O tuíte de Jair Bolsonaro difamando os blocos de Carnaval, mais que “obsceno” e “incompatível com o decoro” que o cargo que hoje inacreditavelmente ocupa exige, é mais um sintoma de sua descarada má-fé, de seus inconfessáveis inveja e ódio do gozo do outro e de seu inegável fascismo. O tuíte de Jair Bolsonaro é um ataque às liberdades individuais e, ao mesmo tempo, é a recorrência à difamação como meio de desmoralizar a crítica à sua gestão fraudulenta e incompetente.
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Ora, enquanto os alvos das mentiras dos Bolsonaro e dos títeres das máfias neopentecostais éramos nós, gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais, o restante da população não só não se importava com essa postura criminosa, como entrava de bom grado na histeria coletiva, compartilhando as mentiras como se fossem verdades e criticando os movimentos LGBTs. Até mesmo a imprensa dita séria e instituições como o Ministério Público não questionavam essa evidente difamação.
Agora que Jair Bolsonaro, seus príncipes herdeiros e a corte de fariseus hipócritas chegaram à Presidência da República e decidiram avançar sobre o Carnaval e seus blocos de rua, onde os heterossexuais expressam livremente suas liberdades sexuais, objetivando difamar essas agremiações que lhe criticaram duramente este ano; agora que isso aconteceu, o restante da sociedade parece está percebendo quem é essa gente e do que ela é capaz.
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O tuíte de Bolsonaro não é só um crime. É um sintoma de seu fascismo. É sempre bom relembrar e reafirmar, sobretudo nesses tempos em que a desonestidade intelectual busca revisar a história, que o empreendimento nazista não foi só um empreendimento de “purificação racial” que buscou eliminar os judeus e ciganos (viram, judeus que votaram em Bolsonaro?): o nazismo foi também um empreendimento de “correção sexual” que levou aos campos de concentração e ao extermínio milhares de homossexuais. Após a ascensão de Hitler, os cabarés e clubes de sexo da Berlim dos anos 30 foram fechados porque fascistas não toleram — por inveja — a liberdade e o gozo do outro. E também não podemos nos esquecer de que o macartismo nos EUA não vitimou apenas os comunistas, mas sobretudo os homossexuais.
O tuíte de Bolsonaro é o retorno desses monstros.