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Fazendeiro conhecido como “Taradão” foi condenado pelo assassinato de Dorothy Stang / EBC
“Taradão” foi condenado pela morte da missionária e cumpre pena em presídio que foi palco de chacina no dia 29 de julho
Igor Carvalho | Brasil de Fato | São Paulo (SP) – A diretora do Centro de Recuperação de Altamira (CRRALT), Patricia Nazira Abucater Wal, advogou para o fazendeiro Regivaldo Pereira Galvão, conhecido como “Taradão”, que cumpre pena na unidade pelo assassinato da missionária estadunidense Dorothy Stang. O presídio, no Sudoeste do Pará, é o mesmo onde 58 presos foram brutalmente assassinados há pouco mais de duas semanas, no dia 29 de julho.
Stang foi morta com seis tiros pelas costas no quintal da sua casa em 2005, na cidade de Anapu (PA). Um dos tiros atingiu a cabeça. Ela tinha 73 anos de idade e era reconhecida por sua luta contra os latifundiários da região. Taradão foi condenado a 30 anos de prisão como um dos mandantes do crime.
O Brasil de Fato procurou a Superintendência do Sistema Penitenciário do Pará (Susipe) para tentar uma entrevista com Wal. No primeiro contato, a diretora do presídio, por meio da comunicação da assessoria de comunicação pasta, negou que tivesse advogado para o preso.
Ao ser confrontada pela reportagem com os autos do processo, mostrando que Wal defendeu Pereira Galvão de uma acusação de crime financeiro, movida pelo Ministério Público Federal (MPF) em 2010, a assessoria de imprensa da Susipe se surpreendeu e pediu tempo para apurar a informação.
Em uma nota enviada um dia depois, Wal reconheceu que advogou para Taradão. “A diretora do Centro de Recuperação Regional de Altamira (CRRALT), Patricia Abucater, é advogada há 16 anos e atuava na região de Altamira. A profissional representou Regivaldo Galvão, vulgo Taradão, em embargo cível, área em que atuava, durante um processo de 2010”, explica.
Para a dirigente do CRRALT, “não existe impedimento legal ou moral na custódia de Regivaldo no CRRALT. Patricia afirma que ao assumir a diretoria da unidade prisional se afastou da advocacia. Taradão foi recebido na unidade com todos os direitos e deveres garantidos, sendo cobrado com mesmo rigor que qualquer outro interno. Não há tratamento diferenciado”.
João Maria Vieira, da Executiva Nacional da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) no Pará, entende que Wal deveria ser impedida de dirigir o presídio. “Eu não me sentiria eticamente autorizado a exercer esse cargo. Nós já pedimos cópia dos processos, se isso for real, como foi denunciado e parece que informalmente essa informação procede, eu me sentiria impedido eticamente de exercer esse cargo”, analisa.
Ainda de acordo com o jurista, a diretora do presídio “teve uma relação de confiança, uma relação que teve uma troca financeira, obviamente, e houve uma troca de interesses naquele momento. Isso não se desfaz do nada. Eu não me sentiria a vontade para assumir a custódia de um preso para o qual eu tenha advogado”, finaliza o jurista.
Histórico
Patricia Nazira Abucater Wal foi indicada para o cargo pelo chefe da Susipe, Jarbas Vasconcelos. Essa, não é a primeira vez em que diretora do presídio é favorecida por uma indicação do secretário paraense.
Em 2013, Wal foi nomeada como conselheira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), na subsede do Pará, por Vasconcelos, que à época presidia a entidade.
A chacina no presídio de Altamira, em 29 de julho de 2019, é a maior da história do país desde o massacre do Carandiru, em São Paulo, em 1992.
Edição: Pedro Ribeiro Nogueira
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