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Um anti-inflamatório para a artrite comercializado pela Pfizer pode reduzir em quase dois terços o risco de Alzheimer. A farmacêutica descobriu isso em 2015, mas decidiu não prosseguir as pesquisas e esconder os resultados porque não daria lucro.
Uma reportagem publicada nesta quarta-feira (5) pelo jornal The Washington Post ajuda a entender como a lógica do capitalismo aplicada em alguns ramos pode ser daninha aos interesses da população.
O caso remete ao ano de 2015, quando a multinacional farmacêutica Pfizer descobriu que um anti inflamatório para a artrite criado pela empresa, chamado Enbrel, produzia efeitos no cérebro e era capaz tratar e retardar a doença de Alzheimer. Segundo um informe interno da empresa, o medicamento teria o poder de reduzir em 65% os riscos de desenvolver esta doença.
Porém, o custo para se realizar novas pesquisas de laboratório, necessárias para comprovar e inclusive aumentar a eficácia do medicamento no combate ao Alzheimer seria de aproximadamente 80 milhões de dólares, valor que os executivos consideraram um impedimento para seguir adiante, porque não permitiria uma margem de lucro significativa.
A lógica é a contrária do que acontece com o Viagra, outro medicamento desenvolvido pela Pfizer, e cujos estudos iniciais visavam encontrar um novo tratamento para a hipertensão. Naquele caso, a companhia decidiu que apostar nos efeitos que o remédio produzia para solucionar a disfunção erétil geraria mais lucro e mudou a prioridade dos estudos.
Além disso, no caso do Enbrel, se trata de um produto que já não está protegido pela exclusividade da patente, tornando-o mais exposto à concorrência dos genéricos e diminuiria significativamente a margem de lucro calculada pelos executivos da Pfizer, razão pela qual decidiram não só abandonar os estudos como também ocultar a descoberta.
Contudo, uma vez revelado o caso, a empresa soltou um comunicado em que assegura que a decisão de interromper os estudos sobre o Enbrel “se baseou em questões meramente científicas”, uma justificativa que está sendo contestada por diferentes especialistas e acadêmicos. Bobbie Farsides, professora de ética clínica e biomédica da Escola de Medicina Brighton & Sussex, em Londres, comentou o caso para o The Washington Post, afirmando que “ao adquirir o conhecimento e se negar a divulgá-lo àqueles que poderiam ser beneficiados por seus efeitos prejudica as milhões de pessoas, impedindo que elas pudessem ter um melhor tratamento para os seus casos”.
Estima-se que os Estados Unidos possuem mais de 5 milhões de casos de Alzheimer, e a cada 66 segundos (em média) se descobre um novo caso, o que o transforma em uma doença considerada epidêmica. Para o ano de 2050, se calcula que a cifra de pessoas maiores de 65 anos convivendo com este mal, considerado a forma mais comum de demência, será superior a 14 milhões.
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