Em conversa gravada, prestador de serviço disse que atuou em desvio de campanha de Bivar; deputado nega
O dono de uma empresa da região metropolitana do Recife que prestou serviços para a campanha do deputado federal de Luciano Bivar, atual presidente nacional do PSL, admitiu em uma conversa gravada ter participado de um esquema que desviou verba pública na corrida eleitoral de 2018.
Luiz Claudio Cordeiro Palhares Junior, dono da Collossu’s Empreendimentos, de Abreu e Lima (PE), disse, sem saber que estava sendo gravado por um político do estado, ter devolvido à campanha de Bivar ao menos R$ 30 mil declarados como gasto eleitoral.
A Folha assistiu ao vídeo com as declarações dele registradas durante a campanha.
O esquema, segundo Palhares relatou na gravação, foi feito da seguinte forma: a pedido de um ex-vereador aliado de Bivar, ele rodou R$ 8.000 em materiais gráficos, mas emitiu nota no valor “de R$ 38 mil para ele pegar os R$ 30 mil”.
O serviço feito pela empresa de Palhares está na prestação de contas de Bivar no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), no valor de R$ 41.602,68. Procurado, o deputado disse que as contas de sua campanha foram aprovadas pela Justiça Eleitoral e que desconhece a situação descrita pela Folha.
De acordo com a discriminação da nota fiscal da Collossu’s Empreendimentos, foram confeccionados 200 perfurados, 1.200 adesivos, 100 mil santinhos, 60 mil praguinhas, 700 bandeiras e 300 camisas para a “campanha do candidato a deputado federal Luciano Bivar nas eleições 2018”.
O custo do serviço foi de R$ 36.176,25; os impostos, R$ 5.426,43.
Na gravação a que Folha teve acesso, o político autor da gravação pergunta o que a empresa seria capaz de rodar e, após dez segundos em silêncio, Palhares responde: “Tu pode fazer o seguinte, como eu fiz lá com o cara: ele rodou cerca de R$ 8.000 em material e tirou R$ 38 [mil] de nota, entendeste?”.
O dono da empresa diz que fez um “acerto financeiro” com o dinheiro do fundo eleitoral e, em seguida, explica em detalhes o esquema: “Ele fez um material dele, com uma marca dele também ‘Bob Esponja apoia Luciano’ e ele só fez R$ 8.000, só que na nota eu justifiquei R$ 38 [mil] para ele pegar os R$ 30 mil, entendeste? Aí eu botei os R$ 38 [mil] mais o imposto.”
Na manhã desta segunda (25), Palhares afirmou inicialmente que desconhecia o teor do diálogo gravado.
Ao ser questionado novamente pela Folha, informou depois que poderia ter conversado sobre o assunto, mas alega que não admitiu irregularidades. “Se eu falei algo do assunto é porque pode ser que eu tenha dito que já tinha rodado os R$ 8.000 e faltava rodar o resto. Até porque a nota do material que eu tirei foi de R$ 42 mil”, justificou.
Segundo o empresário, todo o material foi confeccionado e entregue. “Foi rodado 100%.”
Nesta segunda, a Folha esteve na rua Imbiriba, 25, em Abreu e Lima, onde consta, na nota fiscal, como sendo o endereço da Colossu’s.
Não havia ninguém no local. Paralhares iniciou a mudança de endereço da empresa no último dia 22. O escritório dele funciona em Olinda. “Este endereço era o da minha casa, usado apenas para receber correspondências.”
O empresário disse que a parte de impressão de propaganda política é toda terceirizada. O material contratado por Bob Esponja, afirmou ele, foi rodado na Graff Center – Gráfica Rápida, localizada no centro de Abreu e Lima.
Palhares disse que não pediu à gráfica a nota fiscal pelo serviço contratado. “Eu terceirizo e faço as coisas mais baratas para ganhar o serviço. Ele já faz para mim sem emitir nota fiscal. Eu não pedi a nota porque ele estava executando um serviço para mim.”
A Folha esteve às 10h30 desta segunda na Graff Center, mas a empresa estava fechada. Vizinhos informaram que o estabelecimento não abre todos os dias. A Folha ligou para o telefone do dono, mas as ligações não foram atendidas.
A Colossu’s tem 13 anos no mercado e um leque amplo de serviços. O foco principal é a produção de eventos, mas, entre outras atividades, realiza montagem de palco, contratação de artistas, impressão de material gráfico e locação de veículos. Dados do TSE mostram que, além da campanha de Bivar, a Colossu’s só prestou mais um servição durante a eleição de 2018.
O diretório estadual do PSL de Pernambuco contratou a empresa por R$ 45,8 mil para organizar uma estrutura de recepção ao então candidato Jair Bolsonaro (PSL) durante a campanha presidencial.
Apontado por Palhares como o contratante do serviço, Bob Esponja é Ernades Bob, ex-vereador e hoje presidente do PSL em Igarassu, a 27 Km do Recife. Afilhado político de Luciano Bivar, ele é apontado como uma das apostas do partido para disputar a prefeitura da cidade em 2020.
Em suas redes sociais, Bob exalta a relação com Bivar. Ele esteve em Brasília no dia 1º de fevereiro para acompanhar a posse dos novos deputados.
No início deste mês, reportagem da Folha revelou que o PSL criou uma candidatura laranja em Pernambuco. Maria de Lourdes Paixão, ligada a Luciano Bivar há mais de 30 anos, recebeu do partido R$ 400 mil de dinheiro público na eleição de 2018.
Ela teve apenas 274 votos e diz ter gasto R$ 380 mil em uma gráfica aparentemente de fachada. Lourdes foi a maior beneficiada com verba do PSL em todo o país, mais do que Bolsonaro e a deputada Joice Hasselmann (SP).
O dinheiro do fundo partidário do PSL foi enviado pela direção nacional da sigla para a conta da candidata quatro dias antes da eleição. Na época, Gustavo Bebianno, demitido por Bolsonaro, era presidente do partido.