.
Ex-prefeita de Campos dos Goytacazes, Rosinha Mattheus, o ex-governador Anthony Garotinho sao vistos durante convencao do Partido Republicano para decidir as candidaturas nas eleicoes 2010, na sede do PR, no centro do Rio, em 20 de junho 2010 Imagem: Rafael Andrade/Folhapress
Gabriel Sabóia Do UOL, no Rio – Os ex-governadores do Rio de Janeiro Anthony Garotinho e Rosinha Matheus embolsaram, juntos, mais de R$ 25 milhões em propina da empreiteira Odebrecht, através de contratos celebrados com a Prefeitura de Campos dos Goytacazes, no norte fluminense, informou hoje o MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro). O casal foi preso na manhã de hoje em operação da promotoria.
A construtora foi responsável pela construção de casas populares dos programas “Morar Feliz I” e “Morar Feliz II” durante os dois mandatos de Rosinha como prefeita da cidade, entre os anos de 2009 e 2016. De acordo com o MP-RJ, as obras teriam custado no total mais de R$ 1 bilhão.
A promotora Simone Sibilio, coordenadora do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de combate ao Crime Organizado) do MP-RJ, explicou que os superfaturamentos dos dois contratos somam R$ 62 milhões. Os valores que chegaram ao casal foram repassados por meio de “transportadores desse dinheiro vivo”.
“A Odebrecht tinha, em funcionamento, um setor de ‘Operações Estruturadas’, pelo qual diversos pagamentos eram autorizados e executados através de um transportador. Esse transportador levava o dinheiro em espécie ao casal. Nas planilhas de propina da Odebrecht, Anthony Garotinho era conhecido como ‘Bolinho’, ‘Bolinha’ e ‘Pescador'”, detalhou a promotora.
Subsecretário de governo entre os presos
Além de Anthony e Rosinha, foram presas outras três pessoas apontadas como transportadoras de valores: Sérgio dos Santos Barcellos, que teria sido intermediário das negociatas em 2008, Angelo Gomes, que teria trabalhado para o casal em 2012, e Gabriela Quintanilha, que teria exercido a função em 2014. Barcellos ocupa atualmente o cargo de subsecretário estadual de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos.
A promotora destacou que esta é a quarta vez que o ex-governador Garotinho é preso e que mantê-lo detido é um “desafio”. ” O MP já mostrou necessidade da prisão em manutenção. Cabe ao poder judiciário a manutenção desta prisão”, ressaltou.
Para o advogado do casal, Vanildo José da Costa Júnior, a prisão “é absolutamente ilegal, infundada e se refere a supostos fatos pretéritos”. Além disso, argumenta estranhar que o MP aponte superfaturamento nas obras se a Odebrecht move ação em que diz ter sofrido prejuízo. A defesa, que promete recorrer da decisão, disse lamentar o que chama de “politização do judiciário”.
Em nota, a Odebrecht informou que tem colaborado de forma permanente e eficaz com as autoridades para esclarecer fatos do passado. A reportagem tenta localizar a defesa dos demais citados.
É a quarta vez que Garotinho é preso e a segunda de Rosinha —o ex-governador foi preso pela primeira vez em 2016 por suspeita de compra de votos e, em 2017, por suspeita de fraude eleitoral (setembro) e suspeita de repasses irregulares para campanha eleitoral (novembro). O casal nega todas as acusações e tem afirmado que é alvo de perseguição política.
Suspeita revelada em delação da Lava Jato
De acordo com o MP, o esquema foi revelado após declarações prestadas ao MPF (Ministério Público Federal) por Leandro Andrade Azevedo e Benedicto Barbosa da Silva Junior, executivos da Odebrecht, em acordo de delação fechada no âmbito da Operação Lava Jato.
Segundo o MP, verificou-se que os procedimentos de licitação para a construção das moradias foram direcionados para que a Odebrecht saísse vencedora. Somadas, as licitações ultrapassam R$ 1 bilhão. “As contratações foram superfaturadas e permeadas pelo pagamento sistemático de quantias ilícitas, em espécie, em favor dos ex-governadores”, diz o órgão em comunicado divulgado.
…..