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Registro de operação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente que apreendeu 1.388 cabeças de gado, no sudoeste do Pará / Foto: Ibama
Alto consumo de carne no Brasil e no mundo, associado a técnicas arcaicas de produção, leva à derrubada da floresta
Catarina Barbosa | Brasil de Fato | Belém (PA) – O museu Emílio Goeldi, em Belém do Pará, é o segundo maior museu de história natural do Brasil. Nesta quinta-feira (5) o espaço sediou uma atividade relacionada ao Dia da Amazônia, comemorado na data de hoje. No evento, pesquisadores da instituição apresentaram o resultado de seus estudos sobre os impactos da ação do homem para a floresta, incluindo a relação entre o desmatamento e as queimadas.
A programação começou às 9h com visita guiada à exposição “Transformações: a Amazônia e o Antropoceno”, que mostra como o homem modificou a floresta e também as formas como essa mudança foi realizada ao longo dos séculos. Em seguida as pesquisadoras Ima Vieira e Marlucia Martins e o pesquisador Denny Moore fizeram apresentações sobre a temática desmatamento, no auditório Alexandre Rodrigues Ferreira.
Ima Vieira afirma que 80% do desmatamento na Amazônia está associado à pecuária (Foto: Catarina Barbosa)
Segundo a ecóloga e ex-diretora do museu Ima Vieira, 80% do desmatamento na região é feito em decorrência da atividade. Ela lembra que o fogo é empregado em atividades agrícolas para limpar o terreno. No caso da pecuária, para abrir espaço para o gado.
“Pelos dados do TerraClasse, que é um programa de monitoramento das áreas que já foram abertas, feito pelo Inpe [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais] e pela Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária], nessas áreas se colocam espécies de gramíneas, forrageiras, capim para introduzir o gado. Somos [o Pará] um dos maiores produtores de gado do Brasil. A pecuária é o principal uso da terra associado ao desmatamento e isso é para produzir carne para a gente comer. Isso só pode remeter a uma avaliação nossa de modos de consumo, mas a população brasileira e mundial consume muita carne. Então, está se produzindo carne onde antes era floresta”, afirma.
Com relação às queimadas, segundo dados do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), 33% das queimadas foram realizadas em terras privadas, ou seja, que já contam com o cadastro ambiental rural (CAR). Outros 20% queimaram em terras públicas não destinadas, 18% em programas de assentamentos, e 10% em áreas de destinação fundiária.
A pesquisadora fez ainda um alerta quanto ao uso da terra. Segundo ela, a cada 10 hectares da Amazônia seis viram pasto; três são abandonados; e um vira agricultura.
Queimadas x incêndios
Veira esclarece também que há uma diferença entre queimada e incêndio. Os indígenas, por exemplo, já preparavam a terra para a agricultura, por meio da coivara, técnica que consiste no corte, derrubada e queima da floresta nativa para o plantio de arroz, milho ou feijão. Contudo, nas ações realizadas na Amazônia hoje pode-se dizer que há uma perda do controle do fogo, explica a pesquisadora.
—As queimadas fazem parte de um sistema de produção agrícola de milhares de anos. Os indígenas praticam as queimadas para fazer suas roças, os caboclos. E mais ultimamente, com a abertura das estradas e os projetos de colonização, o fogo tem sido utilizado tanto para queimar, quanto para limpar e abrir áreas para a agricultura e pecuária, principalmente. Então, o fogo é utilizado todos os anos em todas essas áreas que têm essas atividades agropecuárias. Mas quando você tem uma condição de perda de controle do fogo, aí você tem os incêndios, isso é mais preocupante, porque áreas de floresta podem ser incendiadas depois que tiveram uma exploração predatória de madeira, por exemplo, onde fica muito material combustível—, afirma.
Edição: Rodrigo Chagas
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