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“Já vi muitas imagens de corpos, mas esta me sensibilizou. Você pode ver que o pai colocou a filha dentro da camisa dele para que ela não fosse carregada”, disse a autora da foto
A foto dos corpos sem vida de Óscar e Valeria Martínez afogados nas margens do Rio Grande, na fronteira entre México e Estados Unidos, abalou o mundo nesta semana.
Óscar, de 25 anos, e a filha de apenas 1 ano e 11 meses morreram no último domingo. A imagem dos corpos foi registrada pela jornalista Julia Le Duc e publicada inicialmente no jornal mexicano La Jornada.
A imagem é considerada forte e está publicada no final deste texto.
Óscar e a mulher, Tania Vanessa Ávalos, de 21 anos, decidiram deixar El Salvador no início de abril com a ideia de migrar para os Estados Unidos. O casal teria parentes em Dallas, no Texas, que teriam garantido que conseguiriam emprego por lá.
Sendo assim, Óscar largou o emprego na pizzaria em que trabalhava e foi com a família para o norte. “Implorei para eles não irem, mas ele queria juntar dinheiro para construir uma casa”, disse Rosa Ramírez, mãe de Óscar, à agência de notícias AP.
Segundo Rosa, os três passaram várias semanas no abrigo para migrantes em Tapachula, Chiapas, no sul do México, onde conseguiram um visto humanitário.
Em seguida, foram para o Estado de Tamaulipas, bem na fronteira com os EUA, e ficaram aguardando uma entrevista para pedir asilo político. Frustrados por não conseguirem ser atendidos, decidiram atravessar o rio no último domingo.
“Eles disseram que estavam com medo de como ficaria a situação dos imigrantes com a pressão de Trump”, contou Wendy, irmã de Óscar, ao jornal El Diario de Hoy.
De acordo com o relato de Vanessa, eles foram até as margens do Rio Grande, na altura da cidade de Matamoros, com a ideia de atravessar para a cidade de Brownsville, no estado do Texas. E procuraram um lugar calmo e tranquilo para fazer a travessia.
Óscar atravessou primeiro com a filha em seus braços. Depois de nadar um pouco, chegou à costa americana, onde deixou a menina. Em seguida, voltou para ajudar Vanessa a cruzar o rio. Mas quando estava na metade do trajeto, percebeu que a pequena Angie Valeria havia se jogado na água atrás dele.
Ele voltou então para resgatá-la, mas ambos foram arrastados pela correnteza do rio. Os corpos de Óscar e Angie Valeria foram encontrados na segunda-feira, no momento em que a foto foi tirada.
“O Rio Grande é muito forte. Parece um afluente suave, mas a verdade é que tem muitas correntes e redemoinhos”, disse Julia Le Duc, a fotógrafa que fez a imagem, ao jornal britânico The Guardian.
“Já vi muitas imagens de corpos, mas esta me sensibilizou. Você pode ver que o pai colocou a filha dentro da camisa dele para que ela não fosse carregada”, acrescentou.
A fotografia foi comparada a outras imagens que viraram ícones de tragédias ao redor do mundo – como a do menino Alan Kurdi, refugiado sírio de três anos cujo afogamento causou consternação internacional.
O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, afirmou em sua conta no Twitter que o governo vai assumir as despesas de repatriação dos corpos e custos do funeral.
“Um dia vamos terminar de construir um país em que a migração seja uma opção e não uma obrigação, enquanto isso vamos fazer o que pudermos. Deus nos ajude”, escreveu o presidente.
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