“Com a ascensão do grupo que apoia Bolsonaro e dele mesmo ao governo do Brasil, você vê um alinhamento submisso em algumas características, até mesmo desprezo para o status de soberania do país”, disse a ex-presidente Dilma Rousseff, que foi deposta pelo golpe de 2016. No entanto, ela não vê risco de guerra contra a Venezuela. “Não acredito que as Forças Armadas brasileiras cometam um erro e uma aventura daquelas”, afirmou
Sputnik – O presidente Jair Bolsonaro (PSL) gerou um vínculo de submissão aos EUA que deprecia a soberania do Brasil, declarou a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em entrevista exclusiva à Sputnik.
“Com a ascensão do grupo que apoia Bolsonaro e dele mesmo ao governo do Brasil, você vê um alinhamento submisso em algumas características, até mesmo desprezo para o status de soberania do país”, afirmou a ex-mandatária.
Dilma reconheceu que “é difícil dizer, mas é verdade: que um chefe de Estado ou alguém de alto escalão se submeta para a bandeira americana é algo que nunca tinha sido visto no Brasil, nem mesmo em momentos de maior alinhamento”.
Sobre a Venezuela, a ex-presidente avaliou que não acredita que as Forças Armadas de seu país cometam o erro de participar de uma intervenção estrangeira no país caribenho.
“Não acredito que as Forças Armadas brasileiras cometam um erro e uma aventura daquelas”, respondeu Dilma sobre a possibilidade de que o atual governo se curvará a uma opção militar para resolver a crise venezuelana.
A ex-presidente brasileira ressaltou não ver sentido nas políticas que alguns países aplicam com foco nas sanções econômicas contra outras nações, prática recorrente dos EUA contra os seus adversários.
“A política de sanções parece absurda para mim”, ponderou Rousseff em uma pergunta sobre as penalidades impostas a países como Cuba ou Rússia.
A ex-mandatária acrescentou que “elas não são eficazes, além de serem injustas, desumanas e não civilizadas, e os bloqueios são um exemplo disso”.
Outro tema abordado pela petista, que foi alvo de um processo controverso de impeachment em 2016, foi a promessa de Bolsonaro de transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém.
De acordo com Dilma, a simples ideia complicou a relação econômica do Brasil com as demais nações do Oriente Médio.
“Ao propor a realocação da embaixada para Jerusalém, a relação econômica e comercial do Brasil com os países do Oriente Médio foi extremamente complicada”, destacou.
BRICS e Argentina
Na mesma entrevista à Sputnik, Dilma declarou que a falta de importância que o atual governo brasileiro dá ao grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) é uma séria consequência da política externa de Bolsonaro.
“Uma das questões mais importantes da nossa gestão foi a construção dos BRICS. Uma das consequências mais graves do governo Bolsonaro é não perceber que este grupo tinha um sentido crucial para o desenvolvimento do Brasil, para a melhoria das condições sociais e de vida, mas sobretudo porque foi o reconhecimento de que são os países mais populosos do mundo”, afirmou.
Em meio ao presente incerto e pessimista, a petista demonstra maior animação quando o tema é a possibilidade de um retorno da ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner ao comando da Argentina, que terá eleições no segundo semestre.
Para Dilma, um triunfo de Cristina sobre o atual presidente Mauricio Macri poderia ser vista no Brasil como “uma luz no meio do túnel”.
“Uma vitória de Cristina Kirchner na Argentina para nós aqui no Brasil seria uma luz no meio do túnel, e não no final, no meio, porque o fim para nós tem que ser o retorno de um governo popular para o Brasil, mas a metade do túnel é importante, e a Argentina para nós será, sem dúvida, uma luz no meio do túnel”, concluiu.
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