Para Christian Lynch, da Uerj, Bolsonaro tenta criar a ilusão de que tem “o povo” do seu lado incentivando manifestações a seu favor e usando redes sociais. No entanto, isso vem caindo por terra, opina ele.
As manifestações contra o governo de Jair Bolsonaro (sem partido), pela democracia e contra o fascismo e o racismo que ocorreram ontem mostraram que o presidente “não é dono das ruas”, avaliam especialistas ouvidos pela BBC News Brasil. Grupos que apoiam o governo vêm fazendo desde março manifestações com pedidos pelo fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal.
O presidente costuma aparecer nos atos, sem repudiar suas mensagens antidemocráticas. Neste domingo, parte da oposição foi às ruas, apesar de a preocupação com o contágio do coronavírus e possíveis conflitos violentos terem dividido esses grupos contrários ao governo. Atos aconteceram em diversas cidades, sendo os maiores em Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. Alguns opositores do governo argumentavam que confrontos entre manifestantes a favor e contra Bolsonaro poderiam ser usados como motivo para reações autoritárias da parte do governo.
No entanto, os atos acontecerem sem grandes conflitos. Para analistas ouvidos pela reportagem, os atos mostraram que, “se houver embate, vai haver gente na rua defendendo a democracia”, nas palavras de Luciana Gross, professora da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas.
“Bolsonaro é um populista de ultradireita. Uma das pedras de toque é vender ilusão de que existe povo verdadeiro contra povo falso. Isso é comum tanto na extrema direita quanto na extrema esquerda. (Ele tenta passar a imagem de que) povo é quem está do lado dele. O resto, a oposição, não é povo. Mas o fato é que cada vez menos gente é arrebanhado pelo governo. A pandemia radicalizou seu grupo, mas unificou o outro lado. E daqui para frente ele vai perder a rua”, projeta Lynch….