SOTERRAMENTO, QUEIMADURA E EXPLOSÃO: COMO MORRE O TRABALHADOR NO BRASIL

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Repórter Brasil – Por Piero Locatelli / Ilustrações: Vitor Flynn – Acidentes de trabalho geram morte de um trabalhador a cada 4 horas no país, em parte devido ao descumprimento de normas de segurança. Cenário pode se agravar com mudanças defendidas por Bolsonaro, que quer reduzir tais regras, por considerar que elas acarretam ‘custos absurdos’.

No começo deste ano, o Brasil se deparou com o maior acidente de trabalho de sua história – 270 pessoas morreram ou desapareceram no rompimento de uma barragem de rejeitos de minério da Vale em Brumadinho, Minas Gerais.

Tratado pela empresa e pelo governo como uma exceção, o caso de Brumadinho é, na verdade, só a parte mais visível de um problema maior: ao menos 2.096 trabalhadores morreram em acidentes de trabalho no Brasil em 2017, último ano com dados disponíveis, segundo informações do extinto Ministério da Previdência. Em média, um a cada 4 horas. Ou quase oito tragédias de Brumadinho em apenas um ano.

Por trás desses números, há mortes trágicas que poderiam ter sido evitadas. Com base na Lei de Acesso à Informação, a Repórter Brasil obteve relatórios onde os auditores fiscais do trabalho, ligados ao extinto Ministério do Trabalho (atualmente Ministério da Economia), descrevem em detalhes as causas de mais de 200  acidentes.

São mortes causadas por choques elétricos, desabamentos, afogamentos, explosões, contaminações, queimaduras, sufocamentos e quedas. São mortes que acontecem nas mais diversas profissões, do pedreiro ao agricultor. Mas todas têm algo em comum: o descumprimento das Normas Regulamentadoras do trabalho, as chamadas NRs, que garantem segurança aos trabalhadores.

Simplificar essas regras é uma das prioridades do governo de Jair Bolsonaro, que prometeu diminuir “em 90%” as normas de segurança do trabalho, alegando que “há custos absurdos (para as empresas) em função de uma normatização absolutamente bizantina, anacrônica e hostil”, segundo reportagem do jornal Valor Econômico.

Entre todas as normas, a primeira a ser modificada pelo governo será aquela que regula o funcionamento de máquinas e equipamentos, a NR-12. Não à toa, é também a mais descumprida nos casos dos acidentes fatais, segundo documentos inéditos obtidos pela Repórter Brasil.

Confira abaixo casos de mortes que poderiam ter sido evitadas caso as normas de proteção ao trabalhador tivessem sido cumpridas:

Fábrica de doces no Ceará

Mortes em ambientes de trabalho remetem a atividades pesadas, mas mesmo profissões aparentemente menos perigosas podem ter acidentes fatais quando regras básicas não são cumpridas. Três trabalhadores morreram e outros três ficaram gravemente feridos em uma fábrica de doces em Tabuleiro do Norte, Ceará, após a explosão de uma máquina de caldeira em 6 de agosto de 2015. Dessa máquina, vinha o vapor para cozinhar banana “in natura” e polpas de goiaba e de caju. A máquina, fabricada em 1965, não sofria a manutenção prevista na norma, e sua explosão derrubou o teto do local onde estavam os funcionários.

Construção em Minas Gerais

Um assistente de pedreiro morreu construindo o acesso para ambulâncias em um hospital de Caratinga, Minas Gerais. O trabalhador tentava fazer uma máquina voltar a funcionar quando, sem enxergá-lo, um operador de trator começou a escavar as rochas. O assistente morreu soterrado. Os trabalhadores não sabiam dos riscos que estavam correndo, já que não havia uma descrição de cada tarefa como prevê a NR-12. Não havia também qualquer sinalização e controle de acesso no local de demolição, como preveem outras normas de trabalho.

Olaria no Mato Grosso do Sul

Um pedaço de barro havia feito uma esteira parar de funcionar numa olaria em Brasilândia, no Mato Grosso do Sul. Quando o trabalhador tentou fazer a esteira voltar a funcionar, se desequilibrou e caiu vivo dentro do triturador de barro, morrendo imediatamente. A empresa havia descumprido 23 regras presentes da NR-12, incluindo a falta de uma parada de emergência e o isolamento da máquina.

‘Retrocesso inadmissível’

O governo tem mostrado pressa na simplificação das normas de segurança no trabalho. Não só da NR-12, mas de todas as 37 regras de proteção ao trabalhador. No último mês, o Ministério da Economia revelou um cronograma para discuti-las, o que tem gerado preocupação nos auditores fiscais do trabalho responsáveis pela sua aplicação.

“Em um país onde a cada 49 segundos ocorre um acidente de trabalho, a flexibilização das normas de segurança e saúde representa um retrocesso inadmissível e traz enorme preocupação,” diz uma carta assinada pelos chefes da fiscalização de trabalho de todos os estados do país.

Na carta, eles reclamam da falta de transparência desse processo de revisão das normas e afirmam que essas regras foram responsáveis por evitar, desde a sua vigência, “aproximadamente 8 milhões de acidentes e 46 mil mortes”.

A simplificação dessas normas, e especialmente da NR-12, é uma antiga demanda da principal entidade da indústria no país, a CNI (Confederação Nacional da Indústria). As reduções nessas regras estão na “pauta mínima” da agenda legislativa da entidade, que é extremamente crítica a sua atual redação. Segundo esse documento, “as normas são produzidas a partir de premissas equivocadas sobre a relação entre empregados e empregadores, com fundamentos técnicos contaminados ideologicamente, que se preocupam unicamente em impor obrigações para as empresas, sem qualquer preocupação com o impacto que a regulação do trabalho sobre a evolução de custos, a produtividade e até mesmo sobre a garantia de novos direitos e interesses dos trabalhadores”.

Até agora, essas normas eram elaboradas em comissões formadas por trabalhadores, empregadores e o governo, as chamadas comissões tripartites. Uma nova redação para a NR-12 havia sido, inclusive, aprovada por unanimidade neste ano pelas três categorias, em uma negociação que já vinha acontecendo desde a posse de Bolsonaro. Auditores fiscais do trabalho afirmaram à reportagem que a nova norma aprovada pela comissão simplifica a sua redação sem comprometer a segurança do trabalhador, mesma posição defendida pelo Ministério Público do Trabalho.

Segundo o procurador Leonardo Osório Mendonça, coordenador nacional de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho (Codemat) do Ministério Público do Trabalho, essa versão simplifica a norma sem colocar em risco a saúde dos trabalhadores. “A NR-12 [na versão da comissão] continua sendo uma boa norma, protetiva, importante para a prevenção de acidentes de trabalho. Essa nova redação nem de longe tem o perfil de 90% da redução das normas de segurança [como havia prometido o governo]. Fizeram mudanças principalmente na redação, além dos anexos que não descaracterizam a norma,” diz o procurador.

O governo, porém, ainda precisa publicar o texto aprovado pela comissão, e não há nenhuma garantia do que ele fará isso. Auditores fiscais que conversaram com a reportagem temem que o governo descumpra o que foi discutido na comissão e que o texto aprovado seja distante do sugerido por ela, o que pode acabar causando mais mortes e acidentes.

Repórter Brasil procurou o Ministério da Economia para saber qual texto seria usado pelo ministério, mas não teve nenhuma resposta. A Fundacentro, instituição ligada ao ministério responsável por pesquisas e estudos sobre segurança do trabalho, não quis se pronunciar. A CNI também foi procurada, mas disse que não tinha um porta-voz disponível para conversar com a reportagem.

ACORDO MERCOSUL-UE PODE ESBARRAR EM RESISTÊNCIA DOS ‘VERDES’ NO PARLAMENTO EUROPEU

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ACORDO MERCOSUL-UE PODE ESBARRAR EM RESISTÊNCIA DOS 'VERDES' NO PARLAMENTO EUROPEU

Desmatamento na Amazônia. O bloco dos verdes no Parlamento Europeu afirma que o acordo Mercosul-UE ‘é um mau compromisso e vem no momento errado, quando há uma demanda crescente por desenvolvimento sustentável’ Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Bloco elegeu 75 parlamentares na última eleição e é critico à política ambiental do governo de Jair Bolsonaro

ESTADÃO – Eduardo Rodrigues e Julia Lindner, BRASÍLIA – Após a assinatura do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, na sexta-feira, 28, um dos primeiros entraves para a sua aprovação definitiva ocorrerá no Parlamento Europeu, onde os “verdes” ganharam poder de influência e podem dificultar a aprovação do texto em represália à política ambiental do governo brasileiro.

Em nota, o bloco dos verdes no Parlamento Europeu afirmou que o acordo Mercosul-UE “é um mau compromisso e vem no momento errado, quando há uma demanda crescente por desenvolvimento sustentável”. O grupo também critica a abordagem da UE sobre o Acordo de Paris, dizendo que falar o que se quer ouvir sobre o tratado climático está fazendo nada mais do que “servir a imagem do presidente Jair Bolsonaro”.

Para os verdes, os chefes de Estado dos países da União Europeia “não aproveitaram a chance de um comércio global justo, equitativo e sustentável”. “O preço do acordo do Mercosul será pago pelos agricultores, pelo meio ambiente e pelo clima”, criticaram no texto.

Os integrantes do bloco parlamentar são conhecidos pelos compromissos voltados para preservação ambiental e questões climáticas. Eles surpreenderam na última eleição e vão ocupar 75 dos 751 lugares do Parlamento europeu, representando o quarto maior grupo da legislatura que vai de 2019 a 2024.

Pressões

Depois de ser ratificado pelo Parlamento Europeu e pelos parlamentos dos quatro membros do bloco sul-americano, o acordo ainda terá de passar pelo crivo dos 27 países do bloco europeu (já considerando a saída do Reino Unido, pelo Brexit). A expectativa do Brasil e da Argentina é que o processo dure até dois anos. Integrantes do governo do ex-presidente Michel Temer, por outro lado, estimavam que o processo poderia levar até cinco anos.

Com isso, o texto ainda estará sujeito a diversas pressões e riscos ao longo dos próximos anos. Basta lembrar que o acordo europeu com o Canadá quase foi sepultado em 2016 devido à relutância dos deputados da pequena Valônia, na Bélgica, em ratificarem o texto.

Devido à heterogeneidade da política do velho continente, os entraves para uma ratificação célere do acordo com o Mercosul podem ser os mais diversos. Dos países nórdicos, viria a preocupação a respeito da proteção ao meio ambiente – o que o próprio presidente Jair Bolsonaro classificou como “psicose ambientalista”.

Já de países com governos e lideranças parlamentares mais à esquerda, como Portugal e Grécia, poderia haver ressalvas quanto a um processo liderado por presidentes à direita em meio a uma guinada conservadora no Cone Sul.

Em termos práticos, as maiores pressões devem vir dos trabalhadores do centro da Europa, sejam os agricultores franceses ou os operários alemães. Por isso, todos os comunicados emitidos pela União Europeia até agora têm tentado passar a impressão de que o campo e a indústria desses países continuarão protegidos.

Farsa
Na sexta-feira, a presidente da Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores da França, Christiane Lambert, classificou de “farsa” o acordo estabelecido entre o Mercosul e a União Europeia. “Semanas depois das eleições europeias, é inaceitável a assinatura de um acordo UE-Mercosul que estabelece concorrência desleal aos agricultores europeus e uma farsa total aos consumidores”, disse ela no Twitter.

Integrante das negociações por parte da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia até abril deste ano, o subsecretário de Competitividade na Indústria, Comércio e Serviços do Estado de São Paulo, André Favero, avalia que a própria ebulição interna da União Europeia em meio ao Brexit pode atrasar a aprovação do texto.

“Toda essa discussão sobre a saída do Reino Unido do bloco tem gerado um grande desgaste entre vários países. Diversos países europeus também têm externalizado visões bem diferentes em questões ambientais e trabalhistas”, acrescenta.

Para o especialista, porém, embora esses temas possam levar a longos debates que retardariam o processo, dificilmente colocariam em risco a ratificação do acordo. “As maiores dificuldades serão colocadas mesmo pelos ruralistas europeus, sobretudo da França e da Suíça, que resistirão à competitividade do agronegócio brasileiro”, completa.

Já a ratificação pelo Congresso brasileiro não deve ser um problema, na avaliação do especialista. “O parlamento brasileiro já evoluiu bastante na recepção de acordos internacionais. A expectativa é de uma tramitação rápida, ainda que alguns grupos da indústria nacional possam ter ressalvas sobre o acordo.”

O Brasil tem hoje uma fila de 35 acordos já negociados e assinados com outros países, mas que ainda aguardam a burocracia andar para que possam entrar em vigor.

ACORDO ENTRE UNIÃO EUROPEIA E MERCOSUL NÃO TERÁ EFEITO IMEDIATO, DIZ ECONOMISTA

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ACORDO ENTRE UNIÃO EUROPEIA E MERCOSUL NÃO TERÁ EFEITO IMEDIATO, DIZ ECONOMISTA

Bolsonaro participa da coletiva de Imprensa sobre o acordo Comercial entre União Europeia e Mercosul em Osaka, Japão / Alan Santos/PR

Termos ainda são desconhecidos; indústria nacional pode ser impactada negativamente.

Marina Selerges – Brasil de Fato | São Paulo (SP) – Na última sexta-feira (28), diplomatas de países ligados a União Europeia e Mercosul assinaram um acordo de livre comércio que demorou, ao menos, 20 anos para ser concebido. Os termos do acordo ainda não são públicos. Paulo Kliass, doutor em economia pela Universidade de Paris, disse que é preciso ter cautela.

“Ainda não tivemos acesso aos termos deste acordo. É preciso ter em mente em que ele demorou 20 anos para ser elaborado e, de repente, no governo Bolsonaro, que é contra o Mercosul, contra a União Europeia, extremamente subserviente aos Estados Unidos, o acordo é assinado com rapidez”, alertou.

Kliass disse também que acordos comerciais entre países ou, como nesse caso, entre blocos, demoram anos para gerarem efeitos concretos: as consequência ficarão evidentes de médio a longo prazo. Além disso, afirmou que, apesar dos termos não serem de conhecimento público, a eliminação ou diminuição das tarifas de importação e exportação podem gerar impactos negativos na economia local.

“Tarifas são mecanismos de defesa da economia local. O Trump, por exemplo,  estabelece tarifas, cotas e outros mecanismos para proteger a economia doméstica” destaca Paulo. No caso do Brasil, em que há 30 anos assistimos um processo de desindustrialização, o resultado pode ser negativo.

“O fato concreto é que, com mais redução de tarifas e com a pouca competitividade de produtos como automóveis e eletroeletrônicos, a indústria local pode ser estraçalhada”, afirmou Kliass.

Agronegócio

Ao contrário do setor industrial, que pode sofrer consequências graves com o acordo, o agronegócio poderá ser beneficiado. Para Paulo Kliass, o papel neocolonial do Brasil na geopolítica internacional deve ser reforçado de acordo com o que se conhece dos termos.

“De certo modo você estimula esse tipo de economia [agronegócio], de outro, você enfraquece a produção de alto valor agregado. O saldo global disso é o reforço da dependência neocolonial do Brasil. Este acordo afirma que é bom produzir bens de baixo valor agregado como soja, carne, álcool, milho, trigo, para exportar e com a ilusão de, ao fazer essa abertura, você estar dando um novo patamar de tecnologia para o mercado brasileiro. Mas não é o que acontece quando se perde na produção de bens de alto valor agregado”, explicou.

Desemprego

Do ponto de vista do emprego, Paulo Kliass acredita que não será possível perceber efeitos concretos desse novo acordo em operação. O economista acredita ser uma aposta do governo para o crescimento da economia na atividade exportadora. ”Não há demanda de consumo interno pelas famílias, nem investimento interno, então, a única saída é a demanda externa”, disse.

Kliass ainda alerta que o agronegócio, que deverá ser beneficiado, gera poucos empregos em relação ao nível de investimento realizado.

“Ao contrário da agricultura familiar, que gera muitos empregos e que não será beneficiado com o acordo. É difícil dizer que esse acordo será gerador de empregos. Os efeitos econômicos dele provavelmente só serão sentidos após o primeiro governo do Bolsonaro. Esses acordos são lentos”, finalizou Paulo Kliass.

EM ATOS DE RUA, DIREITA DEFENDE MORO E PEDE FECHAMENTO DO CONGRESSO E DO STF

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EM ATOS DE RUA, DIREITA DEFENDE MORO E PEDE FECHAMENTO DO CONGRESSO E DO STF

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) recebeu apoio de manifestantes no Rio, em São Paulo, Brasília e algumas outras cidades / Foto: Nelson Almeida / AFP

Pautas antidemocráticas, como a intervenção militar, foram as tônicas das mobilizações deste domingo

Brasil de Fato | São Paulo (SP) – Após a série de vazamentos das conversas da força-tarefa da Lava Jato, que põe em xeque a isenção da conduta do ex-juiz Sérgio Moro e de procuradores do Ministério Público Federal, neste domingo (30), cerca de 50 cidades brasileiras registraram manifestações de rua em defesa da operação, do atual ministro da Justiça Moro e do mandatário Jair Bolsonaro (PSL).

Além da Lava Jato e de pautas prioritárias do governo de direita, como a reforma da Previdência, outras pautas de caráter antidemocrático foram defendidas em cartazes, camisetas e mesmo em discursos. São exemplos, os pedidos de fechamento do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal (STF) e de intervenção militar.

Leia mais: Na Câmara, Glenn Greenwald afirma que, apesar de ameaças, nada deterá a Vaza Jato

Segundo os principais organizadores – Nas Ruas, Vem Pra Rua e o Brasil Livre (MBL) – os atos foram convocados em mais de 200 municípios. O site G1, até o fechamento desta matéria, tinha contabilizado atos em 50 cidades de 15 estados, sobretudo nas regiões sul e sudeste. Não há estimativas oficiais com relação à quantidade de manifestantes.

As últimas mobilizações contrárias à reforma da Previdência, na greve geral de 15 de junho, registraram atos em mais de 380 municípios, segundo a Central Única dos Trabalhadores.

SP, RJ e DF

Em São Paulo (SP), cinco carros de som foram disponibilizados pelos organizadores na avenida Paulista. No Rio de Janeiro (RJ), a concentração ocorreu à beira-mar, em Copacabana.

Em Brasília (DF), manifestantes se reuniram em frente ao Congresso Nacional. Um boneco gigante representando o ministro Moro como o personagem de ficção Super-homem foi exibido. Discursaram, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o presidente da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara, Felipe Francischini (PSL-PR), e o ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, Augusto Heleno.

No Rio e em São Paulo, segundo a rádio Jovem Pan, houve incidentes envolvendo o MBL. A polícia teve de ser chamada para apartar uma briga na capital paulista, após discussão envolvendo membros do movimento, considerado “traidor”por parte dos manifestantes desde que ficou de fora da convocatória dos últimos atos da direita.

 

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O FIM DOS BEATLES: COMO CAPRICHOS E RAIVA DESTRUÍRAM A MAIOR BANDA DE TODOS OS TEMPOS

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Os bastidores da saga dos Beatles – e as forças que esfacelaram a maior banda de todos os tempos

O FIM DOS BEATLES: COMO CAPRICHOS E RAIVA DESTRUÍRAM A MAIOR BANDA DE TODOS OS TEMPOS

MIKAL GILMORE, ROLLING STONE EUA* PUBLICADO EM 28/06/2019, ÀS 22H00 – Era um dia frio, em janeiro de 1969, e os Beatles estavam sentados em um grande (e ainda mais gelado) estúdio no Twickenham Film Studios, em Londres, acompanhados das piores pessoas com quem poderiam estar: os próprios Beatles.

A banda havia passado dias tentando escrever e ensaiar novo material para um show ao vivo já pré-agendado – o primeiro desde agosto de 1966 – mas as coisas não iam bem. O único entre eles a demonstrar algum tipo de senso de urgência era Paul McCartney.

“Não sei por que qualquer um de vocês se envolveu nisso se não há interesse”, disse aos outros Beatles. “Para quê? Não pode ser que seja pelo dinheiro. Por que vocês estão aqui? Eu estou porque quero fazer um show, mas não vejo nenhum tipo de apoio.”

Paul olhou para seus companheiros de banda, seus amigos de longa data – John LennonGeorge Harrison e Ringo Starr – e os olhares que recebeu de volta não tinham expressão alguma.

“Há duas opções: fazemos ou não fazemos; e eu quero uma decisão”, disse ele instantes depois. “Porque não estou nem um pouco interessado em perder a porra do meu tempo aqui, de bobeira, enquanto todo mundo tenta resolver o que quer fazer.”

Paul esperou, mas não teve resposta. De novo, os mesmos olhares vazios. E esse estava longe de ser o pior momento pelo qual o grupo viria a passar naquele período. Em seus últimos momentos de vida, os Beatles protagonizaram uma das mais misteriosas e complicadas histórias de fim de romance do século 20. E também a mais triste delas.

O começo do fim

Os Beatles não fizeram apenas música – eles influenciaram sua época com o mesmo peso de qualquer força política e com resultados mais benéficos que a maior parte delas. Por que, então, os Beatles se separaram? Muitos culpam as maquinações de Yoko Ono, lendária paixão de John Lennon, e a maléfica malícia de Allen Klein, então empresário da banda, queridinho de Lennon e desafeto de McCartney. Mas não era tão simples.

“Não acho que alguém seria capaz de abalar quatro pessoas fortes como eles”, declarou Yokomais tarde, “mesmo que tentasse. Acredito que outra coisa aconteceu. Tenho certeza de que não foi nenhuma força externa”.

De fato, as verdadeiras causas estavam mais próximas. Os quatro estavam juntos havia tempo, fazendo parte de uma história tão cheia de mágoas quanto de grandeza.

Aquelas sessões de gravação – para o que viria a ser o filme e o disco Let It Be – começaram inspiradas, mas havia muita coisa errada acontecendo quando McCartney finalmente fez seu apelo.

Ruído entre a maior parceria da música pop

Desde o ano anterior, o sentido de parceria da banda vinha se desgastando. A longa amizade de John e Paul, em particular, passava por mudanças radicais. Lennon, fundador da banda, tinha, de certa forma, aberto mão da liderança do grupo; mais que isso, começava a sentir que não queria mais ficar confinado nos limites dos BeatlesMcCartney, por sua vez, amava o grupo profundamente – era sua razão de viver.

Esses dois homens haviam sido a força motriz da banda – era deles a melhor parceria da história da música pop – mas, no fundo, a aventura dos Beatles era forjada pelo temperamento e pelas necessidades de Lennon: ele tinha formado a banda para diminuir a ansiedade e a dor depois que sua mãe, Julia, cedeu sua custódia para a irmã dela, ao mesmo tempo que o pai também se afastava de sua vida.

John de 16 anos encontrou o Paul de 15 no verão de 1957, enquanto tocava com sua banda, The Quarrymen, em uma igreja próxima a Liverpool, e se impressionou com a facilidade de Paul ao tocar as músicas de Eddie Cochran e Gene Vincent.

Tão importante quanto a afinidade musical, os dois também tinham em comum a dor da perda: a mãe de McCartney, Mary, morreu de câncer em outubro de 1956, enquanto a de Lennon sucumbiu após ser atropelada em julho de 1958. Trabalhando juntos, John e Paul encontraram um novo sentido para suas vidas.

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Por um bom tempo, os dois compuseram juntos, e, mesmo depois de começarem a escrever separadamente, um ainda contava com o outro para ajudar a aprimorar e concluir suas canções. Apesar disso, os dois tinham abordagens bem diferentes ao fazer música. McCartney era organizado, meticuloso e valorizava a habilidade; Lennon tinha poucas regras, era menos propenso a passar muito tempo em cima de uma única canção e, apesar da aparente autoconfiança, era menos seguro a respeito do próprio trabalho.

O contraste tornou-se mais nítido com os anos. Paul passou a compor mais narrativas sobre o homem comum e canções de celebração; John compunha a partir de um ponto de vista que ele achava mais autêntico, pessoal e atormentado. “Paul dizia ‘Come and see the show’ (‘Venha ver o show’)”, declarou Lennon. “Eu dizia ‘I read the news today, oh boy’ (‘Li as notícias de hoje, oh cara’).”

Como Lennon e McCartney dominavam tanto a composição quanto os vocais dos Beatles, eles, na prática, lideravam a banda – embora Lennon sempre tenha desfrutado de uma posição implícita de autoridade maior.

Mesmo assim, os Beatles seguiam a política de um voto por cada integrante, algo que teve papel significativo em 1966, quando após anos de turnês, JohnGeorge e Ringo persuadiram Paul a aceitar a ideia de que eles deveriam parar de se apresentar ao vivo.

A banda deixou de se apresentar ao vivo

Durante três meses, cada um seguiu um caminho distinto. Quando isso aconteceu, John ficou preocupado: “Pensei: ‘Bem, na verdade esse deve ser o fim. Não há mais turnês. Isso quer dizer que haverá um espaço vazio no futuro’ Foi então que comecei a pensar na possibilidade de uma vida sem os Beatles. E a partir daí foi plantada a semente da ideia de que eu de algum modo devia sair sem ser expulso pelos outros. Mas nunca consegui sair sozinho, porque era assustador demais”.

Pouco tempo depois, a banda se reuniu, dessa vez para seu trabalho mais marcante, o discoSgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band – mas foi também nessa época que os assuntos internos dos Beatles se tornaram estranhamente complexos, até mesmo obscuros. O conceito do álbum tinha sido ideia de McCartney, mas foi Lennon o responsável pela melhor canção do disco, “A Day in the Life”.

Mesmo assim, ele se referiu mais tarde às suas contribuições como reflexos velados do desespero: “Eu estava muito deprimido durante [as gravações de] Pepper, e sei que o Paul não estava. Ele estava se sentindo cheio de confiança. Eu estava na pior”.

De certa forma, era assim que Lennon funcionava – suas crises faziam com que ele subisse ou descesse – mas naquele momento estava passando por uma fase de mudanças importantes. John acreditava estar acorrentado a uma vida doméstica entediante e sem amor – aliás, sem amor da parte dele, já que sua esposa, Cynthia, o amava profundamente – e se sentia muito distante de Paul, um homem famoso e livre, vivendo em Londres, participando dos eventos culturais e tendo contato com uma vasta gama de arte de vanguarda.

Se Lennon não externou uma vida desse tipo, ele com certeza a viveu por dentro, tomando LSD diariamente, até chegar ao ponto em que alguns passaram a se preocupar com a hipótese de que ele pudesse estar apagando sua própria identidade. George Harrison disse posteriormente: “Assim como a psiquiatria, o ácido pode desfazer muita coisa – dava para ver o quão poderoso era. Mas acho que não percebemos o quanto John estava ferrado”.

A morte do empresário Brian Epstein

Em agosto de 1967, a liderança dos Beatles mudou de uma forma mais clara quando o empresário Brian Epstein foi encontrado morto, vítima de uma overdose acidental. Epstein passava por uma crise depressiva, mas continuava dedicado à banda. Muitos acreditavam que era ele quem os mantinha centrados e protegidos.

“Ali, eu soube que estávamos ferrados”, declarou Lennon. “Eu não tinha ilusão a respeito de nossa incapacidade em fazer outra coisa que não fosse tocar, e fiquei assustado. Pensei: ‘Fodeu’.” Paul, por outro lado, não tinha a mesma opinião.

Dias após a morte de Epstein, ele convenceu os outros a embarcarem em um novo projeto, o fantasioso Magical Mystery Tour. A banda passou meses filmando pirações visuais e gravando faixas que acompanhassem as cenas. Apesar de ser um esforço colaborativo e espontâneo feito pelos quatro, não havia dúvidas de que se tratava de uma criação de McCartney. O filme foi bombardeado pelos críticos. Dizem que John ficou, de certa forma, satisfeito em ver Paultropeçar pelo menos uma vez.

Em fevereiro de 1968, os Beatles foram estudar Meditação Transcendental no retiro de Maharishi Mahesh Yogi em Rishikesh, na Índia. A viagem foi, em parte, o resultado dos esforços de Harrison em ganhar mais influência na direção da banda – ele foi o primeiro dos Beatles a se interessar por música e filosofia indianas – embora, de cara, todos tenham sentido a necessidade de reavaliar o propósito do sucesso da banda.

“Acho que estávamos meio exaustos espiritualmente”, disse Paul. “Éramos os Beatles, o que era maravilhoso Mas acho que havia aquele sentimento de ‘É ótimo ser famoso, é incrível ser rico – mas qual o sentido disso?'” Entretanto, o incômodo logo se estabeleceu. Quando Harrison começou a achar que Lennon e McCartney poderiam estar usando o retiro como inspiração para compor, ele se indispôs. “Não estamos aqui para falar de música”, reclamou. “Estamos aqui para meditar!”

Ringo Starr e sua esposa, Maureen, desistiram duas semanas depois de chegarem (Starr, que tinha problemas estomacais, não aguentou a comida local) e McCartney, acompanhado da namorada, a atriz Jane Asher, foi embora duas semanas depois.

Harrison e Lennon ficaram até que o segundo percebesse que não estava chegando mais perto de resolver os problemas que atormentavam seu coração – a necessidade de reavaliar tanto seu casamento quanto sua carreira.

Após ouvir um boato de que Maharishi havia feito insinuações sexuais sobre uma jovem no retiro, John se irritou e exigiu que ele e George abandonassem o lugar.

John Lennon deixou Cynthia e se juntou a Yoko Ono

Alguma coisa naquela experiência transformou Lennon de um modo que ninguém conseguiu entender naquela época; depois da Índia, ele parecia estar sempre irritado. A verdade é que ele estava desesperado; a única arma que tinha para se salvar era sua arte, e mesmo ela não servia de alívio. “Estava meditando cerca de oito horas por dia e, mesmo assim, escrevia as músicas mais deprimentes da face da Terra”, contou, tempos depois.

De volta a Londres, Lennon abandonou Cynthia para mergulhar em uma relação séria com Yoko Ono, que ele havia conhecido em novembro de 1966. Embora Yoko seja geralmente descrita como uma mulher ambiciosa que perseguia John obstinadamente, ela também teve sua parcela de dor e decepção durante os tempos difíceis que viriam, perdendo contato com sua filha, Kyoko, e deixando de lado sua promissora carreira artística por causa de Lennon.

Como ela mesma contou mais tarde, “Sacrifiquei tudo por este homem”. A imprensa e os fãs a ridicularizavam: era chamada de “japa”, “china” e “amarela”, e Lennon às vezes precisava protegê-la de agressões físicas.

Esse julgamento alimentou a raiva de Lennon, mas pareceu pequeno quando comparado ao que aconteceu quando ele levou Yoko ao “mundo” dos Beatles. O grupo raramente permitia que convidados aparecessem no estúdio, e nunca tolerou que ninguém – além do produtor George Martin ou talvez um engenheiro de som, como Geoff Emerick – desse opiniões sobre um trabalho ainda em produção (certa vez, Epstein tentou dar sugestões para uma gravação e Lennon o humilhou de forma tão intensa que o empresário saiu chorando).

Mas Lennon não levou Yoko como convidada; levou-a como colaboradora. Em maio de 1968, quando os Beatles começaram a produção de seu primeiro disco desde Sgt. Pepper, ela ficava sentada com John no chão do estúdio; conversava com ele ao pé do ouvido e o acompanhava toda vez que ele saía da sala.

Na primeira vez em que ela falou no estúdio, dando conselhos sobre o vocal de John, o silêncio imperou. Paul disse: “Caralho! Alguém falou alguma coisa? Você falou, George? Seus lábios nem se mexeram!”

Lennon não era o tipo de pessoa que recuava. “Ele queria que eu fizesse parte do grupo”, contou Yoko depois. “John fundou a banda, por isso achava que os outros tinham de aceitar. Eu não fazia questão de fazer parte.”

Em vez disso, ela gravou seus próprios discos com Lennon, como o famoso Two Virgins – um álbum de música eletrônica experimental, contendo fotos do casal nu. Embora alguns achassem as colaborações de Lennon e Yoko indulgentes ou ridículas, McCartney percebeu que ela deixava Lennon mais confiante.

“Na verdade, ela queria sempre mais”, contou. “Faça mais coisas, faça o dobro, ouse mais, tire suas roupas. Ela sempre o persuadia a tentar coisas novas, e ele gostava. Ninguém nunca tinha feito isso com ele.” Mas McCartney provavelmente também entendia o verdadeiro significado de um disco como Two VirginsJohn Lennon tinha uma vontade irrefreável, uma força que poderia salvar ou destruir sua vida – e os Beatles – se não fosse controlada.

Quando o grupo percebeu que John e Yoko estavam usando heroína, nenhum deles soube o que fazer a respeito. “Foi um grande choque para nós”, disse Paul, “porque achávamos que éramos caras avançados para a época, mas meio que acabamos subentendendo que nunca iríamos tão longe assim.”

Álbum Branco mostrou o potencial individual dos Beatles

A nova parceria de Lennon com Ono significava que ele e McCartney raramente voltariam a compor juntos. Mesmo assim, enquanto a banda começava a produção de seu único álbum duplo, The Beatles (mais conhecido como Álbum Branco), os estilos vocais e de composição dos dois estavam mais fortes e variados do que nunca. O que era uma produção esporádica e inconsistente em 1967, agora vinha com força total – a criatividade de Lennon parecia revivida graças à relação dele com Yoko (músicas como “Dear Prudence”, “Julia”, “Happiness Is a Warm Gun” e “Revolution” estavam claramente entre os melhores trabalhos dele).

Harrison também havia florescido – até Ringo estava compondo -, mas nenhum estava disposto a deixar que os outros obscurecessem ou direcionassem seus esforços. Os quatro tinham tanto material para gravar – e tanta ojeriza um pelo outro – que chegaram a gravar em três estúdios diferentes, até doze horas por dia.

Cada um tratava os restantes como se fossem seus músicos de apoio – o que gerava performances espetaculares e momentos explosivos: Lennon abandonando o estúdio irritado com o tédio ao gravar “Ob-La-Di, Ob-La-Da”, de McCartneyRingo saindo da banda por quase duas semanas, após Paul ter criticado a bateria de “Back in the U.S.S.R.”; Harrison trazendo seu amigo guitarrista, Eric Clapton, só para ouvir merecidos elogios por “While My Guitar Gently Weeps”; McCartney dando uma bronca agressiva no produtor George Martin na frente da banda; e o engenheiro Geoff Emerick se demitindo por conta do comportamento ofensivo e turbulento do grupo.

Quando ficou pronto, o Álbum Branco foi considerado uma obra-prima desconjuntada, o som de uma banda no auge de sua forma, mas sem esperança alguma. Anos depois, Paul se referiria ao disco como “O Álbum Tenso”.

A desastrosa gravadora Apple

Nesse meio-tempo, os Beatles lançaram uma gravadora, a Apple. Na verdade, a Applecomeçou como um investimento, mas aos poucos se tornou algo mais: uma corporação que tinha divisões nos ramos do cinema, artigos eletrônicos, imobiliário, educacional, editorial e da música – e, mais interessante, era também um experimento socialista.

“Estamos na feliz posição de não precisar de mais dinheiro”, declarou Paul em maio de 1968. Na prática, a principal diretiva da companhia era cultivar novos talentos. A Apple de fato descobriu ou auxiliou músicos de valor – incluindo James TaylorBadfingerMary HopkinJackie LomaxBilly PrestonDoris Troy (o selo também quase assinou com os Rolling Stones, Bob Dylan e Queen), mas, uma vez que os próprios Beatles não eram exatamente artistas da Apple, a gravadora não recebia os benefícios completos do que eles lucravam.

Foi determinado que a estreia do selo seria em 11 de agosto de 1968, com quatro singles lançados naquele mesmo dia, incluindo “Those Were the Days”, de Mary Hopkin, e “Hey Jude”, dos BeatlesMcCartney tinha escrito a música como um hino dedicado ao filho de Lennon, Julian, por conta da separação de seus pais, mas a canção adquiriu outros significados também.

Paul havia se separado de sua namorada de longa data, Jane Asher, depois que ela o flagrou com outra, e ele agora ingressava em uma relação séria com a fotógrafa Linda Eastman, a quem conhecia desde 1967; para Paul, a música se tornou um hino de fé no amor, sobre correr riscos.

Lennon encarou “Hey Jude” como uma bênção de seu parceiro: “Na frase ‘go out and get her’ [vá lá e pegue-a], subconscientemente Paul estava dizendo: ‘Vá em frente, me deixe’. Em um nível consciente, ele não queria que eu fosse em frente”, John declarou, em uma entrevista pouco tempo antes de sua morte.

“O anjo dentro dele estava dizendo: ‘Deus o abençoe’. Já o demônio dentro dele não gostava de nada daquilo, porque não queria perder o parceiro.” E aí os Beatles tocaram “Hey Jude” no programa Frost on Sunday em setembro de 1968 – a primeira apresentação ao vivo deles em dois anos.

E conforme o público se juntava à banda cantando a última parte da música, “Hey Jude” tornou-se a expressão de algo maior, do que eles significavam em termos de união para o mundo lá fora.

A vontade de voltar aos palcos

Inspirados por esse momento, os Beatles perceberam que tinham vontade de voltar a fazer shows – Lennon parecia empolgado com a ideia – e marcaram uma série de datas para janeiro, na Roundhouse londrina, palco de vários dos mais extravagantes shows de rock alternativo no verão de 1967.

Também decidiram filmar os ensaios para o evento, a fim de exibi-lo na TV. Para isso, convidaram Michael Lindsay-Hogg, que já havia feito os vídeos de “Rain” e “Paperback Writer” com a banda, para ser o diretor.

Havia algo a mais na ideia: os Beatles viam a ocasião como uma oportunidade para descartar as técnicas que haviam atingido seu ápice em Sgt. Pepper (desde o sucesso do disco, Lennonprocurava um jeito de desaprovar o trabalho, já que o via como algo fútil, arquitetado por McCartney).

Essa nova música anunciaria o retorno ao formato mais simples que havia inspirado o amor deles pelo rock. A música feita pela The Band, banda que acompanhava Bob Dylan vez ou outra, tinha grande influência no que os Beatles queriam fazer.

Harrison tinha passado um tempo com Dylan e o grupo em Woodstock e voltou chapado com a espontaneidade e o espírito de coletividade que eles haviam alcançado nas gravações conhecidas como The Basement Tapes.

A versão crua dos Beatles

Em busca daquele mesmo espírito, Lennon teria dito a George Martin: “Não quero nada dessas suas merdas de produção. Queremos um álbum honesto nada de edição, overdubbing. Vamos gravar, e o que sair, saiu”.

Anos mais tarde, o repúdio de Lennon ainda incomodava Martin. “Eu achava que todos os álbuns deles haviam sido honestos”, comentou o produtor em The Beatles – A Biografia, livro de Bob Spitz.

McCartney trouxe um segundo produtor, Glyn Johns, o que foi um consolo a Martin: para alcançar o tipo de performance natural que os Beatles queriam, eram necessários ensaios infinitos para que as músicas pudessem ser gravadas em uma única tentativa.

Martin achava os ensaios tão entediantes que raramente comparecia. De cara, problemas atormentaram o projeto. Como a banda queria filmar os ensaios – que ficariam conhecidos posteriormente como “as sessões de ‘Get Back'”, nome original da ideia que seria lançada como Let It Be – a banda teve de se estabelecer no Twickenham Film Studios, o que significava que tinham de obedecer aos horários de trabalho determinados pelo sindicato (das 9h às 17h), que de maneira alguma coincidiam com o horário de trabalho dos Beatles.

Nada disso teria sido tão ruim se eles tivessem conseguido manter o entusiasmo, mas na manhã de 2 de janeiro de 1969, quando os ensaios começaram, ninguém além de Paul parecia se lembrar do motivo de eles estarem lá. Embora as sessões tenham sido surpreendentemente produtivas – os Beatles tocaram 52 músicas novas naquele mês, muitas das quais acabariam entrando em Abbey Road ou ficando entre o melhor material dos álbuns solo dos membros da banda -, toda a mágoa acumulada viria à tona.

As mágoas começam a aparecer

Paul tentava manter os outros no rumo certo, mas essa era uma tarefa ingrata. Seus companheiros achavam seus esforços ofensivos e condescendentes. Para eles, tudo aquilo havia se tornado apenas outro projeto de Paul McCartney, com o baixista e vocalista dizendo a todos quais notas (e em que tempo) deveriam tocar – e chegando até a orientar o trabalho do diretor.

Paul queria que trabalhássemos o tempo todo”, relatou Ringo, “porque ele é viciado em trabalho”. George Martin sentia que McCartney não tinha outra opção.

Paul era mandão, e os outros caras detestavam”, diz ele. “Mas era o único jeito de mantê-los juntos era um processo de desintegração generalizado.” Há uma cena famosa no filme Let It Be na qual Paul se preocupa com o fato de seus palpites musicais estarem irritando Georgemais do que deveriam, e o guitarrista responde que tocaria o que Paul quisesse, mesmo que isso significasse não tocar nada.

“Você não me aborrece mais”, diz Harrison, visivelmente aborrecido A cena representa o X do problema nos ensaios: McCartney era exigente e insensível demais, e Harrison se cansou daquilo tudo.

Claro, as reclamações e preocupações de George eram legítimas. Há tempos ele havia sido relegado à posição de coadjuvante por Lennon e McCartney. Mas ele estava perturbado com outras coisas. A ideia de shows ao vivo o desagradava – e quanto mais a data se aproximava, maior era a intensidade de seus protestos.

Àquela altura, a data marcada para os shows na Roundhouse já havia caído pelo caminho, e, quando o diretor Lindsay-Hogg sugeriu um cenário mais exótico ou maior para as apresentações – como um anfiteatro de Roma, por exemplo -, Harrison explodiu: “Ia ser muita sorte se conseguíssemos botar meia dúzia de imbecis lá dentro”, disse.

As piores tensões, porém, ocorreram entre George e John. Depois de ser deixado de lado por anos, Harrison achava que Yoko tinha uma voz de maior peso que a dele nas decisões da banda. Pior que isso, o casal estava praticando o que era conhecido como “percepção elevada” – baseada na crença de que a comunicação verbal era desnecessária entre pessoas “em sintonia” com as grandes verdades do universo.

Seu efeito prático era o de cessar qualquer interação prática ou significativa. Quando assuntos cruciais eram levantados, John não dizia nada, concordando com o que quer que Yoko achasse. McCartney terminou desenvolvendo certa tranquilidade sobre o assunto. Havia apenas duas opções: opor-se a Yoko e fazer com que os Beatles voltassem a ter quatro membros ou aceitá-la. Ele preferiu a segunda, porque não queria perder John.

Além disso, como chegou a declarar, não se sentia à vontade para exigir que John deixasse Yoko em casa. Ainda assim, Paul se incomodava quando Yoko se referia aos Beatles sem usar o artigo “os” – como em “Beatles isso, Beatles aquilo”. Paul tentava corrigi-la – “Na verdade, se diz os Beatles, querida” – mas sem sucesso.

George Harrison enfrenta John Lennon

Por fim, Harrison atingiu seu limite. Em 10 de janeiro, ele e Lennon começaram uma briga que teria chegado às vias de fato, apesar de negarem o ocorrido (já George Martin declarou ao biógrafo Phillip Norman que a discussão chegou ao nível físico, “com todo mundo se acalmando depois”).

O confronto foi um dos poucos que Lindsay-Hogg não capturou para a posteridade. Mas ele filmou George aparentemente saindo dos Beatles. “Estou fora”, disse, guardando a guitarra. “Ponham um anúncio e vejam se conseguem chamar alguém. A gente se vê por aí.”

Paul e Ringo ficaram chocados, mas John não se abateu e começou a tocar uma versão de “A Quick One, While He’s Away”, do The Who, tirando um barato da angústia de George. Naquele mesmo dia, Yoko sentou-se no lugar de George, pegou o microfone e começou a cantar um blues ininteligível, enquanto os outros a acompanhavam, sem saber o que fazer, com medo de que Lennon se irritasse e também partisse (curiosamente se trata de uma performance memorável). No mesmo dia, Lennon sugeriu que recrutassem EricClapton para substituir Harrison: “A questão é, queremos continuar a banda sem George? Eu com certeza quero.”

Em 12 de janeiro, os quatro Beatles se reuniram na casa de Ringo para tentar resolver suas diferenças. Mas, quando Yoko insistiu em falar por JohnGeorge foi embora de novo. Os Beatles chegaram a um acordo, dias depois, mas Harrison impôs limites rígidos: nada de shows grandes e nada de voltar a trabalhar nos estúdios Twickenham.

Yoko, entretanto, continuaria participando de todos os ensaios, ao lado de John. “Yoko só quer ser aceita”, disse Lennon. “Ela quer ser uma de nós.” Quando Ringo respondeu “Ela não é um Beatle, John, e nunca vai ser”, Lennon bateu o pé. “Yoko é parte de mim agora. Somos John e Yoko, estamos juntos.”

Quase duas semanas depois da saída de George, os Beatles voltaram a tocar, dessa vez em um estúdio improvisado no porão da sede da Apple. Harrison trouxe então o organista BillyPreston, que eles haviam conhecido em Hamburgo (Alemanha) em 1962.

Preston participou dos ensaios e sua habilidade no improviso trouxe a dignidade que eles tanto precisavam. Lennon achou a presença de Preston tão revitalizante que quis transformá-lo em membro fixo, um quinto Beatle. A resposta de Paul foi taxativa: “Já é ruim o suficiente com quatro”.

O prazo do projeto estava terminando. Ringo já estava comprometido com o filme Um Beatle no Paraíso, que começaria a ser filmado em questão de dias, e ao fim de janeiro já estava bem claro que não havia tempo para planejar um show, onde quer que fosse.

Ainda assim, os Beatles e o diretor Lindsay-Hogg queriam um final para o filme e, em 29 de janeiro, alguém – uns dizem que foi Ringo, outros dizem que foi Paul ou até Lindsay-Hogg – sugeriu que o show fosse feito na tarde do dia seguinte, no telhado do escritório da Apple.

O icônico último show

Na hora marcada, esperando na escada que dava para o telhado, George e Ringo de repente não tinham mais certeza se estavam a fim de embarcar, mas, no último instante, Lennondisse: “Ah, foda-se, vamos fazer” e os Beatles, acompanhados por Preston, subiram no palco improvisado.

Foi o primeiro show dos Beatles desde agosto de 1966 – e o último. Também foi o melhor, o que diz muito sobre o poder coletivo da afinidade musical e do carisma que os quatro cultivaram, e que nem suas desavenças mútuas seriam capazes de apagar.

Enquanto tocavam (por quase uma hora), triunfando graças a seus instintos incomparáveis, John e Paul trocando sorrisos a cada bom momento ou deslize, a verdade sobre eles ficou clara: os Beatles eram uma família com uma história em comum, com uma linguagem particular que nenhum deles jamais esqueceria. Aqueles momentos, no entanto, não seriam suficientes para evitar o que estava para acontecer – ou o que já havia acontecido, duas noites antes.

Oficialmente, a briga anterior de George e John começou com uma observação que o segundo fez em 10 de janeiro para um jornal, dizendo que se a Apple continuasse perdendo dinheiro, ele – e por consequência, os Beatles – estaria falido até o meio do ano.

Talvez tenha sido um exagero, mas era verdade que a Apple estava fora de controle, e tanto Harrison quanto McCartney não gostavam da ideia de Lennon espalhando a notícia. Como resultado das contratações de artistas, a compra do prédio na Savile Row e o pagamento de altos salários para amigos e executivos, as contas da Apple extrapolaram.

Como todos os BeatlesMcCartney era diretor da Apple, mas era também o único a se envolver diariamente com os negócios durante o primeiro (e crucial) ano do empreendimento (Harrison sempre o primeiro a se cansar de tudo, contou a alguns confidentes que odiava a Apple e suas “salas cheias de lunáticos e de todo o tipo de aproveitadores”).

Naqueles primeiros meses, Paul tentou controlar a situação da companhia, mas esbarrou na resistência dos outros Beatles; eles não tinham noção alguma de economia, uma vez que se preocupavam apenas em gastar e deixar as contas para que a Apple pagasse.

Paul os alertou, mas foi rebatido pela visão de que preocupações financeiras eram algo ultrapassado. “Era como se eu tivesse assumido uma postura de traidor”, contou. “Era algo totalmente não comunista… e tudo o que eu dizia soava errado.” McCartney tentou avisar a Lennon que ele, em particular, estava gastando demais. “Eu disse: ‘Olha, John, sei que estou certo’. E ele disse: ‘Claro que está! Você sempre está certo, não está?'”

“Suas finanças estão uma zona”

O assunto atingiu o ponto crítico quando um contador se demitiu, deixando apenas um memorando bem direto: “Suas finanças pessoais estão uma zona”. Depois disso, tanto Johnquanto Paul concluíram que a Apple precisava de uma mão firme para conduzi-la – talvez fosse hora de contratar um novo diretor.

Falaram com vários financistas e consultores, e McCartney logo decidiu qual seria a melhor e mais próxima opção: o pai de Linda EastmanLee, e seu irmão, John, eram advogados especializados em representações artísticas.

McCartney achava que os Eastman poderiam administrar a Apple e salvar a fortuna da banda, mas os outros ficaram reticentes. Os três achavam que Paul já tinha influência demais no destino do grupo e não queriam pessoas tão próximas a ele supervisionando os negócios. John, em particular, acreditava que não podia deixar tanto poder concentrado na mão do parceiro.

Durante anos, o advogado nova-iorquino AllenKlein procurou um meio de trabalhar com os Beatles. Homem rude e astuto, Klein era conhecido por ter resgatado os direitos de vários artistas. Mas também tinha a reputação de usar de táticas antiéticas e estava sob investigação do departamento fiscal norte-americano.

Ainda assim, queria os Beatles mais do que tudo. Ele já havia se oferecido para BrianEpstein, dizendo que podia aumentar a fortuna da banda, mas ele não quis sequer apertar sua mão.

Após ler os comentários de Lennon sobre o risco de falência dos BeatlesKlein conseguiu persuadir um relutante PeterBrown, um dos diretores da Apple, a marcar um encontro com Lennon.

Em 28 de janeiro de 1969, dois dias antes do show no telhado, Klein encontrou-se com John e Yoko em um hotel em Londres, e encantou ambos. Ele conhecia a música dos Beatles profundamente, e sabia como agradar a Lennon: elogiando suas contribuições em várias canções (a despeito de seu ego enorme, John sentia-se inseguro, e precisava sempre de alguém que validasse seu trabalho) e valorizando a capacidade artística de Yoko.

Tão importante quanto isso, Klein convenceu Lennon de que ambos partilhavam da mesma sensibilidade – eram homens das ruas que haviam vencido em um mundo cheio de dificuldades. No fim, o casal estava ganho: um acordo foi assinado pelas duas partes e Lennon informou a EMI e os Beatles: “Estou me lixando para o que vocês vão querer”, disse Lennon, “Mas eu escolhi Klein“.

Crise se agrava com a escolha do novo empresário

Esse foi o estopim para a morte dos BeatlesMcCartney ainda tentava colocar Lee e JohnEastman como representantes do grupo e marcou um encontro com eles. Mas Kleintransformou a reunião em uma armadilha, provocando e ofendendo LeeEastman, com a ajuda de Yoko.

No fim, Eastman explodiu enfurecido, chamando Klein de “rato”, e abandonou a reunião com Paul. Quanto mais Klein se comportava de maneira inadequada e mais Eastman questionava seu caráter, mais Lennon e Yoko o defendiam como salvador dos Beatles e logo Harrison e Starr concordaram.

“Por sermos todos de Liverpool”, disse George no meio dos anos 90, “preferíamos pessoas que fossem mais do povo. LeeEastman era o tipo de cara preocupado com sua classe social. Uma vez que John ficaria com Klein, era bem mais fácil ficar com ele também”. Embora MickJagger, que não confiava mais em Klein, tivesse tentado convencer os Beatles – “Evitem esse cara”, escreveu em um bilhete para Paul – de nada adiantou.

A discordância veio na pior hora possível. Em questão de meses, os Beatles perderiam a chance de comandar a ex-firma de gerenciamento de BrianEpstein, a NEMS (o que lhes custou uma fortuna), e, mais grave, Lennon e McCartney perderam seus direitos sobre a NorthernSongs, companhia que distribuía as músicas da banda.

McCartney se casou com Linda Eastman em 12 de março de 1969 e Lennon casou-se com Yoko em 20 de março, em Gibraltar. No dia do casamento de PaulGeorge e sua mulher, Pattie, foram detidos por posse de maconha (Lennon e Ono haviam sofrido a mesma acusação meses antes). Klein não havia resolvido nenhum dos problemas financeiros do grupo, apesar de suas promessas, e ainda assim JohnGeorge e Ringo continuavam apoiando-o.

A manobra genial de Paul McCartney

Na tarde de 9 de maio de 1969, durante uma sessão de gravação no Olympic Sound Studios, Klein esperava do lado de fora enquanto Lennon, Harrison e Starr, em seu nome, exigiam que McCartney assinasse um contrato de agenciamento de três anos com o empresário.

Paul não quis. Justificou-se dizendo que os 20% que Klein pedia era muita coisa, mas a verdade é que ele não conseguia encarar a ideia de tê-lo como empresário dos Beatles. Os outros três ficaram furiosos, mas McCartney resistiu. “No meu ponto de vista, eu tinha de salvar a fortuna dos Beatles“, disse. “Eles disseram ‘Vai se foder!’ e foram embora bravos, me largando lá no estúdio.”

Essa era uma batalha entre Lennon e McCartney; eram dois homens acostumados a vencer suas discussões, e ambos se recusavam a perder. McCartney acabou sucumbindo, mas não sem uma carta na manga: quando os Beatles assinaram seus contratos com KleinMcCartneyse recusou a fazer o mesmo.

Klein e os outros não acreditaram que aquilo faria alguma diferença – os três membros concordantes já completavam a maioria do grupo. Mas, naquele momento de dissidência, Paul se saiu com a única manobra genial na lamentável história do fim da banda: por não ter assinado o documento, ele mais tarde seria capaz de convencer a corte de que não estava mais contratualmente obrigado a permanecer com os Beatles e que nunca havia tido qualquer compromisso com Klein.

Na época, Paul já estava desgostoso com a Apple, a companhia que tinha surgido majoritariamente de sua visão. De fato, ele agora odiava aquele lugar e havia parado de frequentar os escritórios. Quando Paul tentava falar com Klein, o empresário dos Beatles se recusava a atender.

Apesar do suplício que haviam sido as sessões de “Get Back”, os Beatles se reuniram para fazer um novo álbum. Um mito criado mais tarde diz que o quarteto sabia que a banda estava terminando e por isso queria lançar um último disco à altura de sua reputação. Mas a verdade é que, a despeito de todos os seus problemas, os Beatles ainda gostavam da música que faziam juntos, mesmo não gostando mais uns dos outros.

Eles já haviam trabalhado intermitentemente desde as gravações de janeiro, tendo produzido “The Ballad of John and Yoko” (só com Lennon e McCartney) e “Old Brown Shoe” (de Harrison, com a banda toda).

Paul convenceu GeorgeMartin a voltar como produtor e também trouxe de volta GeoffEmerick, sob a promessa de que os Beatles se comportariam. Lennon teve de adiar sua presença nas gravações por conta de um acidente de carro envolvendo ele, YokoJulian e Kyoko, em 1º de julho de 1969. Quando Lennon chegou aos estúdios Abbey Road, pediu que fosse instalada uma cama para que sua mulher pudesse descansar e dar palpites. Nenhum dos Beatles ousou protestar.

“Os três estavam meio assustados com ele”, relembrou o engenheiro da EMI, PhilMcDonald. “John era uma figura poderosa, especialmente com Yoko – a força era dobrada.”

Ainda havia desavenças, como quando Lennon invadiu a casa de McCartney, que havia perdido um ensaio, e furiosamente quebrou um quadro que havia dado ao amigo. Em outra ocasião, John queria que as músicas dele e as de Paul ficassem em lados diferentes do vinil.

Fato ainda mais relevante: George finalmente teve sua importância reconhecida quando suas duas contribuições, “Something” e “Here Comes the Sun”, foram elogiadas como parte do melhor gravado pelos Beatles em 1969.

Abbey Road, o ‘último’ disco

O álbum resultante, Abbey Road, tornou-se não só uma amostra arrebatadora da maturidade da banda, mas também uma perspectiva sobre sua própria história, quer seus membros tenham tido essa intenção, quer não.

Lennon mais tarde renunciaria a Abbey Road, dizendo que o álbum foi resultado de “uma malandragem” arquitetada por McCartney “para preservar o mito”, mas era costume de Lennon não apreciar a profundidade de ninguém além de si mesmo.

Paul assistia aos Beatles se esfacelarem e se sentia mal com isso. Ao comentar os últimos segmentos da suíte do disco com BarryMiles no livro Paul McCartney: Many Years From Now, ele disse: “Sou bem-humorado e otimista, mas há certos momentos em que há coisas demais acontecendo e fica impossível me manter positivo. E aquele era um desses momentos. Carregar todo aquele peso por tanto tempo [citação à letra de “Carry That Weight”]: tipo, para sempre! Foi o que eu quis dizer”.

Quando Abbey Road foi lançado, em 26 de setembro, a irmandade dos Beatles já havia terminado. Em 13 de setembro, Lennon e Yoko tocaram no Toronto Rock & Roll Revival, com um grupo de convidados que incluía EricClapton, e a experiência convenceu John de que ele não conseguiria mais conviver dentro do confinamento de sua velha banda.

John Lennon deixa os Beatles

Uma semana mais tarde, durante uma reunião na Apple – com Klein, os Beatles e Yoko -, Paultentou mais uma vez convencer seus companheiros a fazer uma turnê. “Vamos voltar aos velhos tempos, relembrar por que estamos nessa”, ele disse. Lennon respondeu: “Acho que você está doido. Não ia falar nada, mas estou terminando a banda. E me sinto bem. É como um divórcio”.

As pessoas na sala não sabiam se ficavam chocadas ou se encaravam a afirmação como mais um dos surtos de Lennon. Ninguém – incluindo Yoko – sabia que aquilo aconteceria naquele dia.

“Ficamos de queixo caído”, conta McCartney. Pela primeira vez, ele e Klein concordaram em alguma coisa: os dois persuadiram Lennon a segurar qualquer tipo de anúncio por pelo menos alguns meses.

Klein tinha acabado de fechar um negócio que aumentaria substancialmente a porcentagem dos direitos autorais dos Beatles, e ele não queria assustar a EMI com a ideia de que a banda estava se separando.

Além disso, Klein e McCartney acreditavam que Lennon ainda poderia mudar de ideia; oscilar de um extremo ao outro não era algo incomum para John. Mas Yoko pressentia o que viria a acontecer e estava tão infeliz quanto qualquer um deles naquela hora. “Saímos de carro”, diria ela mais tarde a PhillipNorman, “e ele me disse: ‘Chega de Beatles. De agora em diante, somos eu e você. Ok?’ E eu pensei: ‘Meu Deus, esses três caras o mantinham entretido há tanto tempo. Agora sou eu quem vai ter que assumir essa função’.”

Lennon passou a deixar sinais antagônicos nos meses que se seguiram. Em comentários na Rolling Stone e na revista New Musical Express, no começo de 1970, Lennon disse que os Beatles poderiam voltar a gravar ou poderiam participar de um festival de verão no Canadá.

George também havia falado de uma possível turnê dos Beatles. “Seria provavelmente como um renascimento para todos nós”, declarou Lennon. Mas McCartney estava arrasado; a banda – a vida da qual ele havia feito parte desde os 15 anos – tinha sido tirada dele. “John está apaixonado por Yoko“, ele disse ao London Evening Standard, “e ao que parece não está mais apaixonado pelo resto da banda”.

Paul ficou em casa com Linda, sua filha mais velha, Heather, e a mais nova, Mary, e começou a beber de manhã e de tarde. Parou totalmente de compor e passou a explodir de raiva com frequência.

Enterrou-se em uma depressão paralisante, até o dia em que Linda percebeu que não suportava mais. “Aqui estou eu casada com um bêbado que não toma banho”, disse a um amigo, de acordo com Paul McCartney: A Life, de Peter Carlin.

“Você não tem de aguentar isso”, disse ela ao marido. “Você já é um adulto.” No Natal de 1969, McCartney seguiu o conselho da esposa e começou a trabalhar em seu primeiro álbum solo. Ele ligou para Lennon em março de 1970 e o informou que também estava deixando os Beatles. “Ótimo”, respondeu seu parceiro de longa data. “Com você, somos dois a aceitar o fato.”

O fim

Qualquer esperança de reconciliação foi demolida por uma série de tropeços cometidos por LennonKlein e Harrison nos primeiros meses de 1970. Os ensaios e as gravações de janeiro de 1969 já haviam sido editados, e Klein queria um álbum para acompanhar o filme, que agora se chamava Let It Be, título de uma música de Paul (embora Abbey Road tenha sido gravado depois de Let It Be, o álbum já havia sido lançado em setembro de 1969).

GlynJohns havia tentado juntar material para um álbum no ano anterior; Paul concordou, mas John odiou tudo o que ouviu. Ironicamente, o resultado havia chegado bem perto da crueza que Lennon havia originalmente insistido em atingir, e, no início de 1970, Klein queria algo com mais apelo comercial.

Em março, John entregou as fitas de janeiro de 1969 – que descreveu como “o pior monte de merda já gravado” – para o lendário produtor PhilSpector, que havia trabalhado com Lennonno single de “Instant Karma!”, em janeiro (Klein e Spector não queriam GeorgeMartinenvolvido. “Não acho que ele esteja no meu nível”, disse Spector. “Ele é um arranjador e não mais que isso”).

As mudanças que Spector trouxe para Let It Be foram, na melhor das hipóteses, desastrosas, engessando tanto a canção-título quanto a emocionante balada intimista “The Long and Winding Road” com camadas excessivas de orquestra (as modificações que Spector fez em “The Long…” soavam tão radicais que Ringo, que acompanhava o processo, arrastou o produtor pelo braço até a parte de fora do estúdio para repreendê-lo).

No período em que trabalhou, Spector jamais consultou McCartney sobre as mudanças que fazia, o que pode ter sido a intenção de Klein e de Lennon. Depois de ter acesso à nova mixagem, Paul solicitou algumas mudanças, mas Klein disse que era tarde demais (em 2003, Paul e Ringo lançariam uma versão chamada Let It Be Naked, livre dos arranjos de Spector).

A afronta final veio quando KleinHarrison e Lennon determinaram que McCartney não poderia lançar seu álbum de estreia em 17 de abril de 1970, como havia planejado originalmente, atrasando-o para 4 de junho para não atrapalhar o lançamento de Let It Be, previsto para 24 de abril.

Quando John e George enviaram Ringo como emissário para a casa de Paul, com uma carta contendo o comunicado, ele reagiu com uma raiva incomum; antes que a discussão acabasse em pancadaria, Paul expulsou Ringo de sua casa.

Quando o baterista reencontrou os outros, se sentiu mal pelo que haviam feito a Paul – “Ele é nosso amigo”, disse – e pediu que deixassem que McCartney mantivesse a data de lançamento planejada. Harrison e Lennon concordaram, adiando o lançamento do disco dos Beatles para maio, mas ficaram ressentidos com o ex-parceiro.

A autoentrevista de Paul McCartney

O sentimento era mútuo. “Estamos todos falando de paz e amor”, Paul declarou a um jornal na época, “mas na verdade não estamos nos sentindo nem um pouco pacíficos”. Nenhum deles, entretanto, imaginaria o que McCartney acabaria fazendo. “Não podia deixar que John controlasse a situação”, disse, tempos depois. Em abril, quando lançou seu primeiro trabalho solo, McCartney, Paul também liberou uma autoentrevista em que deixava algumas coisas bem claras:

P: Sente falta dos Beatles?

R: Não.

P:Planeja um novo álbum ou single com os Beatles?

R: Não.

Muito antes de John Lennon dizer ao mundo que “O sonho acabou”, Paul McCartney já tinha dado a notícia. Lennon encarou a declaração do parceiro como um ato de usurpação inaceitável.

“Era o que eu queria e deveria ter feito”, disse Lennon. “Fui idiota de não ter feito o que Paulfez, que foi usar o fato para vender discos.” Mas o ressentimento ia mais fundo. Os Beatleseram originalmente a banda de John, e, no fundo, ele achava que o futuro dela dependia dele. “Eu fundei a banda, eu terminei com ela”, disse.

Lennon, ao que parecia, estava bravo com McCartney porque dava-se a entender que era ele quem havia deixado Lennon, e não o contrário. “Acho que era só inveja”, Paul declarou a Barry Miles. Na época, Paul disse a um jornal: “Ringo saiu primeiro, depois George, então John. Eu fui o último a sair! Não fui eu!”

Mas o fim dos Beatles estava apenas entrando em uma nova e estranha fase, que duraria anos. McCartney não queria ter mais ligação alguma com a Apple – não queria que AllenKleintivesse envolvimento com sua música ou direito a parte dos lucros -, mas, quando ligou para Harrison procurando consentimento para abandonar o acordo, George respondeu: “Você vai ficar na porra do selo. Hare Krishna”.

Paul escreveu longas cartas a John, implorando para deixar a empresa dos Beatles, mas Lennon respondia em apenas uma ou duas linhas, sem tomar partido no caso (Klein mais tarde admitiria que ele havia sido pego totalmente desprevenido).

Os outros três deram a mesma resposta no tribunal: não havia necessidade de encerrar o grupo – as coisas não estavam tão ruins e eles ainda podiam fazer música juntos. O único problema era a mania que Paul tinha de querer controlar tudo.

O juiz decidiu que o pedido de dissolução feito por McCartney era válido, mantendo os lucros dos Beatles sob custódia até que todos os detalhes da separação – o divórcio que Lennonqueria – pudessem ser determinados.

Em 1973, o contrato dos Beatles remanescentes com Klein terminou e não foi renovado; eles tinham se cansado do empresário. Logo, GeorgeJohn e Ringo viriam a processá-lo (Lennonadmitiria em uma entrevista que talvez McCartney estivesse certo a respeito de Klein), e, em outro processo relacionado à Apple, Klein seria sentenciado a dois meses de prisão por fraude.

Quando o problema com Klein foi resolvido, Harrison disse que não se importaria em reunir os Beatles. Quando chegou o momento de o quarteto se juntar para assinar o documento de dissolução da parceria, Lennon se recusou a comparecer – ele temia ficar com menos dinheiro do que os outros, e alguém próximo a ele disse que o músico entrou em pânico, porque aquilo significava que os Beatles realmente haviam terminado. Talvez a intenção dele nunca tivesse sido acabar com o grupo, no fim das contas.

Caprichos e raiva acabaram com os Beatles

Apesar disso, foram seus caprichos e raiva que acabaram por destruir a banda. Na mesma reunião em que anunciou sua saída dos Beatles, Lennon também jogou na cara de McCartneyos anos de insegurança e descontentamento que guardava.

Ele sentia que Paul o havia eclipsado desde sempre, levando mais tempo para entender os sons que ele queria no estúdio, ganhando mais a aprovação de GeorgeMartin por fazer músicas de melodias fáceis.

Além disso, Paul tinha simplesmente composto demais, pela avaliação de John. Na época das gravações de Magical Mystery TourLennon disse: “Você já tinha cinco ou seis músicas, então eu pensava: ‘Foda-se, não consigo acompanhar esse ritmo’. Por isso não me importava mais se eu estava dentro ou não. Convenci a mim mesmo disso, e por certo tempo, se você não me convidasse para estar no disco, se vocês não chegassem e dissessem ‘Componha mais porque gostamos do seu trabalho’, eu não iria insistir”.

Mas Lennon completou: “Não havia sentido nenhum em compô-las – eu não tinha forças para compor e ainda tentar incluí-las no disco”.

Foi uma confissão notável. John Lennon – que até Abbey Road e Let It Be havia escrito a maior parte das obras-primas dos Beatles e definido a profundidade do trabalho da banda – não suportava mais dividir seu brilhantismo com PaulMcCartney.

Os Beatles seriam capazes de sobreviver a qualquer tensão que Yoko pudesse ter trazido. Sobreviveram a Klein. Mas os Beatles não conseguiram sobreviver a Lennon. Sua ansiedade era grande demais.

E então os Beatles terminaram. LennonHarrison e Starr tocaram juntos em várias formações no decorrer dos anos, embora raramente tenham gravado com McCartney; uma vez, quando EricClapton casou-se com a ex-esposa de HarrisonPattieBoydPaulGeorge e Ringo tocaram ao vivo por alguns minutos.

Uma vez, John e Paul também tocaram juntos, em 1974, no estúdio de alguém em Los Angeles. E Paul teve papel importante na reconciliação de John e Yoko quando os dois se separaram.

Lennon e McCartney, a dupla de compositores mais importante da história, reatou sua amizade no decorrer dos anos, embora tenham permanecido distantes e circunspectos e nunca tenham voltado a escrever juntos.

Lennon foi assassinado em 1980. PaulGeorge e Ringo voltaram a se reunir como os Beatlesno meio dos anos 90 para tocar em faixas inacabadas de John, lançadas na série AnthologyHarrison morreu de câncer do pulmão em 2001. PaulMcCartney, com a ajuda de Lee e JohnEastman, se tornou o homem mais rico do show business, e LindaMcCartney morreu de câncer de mama em 1998.

Tudo isso lembra uma história de amor? O amor perde todo o seu valor quando tudo termina? Talvez sim, embora finais não apaguem a história; em vez disso, a concluem. A história dos Beatles sempre foi, de certa forma, maior que os próprios Beatles, tanto a banda quanto os indivíduos que a formaram: foi a história de uma época, de uma geração que buscava novas possibilidades.

Foi a história do que acontece quando você encontra essas possibilidades, e o que acontece quando suas melhores esperanças vão por água abaixo. Sim, foi uma história de amor – e o amor quase nunca é uma bênção simples. Porque, por mais que os Beatles possam ter amado o que faziam juntos, o mundo em volta deles os amava ainda mais.

Foi esse amor que, mais do que qualquer outra coisa, exaltou os Beatles e os acorrentou juntos por tanto tempo. Algo que, por fim, nenhum deles conseguiu suportar. JohnLennon, em particular, sentia que precisava acabar com o romance, enquanto PaulMcCartney em especial odiava a ideia de vê-lo despedaçado. E, uma vez que estava feito, estava feito. Tudo o que eles criaram – cada uma das maravilhas – ainda reverbera, mas os corações responsáveis por tudo aquilo também foram responsáveis pelo seu fim, e nunca se recuperaram totalmente da experiência.

“Foi há tanto tempo”, George Harrison declarou anos mais tarde. “Às vezes, me pergunto se eu estava mesmo lá ou se foi tudo um sonho.” Eles estavam lá e foi tudo um sonho. Um sonho que nos elevou, que partiu nossos corações, que ainda perdura e que provavelmente jamais será igualado.


*A reportagem acima sobre o fim dos Beatles foi publicada pela Rolling Stone Brasil em setembro de 2009, na edição 36

 

 

 

 

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#VERIFICAMOS: É FALSO QUE SARGENTO PEGO COM 39 KG DE COCAÍNA É FILIADO AO PT

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Circula pelas redes sociais a “informação” de que o sargento da Aeronáutica Manoel Silva Rodrigues, preso na Espanha sob suspeita de entrar no país com 39 quilos de cocaína, é filiado ao PT. Ele integra o Grupo de Transporte Especial (GTE) da Força Aérea Brasileira (FAB) e viajava em um avião da Presidência. Por meio do projeto de verificação de notícias, usuários do Facebook solicitaram que esse material fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa:

“Militar preso da FAB. O militar detido por drogas é filiado ao PT. Pronto! Resolvido o mistério.”

Legenda de post que, até as 12h de 27 de junho de 2019, tinha mais de 3,2 mil compartilhamentos no Facebook

FALSO

A informação analisada pela Lupa é falsa. De acordo com a Constituição, nenhum integrante das Forças Armadas que esteja na ativa pode integrar partidos políticos. Isso aparece no inciso V, parágrafo 3º, do artigo 142: “O militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado a partidos políticos”.

Entenda o caso

Lupa também examinou as listas de filiados ao PT em todos os 26 estados e no Distrito Federal, disponíveis no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para saber se em algum momento Rodrigues esteve ligado à legenda. O nome do sargento não apareceu nas consultas, o que indica que ele nunca foi filiado ao partido.

Uma checagem semelhante foi feita pelo Aos Fatos.

Nota: esta reportagem faz parte do projeto de verificação de notícias no Facebook. Dúvidas sobre o projeto? Entre em contato direto com o Facebook.

Editado por:Nathália Afonso

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LEIA TRECHOS DAS MENSAGENS ENTRE PROCURADORES SOBRE PEÇA-CHAVE NA PRISÃO DE LULA

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LEIA TRECHOS DAS MENSAGENS ENTRE PROCURADORES SOBRE PEÇA-CHAVE NA PRISÃO DE LULA

Foto do interior do apartamento atribuido ao ex-presidente Lula, localizado na Barra do Tijuca, no edifício Solaris

Diálogos sugerem que depoimento sobre tríplex foi decisivo para que procuradores voltassem a conversar sobre delação

Mensagens privadas obtidas pelo site The Intercept Brasil e analisadas pela Folha indicam que Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS que incriminou o ex-presidente Lula (PT) no caso que o levou à prisão, só ganhou crédito após mudar diversas vezes a narrativa sobre o tríplex de Guarujá (SP).

O empreiteiro foi tratado com desconfiança pela Operação Lava Jato durante quase todo o tempo em que se dispôs a colaborar com as investigações.

Pinheiro apresentou a versão que incriminou Lula —de que a reforma do apartamento teria sido feita em troca de contratos com a Petrobras— apenas em abril de 2017, mais de um ano depois do início das negociações.

Os diálogos sugerem que o depoimento sobre o tríplex foi decisivo para que os procuradores voltassem a conversar com o empreiteiro.

Veja as conversas AQUI

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LAVA JATO DESCONFIOU DE EMPREITEIRO PIVÔ DA PRISÃO DE LULA, INDICAM MENSAGENS

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LAVA JATO DESCONFIOU DE EMPREITEIRO PIVÔ DA PRISÃO DE LULA, INDICAM MENSAGENS

Ex-presidente da OAS que incriminou líder petista no caso do tríplex foi tratado com descrédito ao negociar delação premiada.

Folha Uol – Ex-presidente da OAS que incriminou líder petista no caso do tríplex foi tratado com descrédito ao negociar delação premiada
​O empreiteiro que incriminou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no caso que o levou à prisão foi tratado com desconfiança pela Operação Lava Jato durante quase todo o tempo em que se dispôs a colaborar com as investigações, segundo mensagens privadas trocadas entre procuradores envolvidos com as negociações.​

Enviadas por uma fonte anônima ao The Intercept Brasil e analisadas pela Folha e pelo site, as mensagens indicam que Léo Pinheiro, ex-presidente da construtora OAS, só passou a ser considerado merecedor de crédito após mudar diversas vezes sua versão sobre o apartamento tríplex de Guarujá (SP) que a empresa afirmou ter reformado para o líder petista.

Foto: Edifício Solaris, em Guarujá (SP), onde está o apartamento tríplex atribuído a Lula – Nelson Almeida – 16.abr.18/AFP

“Sobre o Lula eles não queriam trazer nem o apt. Guaruja”, escreveu o promotor Sérgio Bruno Cabral Fernandes a outros integrantes da equipe que negociou com os advogados da OAS em agosto de 2016, numa discussão sobre a delação no aplicativo Telegram. “Diziam q não tinha crime.”

Léo Pinheiro só apresentou a versão que incriminou Lula em abril de 2017, mais de um ano depois do início das negociações com a Lava Jato, quando foi interrogado pelo então juiz Sergio Moro no processo do tríplex e disse que a reforma do apartamento era parte dos acertos que fizera com o PT para garantir contratos da OAS com a Petrobras.

Os diálogos examinados pela Folha e pelo Intercept ajudam a entender por que as negociações da delação da empreiteira, até hoje não concluídas, foram tão acidentadas —e sugerem que o depoimento sobre Lula e o tríplex foi decisivo para que os procuradores voltassem a conversar com Pinheiro, meses depois de rejeitar sua primeira proposta de acordo.

Os advogados da OAS abriram negociações com a Lava Jato em fevereiro de 2016. Nessa época, as investigações sobre as relações de Lula com as empreiteiras estavam avançando, e os procuradores já tinham muitas informações sobre o tríplex e as obras executadas pela OAS e pela Odebrecht num sítio que o líder petista frequentava em Atibaia (SP).

Léo Pinheiro já havia sido condenado por Moro por ter pago propina a dirigentes da Petrobras e recorria em liberdade, mas temia ser preso se a apelação fosse rejeitada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, onde os processos de Curitiba são revistos.

O empreiteiro foi recebido com ceticismo desde o início. “A primeira notícia de versão do LP [Léo Pinheiro] sobre o sítio já é bem contrária ao que apuramos aqui”, disse um dos procuradores, Paulo Roberto Galvão, no início de março. “Estamos abertos a ouvir a proposta da empresa mas não nos comprometemos com nada.”

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RESUMO DOS VAZAMENTOS EM 3 PONTOS

1 – Mensagens reveladas pelo site The Intercept Brasil indicam troca de colaboração entre Moro, então juiz, e Deltan, procurador e coordenador da força-tarefa da Lava Jato.

2 – Segundo a lei, o juiz não pode auxiliar ou aconselhar nenhuma das partes do processo

3 – Vazamento pode levar à anulação de condenações proferidas por Moro, caso haja entendimento que ele era suspeito (comprometido com uma das partes). Isso inclui o julgamento do ex-presidente Lula

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Em abril, após analisar relatos anexados à primeira proposta entregue pelos advogados da OAS, outro integrante da força-tarefa de Curitiba, Januário Paludo, disse aos colegas que achava o esforço inútil.

“Tem que prender Leo Pinheiro. Eles falam pouco”, escreveu. “Me parece que não está valendo a pena.”

Uma pessoa que acompanhou as conversas da OAS com a Lava Jato na época disse à Folha que, inicialmente, Léo Pinheiro descreveu o tríplex como um presente que oferecera a Lula sem pedir nada em troca. Segundo essa pessoa, a insatisfação dos procuradores o levou a mudar sua versão pelo menos duas vezes até chegar àquela adotada em 2017.

As mensagens analisadas pela Folha e pelo Intercept mostram que os relatos apresentados pela empreiteira sofreram várias alterações até que os procuradores aceitassem assinar um termo de confidencialidade com os advogados, passo essencial para que as negociações avançassem.

Mas os ajustes feitos pela OAS pareciam sempre insuficientes. “Na última reunião dissemos que eles precisariam melhor[ar] consideravelmente os anexos”, disse o procurador Roberson Pozzobon aos colegas em julho, quando se preparavam para um novo encontro com os representantes da empresa.

“Os anexos que a OAS entregou hoje são muito semelhantes Àqueles que a carol enviou antes aqui”, escreveu a procuradora Jerusa Viecili no Telegram após a reunião. “Só há alguns anexos novos.”

Materia completa aqui.
 

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PROCURADOR CONFIRMA AO CORREIO AUTENTICIDADE DE MENSAGENS SOBRE MORO

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PROCURADOR CONFIRMA AO CORREIO AUTENTICIDADE DE MENSAGENS SOBRE MORO

Procuradores teriam demonstrado preocupação com o fato de Moro marcar encontros com Bolsonaro após o resultado das eleições (foto: Ed Alves/CB/D.A Press)

Correio Brasiliense – Ao Correio, um dos procuradores que estava no grupo em que ocorreram as conversas, disse, sob a condição de anonimato, que os trechos divulgados são verdadeiros. “Me recordo dos diálogos com os procuradores apontados pelo site. O grupo não existe mais. No entanto, me lembro do debate em torno do resultado das eleições e da expectativa sobre a ida de Moro para o Ministério da Justiça”, disse.

O integrante do Ministério Público Federal (MPF) também declarou que conseguiu recuperar parte do conteúdo. “Consegui recuperar alguns arquivos no celular. Percebi que os trechos divulgados não são de diálogos completos. Tem mensagens anteriores e posteriores às que foram publicadas. No entanto, realmente ocorreram. Não posso atestar que tudo que foi publicado até agora é real e não sofreu alterações. No entanto, aquelas mensagens que foram publicadas ontem (sexta) são autênticas”, completou.

Em nota divulgada no final da tarde deste sábado (29/6), a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) “alerta a sociedade sobre a impossibilidade de considerar como verdadeiras” mensagens divulgadas pelo site The Intercept em que procuradores da República fazem críticas ao ministro Sérgio Moro. Ouvido pelo Correio, um procurador, porém, confirma, que as mensagens sobre Moro são verdadeiras.

Integrantes da força-tarefa da Lava-Jato revelam preocupações com a possibilidade de que o então juiz Sérgio Moro aceitasse convite para compor a equipe de ministros do presidente Jair Bolsonaro.

Nas mensagens publicadas, a procuradora Monique Cheker critica a condução dos processos da Lava-Jato pelo ministro na época em que ele era juiz no Paraná. “Moro viola sempre o sistema acusatório e é tolerado por seus resultados”, teria dito Monique. Em um grupo no aplicativo Telegram, os procuradores teriam demonstrado preocupação com o fato de Moro marcar encontros com o presidente Jair Bolsonaro após o resultado das eleições do ano passado.

Um dos que participam do diálogo é o procurador Alan Mansur, coordenador da Lava-Jato no Pará. Ele revela temor com a ida de Moro para o Ministério da Justiça. “Tem toda a técnica e conhecimento para ser um excelente ministro da Justiça. E tentar colocar em prática tudo que ele acredita. Porém, o fato de ter aceitado, neste momento, entrar na política e desta forma, é muito ruim pra imagem de imparcialidade do sistema de justiça e MP em geral”, disse.

Minutos antes da reportagem entrar no ar, o jornalista Glenn Greenwald, do The Intercept, apresentou a reprodução de uma conversa, citando o procurador Ângelo Goulart Villela. A matéria publicada, porém, citou na verdade Ângelo Augusto Costa, um homônimo. Pelo Twitter, Sérgio Moro afirmou que as controvérsias da publicação revelam que as mensagens não ocorreram. “Isso só reforça que as mensagens não são autênticas e que são passíveis de adulteração. O que se tem é um balão vazio, cheio de nada. Até quando a honra e a privacidade de agentes da lei vão ser violadas com o propósito de anular condenações e impedir investigações contra corrupção?”, disse.

No posicionamento divulgado, a ANPR ressaltou a “preocupação quanto à divulgação de mensagens atribuídas a integrantes do Ministério Publico Federal com indícios de terem sido adulteradas e de serem oriundas de crime cibernético”. A entidade destacou ainda que se “manterá implacável na defesa das prerrogativas funcionais dos procuradores da República, garantidas pela Constituição para que eles possam defender, com independência e autonomia, a ordem jurídica, o regime democrático e os interesses sociais e individuais indisponíveis”.

Veracidade

Ao Correio, um dos procuradores que estava no grupo em que ocorreram as conversas, disse, sob a condição de anonimato, que os trechos divulgados são verdadeiros. “Me recordo dos diálogos com os procuradores apontados pelo site. O grupo não existe mais. No entanto, me lembro do debate em torno do resultado das eleições e da expectativa sobre a ida de Moro para o Ministério da Justiça”, disse.

O integrante do Ministério Público Federal (MPF) também declarou que conseguiu recuperar parte do conteúdo. “Consegui recuperar alguns arquivos no celular. Percebi que os trechos divulgados não são de diálogos completos. Tem mensagens anteriores e posteriores às que foram publicadas. No entanto, realmente ocorreram. Não posso atestar que tudo que foi publicado até agora é real e não sofreu alterações. No entanto, aquelas mensagens que foram publicadas ontem (sexta) são autênticas”, completou.

SOBRE O CASO QUEIROZ BLINDA O CASAL BOLSONARO

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INVESTIGAÇÃO SOBRE O CASO QUEIROZ BLINDA O CASAL BOLSONAROINVESTIGAÇÃO

As investigações sobre as movimentações financeiras atípicas de Fabrício Queiroz, laranja da família Bolsonaro, blindam o presidente e sua esposa, Michelle Bolsonaro; O MPF-RJ e a PGR em Brasília enviaram o caso ao MP-RJ, que esbarra em limites jurídicos e políticos; o órgão não pode intimar o chefe do Planalto, por exemplo.

Brasil247 –  As investigações sobre as movimentações financeiras atípicas de Fabrício Queiroz, laranja da família de Jair Bolsonaro, blindam o presidente e sua esposa, Michelle Bolsonaro.

O Ministério Público Federal no Rio e a Procuradoria-Geral da República em Brasília enviaram o caso ao Ministério Público do Rio, que esbarra em limites jurídicos e políticos. Não pode intimar Bolsonaro, por exemplo.

O chefe do Planalto admitiu ter recebido R$ 40 mil da conta de ex-assessor, mas é poupado na apuração.

Queiroz tinha uma conta bancária na qual depositava parte dos salários de assessores da Assembleia Legislativa do Rio. Nessa mesma conta foi compensado um cheque de R$ 24 mil em benefício da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

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