UM MÊS DE VAZA JATO: A DEGRADAÇÃO DE MORO E O COLAPSO DO DISCURSO “ANTICORRUPÇÃO”

UM MÊS DE VAZA JATO: A DEGRADAÇÃO DE MORO E O COLAPSO DO DISCURSO

“As mensagens secretas da Lava Jato” ditaram um novo e conturbado episódio político no país / Agência Brasil

Lu Sudré – Brasil de Fato | São Paulo (SP) – Mudou tudo e não mudou nada. Há exatamente um mês, no dia 9 de junho, o The Intercept Brasil publicava as três primeiras reportagens de uma série de matérias jornalísticas sobre a operação Lava Jato. “As mensagens secretas da Lava Jato” ditaram um novo e conturbado episódio político no país e afetaram consideravelmente as percepções sobre a operação e principalmente sobre a figura do ex-juiz Sérgio Moro. Até o momento, porém, a Procuradoria-Geral da República (PGR) e as devidas instâncias do Poder Judiciário não esboçaram nenhum movimento no sentido de apurar as informações vazadas nem de responsabilizar os envolvidos.

Produzidas a partir de arquivos inéditos, obtidos de uma fonte anônima, as reportagens expuseram a atuação política e parcial do atual ministro da Justiça em conjunto com o procurador Deltan Dallagnol, que coordenou a força-tarefa da Lava Jato. O furo jornalístico trouxe à tona diálogos privados do aplicativo de mensagens Telegram, que ocorreram entre 2015 e 2018, e que evidenciam a articulação e cooperação entre o juiz e o promotor.

Ao longo de um mês, o veículo publicou onze reportagens, incluindo um editorial que discorre sobre os motivos que levaram a equipe do jornalista Glenn Greenwald a publicar o conteúdo exclusivo. Algumas matérias da série foram publicadas em parceria com veículos da mídia comercial como a Folha de S. Paulo, a revista Veja e a Band News, dando uma repercussão ainda maior aos fatos.

O início

De acordo com o primeiro material divulgado pelo The Intercept, o então juiz de primeira instância colaborou ilegalmente com os procuradores na articulação da acusação contra Lula. Moro sugeriu a Dallagnol que trocasse a ordem de fases da Lava Jato, cobrou agilidade em novas operações, deu conselhos estratégicos e pistas informais de investigação.

Essa primeira leva de matérias também mostrou que o próprio Dallagnol nutria inseguranças em relação a acusação que levou à prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em abril do ano passado.

As reportagens ainda expuseram discussões e conversas internas entre os procuradores da Lava Jato, que falavam abertamente sobre desejos e estratégias para impedir a vitória eleitoral do Partido dos Trabalhadores (PT) nas últimas eleições, como por exemplo, evitar que Lula desse entrevistas.

Conforme ganhavam repercussão, os vazamentos colocaram em xeque o “heroísmo” de Sérgio Moro e da investigação como um todo – e não apenas para a esquerda, que há anos alega que o juiz age de forma parcial.

Pressionado, o ministro negociou sua ida a uma audiência na Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) do Senado, onde compareceu em 16 de junho para se explicar.

Na audiência, Moro usou a expressão “hackers criminosos” diversas vezes, insistindo na tese de que as mensagens teriam sido obtidas de maneira ilícita. Ele também colocou em dúvida a autenticidade dos diálogos divulgados, ao mesmo tempo em que minimizou a importância de seu conteúdo – afirmando não ver nada de mais no conteúdo das conversas.

Mesmo com a revelação de novos conteúdos a cada semana, e com a entrada de outros veículos de comunicação na cobertura, os apoiadores da força-tarefa continuam fiéis aos argumentos de Moro e seguem acusando o The Intercept Brasil de manipular os áudios e mensagens para manchar o histórico da operação e a carreira de Moro.

Para responder publicamente a essas e outras acusações, o jornalista Glenn Greenwald, fundador do site, participou de audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM), no dia 25 de junho.

Greenwald criticou a conduta de Moro, de Dallagnol e outros procuradores da operação como um todo. Segundo ele, os limites entre juiz e procurador, entre Justiça e acusação, foram ultrapassados.

“O material mostrou, e vai continuar mostrando, que Sérgio Moro quebrou o Código de Ética diversas vezes. Ele era o chefe da força tarefa da Lava Jato, o chefe dos procuradores, e fingia que era um juiz neutro. Isso é um processo totalmente corrupto”, denunciou Glenn.

Informações reveladas

As diálogos publicados até aqui revelam estreita cooperação entre juiz e procuradores. Numa delas, Moro sugere à força tarefa que divulgue uma nota para rebater o “showzinho da defesa” durante um dos depoimentos de Lula.

Em outra, o ex-juiz aparece discordando de investigações da operação contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, para não “melindrar alguém cujo apoio é importante”. Em resposta, Dallagnol diz acreditar que a ação contra FHC tenha sido levada adiante “talvez para [o MPF] passar recado de imparcialidade”.

Deltan Dallagnol é coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba. (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom)

Uma outra reportagem, produzida em parceria com a Folha de S. Paulo, mostrou que os procuradores na linha de frente da Lava Jato se articularam para proteger Moro e evitar que tensões entre ele e o STF paralisassem as investigações.

Quando Moro recebe convite para assumir o Ministério da Justiça do governo Bolsonaro, os procuradores, em conversas particulares, demonstraram frustração e receio. Eles o criticaram duramente por agir em nome de um interesses políticos e pessoais. Nestes diálogos, os procuradores reconhecem que Moro infringe sistematicamente os limites da magistratura.

“Moro viola sempre o sistema acusatório e é tolerado por seus resultados”, escreveu a procuradora Monique Cheker em 1º de novembro, uma hora antes de o ex-juiz anunciar ter aceito o convite presidencial para se tornar ministro. Os integrantes da Lava Jato comentaram ainda que, ao aceitar o cargo, Moro colocava em xeque a legitimidade e “legado” da operação.

Chefe da operação

Dando continuidade à Vaza Jato, no início do mês de julho, repórteres da revista Veja e do The Intercept  publicaram conteúdos inéditos após analisarem 649.551 mil mensagens disponibilizadas pela fonte anônima.

“Palavra por palavra, as comunicações examinadas pela equipe são verdadeiras e a apuração mostra que o caso é ainda mais grave. Moro cometeu, sim, irregularidades. Fora dos autos (e dentro do Telegram), o atual ministro pediu à acusação que incluísse provas nos processos que chegariam depois às suas mãos, mandou acelerar ou retardar operações e fez pressão para que determinadas delações não andassem”, registra a matéria.

A revista, que já publicou matérias em defesa de Moro diversas vezes, assegura que o ministro da Justiça “comportou-se como chefe do Ministério Público Federal, posição incompatível com a neutralidade exigida de um magistrado.”

A reportagem revelou que Moro agiu para evitar a delação premiada do ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ), o que poderia levar o processo para o Superior Tribunal Federal. Dallangol, como sempre, apressou-se em tranquilizar o “chefe” quanto aos movimentos do MPF em relação à Cunha, explicando que se tratava apenas de reunião inicial.

Já a última matéria da série publicada no domingo (7), resultado de parceria do The Intercept Brasil com a Folha, mostra que integrantes da força-tarefa se mobilizaram para interferir na política interna da Venezuela, expondo informações sigilosas do país vizinho, após receberem uma sugestão de Moro em agosto de 2017.

A divulgação não autorizada de informações sigilosas por parte dos procuradores pode caracterizar o crime previsto no artigo 325 do Código Penal, que pune com até dois anos de prisão o agente público que “revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação”.

Essa matéria também evidencia a proximidade de FHC com a operação, citado pela segunda vez nos vazamentos. O conteúdo publicado aponta que o ex-presidente discutiu com a Transparência Internacional a possibilidade de abrir processos contra autoridades da Venezuela.

Com o Supremo, com tudo

“As mensagens secretas da Lava Jato” também envolvem ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Leandro Demori, editor do The Intercept Brasil, revelou ao jornalista Reinaldo Azevedo, da Band News, trechos de conversas de Dallagnol com procuradores, comemorando o apoio convicto de Luiz Fux à Lava Jato após conversa privada entre os dois.

Segundo as mensagens, o ministro elogiou a atuação de Moro, que, por sua vez, festejou: “In Fux we trust”, escreveu o ex-juiz.

Moro tinha sua imparcialidade questionada anos antes da série do The Intercept Brasil. (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom)

Mais recentemente, a matéria publicada pela Folha também mostrou que, em conversas  no Telegram com colegas do MPF, Dallagnol fala de um  encontro com Edson Fachin. “Caros, conversei 45 m com o Fachin. Aha uhu o Fachin é nosso”, comemorou o promotor, em junho de 2015. Fachin assumiu a relatoria da Lava Jato no Supremo em janeiro de 2017, após a morte do ministro Teori Zavascki, em um acidente de avião.

Juiz ou delegado de polícia?

Geraldo Prado, jurista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, afirma que há dois anos já havia enviado um parecer ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, no qual denunciava o comportamento parcial de Moro em seus julgamentos, o que a Constituição não admite, como faz questão de frisar.

“O ex-juiz Sérgio Moro tinha um comportamento irregular. Praticava a jurisdição no processo da Lava Jato e do Banestado de uma maneira, na minha opinião, contrária às regras jurídicas. Isso já era claro sem a necessidade de recorrer-se a áudios, mensagens trocadas. Penso que o fato do TRF-4 não ter coibido esse comportamento de Sérgio Moro é o que acabou por deixá-lo achando que poderia fazer qualquer coisa e que a Justiça era o que ele efetivamente dizia. Um juiz tem ser imparcial. Eu tenho certeza que uma atuação como essa, em qualquer outro lugar do mundo, levaria os tribunais a afastarem um juiz que se comportasse como Sérgio Moro”, analisa Prado.

Ele acusa o juiz de agir como um delegado de polícia. “Há, ali [nas mensagens vazadas], uma orientação efetiva ao Ministério Público a respeito de como organizar a investigação, quais etapas deveriam ser privilegiadas ou não, como deveria se portar. Pessoas que supostamente seriam testemunhas de infrações penais, mas que o procurador da República desconhecia, eram apontadas pelo juiz para serem procuradas. Como se o juiz fosse um delegado da polícia federal”, complementa o jurista.

“Furo histórico”

As informações publicizadas ganharam repercussão nacional e internacional. Do ponto de vista jornalístico, é um feito único e altamente relevante, segundo avalia o jornalista Rodrigo Vianna, do Centro de Estudos de Mídia Barão do Itararé.

“É impressionante. Desde 2013 se construiu uma narrativa no Brasil de tudo que é política não presta, é corrupção, e que o Judiciário e a turma da Lava Jato são os vingadores e os heróis do Brasil. E aí aparece uma matéria jornalística que oferece fatos, objetivos e que comprova tudo aquilo que um setor do país dizia, que a Lava Jato não era uma operação de combate à corrupção, mas uma operação partidarizada, politizada e perigosíssima, porque usa a Justiça para fazer política. Desse ponto de vista, é histórico”, ressalta Vianna.

O jornalista acredita ainda que a Vaza Jato pode mudar até mesmo o ciclo político pelo qual passa o país. “Tudo aquilo que se comentava nos bastidores agora está escancarado por meio desses diálogos. São realmente uma cobertura e furo jornalísticos históricos”.

Críticos aos vazamentos tentam deslegitimar a série de reportagens, assim como o próprio Glenn Greenwald. O principal questionamento feito pelos defensores da Lava Jato, que exigem a identificação da fonte anônima, é relacionado à veracidade e origem das mensagens.

Uma operação partidarizada, politizada e perigosíssima, porque usa a Justiça para fazer política

Rodrigo Vianna relembra, no entanto, que além de ser uma garantia constitucional, o sigilo da fonte é um dos pilares do jornalismo.

“[Manter o sigilo] É importante até para que outras fontes no futuro tenham confiança de passar materiais para jornalistas sabendo que a ‘autoridade’ não vai obrigá-lo a entregar sua identidade. Se não, a fonte pode ficar com medo, com receio. Garantir que esse sigilo não seja quebrado é fundamental para a democracia e para o bom funcionamento do jornalismo”, endossa.

Divulgação

Outro aspecto da Vaza Jato que chama a atenção é o formato de publicação das informações, já que a equipe do The Intercept publica os conteúdos inéditos sem periodicidade exata e sem aviso prévio.

Para Vianna, das onze reportagens, a matéria mais bem apurada e bem escrita até o momento é a produzida em parceria com a Veja. “Foram nos pontos mais importantes, não centraram na figura do Lula. Centraram nas ilegalidades cometidas pelo Moro de forma geral. A Veja chamou pelo nome: ilegalidades. Não são desvios de conduta, é ilegal o que ele fez. É passível de cancelamento, de nulidade do processo”, acrescenta.

O integrante do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé também analisa que a estratégia de publicar o material em parceria com a grande mídia vai muito além de dar credibilidade ao veículo e a Glenn Greenwald, que ganhou o renomado Prêmio Pulitzer de Jornalismo após publicação de reportagem sobre documentos de Agência de Segurança Nacional vazados por Edward Snowden.

Vianna avalia que as parcerias também são estratégias políticas. “Como a mídia no Brasil é muito politizada e vai muito para a direita, o fato de conseguir que parte desta mídia também dê espaço para esse material, faz com que se saia do gueto. Se o Moro politizou a Justiça e usou a mídia para divulgar as ações da Lava Jato de maneira estratégica, o Glenn e o The Intercept fazem parecido. É uma estratégia de divulgação do material que eles obtiveram. A princípio eles não tinham a grande imprensa com eles, mas foram abrindo espaços de maneira muito importante e muito consistente”, considera o jornalista.

Próximos capítulos

Glenn Greenwald e Leandro Demori garantem que ainda há mensagens inéditas que serão divulgadas. Há uma grande expectativa de como o desenrolar dos vazamentos podem impactar a condenação do ex-presidente Lula, considerada a “grande vitória” dos defensores da força-tarefa e do ministro da Justiça e Segurança Pública.

No dia 25 de junho, a segunda turma do Supremo adiou para o segundo semestre julgamento de habeas corpus (HC) impetrado no ano passado pela defesa do ex-presidente, que pediu a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro e a consequente liberdade para o petista.

Acusado por Dallagnol e julgado por Moro, Lula foi preso em abril de 2018. (Foto: Ricardo Stuckert)

A análise do HC teve início em dezembro do ano passado, mas foi suspensa devido a um pedido de vistas do ministro Gilmar Mendes. Na época, os advogados de Lula juntaram ao pedido uma série de evidências que comprovam a parcialidade de Moro. Com o vazamento das “mensagens secretas da Lava Jato’, o argumento da defesa se intensificou.

Um pedido de liminar para que fosse concedida liberdade provisória a Lula enquanto a corte não julga o HC foi rejeitado por 3 votos a 2. Votaram a favor da liminar os ministros Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski. Edson Fachin, Celso de Mello e Cármen Lúcia votaram contra.

Para o jurista Geraldo Prado, é urgente que a Procuradoria Geral da República investigue o caso e a veracidade das mensagens, já que as informações publicizadas são de natureza grave.

Ele destaca ainda que, ao minimizarem o tom das mensagens e ao tecer comentários sobre elas em suas redes sociais, pode-se considerar que os próprios interlocutores confirmam a veracidade do conteúdo divulgado.

“Em qualquer país civilizado, já seria suficiente para a declaração da nulidade dos processos onde esses fatos ocorrerem e para o início de algum tipo de investigação de responsabilidade dessas pessoas. São informações que apontam para uma parcialidade judicial que tem consequências processuais. Torna nulos os processos onde esses atos parciais foram praticados, e, infelizmente, colocando em descrédito a Justiça criminal”, argumenta.

Na opinião do jornalista Rodrigo Vianna, que está na profissão há 20 anos e acompanha atentamente a Vaza Jato, quem espera revelações bombásticas nos “próximos episódios” pode se frustrar.

“São conversas informais e dificilmente alguém vai falar algo que seja completamente comprometedor numa única fala, em uma única frase. O que importa ali é o conjunto da obra”, comenta o jornalista.

Mesmo sem uma “grande bomba” que desestabilize o ministro da Justiça, na avaliação de Vianna, o modo pelo qual Moro é visto por parcela da sociedade sofre alterações. Para ele, o ministro que outrora era um fator de legitimação do presidente, passar a ser protegido por ele.

“Quando mostra-se que o herói da democracia e da Justiça fazia coisas erradas – isso fica evidente com essa luz lançada pelo bom jornalismo – Moro diminui de tamanho e passa a ocupar o mesmo espaço que o Bolsonaro. Moro passa a ser uma sublegenda do Bolsonaro. Hoje, ele depende do Bolsonaro para sobreviver”, conclui o jornalista.

Edição: João Paulo Soares

REFORMA DA PREVIDÊNCIA 

Diz a Filosofia: “Quem não distingue, confunde!!!“
A questão NÃO, NÃO é fazer a reforma da Previdência, mas , a FORMA, a MANEIRA  como querem fazê-la.
O Verezza deveria falar do que sabe, – “representação  e ou  personagem de faz-de-conta“ – nos teatros.
A Vida é a dura Realidade e não uma peça de novela em que tudo é simplificado e edulcorado…
1 – O Governo NÃO, NÃO quer cobrar os grandes “empresários” devedores da Previdência;
2 – Não querem aprimorar as técnicas de evitar a Sonegação dos comerciantes;
3 – Continuam perdoando as dívidas bilionárias dos Bancos;
4 – Estão dando isenções e perdoando dívidas dos grandes ruralistas latifundiários e  do agro negócios;
5- Querem carrear, através da “capitalização“, o imenso volume dos recur$o$ dos aposentados para os grandes Bancos lucrarem, ainda mais,  com o dinheiro dos Pobres  Aposentados;
6 – O que o Governo quer é fazer a Reforma da Previdência de uma maneira simplista, descontando dos benefícios dos trabalhadores que menos ganham.
Se você concorda com isso, é sinal de que, ainda, não entendeu que estão “ ferrando“ você …

SERGIO MORO PEDE AFASTAMENTO TEMPORÁRIO DO CARGO POR MOTIVOS PESSOAIS

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SERGIO MORO PEDE AFASTAMENTO TEMPORÁRIO DO CARGO POR MOTIVOS PESSOAIS

Da EXAME: O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, solicitou afastamento do cargo por uma semana “para tratar de assuntos particulares”.

A licença do ministro será tirada no período de 15 a 19 de julho e foi autorizada por despacho presidencial publicado no Diário Oficial da União (DOU) desta segunda-feira (08).

O Ministério da Justiça e Segurança Pública explicou, por meio de sua assessoria, que o afastamento de Moro se trata de uma licença não remunerada prevista em lei. “Por ter começado a trabalhar em janeiro, o ministro não tem ainda direito a gozar férias. Então está tirando uma licença não remunerada, com base na Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990”, informou a assessoria.

Segundo um auxiliar da pasta, a licença já estava sendo planejada desde que o ministro assumiu, e não tem a ver com o cenário atual de pressão sobre Moro relacionada a uma suposta troca de mensagens com procuradores.

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SEIS MESES DE BOLSONARO: CRESCIMENTO PÍFIO, PRIVATIZAÇÕES, DESEMPREGO E RETROCESSO

.SEIS MESES DE BOLSONARO: CRESCIMENTO PÍFIO, PRIVATIZAÇÕES, DESEMPREGO E RETROCESSO

“Brasil está longe da perspectiva de sair da recessão”, avalia economista Paulo Nogueira Batista Júnior / Foto: Sergio Lima / AFP

Balança da distribuição de renda voltou a pender para setores mais ricos da sociedade, analisa coordenador do Dieese.

Antonio Biondi – Brasil de Fato | São Paulo (SP) – Como resumir os 6 primeiros meses de Jair Bolsonaro (PSL) à frente da economia brasileira? Os adjetivos podem ser muitos e variados, mas alguns substantivos – bastante concretos – não podem escapar a uma análise mais sincera do período.

O desemprego, que segue no triste patamar de 13 milhões de brasileiros e brasileiras, é certamente um deles. O desalento, que hoje atinge quase 5 milhões de trabalhadores e trabalhadoras, outro. A subutilização, situação enfrentada por mais de 28 milhões de pessoas inseridas no mercado de trabalho, mais um.

Para completar o quadro, o governo oferece a privatização de ativos valiosos para o país e a retomada do crescimento é pífia, com previsão 0,82% em 2019. A expectativa de alta para o Produto Interno Bruto (PIB) esse ano passou de 0,85% para 0,82%, conforme divulgado nesta segunda-feira, 8, pelo Banco Central (BC).

Do ponto de vista dos direitos, Bolsonaro pretende adotar reformas prejudiciais aos trabalhadores e favoráveis aos representantes mais atrasados do setor produtivo.

Ainda antes de completar 200 dias de governo, o presidente e o ministro da Economia Paulo Guedes buscam aprovar na Câmara dos Deputados o seu prato principal para o mercado: a reforma da Previdência.

Carro no frio

Fausto Augusto Júnior, coordenador de Educação do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) afirma que o atual contingente de cerca de 13 milhões de desempregados, notoriamente alto, “vem se mantendo há algum tempo e pode piorar. Não existe perspectiva de melhora”.

“O trabalho não é uma questão prioritária para o atual governo. Tanto que acabou com o Ministério do Trabalho”, em uma de suas primeiras medidas.

Para o coordenador de Educação do Dieese, a economia brasileira hoje se assemelha a um carro a álcool em um dia frio e com a bateria sem carga: “o carro – no caso, a economia – não vai pegar sem que alguma outra medida seja tomada”.

O especialista relativiza a promessa do governo de que a reforma da Previdência mudará tudo, e relembra que “o histórico recente mostra que não é assim que funciona”. “A aprovação de outras reformas, como a Trabalhista, por exemplo, também foi defendida como caminho único e certo pelo governo anterior para a retomada do crescimento da economia, e a hipótese não se confirmou“.

O economista Paulo Nogueira Batista Júnior concorda com a análise. Ex-diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) e ex-vice-presidente do Banco dos BRICS (Novo Banco de Desenvolvimento, associado ao Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), Batista Júnior avalia que o atual governo não tomou medidas para o país voltar a crescer.

O economista enumera ações que poderiam ser tomadas: o Banco Central poderia baixar os juros; o governo poderia liberar recursos do FGTS, o que já foi cogitado pela atual gestão; entre diversas outras medidas.

Entretanto, mesmo essas medidas tidas como básicas pelos economistas, estão sendo condicionadas pelo governo à aprovação da reforma da Previdência. “O pouco que se falou não foi feito, à espera da aprovação da reforma. Essa ideia de que a economia se recupera de forma quase espontânea com a aprovação de reformas estruturais é uma ilusão. Não é algo razoável”, critica.

Para Nogueira, Bolsonaro oferece ao país uma política econômica pobre e enviesada, de modo que o Brasil está longe da perspectiva de sair da recessão que se aprofundou com a crise política marcada pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff, em 2016, e pela instabilidade econômica e social dos anos seguintes.

Sanha privatista

Fernando L. C. Antunes, advogado e professor de Direito Constitucional, destaca que as privatizações podem se acelerar nos próximos anos das atuais gestões federal e estaduais. Isso porque o Supremo Tribunal Federal (STF) realizou julgamento de grande importância no início de junho, que deve diminuir as exigências e controle para vendas de empresas estatais, especialmente as chamadas subsidiárias (que respondem por operações e serviços mais específicos da companhia principal, as chamadas holding).

O governo federal tem, segundo o Ministério da Economia, 134 estatais, das quais 88 são subsidiárias. O advogado destaca, nesse sentido, ser bastante difícil de se separar até onde vai a holding e onde começam as subsidiárias – ou como a companhia principal pode sobreviver abrindo mão de seus braços e operações secundárias em geral.

Na opinião de Antunes, a decisão, embora ainda não tenha sido finalizada e publicada em acórdão definitivo por parte do Supremo, já produziu alguns efeitos práticos e nocivos para o interesse público. “Um deles foi a venda da TAG da Petrobras, que se deu imediatamente após o julgamento”, cita.

O jurista se refere à venda de uma das subsidiárias mais importantes da Petrobras, a Transportadora Associada de Gás S.A, que detém mais de 4,5 mil quilômetros de gasodutos, localizados principalmente nas regiões Norte e Nordeste. O transporte de gás é considerado questão estratégica e de soberania nacional no mundo todo. No Brasil, o repasse da TAG para o controle de grupos da França e Canadá movimentou expressivos 8,6 bilhões de dólares – ou mais de 34 bilhões de reais à cotação de hoje da moeda estadunidense.

Com a venda da empresa, a Petrobras passará a pagar pelo uso dos gasodutos que anteriormente lhe pertenciam. A tendência é que, com alguns anos de uso, a companhia pagará aos novos controladores da TAG um valor equivalente ou superior ao recebido com a venda – situação semelhante à vivenciada pela Petrobras com a privatização da Nova Transportadora do Sudeste (NTS).

Além da Petrobras, os governos estaduais já se apressaram após a decisão para acelerar seus programas de privatizações, alegadamente a fim de diminuir os déficits públicos e focar nas atividades principais do Estado – como Saúde, Educação e Segurança. Uma história que o país já assistiu em décadas passadas e que não resolveu nem as questões das contas públicas e muito menos dos serviços prestados pelo governo.

Concessões unilaterais

Na avaliação de Batista Júnior, o atual governo adota medidas que não obedecem a um projeto nacional, com acordos comerciais que levam a uma perda adicional da soberania do país, muitas vezes expressando concessões unilaterais por parte do Brasil. “A integração desse governo se dá sob o signo de uma integração subordinada”, explica o economista.

Ao analisar o recente acordo firmado entre União Europeia e Mercosul, ele explica tratar-se um acordo muito vasto e complexo. Segundo ele, apenas com base nos contornos gerais já divulgados, não se tem noção do tamanho dos problemas que poderão ser trazidos, além de ser fundamental que o Congresso Nacional receba do Executivo todas as informações envolvidas.

O economista avalia se tratar de um tipo de acordo no modelo tentado com a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), que não vingou, quando proposta na década de 1990 pelos Estados Unidos, como projeto para todos os países da região.

Nesse tipo de acordo, os governos em geral (especialmente os mais subordinados) amarram suas políticas internas a fim de obterem concessões bastante limitadas no campo comercial.

“O acordo entre Mercosul e União Europeia aprovado no final de junho não é diferente na sua essência. Ele cria muitos riscos. E não pode ser considerado um acordo de livre comércio”, acrescenta o economista, destacando que muitas áreas importantes do comércio entre os blocos não foram liberalizadas pelo acordo. Além disso, ele alerta, que para entrar em vigor, o acordo precisará da aprovação dos parlamentos do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, os quatro membros fundadores do Mercosul.

Terceirização e cachorro quente

Ao lado dos altos índices de desemprego e de desalento, da subutilização e da informalidade, as questões envolvendo a precarização e terceirização dos empregos tendem igualmente a marcar a gestão de Bolsonaro.

Para o coordenador do Dieese, a Lei da Terceirização (13.429/2017) ainda vai trazer muitos impactos nesse sentido. A terceirização das atividades-fim e a implementação das medidas previstas na reforma trabalhista tendem a trazer uma desestruturação dos direitos em geral, aproximando o trabalhador informal do contratado. Algo que deve ser agravado com a eventual adoção posterior da chamada Carteira de Trabalho Verde e Amarela.

“O trabalho não é uma questão prioritária para o atual governo. Tanto que acabou com o Ministério do Trabalho”, acrescenta o analista.

Fausto Augusto Júnior explica que, algumas décadas atrás, a informalidade era dada como uma característica inata da economia brasileira, e que depois o desemprego e a informalidade passaram a ser considerados como formas de se controlar a inflação. Nos governos de Lula e Dilma, foi feita uma aposta no sentido de se incentivar a formalização, inclusive como mecanismo de financiamento e melhoria das contas da Previdência Social.

O momento atual, contudo, é de aumento da informalidade, no Brasil e no mundo. Ao ser perguntado se as barraquinhas de cachorro quente, na década de 1990, estavam para a informalidade, assim como os carros de Uber estão para o atual período enfrentado pelos trabalhadores brasileiros, ele destaca que, no caso do cachorro quente, o trabalhador normalmente era dono de sua força de trabalho e dos seus meios de produção. “Hoje, ele paga royalties do seu trabalho para a empresa, é ela que define as tarifas, que faz a mediação com o cliente etc”, compara.

O coordenador do Dieese aponta haver uma mudança muito grande do ponto de vista tecnológico por trás de todas essas alterações relativas à informalidade. “O Uber é a informalidade padrão classe média. Não é o menino vendendo bala no trem”.

Para ele, as crescentes dificuldades impostas pelo governo ao financiamento das entidades de representação dos trabalhadores, assim como a busca por tornar as normas de segurança do trabalho mais brandas, afirmam-se como questões de grande importância na atual conjuntura.

“As normas de segurança existentes no país foram todas negociadas e redigidas de forma tripartite, envolvendo trabalhadores, empresas e governo”, explica. O coordenador de Educação do Dieese considera que “a visão de que essas normas atrapalham, que não deveriam existir, é defendida por um grupo de visão muito atrasada”. Para Fausto, essa visão “tacanha” representa um Brasil atrasado, e o ataque à segurança e direitos dos trabalhadores pode gerar inclusive barreiras ao comércio mundial do país.

O representante do Dieese destaca que o capitalismo busca produzir (e reproduzir a riqueza) onde isso custa menos para ele. E que as normas de segurança regulamentam isso. “Não é possível que as pessoas continuem perdendo pedaços do corpo, [sofrendo] mutilações, soterramentos, quedas, morrendo em seu ambiente de trabalho, e ainda se alegue que as normas são muito rígidas e prejudiciais aos empresários. “Sem controle do Estado e fiscalização da sociedade, o que a gente acompanha, muitas vezes, é o retrato da barbárie. E não estamos falando de empresas pequenininhas, estamos falando de multinacionais, de grandes empresas”, denuncia.

Balança pró-capital

O coordenador de Educação do Dieese ressalta, por fim, que a Política de Valorização do Salário Mínimo consolidou-se como a principal política de distribuição de renda no país nos governos liderados pelo Partido dos Trabalhadores (PT) – mais até que o Bolsa Família, que trata ainda de outras questões de enorme importância em sua concepção, para além da distribuição de renda. “A valorização do salário mínimo altera de forma substancial as condições de vida das famílias dos trabalhadores”, e de forma escalonada, não repentina e concentrada em um único momento, explica Fausto.

“Desde o governo Temer, a política praticamente não existe mais, e o governo Bolsonaro anunciou que pretende acabar de vez com ela”. Com a chegada ao poder de Michel Temer, a medida foi alterada e os aumentos do salário mínimo passaram a somente repor a inflação, sem considerar também a questão do crescimento do PIB. “Sem a política de valorização, a tendência é o salário mínimo se desvalorizar”, lamenta.

A balança da distribuição de renda entre capital e trabalho pendeu para os trabalhadores nos governos de Lula e Dilma, especialmente no de Lula. Foram governos em que os bancos e o setor privado também ganharam muito dinheiro, mas em que houve políticas que buscaram efeitos distributivos. Atualmente, a balança da distribuição de renda volta a pender para o grande capital e para os setores mais ricos da sociedade.

Em sua opinião, algo sem futuro. “Não existe mágica. As pessoas precisam ganhar dinheiro, comprar produtos e serviços das empresas. Valorizar o trabalho é valorizar o consumo. Infelizmente, essa não é a visão do ministro Guedes”, finaliza.

Edição: Rodrigo Chagas e Cecília Figueiredo

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LULA: “A GLOBO SE APODEROU DA LAVA JATO E FEZ UM PACTO COM MORO E DALLAGNOL”

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LULA: “A GLOBO SE APODEROU DA LAVA JATO E FEZ UM PACTO COM MORO E DALLAGNOL”

Entrevista com o ex-presidente Lula foi realizada na Polícia Federal, em Curitiba / Guilherme Santos/Sul 21

Marco Weissheimer – Sul 21 – Confira a entrevista completa do ex-presidente ao Sul 21; Lula sugeriu que o ministro da Justiça pedisse afastamento

Preso há mais de um ano e quatro meses nas dependências da Superintendência da Policia Federal, em Curitiba, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva procura manter-se atualizado sobre a conjuntura política do país e do mundo por meio dos canais que são a ele autorizados. Sem acesso a internet, pode acessar canais de TV aberta e receber informações por meio de arquivos em pen drives, papeis impressos ou relatos de seus advogados, assessores, amigos e companheiros de partido. Com essas limitações e a privação de liberdade, a leitura e as conversas tornaram-se algumas de suas práticas mais cultivadas.

Na manhã desta quarta-feira (3), Lula recebeu o Sul21 para uma entrevista exclusiva. O ex-presidente chegou escoltado por um agente da Polícia Federal à sala reservada para as entrevistas no prédio da Polícia Federal. O protocolo do encontro previa apenas um cumprimento rápido do entrevistado com os entrevistadores. A conversa iniciou logo e se estendeu por cerca de uma hora e quarenta e cinco minutos. No início da entrevista, Lula estava mais interessado em falar sobre os fatos políticos mais recentes da vida política nacional, em especial o caso da Vaza Jato, com a revelação de mensagens envolvendo o ministro Sérgio Moro e procuradores da Lava Jato. Publicamos a seguir a primeira parte dessa conversa, onde Lula também fala sobre aquilo que considera sérias ameaças à soberania que pairam sobre o país. Nos próximos dias, publicaremos o conteúdo completo dessa conversa.

Veja entrevista completa AQUI:

https://www.facebook.com/Lula/videos/2460678974155346/

 

PREVIDÊNCIA DE BOLSONARO COLOCARÁ A MAIORIA NA MISÉRIA ABSOLUTA

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PREVIDÊNCIA DE BOLSONARO COLOCARÁ A MAIORIA NA MISÉRIA ABSOLUTA

Um ponto adicional da previdência privada: ao contrário do que se pensa, nem todo o valor investido poderá ser resgatado

Carta Capital – GUILHERME BOULOS – Apresentada há poucas semanas, a proposta de Reforma da Previdência de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes consegue ser pior do que a de Michel Temer. Aumenta para 40 anos a contribuição para que se possa receber aposentadoria integral, corta os benefícios por invalidez e pensões por morte e diminui para menos da metade de um salário mínimo o valor pago a idosos pobres.

Entretanto, o ataque a longo prazo mais profundo é o que prevê a transferência do regime previdenciário para a capitalização. Ao contrário do sistema de solidariedade entre gerações que vigora hoje no Brasil, na capitalização é a poupança individual de cada trabalhador que custeia no fim da vida a sua própria aposentadoria.

Esse é o centro da reforma. A proposta é tornar as condições de aposentadoria pelo INSS tão difíceis e desvantajosas que levem os trabalhadores com melhor condição de renda e estabilidade no emprego a migrar para a previdência privada.

Os que não tiverem essa escolha – a maioria esmagadora – serão relegados a receber benefícios assistenciais desvinculados do salário mínimo, ou seja, condenados a viver sem nenhuma dignidade ou a trabalhar até morrer para ter alguma. Na prática, o que se pretende é o fim da Previdência pública, já que com a redução drástica das contribuições do empregador e das empresas, decorrentes da tendência à capitalização individual, o INSS pode tornar-se – aí sim! – insolvente.

Nos anos 1980, o ditador Augusto Pinochet transformou em capitalização o regime previdenciário do Chile. Na época, seu governo, assessorado por um time de economistas liberais de Chicago, vendeu a ideia de que a solução para a crise fiscal do Estado e para ativar a economia era acabar com a Previdência pública. Um desses Chicago Boys era ninguém menos que o atual ministro da Economia de Bolsonaro, Paulo Guedes, que trabalhou no Chile a convite do grupo político do ditador. Guedes já disse que o fato de colaborar com uma ditadura com mais de 40 mil executados, desaparecidos e torturados era “irrelevante do ponto de vista intelectual”.

FOTO: CARL DE SOUZA/AFP

Quatro décadas depois, o preço da reforma chilena é devastador. Oito de cada dez aposentados pelo novo sistema recebem menos de um salário mínimo de pensão e 44% deles estão abaixo da linha da pobreza. Semelhante à proposta de Bolsonaro e Guedes, a previdência chilena isenta o Estado e os empregadores e é exclusivamente custeada pelos próprios trabalhadores.

O montante arrecadado é gerido por entidades bilionárias chamadas de AFP (administradoras de fundos de pensão). Apenas cinco delas administram cerca de 70% do PIB do país e faturam 5 milhões de reais diariamente em comissões mensais obrigatórias e pouquíssimo transparentes dos segurados. Este é um ponto adicional da previdência privada: ao contrário do que se pensa, nem todo o valor investido poderá ser resgatado, pois os fundos cobram “taxas de administração”.

Enquanto as empresas lucram, uma legião de idosos aposentados e miseráveis vai se formando, incapaz de bancar sequer seus remédios e gastos mínimos, passando a depender de familiares que trabalham para complementar suas rendas. Não por acaso, o Chile lidera o índice de suicídios entre idosos com mais de 80 anos na América Latina, de acordo com o Instituto Nacional de Estatísticas do país.

Ligadas a grandes grupos financeiros internacionais, as AFP têm um poder de barganha imenso, financiando candidaturas e cooptando grande parte do sistema político, empresarial e até sindical. As exigências de transparência e regulação estão na contramão do interesse de grandes empresas e bancos em garantir o retorno financeiro de seus investimentos. A conta sobra para a massa de trabalhadores que compram o sonho de se aposentar com seu próprio esforço, mas acabam recebendo um valor muito aquém do necessário para sobreviver dignamente.

No Chile, isso gerou uma série de manifestações populares organizadas pelo “No+AFP”, um grupo da sociedade civil que luta por reverter a desastrosa reforma da previdência de Pinochet. Milhares de cidadãos estiveram nas ruas nos últimos anos, exigindo o fim da capitalização e um sistema de pensões “solidário” e “administrado pelo Estado”. Em outras palavras, pedem para retomar por lá justamente o que a proposta de Bolsonaro propõe acabar por aqui.

O que está em jogo é qual sociedade queremos para o futuro: se baseada no princípio da solidariedade, assegurando vida digna para seus idosos a partir de um sistema público, ou baseada no “cada um por si”, onde terão direito ao merecido descanso apenas aqueles que tiverem condições de arcar com uma previdência privada, gerida por grandes bancos.

Os demais ou morrerão trabalhando ou envelhecerão na miséria. Essa escolha será tomada nos próximos meses. Ainda há tempo de interferir nela.

 

SENADORA FÃ DOS BOLSONARO TEM CONDENAÇÃO POR IMPROBIDADE

SENADORA FÃ DOS BOLSONARO TEM CONDENAÇÃO POR IMPROBIDADE

Carta Capital – André Barrocal – Michelle Bolsonaro foi ao Senado no fim de abril para um anúncio do governo de que o SUS vai distribuir de graça um remédio que trata uma doença muscular rara, degenerativa e incurável, a AME. Chance de ouro para Mailza Gomes. A novata senadora pelo PP do Acre aproveitou para falar com Michelle sobre sequelas pós-vacinação contra HPV, caso comum com meninas no Acre, e para tirar fotos com a primeira-dama.

Além de tiete de Michelle, a evangélica senadora é fã do esposo dela. Quatro dias antes, era só elogios ao ex-capitão em um site acriano de notícias. “O presidente Bolsonaro está no caminho certo, está cumprindo suas promessas de campanha. Ele é muito verdadeiro em suas palavras e ações, está colocando o Brasil nos trilhos com muita capacidade. Ele é a nossa esperança.”

Na eleição para o comando do Senado, Mailza votou em Davi Alcolumbre (DEM-AP), eleito como nome da “nova política”, aquela defendida por Bolsonaro. Era assim que o chefe da Casa Civil de Bolsonaro, Onix Lorenzoni, primeira autoridade visitada pela senadora este ano, em 3 de janeiro, tachava a disputa entre Alcolumbre e Renan Calheiros (MDB-AL): o “novo” contra o “velho”.

MAILZA COM ONIX LORENZONI (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Curioso: a senadora bolsonarista tem um currículo de “político velho”. É uma condenada no Judiciário por coisas feitas em um cargo público com verba pública. Um caso levado por Mailza há exato um ano ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e que até hoje não teve qualquer providência por parte do relator do caso na corte, o juiz Benedito Gonçalves.

Em 2008, o marido de Mailza, James Pereira da Silva, elegeu-se prefeito de Senador Guiomard, cidade de 22 mil habitantes no Acre. O casal era do PSDB. Ao assumir o cargo, em janeiro de 2009, James contratou sem licitação uma empresa, a MS Serviços, para limpar ruas e prédios. E fez isso com a ajuda Mailza, a quem tinha nomeado secretaria de Administração, nepotismo clássico.

As perguntas do Ministério Público

A MS recebeu 275 mil reais em janeiro e fevereiro. Em março de 2009, o Ministério Público estadual abriu uma investigação. Com base em quê a empresa tinha sido contratada, e sem licitação? Por que a Secretaria de Administração, Mailza à frente, havia indicado pessoas que a MS deveria empregar nos serviços à prefeitura? E empregar algumas em funções apontadas pela Secretaria que não tinham a ver com limpeza, como advogado e técnico em contabilidade?

Concluída a investigação inicial, o MP acusou James e Mailza de improbidade. Segundo a denúncia à Justiça, graças ao casal, houve gasto de verba pública sem autorização legal, liberação de grana sem obediência a certos procedimentos administrativos e enriquecimento ilícito. Enriquecimento ilícito, no caso, de pessoas pagas pela MS por indicação da prefeitura. Seriam pessoas que haviam trabalhado na campanha de James com a promessa de receber depois? Costuma ocorrer na política.

Durante o processo, a defesa de James e Mailza apresentou à Justiça um documento que seria a salvação do casal. Um decreto emergencial que declarou estado de calamidade na cidade, com data de 2 de janeiro de 2009 e a assinatura do prefeito. Em caso de emergência ou calamidade, um ente público pode contratar fornecedores sem licitação.

O decreto apareceu no processo em 28 de agosto de 2009. Não havia sido mostrado ao MP ao longo da apuração que antecedeu a denúncia da promotoria à Justiça. Jamais foi publicado no Diário Oficial municipal. E tinha a numeração 001-A, ou seja, figurava entre o 01 e o 02. Indícios de ter sido inventado às pressas, para socorrer os acusados.

Ainda que o decreto existisse em janeiro de 2009, diz o MP, a prefeitura deveria ter editado um outro ato a anunciar a dispensa de licitação para contratar fornecedores nos 180 dias seguintes. Uma exigência legal que ajuda a dar publicidade aos atos dos governantes para a sociedade e os órgãos de controle ficarem de olho.

O fato de a MS ter vencido um pregão realizado pela prefeitura em fevereiro de 2009 reforçou a suspeita do Ministério Público de que havia ilegalidades. Do pregão, nasceu um contrato de 1,7 milhão de reais do município com a empresa.

Casal condenado por improbidade administrativa

O juiz de primeira instância aceitou praticamente todas as acusações do MP e condenou o casal por improbidade administrativa. James foi sentenciado à perda da função pública, à perda dos direitos políticos por cinco anos, ao pagamento de multa e ao ressarcimento de danos ao erário. Mailza teve a mesma punição, só com um ano a menos de perda dos direitos políticos.

Os dois apelaram ao Tribunal de Justiça do Acre e não adiantou. Em novembro de 2016, foram condenados unanimemente por três juízes. Com uma diferença: o TJ não viu licitação dirigida no contrato de 1,7 milhão com a MS, daí ter reduzido parte da pena, aquela que suspendia os direitos políticos do casal. Ficaram três anos para James e dois para Mailza.

A dupla entrou com recursos no TJ, também não adiantou, e aí resolveu tentar absolvição na terceira instância, em Brasília. A ação deu entrada no STJ em 2 de maio de 2018. A única coisa nova que ocorreu no caso até hoje foi uma manifestação do Ministério Público Federal perante a corte, em setembro de 2018. E só.

Uma decisão do STJ ameaça o mandato de Mailza, que vence em 2022. A senadora foi diplomada no cargo em dezembro do ano passado. Era suplente de Gladson Cameli, mas ele se elegeu governador do Acre e renunciou à cadeira no Congresso.

Os dois têm uma relação próxima. Mailza é quem tem tentado abrir portas no governo federal para Cameli tentar obter dinheiro e boa vontade federal. Recentemente, ela procurou o presidente do BNDES, Joaquim Levy, para que ele ouvisse pleitos do governo do Acre.

Cameli não pode contar com o próprio taco para arranjar boa vontade federal. Sobretudo no Palácio do Planalto.

O governador é do PP, para o qual em 2015 arrastou Mailza, na época tucana. Bolsonaro era do partido e naquele ano começou a construir o sonho presidencial. Deixou o PP em 2015 mesmo pois a legenda não queria apostar na candidatura dele. Cameli chegou a defender que o então deputado fosse expulso, motivo de mágoa do ex-capitão desde então.

Outra mostra da proximidade entre Mailza e Cameli é o marido da senadora. James é funcionário da Casa Civil do governador. Foi nomeado diretor na pasta em janeiro, nove dias depois da posse do governador. Com um detalhe: passa mais tempo com a esposa em Brasília do que no Acre.

James é uma figuraça. Apesar do rolo da MS Serviços, reelegeu-se prefeito de Senador Guiomard pelo PSDB em 2012. Mas não durou um ano no segundo mandato. Em setembro de 2013, foi cassado em primeira e segunda instância sob a acusação de compra de votos.

E Mailza, terminará o mandato no Senado?

LAVA JATO AGIU CONTRA LULA PARA EVITAR VOLTA DO PT AO PODER 

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LAVA JATO AGIU CONTRA LULA PARA EVITAR VOLTA DO PT AO PODER 

Uol – Rio de Janeiro, 10 Jun 2019 (AFP) – Procuradores brasileiros agiram deliberadamente e, em alguns momentos, coordenadamente com o então juiz federal e atual ministro da Justiça Sergio Moro para prejudicar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso por corrupção, e impedir que a esquerda voltasse ao poder, segundo mensagens hackeadas reveladas neste domingo pelo The Intercept Brasil.

O portal afirma que este é “apenas o início” de uma série de revelações baseadas em informações entregues por uma “fonte anônima” que demonstrariam que os principais responsáveis pela Operação Lava Jato atuaram por motivação política em diversas ocasiões.

A mais recente aconteceu em outubro passado, quando os promotores atuaram para impedir que Lula, preso desde abril de 2018, fosse entrevistado por medo de que pudesse beneficiar seu afilhado político, Fernando Haddad, nas eleições presidenciais, vencidas finalmente por Jair Bolsonaro.

Outras mensagens mostram que o principal procurador da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, estava preocupado com a solidez das acusações apresentadas contra Lula para condená-lo como beneficiário do tríplex no Guarujá, que lhe teria sido entregue pela empreiteira OAS em troca de contratos com a Petrobras.

Dallagnol, que considera Lula o “cérebro” de uma organização criminosa para se manter no poder, mostra depois satisfação com a publicação de artigos na imprensa que mencionavam um possível vínculo do ex-presidente com o apartamento, situado no litoral de São Paulo.

Lula, que cumpre por este caso pena de 8 anos e 10 meses de prisão, sempre se declarou inocente e denunciou uma “perseguição judicial” para impedir a volta de seu partido, o PT, ao poder.

A força-tarefa da Lava Jato no Ministério Público Federal (MPF) admitiu em um comunicado que seus integrantes foram vitimas da ação criminosa de um hacker, mas informou ter tranquilidade com relação à legalidade e à forma imparcial de suas investigações.

A publicação das mensagens hackeadas é “tendenciosa e tem a intenção de atacar a Operação, mas os “procuradores da Lava Jato não vão se dobrar à invasão imoral e ilegal, à extorsão ou à tentativa de expor e deturpar suas vidas pessoais e profissionais”, acrescentaram.

O ministro Sergio Moro considerou, por sua vez, que nas mensagens que o citam “não se vislumbra qualquer anormalidade ou direcionamento da atuação enquanto magistrado, apesar de terem sido retiradas de contexto e do sensacionalismo das matérias”.

Fernando Haddad exigiu uma investigação profunda sobre as revelações.

“Podemos estar diante do maior escândalo institucional da história da República. Muitos seriam presos, processos teriam que ser anulados e uma grande farsa seria revelada ao mundo”, escreveu no Twitter o candidato derrotado no segundo turno de 2018 por Bolsonaro.

A Operação Lava Jato, iniciada em 2014, condenou ou levou ao banco dos réus centenas de políticos e empresários envolvidos em uma rede de corrupção concentrada na Petrobras.

A operação aumentou o desprestígio do sistema político, abrindo um espaço ocupado por Bolsonaro com um discurso antissistema.
Após a vitória eleitoral, Bolsonaro designou Moro como ministro da Justiça e Segurança Pública.

O The Intercept anunciou que estas revelações são “o primeiro resultado de uma grande investigação em andamento” sobre as provas da operação Lava Jato e sobre os atos de Moro quando era juiz federal e sobre o procurador Dallagnol.

O portal tem entre seus fundadores o jornalista Glenn Greenwald, que em 2013 revelou os vazamentos obtidos pelo analista Edward Snowden sobre os programas de vigilância maciça implementados pelos serviços secretos americanos da NSA.

IMAGEM DA PAULISTA REPLETA DE MANIFESTANTES NÃO É DE ATO GOVERNISTA DO DIA 30

AOS FATOS – Não foi registrada nos protestos pró-governo no último domingo (30) a imagem que circula nas redes sociais da avenida Paulista repleta de manifestantes em toda a sua extensão (veja aqui). A foto é, na verdade, de uma manifestação de março de 2016.

Não foi registrada nos protestos pró-governo no último domingo (30) a imagem que circula nas redes sociais da avenida Paulista repleta de manifestantes em toda a sua extensão (veja aqui). A foto é, na verdade, de uma manifestação de março de 2016 que pedia o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).

Denunciadas por usuários do Facebook, as publicações que distorcem o contexto da foto com informações enganosas já acumulam cerca de 1.000 compartilhamentos até a tarde desta segunda-feira (1º). Todas foram marcadas por Aos Fatos com o selo FALSO na ferramenta de verificação da rede social (entenda como funciona).


FALSO

A foto que circula nas redes sociais que mostra a avenida Paulista totalmente ocupada por manifestantes não foi registrada durante os protestos pró-governo do último domingo (30). A imagem, que na verdade é de uma manifestação em março de 2016 pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), tem sido publicada no Facebook para sugerir uma ampla adesão ao ato pró-governo que ocorreu no mesmo local no domingo.

A mesma foto também já apareceu nas redes sociais como se fosse de uma manifestação a favor de Bolsonaro no dia 21 de outubro de 2018. Na época, Aos Fatos verificou que ela surgiu em uma publicação do site Sensacionalista de 13 de março de 2016, mas não foi possível identificar a autoria da imagem.

Os protestos do último domingo (30) aconteceram em ao menos 70 cidades de todo o Brasil. O UOL reuniu em galeria diversas fotos dos eventos.

Referências:

1. Aos Fatos
2. Folha de S.Paulo
3. UOL