EUA DESIGNAM OFICIALMENTE BRASIL COMO ALIADO EXTRA-OTAN

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EUA DESIGNAM OFICIALMENTE BRASIL COMO ALIADO EXTRA-OTAN

Durante visita de Bolsonaro à Casa Branca, em março, Trump falou em convite para Otan e apoio para entrada na OCDE

Status facilita a compra de tecnologia militar e armamentos dos EUA, entre outras vantagens. Brasil é o segundo país latino-americano a receber o título, após a Argentina.

DW-Brasil – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, designou oficialmente na noite desta quarta-feira (31/07) o Brasil como aliado militar preferencial do país fora da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). O status facilita a compra de tecnologia militar e armamentos dos EUA, entre outras vantagens.

Com o anúncio, o Brasil se torna o segundo país da América Latina, depois da Argentina, a receber o status especial, que permitirá aprofundar a cooperação militar bilateral. Além deles, outros 16 países já foram declarados aliados extra-Otan pelo governo americano.

Trump havia indicado que pretendia nomear o Brasilcomo aliado preferencial extra-Otan quando o presidente Jair Bolsonaro visitou a Casa Branca em março.

O processo para designação começou cerca de dois meses depois, em 8 de maio, quando Trump notificou o Congresso sobre a intenção através de carta, seguindo o procedimento legal, que determina que o Legislativo seja informado sobre a designação de um aliado militar estratégico fora da Otan pelo menos 30 dias antes do status entrar em vigor.

No documento, Trump afirmou que faria a designação “em sinal de reconhecimento pelos compromissos recentes do governo do Brasil de aumentar a cooperação no setor de defesa com os EUA, e consciente do nosso próprio interesse nacional em aprofundar nossa cooperação em defesa com o Brasil”. Após um mês sem manifestação do Legislativo, o status é considerado como aprovado, segundo a lei americana.

O status dá ao Brasil o direito de tornar-se comprador preferencial de equipamentos e tecnologias militares dos Estados Unidos, além de participar de leilões organizados pelo Pentágono. A medida também abre caminho para a colaboração no desenvolvimento de soluções de defesa e o aumento dos intercâmbios militares e  a realização de manobras conjuntas entre as Forças Armadas dos dois países.

Quando recebeu Bolsonaro em março, Trump até chegou a cogitar negociar a entrada do Brasil na Otan, mas a hipótese foi negada posteriormente pela aliança militar.

Trump também declarou apoio à campanha do Brasil para aderir à Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), um processo que pode levar anos, mas que Bolsonaro quer acelerar, com o respaldo formal americano.

A Otan tem 29 membros, nenhum deles na América Latina e nenhum no Atlântico Sul. As regras atuais da Otan limitam os convites para integrar a aliança a países europeus.

Entretanto, desde o ano passado a Colômbia é o único “parceiro global” da Otan na América Latina. Os “parceiros globais” podem contribuir com as operações e missões da aliança, com base em um programa individual.

Em abril deste ano, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, sugeriu que a aliança militar poderia considerar a possibilidade mais países latino-americanos, como o Brasil, se tornarem parceiros, mas não membros da Otan.

MD/efe/afp

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COMO A COCA-COLA GASTOU MILHÕES PARA COMPRAR CIENTISTAS

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COMO A COCA-COLA GASTOU MILHÕES PARA COMPRAR CIENTISTAS

Pública divulga trecho do livro de Marion Nestle sobre práticas da indústria alimentícia para influenciar produção acadêmica e ciência a seu favor.

AGÊNCIA PÚBLICA – Em abril, Marion Nestle, professora emérita da Faculdade de Nutrição, Estudos Alimentares e Saúde Pública da Universidade de Nova York, lançou aqui no Brasil seu livro Uma verdade indigesta: como a indústria de alimentos manipula a ciência sobre o que comemos, pela Editora Elefante

Nele, a pesquisadora e autora relata com detalhes como a indústria dos alimentos nos Estados Unidos financia pesquisas e eventos para trazer os pesquisadores para o seu lado. “Era muito difícil encontrar estudos patrocinados por uma empresa que saíssem com resultados que não fossem favoráveis aos interesses da empresa. Eu sabia que isso era um problema. Não era um estudo científico. Mas eu estava impressionada com o número de empresas alimentícias financiando estudos e usando para marketing”, resume Marion.

Abaixo, um trecho do capítulo que trata da estratégia adotada pela Coca-Cola Company para mudar o debate sobre obesidade – e esconder sua culpa na epidemia da doença crônica.

Reprodução

Marion Nestle é professora emérita da Faculdade de Nutrição, Estudos Alimentares e Saúde Pública da Universidade de Nova York

Coca-Cola, um estudo de caso

Pode parecer injusto dedicar um capítulo inteiro à Coca-Cola Company, mas as tentativas da empresa de influenciar as pesquisas têm sido tão deliberadas e abrangentes — e expostas tanto por repórteres, que tiverem acesso a e-mails, como pela própria empresa, em seu site — que exigem nossa atenção. Canalizando fundos por meio do ilsi e da Associação Americana de Bebidas, a Coca-Cola tem apoiado estudos de universidades há muito tempo, mas o financiamento direto é algo relativamente recente. No início dos anos 2000, a corporação publicou uma análise das pesquisas sobre hidratação. Porém, não se envolveu seriamente com essa área até 2004, quando estabeleceu o Instituto de Bebidas para Saúde e Bem-Estar, nascido expressamente para aumentar a conscientização da importância de “estilos de vida saudáveis” e das bebidas como meios eficazes para hidratação. Em 2008, trabalhos científicos de governos e universidades divulgavam o patrocínio da multinacional.

Em 2012, a vice-presidente e diretora de Ciência e Saúde da Coca-Cola, Rhona Applebaum, que também se tornaria presidente do ilsi três anos mais tarde, anunciou um grande esforço para combater as evidências que ligam os refrigerantes a dietas pobres e a problemas de saúde. Applebaum não mediu as palavras. A pesquisa financiada, disse ela, foi essencial para rebater a ciência promovida pelos defensores de impostos sobre refrigerantes. A Coca-Cola pretendia treinar jornalistas e atrair cientistas parceiros para conduzir “pesquisas defensivas e ofensivas”. Caso contrário, a indústria ficaria à mercê de “ativistas e jornalistas fanáticos”.

Esse esforço foi de fato significativo. Foram identificados 389 artigos publicados em 169 periódicos de 2008 a 2016, ou diretamente financiados pela empresa, ou realizados por pesquisadores com laços financeiros com a companhia. De maneira geral, a conclusão foi de que, no controle do peso, a atividade física é mais efetiva que a dieta; os açúcares e os refrigerantes são inofensivos; as evidências contrárias estão erradas; e as pesquisas bancadas pela indústria são superiores às financiadas por outras fontes.

O foco na atividade física é perfeitamente ilustrado pelo apoio da Coca-Cola à Rede Global de Balanço Energético (gebn, na sigla em inglês). A rede apareceu pela primeira vez em 2014, quando Yoni Freedhoff, médico canadense especializado em obesidade, verificava notícias no Twitter e esbarrou com um tuíte de Applebaum. Ela mencionava que Steven Blair, fisiologista do exercício da Universidade da Carolina do Sul, estava usando a rede para conectar especialistas em balanço energético. Freedhoff havia visto uma tuitada anterior de Blair a respeito, mas, conforme disse num e-mail que me enviou, “quando Rhona mencionou o assunto, soube que algo estava acontecendo”. Esse “algo” era o patrocínio da Coca-Cola, não mencionado nos anúncios.

Os outros membros fundadores da rede eram James Hill, da Universidade do Colorado, e Gregory Hand, da Universidade da Virgínia Ocidental. A mensagem principal era: a falta de atividade física — não a dieta e, certamente, não os refrigerantes — é responsável pela obesidade. Em um vídeo postado no site da aliança, Blair explicou que “a maioria das pessoas na mídia leiga e na imprensa científica está comendo demais, comendo demais, comendo demais e culpando o fast-food, as bebidas açucaradas e assim por diante. E praticamente não há nenhuma evidência convincente de que essa seja, de fato, a causa”. Blair disse que a gebn havia acabado de obter um financiamento, mas não revelou de quem.

Esse lapso não foi mera distração. Os e-mails dos repórteres mostram que a Coca-Cola não somente financiou a ofensiva, como também se envolveu ativamente em seu desenvolvimento — de uma maneira tal que houve certa disputa sobre a origem da iniciativa. Em maio de 2014, em uma conversa bastante áspera com um executivo da Coca-Cola, James Hill cobrou o reconhecimento de seu trabalho: “faz três anos que tenho aberto caminho para conceito da Rede Global de Balanço Energético. Investi tempo, esforços e recursos nessa ideia. Sinto-me grandemente responsável por ela e fiquei surpreso por descobrir que você a levou adiante sem mim”.

Os e-mails revelam que, alguns meses depois, Applebaum distribuiu uma proposta preliminar para a rede, “adaptada de um documento anterior, usado para vender o conceito para a empresa”. A proposta posicionou a gebn como uma arma na “crescente guerra entre a comunidade de saúde pública e a indústria privada sobre como reduzir a obesidade”. Ela disse: “lados estão sendo escolhidos e linhas de batalha estão sendo traçadas. […] A Rede Global de Balanço Energético precisa se estabelecer rapidamente como ponto para o qual a imprensa pode recorrer a fim de obter um comentário acerca de qualquer questão sobre obesidade”. Ela também disse que esse grupo precisava “conceber, criar e programar uma ‘campanha’ de defesa” por vários anos para servir “como força contrária à proposta unilateral de regulamentação. De maneira semelhante a uma campanha política, desenvolveremos, implantaremos e envolveremos uma estratégia poderosa e multifacetada para combater as organizações radicais e seus proponentes”. Ela ainda disse que a Coca-Cola iniciaria a rede com uma doação de vinte milhões de dólares, garantindo um orçamento anual de um milhão.

O livro “Uma verdade indigesta: como a indústria de alimentos manipula a ciência sobre o que comemos” mostra como os estudos científicos, encomendados pela indústria alimentícia, tornam-se estratégia de marketing de muitas empresas do setor

Depois de ver o tuíte de Applebaum, Freedhoff escreveu para a rede, perguntando quem pagava por ela. A resposta foi que “a Rede Global de Balanço Energético recebeu apoio da filantropia privada, da Universidade do Colorado, da Universidade da Carolina do Sul e da Universidade de Copenhague” — e, quase como uma reflexão tardia —, “incluindo uma doação educacional irrestrita da Coca-Cola Company”. Freedhoff repassou essas informações para Anahad O’Connor, repórter do The New York Times, que observou que o site da rede não era o único a ocultar suas fontes de financiamento. Os comunicados de imprensa da Universidade da Carolina do Sul e da Universidade do Colorado e um anúncio feito pelos organizadores da rede no British Journal of Sports Medicine tampouco fizeram qualquer menção a isso.

Foi suficiente para manter O’Connor ocupado pelos próximos meses, solicitando acesso à informação e realizando entrevistas para saber mais sobre o relacionamento da rede com a Coca-Cola. O repórter do The New York Times publicou as descobertas em agosto de 2015, num artigo que começou na primeira página e ganhou outra página inteira do jornal, relatando que, desde 2008, a empresa havia concedido mais de 3,5 milhões de dólares a Steven Blair e cerca de 1,5 milhão de dólares a Gregory Hand para pesquisa. A Coca-Cola também havia contribuído com um milhão para a fundação de pesquisa da Universidade do Colorado. Fui citada no artigo e logo entrevistada por outros repórteres, que não acreditavam que os pesquisadores pagos pela Coca-Cola pudessem argumentar que dieta não tem nada a ver com obesidade — uma ideia tão providencialmente egoísta e tão longe da verdade científica que provocou ridicularização imediata.

Os membros do Congresso norte-americano tampouco puderam acreditar. A representante de Connecticut, Rosa DeLauro, emitiu o seguinte comunicado: “esse estudo é herdeiro da pesquisa realizada pelas empresas de tabaco para enganar o público acerca dos riscos do tabagismo para a saúde. Esse grupo novo e a pesquisa são uma farsa. As pessoas querem ser saudáveis e querem que seus filhos sejam saudáveis e percebam que as bebidas cheias de calorias vazias não são boas”.

A resposta inicial da Coca-Cola a tudo isso veio do diretor técnico, Ed Hays: “sim, financiamos estudos científicos por meio da Rede Global de Balanço Energético e nos orgulhamos de apoiar o trabalho de pesquisadores como o Dr. Jim Hill e o Dr. Steve Blair, porque esse tipo de pesquisa é fundamental para encontrar soluções para a crise global de obesidade. Na Coca-Cola, acreditamos que uma dieta equilibrada e exercícios regulares são dois ingredientes fundamentais para um estilo de vida saudável”.

Uma resposta mais ponderada, porém, deve ter parecido necessária, porque, uma semana depois, o ceo da empresa, Muhtar Kent, em reportagem publicada no Wall Street Journal, afirmou: “nossa empresa foi acusada de mudar o debate, sugerindo que a atividade física é a única solução para a crise de obesidade. Relatos nos acusaram de enganar o público quanto ao nosso apoio à pesquisa científica. Sei que nossa empresa pode trabalhar mais para envolver a comunidade científica e a saúde pública — e o faremos. No futuro, à medida que reorientarmos nossos investimentos e nossos esforços para o bem-estar, agiremos com ainda mais transparência”.

Com a ênfase em “ainda mais transparência”, Kent quis dizer algo extraordinário: o site da Coca-Cola publicaria a lista de parcerias de pesquisa e investimentos sociais dos últimos cinco anos e, a partir disso, a atualização seria frequente. Em 22 de setembro de 2015, a empresa revelou o nome das centenas de profissionais de saúde, cientistas e organizações que havia apoiado nos Estados Unidos desde 2010, com os respectivos valores. O total desse financiamento foi de 21,8 milhões de dólares para pesquisas e de 96,8 milhões para ações comunitárias durante o período de cinco anos entre 2010 e 2015. Posteriormente, a corporação empreendeu iniciativas de transparência semelhantes na Grã-Bretanha, na Alemanha, na Austrália e em pelo menos outros dez países.

Transparência, porém, incentiva análise. Kyle Pfister, da organização da sociedade civil Ninjas for Health [Ninjas pela Saúde], rastreou os 115 indivíduos listados. Destes, 57% são nutricionistas, 20% são acadêmicos, 7% são médicos, 6% são especialistas em condicionamento físico e os demais são autores, chefs de cozinha ou representantes de empresas de alimentos. O site revelou que, de 2010 a 2015, a Coca-Cola contribuiu com setecentos mil dólares para a Academia de Nutrição e Dietética, 2,9 milhões para a Academia Americana de Pediatria, e 3,5 milhões para a Academia Americana de Médicos de Família — grupos dos quais, em todo caso, seria esperada a recomendação de evitar as bebidas açucaradas.

A transparência traz consequências. Em uma semana, a Coca-Cola encerrou as parcerias constrangedoras com essas organizações. No início de novembro, a Universidade do Colorado devolveu o subsídio de um milhão que fora dado aos trabalhos de Hill, explicando a decisão da seguinte forma: “embora a Rede Global de Balanço Energético continue a defender a boa saúde por meio de equilíbrio entre hábitos alimentares saudáveis e exercícios, a fonte de financiamento desviou a atenção do objetivo fundamental [da iniciativa].”

Em 24 de novembro, a Associated Press publicou e-mails trocados entre Applebaum e Hill. Mais tarde, naquele mesmo dia, a empresa anunciou a aposentadoria de sua vice-presidente. A gebn foi extinta uma semana depois. No final de 2015, Applebaum se demitiu do conselho administrativo do ilsi, terminando seu mandato como presidente. Na sequência, o Denver Post informou que, de 2011 a 2015, a Coca-Cola pagara 550 mil dólares a Hill por honorários, viagens, atividades educacionais e pesquisas. Em março de 2016, ele pediu demissão do cargo de diretor-executivo de um centro de saúde da Universidade do Colorado.

Os líderes da rede não esperavam reações tão fortes. Logo depois da reportagem do The New York Times, eles emitiram uma declaração: “é lamentável que a Rede Global de Balanço Energético tenha sido caracterizada como um grupo que promove atividade física em detrimento de dieta. Nada poderia estar mais longe da verdade. […] A Coca-Cola não participa das atividades da Rede Global de Balanço Energético. A Rede Global de Balanço Energético não trata da minimização do papel das dietas ou das bebidas açucaradas no desenvolvimento de obesidade. Dito isso, a Rede Global de Balanço Energético acredita que tanto a indústria alimentícia quanto a inatividade física [sic] podem desempenhar papéis para ajudar a reduzir a obesidade”.

A declaração veio acompanhada de respostas às “perguntas levantadas pela recente atenção da imprensa”. Essas respostas repudiaram o vídeo de Steve Blair desmerecendo a importância da dieta, defenderam o foco do grupo no balanço energético e deram a entender que havia certa incompreensão acerca dos interesses conflitantes entre a rede e o patrocinador. À pergunta: “a Rede Global de Balanço Energético acredita que, para combater a obesidade, a atividade física é mais importante do que a dieta?”, a resposta foi: “absolutamente não. As opiniões pessoais do dr. Blair, como expressadas no vídeo, não refletem com precisão a posição da Rede Global de Balanço Energético e, por essa razão, ele nos pediu para remover o vídeo do nosso site. Acreditamos que a redução do consumo de bebidas açucaradas é uma estratégia que pode ajudar a combater a obesidade”.

À pergunta: “o site da Rede Global de Balanço Energético foi registrado pela Coca-Cola?”, a resposta foi: “Sim. Isso foi um erro da nossa parte”. À pergunta: “vocês ainda se sentem confortáveis com o financiamento da Coca-Cola?”, a resposta foi: “sim, somos imensamente gratos à Coca-Cola. Esse financiamento foi concedido irrestritamente. […] Isso significa que a empresa não tem informações sobre como o dinheiro é gasto — não há necessidade de relatarmos nada à empresa”. De maneira geral, os integrantes da rede ficaram “claramente consternados em ver nossa organização ser acusada de subestimar a importância da dieta para beneficiar a Coca-Cola, mas aceitamos a responsabilidade por alguns erros que cometemos, em especial com nosso site”.

No dia seguinte, Lisa Young, minha colega da Universidade de Nova York e membro da Academia de Nutrição e Dietética, recebeu uma carta assinada pelos diretores da rede: “o artigo do The New York Times alegou que a Coca-Cola Company conduziu nossa estratégia. Isso não é verdade. A Coca-Cola não tem nenhuma participação na nossa organização. Eles forneceram fundos irrestritos para instalarmos a Rede Global de Balanço Energético, o que significa que eles não têm voz na forma como esses fundos são gastos. Continuamos a acreditar que o mundo precisa da Rede Global de Balanço Energético. Precisamos de uma organização para discutir a ciência do equilíbrio energético e as formas de usar o conhecimento que temos para reduzir a obesidade (e, sim, discordar)”.

Incluo essas declarações porque revelam a insistência dos líderes da rede no sentido de que a Coca-Cola não teve participação nas atividades do grupo. Os e-mails contam uma história diferente, sugerindo que a empresa esteve ativamente envolvida em todos os aspectos da organização — desde a concepção até o recrutamento de membros para disseminação dos resultados. Como os líderes da coalizão trabalham para universidades públicas em estados com leis de acesso à informação, repórteres e pesquisadores pediram os e-mails que eles trocaram com a corporação. Por exemplo, Gary Ruskin, da organização us Right to Know, obteve mensagens com documentos internos da empresa. Ficou provado que os executivos da Coca trabalharam com os cientistas da rede para influenciar a direção da pesquisa, ocultar a fonte de financiamento e promover a estratégia de balanço energético para os profissionais e a imprensa.

Candice Choi, da Associated Press, também solicitou e-mails. Ela os usou para mostrar que a então vice-presidente da Coca-Cola, Rhona Applebaum, havia ajudado a selecionar os membros da rede, desenvolvido a missão e as atividades do grupo, sugerido materiais para o site, projetado o logotipo, desenvolvido o plano de comunicação, oferecido treinamento de imprensa para os líderes e até encontrado emprego para o filho de um investigador. A repórter citou um e-mail de Hill para Applebaum: “não é justo que a Coca-Cola seja sinalizada como vilã número 1 do mundo da obesidade, mas essa é a situação, e esse é o seu problema — goste você ou não. Quero ajudar sua empresa a evitar a imagem de problema na vida das pessoas e a voltar a ser uma companhia que proporciona coisas importantes e divertidas a elas”.

 

DELTAN ARMOU ATAQUE DA LAVA JATO A MINISTRO DO STF DIAS TOFFOLI

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DELTAN ARMOU ATAQUE DA LAVA JATO A MINISTRO DO STF DIAS TOFFOLI

VLADIMIR PLATONOW/ ABR E CARLOS MOURA/SCO/STF

Publicado por Redação RBA – São Paulo – Nova reportagem publicada pelo jornal Folha de S.Paulo, a partir de informações recebidas pelo portal The Intercept Brasil, revelam que o procurador e coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol, incentivou colegas em Brasília e Curitiba a investigar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli “sigilosamente” em 2016. Naquele momento, o atual presidente da Corte era visto como um adversário que poderia atrapalhar a operação. Nova reportagem da série Vaza Jato revela que procurador ignorou limites da Constituição e incentivou colegas a vasculhar as finanças do juiz, em busca de algum vínculo com empresa denunciada na Lava Jato

Segundo a reportagem, Deltan buscou informações sobre as finanças pessoais de Toffoli e sua mulher, tentando encontrar evidências que os ligassem a empreiteiras envolvidas nas denúncias de corrupção na Petrobras.

Ministros do STF não podem ser investigados por procuradores da primeira instância, como Deltan e os demais integrantes da força-tarefa. A Constituição diz que eles só podem ser investigados com autorização do próprio tribunal, onde quem atua em nome do Ministério Público Federal é o procurador-geral da República.

As mensagens examinadas pela Folha e pelo Intercept mostram que Deltan desprezou esses limites ao estimular uma ofensiva contra Toffoli e sugerem que ele também recorreu à Receita Federal para levantar informações sobre o escritório de advocacia da mulher do ministro, Roberta Rangel.

O chefe da força-tarefa começou a manifestar interesse por Toffoli em julho de 2016, quando a empreiteira OAS negociava um acordo para colaborar com as investigações da Lava Jato em troca de benefícios penais para seus executivos. Duas decisões de Toffoli no STF tinham contrariado interesses da força-tarefa nos meses anteriores. Ele votara para manter longe de Curitiba as investigações sobre corrupção na Eletronuclear e soltara o ex-ministro petista Paulo Bernardo, poucos dias após sua prisão pelo braço da Lava Jato em São Paulo.

Os procuradores Carlos Fernando dos Santos Lima e Diogo Castor de Mattos, da força-tarefa de Curitiba, chegaram a criticar Toffoli num artigo publicado pela Folha no início de julho, em que compararam a soltura de Bernardo a um duplo twist carpado, por causa da “ginástica jurídica” usada para justificar a decisão.

Em suas primeiras reuniões com os procuradores da Lava Jato em 2016, os advogados da OAS contaram que a empreiteira havia participado de uma reforma na casa de Toffoli em Brasília. Os serviços tinham sido executados por outra empresa indicada pela construtora ao ministro, e ele fora o responsável pelo pagamento. O ex-presidente da OAS Léo Pinheiro, que disse ter tratado do assunto com Toffoli e era réu em vários processos da Lava Jato, afirmou a seus advogados que não havia nada de errado na reforma, mas mesmo assim o caso despertou a curiosidade dos procuradores.

No dia 13 de julho, Deltan fez uma consulta aos procuradores que negociavam com a empresa. Os diálogos são reproduzidos como no original, sem alterações e incluindo abreviaturas e eventuais erros de ortografia ou digitação.

“Caros, a OAS touxe a questão do apto do Toffoli?”, perguntou o procurador, num grupo privado no Telegram. “Que eu saiba não”, respondeu o promotor Sérgio Bruno Cabral Fernandes, de Brasília. “Temos que ver como abordar esse assunto. Com cautela.”

Duas semanas depois, em 27 de julho, Deltan procurou Eduardo Pelella, chefe de gabinete do então procurador-geral, Rodrigo Janot, para repassar informações que apontavam Toffoli como sócio de um primo num hotel no interior do Paraná. Deltan não indicou a fonte da dica.

No dia seguinte, o chefe da força-tarefa insistiu com o assessor de Janot. “Queria refletir em dados de inteligência para eventualmente alimentar Vcs”, escreveu. “Sei que o competente é o PGR rs, mas talvez possa contribuir com Vcs com alguma informação, acessando umas fontes.”

Deltan continuava interessado no caso do ministro do Supremo. “Vc conseguiria por favor descobrir o endereço do apto do Toffoli que foi reformado?”, perguntou. “Foi casa”, respondeu Pelella. Ele evitou esticar a conversa na hora, mas informou o endereço a Deltan dias depois.

As mensagens obtidas pelo Intercept não permitem esclarecer se alguma investigação formal sobre o ministro do STF foi aberta, mas mostram que Deltan continuou insistindo no assunto mesmo depois que um vazamento obrigou os procuradores a recuar.

SEM POLÍTICA DE EMPREGO, TRABALHO POR CONTA PRÓPRIA BATE RECORDE

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SEM POLÍTICA DE EMPREGO, TRABALHO POR CONTA PRÓPRIA BATE RECORDE

Trabalho precário: entrega de comida a partir de aplicativo é uma das saídas para desempregados / Jewel Samad | AFP

Segundo IBGE, desemprego atinge 12,7 milhões de brasileiros; outros 28,4 milhões são subutilzados.

Redação| Rede Brasil Atual – A taxa nacional de desemprego foi a 12% no trimestre encerrado em junho, ante 12,7% em março e 12,4% há um ano, informou nesta quarta-feira (31) o IBGE. O país está com 12,766 milhões de desempregados, menos 621 mil em três meses (-4,6%) e estatisticamente no mesmo nível (-1,2%) de junho de 2018. Mas se o desemprego recuou, o trabalho sem carteira continua aumentando e a informalidade é crescente: o número de trabalhadores por conta própria, 24,141 milhões, atingiu recorde da série histórica, com 1,156 milhão a mais (5%) em 12 meses.

O total de ocupados foi estimado em 93,342 milhões, com crescimento de 1,6% no trimestre (1,479 milhão a mais) e de 2,6% em um ano (2,401 milhões). Houve crescimento do emprego formal, mas o trabalho sem carteira sobe em ritmo mais intenso.

O total de empregados no setor privado com carteira assinada (33,213 milhões) subiu 0,9% no trimestre e 1,4% em 12 meses (acréscimo de 450 mil). E os empregados sem carteira (11,5 milhões) tiveram alta de 3,4% e 5,2% (565 mil), respectivamente. O número de trabalhadores conta própria, além da alta anual de 5%, aumentou 1,6% no trimestre.

A chamada subutilização da força de trabalho, que aponta pessoas que poderiam trabalhar mais, mas não conseguiram, teve taxa de 24,8%, estável nas duas comparações (25% no trimestre anterior e 24,5% um ano atrás). São 28,4 milhões de pessoas nessa situação, 923 mil a mais em 12 meses (3,4%).

Desalento e renda

O total de desalentados, estimado em 4,9 milhões, não se alterou. O percentual de desalentados em relação à força de trabalho manteve o recorde de 4,4%.

Entre os setores, de março a junho o IBGE apurou alta do emprego em agricultura/pecuária, indústria, administração pública e alguns serviços, inclusive os domésticos. Em um ano, agricultura, administração pública e serviços crescem, enquanto os demais ficam estáveis.

Estimado em R$ 2.290, o rendimento médio caiu 1,3% no trimestre. Segundo o IBGE, não variou significativamente (-0,2%) em relação a 2018. A massa de rendimentos ficou estável na comparação com março e cresceu 2,4% em 12 meses, com o aumento da ocupação.

Edição: João Paulo Soares

PARAGUAI: VICE-PRESIDENTE VAI AO CONGRESSO PARA PRESTAR ESCLARECIMENTOS APÓS ESCÂNDALO SOBRE ACORDO COM BRASIL

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REDAÇÃO OPERA MUNDI – Após revelação dos termos do acordo assinado em maio, oposição acusou Abdo Benítez de traição à pátria e chegou a cogitar pedido de impeachment.

O vice-presidente do Paraguai, Hugo Velázquez, compareceu ao Congresso Nacional nesta quarta-feira (31/07) para dar explicações a respeito de um acordo assinado entre o governo paraguaio e o brasileiro sobre a hidrelétrica de Itaipu, cuja revelação dos termos gerou uma crise no país vizinho.

“Há 50 anos o povo paraguaio exige e obriga que o governo tenha a possibilidade de vender energia a países terceiros ou a empresas privadas dos países que temos hidrelétricas”, disse Velázquez.

O vice-mandatário ainda afirmou que a possibilidade do país vender sua parte da energia para empresas privadas foi comemorado pelo governo porque aumentaria “em duas ou três vezes o preço” da mercadoria atual. Atualmente, o Paraguai não pode realizar negociações com outras empresas.

A assinatura do acordo entre as chancelarias brasileira e paraguaia, que foi rejeitado pelo Senado do país vizinho, prevê que o consumo declarado de energia pelos paraguaios aumentaria gradualmente até 2022, sob a justificativa de corrigir disparidades nos preços pagos por cada lado.

Twitter/Reprodução
Hugo Velázquez compareceu ao Congresso Nacional nesta quarta para dar explicações sobre o acordo com Brasil

Após a revelação dos termos do acordo assinado em maio, a oposição acusou o presidente Mario Abdo Benítez de traição à pátria e chegou a cogitar a possibilidade de um pedido de impeachment.

Na segunda-feria (29/07), o chanceler do país renunciou ao cargo e se defendeu dizendo que “tudo foi feito de forma transparente e em benefício do país”.

Também renunciaram o embaixador paraguaio no Brasil, Hugo Saguier, o titular paraguaio da usina hidrelétrica binacional de Itaipu, José Roberto Alderete, e atual o presidente da ANDE (Administração Nacional de Eletricidade), Alcides Jiménez, que havia assumido o cargo há poucos dias após a renúncia de seu antecessor, Pedro Ferreria, também por conta do escândalo.

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NOVO ACORDO DE ITAIPU BENEFICIOU EMPRESA LIGADA AO CLÃ BOLSONARO, DENUNCIA JORNAL PARAGUAIO

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NOVO ACORDO DE ITAIPU BENEFICIOU EMPRESA LIGADA AO CLÃ BOLSONARO, DENUNCIA JORNAL PARAGUAIO

Revista Fórum – Acordo secreto assinado em maio foi divulgado na semana passada por ordem do Senado do Paraguai e resultou na renúncia do ministro das Relações Exteriores e do diretor de Itaipu, Pedro Ferreira, que considerou o tratado como “alta traição” e “extorsão financeira”.

Reportagem do jornal ABC, do Paraguay, nesta quarta-feira (31), revela que o advogado José Rodríguez González, que atua como assessor jurídico informal do vice-presidente, Hugo Velázquez, intermediou a exclusão de uma cláusula para beneficiar a a empresa brasileira Léros Comercializadora, que seria ligada à família Bolsonaro, no acordo secreto de renegociação da Usina Hidrelétrica de Itaipu, assinado no dia 24 de maio pelos presidentes Jair Bolsonaro e Mario Abdo Benítez.

O acordo só foi tornado público na semana passada por exigência do Senado paraguaio. No documento, um dos termos – classificado pela mídia paraguaia como ítem 6 – teria sido excluído para beneficiar a empresa brasileira, do setor de energia, que seria ligada clã Bolsonaro, segundo González.

O “item 6” estava no projeto original do acordo e dizia que a Administración Nacional de Electricidad (ANDE), do Paraguai, poderia comercializar energia excedente no mercado brasileiro, afetando os negócios da Léros.

Segundo o jornal ABC, em 23 de maio, às vésperas do dia em que o acordo secreto foi assinado em Brasília, González enviou aos executivos da ANDE uma das mensagens mais comprometedoras. Em nome do presidente Mario Abdo Benítez e do vice Hugo Velázquez, ele solicitou a exclusão do item 6 do Acordo Bilateral com o Brasil.

O advogado teria escrito em mensagem que o item 6 não deveria ser incluído “porque em conversas com o mais alto comando do país vizinho, concluiu-se que não é o mais favorável, a fim de proteger o manuseio prudencial da informação para que a operação em andamento seja efetivada com o maior sucesso”, informa o jornal. Dessa forma, a ANDE, estatal de energia paraguaia, não poderia mais comercializar o excedente de energia em solo brasileiro.

Em nome da família presidencial

Ainda segundo o ABC, o advogado do vice-presidente paraguaio teria solicitado nos dias 3 e 5 de junho um encontro entre executivos da ANDE com a empresa Leros “para uma breve reunião sobre a compra de energia excedente para o mercado brasileiro”, que seria intermediada agora pela empresa brasileira.

Eles vêm em nome da família presidencial do país vizinho”, escreveu o advogado Rodríguez González. No acordo negociado, a Leros pediu à estatal exclusividade para negociar o excedente de energia de Itaipu em solo brasileiro.

Crise e renúncia

As recentes revelações do acordo secreto entre o governo Mario Abdo Benítez para beneficiar Bolsonaro e empresas ligadas ao seu clã resultou na renúncia do ministro das Relações Exteriores, Luis Castiglioni, e três outros altos funcionários, incluindo o diretor paraguaio de Itaipu, segundo informa o El País.

Segundo o jornal, a crise começou com a surpreendente renúncia do presidente da empresa estatal de eletricidade, a ANDE, Pedro Ferreira, na última quarta-feira. O funcionário deixou o cargo alegando que queriam obrigá-lo a assinar um acordo com o Brasil sobre Itaipu que não convinha ao Paraguai.

“Alta traição” e “extorsão financeira” foram as frases utilizadas por Ferreira para definir o texto secreto assinado por Abdo Benítez e Jair Bolsonaro.

Segundo a cientista política, professora e pesquisadora paraguaia Cecilia Vuyk, o acordo implica que seu país não poderá avançar em um maior uso de energia para novas indústrias e transporte elétrico e impedirá a contratação e venda de energia excedente a terceiros, mantendo a transferência da maior parte dela ao Brasil.

DELTAN INCENTIVOU CERCO DA LAVA JATO A TOFFOLI, REVELAM MENSAGENS

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DELTAN INCENTIVOU CERCO DA LAVA JATO A TOFFOLI, REVELAM MENSAGENS

FOLHA UOL | Ricardo Balthazar, da Folha – Procurador da força-tarefa de Curitiba sugeriu investigações sobre atual presidente do STF e escritório de advocacia da mulher em 2016.

O procurador Deltan Dallagnol incentivou colegas em Brasília e Curitiba a investigar o ministro Dias Toffoli sigilosamente em 2016, numa época em que o atual presidente do Supremo Tribunal Federal começava a ser visto pela Operação Lava Jato como um adversário disposto a frear seu avanço.

Mensagens obtidas pelo The Intercept Brasil e analisadas pela Folha junto com o site revelam que Deltan, coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, buscou informações sobre as finanças pessoais de Toffoli e sua mulher e evidências que os ligassem a empreiteiras envolvidas com a corrupção na Petrobras.

Ministros do STF não podem ser investigados por procuradores da primeira instância, como Deltan e os demais integrantes da força-tarefa. A Constituição diz que eles só podem ser investigados com autorização do próprio tribunal, onde quem atua em nome do Ministério Público Federal é o procurador-geral da República.

As mensagens examinadas pela Folha e pelo Intercept mostram que Deltan desprezou esses limites ao estimular uma ofensiva contra Toffoli e sugerem que ele também recorreu à Receita Federal para levantar informações sobre o escritório de advocacia da mulher do ministro, Roberta Rangel.

O chefe da força-tarefa começou a manifestar interesse por Toffoli em julho de 2016, quando a empreiteira OAS negociava um acordo para colaborar com as investigações da Lava Jato em troca de benefícios penais para seus executivos.

No dia 13 de julho, Deltan fez uma consulta aos procuradores que negociavam com a empresa.

“Caros, a OAS touxe a questão do apto do Toffoli?”, perguntou no grupo que eles usavam no Telegram. “Que eu saiba não”, respondeu o promotor Sérgio Bruno Cabral Fernandes, de Brasília. “Temos que ver como abordar esse assunto. Com cautela.”

Em 27 de julho, duas semanas depois, Deltan procurou Eduardo Pelella, chefe de gabinete do então procurador-geral, Rodrigo Janot, para repassar informações que apontavam Toffoli como sócio de um primo num hotel no interior do Paraná. Deltan não indicou a fonte da dica.

No dia seguinte, o chefe da força-tarefa insistiu com o assessor de Janot. “Queria refletir em dados de inteligência para eventualmente alimentar Vcs”, escreveu. “Sei que o competente é o PGR rs, mas talvez possa contribuir com Vcs com alguma informação, acessando umas fontes.”

Deltan continuava interessado no caso do ministro do Supremo. “Vc conseguiria por favor descobrir o endereço do apto do Toffoli que foi reformado?”, perguntou. “Foi casa”, respondeu Pelella. Ele evitou esticar a conversa na hora, mas informou o endereço a Deltan dias depois.

Todas as mensagens são reproduzidas pela Folha com a grafia encontrada nos arquivos originais obtidos pelo Intercept, incluindo erros de português e abreviaturas.

Em suas primeiras reuniões com os procuradores da Lava Jato em 2016, os advogados da OAS contaram que a empreiteira havia participado de uma reforma na casa de Toffoli em Brasília. Os serviços tinham sido executados por outra empresa indicada pela construtora ao ministro, e ele fora o responsável pelo pagamento.

O ex-presidente da OAS Léo Pinheiro, que disse ter tratado do assunto com Toffoli e era réu em vários processos da Lava Jato, afirmou a seus advogados que não havia nada de errado na reforma, mas o caso despertou a curiosidade dos procuradores mesmo assim.

Interesses da Lava Jato

Duas decisões de Toffoli no STF tinham contrariado interesses da força-tarefa nos meses anteriores. Ele votara para manter longe de Curitiba as investigações sobre corrupção na Eletronuclear e soltara o ex-ministro petista Paulo Bernardo, poucos dias após sua prisão pelo braço da Lava Jato em São Paulo.

Os procuradores Carlos Fernando dos Santos Lima e Diogo Castor de Mattos, da força-tarefa de Curitiba, chegaram a criticar Toffoli num artigo publicado pela Folha no início de julho, em que compararam a soltura de Bernardo a um duplo twist carpado, por causa da “ginástica jurídica” usada para justificar a decisão.

As mensagens obtidas pelo Intercept não permitem esclarecer se alguma investigação formal sobre o ministro do STF foi aberta, mas mostram que Deltan continuou insistindo no assunto mesmo depois que um vazamento obrigou os procuradores a recuar.

Em agosto, a revista Veja publicou uma reportagem de capa sobre a reforma na casa de Toffoli, apontando a delação de Léo Pinheiro como fonte das informações. Embora os advogados da OAS tivessem mencionado o caso aos procuradores, eles ainda não tinham apresentado nenhum relato por escrito sobre o assunto.

O vazamento causou mal-estar no Supremo e levou a Procuradoria-Geral da República a suspender as negociações com a OAS, para evitar uma crise que poderia prejudicar o andamento de outras investigações.

O rompimento dividiu a força-tarefa de Curitiba, segundo as mensagens analisadas pela Folha e pelo Intercept. Carlos Fernando defendeu a medida, mas Deltan achava que o recuo seria interpretado como uma tentativa de proteger Toffoli e o STF, impedindo a apuração de desvios.

“Qdo chega no judiciário, eles se fecham”, disse Deltan aos colegas em 21 de agosto, um dia após a reportagem sobre Toffoli chegar às bancas. “Corrupção para apurar é a dos outros.”

Carlos Fernando temia que os ministros do Supremo reagissem impondo obstáculos para novos acordos de colaboração e criando outras dificuldades para a Lava Jato.

“Só devemos agir em relação ao STF com provas robustas”, afirmou. “O que está em jogo aqui é o próprio instituto da colaboração. Quanto a OAS e ao toffoli, as coisas vão crescer e talvez daí surjam provas.”

No mesmo dia, horas mais tarde, o procurador Orlando Martello sugeriu que os colegas pedissem à Secretaria de Pesquisa e Análise (SPEA) da Procuradoria-Geral da República um levantamento sobre pagamentos da OAS ao escritório da mulher de Toffoli.

“A respeito do Toffoli, peçam pesquisa para a Spea de pagamentos da OAS para o escritório da esposa do rapaz q terão mais alguns assuntos para a veja”, disse Orlando no Telegram. “Não é nada relevante, mas acho q da uns 500 mil”.

Em resposta ao colega, Deltan afirmou que a Receita Federal já estava pesquisando o assunto, mas disse que não sabia dos pagamentos que teriam sido feitos pela OAS. “A RF tá olhando”, escreveu o chefe da força-tarefa. “Mas isso eu não sabia”.

Dias após a publicação da reportagem sobre a delação da OAS, o ministro Gilmar Mendes saiu em defesa de Toffoli e do STF e apontou os procuradores da Lava Jato como responsáveis pelo vazamento, acusando-os de abuso de autoridade.

Deltan propôs aos colegas a divulgação de uma nota em resposta ao ataque do ministro, mas não conseguiu apoio suficiente para a iniciativa. “Não acho que seja uma boa estratégia”, disse Pelella. “Isso tende a acirrar os ânimos no STF.”

Pouco depois, Deltan escreveu a Orlando Martello em busca de novidades sobre a mulher de Toffoli. As pesquisas não pareciam ter avançado, e o chefe da força-tarefa sugeriu que o colega também procurasse informações sobre a mulher de Gilmar, Guiomar Mendes.

“Tem uma conversa de que haveria recebimentos cruzados pelas esposas do Toffoli e Gilmar”, escreveu Deltan. “Tem mta especulação. Temos a prova disso na nossa base? Vc teve contato com isso?”

Martello disse que não tinha nada que confirmasse as suspeitas, mas compartilhou com Deltan informações que recebera um ano antes sobre a atuação do escritório da mulher de Toffoli na defesa de outra empreiteira, a Queiroz Galvão, no Tribunal de Contas da União.

O informante de Martello, que ele não identificou na conversa com Deltan, dizia ter encontrado uma procuração que nomeava Toffoli e a mulher como representantes da empresa no TCU e sugeria que essa ligação obrigava o ministro a se afastar dos processos da Lava Jato.

Toffoli e a mulher foram sócios do mesmo escritório de advocacia até 2007, quando ele saiu para assumir a chefia da Advocacia-Geral da União.

Duas semanas depois do diálogo de Deltan com Martello, a Folha publicou reportagem sobre pagamentos que um consórcio liderado pela Queiroz Galvão fez ao escritório em 2008 e 2011, no valor total de R$ 300 mil.

As mulheres de Toffoli e Gilmar foram mesmo alvo da Receita. Em fevereiro deste ano, o jornal O Estado de S. Paulo informou que elas fizeram parte de um grupo de 134 contribuintes investigados por uma equipe especial criada pelo fisco em 2017.

Outros alvos

Toffoli não foi o único alvo da Lava Jato na cúpula do Judiciário.

As mensagens obtidas pelo Intercept mostram que Deltan também usou a delação da OAS para tentar barrar a indicação de um ministro do Superior Tribunal de Justiça, Humberto Martins, para a vaga aberta no STF com a morte de Teori Zavascki em 2017.

Quando o nome de Martins apareceu na imprensa como um dos cotados para a vaga, Deltan procurou Eduardo Pelella para sugerir que o procurador-geral Janot alertasse o então presidente Michel Temer de que ele era um dos alvos da delação de Léo Pinheiro.

“É importante o PGR levar ao Temer a questão do Humberto Martins, que é mencinoado na OAS como recebendo propina”, disse Deltan ao colega. “Deixa com ‘nós'”, respondeu Pelella.

O chefe da força-tarefa de Curitiba sugeriu que o assessor de Janot conferisse os documentos anexados pela OAS à sua proposta de colaboração, mas depois se lembrou de que a Lava Jato não recebera até então nenhum relato escrito sobre Martins.

Mesmo assim, Deltan insistiu com Pelella para que avisasse o presidente. “Não tá nos anexos, mas iriam entregar. Só não lembramos se era corrupção ou filho… vou ver se alguém lembra e qq coisa aviso, mas já cabe a ponderação pq seria incompativel”, afirmou no Telegram.

Fazia cinco meses que as negociações com a OAS tinham sido encerradas. Como o acordo com a empreiteira não fora assinado nem homologado pela Justiça, as informações fornecidas por Léo Pinheiro durante as negociações não podiam ser usadas pelos investigadores.

O anexo com o relato sobre Martins só surgiu após a retomada das negociações, em março de 2017.

Segundo Léo Pinheiro, a OAS pagou R$ 1 milhão a um filho do ministro em 2013 para obter uma decisão favorável no STJ. Em janeiro deste ano, Martins disse à Folha que nunca atendeu pedidos da OAS e sempre se declarou impedido de julgar ações em que o filho atue.

Quando os procuradores voltaram à mesa de negociações com os advogados da OAS, Léo Pinheiro estava preso em Curitiba e se preparava para depor no processo em que incriminou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o caso do tríplex de Guarujá (SP).

O acordo com o empreiteiro foi assinado no fim do ano passado, mas até hoje não foi encaminhado pela procuradora-geral, Raquel Dodge, ao Supremo para homologação. Sem isso, Pinheiro não pode sair da cadeia e receber os benefícios acertados com a Lava Jato.

Outro lado

A força-tarefa à frente da Operação Lava Jato em Curitiba afirmou que é seu dever encaminhar à Procuradoria-Geral da República informações sobre autoridades com direito a foro especial no Supremo Tribunal Federal sempre que as recebe, e que isso tem sido feito de forma legal.

A força-tarefa não fez comentários específicos sobre o conteúdo das mensagens obtidas pelo The Intercept Brasil, que revelam iniciativas do procurador Deltan Dallagnol para levantar informações sobre os ministros Dias Toffoli, atual presidente do Supremo Tribunal Federal, e Gilmar Mendes, além de suas respectivas mulheres.

“É comum o intercâmbio de informações para verificar, em caráter preliminar, supostos fatos de que o Ministério Público tenha conhecimento”, afirmou a força-tarefa, por meio de nota. “Isso impede inclusive que se dê iní­cio a apurações injustificadas.”

Segundo a força-tarefa, informações sobre autoridades com foro no STF são encaminhadas “por questão de dever”, e “sem exceção”, à Procuradoria-Geral da República, “a quem compete decidir sobre eventual encaminhamento”.

“A Lava Jato só analisa informações bancárias e fiscais após decisão judicial que afaste o sigilo ou quando formalmente encaminhadas nos termos da lei”, acrescentou.

A Folha perguntou à força-tarefa como Deltan soube da participação da empreiteira OAS na reforma da casa de Toffoli, e como soube que a Receita Federal estava analisando as finanças do escritório de sua mulher, Roberta Rangel, mas o procurador preferiu não se manifestar.

O chefe da força-tarefa também não quis esclarecer por que usou informações da delação do empreiteiro Léo Pinheiro para tentar impedir a nomeação do ministro Humberto Martins para uma vaga no Supremo, como revelam as mensagens obtidas pelo Intercept.

A força-tarefa reafirmou que não reconhece a autenticidade do material, e que ele foi obtido de forma criminosa. “Os procuradores pautam sua conduta pela lei e pela ética e renovam sua confiança e respeito ao Supremo Tribunal Federal”, acrescenta a nota.

O procurador Eduardo Pelella, que trocou informações sobre Toffoli com Deltan, disse que o Ministério Público tem obrigação de verificar as informações que recebe para evitar acusações falsas.

“Embora não seja possível verificar o contexto dos supostos diálogos, a checagem da consistência mínima dos elementos de informação que chegam ao conhecimento do Ministério Público Federal é necessária, até para que se possam identificar falsas imputações”, afirmou.

Os ministros Dias Toffoli e Gilmar Mendes não quiseram se manifestar sobre as mensagens, assim como a Procuradoria-Geral da República.

O ministro Humberto Martins, do Superior Tribunal de Justiça, afirmou estranhar sua citação pela delação de Léo Pinheiro e disse que sempre decidiu contrariamente aos interesses da OAS e de seu ex-presidente, na maioria dos casos em decisões colegiadas.

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#VERIFICAMOS: É FALSO QUE GLEISI FOI HOSTILIZADA EM CARNAVAL FORA DE ÉPOCA EM FORTALEZA

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#VERIFICAMOS: É FALSO QUE GLEISI FOI HOSTILIZADA EM CARNAVAL FORA DE ÉPOCA EM FORTALEZA

LUPA | POR CHICO MARÉ – Circula nas redes sociais um vídeo no qual um grupo de foliões arremessa latinhas contra um camarote.

No título do vídeo, é dito que as imagens foram gravadas no Fortal, carnaval fora de época de Fortaleza, e que a pessoa no camarote é a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente do PT. Por meio do projeto de verificação de notícias, usuários do Facebook solicitaram que esse material fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa:

“Fortal. Foliões repudiam presença da petista Gleisi Hoffman (sic) no palco do PT”
Vídeo publicado no Youtube pelo canal M10 Comunicação Integrada que, até as 15h do dia 29 de julho, tinha sido visto por mais de 3,6 mil pessoas

FALSO

A mulher que aparece no vídeo analisado pela Lupa sendo alvejada por latinhas não é a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR). Além de a fisionomia ser completamente diferente (a mulher na imagem tem o cabelo preto, enquanto Gleisi é loira), a presidente do PT não estava em Fortaleza durante o Fortal 2019, realizado entre os dias 25 e 28 de julho.

“Não é verdade que a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR) esteve em Fortaleza no fim de semana. Ela esteve em Curitiba desde quinta-feira (25) e retornou a Brasília no domingo (28). No sábado (27), na capital do Paraná, a deputada participou de agenda realizada pelo site Brasil 247, conforme foto publicada no Instagram”, diz nota enviada pela assessoria de imprensa da deputada.

Além disso, vale destacar que, no vídeo, as pessoas que arremessam as latinhas gritam ofensas ao presidente Jair Bolsonaro (PSL), a quem Gleisi faz oposição no Congresso.

Nota: esta reportagem faz parte do projeto de verificação de notícias no Facebook. Dúvidas sobre o projeto? Entre em contato direto com o Facebook

Editado por: Natália Leal

NY TIMES EXPÕE AO MUNDO OS CRIMES DO MORO!

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NY TIMES EXPÕE AO MUNDO OS CRIMES DO MORO!

Intercept mostrou um juiz imoral! A investigação deveria, em teoria, ser uma fonte de orgulho para nossa jovem democracia – só que essa não é a história toda.

CONVERSA AFIADA – Na superfície, a “Operação Lava Jato” tem sido uma cruzada virtuosa contra a corrupção política neste país.

Nos últimos cinco anos, essa investigação federal revelou amplos esquemas de propinas envolvendo os executivos e políticos mais importantes do Brasil. A operação levou ao processo criminal de 429 indivíduos e à condenação de 159 deles. Os veículos jornalísticos cobriram avidamente cada etapa da investigação, pressionando e elogiando a derrubada de uma cultura de corrupção na política brasileira. A investigação deveria, em teoria, ser uma fonte de orgulho para nossa jovem democracia – só que essa não é a história toda.

Desde o início, a Operação Lava Jato recorreu a procedimentos questionáveis, como usar prisões preventivas para forçar confissões e confiar demais em generosos acordos de delação premiada. Mas isso não parece suficiente para descartar seus esforços contra a corrupção em grande escala, pelo menos aos olhos do público.

Então, no dia 9 de junho, o site de notícias The Intercept Brasil publicou a primeira de uma série de reportagens lançando dúvidas sobre a integridade dos principais personagens da investigação. Os jornalistas obtiveram, de uma fonte anônima, um arquivo massivo de mensagens privadas, trocadas por meio do serviço de mensagens Telegram, entre procuradores e o juiz principal da Operação Lava Jato, Sergio Moro. (Nós vamos voltar para ele mais tarde.)

As mensagens vazadas mostram que Moro frequentemente ultrapassou seu papel de juiz – alguém que deveria ser imparcial e sem qualquer viés – para atuar como conselheiro da acusação. Ele ofereceu conselhos estratégicos aos procuradores: eles deveriam, por exemplo, inverter a ordem das várias fases da investigação; pensar melhor sobre uma moção específica que eles estavam planejando arquivar; acelerar certos processos; desacelerar muitos outros. Moro passou informações sobre uma possível nova fonte para a procuradoria; repreendeu procuradores quando demoraram demais para realizar novas etapas da operação; endossou ou desaprovou suas táticas; e forneceu-lhes conhecimento antecipado de suas decisões.

As revelações lançaram nova luz sobre a condenação, por Moro, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2017. (No Brasil, os julgamentos por júri são restritos a crimes contra a vida, como homicídio e infanticídio. Em outros casos criminais, o mesmo juiz que supervisiona a investigação é também aquele que julga e sentencia o acusado.) O político de esquerda, que governou o país de 2003 a 2010, está atualmente preso, tendo sido condenado por corrupção e lavagem de dinheiro. Ele foi considerado inelegível para concorrer à presidência precisamente no momento em que as pesquisas mostraram que ele era o favorito no plento de 2018. A conveniente detenção de Lula preparou o caminho para a eleição do candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro, que na época – espere por isso – gentilmente nomeou Moro como ministro da Justiça do Brasil.

De acordo com o material publicado pelo site de notícias The Intercept Brasil, no decorrer da investigação, Moro se envolveu em assuntos de cobertura da imprensa e se preocupou em obter apoio do público para a acusação. “O que você acha dessas declarações malucas do comitê nacional do PT? Deveríamos refutar oficialmente?”, ele perguntou uma vez ao procurador Deltan Dallagnol, referindo-se a uma declaração do Partido dos Trabalhadores, de Lula, na qual a acusação era considerada uma perseguição política. Observe o uso da palavra “nós” – como se o Sr. Moro e o Sr. Dallagnol estivessem no mesmo time.

Isso tudo é, claro, altamente imoral – se não totalmente ilegal. Viola nada menos que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que diz: “Todos têm direito, em plena igualdade, a uma audiência justa em um tribunal independente e imparcial, na determinação de seus direitos e obrigações e de qualquer acusação criminal contra ele”. De acordo com o Código de Processo Penal do Brasil, os juízes devem ser árbitros neutros e não podem dar conselhos a nenhuma das partes em um caso. Moro também violou muitas disposições do Código Brasileiro de Ética Judicial, particularmente uma que diz que o juiz deve manter “uma distância equivalente das partes”, evitando qualquer tipo de comportamento que possa refletir “favoritismo, predisposição ou preconceito”.

(…) Tudo somado, os vazamentos revelam um juiz imoral, que se uniu a procuradores motivados eleitoralmente, a fim de prender e condenar indivíduos que já consideravam culpados. Sua única dúvida era a melhor maneira de fazer isso.

O conteúdo chocante dessas trocas poderia dar aos advogados de defesa novos fundamentos para recorrer de condenações. No ano passado, os advogados de Lula foram à Suprema Corte e exigiram um novo julgamento, argumentando que Moro não foi imparcial; as mensagens vazadas foram adicionadas à petição, fortalecendo o caso.

A Ordem dos Advogados do Brasil pediu a suspensão dos envolvidos no escândalo, dizendo, em um comunicado escrito, que “a gravidade dos fatos não pode ser desconsiderada, exigindo uma investigação completa e imparcial”.

Mas quase um mês se passou desde as primeiras reportagens do Intercept. Efetivamente, nada foi feito.

E por incrível que pareça, Sergio Moro ainda é o nosso ministro da Justiça.

 

CRÍTICA DE BOLSONARO À EMENDA DO TRABALHO ESCRAVO EXPÕE DESCONHECIMENTO DA LEI

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CRÍTICA DE BOLSONARO À EMENDA DO TRABALHO ESCRAVO EXPÕE DESCONHECIMENTO DA LEI

Posição do presidente não tem embasamento jurídico e já constava no programa de governo apresentado na campanha / Sergio Carvalho/MTE

Ao contrário do que sugeriu o presidente, trabalho escravo e em condições análogas à escravidão são o mesmo crime

Rafael Tatemoto | Brasil de Fato | Brasília (DF) – O presidente Jair Bolsonaro (PSL) criticou esta semana a Emenda Constitucional 81, aprovada em 2014, que permite a expropriação de imóveis nos quais haja flagrante de trabalho escravo.

O teor da crítica do capitão reformado, que já constava no programa de governo apresentado por sua candidatura em 2018, se baseou em uma distinção conceitual inexistente no campo jurídico.

Segundo ele, haveria uma “linha tênue” entre trabalho escravo e trabalho em condição análoga à escravidão. Essa indefinição, em sua opinião, geraria insegurança a produtores rurais: “O trabalhador, o empregador, tem que ter essa garantia. Quem tem coragem de investir num país como esse?”.

Ao se dirigir ao presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Ives Gandra Martins, deixou explícita sua confusão, dizendo que colegas do magistrado “entendem que o trabalho análogo à escravidão também é escravo. E pau neles [produtores rurais]”.

Sinônimos

Segundo a jurista e pesquisadora Andrea Gondim, autora da dissertação “Trabalho em condição análoga à de escravo no meio urbano”, os dois termos, na verdade, “falam da mesma figura”. Ou seja, são sinônimos para descrever o que alguns estudiosos chamam de “escravidão contemporânea”.

“São utilizados vários termos, mas o que eles querem dizer é que ainda hoje acontece de pessoas serem submetidas a situações similares à escravidão. Quando a gente utiliza o uso reduzido do termo [‘trabalho escravo’], é para sensibilizar à sociedade exatamente para isso”, afirma.

De acordo com Gondim, “do ponto de vista técnico-jurídico” o termo mais apropriado é “trabalho em condição análoga à de escravo”, já que houve Abolição formal do escravagismo em 1888.

Penalidade

A Emenda citada pelo presidente modificou o artigo 243 da Constituição, que já previa a expropriação – perda de propriedade sem indenização – para o caso de tráfico de entorpecentes.

“O texto dispõe que as propriedades podem ser expropriadas quando flagrada a ‘exploração do trabalho escravo na forma da lei’. Ou seja, nada impede que se utilize [para a definição] o artigo 149 do Código Penal para a expropriação. Quando se fala em trabalho escravo no contexto atual se está falando do trabalho descrito no Código Penal”, afirma Gondim.

O Código Penal, assim, dá uma definição do que se pode considerar o trabalho escravo contemporâneo no Brasil: “trabalhos forçados”, “jornada exaustiva”, “condições degradantes de trabalho” e restrição, “por qualquer meio, [de] sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador”.

De acordo com o Observatório Digital do Trabalho Escravo no Brasil, mantido pelo Ministério Público do Trabalho em cooperação com a Organização Internacional do Trabalho, no período de 2003 a 2018, ocorreram 45.028 resgates de pessoas em situação de trabalho análogo à escravidão no país.

O frei Xavier Plassat, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), uma das entidades que sempre atuou na notificação de suspeitas de trabalho escravo, explica que os focos de trabalho escravo variam aos longos dos anos, passando de setores como madeireiras na Amazônia, na produção de carvão, nos canaviais e, mais recentemente, em áreas urbanas como a indústria têxtil.

O religioso afirma que nos últimos três anos as ocorrências têm diminuído. “Uma característica permanente é invisibilidade. A suspeita é que haja uma subnotificação [nos últimos anos] por vários motivos. E também que tenha havido mudanças reais após 25 anos de fiscalização”, argumenta.

Um dos possíveis fatores mencionados por Plassat é a piora no mercado de trabalho, que teria levado a um temor maior para a realização de denúncias por parte dos trabalhadores. Em 2018, fiscais identificaram cerca de 1700 situações de trabalho escravo, resgatando 1133 pessoas.

:: Combate ao trabalho escravo sofre corte orçamentário no Brasil :: 

Segundo o Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho (Sinait), 8 mil auditores fiscais do trabalho seriam necessários para cobrir todo o território nacional. Atualmente, o Brasil tem 2,2 mil profissionais contratados.

O ritmo das operações dos auditores fiscais vai na contramão da urgência da erradicação do trabalho escravo. Informações disponibilizadas em agosto do ano passado pelo extinto Ministério do Trabalho mostraram que o número de fiscalizações está em queda.

No ano de 2017, por exemplo, foram realizadas 88 operações de fiscalização, resultado do contingenciamento de 52,2% no plano orçamentário para esse fim. Em 2016, foram 115.

Edição: Rodrigo Chagas

 

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