SEM DINHEIRO, GOVERNO QUER SUBSTITUIR MAIS MÉDICOS POR PROGRAMA 50% MAIS CARO

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SEM DINHEIRO, GOVERNO QUER SUBSTITUIR MAIS MÉDICOS POR PROGRAMA 50% MAIS CARO

Profissional do Mais Médicos recebe bolsa de R$ 12 mil; com a proposta de criação de “carreira”, custo subiria para R$ 18 mil / Foto: Agência Brasil

Gestora do Ministério da Saúde disse que haverá concurso até o fim do ano para contratar 18 mil profissionais.

Cecília Figueiredo – Saúde Popular – Brasil de Fato – Mesmo afundado em déficits, sem perspectiva de retomada de investimentos e paralisado por sucessivos cortes orçamentárias, o governo estuda substituir o programa Mais Médicos por um projeto que custará no mínimo 50% mais caro do que o implantando com sucesso pela presidenta Dilma Rousseff (PT) em 2013 – e que começou a ruir depois que Jair Bolsonaro (PSL) se elegeu, no final do ano passado.

O fim do Mais Médicos – que chegou a ter 18.240 profissionais levando atendimento básico de saúde para mais de 60 milhões de brasileiros – vem sendo anunciado desde o início do mandato. Segundo o governo, ele será substituído por um programa que investirá numa “carreira de médicos federais”, até aqui pouco detalhado.

Nesta terça-feira (23), a médica Mayra Isabel Correa Pinheiro, gestora graduada do Ministério da Saúde, informou que até o fim do ano o governo vai abrir concurso público para cobrir as 18 mil vagas originais, pagando salários “superiores” às bolsas oferecidas atualmente.

Falando para um público especializado durante II Fórum Nacional Pró-SUS, em Brasília, Mayra, que é secretária de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde do Ministério, disse que os profissionais que optarem por atuar em áreas mais vulneráveis e de difícil acesso gozariam de aposentadoria especial com 21 anos de trabalho.

“Existe uma diferença da Carreira de Estado, pelas peculiaridades jurídicas, para a Carreira Federal de Médicos, que está sendo criada junto com AMB, CFM e o Ministério da Saúde. O concurso público deve acontecer até o final do ano”, garantiu ela no evento, que é promovido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).

A gestora foi questionada pelo professor Aristóteles Homero dos Santos Cardona Júnior, médico de Família e especialista em Saúde Coletiva.

“A grande questão que fica é que fiz uns cálculos rápidos para a provisão de médicos na carreira federal a 12 mil reais de salário, mais FGTS, férias e outros encargos, somaria R$ 18.346 por médico. Se hoje temos um médico bolsista por 12 mil reais e o Estado não tem financiamento, como será para financiar os 18.346 reais? Acho que o Paulo Guedes não sabe disso”, ironizou

O modelo do Mais Médicos remunera os profissionais com bolsas de R$ 11.800, mais ajuda de custo para deslocamento quando da ida para a área escolhida. Além disso, os médicos têm moradia e alimentação custeadas pelos municípios.

Mayra, porém, disse que não seriam necessários novos investimentos para bancar a operação, bastando o “uso correto” dos recursos da pasta. Ela chegou a afirmar, sem mais detalhes ou explicações, que, dos R$ 4,5 bilhões destinados ao Ministério, “R$ 3,5 bi eram gastos no passado de forma ilícita”.

Provimento e fixação

Cardona, que participou da mesa “Carreira Médica Federal, Programa Mais Médicos e Residência Médica”, citou um estudo publicado pela revista The Lancet – “Sistema Único de Saúde no Brasil: os primeiros 30 anos e perspectivas para o futuro” -, para ressaltar a necessidade de financiamento da saúde via setor público.

Com relação ao provimento e fixação de profissionais, ele lembrou que se trata de um problema histórico, destacando que o Mais Médicos conseguiu avanços nessa área.

“Óbvio que já se propunha uma política provisória. Porém, contemplava, além da fixação de médicos, ampliação de especialização em Medicina da Família e Comunidade e a construção de unidades de saúde. Foi muito interessante ver a transformação do que era o atendimento no sertão de Petrolina (PE), numa unidade que funcionava em casebre, e hoje as pessoas são atendidas em unidades padrão que foram construídas pelo programa Mais Médicos”, disse.

Sem respostas

A mesa redonda da manhã incluiu debates sobre avaliação das escolas médicas; o risco de precarização dos médicos egressos de cursos particulares, que recebem uma bolsa de R$ 2.900 e têm que arcar com o pagamento da dívida do curso; a revalidação como processo que certifica a qualidade; e a oferta proposta de especialização para a fixação em áreas de difícil acesso.

“Como se lida com os interesses dos médicos egressos para atrair a uma especialização em Medicina de Família e Comunidade, por exemplo, quando ele vislumbra o cirurgião plástico que anda de carro importado e viaja para o exterior?”, questionou Francisco de Assis Romeiro Figeroa Benício Coelho, segundo secretário da Associação Nacional dos Médicos Residentes (ANMR).

Para Cardona, que apresentou a visão da Abrasco, não há como debater novos projetos sem a revogação da Emenda Constitucional 95, que instituiu o teto de gastos e limitou ainda mais os investimentos em Saúde e Educação.

Edição: João Paulo Soares

PROFESSORES TEMEM QUE ENEM DIGITAL PREJUDIQUE ESTUDANTES DO CAMPO E DE BAIXA RENDA

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PROFESSORES TEMEM QUE ENEM DIGITAL PREJUDIQUE ESTUDANTES DO CAMPO E DE BAIXA RENDA

Na avaliação de educadora, alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) serão afetados negativamente / Foto: Valdir Rocha

Medida anunciada pelo Ministério da Educação esbarra na falta de inclusão digital vivida pelas escolas públicas do país

Mayara Paixão | Brasil de Fato | São Paulo (SP) – Desde que o Ministério da Educação (MEC), comandado por Abraham Weintraub, divulgou que o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), principal porta de ingresso para as universidades públicas, passará a ser realizado pelo computador nos próximos anos, muitas dúvidas e poucas respostas pairam entre a sociedade e o governo federal.

A medida, publicada no início do mês de julho, promete que, já em 2020, 50 mil estudantes de 15 capitais brasileiras realizarão a prova de forma digital. Em 2026, todos prestarão o ENEM neste modelo e a prova em papel será deixada para trás. No entanto, a mudança parece ignorar a ampla falta de acesso à tecnologia vivida pelas escolas públicas brasileiras.

Na capital do Piauí, Teresina, os professores do Instituto Federal têm conversado nos corredores sobre como preparar os mais de quatro mil alunos de ensino médio para o novo modelo da prova. A instituição, criada em 2008, é um dos poucos aparelhos públicos do estado que conta com acesso à tecnologia, ainda que muito falte para aprimorar.

O professor de biologia e chefe do departamento de formação de professores do campus Teresina Central, Ivanaldo Ribeiro de Moura, durante seis anos dividiu sua rotina vendo as diferenças entre o campo e a cidade piauenses.

“Eu era professor na capital, de escolas particulares, e do estado na zona rural no período noturno. Percebia que lá precisava evoluir muito no aspecto tecnológico de acesso dos alunos a computadores e ao uso das máquinas modernas”, relata.

Ele se diz preocupado com as desvantagens que esse modelo de prova pode acarretar para os estudantes do meio rural caso o cenário desigual não mude nos próximos anos. “Imagine a população que vive na zona rural, não tem muito acesso ás máquinas, e tanto faz se é um público mais jovem e mais adulto, terá dificuldade de realizar essa prova diante de uma tela de computador. Possivelmente, ele vai ter dificuldades e vai sair em desvantagem ao aluno que vive na zona urbana e estuda em escolas particulares bem estruturadas.”

Os números justificam a preocupação do educador. Segundo levantamento divulgado pelo Comitê Gestor da Internet (CGI), em 2018, 43% das escolas rurais do país não possuíam sequer um computador com acesso à internet para uso dos alunos.

A realidade preocupa ainda mais os professores quando acompanhada da informação divulgada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) de que não serão comprados novos equipamentos para a realização do Enem digital.

Quem é que ganha?

Outro grupo afetado por essa realidade são os alunos maiores de 18 anos do Ensino de Jovens e Adultos (EJA), pessoas que não completaram o Ensino Médio e agora estudam para conseguir o diploma que os permite concorrer a uma vaga no ensino superior.

Anelise da Silva é professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e acompanha a EJA. Segundo ela, o Enem digital também ignora a geografia do país e a realidade desses estudantes.

“O que a gente vê o tempo todo é que você chaga no lugar e não consegue acessar [a internet] ou porque o equipamento existe mas está estragado, ou porque tem uma parte do equipamento e não tem a outra ou porque, pasme: você tem as duas partes do equipamento, mas não tem luz elétrica. Isso é algo que acontece e não é nos rincões, mas também na região metropolitana de Belo Horizonte”, descreve Silva.

A professora avalia que é preciso fomentar o uso de equipamentos digitais, mas com responsabilidade. No caso da nova medida e das poucas explicações dadas pelo governo, os estudantes da Educação de Jovens e Adultos seriam atingidos negativamente.

“Como é que os idosos, as pessoas em situação de rua, os caminhoneiros, que estão no trabalho o tempo todo, as pessoas de ocupações urbanas e rurais, os moradores do norte de Minas, que andam quilômetros depois de um dia inteiro de trabalho para chegar na escola da cidade, porque a que tinha no campo foi fechada; como terão condições de acessar o Enem digital?”, questiona. “Fico pensando que quando o governo federal pensou a proposta, ele não pensou em para quem ofertar, mas talvez em quem lucra com ela”, completa Silva.

A reportagem contatou o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que respondeu que não haverá compra de equipamentos para o Enem digital. O instituto afirma que irá “contratar uma empresa aplicadora da prova, que atuará nas unidades de ensino ou com a locação de lugares que tenham infraestrutura.” Desde a sua criação, em 1998, a prova do ENEM tem sido aplicada em papel.

Edição: Rodrigo Chagas e Katarine Flor

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O IMPÉRIO CONTRA-ATACA

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O IMPÉRIO CONTRA-ATACA

Brasil247 – Leonardo Attuch – Para o jornalista Leonardo Attuch, editor do 247, Jair Bolsonaro tentará fazer com Glenn Greenwald exatamente o que Trump fez com Julian Assange, do Wikileaks; “O jogo é pesado. O ‘Ocidente’ está em guerra contra a China e contra o mundo não alinhado. Dilma foi derrubada, Lula foi preso e o Brasil foi ocupado. A Vaza Jato desorganizou o jogo. Estamos assistindo agora a reação. O Império contra-ataca”

Minha visão sobre o caso dos hackers é simples: Bolsonaro tentará fazer com Glenn Greenwald exatamente o que Trump fez com Julian Assange, do Wikileaks. E a discussão não terá nada a ver com a autenticidade ou não das mensagens.

Ao caracterizar o editor do Intercept como mandante da invasão de celulares de autoridades, mesmo sem qualquer evidência que vá além de eventuais delações forçadas de “hackers”, o governo brasileiro retirará de Glenn Greenwald as prerrogativas que protegem os jornalistas.

Se ele será preso ou não, como desejam alguns aliados de Bolsonaro, é outra história. Seria um escândalo internacional, que caracterizaria de vez o Brasil como uma ditadura ou, na melhor das hipóteses, uma pós-democracia. Mas será que Bolsonaro se importa com a imagem do País?

O jogo é pesado. O “Ocidente” está em guerra contra a China e contra o mundo não alinhado. Dilma foi derrubada, Lula foi preso e o Brasil foi ocupado. A Vaza Jato desorganizou o jogo. Estamos assistindo agora a reação. O Império contra-ataca.

DEPUTADA BOLSONARISTA PREVÊ DELAÇÃO DOS “HACKERS”

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DEPUTADA BOLSONARISTA PREVÊ DELAÇÃO DOS

(Foto: Carla Zambelli)

“Agora a história fica divertida: os hackers foram enquadrados na lei de organizações criminosas. Ou seja, a lei permite que fechem acordo de delação premiada e revelem o MANDANTE do crime! Tic-tac, tic-tac…”, postou ela, sinalizando os próximos capítulos da operação montada pelo governo contra o Intercept.

Brasil247 – O roteiro da novela montada contra o Intercept parece previsível. A Polícia Federal prendeu quatro supostos “hackers” que teriam invadido o celular de Sergio Moro e Deltan Dallagnol, eles foram enquadrados na lei das organziações criminosas e só serão libertados se fizerem um acordo de delação premiada. Sairão da cadeia caso indiquem quem é o mandante da suposta invasão. Ou seja: está preparada a cama de gato para prender o jornalista Glenn Greenwald, editor do site Intercept. O recado foi dado pela deputada bolsonarista Carla Zambelli.

Confira seu tweet e reportagem  da Reuters sobre o caso:

BRASÍLIA (Reuters) – A Polícia Federal cumpriu quatro mandatos de prisão temporária e sete de busca e apreensão nesta terça-feira em uma operação contra suspeitos da invasão de celular do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.

Em nota divulgada, a PF não dá detalhes e afirma que a operação Spoofing visa “organização criminosa que praticava crimes cibernéticos”.

A assessoria de imprensa da Polícia Federal confirmou a jornalistas que os alvos da operação são acusados de hackearem o celular do ministro da Justiça, Sergio Moro.

Segundo a Justiça Federal do Distrito Federal, os mandatos foram assinados pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara, e o sigilo envolvendo as ordens será retirado às 12h de quarta-feira.

As pessoas detidas foram transferidas para Brasília para prestarem depoimentos, segundo assessora da JFDF.

 

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LÍDER DO GOVERNO, JOICE AMEAÇA GLENN: SUA HORA TÁ CHEGANDO

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LÍDER DO GOVERNO, JOICE AMEAÇA GLENN: SUA HORA TÁ CHEGANDO

Joice afirma que demissão de Bebianno é ‘ferida’ no governo

Brasil247 – A deputada federal Joice Hasselman (PSL-SP), líder do governo Bolsonaro na Câmara, insinuou que o jornalista Glenn Greenwald, editor do Intercept, que revelou os diálogos da Vaza Jato, poderá ser preso, após a operação contra quatro supostos hackers deflagrada nesta terça-feira. “@ggreenwald tic-tac…sua hora tá chegando…”, escreveu

A prisão de quatro supostos hackers, que teriam invadido os celulares de Sergio Moro e Deltan Dallagnol, poderá ser usada como pretexto para a prisão do jornalista Glenn Greenwald, editor do site Intercept. Foi o que insinuou a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), que também disse ter tido seu celular “hackeado”. No twitter, ela fez um alerta: “@ggreenwald tic-tac…sua hora tá chegando…”.

Ao que tudo indica, o próximo passo será a delação dos “hackers” para que Glenn seja caracterizado como mandante da suposta invasão dos celulares.

Confira o tweet de Joice e reportagem da Reuters:

https://twitter.com/joicehasselmann/status/1153802585922400257?s=20

BRASÍLIA (Reuters) – A Polícia Federal cumpriu quatro mandatos de prisão temporária e sete de busca e apreensão nesta terça-feira em uma operação contra suspeitos da invasão de celular do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.

Em nota divulgada, a PF não dá detalhes e afirma que a operação Spoofing visa “organização criminosa que praticava crimes cibernéticos”.

A assessoria de imprensa da Polícia Federal confirmou a jornalistas que os alvos da operação são acusados de hackearem o celular do ministro da Justiça, Sergio Moro.

Segundo a Justiça Federal do Distrito Federal, os mandatos foram assinados pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara, e o sigilo envolvendo as ordens será retirado às 12h de quarta-feira.

As pessoas detidas foram transferidas para Brasília para prestarem depoimentos, segundo assessora da JFDF.

 

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FUTURO PROMETE COLISÕES NAS RELAÇÕES COMERCIAIS ENTRE EUA E CHINA. 

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FUTURO PROMETE COLISÕES NAS RELAÇÕES COMERCIAIS ENTRE EUA E CHINA. 

JAPÃO, TAIWAN, COREIA DO SUL E CHINA SE DESENVOLVERAM FAZENDO O CONTRÁRIO DO QUE SE TINHA POR CONSENSO: PROTEÇÃO DA INDÚSTRIA NACIONAL.

Não vai ser fácil para os americanos partilharem a liderança monetária com os asiáticos

Por Luiz Gonzaga Beluzzo. *CartaCapital.* – Nos trabalhos elaborados para as reuniões que precederam as reformas de Bretton Woods em julho de 1944, John Maynard Keynes formulou a proposta mais avançada e internacionalista de gestão da moeda internacional. Baseado nas regras de administração da moeda bancária, o Plano Keynes previa a constituição de uma entidade pública e supranacional encarregada de controlar o sistema internacional de pagamentos e de provimento de liquidez aos países deficitários. Tratava-se não só de contornar o inconveniente de submeter o dinheiro universal às políticas econômicas do país emissor, como observamos agora, mas de evitar que a moeda internacional assumisse a função de perigoso agente da “fuga para a liquidez”.

As transações comerciais e financeiras seriam denominadas em bancor e liquidadas nos livros da instituição monetária internacional, a Clearing Union. Os déficits e superávits seriam registrados em uma conta corrente que os países manteriam na Clearing Union. No novo arranjo institucional, tanto os países superavitários quanto os deficitários estariam obrigados, mediante condicionalidades, a reequilibrar suas posições, o que distribuiria o ônus do ajustamento de forma mais equânime entre os participantes do comércio internacional. No Plano Keynes, não haveria lugar para a livre movimentação de capitais em busca de arbitragem ou de ganhos especulativos.

Em 1944, nos salões do hotel Mount Washington, na acanhada Bretton Woods, a utopia monetária de Keynes capitulou diante da afirmação da hegemonia americana que impôs o dólar, ancorado no ouro, como moeda universal.

Essas características do arranjo monetário realmente adotado em Bretton Woods sobreviveram ao gesto de 1971 (a desvinculação do dólar em relação ao ouro) e à posterior flutuação das moedas em 1973. Na esteira da desvalorização continuada dos anos 70, a elevação brutal do juro básico americano em 1979 derrubou os devedores do Terceiro Mundo, lançou os europeus na “desinflação competitiva” e culminou na crise japonesa dos anos 90. Na posteridade dos episódios críticos, o dólar fortaleceu-se, agora em obediência ao papel dos Estados Unidos como “demandantes e devedores de última instância”.

A crise dos empréstimos hipotecários e seus derivativos, que hoje nos aflige, nasceu e se desenvolveu nos mercados financeiros dos Estados Unidos. Na contramão do senso comum, os investidores globais empreenderam uma fuga desesperada para os títulos do governo americano.

A pretendida e nunca executada reforma do sistema monetário internacional, ou coisa assemelhada, não vai enfrentar as conturbações geradas pela decadência dos EUA. Vai, sim, acertar contas com os desafios engendrados pelas assimetrias de ajustamento provocadas pelo desarranjo da economia sino-americana, ancorada na força do dólar e no poder dos mercados financeiros dos Estados Unidos.

Impulsionado pela “deslocalização” da grande empresa dos EUA e ancorado na generosidade da finança privada do país, o processo de integração produtiva e financeira das últimas duas décadas deixou como legado o endividamento sem precedentes das famílias “consumistas” americanas, a migração da indústria manufatureira para a Ásia “produtivista” e os desregramentos do endividamento público nos países desenvolvidos.

A interdependência sino-americana não esgota seus efeitos no desequilíbrio comercial entre os dois países, mas avança suas consequências para a Ásia manufatureira e estende sua influência à África e à América Latina, não só como fontes provedoras de matérias-primas, mas como espaço de expansão de empresas chinesas que iniciam um forte movimento de internacionalização. Está claro que os chineses ensaiam cautelosa, mas firmemente a internacionalização do yuan ao ampliar a conversibilidade financeira e multiplicar rapidamente os acordos de troca de moedas (swaps) com seus parceiros comerciais mais importantes.

Não vai ser fácil para os americanos partilharem a liderança monetária com a China. Muitos argumentam que a política de inundação de liquidez destinada a adquirir, sobretudo, títulos de dívida de longo prazo (quantitative easing) em nada afetou sua utilização como moeda de denominação das transações comerciais e financeiras, a despeito do avanço do yuan nos negócios entre os países asiáticos e, provavelmente, agora nas transações entre os BRICS.

Seja como for, a crise demonstrou que a almejada correção dos chamados desequilíbrios globais vai exigir regras de ajustamento não compatíveis com o sistema monetário internacional em sua forma atual, aí incluído o papel do dólar como moeda reserva. Isso não significa prognosticar a substituição da moeda americana por outra moeda, seja o euro, seja o yuan, mas constatar que o futuro promete solavancos e colisões nas relações comerciais e financeiras entre as nações.

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GOVERNO LIBERA MAIS 51 AGROTÓXICOS; UM DELES AMEAÇA ABELHAS POLINIZADORAS

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GOVERNO LIBERA MAIS 51 AGROTÓXICOS; UM DELES AMEAÇA ABELHAS POLINIZADORAS

Abelhas sem ferrão estão entre as espécies ameaçadas por novo agrotóxico liberado / Instituto Biológico de São Paulo

Chega a 290 o total de produtos liberados em 205 dias de governo Bolsonaro

Brasil de Fato | São Paulo (SP) – Subiu para 290 o total de agrotóxicos liberados pelo governo Bolsonaro desde a posse. Nesta segunda-feira (22), o Ministério da Agricultura aprovou a comercialização de mais 51 marcas, envolvendo sete novas substâncias e outras já existentes em produtos do mercado.

Entre as substâncias novas liberadas está o sulfoxaflor, princípio ativo que controla insetos que atacam frutas e grãos e estaria relacionado à redução de abelhas polinizadoras, segundo estudos em andamento no exterior.

Nos primeiros meses deste ano, cerca de 500 milhões dessas abelhas teriam morrido no Brasil, vitimas dos venenos nas lavouras, segundo reportagem da Agência Pública e do Repórter Brasil, com base em relatos de apicultores do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Mato Grosso do Sul.

Em tese, os agricultores têm de seguir regras para uso do sulfoxaflor, com períodos limitados para aplicação, dosagens máximas e distâncias mínimas para a proteção das abelhas. Na prática, o cumprimento de tais regras dependeria de uma fiscalização eficiente – o que está longe de acontecer sob o atual governo.

“Nunca houve um ritmo tão frenético de aprovação de agrotóxicos como agora. Para se ter uma ideia, o que foi aprovado neste ano, até meados de junho, é mais do que foi aprovado na União Europeia desde 2011”, afirmou Gerson Teixeira, ex-presidente da Associação Brasileira da Reforma Agrária (ABRA), segundo reportagem do Brasil de Fato quando dos 200 dias de governo Bolsonaro.

Teixeira se referia ao total de produtos liberados em seis meses, 239, contra 229 da União Europeia em oito anos.

Equivalentes

Dos venenos liberados, 44 são produtos “equivalentes”, ou seja, genéricos de princípios ativos já autorizados no país.

Destes, 18 são para uso industrial e outros 26 produtos são formulados (a venda rm lojas de insumos agrícolas), sendo quatro de origem microbiológica.

Grande oferta de veneno

Para Gerson Teixeira, a velocidade na liberação faz parte da estratégia de mercado do agronegócio, que deixou de priorizar a batalha pela aprovação do Projeto de Lei 6299/2002, conhecido como PL do Veneno.

“Eles viram que, com o governo na mão, não precisavam aprovar a legislação (…). A estratégia deles é viabilizar uma oferta grande de venenos e com isso fazer baixar o preço deles, independente se isso vá resultar em uma maior contaminação do meio ambiente ou do alimento”

Edição: João Paulo Soares

A REVOLTA DA CLASSE MÉDIA – DESIGUALDADE GLOBAL – EUROPA

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A REVOLTA DA CLASSE MÉDIA - DESIGUALDADE GLOBAL - EUROPA

Afetados pela globalização perdem status e se rendem ao populismo. Igualdade é uma palavra que por quase três séculos causou turbilhões pelo mundo chacoalhando ocidente e oriente.

Fernando Canzian Lalo de Almeida (fotos) – Reino Unido, França e Espanha – Antes do início dos anos 1990, a paisagem do noroeste da Inglaterra era dominada pelas chaminés de mais de mil fábricas, a maioria de tecelagens do auge da revolução industrial, no século 19.

Foi uma época em que as primeiras máquinas a vapor multiplicaram a geração de bens e de fortunas. Primeiro na Inglaterra. Depois, no resto da Europa, nos EUA e em outras partes do mundo.

Em seu apogeu, Oldham, na Grande Manchester, foi um dos locais mais dinâmicos da Terra, conectado ao resto do mundo por ferrovias que chegavam ao porto de Liverpool.

Hoje, a cidade de 100 mil habitantes parece um museu. Sobraram poucas chaminés e, com ares de decadência, centenas de pequenas casas de tijolos escuros que abrigavam os operários do passado.

No alto, prédio em ruínas da tecelagem Hartford, inaugurada em 1907, em Oldham, no Noroeste da Inglaterra; abaixo, edifício abandonado de companhia de seguros e centro de Oldham

Na Union Street, uma das ruas principais, o ponto mais movimentado parece ser um centro para desempregados. É ali que Brian Melling, 65, busca trabalho há quatro anos.

Ex-motorista de caminhão, seu padrão de vida decaiu junto com as indústrias de Oldham, afetadas por uma globalização que encontrou salários mais baixos na Ásia e expulsou gente jovem e educada para as grandes cidades.

Antes, Melling podia, como diz, “ter motocicleta, fumar, beber e fazer o que quisesse. E economizava dinheiro”.

Hoje, vive em um apartamento quase que totalmente subsidiado por uma fundação privada e passa os dias com 73 libras por semana (R$ 340) do seguro desemprego. Para economizar, come enlatados de baixa qualidade, lanches frios, frutas e bebe muito chá.

Melling e as pessoas de sua região foram as maiores responsáveis pela aprovação do brexit em 2016. Numa vitória apertada, 51,9% dos que votaram no referendo optaram por sair da União Europeia e reconquistar a opção de fechar o Reino Unido à imigração e a produtos estrangeiros.

Em Oldham, não só mais pessoas votaram no referendo como o apoio ao brexit atingiu 61%, taxa que se repetiu em toda a Grande Manchester. Na Grande Londres, mais dinâmica e cosmopolita, deu-se o contrário: 60% votaram pela permanência.

Recentemente, a ex-primeira-ministra britânica Theresa May renunciou ao não concluir o brexit, e pode ser substituída pelo ex-prefeito de Londres Boris Johnson, defensor da saída mesmo sem um acordo com a União Europeia.

O motorista de caminhão desempregado Brian Melling vive com 73 libras por semana do seguro desemprego e mora em um apartamento subsidiado em Oldham, na Inglaterra

“Votei pelo brexit porque estávamos melhor antes do mercado comum. Empobrecemos muito e todos têm nos tratado muito mal”, diz Melling.

Em sua opinião, o radicalismo na Europa vem se alimentando de um sentimento parecido com o seu.

“Veja os ‘coletes amarelos’ na França. As pessoas querem um basta.”

Para David Soskice, coordenador do International Inequalities Institute, em Londres, enquanto moradores de grandes centros têm se saído melhor por serem mais educados e globalizados, os do interior perdem renda e status.

Isso explicaria tanto o brexit quanto Donald Trump nos EUA, onde estados empobrecidos do meio-oeste garantiram a vitória do republicano.

Mas o principal motor do radicalismo e do populismo, sobretudo no Ocidente, seria o empobrecimento da classe média -resultado da mistura de globalização, avanços tecnológicos, melhor educação concentrada no topo e financeirização do capital em detrimento da produção física que gera empregos.

Cada vez mais distante dos ricos acima e pressionada por serviços públicos piores e gastos maiores, sobretudo com moradia, sem que os salários acompanhem, é a classe média quem se volta a partidos eurocéticos, anti-imigração e de extrema direita atrás de soluções.

“São pessoas preocupadas em não cair no poço da pobreza, ou que isso possa acontecer aos seus filhos. Elas votam pensado nisso”, diz Soskice.

Foi esse tipo de decadência pessoal que levou Mark Hodgkinson, 58, a marchar recentemente durante 14 dias e por 450 km em defesa do brexit, do interior da Inglaterra até o Parlamento em Londres.

Morador de Rochdale, ao norte de Manchester, o vendedor de produtos online viu seus dois filhos e de amigos fugirem para cidades maiores como Londres atrás de oportunidades que não existem mais onde viviam.

“Há 20 anos havia muito trabalho aqui. Hoje, os jovens não têm chances”, diz.

 

 

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UNIMED FINANCIOU DALLAGNOL, QUE NÃO INCOMODOU CONVÊNIOS

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UNIMED FINANCIOU DALLAGNOL, QUE NÃO INCOMODOU CONVÊNIOS
(Foto: ABr)

Brasil247 – Mais um episódio expõe a partidarização da Operação Lava Jato. O procurador Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba, dará a palestra “A Ética nos negócios em um mundo sob pressão” no dia 30 de outubro,no centro de eventos Expo Unimed, no Paraná, mas ele nunca levou adiante investigações sobre planos de saúde, alvo de delatores. As informações são da Carta Capital.

Na eleição de 2014, a Unimed deu pouco dinheiro ao PT e preferiu os adversários: repassou 620 mil a Aécio Neves, do PSDB, e 500 mil ao PSB, que tinha candidatura própria. Dilma Rousseff, que concorria à reeleição, recebeu nada.

“As entidades médicas foram sócias do impeachment e a Unimed, a despeito de ser uma marca nacional, era o braço econômico dos grupos médicos e tinha interesses ideológicos em bancar a Lava Jato”, afirma uma ex-autoridade do setor de saúde.

O curioso é que, após 2014, o patrocínio do convênio a Dallagnol tem sido frequente. Em 21 de fevereiro deste ano, ele palestrou na unidade da Unimed em Presidente Prudente (SP). Em 2 de agosto de 2018, na de Porto Alegre (RS). Em março de 2017, na de Assis (SP). Em 22 de julho de 2016, na de Vitória (ES).

Convênios e a Lava Jato

Em fevereiro de 2016, o então senador Delcidio Amaral (PT-MS) teve a prisão preventiva revogada após negociar uma delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF), em Brasília. Essa delação tinha um anexo indigesto para os convênios.

De acordo com o anexo, revelado em março de 2016 pela revista IstoÉ, “especial atenção deve ser dada à ANS e Anvisa, cujas diretorias foram indicadas pelo PMDB do Senado, principalmente pelos senadores Eunício Oliveira, Renan Calheiros e Romero Jucá. Jogaram ‘pesado’ com o governo para emplacarem os principais dirigentes dessas agências. Com a decadência dos empreiteiros, as empresas de plano de saúde e laboratórios tornaram-se os principais alvos de propina para os políticos e executivos do governo”.

A ANS é a agência federal que regula os convênios e a Anvisa, os remédios. Seus dirigentes precisam ser aprovados no Senado – daí o poder de Eunício, Calheiros e Jucá.

Esse trio (atualmente apenas Calheiros é senador) foi citado em delação fechada pelo MPF com um ex-dirigente do laboratório Hypermarcas (chamado agora de Hypera Pharma). Segundo o noticiário de junho de 2016, Nelson José de Mello havia dito que a Hypermarcas pagava propina ao trio e que uma das formas de a grana chegar a eles era através de uma banca advocatícia.

A Unimed informou que, na eleição de 2014, “priorizou o apoio a candidatos alinhados às causas cooperativistas, em diversos níveis hierárquicos, independentemente da legenda a qual eram afiliados, sempre em conformidade com a legislação vigente”.

Dallagnol não respondeu sobre sua relação financeira e eventual afinidade política com a Unimed. Esta justificou a contratação das palestras do procurador assim: “É inegável a importância que o combate à corrupção adquiriu nos últimos anos, alavancando o interesse não só dos cooperados, como da sociedade, em geral, pelo assunto e seus partícipes”.

Leia a íntegra da reportagem.