Um homem que durante anos foi braço direito do cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta, admitiu participar de esquema de corrupção na Saúde do governo Sérgio Cabral e se tornou delator premiado. O ex-padre Wagner Augusto Portugal, um dos colaboradores da Operação S.O.S., desdobramento da Lava Jato no Rio, confessou sua participação no desvio de R$ 52 milhões dos cofres estaduais envolvendo contratos da Secretaria de Estado de Saúde do Rio com a organização social católica Pró-Saúde em 2013. Uma das linhas de investigação da força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) no Rio apura se parte dessa propina bancou despesas pessoais de sacerdotes.
O delator, diretor de Relações Institucionais e de Filantropia da Pró-Saúde, frequentava o Palácio São Joaquim, residência oficial de Dom Orani, e tratava o arcebispo com intimidade, chamando-o de “você” — muito distante do protocolar “Eminência” reservado aos demais cardeais. Afastado do sacerdócio pelo Vaticano por desobediência, a pedido do bispo de Juiz de Fora, Dom Gil Antônio Moreira, Portugal acompanha os passos de Dom Orani desde que ele foi eleito bispo da Diocese de São José do Rio Preto, em São Paulo, em fevereiro de 1997. A entrada de Wagner Portugal nos negócios com a saúde pública, de acordo com investigadores, ocorreu em Belém, no Pará, quando o cardeal atuava como arcebispo da capital paraense, entre 2004 e 2009. Apoiado pelo amigo, o ex-padre assumiu a gestão de seis hospitais públicos paraenses.