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Em São Paulo, cerca de 5 mil manifestantes foram à Avenida Paulista protestar / Foto: Nacho Lemos
Cortes de verbas no ensino superior, programa Future-se e defesa da Petrobras foram alguns dos temas dos protestos
Redação | Brasil de Fato | São Paulo (SP) – Os cortes na Educação promovidos pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL) foram alvo de protesto de milhares de manifestantes que foram às ruas do país, nesta quinta-feira (3). Neste ano, o Ministério da Educação anunciou dois cortes expressivos no orçamento. O primeiro de R$ 5,8 bilhões e o segundo de R$ 348 milhões.
Durante a semana, outros movimentos já haviam se manifestado em defesa das bolsas da Capes e do CNPQ e contra o programa Future-se, de viés privatizante, com o qual o governo federal promete oferecer autonomia orçamentária para as unidades públicas de ensino superior.
A jornada de lutas dos estudantes e trabalhadores começou na última quarta-feira (2), com reuniões, encontros e aulas abertas em diversas universidades país afora para discutir a política do atual governo para o setor.
Nesta quinta-feira, em São Paulo, cinco mil manifestantes, de acordo com os organizadores, se reuniram na avenida Paulista, região central da capital paulista, e caminharam até a Praça Roosevelt, onde o ato foi encerrado. Petroleiros e trabalhadores dos Correios também estiveram no ato, protestando contra a privatização das duas estatais.
“A Petrobras é extremamente importante para a Educação, os royalties do petróleo vão para a Educação. É isso que permite que diversas universidades pensem seu desenvolvimento. A Petrobras é uma estatal essencial para pensar o desenvolvimento do país”, afirma Pedro Pera, da executiva da União Nacional dos Estudantes.
Em Minas Gerais, o ato saiu da Praça Afonso Arinos e seguiu até a Praça Sete, no centro de Belo Horizonte. Professores, funcionários e estudantes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) cruzaram os braços durante dois dias.
Em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, mesmo com muita chuva durante toda a tarde, os manifestantes se concentraram na Esquina Democrática, tradicional ponto de protestos na capital gaúcha.
Professores e alunos de 6 campus diferentes do Instituto Federal de Brasília (IFB) ocuparam a reitoria da instituição em protesto contra o projeto Future-se. Os manifestantes alegam que marcaram uma reunião com a reitora da entidade, Luciana Massukado, mas ela não compareceu ao encontro.
Servidores e alunos da Universidade Federal de Alagoas se uniram para protestar contra os cortes na Educação. A manifestação partiu da praça Centenário, no Farol, e seguiu até o centro. O ato chegou a fechar todas as vias da Avenida Fernandes Lima.
Além de estudantes, professores e funcionários de instituições públicas de ensino, o Movimento Atingidos por Barragens (MAB) também esteve na manifestação em Rondônia. Além dos cortes na Educação e as privatizações, os manifestantes, que se concentraram na capital Porto Velho, também protestaram contra o aumento de 25% na conta de energia, promovida pela Energisa no estado.
Pará
Em Belém do Pará cerca de 500 pessoas se reuniram a partir das 17h, em frente ao mercado de São Braz, para protestar contra o projeto de privatizações do governo de Jair Bolsonaro (PSL). Na lista de privatizações do governo e completando 66 anos de história nesta quinta, a defesa Petrobras foi um dos temas abordados pelos manifestantes.
Para o administrador e funcionário da Petrobras, Bruno Terribas, 33 anos, uma possível venda da estatal prejudicará o país. “É um dia de luta pela soberania nacional e falar de soberania é falar de soberania energética, de soberania da educação, da ciência. Então, aqui em Belém a gente construiu esse ato em uma frente com vários movimentos, incluindo os sindicatos e empregados das estatais“, argumenta.
A bióloga Ana Carolina acredita que ocupar as ruas e denunciar as iniciativas do governo é a única forma de tentar frear os desmontes. “As nossas principais reivindicações são contra as privatizações que estão ocorrendo no nosso país. Contra a reforma da previdência, contra o Future-se também que é um projeto de privatização das universidades e hoje nós viemos fazer as denúncias desses malefícios que vêm ocorrendo com esse descaso. Então esse é o momento da gente se reunir e fazer essas denúncia aqui no nosso estado também”, assinala.
Curitiba em defesa da Petrobras
Petroquímicos, petroleiros, apoiadores, professores, sindicatos e estudantes realizaram atividades no Paraná durante o dia.
Às 7h30, organizações pararam a entrada das fábricas Fafen Fertilizantes e Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), localizadas na região metropolitana de Curitiba. A atividade celebrou com um corte de bolo os 66 anos da Petrobrás, ao mesmo tempo em que denunciou o desmonte da empresa pública.
Gerson Castellano, diretor da Federação Única dos Petroleiros (FUP), afirma que o atual governo quer colocar a empresa em situação de “hibernação”, “desmontando unidades como a Fafen no Paraná e a unidade no Espírito Santo”.
Já Anacelie Azevedo, diretora do Sindicato dos Petroleiros (Sindipetro) do Paraná e Santa Catarina, lembra como a Pretobrás tem papel fundamental de investimento em setores estratégicos para a soberania nacional. “A empresa é responsável por investimentos em tecnologia, pela possibilidade de investimento de 10 por cento do PIB [Produto Interno Bruto] na Educação, que é a nossa meta”, afirma.
O ato contou com a presença de setores terceirizados, 11 sindicatos petroleiros de diferentes estados brasileiros e também trabalhadores da Transpetro.
Durante a tarde, José Maria Rangel, coordenador geral FUP, visitou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba.
Do lado de fora, na Vigília Lula Livre, petroleiros fizeram um ato político em defesa do petróleo e uma roda de conversa sobre a importância da Petrobrás para o Brasil. A estatal brasileira é a sétima maior produtora mundial de petróleo, com 1,9 milhões de barris diários. Segundo dados do Instituto de Estudos Estratégicos do Petróleo (Ineep), cada R$ 1 bilhão investido na Petrobrás se reverte em R$ 1,28 bilhão no Produto Interno Bruto (PIB) nacional e gera 30 mil postos de trabalho.
Ao final do ato na Vigília Lula Livre, os petroleiros uniram-se ao ato em defesa da Educação, que aconteceu na Praça Santos Andrade, no Centro de Curitiba.
Rio de Janeiro
Dois protestos agendados no Rio de Janeiro para o início da noite se uniram em uma só manifestação com milhares de pessoas. Os atos – convocados como parte do dia de mobilizações para reivindicar por Educação e contra a decisão do governo Bolsonaro de privatizar 17 empresas públicas – se concentraram em frente à Candelária, na região central. Cerca de 20 mil pessoas saíram em caminhada até o edifício sede da Petrobras.
O presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Iago Montalvão, explica que os protestos foram unificados porque são pautas que estão diretamente relacionadas.
“Construímos a ‘Greve Geral da Educação’, nos dia 2 e 3, como mais uma denúncia e forma de resistência aos ataques que tem acontecido. No aniversário da Petrobras achamos que poderíamos conectar as lutas porque falar de Petrobras é falar de soberania, também dos recursos do pré-sal que deveriam ser destinados à Educação mas estão sendo entregues a empresas estrangeiras. Soberania e educação são pautas urgentes para o nosso país”, afirmou ao Brasil de Fato.
Quando os manifestantes saíram em caminhada até a sede da Petrobras, puxando o ato com uma faixa que dizia “Luto pelo Brasil” estavam os parlamentares Gleise Hoffmann (PT), Jandira Feghali (PCdoB), Benedita da Silva (PT), também os ex-senadores Roberto Requião (MDB) e Lindberg Farias (PT). Antes de chegar ao edifício sede da Petrobras, os manifestantes fizeram paradas estratégicas em frente as sedes da Eletrobras e da Caixa Econômica Federal, duas estatais que também estão na mira da privatização do governo Bolsonaro.
Ao microfone, em cima do carro de som, a deputada federal Jandira Feghali destacou a importância do protesto no dia de aniversário de 66 anos da Petrobras. Neste ano, a maior estatal do país completa mais um ano em meio ao desmonte com a venda de refinarias e distribuidoras.
“É um orgulho estar na frente da Petrobras hoje. O Brasil é muito maior do que esses governos que estamos tendo. Por mais que tentem destruir o que é nosso, não vão conseguir, vamos defender nosso patrimônio. Eles não conhecem nossa capacidade de luta. Nós vamos responder à altura. Esse ato é em defesa da nossa história, da nossa raiz e da nossa identidade”, disse a parlamentar.
Logo após a faixa segurada pelos parlamentares, estava o primeiro bloco da manifestação formado por petroleiros e funcionários da Petrobras. Edmilson Carmelito era um deles. Integrante do Sindicato dos Petroleiros do Litoral Paulista (Sindipetro-LP), ele saiu de Caraguatatuba (SP) para participar da manifestação no Rio de Janeiro.
“Privatizar as estatais é vender o patrimônio público para empresários. Essa ideia de que barateia serviços é uma mentira, podemos ver o exemplo da telefonia e tantos outros. Eles querem apenas lucrar, não tem interesse igual a maioria da população. Estamos na mira de um governo que está acabando com as garantias que conquistamos. Se a gente não barrar isso, vamos perder tudo”, afirmou Edmilson.
Edição: Rodrigo Chagas