Desde saída de cubanos, 3 milhões perderam assistência por falta de médicos

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A enfermeira Louise Caroline faz atendimentos de pré-natal e pressão alta em posto sem médicos em Campo Alegre (AL) Imagem: Beto Macário/UOL

Noticias Uol – Na manhã da sexta-feira (5), o agricultor Messias Calado, 27, procurou a unidade de saúde da família na comunidade Novo Mundo, em Campo Alegre (a 95 km de Maceió), em busca de um médico. “Eu adoeci com o veneno que coloco na plantação. Estou com febre e enjoo”, disse o paciente, que acabou sendo atendido por uma enfermeira. O motivo? O posto está sem médico.

A unidade e outras quatro no município estão sem médico porque a prefeitura não consegue contratar profissionais. Ao todo, há 19 unidades na cidade.

Nos últimos seis meses, a cobertura do programa Estratégia de Saúde da Família (ESF) vem caindo. Segundo dados do Ministério da Saúde, 3 milhões de pessoas deixaram de contar com assistência entre novembro passado e maio deste ano.

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Messias Calado, sua mulher, Benedita, e os filhos de dois e quatro anos procuraram o posto e não encontraram médico em Campo Alegre Imagem: Beto Macário/UOL

porque parte dos profissionais não estão assumindo as vagas em aberto.

‘Como vou fazer se não tem médico?’

Na comunidade Novo Mundo, a falta de médico causa inúmeros transtornos. “Eu mesma já tive que ir no hospital umas cinco vezes porque aqui não tem médico. Na última vez, disseram que era serviço de posto. Mas como vou fazer se não tem médico?”, questiona Floraci dos Santos, 59, que é hipertensa e trata de osteoporose e colesterol alto.

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Floraci Francisco dos Santos tem hipertensão, osteoporose e colesterol alto e pena para conseguir suas receitas Imagem: Beto Macário/UOL

Seu principal problema é a falta de receita para pegar o remédio controlado para dormir. “Era para eu tomar um por dia, mas tenho poucos, então estou trocando por um chá”, afirma.

Sem médico, a enfermeira Louise Caroline acaba fazendo sozinha atendimentos como pré-natal e casos de hipertensão e diabetes. “Respeito o limite da profissão, mas mesmo assim estou com uma produção bem maior do que o normal, sobrecarregada porque não tem médico. O que posso, resolvo; o que não dá, encaminho ao hospital”, conta, citando que realiza de 300 a 400 atendimentos por mês na unidade.

A secretária da Saúde da cidade, Tamiris dos Santos, afirma que na época dos cubanos conseguia manter todas as equipes da Estratégia de Saúde da Família funcionando e com toda a rede de profissionais (médico, enfermeiro, dentista, agente de saúde e auxiliar de enfermagem).

Ela afirma que muitos profissionais se inscrevem, mas não aparecem para trabalhar. “Fomos contemplados nesse último edital do Mais Médicos para preencher três vagas, mas os profissionais não se apresentaram”, diz.

Na cidade, um médico ganha R$ 13.620 por quatro dias de trabalho ou R$ 15 mil por quatro dias, um deles com jornada estendida até as 19h, ou cinco dias trabalhados.

“Pagamos um salário considerável e compatível com a região, com vencimentos em dia. Mas exigimos o cumprimento de carga horária e metas, o que talvez seja um dos motivos pelos quais muitos não tenham interesse e aceitem a proposta de outro lugares que pagam mais e cobram menos dias”, afirma.

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Unidade de saúde de Campo Alegre, em Alagoas, está sem médico Imagem: Beto Macário/UOL

“Nós temos hoje toda estrutura, remédios. Nosso único problema é não ter médicos”, diz a coordenadora da Atenção Básica de Saúde de Campo Alegre, Renata Braga.

Os médicos cubanos deixaram o Brasil em novembro de 2018, após decisão do governo da ilha caribenha de romper o contrato por conta de declarações de Jair Bolsonaro de que não iria pagar mais valores a Cuba.

Nem mesmo os editais recém-lançados pelo programa Mais Médicos têm conseguido suprir a carência na região,

Baixos repasses e mais dificuldades pelo país

Se para uma cidade perto da capital e com boa estrutura já existe dificuldade, para locais mais remotos, a missão de achar médicos é ainda mais complicada.

No Amazonas, por exemplo, as prefeituras pagam valores mais altos para conseguir profissionais. “Estamos com muita dificuldade na contratação e fixação de médicos. Pagamos até R$ 20 mil líquidos para clínico para não deixar a população totalmente desassistida”, diz o presidente do Cosems (Conselho de Secretários Municipais de Saúde) do estado, Januário Carneiro Neto.

Outro problema citado é o baixo repasse federal aos municípios, que não cobrem nem 30% dos gastos com as equipes. “Uma equipe de saúde da família, no meu município, custa 34,5 mil, sendo R$ 26 mil só do médico. O ministério custeia R$ 10.695, e o Estado não arca com nada. Se formos nesse caminho, iremos à falência”, diz.

A situação é parecida em Pernambuco, onde também há carências. “Com a saída dos médicos cubanos, temos grandes dificuldades em preencher as vagas nas cidades do interior com médicos brasileiros, principalmente em regiões remotas”, diz Orlando Lima, presidente do Consems do estado.

“Nós, presidentes dos Cosems e diretores do Conasems [Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde], estamos pressionando o ministério a resolver definitivamente a situação dos médicos cubanos que permaneceram no Brasil, até que possam realizar o Revalida e permanecerem definitivamente no país”, completa Lima.

O presidente do Cosems do Pará, Charles Tocantins, diz que muitas cidades têm dificuldade em contar com um profissional por causa de questões ligadas ao Mais Médicos. “A maioria dos profissionais preferem ficar vinculados como bolsista do governo federal, e aí tem uma burocracia, um tempo longo e uma dificuldade para fixar. O ministério tem feito seguidos editais, mas é um processo burocrático e muitos municípios ficam sem médicos.”

“Aqui estamos com vários municípios aguardando notícias do ministério”, reforça Leopoldina Feitosa, do Cosems do Piauí.

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Município de Campo Alegre está sem médico desde que os cubanos do programa federal Mais Médicos deixaram a cidade Imagem: Beto Macário/UOL

O que diz o Ministério da Saúde

Em nota enviada ao UOL, o Ministério da Saúde informou que “vem mantendo a reposição dos profissionais no programa Mais Médicos apenas em cidades mais vulneráveis, em geral pequenas, além dos distritos sanitários indígenas”.

“Atualmente, está em andamento um novo edital que prioriza o atendimento para esses municípios com os mais altos índices de vulnerabilidade do país, que avaliaram as necessidades locais de reforçar o atendimento na Atenção Primária. Até o momento, 1.481 novos profissionais

brasileiros já começaram a atuar nas unidades de saúde”, diz.

A pasta ainda afirma que, para atender municípios sem médicos, o ministério publicou uma portaria, no início de abril, estendendo para seis meses o prazo de pagamento da verba de custeio repassada às unidades de saúde da família que perderam profissionais do Mais Médicos. “A regra anterior cortava o repasse para o posto se ele ficasse sem médico por mais de dois meses”, afirma.

Por fim, o ministério disse que “trabalha na elaboração de um novo programa para ampliar a assistência na Atenção Primária”.

Sobre recursos, o Ministério da Saúde explica que iniciou, neste mês, o credenciamento de mais 9.987 equipes e serviços de atenção primária em 1.213 municípios. “Para expandir a cobertura da Estratégia Saúde da Família, o investimento será de R$ 233,7 milhões neste ano e de quase R$ 400 milhões a partir de 2020”, afirma a pasta.

Números do programa Estratégia de Saúde da Família

Outubro de 2018

  • 43.735 equipes
  • 135.251.320 pessoas atendidas

Maio de 2019

  • 42.719 equipes
  • 132.305.093 pessoas atendidas

RÁDIO MAIS ANTIGA DO BRASIL SERÁ EXTINTA POR BOLSONARO

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RÁDIO MAIS ANTIGA DO BRASIL SERÁ EXTINTA POR BOLSONARO

FNDC – Escrito por: Coordenação Executiva – A extinção da emissora é arbitrária, antidemocrática e fere a diversidade e a pluralidade previstas na Constituição Federal.

O governo de Jair Bolsonaro planeja extinguir a Rádio MEC AM, do Rio de Janeiro, emissora mais antiga do país, e que atualmente compõe o sistema de radiodifusão da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). A informação foi dada na semana passada pelo jornalista Lauro Jardim, colunista do diário O Globo. Segundo ele, a emissora fica no ar até o próximo dia 31 de julho, quando deverá ser desligada. Embora não tenha havido ainda um anúncio oficial da extinção, trabalhadores da emissora já estão sendo informados da decisão, que se configura no mais recente e grave ataque do atual governo contra a comunicação pública e o patrimônio histórico e cultural do país.

A MEC é a primeira rádio do Brasil, no ar desde 1923. Sua história de pioneirismo começou como Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, criada pelo antropólogo Edgard Roquette-Pinto, considerado o pai da radiodifusão nacional. Com cerca de 50 mil registros e produções, a emissora possui um patrimônio de gravações de depoimentos que vão de Getúlio Vargas a Monteiro Lobato, passando por crônicas de Cecília Meireles e Manuel Bandeira.

A programação é totalmente voltada para a difusão da cultura brasileira. Contempla toda a diversidade da música nacional, de gêneros como o choro, a música regional, a música instrumental e de concerto. Tem ainda programas dedicados a literatura, cinema, dramaturgia e as artes como um todo. A Rádio MEC AM preenche, portanto, uma demanda de programação de qualidade que não é oferecida, nem de longe, pelas emissoras comerciais. Por causa disso, possui um público fiel e entusiasta de ouvintes. A extinção da emissora atenta gravemente contra o direito à comunicação da população brasileira, e carioca, em particular, de poder contar com alternativas de programação no rádio que tenham relevância cultural e artística. Ao mesmo tempo, é uma decisão que agride o segmento artístico e cultural do país, ao encerrar um espaço importantíssimo de projeção desse patrimônio brasileiro, sem contar o próprio ataque à memória, já que a história dessa emissora fala por si e justifica não apenas sua existência, mas a necessidade de sua preservação e promoção.

O Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) repudia com veemência a eventual extinção da Rádio MEC AM, por considerar que isso prejudicará a diversidade e pluralidade que devem guiar o sistema de mídia no Brasil, além de ser uma decisão arbitrária e antidemocrática, mais um capítulo do desmonte da EBC e da comunicação pública. Não há justificativa plausível para essa decisão. O argumento de que é preciso “cortar custos” da EBC não encontra respaldo na realidade, já que a empresa fechou o ano de 2018 com lucro líquido de mais R$ 20 milhões. Além disso, a EBC, por lei, deveria contar com receita extraordinária de mais de R$ 2 bilhões, oriunda da Contribuição para Fomento da Radiodifusão Pública (CFRP), que são recursos arrecadados das empresas de telecomunicações para financiar a comunicação pública no país, como prevê a Lei 11.652/2007. Esses recursos, no entanto, têm sido usados pelo governo para fazer superávit primário, desvirtuando por completo sua destinação original prevista na legislação.

Além disso, é completamente irracional a decisão de eliminar um ativo que agrega audiência relevante e qualificada e ajuda a manter uma importante referência de comunicação pública na sociedade. Nesse sentido, reafirmamos nossa disposição em defesa da EBC e lutaremos para que a decisão de extinguir a rádio MEC AM seja revertida. A comunicação pública é um pilar democrático e atacá-la dessa forma é atacar a própria democracia. Não nos calaremos.

Brasília, 8 de julho de 2019.

DATAFOLHA: APOIO À PREVIDÊNCIA CRESCE; 47% SÃO A FAVOR DA REFORMA

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DATAFOLHA: APOIO À PREVIDÊNCIA CRESCE; 47% SÃO A FAVOR DA REFORMA

Pesquisa revela também divergência entre homens e mulheres no apoio à proposta de Jair Bolsonaro (PSL)

METRÓPOLES – TÁCIO LORRAN – tacio.lorran@metropoles.com –  O apoio à reforma da Previdência, proposta pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL), tem crescido, segundo pesquisa Datafolha divulgada nesta terça-feira (09/07/2019). O levantamento divulgado pelo jornal Folha de S. Paulo mostra também disparidade entre homens e mulheres que apoiam o projeto.

O número daqueles que se opõem às mudanças nas regras de aposentadoria caiu de 51% para 44% entre abril e julho de 2019. Por outro lado, a parcela dos que apoiam subiu de 41% para 47%. Entre a atual pesquisa e a última, realizada em abril, o parlamento apresentou novas propostas, alterando assim a propositura do governo Bolsonaro.

A mudança de opinião foi mais forte entre os eleitores de Jair Bolsonaro e de Fernando Haddad (PT). Os bolsonaristas favoráveis à reforma eram 55% em abril e agora são 67%. Entre aqueles que apoiavam o ex-candidato do PT, o número subiu de 22% para 25%. Já a rejeição foi de 72% para 67%. No grupo dos que não votaram em nenhum dos dois, a oposição é majoritária (61%).

O Datafolha mostra ainda que homens e mulheres são antagonistas em relação à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 06/2019. Ao mesmo tempo em que 57% dos homens são a favor da proposta e 38% contra, as mulheres se dividem em 39% a favor e 50% contra. A reforma significa um aperto proporcionalmente maior para elas, apesar das concessões.

A pesquisa foi realizada nos dias 4 e 5 de julho e ouviu 2.086 entrevistados com mais de 16 anos em 130 cidades do país. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou menos. O nível de confiança da pesquisa é de 95%.

Confira os resultados:

  • Contra: 44% (eram 51% em abril)
  • A favor: 47% (eram 41%)
  • Não sabe: 6% (eram 7%)
  • Indiferente: 3% (eram 2%)

Homens

  • A favor: 57% (eram 48%)
  • Contra: 38% (eram 45%)

Mulheres

  • A favor: 39% (eram 34%)
  • Contra: 50% (eram 56%)

Por faixa etária

16 a 24 anos

  • A favor: 41% (eram 37%)
  • Contra: 50% (eram 50%)

25 a 34 anos

  • A favor: 43% (eram 37%)
  • Contra: 50% (eram 56%)

35 a 44 anos

  • A favor: 44% (eram 41%)
  • Contra: 50% (eram 50%)

45 a 59 anos

  • A favor: 53% (eram 40%)
  • Contra: 38% (eram 52%)

60 anos ou mais

  • A favor: 54% (eram 48%)
  • Contra: 36% (eram 41%)

Escolaridade

Fundamental

  • A favor: 51% (eram 42%)
  • Contra: 39% (eram 47%)

Médio

  • A favor: 44% (eram 40%)
  • Contra: 47% (eram 52%)

Superior

  • A favor: 48% (eram 40%)
  • Contra: 48% (eram 54%)

Faixa de renda

Até 2 salários mínimos

  • A favor: 43% (eram 37%)
  • Contra: 47% (eram 53%)

Mais de 2 salários mínimos

  • A favor: 48% (eram 41%)
  • Contra: 46% (eram 51%)

Mais de 5 a 10 salários mínimos

  • A favor: 55% (eram 47%)
  • Contra: 40% (eram 46%)

Mais de 10 salários mínimos

  • A favor: 69% (eram 50%)
  • Contra: 26% (eram 47%)

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RECEBO ADVOGADOS E PROCURADORES, MAS OBVIAMENTE NÃO DAREI CONSELHOS A NINGUÉM, DIZ JUIZ MARCELO BRETAS, RESPONSÁVEL POR CASOS DA LAVA JATO NO RIO

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RECEBO ADVOGADOS E PROCURADORES, MAS OBVIAMENTE NÃO DAREI CONSELHOS A NINGUÉM, DIZ JUIZ MARCELO BRETAS, RESPONSÁVEL POR CASOS DA LAVA JATO NO RIO

Júlia Dias Carneiro – Da BBC News Brasil no Rio de Janeiro – Juiz responsável pelos casos da Lava Jato no Rio, Marcelo Bretas diz receber frequentemente advogados ou procuradores para conversas individuais em sua sala, na 7ª Vara Federal Criminal do Rio.

Bretas afirma que advogados até tentam arrancar conselhos seus sobre passos a seguir na defesa de seus clientes – mas “ninguém dá dicas”, afirma, sobre a conduta dos juízes. “Ninguém dá dicas”, reitera.

“Não tem nenhum tipo de aconselhamento, de direcionamento. Isso não existe”, afirma em entrevista à BBC News Brasil.

O juiz federal se nega a comentar o teor das mensagens vazadas que foram atribuídas ao ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sergio Moro, então juiz da Lava Jato em Curitiba, e a procuradores da força-tarefa. O material suscitou críticas à proximidade entre as partes e questionamentos sobre a parcialidade de Moro como juiz.

Bretas diz não poder fazer juízo de valor a respeito das mensagens – publicadas pelo site The Intercept Brasil e veiculadas também pelo jornal Folha de S.Paulo e pela revista Veja – porque, a seu ver, as questões “da ilegalidade e da veracidade” dos diálogos “ainda não estão superadas”. “Ou é legal ou é ilegal. Se é ilegal, é lixo”, afirma.

O juiz conversou com a BBC News Brasil em sua sala na 7ª Vara Federal Criminal do Rio, na qual é titular desde 2015, e ficou conhecido como o “Sergio Moro” do Rio – tendo prendido figuras como o ex-governador Sérgio Cabral, o empresário Eike Batista e, em medida preventiva em março, o ex-presidente Michel Temer.

Tinha a Bíblia sobre a mesa, como de costume; e, na parede, diplomas emoldurados de cursos que fez e da palestra que proferiu no ano passado na Universidade Harvard, nos EUA.

Ao longo da entrevista, Bretas falou sobre a especulação gerada em torno do seu nome ao Supremo depois que o presidente Jair Bolsonaro indicou a possibilidade de indicar um juiz evangélico para a corte, sobre usar redes sociais como válvula de escape e sobre sua proximidade do governador do Rio, Wilson Witzel, a quem chama de Wilson, e com quem postou fotos no Sambódromo e no Maracanã.

“As pessoas pegam e veem, é o Marcelo e o governador. Eu não vejo isso. Para mim, é o Marcelo e o Wilson”, afirma. “Mas qualquer coisa que eu faça vai ser usado contra mim”, constata.

Nascido em 7/7/1970, Bretas completou 49 anos no domingo e confessou uma predileção pelo número 7. “Não tem nada a ver com sorte ou azar, mas eu gosto. aqui é a 7ª vara… Marcelo tem 7 letras… Eu gosto. Por nada, eu só gosto.”

Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

BBC News Brasil – Quando o senhor começou a atuar nos casos da Lava Jato no Rio, passou a ser chamado de ‘Sergio Moro carioca’. Como vê essa comparação hoje?

Marcelo Bretas – Nunca mudou. Eu sempre vi o Moro como um bom juiz, esforçado e trabalhador, e isso sempre foi para mim um elogio. Eu nunca quis ser chamado disso, mas vi as pessoas querendo me agradar, querendo me elogiar. Então não fiquei chateado. Não sou vaidoso do tipo, “quero deixar a minha marca. Não quero ser o Sergio Moro, quero ser o Marcelo Bretas”. Eu sempre vi como elogio, nunca tive problema.

BBC News Brasil – O hoje ministro Sergio Moro está enfrentando a crise da chamada Vaza Jato, com o vazamento de mensagens atribuídas a ele e a procuradores da força-tarefa em Curitiba que indicam proximidade indevida. Como o senhor avalia as mensagens que vieram à tona? Acha que indicam uma conduta inadequada da parte de Moro como juiz?

Bretas – O que posso falar é o seguinte. Há dúvidas sérias se esse material que está sendo veiculado é verdadeiro, e eventualmente se é editado. Se colocam-se ou tiram-se coisas dali para criar um clima de disputa política, de ataque à Lava Jato, às condenações de alguns políticos. Há dúvidas sobre a seriedade desse material. A primeira coisa a fazer antes de discutir qualquer coisa é saber se aquilo é verdadeiro. Que o jornalista preserve a fonte, mas apresente o original para que seja periciado. Na Justiça é sempre assim.

BBC News Brasil – Mas isso não é uma maneira de tirar o foco do conteúdo das conversas? Três veículos de imprensa examinaram o material e afirmam a sua autenticidade, que foi confirmada também por um procurador.

Bretas – Você está dizendo que basta a palavra da imprensa? Apesar de respeitar o trabalho da imprensa, não acho que deva ter a última palavra para afirmar se isso é verídico ou não.

Se você não sabe se aquilo é verdadeiro, não adianta discutir nada mais. Nenhuma discussão séria pode ser feita sem que se tenha certeza de que aquilo foi uma conversa realmente ocorrida.

Você não pode estimular esse tipo de crime. Daqui a pouco vai existir uma indústria de hackeamento e de gravações clandestinas no meio político porque, embora não sirva para fins criminais, politicamente pode ser usado por qualquer um contra qualquer um. Muitas pessoas estão ávidas para usar essas conversas em processo, para soltar preso, anular condenações. Isso é um estímulo à prática criminosa de hackers e de violação ao direito à privacidade. Isso é inadmissível.

BBC News Brasil – O caso gerou questionamento sobre a suposta proximidade entre Moro e procuradores da força-tarefa em Curitiba, e despertou atenção sobre a relação de juízes com as partes de um processo. O senhor tem diálogo frequente com os procuradores da força-tarefa da Lava Jato no Rio?

Bretas – Diálogo, sim. Não só com procuradores, com advogados inclusive. Houve um ministro do Supremo, o Joaquim Barbosa, que criticava muito isso. Essa possibilidade de os advogados despacharem no gabinete dos ministros, dos juízes. Essa prática é comum no Brasil inteiro. Todos os dias recebo advogados.

Obviamente que eu não vou dar nenhum tipo de aconselhamento. É uma conversa entre o juiz e o representante de uma parte. Da mesma forma, também converso com procuradores. E até com mais frequência, porque um grupo de procuradores cuida de muitos processos.

Essas conversas com um advogado ou um procurador são comuns. Isso é a rotina de toda a Justiça brasileira, e sempre foi assim.

BBC News Brasil – O senhor já deu dicas, já orientou condutas dos procuradores?

Bretas – Não, ninguém dá dicas. Ninguém dá dicas.

Vou confidenciar uma coisa. É comum o advogado vir aqui pedir dicas: “Estou pensando em fazer isso, o que o senhor acha?” Eu digo, “senhor advogado, o senhor não me leve a mal, mas não posso dizer o que o senhor deve fazer”.

Até por ingenuidade advogados perguntam isso, de boa fé. Mas eu obviamente não posso fazer isso (dar dicas). Se eu adiantar o que eu vou fazer, um advogado maldoso pode até vender essa informação para outra pessoa.

Da mesma forma, nenhum dos procuradores pergunta. “A gente vai ter prisão ou vai ter só busca?” Não existe isso. Eles apresentam o pedido e eu vou analisar. E aí eu concordo ou não concordo. Não tem nenhum tipo de aconselhamento, de direcionamento. Isso não existe.

BBC News Brasil – As mensagens vazadas indicam que haveria algum tipo de direcionamento e aconselhamento do juiz Moro em relação aos procuradores de Curitiba. Isso é normal?

Bretas – Eu não faço juízo de valor sobre isso. O primeiro ponto é a questão da licitude. No mundo jurídico, não existe algo ser ilícito para alguns casos, e lícito para outros. Ou é legal, ou é ilegal. Se é ilegal, é lixo.

Me parece que as questões da ilegalidade e da veracidade ainda não estão superadas. Só aí vamos à questão do que está propriamente dito, do que aquilo significa.

E nisso eu não posso me manifestar, porque não é matéria afeta à minha competência. Tanto que recentemente recebi uma intimação da CNJ (Conselho Nacional de Justiça), de Brasília, porque mencionei um caso abstrato de uma violência, um suposto estupro de um jogador.

Eu não comentei o caso, mas disse que aquele caso repercutiria em outros. Fui genérico. Mas mesmo com esse comentário genérico, eu tive que me explicar perante o CNJ, o corregedor (ministro Humberto Martins). Fiz a minha explicação.

Mas se eu responder à sua pergunta, o que eu acho disso, eu vou incidir na mesma conduta e eventualmente estou sujeito a uma nova reclamação da CNJ, o que não é conveniente.

BBC News Brasil – Essa postagem causou bastante polêmica. Foi vista como um posicionamento público do senhor a favor do Neymar.

Bretas – Você pode extrair dali que eu estaria sendo favorável, mas naquele caso eu não disse que ele tem razão, não disse que a mulher estava errada.

Eu disse que é importante investigar esses casos, para que não pairem dúvidas, porque esse tipo de dúvida prejudica muitos casos que acontecem pelo Brasil, e outros casos em que não há dúvida de que a mulher está sofrendo a violência.

Fiz um comentário genérico visando casos em geral. Mas isso não foi bem compreendido, e a imprensa fez a sua repercussão. Não foi bem compreendido pelo corregedor, que pediu esclarecimentos, e eu mandei.

BBC News Brasil – O senhor se arrependeu de ter feito o comentário?

Bretas – A gente se arrepende assim… Eu achei que estava contribuindo para o debate. Mas acabei pessoalmente sendo colocado em xeque, e foi colocada em xeque a minha atuação pessoal. A gente pensa, pôxa, eu quis contribuir e acabei tendo aí esse ônus. O ideal seria não ter participado. Mas não que tenha me arrependido do que disse. Foi um comentário genérico, como eu falei.

BBC News Brasil – Nesta semana, outro post do senhor repercutiu como uma defesa ao ministro Sergio Moro. O senhor questionou até quando seria admissível agredir magistrados no Brasil, citando expressões como “juiz justiceiro” e “juiz ladrão”, de que Moro foi xingado no Congresso.

Bretas – O ministro Sergio Moro não precisa da minha defesa. “Juiz ladrão” é um xingamento comum. “Juiz corrupto”. E outros que, para a magistratura, têm um significado pejorativo, como “justiceiro”.

Eu retransmiti uma matéria (sobre a criação de uma vara especializada em lavagem de dinheiro e organizações criminosas no Rio) em que alguns advogados diziam que isso causa surgimento de juízes heróis, justiceiros, donos da verdade, sempre no sentido pejorativo. E eu considerei aquilo uma ofensa. Meu nome é citado, inclusive, nessa reportagem.

E eu fiquei pensando. Eu faço um comentário genérico e tenho que me explicar. Mas posso ser ofendido livremente. E quem fala por nós, juízes? Não, nós temos que ficar quietos.

BBC News Brasil – Incomoda o senhor ser chamado de juiz herói, justiceiro?

Bretas – Ah, sim, incomoda, porque visa a minimizar a importância do meu trabalho. Olha só. Tudo que eu faço aqui é submetido a um tribunal no Rio de Janeiro. Depois a um outro tribunal em Brasília. E depois ao STF.

Se uma decisão minha chega até um ministro do Supremo, é porque ela se manteve perante o tribunal do Rio de Janeiro e o tribunal do STJ. Então no tribunal do Rio também são desembargadores heróis? São justiceiros? O ministro do STJ que manteve a minha decisão ele também seria um justiceiro?

Então abstrai-se disso tudo e volta-se à crítica ao juiz herói. Por que ao juiz de primeira instância? Porque é a parte mais fraca. É o soldado do sistema Judiciário. Mas se uma decisão está sendo discutida no STF, é porque ela foi mantida por várias outras autoridades do Judiciário, e aparentemente é uma decisão plausível, não é nenhuma aberração jurídica.

BBC News Brasil – O senhor é alvo de críticas de advogados criminais que consideram que o senhor abusa de expedientes como a condução coercitiva e prisão preventiva.

Bretas – Vou responder sobre as prisões, já que as conduções coercitivas acabaram. Muitas das prisões cautelares, preventivas, ou temporárias, são mantidas por desembargadores, por ministros do STJ. Então eu não posso aceitar a crítica. Um advogado, por definição, advoga. Ele fala em nome da defesa.

BBC News Brasil – Mas a decisão de prender o ex-presidente Temer, por exemplo, não foi mantida, e recebeu críticas.

Bretas – Sim, foi muito criticada. Eu discordo de um questionamento técnico. Essa decisão cautelar antes da ação penal é prevista em lei. Foi uma decisão que eu tomei, e alguns dias depois o desembargador (do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, Antonio Ivan Athié) pensou diferente e decidiu diferente.

Mas poucos dias depois, a turma (a Primeira Turma do TRF-2), que é maior que o desembargador, desautorizou sua decisão e restaurou a minha decisão. Então o que esses advogados teriam a falar sobre a decisão da turma? Nada? Eles preferem criticar o juiz de primeira instância. As críticas são sempre dirigidas ao juiz, mas desconsideram que muitas decisões são mantidas acima do juiz.

Aí foi para Brasília e depois mudou… (o STJ decidiu pela soltura de Temer). O sistema é assim, cada juiz, desembargador, ministro, decide como entende correto. Não é uma receita de bolo.

BBC News Brasil – O senhor já proferiu sentenças condenatórias contra figuras poderosas, como o ex-governador fluminense Sérgio Cabral e o empresário Eike Batista, além da prisão preventiva de Temer. Como é lidar com processos de tanta visibilidade?

Bretas – É sempre muito difícil, porque a gente não é treinado para isso. Por mais que você não busque a exposição pública, ela é inevitável.

O que posso dizer é que tenho feito o meu melhor para não me contaminar com questões políticas. Evito qualquer tipo de atividade na minha vida pessoal que possa abrir brechas para alguma crítica ao meu trabalho como juiz.

Além de juiz, eu tenho a minha vida particular. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Mas quando se está processando pessoas conhecidas, de notoriedade pública, é comum que os acusados usem alguma crítica da pessoa do juiz para tentar diminuir a importância do processo, ou tirar o foco do processo para colocar em questões pessoais que não tem nada a ver, que não deveriam contaminar o processo. Temos visto isso sempre que políticos respondem a ações penais.

Daí existe uma preocupação pessoal muito grande de evitar qualquer manifestação pública desnecessária, qualquer aparição pública em um lugar que não seja condizente ou conveniente com a função. Ou seja, compromete-se muito a minha liberdade pessoal para não permitir que o processo seja contaminado com discussões públicas ou políticas.

BBC News Brasil – Mas o senhor explicita publicamente sua proximidade do governador do Rio, Wilson Witzel, com quem já postou fotos em jogos de futebol, no Sambódromo, ou voando juntos para prestigiar a posse do presidente Jair Bolsonaro. Isso não seria comprometedor?

Bretas – Normalmente tenta-se usar isso contra mim. Mas qualquer coisa que eu faça vai ser usada contra mim. Com o tempo, eu aprendi a me permitir um pouco mais. Não é muito apropriado, mas é como se eu me permitisse correr alguns riscos. Mas não é isso. Não acho que estou correndo riscos.

Ali, quando eu posto uma foto (ao lado de Witzel) no Maracanã. Antes de ele ser governador, é meu amigo. Eu e o Wilson nos conhecemos há cerca de 15 anos. Se fosse outro amigo, talvez não desse a repercussão que deu. Mas é o governador. Quando olho para ele, antes de ver o governador eu vejo um amigo de muitos anos.

Quando estava indo para a posse, a mesma coisa. Fomos eu e minha esposa, ele e a esposa dele. Quatro amigos indo para uma solenidade. Ali foi o Marcelo postando um passeio com um amigo. Mas é aquilo. As pessoas pegam e veem, é o Marcelo e o governador. Eu não vejo isso. Para mim, é o Marcelo e o Wilson.

BBC News Brasil – Mas o senhor julga processos de muita sensibilidade política. Por exemplo, especula-se que algum momento um processo envolvendo o ex-prefeito Eduardo Paes, rival do Witzel, possa estar em suas mãos. Essa proximidade não seria comprometedora?

Bretas – Eu jamais julgaria algo com relação ao Wilson, por ser meu amigo. Primeiro que não tenho competência. Como governador, ele não responde na primeira instância. Não tem nenhuma situação em que eu teria que julgá-lo.

Eu o trato como amigo, e se algum dia ele estiver na iminência de vir para a minha jurisdição, a mim caberá dizer, olha, é meu amigo, nesse caso eu não participo. Isso para mim é muito claro.

BBC News Brasil – Mas e casos de interesse político para o Witzel, como por exemplo se o Paes fosse réu?

Bretas – Mas aí você quer entrar dentro da alma das pessoas e imaginar. A lei determina que eu não posso ter relação de amizade ou inimizade com o réu. Agora as pessoas querem divulgar essa dúvida. Ah, o juiz não pode julgar alguma coisa envolvendo um amigo, ou um inimigo, de um amigo. Se for assim, não vai ter fim nunca. Há casos de pessoas que eventualmente julgam até casos que envolvem afilhado de casamento, né? E não se dão por suspeitos ou impedidos (referência ao ministro do STF Gilmar Mendes que foi padrinho de casamento da filha do empresário do setor de ônibus do Rio Jacob Barata Fillho, a quem mandou soltar da prisão três vezes).

Aí na primeira instância querem ir mais longe, e quer dizer que um juiz não poderia julgar porque a pessoa X seria inimigo do seu amigo. Bom, então vai ficar muito difícil conseguir um juiz que julgue alguma coisa no Brasil. Eu discordo disso.

BBC News Brasil – O governador Witzel tem sido acusado de estimular uma política de abate na segurança pública, defendendo o uso de atiradores de elite para “atirar na cabecinha” de criminosos. Já sofreu uma denúncia na Organização dos Estados Americanos (OEA) e questionamentos formais no Ministério Público. Dada a sua proximidade dele, como se posiciona diante dessa política?

Bretas – Eu não tenho nenhum tipo de aconselhamento. Não conversamos sobre esse assunto. O mundo político não toca no mundo jurídico. Eu não falo a língua do político. Eu não sei se esse discurso é bom para ele politicamente. Ajuda ele ou piora? Eu não sei. Então eu não me meto. Não digo, fale isso ou não fale isso.

Ele vestiu a camisa do mundo político, ele fala essa língua, eu não falo. E juridicamente ele tem o mesmo conhecimento que eu tenho.

Ele sabe muito bem, porque foi juiz, a implicação daquilo que ele está fazendo, ou determinando, que as polícias façam, como agem, e tudo mais. Se eu concordo com o que ele falou ou não, acho que não é devido (dizer). Não acho conveniente responder a sua pergunta, se eu acho isso correto ou não.

Só posso dizer que eu não trato isso com ele, nunca tratei. Ele faz as declarações que achar que tem que fazer. E acabou. Ele tem assessoria jurídica competente para isso. Não me pergunta o que eu acho.

BBC News Brasil – O presidente Jair Bolsonaro já indicou desejo de nomear um ministro evangélico para o STF, e o senhor já foi apontado como um possível candidato. Como vê essa possibilidade?

Bretas – Ser lembrado numa hora dessa é honroso. Mas eu preciso confessar que só quem está lembrando de mim é a imprensa (risos). Quem indica não é a imprensa, né? É o presidente da República. Ele mencionou que seria um evangélico, e começaram a apontar para mim. O simples fato de ter sido lembrado já me deixa feliz, mas nada além disso.

BBC News Brasil – É algo que o senhor gostaria?

Bretas – Eu e todos os juízes do Brasil. Quando o ministro (do STF Luiz) Fux foi indicado pela então presidente Dilma (Rousseff), ele disse a mais pura verdade. Lembrou que todo soldado sonha em ser general. É o topo da carreira, um sonho que todo mundo acalenta. Mas não tem nada que você possa fazer para acontecer, a não ser sonhar. Não existe campanha. Se quiser agradar um, vai desagradar outro.

Eu não virei evangélico porque ele (Bolsonaro) falou que queria um evangélico. Eu sempre fui evangélico. Você não fica atrás da nomeação. Não fica buscando isso. É uma conjuntura política, pode ser que aconteça, pode ser que não.

BBC News Brasil – Ser ou não evangélico influi na postura de um juiz, ou de um ministro?

Bretas – Eu entrei na magistratura e já era evangélico. Nunca fui questionado pela minha opção religiosa. Tenho aqui mais de 20 servidores e estagiários e nunca perguntei qual é a orientação religiosa, ou sexual, de ninguém.

Não é ponto importante para ser magistrado ser de religião A ou B. Por acaso, eu sou evangélico. Acho que cada um tem que ser respeitado nesse traço individual. É uma escolha pessoal. Não deve ser discriminado e nem promovido por isso.

BBC News Brasil – O senhor já citou versículos da Bíblia em decisões como juiz, e diariamente cita trechos do livro nas redes sociais. Não vê problemas em expressar sua religiosidade como magistrado?

Bretas – A minha religiosidade nas redes sociais eu sou livre para expressar. Aquilo ali é um ambiente pessoal, não tenho que dar satisfação. As pessoas pouco instruídas falam, “ah, o Estado é laico”. Mas estou no meu Twitter pessoal.

Eu já mencionei (a Bíblia) em duas ou três decisões. Qual é a explicação que eu dou? A Bíblia é composta de uma parte histórica e outra religiosa. Mencionar um princípio, um texto inteligente dito por Salomão, ou por Davi, eu não acho ofensivo. Nunca disse que a vontade de Deus é esta ou aquela.

Mencionei um princípio de Salomão (na decisão que autorizou a operação Calicute, que prendeu o ex-governador Sérgio Cabral em 2016). Diz mais ou menos assim – quando não se punem os malfeitos, as pessoas continuam praticando atos errados.

Eu acredito nesse princípio na vida. Eu defendo isso. Eu acho que é inteligente. Está em Eclesiastes. Não vejo problema em mencionar. Isso é cultura, gente.

BBC News Brasil – Quando começou a atuar na Lava Jato, o senhor se dizia avesso à visibilidade pública, mas se tornou muito ativo nas redes sociais. Sua postura mudou?

Bretas – Eu sempre fui (avesso). Mas de um tempo para cá, vi que não adianta. As pessoas me conhecem, nas ruas, onde vou. Então tive que me acostumar com isso. Eu não busco isso, mas fui aceitando. Não tem como lutar contra.

Depois de tanto tempo de restrições, de privações – e aí já se vão quatro anos mais ou menos (como juiz da Lava Jato) – é como se fosse eu tentando ser eu, Marcelo. Mais Marcelo e menos juiz, menos Bretas.

BBC News Brasil – O senhor vê as redes como um espaço de liberdade?

Bretas – É, mais ou menos isso. Tentando lembrar para mim mesmo que eu não sou só o Bretas, eu sou o Marcelo também. Então eu me permiti um pouco mais.

Visibilidade já há e não tem por que querer mais. Não ganho nada com isso. Se eu estivesse planejando ser político, talvez fosse um ativo no futuro, mas não é o caso, já disse muitas vezes.

Não existe interesse, não tem por que fazer. Interpretando a mim mesmo, eu tenho impressão que foi isso, sim – eu querendo mostrar para mim mesmo que eu devo ser um pouco mais Marcelo, e menos Bretas.

MORO SE LICENCIA DO CARGO POR UMA SEMANA. ‘A CASA CAIU’, DIZ PAULO PIMENTA

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MORO SE LICENCIA DO CARGO POR UMA SEMANA. ‘A CASA CAIU’, DIZ PAULO PIMENTA

Ministro sairá de licença não remunerada do cargo para tratar de assuntos particulares, na próxima semana

Rede Brasil Atual – São Paulo – Alvo de diversas denúncias feitas pelo The Intercept, o ministro da Justiça, Sergio Moro, pediu licença não remunerada do cargo ‘para tratar de assuntos particulares’. O afastamento, entre os dias 15 e 19, foi concedido pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL).

Para deputados da oposição, Moro está se escondendo, após as denúncias de ilegalidades cometidas enquanto juiz da Operação Lava Jato. A bancada do PT, por exemplo, questionou o que está por trás do afastamento. “É esquisito. A casa está caindo para ele. Se avolumam as denúncias e suspeitas de que ele agiu de maneira ilegal e pede para tirar uns dias. O que está por trás disso?”, questionou o deputado federal Paulo Pimenta (RS).

Por ter assumido o cargo em janeiro, Moro não tem direito a férias e utilizou o recurso da licença. Durante a ausência de Moro, o secretário-executivo, Luiz Pontel, responderá interinamente pelo ministério.

No último domingo, o The Intercept Brasil e o jornal Folha de S.Paulo divulgaram novos diálogos de Sergio Moro com procuradores da Lava Jato, que indicam uma articulação do ex-juiz federal para vazar dados da delação da Odebrecht sobre a Venezuela, que estava sob sigilo.

A presidenta nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), ironizou em sua conta no Twitter: “Moro vai tirar férias? Como assim, não tem nem um ano de serviço. Ou vai se afastar para ser investigado, o que seria correto?”, questiona. Já a deputada Erika Kokay (PT-DF) destaca que Moro tira férias em meio ao bombardeio da Vaza Jato. “O ministro tem seis meses de trabalho à frente da pasta e já quer férias? Num era o Bolsonaro que dizia que trabalhadores tinham que escolher entre emprego ou direitos?”, provocou.

Recentemente, em entrevista ao Sul21, Lula sugeriu que o ministro da Justiça pedisse afastamento temporário. “Enquanto está sob suspeita, o Moro poderia pedir licença do Ministério da Justiça, e não ficar se escondendo atrás do cargo. Se ele mentiu, precisa ter coragem de assumir o que fez”, disse o ex-presidente.

Escândalo em novo patamar

Em artigo publicado na Revista Cult, nesta segunda-feira, o juiz de Direito e escritor Marcelo Semer diz que as últimas novidades dos vazamentos envolvendo Moro colocam a Vaza Jato em um novo patamar, aumentando a crise envolvendo o ministro. “As conversas levantadas na última reportagem são aterradoras”, diz.

Para ele, a postura de Moro e Deltan mostram que os diálogos não são falsos – eles afirma que as conversas foram adquiridas de “maneira ilegitima” e o conteúdo é “normal”. “Seria um tapa na cara dos juízes e promotores brasileiros dizer que tais comportamentos são normais, rotineiros, cotidianos”, criticou Semer, ao narrar as ações entre o promotor da Lava Jato e Moro. “Se essas comunicações fossem normais, em primeiro lugar, seriam públicas, não reservadas. A reserva, em um instrumento que não é acessível à defesa, mostra que o princípio da publicidade foi o primeiro a ser estilhaçado”, acrescentou ele.

De acordo com o juiz, é impossível assistir em silêncio a “essa afronta como forma de defesa”: a transferência da suspeita de parcialidade dos flagrados na conversa sigilosa a todos os juízes e promotores do país. “Ao mostrar um juiz que dá ordens a todos, que se articula para além de suas competências, que compartilha suas angústias com um dos lados em julgamento, ao qual adere, a situação expõe a todos e fragiliza enormemente a própria ideia de justiça. Normalizar a perversão é fazer pouco da integridade dos milhares de juízes brasileiros”, finalizou Marcelo.

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FACHIN CONDENA OS MÉTODOS DA LAVA JATO E DEFENDE UM STF CONTRA A IRRACIONALIDADE, POR LUIS NASSIF

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FACHIN CONDENA OS MÉTODOS DA LAVA JATO E DEFENDE UM STF CONTRA A IRRACIONALIDADE, POR LUIS NASSIF

Jornal GGN – Trata-se de um discurso histórico que não absolve Fachin de todas as concessões aos abusos da Lava Jato. Mas demonstra que a frente inquisitorial, da qual Fachin era um dos expoentes, ao lado de Luis Roberto Barroso, se desfez.

Em discurso proferido no Tribunal Regional eleitoral do Paraná, o Ministro Luiz Robert Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF) condenou de forma eloquentes os processos judiciais baseados na convicção e no ódio. Defendeu os Tribunais Eleitorais, como aqueles capazes de julgar sem a polarização e o ódio que marcaram outros processos.

Alertou que os juízes julgam e também são julgados. Em uma possível alusão aos abusos do governo Bolsonaro, exortou todos a enfrentarem a falta de limites e as interpretações descabidas para que o país possa voltar a se encontrar na diversidade, na compreensão.

Caro leitor do GGN, estamos em campanha solidária para financiar um documentário sobre as consequências da capitalização da Previdência na vida do povo, tomando o Chile como exemplo. Com apenas R$ 10, você ajuda a tirar esse projeto de jornalismo independente do papel. Participe: www.catarse.me/oexemplodochile

Trata-se de um discurso histórico que não absolve Fachin de todas as concessões aos abusos da Lava Jato nem devolve a fé no seu caráter. É relevante por demonstrar que a frente inquisitorial, da qual Fachin é um dos expoentes, ao lado de Luis Roberto Barroso, está se desfazendo por parte de quem sempre colocou a oportunidade à frente dos princípios.

Fachin voltou a ser o Fachin que a opinião pública achava que era, antes de assumir o STF. Mas terá que conferir na prática. As dúvidas sobre seu comportamento sao maiores que a conversão recente.

MÍDIA ESCONDE ÁUDIO-BOMBA DE DELTAN E CELEBRA FIM DA PREVIDÊNCIA

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MÍDIA ESCONDE ÁUDIO-BOMBA DE DELTAN E CELEBRA FIM DA PREVIDÊNCIA

A mídia conservadora voltou a atuar como um bloco, um rolo compressor de propaganda contra os interesses do país e praticamente ignorou, nas últimas 24 horas, o áudio-bomba de Deltan Dallagnol; toda ela está inteiramente voltada para a pressão final sobre o Congresso com o objetivo de viabilizar o fim da Previdência Social tal como concebida pelos constituintes de 1988.

Brasil247 – A mídia conservadora voltou a atuar como um bloco, um rolo compressor de propaganda contra os interesses do país e praticamente ignorou, nas últimas 24 horas, o áudio-bomba de Deltan Dallagnol. Toda ela está inteiramente voltada para a pressão final sobre o Congresso com o objetivo de viabilizar o fim da Previdência Social tal como concebida pelos constituintes de 1988.

Nem mesmo a Folha de S.Paulo, que foi censurada em 28 de setembro de 2018, a 12 dias das eleições, pela decisão de  Luiz Fux, do STF, deu qualquer destaque -o aúdio mereceu apenas uma notinha. O Jornal Nacional ignorou completamente o assunto.

Desde o começo da semana, há só um tema para a mídia conservadora, o mercado financeiro e as elites do país: a possibilidade de aprovar o projeto de quase extinção da Previdência Social no Brasil. Eles esfregam as mãos, esperando a aprovação em primeiro turno nesta quarta-feira (10). Para isso, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, estabeleceu um regime de censura na Casa: manifestantes estão vetados nas galerias e impedidos de circular em áreas próximas ao plenári e até deputados de oposição estão  proibidos de segurar faixas e cartazes contra a medida durante a votação -uma medida quase sem precedentes.

A pressão é brutal, a máquina de propaganda só se iguala, na história, à que funcionou para o golpe contra Dilma e a perseguição a Lula. A transferência do patrimônio nacional da Petrobrás para grandes grupos internacionais e a dos trilionários fundos da previdência pública para os bancos são os dois pontos-chave de toda a ofensiva da elite desde a derrota eleitoral de Aécio Neves em 2014.

Há um requinte de crueldade em toda esta pressão. Quem a executa? Os proprietários da mídia conservadora e os jornalista pagos a peso de ouro, os protagonistas do mercado financeiro, os rentistas, os parlamentares de direita e extrema-direita, a cúpula do governo Bolsonaro e do Judiciário: nenhum deles precisa da Previdência Social para se aposentar. Para eles e suas famílias, não haverá qualqer prejuízo com o fim do sistema de seguridade social inaugurado em 1988. Todo o prejuízo recairá sobre as costas das camadas médias e dos pobres do país.

A mensagem das elites é clara: “faremos a reforma que o país precisa liquidando com o futuro de vocês”.

Enquanto isso, as revelações bombásticas do Intercept e da Vaza Jato ficam relegadas a notas de rodapé – se tanto.

(Mauro Lopes, editor do 247)

SAI O PRIMEIRO ÁUDIO: DELTAN COMEMORA DECISÃO DE FUX QUE CENSUROU LULA

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O The Intercept publicou o primeiro áudio dos vazamentos de conversas entre procuradores da Lava Jato e o ex-juiz Sérgio Moro, e ele traz a voz do coordenador da força-tarefa, Deltan Dallagnol; “Ouça como ele comemorou secretamente a decisão do Fux revogando autorização a @folha entrevistar Lula”, comentou o jornalista Glenn Greenwald; ouça.

Brasil247 – O site The Intercept acaba de divulgar o primeiro áudio da Vaza Jato, que envolve o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato.

“Primeiro áudio publicado, de Daltan Dallagnol: ouça como ele comemorou secretamente a decisão do Fux revogando autorização a @folha entrevistar Lula 12 dias antes da eleição pq, como já reportamos, eles queriam impedir vitória de Haddad”, anunciou o jornalista Glenn Greenwald, editor do Intercept, no Twitter.

“Além das motivações políticas impróprias que sempre negou publicamente, observe que Deltan – além da alegria que Lula ficaria em silêncio – a) tinha conhecimento secreto e prévio da decisão de Fux e b) especificamente queria ocultá-la para impedir que a Folha pudesse recorrer”, completou o jornalista.

VALE É CONDENADA PELA PRIMEIRA VEZ PELO ROMPIMENTO DE BARRAGEM EM BRUMADINHO (MG)

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VALE É CONDENADA PELA PRIMEIRA VEZ PELO ROMPIMENTO DE BARRAGEM EM BRUMADINHO (MG)

Bombeiros trabalham a procura de sobreviventes em Brumadinho / Ricardo Stuckert – Decisão da 6ª Vara de Fazenda Pública e Autarquias de Belo Horizonte não fixou o valor a ser pago pela empresa.

Brasil de Fato | São Paulo (SP) – A mineradora Vale foi condenada nesta terça-feira (9) pela primeira vez em um processo referente ao rompimento da barragem da mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), ocorrido em 25 de janeiro. Quase seis meses após o crime socioambiental que deixou 248 mortos, o juiz da 6ª Vara de Fazenda Pública e Autarquias de Belo Horizonte (MG), Elton Pupo Nogueira, manteve o bloqueio de R$ 11 bilhões da mineradora e autorizou que metade desse valor seja substituído por garantias financeiras como fiança bancária ou investimentos.

A Vale pedia a substituição integral do bloqueio, mas o juiz argumentou que o valor é menos da metade do que a mineradora lucra em um ano de atividades, e por isso não afetaria seu desempenho econômico. Em 2018, o lucro informado pela empresa foi de aproximadamente R$ 25 bilhões.

O magistrado não fixou um valor a ser pago pela empresa, uma vez que os cálculos sobre os danos ainda estão em andamentos.

Ao todo, foram despejados 13 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério sobre Brumadinho, atingindo inclusive o rio Paraopeba, que abastece a região metropolitana da capital mineira.

A mineradora também responde a um processo no Tribunal Regional do Trabalho. Na esfera trabalhista, já foi determinado o bloqueio de R$ 1,6 bilhões para garantir as indenizações dos trabalhadores e familiares, mas não houve condenação até o momento.

A reportagem do Brasil de Fato entrou em contato com a Vale para obter seu posicionamento sobre a decisão da 6ª Vara de Fazenda Pública e Autarquias de Belo Horizonte, mas não obteve retorno até o fechamento desta reportagem.

Em breve, mais informações.

Edição: Daniel Giovanaz

MORRE, AOS 77 ANOS, O JORNALISTA PAULO HENRIQUE AMORIM

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MORRE, AOS 77 ANOS, O JORNALISTA PAULO HENRIQUE AMORIM

Jornalista passou por diversos veículos da mídia comercial, de quem sempre foi bastante crítico / Brasil 247

Em 58 anos de carreira, PHA passou por toda imprensa hegemônica que veio a batizar de Partido da Imprensa Golpista (PiG)

Brasil de Fato | São Paulo (SP) – O jornalista Paulo Henrique Amorim morreu na madrugada desta quarta-feira (10) no Rio de Janeiro. Após sair para jantar com amigos, o jornalista teve um infarto cardíaco já em sua casa.

Em 58 anos de carreira, Amorim passou pelo jornal A Noite; pelas revistas Manchete, Fatos e Fotos, Realidade, Veja, Exame; Jornal do Brasil, Fantástico, Jornal da Band, da Cultura e da Record, percorrendo quase todos grandes veículos e canais de mídia do Brasil. Recentemente, foi afastado do seu cargo como apresentador do Domingo Espetacular, que exercia desde 2006, da Record, o que atribuiu às suas críticas ao juiz Sérgio Moro e ao presidente e aliado da emissora, Jair Bolsonaro.

A experiência na mídia comercial o tornou bastante crítico com a imprensa hegemônica e o levou a ser um dos criadores e popularizadores do termo PiG, o Partido da Imprensa Golpista. Sua escrita e incisividade eram mais frequentes em seu no blog — e posteriormente portal — Conversa Fiada, que mantinha desde 2008.

Edição: Pedro Ribeiro Nogueira

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