Jornalista e cientista social classificou a cena protagonizada pelo presidente brasileiro como pitoresca: “Com o tiozão do pavê no poder, a vergonha não é uma questão. É oportunidade”
Pragmatismo Político – Eis o problema de ter um tiozão do pavê na Presidência e não só nos nossos encontros em família: ele perde a compostura das relações diplomáticas, mas não perde a piada.
Os nossos tiozões dos domingos chegam a se emocionar de tanto orgulho. Suas piadas são agora transmitidas para o mundo. Não há definição melhor de empoderamento.
Assim como o presidente, o tiozão do pavê não aparece em nossas mesa por geração espontânea. Ele e suas piadas constrangedoras são resultado de anos e anos de conversa furada sobre a superioridade masculina, na qual o pênis tem um valor simbólico de poder e prestígio.
“O tio do pavê, para quem não está familiarizado com o doce, é aquele parente que todo domingo aparece na sua casa e pergunta o que tem na geladeira. Se tiver pavê, esquece: a piada virá.
Em seu blog, Pichonelli continua:
Eis o problema de ter um tiozão do pavê na Presidência e não só nos nossos encontros em família: ele perde a compostura das relações diplomáticas, mas não perde a piada.
Os nossos tiozões dos domingos chegam a se emocionar de tanto orgulho. Suas piadas são agora transmitidas para o mundo. Não há definição melhor de empoderamento.
Assim como o presidente, o tiozão do pavê não aparece em nossas mesa por geração espontânea. Ele e suas piadas constrangedoras são resultado de anos e anos de conversa furada sobre a superioridade masculina, na qual o pênis tem um valor simbólico de poder e prestígio.
“O tio do pavê, para quem não está familiarizado com o doce, é aquele parente que todo domingo aparece na sua casa e pergunta o que tem na geladeira. Se tiver pavê, esquece: a piada virá.
Como o próprio apelido já diz, é ele quem se dispõe a perguntar se a iguaria é pavê ou pacumê. Ele sabe que todo mundo conhece a piada. Sabe que ninguém aguenta mais.
Sabe que ninguém vai rir. Ele se coça e chega a tremer de abstinência no instante em que as papilas gustativas ainda separam pensamento e ação.
O tio do pavê é mais que um estilo: é uma identidade visual. Seria uma filosofia de vida, se ele tivesse qualquer afinidade com a filosofia.
Enquanto tem pavê tem verbo, e ele não costuma economizar oportunidades de desfilar seu abecedário de piadas-prontas para disfarçar seu desinteresse com qualquer assunto que exija um raciocínio mais profundo que um pires.
Se acabar o pavê, ele pensa, todos à mesa vão perceber o seu deserto de ideias.
Então ele aponta o dedo para todo mundo como quem se desvia dos olhares: aponta para a sobrinha que não arrumou namorado, para a sexualidade do sobrinho, para as limitações físicas do cunhado, para o peso da irmã, para as rugas e estrias da atriz convidada do Faustão.
Historicamente, esse tio ou não era levado a sério ou se recolhia chateado no fundo do chinelo Rider, atribuindo ao mimimi e ao politicamente correto toda a sua incompreensão.
De um tempo para cá, esses tiozões descobriram que eram uma legião e se conectaram por aplicativos de mensagem instantânea, por onde enviam piadas sem graça, pornografia barata e maldizem os grupos sociais que passaram a ocupar os espaços de prestígio que eles imaginavam serem deles por direito. Tipo a universidade, aquele cabedal de balbúrdia para o qual não foram chamados.
Os tiozões do pavê deixaram de vagar como alma penada do universo da insignificância e encontraram, no vácuo político, mais que um sentido: encontraram um mito.
Alguém que, como os futuros tiozões do pavê que aproveitaram o desconhecimento da língua portuguesa de uma russa durante a Copa para gravarem e exporem sua piada sobre a cor de seu órgão genital, não perderia a chance de trollar um estrangeiro oriental que pedisse para fazer foto com ele no aeroporto.
Com o tiozão do pavê no poder, a vergonha não é uma questão. É oportunidade.”
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