O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso Foto: Leo Martins/Estadão
Declaração foi feita em conversa do ex-presidente com integrantes da Força Sindical em São Paulo; ele não citou nominalmente o presidente Jair Bolsonaro
Ricardo Galhardo, O Estado de S.Paulo – Em conversa com sindicalistas da Força Sindical nesta terça-feira, 14, em São Paulo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que, de forma genérica, um presidente da República que não tem maioria no Congresso corre o risco de perder o cargo. FHC falava sobre o impeachment de Dilma Rousseff, afastada em 2016, e não citou o presidente Jair Bolsonaro, mas admitiu que o risco existe.
“No episódio da Dilma é um caso perigoso que pode acontecer. Os partidos são fracos mas o Congresso é forte. É um paradoxo no Brasil. O presidente que não toma em consideração o Congresso corre o risco de cair. Tem que entender que aquilo ali representa uma vontade nacional”, disse o ex-presidente.
O tucano fez questão de deixar claro que é em princípio contra deposições de presidentes porque considera o movimento traumático e que gera custos elevados ao país mas afirmou que em alguns casos, como o da petista, isso é inevitável. Sobre o momento atual, disse ser impossível prever o futuro mas considera que a conjuntura “ainda” permite fazer tal afirmação.
“Não dá para prever o que vai acontecer porque as coisas mudam. Mas estou dizendo agora porque as circunstâncias permitem ainda dizer isso”, afirmou o tucano.
Ao longo de uma hora e meia de conversa, FHC disse várias vezes que Bolsonaro não conseguiu construir uma base no Congresso. Segundo ele isso se deve em parte à fragmentação política e à falência do atual sistema partidário. De acordo com o ex-presidente, o país precisa pensar em alternativas para sair do atual momento que ele classificou de “reconstrução das bases de uma sociedade democrática no mundo todo”.
O ex-presidente sugeriu que talvez seja o momento de surgirem novos partidos capazes de orientar politicamente os anseios da sociedade. “A Lava Jato e os protestos arrebentaram o sistema partidário anterior. Agora tem de ser com outras forças, talvez com outros partidos, outras energias para poder a coisa avançar”, afirmou.
Ao apontar a falta de representatividade dos partidos FHC não poupou nem os tucanos. Indagado por um sindicalista sobre a postura do secretário nacional de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, filiado ao PSDB, o ex-presidente disse que Marinho não age em nome do partido.
“Mas você pensa que tem alguma orientação de partido nisso?”, questionou FHC. Na conversa, ele pediu que os sindicatos tentem interagir mais com a universidade e com os militares que, segundo ele, é o setor do governo Bolsonaro que tem “bom senso”.