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Uma plataforma petrolífera de Aramco, neste domingo cerca de Riad. | FAYEZ NURELDINE (AFP)
El País |ÁNGELES ESPINOSA | Dubai
Segundo observadores, o risco será maior se os EUA adotarem represálias contra o Irã
Com a reabertura de alguns mercados finaceiros, os preços do petróleo dispararam entre 15% e 20% após o ataque de drones a duas instalações importantes da petroleira saudita Aramco neste fim de semana. A ação afetou mais da metade da produção de petróleo na Arábia Saudita. Os preços do petróleo crude avançaram mais de oito dólares e chegaram a 63 dólares por barril na noite deste domingo. A alta no preço do brent foi ainda maior. O barril atingiu 71,95 dólares após aumentar quase 12 dólares, um avanço de 19% na abertura do mercado de Cingapura, segundo dados da Bloomberg. Embora os altos funcionários do reino tenham procurado tranquilizar seus clientes, dizendo que o volume vai se recuperar logo, os analistas temem que a volta aos 10 milhões de barris diários extraídos pela estatal Aramco poderia levar semanas ou até meses.
A Arábia Saudita é o maior exportador mundial de petróleo, fornecendo cerca de 10% das necessidades globais. Isso significa que o corte de 5,7 milhões de barris diários, segundo dados oficiais, equivale a quase 6% do consumo mundial, o que mostra a envergadura do problema. Javier Blas, correspondente-chefe de Energia da agência Bloomberg, disse no Twitter não se lembrar de uma perda dessa envergadura no volume de petróleo da noite para o dia desde a invasão do Kuwait pelas tropas iraquianas de Saddam Hussein, em 1990.
Tanto o ministro saudita da Energia, o príncipe Abdulaziz bin Salman, como a Agência Internacional de Energia (organismo independente) destacaram a existência de estoques para cobrir os compromissos do reino. De acordo com dados de junho passado, a Arábia Saudita dispõe de 188 milhões de barris armazenados, que serviriam para suprir a demanda do mercado durante semanas. Os Estados Unidos ofereceram suas reservas para garantir o abastecimento mundial.
Segundo o jornal econômico Financial Times, Riad está em contato com vários membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) caso seja necessário aumentar temporariamente a produção até que o reino restabeleça a sua. Existe margem porque, desde o final de 2016, sob impulso saudita, seus membros limitaram o volume de petróleo que sai para o mercado a fim de elevar o preço.
O problema é que não se sabe o alcance real dos danos causados pelos incêndios provocados pelo ataque dos rebeldes houthis do Iêmen. Todas as atenções se voltam à abertura das Bolsas asiáticas nesta segunda-feira. Meia dúzia de analistas consultados pela Reuters concordam, a grosso modo, sobre um aumento inicial de até 10 dólares no preço do barril a partir dos 60 (240 reais) dólares fechados na sexta, podendo chegar aos 100 dólares (400 reais) se o problema não for resolvido no curto prazo (entre um e três meses).
Mas Nick Butler, especialista em política energética internacional citado pela BBC, adverte que o efeito poderia ser breve. “Durante os últimos anos, o mercado se ajustou rapidamente à perda, por motivos políticos, de mais de dois milhões de barris diários da Venezuela e do Irã”, recorda.
A Bolsa de Riad, o maior mercado árabe, abriu neste domingo, primeiro dia da semana do reino, com uma queda de 3%. Mas logo se recuperou para fechar com apenas 1,05% de perda.
A preocupação dos observadores não é tanto o ritmo da volta à produção, mas a possibilidade de que os ataques alimentem as tensões regionais – que poderiam disparar os preços mais a longo prazo. Todas as análises ressaltam o entorno da agressão: a disputa entre os EUA e o Irã. A Arábia Saudita é o principal aliado árabe do presidente norte-americano, Donald Trump, e apoiou sem pestanejar sua política de “máxima pressão” contra os iranianos para obrigá-los a renegociar o acordo nuclear de 2015 e reduzir sua influência no Oriente Médio.
As declarações do secretário de Estado, Mike Pompeo, culpando o Irã do ataque fizeram lembrar que há apenas três meses Trump esteve a ponto de bombardear o país. Uma represália desse tipo teria muito mais impacto sobre o preço do barril e, eventualmente, sobre o que o consumidor paga por um litro de gasolina.
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