Josias de Souza – Uol
Carlos Bolsonaro fala de tudo e de todos nas redes sociais. Que o diga o general Hamilton Mourão. Por um desses mistérios da vida, Carlucho só não fala de dona Nadir Barbosa Goes. É uma pena, pois muitos esperavam que o ‘Zero Dois’ postasse meia dúzia de palavras na web sobre a passagem da veneranda senhora pela folha salarial do seu gabinete na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
Dona Nadir recebia contracheque mensal de R$ 4.271. No papel era “oficial de gabinete”. No mundo real, não dava as caras no gabinete. Sua presença foi abonada por Carlucho. Mas ela diz que nunca trabalhou para ele. Alcançada em casa, mandou um recado para o filho predileto de Jair Bolsonaro: “Fala com o vereador que eu não sei de nada”.
Deve-se às repórteres Ana Luíza Albuquerque e Catia Seabra a descoberta de dona Nadir. A dupla noticiou a existência dela na sexta-feira. Decorridas mais de 48 horas, Carlucho não havia se manifestado até a manhã deste domingo. Bem verdade que Jorge Luiz Fernandes, chefe de gabinete do vereador, já disse qualquer coisa. Mas suas explicações não fizeram nexo.
Jorge Luiz contou que Nadir, moradora de Campo Grande, na zona Oeste do Rio, integrava um grupo de funcionários que derramava suor longe do gabinete, entregando correspondências e recolhendo reivindicações de eleitores do vereador. Chefiava esse grupo o irmão de Nadir, Edir Barbosa Goes. Compunha o mesmo grupo a mulher de Edir, cunhada de Nadir, Neula de Carvalho Goes.
Nadir e Neula foram demitidas nas pegadas da chegada de Jair Bolsonaro ao Planalto. Edir continua na folha. E Jorge Luiz: “Todos aqui trabalham o dia todo. Nós aqui trabalhamos de segunda à sexta, de 9h até a hora de acabar o expediente do vereador. Todo mundo.” A alegação é engraçada e ofensiva.
Nadir tem 70 anos. Edir, 71. Neula, 66. O chefe de gabinete diverte a plateia ao declarar que essa trinca tem vitalidade para bater perna “o dia todo”. Jorge Luiz ofende a inteligência alheia ao pedir que as pessoas acreditem que Carlucho, um personagem que se jacta de ter guindado o pai ao Planalto a partir das redes sociais, comunica-se com seus eleitores pela via medieval das cartas.
A família Bolsonaro cultiva dois estranhos hábitos:1) Por onde passam, Bolsonaro e sua prole penduram no bolso do contribuinte funcionários que recebem verba pública como se fosse dinheiro grátis. 2) Pilhados, não conseguem fornecer ao contribuinte explicações que fiquem em pé.
Não tendo nada a dizer, Carlucho se absteve de demonstrar seu vácuo ético em palavras. Se você esperava mais de um personagem que mantém no bolso do colete um post para cada ocasião, tenha calma. Não desanime. O domingo é longo. O ‘Zero Dois’ decerto está coçando os dedos para responder à provocação de dona Nadir. “Fala com o vereador que eu não sei de nada”. Ninguém fica impune depois de falar nesse tom com Carlos Bolsonaro, dono dos dedos mais rápidos do saloon.