lembro agora. ” A reportagem apresentou ao sindicalista o dado de que o Inpe havia detectado um aumento de 300% nas queimadas em Novo Progresso no “dia do fogo”, isto é, na data de 10 de agosto. Questionou a relação entre o aumento significativo das queimadas, no dia em que foi anunciado o protesto dos produtores rurais.

“Isso é também mentiroso, uma calúnia, não existiu. Eles [o Inpe] pegam um fogo de calor de uma fogueira de São João, por exemplo, e dizem que é um foco de calor de derrubada de floresta, certo! ”, afirmou Menezes. “Isso interessa muito à comunidade internacional para prejudicar nosso presidente [Jair Bolsonaro]”, completou.

Agamenon Menezes disse que está à frente do sindicato há 23 anos. Para ele, todos os anos há queimadas para a produção do pasto na região. “Muitas vezes a pessoa, por acidente, queima o pasto. O que está acontecendo agora é o clima, não é que estão tocando fogo na floresta. Aí, o Inpe coloca lá como se tudo fosse queimada”, disse o sindicalista.

A reportagem explicou para o sindicalista que nas imagens de satélites, das quais o Inpe faz o monitoramento de queimadas desde 1989, e (nas) as fotografias que estão na região de Novo Progresso e Altamira, mostram que as queimadas aumentaram por causa dos desmatamentos. Então questionou: O que o senhor tem a dizer?

“O desmatamento realmente existe, aquelas bolas de desmatamentos existem. Mas você sabe que na legislação brasileira na Amazônia, a pessoa pode usar 20% da área para desmatar com o plano de manejo. Se permite, o que eu posso fazer se não é proibido? ”, questiona Agamenon Menezes.

O presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Novo Progresso, contudo, reconhece que há desmatamento ilegal, mas questionou. “A maioria dos produtores trabalha na legalidade, mas não podem dizer que tudo que é madeira daqui é ilegal. Então tudo que desmata aqui é ilegal? Todo fogo é ilegal, é proibido? Então o que querem fazer com nós aqui da Amazônia? ”, finalizou Menezes.


O jornalista Ueliton Brizon, foi morto em 16 de janeiro de 2018 (Foto: Arquivo da família)

Segundo a organização não-governamental de direitos humanos Artigo 19, a violência contra jornalistas aumentou nos últimos anos no Brasil. De janeiro até o mês de agosto de 2019, foram 26 ameaças, 1 sequestro, 4 tentativas de homicídio e 4 assassinatos. As principais vítimas foram jornalistas (17 profissionais). Em 2018 foram 35 ameaças, mesmo número de 2012 e 2015.

Na Amazônia, em 2018, foram assassinados o jornalista Ueliton Brizon, em Rondônia, e Jairo José de Sousa, da Rádio Pérola, no Pará.

A morte de Brizon aconteceu no dia 16 de janeiro, no município de Cacoal (RO). Além dele, o radialista Hamilton Alves, da rádio Nova Jaru FM, também no Pará, sofreu um atentado no dia 20 de abril. Ninguém foi preso pelos crimes até o presente momento.

Jairo de Sousa foi assassinado em 21 de junho, em Bragança, no Pará. No programa radiofônico, ele apresentava diariamente denúncias contra a administração pública da cidade e de municípios vizinhos. O vereador Cesar Monteiro (PR), foi apontado como suspeito de ter encomendado a morte do radialista a pistoleiros, segundo informou a agência Ponte de Jornalismo.

Edição: Amazônia Real

 

MEMÓRIA | REGINALDO MORAES, PRESENTE!

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MEMÓRIA | REGINALDO MORAES, PRESENTE!

A Fundação Perseu Abramo, seus funcionários, funcionárias e colaboradores lamentam a triste notícia desta segunda-feira, 26 de agosto: a perda do companheiro Reginaldo Carmelo de Moraes, aos 68 anos.

Fundação Perseu Abrano – Régis, como era conhecido, era doutor em Filosofia pela USP e professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), da Unicamp, pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos (INCT-Ineu) e colaborador de longa data da Fundação Perseu Abramo. Era colunista do Brasil Debate.

Publicou pela Editora Unesp “O peso do Estado na pátria do mercado” (2013), “As cidades cercam os campos” (2008, em coautoria com Maitá de Paula e Silva e Carlos Henrique Goulart Árabe), “Estado, desenvolvimento e globalização” (2006) e “Educação superior nos Estados Unidos” (2015).

Pela Fundação Perseu Abramo, Reginaldo publicou os livros “Bloco de Esquerda e Podemos: dois experimentos de organização na nova esquerda europeia” (2016), e “Rural, Agrário, Nação: reflexões sobre políticas e processos de desenvolvimento na era da globalização” (2015). Clique nos títulos para acessar os livros.

Também pela FPA e em coautoria com Marcio Pochmann, publicou “Capitalismo, Classe Trabalhadora e Luta Política no Início do Século XXI” (2017) e lançaria nos próximos meses “Os ricos e poderosos”, ainda no prelo.

Pelo seu perfil do Facebook é possível conhecer um pouco mais sobre ele: “Neste espaço procuramos evitar manifestações de intolerância e apologia a violações de direitos humanos. Essas coisas já têm muito espaço na imprensa do país, não precisam deste recanto para se propagarem. Portanto, cortes ou bloqueios não são resultados de ‘problemas pessoais’. São escolhas. Se a sua praia é outra, siga em frente, mas não comigo”.

O velório do Reginaldo será na terça-feira, das 8h ao meio dia, no Cemitério do Araçá (Av. Dr. Arnaldo, 300). Segue depois para o crematório de Vila Alpina.

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PODER DO DINHEIRO | DAVID HARVEY: A AUSTERIDADE FICA PARA NÓS E O ‘SOCIALISMO’ PARA O 1% MAIS RICO

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PODER DO DINHEIRO | DAVID HARVEY: A AUSTERIDADE FICA PARA NÓS E O ‘SOCIALISMO’ PARA O 1% MAIS RICO
A distinção entre trabalho intelectual e o trabalho manual é uma das maiores distinções de classe, afirmou Harvey

Geógrafo britânico diz que, em algum momento, Brasil vai precisar voltar ao FMI. Para Harvey, classe trabalhadora ainda pode ser vanguarda da mudança

Publicado por Redação RBA | São Paulo – O geógrafo britânico David Harvey afirma que um dos mais graves problemas da atualidade, e que não tem sido devidamente debatido, é o endividamento no mundo. “Se pegarmos o total da dívida e dividir pela população total, cada pessoa deve US$ 80 mil. A lógica irônica do sistema financeiro, que controla as políticas governamentais dos países, é que os ganhos são ‘socializados’ pelos mais ricos, enquanto a sociedade como um todo paga a conta”, apontou Harvey, em palestra promovida nesta segunda-feira (26) em São Paulo pelas editora Expressão Popular, ligada ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), e pela editora Boitempo.

“Austeridade fica para nós e o socialismo para o 1% das pessoas mais ricas, que controlam a maioria das dívidas e lucram com ela”, criticou. “É preciso prestar atenção à massa incontrolável da dívida. Eles usam isso para comprar terra e propriedades. A terra custa caro porque o 1% mais rico tem muito dinheiro e eles não sabem o que fazer com isso. A terra não é usada como deveria para cuidar da nutrição e do meio ambiente.”

O pensador afirmou que todos os secretários do Tesouro dos Estados Unidos, desde o presidente Bill Clinton, são oriundos do Goldman Sachs, grupo financeiro multinacional, sediado em Nova York. “Quem domina e governa o Estado? A gente brinca que o Goldman Sachs é quem controla os Estados Unidos.” Embora Clinton tenha tentado implementar políticas mais independentes, o mercado financeiro não permitiu. “Tudo o que Clinton fez, foi o que eles queriam.”

Harvey afirmou que o único país do mundo em que o governo controla o sistema financeiro é a China. “Lá, os bancos fazem o que o Estado quer que façam. Precisamos de uma política para ‘desempoderar’ o sistema financeiro, que é a única coisa que ele não quer.”

Para Harvey, a Grécia, nos últimos dez anos, é um exemplo emblemático do que acontece com os países obrigados a adotar políticas de austeridade. “Naquele país as pessoas perdem os bens e tudo que têm.”

Ele avalia que, em algum momento, o Brasil vai precisar voltar a emprestar recursos do Fundo Monetário Internacional (FMI), entidade à qual o presidente da Argentina, Mauricio Macri, recorreu recentemente. O país vizinho passa por um período de grave crise, com recessão, inflação muito elevada e o maior desemprego desde 2006. O Produto Interno Bruto argentino recuou 2,5% em 2018 e 5,8% no primeiro trimestre de 2019.

A política do campo progressista deveria privilegiar a luta para evitar que o capital controle a terra, “que tem de ser controlada pelo povo”. “É um longo caminho, mas tirar a terra do mercado de commodities é vital.”

O geógrafo acredita que a classe trabalhadora ainda pode ser “a vanguarda da mudança”, considerando que hoje ela é maior do que em qualquer outro momento da história. De acordo com ele, nos anos 1980 eram 2 trilhões, e hoje os proletários chegam a 3 trilhões de pessoas.

E afirmou que, nos Estados Unidos, os sindicatos não compreendem o “poder imenso” da nova classe trabalhadora. “A esquerda precisa começar a falar com essa nova classe, que não está nas fábricas, mas na área de logística e outras semelhantes.”

Harvey considera a educação uma área estratégica das sociedades hoje, e os detentores do poder sabem disso. Nos Estados Unidos, lembrou, a educação “foi tomada pelos interesses das corporações e dos liberais”. O motivo é que ela é usada para promover a segregação entre pessoas “educadas” e “não educadas”.

“A distinção entre trabalho intelectual e o trabalho manual é uma das maiores distinções de classe que há. As universidades dos Estados Unidos não são mais financiadas pelos estados, mas por corporações e grandes financiadores, como Bill Gates. O interesse deles não é a sociedade, mas financiar pesquisa e produtos que gerem lucro”, explicou. “Mas, afortunadamente, as universidades não são totalmente controladas, e pessoas como eu podem florescer em alguns cantinhos.”

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ECONOMIA | MP DA LIBERDADE ECONÔMICA É UM CAVALO DE TROIA PARA OS TRABALHADORES

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ECONOMIA | MP DA LIBERDADE ECONÔMICA É UM CAVALO DE TROIA PARA OS TRABALHADORES

Medida Provisória anarcocapitalista é uma ruptura com a tradição jurídica do País.

Carta Capital | GILBERTO BERCOVICI – A Medida Provisória 881, de 30 de abril de 2019, intitulada “MP da Liberdade Econômica”, é festejada pela mídia e seus associados como uma bem-vinda mudança liberal na legislação econômica brasileira. Como veremos, no entanto, esse instrumento não é liberal ou neoliberal, vai além: é anarcocapitalista.

Ele traz desordem, a imposição da lei do mais forte, a dominação econômica brutal. Consiste em uma ruptura com a tradição jurídica brasileira, pois não pretende regular ou organizar o sistema econômico, mas criar uma nova (des)ordem capitalista extremada. A “MP da Liberdade Econômica” é, antes de mais nada, uma norma antissocial, uma verdadeira “MP da Libertinagem Econômica”.

A redação da Medida Provisória é péssima, confusa, padece de atecnia. Talvez seja proposital, em benefício de seus idealizadores. Sua proposta é bizarra: baixa-se uma suposta “declaração de direitos” sem qualquer participação ou reivindicação popular. Essa medida, que poderia ser apenas inócua ou inútil.

A livre-iniciativa é garantida constitucionalmente como fundamento da República (artigo 1º, IV) e da ordem econômica constitucional (artigo 170, caput). Não há nenhuma necessidade de outra norma para protegê-la ou assegurá-la. Ao invés, agravará o desmonte da sociedade, seguindo os passos da malfadada reforma trabalhista de 2016, que desorganizou o ambiente de trabalho no Brasil e gerou milhões de desempregados ou subempregados.

A exposição de motivos da medida consiste em um verdadeiro conjunto de aberrações jurídicas e econômicas. Lá está escrito que “(…) Para o Brasil caminhar nesse sentido [de se aproximar da atratividade de regimes empresariais como o do Estado de Delaware, nos EUA, notório paraíso fiscal], propõe-se de maneira emergencial permitir que qualquer cláusula contratual seja vigente entre os sócios privados e capazes que assim a definiram, inclusive aquelas que, atualmente, parecem ir em sentido contrário a normas de ordem pública, estritamente, do direito empresarial, contanto que não tenham efeitos sobre o Estado ou terceiros alheios à avença”.

Postulam, assim, a prevalência ilimitada no ordenamento jurídico de “qualquer cláusula” pactuada pelas partes. Esta amplíssima admissibilidade alcançará “inclusive aquelas que, atualmente, parecem ir em sentido contrário a normas de ordem pública”. Pretende-se, desta forma, por uma norma, criar um espaço e um lapso temporal em que não vigora o próprio direito.

A “MP da Libertinagem Econômica” é um manifesto ideológico que se pretende superior à própria Constituição

A MP prevê que não vale o ordenamento jurídico se as partes do contrato empresarial assim o desejarem. Não é preciso ser especialista no assunto para se compreender o absurdo de tal proposição. Essa autorregulação ao extremo, em que se praticamente proíbe a revisão contratual, é a instituição de um sistema de autocomposição pela força, onde prevalecerá sempre o poder econômico, ainda mais em uma sociedade desestruturada como a brasileira.

O objetivo é “liberar o empreendedor do jugo do Estado” e o exemplo utilizado pelo governo é o de facilitar a atividade da costureira ou do vendedor de rua, mas está, na realidade, atendendo aos interesses de pouquíssimos. Por exemplo, a norma prevê a proteção do patrimônio dos devedores, a redução das informações do eSocial, legitimando fraudes. Ela praticamente inviabiliza a desconsideração da personalidade jurídica, que só será possível caso se comprove dolo. Dentre outras “inovações”, ela volta a defender a ficção da “simetria de informações”, como no século XIX.

O relator da Câmara dos Deputados ampliou consideravelmente o escopo original da MP, incluindo regras sobre direito trabalhista, direito do consumidor e muitas outras matérias. O texto passou de 18 para 53 artigos, seguindo a prática corrente e muito discutível do processo legislativo brasileiro: a inclusão dos chamados “jabutis”, ou seja, emendas parlamentares que modificam projetos de lei em discussão provenientes de lugar incerto e não sabido. Da mesma forma que o verdadeiro jabuti não sobe em árvore, uma emenda não surge do nada. Alguém a colocou ali, visando atender a interesses nem sempre transparentes.

A “MP da Libertinagem Econômica” é um manifesto ideológico que se pretende superior à própria Constituição. Ela defende uma “única interpretação possível” da atuação econômica do Estado, como se o seu texto houvesse instituído uma economia de mercado “pura”. Há, aqui, a pretensão de tentar obrigar a adoção pelo Poder Judiciário dessa única interpretação, consistindo em uma forma de imposição de determinada visão ideológica sobre todas as demais. O Brasil, assim, oferece mais uma jabuticaba ao mundo: a Constituição deve ser interpretada conforme determina a lei.

Vídeo:

Qual o modelo de sociedade que a medida projeta para o futuro? Uma sociedade de 200 milhões de costureiras (de ajuste de barra de calça, pois as roupas hoje vêm da Ásia), de camelôs (de panos de prato e cabos de celular chineses), de vendedores de bolo ou fabricantes de cerveja artesanal, enquanto as nossas terras e riquezas são entregues por nossas elites para a exploração conjunta dos Estados Unidos, China e Europa?

O arcabouço jurídico-institucional que os proponentes qualificam como “sufocante” e “opressor” foi o que permitiu ao Brasil ser um dos países que mais cresceram economicamente no século XX, entre 1930 e 1990. O crescimento pífio dos chamados “voos de galinha” é obra e graça das reformas liberalizantes dos anos 1990. Não bastasse, todas as sociedades altamente industrializadas e líderes em inovação são de países com vasto e rígido ordenamento jurídico sobre as questões econômicas: Alemanha, Suécia, EUA, China etc.

A pergunta que não quer calar permanece: aqueles que comemoram a edição da Medida Provisória como um marco da “libertação econômica” do Brasil podem exercer qualquer atividade econômica, sem nenhuma regra ou controle, em Miami?

 

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AVALIAÇÃO | PESQUISA CNT/MDA: 53,7% REPROVAM O DESEMPENHO DE BOLSONARO

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AVALIAÇÃO | PESQUISA CNT/MDA: 53,7% REPROVAM O DESEMPENHO DE BOLSONARO
Sobre as políticas de Bolsonaro, os entrevistados classificaram a saúde (30,6%), meio ambiente (26,5%), educação (24,5%) e economia (17,6), como as piores áreas de atuação da atual gestão

Levantamento ainda mostra que o governo é considerado ruim ou péssimo por 39% dos entrevistados

Publicado por Redação RBA – São Paulo – A rejeição ao desempenho pessoal do presidente Jair Bolsonaro (PSL) cresceu e já chega a 53,7%, de acordo com a pesquisa do instituto MDA encomendada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), divulgada nesta segunda-feira (26). Em fevereiro, a avaliação negativa nesse quesito era de 28,2% dos entrevistados.

Os dados mostram que 41% aprovam o desempenho de Bolsonaro e os que não souberam ou não responderam são 5,3%. Além disso, 39,5% já consideram ruim ou péssimo o atual governo, que tomou posse há quase oito meses. Já 29% avaliam como bom e outros 29%, como regular. Em fevereiro, apenas 19% intitulavam a gestão Bolsonaro como ruim ou péssima.

Segundo a CNT, foram realizadas 2.002 entrevistas entre os dias 22 e 25 de agosto, em 137 municípios. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais.

A pesquisa ainda traz a avaliação dos brasileiros sobre as áreas de atuação do governo e a expectativa da população em relação ao emprego, à renda, à saúde e à educação. Em todos estes temas, entrevistados avaliam que tudo permanecerá igual nos próximos seis meses, sem mudança para melhor.

Sobre as políticas de Bolsonaro, os entrevistados classificaram saúde (30,6%), meio ambiente (26,5%), educação (24,5%) e economia (17,6) como as piores áreas de atuação da atual gestão. Por outro lado, o combate à corrupção, a segurança e a redução de cargos foram as mais bem avaliadas.

A população também se mostrou contrária a algumas ações do presidente. Para 39%, o decreto de liberação de armas é a pior medida tomada, vindo em seguida os comentários ofensivos de Bolsonaro (30,6%), contingenciamento de verbas da educação e o contingenciamento de verbas da educação (28,2%).

O fato de os filhos de Bolsonaro opinarem sobre integrantes e ações de seu governo também desagrada a população. Aém disso, 72% consideram inadequada a postura do presidente Jair Bolsonaro de indicar um de seus filhos à embaixada dos Estados Unidos. Sobre as ações voltadas para os mais pobres, 47,2% avaliam que estão piores do que nos governos anteriores.

Já sobre a “reforma” da Previdência, aprovada pela Câmara dos Deputados, 52,7% dos entrevistados são contra e outros 45,4% apontam que as novas medidas beneficiarão os mais ricos.

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REPÓRTER CONTA O QUE VIU EM GRUPOS NAZISTAS DO WHATSAPP; OUÇA

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REPÓRTER CONTA O QUE VIU EM GRUPOS NAZISTAS DO WHATSAPP; OUÇA

www1.folha.uol.com.br – Mensagens e figurinhas negam o Holocausto e exaltam Hitler e Mussolini

A Folha acompanhou, nas últimas semanas, grupos no WhatsApp que distribuem conteúdo de extrema direita. Mais que isso, as mensagens compartilhadas exaltam figuras como Adolf Hitler e Benito Mussolini e incluem símbolos e saudações nazistas, fascistas e integralistas.

Impregnados de discursos de ódio, os grupos são também espaço para o compartilhamento de links e memes contra o PT e a esquerda. A defesa de governantes como o presidente Jair Bolsonaro, por sua vez, não é uma unanimidade.

O repórter Fábio Zanini, que passou esse tempo incógnito nos grupos, conta como eles funcionam, de que forma são influenciados pelo momento político e as discussões jurídicas em relação à distribuição desse tipo de conteúdo.

O programa de áudio é publicado no Spotify, serviço de streaming parceiro da Folha na iniciativa e que é especializado em música, podcast e vídeo. É possível ouvir o episódio clicando abaixo. Para acessar no aplicativo basta se cadastrar gratuitamente.

Ouça o episódio:

AQUI.

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PREPARE-SE PARA FAZER SEXO ATÉ NÃO PODER MAIS, AOS 70, AOS 80, AOS 90 ANOS…

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PREPARE-SE PARA FAZER SEXO ATÉ NÃO PODER MAIS, AOS 70, AOS 80, AOS 90 ANOS…
Crédito: iStock

BLOG DA LÚCIA HELENA – Vida longa ao rala-e-rola! É o que parecem desejar os especialistas em Medicina sexual em suas animadas palestras durante o XXXVII Congresso Brasileiro de Urologia, que termina nesta terça em Curitiba, no Paraná. Nenhum outro assunto rendeu tanta discussão entre eles do que o sexo na terceira idade. Os cientistas enxergam longe.

Para eles, agora, a farra entre lençóis aos 60 e poucos anos é quase um namoro de adolescentes. Querem mais é saber, diante de uma população mundial que envelhece, como ficará o bem-bom lá na frente, na sétima, na oitava década de vida adiante.

Quer a notícia boa ou a não tão boa primeiro? Nem uma, nem outra. Vou começar aqui reproduzindo o pito que, em tom de graça, o urologista Eduardo de Paula Miranda, da Universidade Federal do Ceará, deu nos colegas que assistiam à sua apresentação sobre a fisiologia do envelhecimento sexual: “Minha gente, chega de ‘idadismo’!”, em uma livre tradução dele para o termo ageism em inglês, já usado até pela Organização Mundial de Saúde para designar o preconceito que as pessoas têm em relação a quem é mais velho. E um dos mais arraigados é achar que existe idade para se desinteressar por sexo. Tanto que os médicos mal abordam o tema com esse paciente, a não ser que seja o próprio senhor fogoso puxando a conversa por alguma disfunção capaz de deixá-lo cabisbaixo.

Sejamos crescidinhos para encarar: meninos e meninas, vovô e vovó gostam da coisa. Ô, se gostam… Digo mais: eles fazem a coisa. Ô, se fazem… Pesquisa de fora, realizada no início dos anos 2000 e mencionada por Eduardo Miranda em sua aula, mostrava que 60% dos casais com mais de 70 anos faziam sexo com regularidade e 41% das parcerias afetivas na faixa dos 80. Que regularidade seria essa? A resposta sincera: sei lá. Os médicos tampouco sabem precisar. Para uns, sexo uma vez por semana. Para outros, sexo uma vez por mês. Devemos alinhar expectativas: fato inexorável é que envelhecemos. E fazer sexo está nesse pacote. A começar pelo brinquedo que nossos corpos carregam para a hora da diversão: os genitais, que mudam. Ô, se mudam…

“Com o tempo, há uma piora natural da função sexual. A ejaculação, por exemplo, já não tem a mesma pressão”, diz o doutor Miranda. “E muita gente fica preocupada à toa achando que isso e mais aquilo são uma doença. Bem, só são uma doença quando a piora de qualquer um dos aspectos fisiológicos é muito exagerada.” E quando será que é uma coisa e quando será que é outra? Boa pergunta! Ora, tem gente que, digamos, não funciona muito bem, mas que está serelepe na sua vida sexual. “Se eu olhar para um livro de Medicina, direi: ‘você tem uma disfunção’. Mas, se a pessoa está feliz, em matéria de saúde sexual eu não posso apontar aquilo como doença, entende?”. Entendi perfeitamente. Cada um é cada um, tanto que existe também quem está acima da média para a sua idade, mas que vive de saudade na hora agá.

Nas senhoras cheias de amor para dar, a derrocada já esperada dos seus hormônios sexuais — e não só isso — faz os grandes lábios em sua intimidade tornaram-se pequenos e os pequenos lábios virarem minúsculos, retraídos como quem não quer conversa na cama. E não fiquemos apenas nas aparências dos genitais femininos: as mulheres ressecam, precisam repor a lubrificação perdida para a dor não substituir o prazer e os seus odores clássicos não viraram uma inhaca pelo acúmulo de células descamadas. Mas isso — Freud, não nos inveje! — é fácil de resolver. Há hidratante vaginal em cada farmácia de esquina.

Nos senhores cheios de amor para dar, ah, o pênis também envelhece. Muda até de cor e fica mais pálido, pelas alterações normais de sua circulação. Não há fonte da juventude capaz de resolver essa e outras mudanças se ele mergulhar de cabeça. Enquanto o equipamento feminino relaxa e goza, o masculino precisa de certa força.  Força muscular mesmo. E como a musculatura peniana perde massa — é a vida… —, a ejaculação que um dia foi um jato potente vira quase uma cuspinha ressabiada. Mas ninguém aqui vai querer fazer competição de sêmen à distância.

O importante é saber que a contração muscular enfraquecida contribui para uma mudança mais ressentida: os orgasmos se tornam menos intensos e de menor duração.  Nas mulheres, a perda de tônus na musculatura pélvica pode dar na mesma. Mas, embora mais curtos e suaves, ainda são orgasmos — alguém aí vai desprezar um único orgasmo?!

No caso dos homens, a cabeça madura — aquela em cima do pescoço — , vê diminuir a produção de neurotransmissores essenciais para o desejo na região cerebral do hipotálamo, desacelerando toda a reação em cadeia que surge a partir disso e que leva à excitação. E na cabeça madura — a outra, abaixo do pescoço — diminui o número dos receptores capazes de corresponder à situação. O caminho, aliás, é de ida e volta: se alguém encostar a mão ali, a língua ou o que for, o cérebro vai demorar um tantinho mais para sentir o carinho. “A resposta fica mais lenta. É preciso muito mais estímulo do que antes para obter o mesmo resultado”, explica o doutor Eduardo Miranda.

Portanto, parceiras ou parceiros daqueles senhores donos de cabeças maduras, mãos à obra nas preliminares. Informações assim entram na receita do que a Medicina moderníssima está chamando de adaptação sexual do idoso. Não encane com o nome — vá fundo nessa.

Como é sabido, a ereção dos atletas sexuais sêniores já não aponta o teto e, fato, nunca mais será tão rígida. É mole? Nem tanto. “Acontece que o pênis passa a acumular colágeno e se torna menos elástico”, descreve o médico. Só que essa rigidez específica não é bacana, porque não abre o espaço necessário para o aporte do sangue que preenche tudo de… alegria. Parênteses: não há comprimido que resolva se não há tanto espaço para o sangue entrar, ’tá?  Mas quem já chegou lá se vira muito bem. Na sua apresentação, Eduardo Miranda contou que, por volta da sétima ou oitava década de vida, parceiros e parceiras satisfeitos se tornam fãs (ou ainda mais fãs)  do sexo oral e da masturbação a dois. Sábios, não ficam chorando as pitangas por uma ou outra penetração frustrada, como muitos casais mais jovens.

Outra coisa: o esforço masculino pelo prazer é tão grande que a natureza criou o período refratário, aquele descanso entre uma transa e outra. De breves instantes no auge da adolescência, ele passa a ser de, em média, 24 horas a partir dos 60 ou 70 anos. Varia de indivíduo para indivíduo e existem até aqueles que carecem de uma semana inteira entre um bom sexo e outro delicioso sexo. É normal? Pode ser. Cada tempo tem seus tempos.

Uma preocupação é com eventuais placas de gordura pelos vasos do pênis. “Se as artérias do coração podem ser obstruídas por elas, imagine então a do pênis, que tem um terço do diâmetro! Ela pode ficar entupida bem antes de uma coronária manifestar qualquer problema”, diz ele.  Aliás, se quer saber o que pode turbinar a vida sexual depois dos 60 seria tudo aquilo que faz bem ao coração. Fica a dica. Abandonar o sedentarismo mesmo que tardiamente, ter uma dieta equilibrada, afastar o estresse e controlar a saúde cardiovascular — apegue-se ao “vascular” e lembre-se que a irrigação dos genitais é que faz a nossa festa.

Quem afasta a obesidade não só mantém esses vasos sanguíneos em melhor estado, como preserva mais hormônios sexuais e, no caso dos homens, até evita uma impressão não tão legal de que seu pênis diminuiu de tamanho — na verdade, ele continua o mesmo em matéria de centímetros, mas fica parcialmente engolido pela capa de gordura, o que não é lá muito excitante.

E cuidado com o diabetes! Tanto em homens quanto em mulheres, ele é o maior desmancha-prazeres. “Essa doença ataca em todas as frentes: diminui a sensibilidade dos nervos nos genitais, bagunça a dança hormonal, atrapalha a circulação por todo o corpo”, avisa Eduardo Miranda.

O principal recado que a Medicina sexual quer passar é que pessoas mais velhas precisam ter maior liberdade para falar do assunto e para fazer mais sexo. E, claro, gente de todas as idades deve eliminar tabus, dando condições para que os idosos tenham vida sexual ativa até quando bem desejarem. Curioso, no evento foi discutido que as casas de repouso, lá fora, começam a criar espaços mais confortáveis para encontros amorosos, por que não? Não cheguei lá, mas me animo com essa visão de futuro. E não é que eu pense só naquilo — ’tá de sacanagem comigo? Fique sabendo que diversos estudos apontam que uma boa vida sexual garante maior disposição física e mental na idade avançada, incluindo significativa melhora até na parte cognitiva. Sexo, senhoras e senhores, é saúde sem prazo de validade. Ô, se é…

Aviso: em nome da transparência, quero contar que viajei para acompanhar o Congresso Brasileiro de Urologia a convite da Bayer, com total liberdade para cobrir qualquer tema, sem conflito de interesses.

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CARTA PÚBLICA AOS EX-COLEGAS DA LAVA-JATO

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CARTA PÚBLICA AOS EX-COLEGAS DA LAVA-JATO
Declarem-se suspeitos em relação ao alvo de seu ódio. Ainda é tempo de porem a mão na consciência, mostrarem sincero remorso e arrependimento, porque aqui se faz e aqui se paga.

POR EUGÊNIO ARAGÃO | jornalggn.com.br – Sim. Ex-colegas, porque, a despeito de a Constituição me conferir a vitaliciedade no cargo de membro do Ministério Público Federal, nada há, hoje, que me identifique com vocês, a não ser uma ilusão passada de que a instituição a que pertenci podia fazer uma diferença transformadora na precária democracia brasileira. Superada a ilusão diante das péssimas práticas de seus membros, nego-os como colegas.

Já há semanas venho sentindo náuseas ao ler suas mensagens, trocadas pelo aplicativo Telegram e agora reveladas pelo sítio The Intercept Brasil, num serviço de inestimável valor para nossa sociedade deformada pela polarização que vocês provocaram. Na verdade, já sabia que esse era o tom de suas maquinações, porque já os conheço bem, uns trogloditas que espasmam arrogância e megalomania pela rede interna da casa. Quando aí estava, tentei discutir com vocês, mostrar erros em que estavam incidindo no discurso pequeno e pretensioso que pululava pelos computadores de serviço. Fui rejeitado por isso, porque Narciso rejeita tudo que não é espelho. E me recusava a me espelhar em vocês, fedelhos incorrigíveis.

A mim vocês não convencem com seu pobre refrão de que “não reconhecem a autenticidade de mensagens obtidas por meio criminoso”. Por muito menos, vocês “reconheceram” diálogo da Presidenta legitimamente eleita Dilma Rousseff com o Ex-Presidente Lula, interceptado e divulgado de forma criminosa. Seu guru, hoje ministro da justiça de um desqualificado, ainda teve o desplante de dizer que era irrelevante a forma como fora obtido acesso ao diálogo, pois relevaria mais o seu conteúdo. Tomem! Isso serve que nem uma luva nas mãos ignóbeis de vocês. Quem faz coisa errada e não se emenda acaba por ser atropelado pelo próprio erro.

Subiu-lhes à cabeça. Perderam toda capacidade de discernir entre o certo e o errado, entre o público e o privado, tamanha a prepotência que os cega. Não têm qualquer autocrítica. Nem diante do desnudamento de sua vilania, são capazes de um gesto de satisfação, de um pedido de desculpas e do reconhecimento do erro. Covardes, escondem-se na formalidade que negaram àqueles que elegeram para seus inimigos.

Esquecem-se que o celular de serviço não se presta a garantir privacidade ao agente público que o usa. Celulares de serviço são instrumentos de trabalho, para comunicação no trabalho. Submete-se, seu uso, aos princípios da administração, entre eles o da publicidade, que demanda transparência nas ações dos agentes públicos. Conversas de cunho pessoal ali não devem ter lugar e, diante do risco de intrusão, também não devem por eles trafegar mensagens confidenciais. Se houver quebra de confidencialidade pela invasão do celular, a culpa pelo dano ao serviço é do agente público que agiu com pouco caso para com o interesse da administração e depositou sigilo funcional na rede ou na nuvem virtual. Pode por isso ser responsabilizado, seja na via da improbidade administrativa, seja na via disciplinar, seja no âmbito penal por dolo eventual na violação do sigilo funcional. Não há, portanto, que apontarem o dedo para os jornalistas que tornaram público o que público devesse ser.

De qualquer sorte, tenho as mensagens como autênticas, porque o estilo de vocês – ou a falta dele – é inconfundível. Mesmo um ficcionista genial não conseguiria inventar tamanha empáfia. Tem que ser membro do MPF concurseiro para chegar a tanto! Umas menininhas e uns menininhos “remplis de soi-mêmes”, filhinhas e filhinhos de papai que nunca souberam o que é sofrer restrições de ordem material e discriminação no dia a dia. Sempre tiveram sua bola levantada, a levar o ego junto. Pessimamente educados por seus pais que não lhes puxaram as orelhas, vocês são uns monstrengos incapazes de qualquer compaixão. A única forma de solidariedade que conhecem é a de uma horda de malfeitores entre si, um encobrindo um ao outro, condescendentes com os ilícitos que cada um pratica em suas maquinações que ousam chamar de “causa”. Matilhas de hienas também conhecem a solidariedade no reparto da carniça, mas, como vocês, não têm empatia.

Digo isso com o asco que sinto de vocês hoje. Sinto-me mal. Tenho vontade de vomitar. Ao ler as mensagens trocadas entre si em momentos dramáticos da vida pessoal do Ex-Presidente Lula, tenho a prova do que sempre suspeitei: de que tem um quê de psicopatas nessa turma de jovens procuradores, uma deformação de caráter decorrente, talvez, do inebriamento pelo sucesso. Quando passaram no concurso, acharam que levaram o bilhete da sorte, que lhes garantia poder, prestígio e dinheiro, sem qualquer contrapartida em responsabilidade.

Sim, dinheiro! Alguns de vocês venderam  sua atuação pública em palestras privadas, em troca de quarenta moedas de prata. Mas negaram ao Ex-Presidente Lula o direito de, já sem vínculo com a administração, fazer palestras empresariais. As palestras de vocês, a passarem o trator sobre a presunção de inocência, são sagradas. Mas as de Lula, que dão conta de sua visão de Estado como ator político que é, são profanas. E tudo fizeram na sorrelfa, enganando até o corregedor e o CNMP.

Agora, a cerejinha do bolo. Chamam Lula de “safado”, fazem troça de seu sofrimento, sugerem que a trágica morte de Dona Mariza foi queima de arquivo… chamam o luto de “mimimi” e negam o caráter humano àquele que tão odienta e doentiamente perseguem! Só me resta perguntar: onde vocês aprenderam a ser nazistas? Pois tenho certeza que o desprezo de vocês pelo padecimento alheio não é diferente daqueles que empurravam multidões para as câmaras de gás sem qualquer remorso, escorando-se no “dever para com o povo alemão”. Ao externarem tamanha crueldade para com o Ex-Presidente Lula, vocês também invocarão o dever para com o Brasil?

Declarem-se suspeitos em relação ao alvo de seu ódio. Ainda é tempo de porem a mão na consciência, mostrarem sincero remorso e arrependimento, porque aqui se faz e aqui se paga. A mão à palmatória pode redimi-los, desde que o façam com a humildade que até hoje não souberam cultivar e empreendam seu caminho a Canossa, para pedirem perdão a quem ofenderam. Do contrário, a história não lhes perdoará, por mais que os órgãos de controle, imbuídos de espírito de corpo, os queiram proteger. A hora da verdade chegou e, nela, Lula se revela como vítima da mais sórdida ação de perseguição política empreendida pelo judiciário contra um líder popular na história de nosso país. Mais cedo ou mais tarde ele estará solto e inocentado, já vocês…

Despeço-me aqui com uma dor pungente no coração. Sangro na alma sempre que constato a monstruosidade em que se transformou o Ministério Público Federal. E vocês são a toxina que acometeu o órgão. São tudo que não queríamos ser quando lutamos, na Constituinte, pelo fortalecimento institucional. Esse desvio de vocês é nosso fracasso. Temos que dormir com isso.

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