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Ministro sairá de licença não remunerada do cargo para tratar de assuntos particulares, na próxima semana
Rede Brasil Atual – São Paulo – Alvo de diversas denúncias feitas pelo The Intercept, o ministro da Justiça, Sergio Moro, pediu licença não remunerada do cargo ‘para tratar de assuntos particulares’. O afastamento, entre os dias 15 e 19, foi concedido pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL).
Para deputados da oposição, Moro está se escondendo, após as denúncias de ilegalidades cometidas enquanto juiz da Operação Lava Jato. A bancada do PT, por exemplo, questionou o que está por trás do afastamento. “É esquisito. A casa está caindo para ele. Se avolumam as denúncias e suspeitas de que ele agiu de maneira ilegal e pede para tirar uns dias. O que está por trás disso?”, questionou o deputado federal Paulo Pimenta (RS).
Por ter assumido o cargo em janeiro, Moro não tem direito a férias e utilizou o recurso da licença. Durante a ausência de Moro, o secretário-executivo, Luiz Pontel, responderá interinamente pelo ministério.
No último domingo, o The Intercept Brasil e o jornal Folha de S.Paulo divulgaram novos diálogos de Sergio Moro com procuradores da Lava Jato, que indicam uma articulação do ex-juiz federal para vazar dados da delação da Odebrecht sobre a Venezuela, que estava sob sigilo.
A presidenta nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), ironizou em sua conta no Twitter: “Moro vai tirar férias? Como assim, não tem nem um ano de serviço. Ou vai se afastar para ser investigado, o que seria correto?”, questiona. Já a deputada Erika Kokay (PT-DF) destaca que Moro tira férias em meio ao bombardeio da Vaza Jato. “O ministro tem seis meses de trabalho à frente da pasta e já quer férias? Num era o Bolsonaro que dizia que trabalhadores tinham que escolher entre emprego ou direitos?”, provocou.
Recentemente, em entrevista ao Sul21, Lula sugeriu que o ministro da Justiça pedisse afastamento temporário. “Enquanto está sob suspeita, o Moro poderia pedir licença do Ministério da Justiça, e não ficar se escondendo atrás do cargo. Se ele mentiu, precisa ter coragem de assumir o que fez”, disse o ex-presidente.
Escândalo em novo patamar
Em artigo publicado na Revista Cult, nesta segunda-feira, o juiz de Direito e escritor Marcelo Semer diz que as últimas novidades dos vazamentos envolvendo Moro colocam a Vaza Jato em um novo patamar, aumentando a crise envolvendo o ministro. “As conversas levantadas na última reportagem são aterradoras”, diz.
Para ele, a postura de Moro e Deltan mostram que os diálogos não são falsos – eles afirma que as conversas foram adquiridas de “maneira ilegitima” e o conteúdo é “normal”. “Seria um tapa na cara dos juízes e promotores brasileiros dizer que tais comportamentos são normais, rotineiros, cotidianos”, criticou Semer, ao narrar as ações entre o promotor da Lava Jato e Moro. “Se essas comunicações fossem normais, em primeiro lugar, seriam públicas, não reservadas. A reserva, em um instrumento que não é acessível à defesa, mostra que o princípio da publicidade foi o primeiro a ser estilhaçado”, acrescentou ele.
De acordo com o juiz, é impossível assistir em silêncio a “essa afronta como forma de defesa”: a transferência da suspeita de parcialidade dos flagrados na conversa sigilosa a todos os juízes e promotores do país. “Ao mostrar um juiz que dá ordens a todos, que se articula para além de suas competências, que compartilha suas angústias com um dos lados em julgamento, ao qual adere, a situação expõe a todos e fragiliza enormemente a própria ideia de justiça. Normalizar a perversão é fazer pouco da integridade dos milhares de juízes brasileiros”, finalizou Marcelo.
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